Capítulo 53



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




- Você nem ao menos me conhece. – Eu me atrevi a enfrentá-lo, pois realmente me ofendi com as suas palavras.
- Eu te conheço muito mais do que você imagina, . – Steven disse o meu nome completo. Eu nunca disse a ele o meu nome completo. Como ele sabia? – Foram anos vendo você repetir a história que eu conheço muito bem. Foram anos esperando pelo dia de hoje! – Ele tinha um sorriso sarcástico no rosto.
- Eu quero ir embora. – Eu engoli o desespero que estava quase tomando conta de mim e fui andando rapidamente em direção a porta da casa. Cheguei nela e confirmei que ela estava trancada. Foi ai que eu me desesperei de vez. – Abra a porta! – Eu esmurrei algumas vezes a porta.
- Você não vai querer perder o show, vai? – Steven observou, demonstrando prazer com o meu desespero.
- VOCÊ NÃO PODE ME TRANCAR AQUI! – Eu esbravejei assim que me virei para olhá-lo.
- EU TE AVISEI, NÃO AVISEI? – Steven retrucou ainda mais furioso. O jeito que ele gritou me tirou as forças e a coragem. Eu neguei com a cabeça, demonstrando que não sabia do que ele estava falando. – EU DEI TRÊS AVISOS E VOCÊ IGNOROU TODOS ELES! – Ele se aproximou de mim, enquanto gritava e eu encostei as minhas costas na porta, pois não tinha pra onde correr. As suas palavras clarearam a minha mente e me mostravam o que eu demorei tanto tempo para descobrir.
- É você. – Eu disse com lágrimas nos olhos e com a voz fraca. Era uma mistura de medo com tristeza. Tudo começava a fazer sentido agora. – Era você naquele prédio! Era a sua letra naquela carta! – Eu disse, sentindo um nó se formar em minha garganta. As lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos.
- Você vai se arrepender de ter entrado na vida do meu filho. – Steven parou em minha frente e encarou minhas lágrimas com frieza. – Ele está tão cego de amor, que não enxerga quem você é, mas eu enxergo! – Ele segurou com força um dos meus braços e me puxou para mais perto dele. – Eu voltei para salvá-lo de você! – Steven disse, olhando em meus olhos, que estavam completamente tomados de lágrimas e de medo. – Eu voltei para acertar as contas! – Ele disse com ódio. – Eu vim para pegar você! – Steven finalizou.
- Não... – O meu choro aumentou e eu tentei me desvencilhar de sua mão, que machucava o meu braço.
- Pegue o seu acento, ! – Steven apertou ainda mais o meu braço e me jogou de qualquer jeito contra o sofá, me forçando a sentar nele. – O show vai começar. – Ele sorriu com satisfação.





Capítulo 53 – Coincidências



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:



O braço que o Steven tinha apertado e machucado estava doendo muito, mas esse não era o motivo das minhas lágrimas. O meu braço ainda marcado com as mãos de Steven era o menor dos meus problemas naquele momento. As minhas lágrimas vinham do medo que eu sentia por estar novamente nas mãos daquela pessoa que tanto me queria mal. Porém, nada me fazia ter mais vontade de chorar do que ver o herói do se transformando no meu vilão. Eu não parava de desejar que aquilo fosse um enorme e terrível engano. Com esforço, consegui ficar de pé em frente a Steven. Eu segurava o meu braço machucado e mesmo com todas aquelas lágrimas nos olhos, eu o encarei.

- Você está cometendo um grande erro. – Eu disse com a voz trêmula.
- Meu único erro foi demorar tanto pra tirar você da vida do meu filho. – Steven disse depois de deixar o sorriso sarcástico de lado.
- Você fala como se eu fosse uma praga na vida do seu filho. Você fala como se.... – Eu neguei com a cabeça. – Você fala como se eu fosse fazer algum mal a ele. – O jeito que ele me olhava, fazia com que eu me sentisse um monstro. – Eu jamais faria algum mal a ele. – Eu fiz questão de dizer.
- Cala a boca. – Steven pareceu não gostar do que tinha escutado.
- Eu quero o bem dele tanto quanto você! – Eu insisti, pois o fato do Steven pensar o contrário me deixava completamente indignada.
- Cala a boca! – Steven foi mais ríspido, me olhando com ainda mais ódio do que antes.
- Eu amo o ! – Eu aumentei o tom da minha voz. Não demorou nem 5 segundos para Steven levantar a sua mão e bater com força no meu rosto. A força foi tanta, que eu cai de joelhos no meio da sala.
- EU MANDEI CALAR A BOCA! – Steven gritou, me olhando no chão. – PARA DE MENTIR! – Ele gritou mais uma vez.

Eu ainda estava no chão e o meu choro parecia ter triplicado. Tirei as minhas mãos do chão e levei uma delas até o meu rosto, pois notei que algumas gotas de sangue escorreram pelo meu nariz. O sangue em minhas mãos me assustava ainda mais. Eu não tinha nem coragem para olhar para cima. Eu só queria ficar quieta ali no chão. Steven ainda não estava satisfeito.

- Levante! – Steven voltou a segurar o meu braço já machucado e me levantou do chão a força.
- Covarde. – Eu o encarei com o meu rosto ainda ardendo.
- Desculpe, querida. Eu não gosto muito de falar sobre amor. – Steven sorriu, me fazendo sentir ainda mais nojo dele.
- Ele não é como você. – Eu neguei com a cabeça, enquanto passava um dos meus braços pelo meu rosto para secar as gotas de sangue que ainda estavam lá. – O não é como você! – Eu reafirmei.
- Está dizendo isso porque não conheceu o jovem Steven. – Steven novamente deu um sorriso bem humorado. – O é exatamente a mesma pessoa que eu era há quase 25 anos atrás. – Ele completou.
- Ele nunca será como você! – Eu afirmei furiosamente.
- É claro que não será. Foi exatamente isso que eu vim evitar! Eu vim evitar que ele seja como eu. Eu vim evitar que ele seja feito de idiota como eu fui! – Steven achava que estava me insultando com as suas palavras, mas a verdade é que eu não sabia o que elas significavam.
- Eu... – Eu ergui os ombros, prestes a surtar. – Eu não sei do que você está falando! Eu não sei do que você está me acusando. – Eu nem sabia do que estava me defendendo.
- Vamos! – Steven parecia ter ignorado as minhas frases. Ele voltou a segurar o meu braço ainda dolorido, o que me fez fechar os olhos para segurar a dor. – Eu quero que você conheça o meu lugar favorito da casa. – Ele começou a me puxar sem qualquer cuidado. Eu tentava acompanhá-lo para que ele não tivesse que puxar tanto o meu braço.
- Me deixe ir pra casa, Steven. – Eu pedi, enquanto ele continuava me puxando estupidamente para os fundos da casa. Ele me ignorou completamente. Continuou me arrastando até pararmos no centro de um dos cômodos. Era um quarto praticamente vazio, que Steven não tinha mostrado para mim e para o na última vez que estivemos ali. Pisávamos em cima de um tapete, que foi levantado por Steven e acabou revelando-se uma abertura. Parecia até uma entrada para um porão ou qualquer coisa que ficava embaixo da casa. Com a porta levantada, eu consegui ver uma escada. No momento em que eu vi o buraco que Steven queria me colocar, eu tive um súbito desespero. Aquele era o tipo de lugar onde ninguém me encontraria.
- Desça! – Steven pediu ao soltar o meu braço e me empurrar em direção a escada que me levaria para baixo. – Desça de uma vez! – Ele voltou a me empurrar, quando percebeu que eu estava resistindo a sua ordem. Eu tinha certeza que se eu entrasse ali, eu jamais conseguiria sair. Em meio a todo o meu desespero, eu me esforcei para engolir o meu choro e o meu medo. Eu precisava me acalmar para poder pensar em alguma forma de sair dali.

Eu entrei naquele buraco escuro e comecei a descer a escada, que não era tão longa. Ao chegar ao final dela, as luzes foram acesas e eu comecei a ouvir os passos de Steven logo atrás de mim. As luzes revelavam um tradicional porão. Tinha algumas coisas velhas e usadas nos cantos. O piso era de madeira e parecia ser muito antigo. Eu ainda analisava o local, quando Steven me empurrou para frente. Eu comecei a dar alguns passos e ele me acompanhou.

- Incrível, não é? – Steven disse logo atrás de mim. Ele notou a minha curiosidade com o local.
- Porque você me trouxe aqui? – Eu parei de andar, quando vi que não tinha tanto caminho pela frente. Steven passou por mim e parou alguns passos na minha frente.
- Não gostou? – Steven sorriu friamente. – Me desculpe. Os quartos de hóspedes estão... ocupados. – Ele disse em tom de ironia.
- Você quer me matar? Então, faça! – Eu o desafiei e ele pareceu rir da minha coragem.
- Eu não vim aqui te matar. – Steven virou-se de costas. Aproveitei a deixa para levar a minha mão até o bolso detrás da minha calça jeans. O meu celular estava lá. Ele era a minha única salvação.
- Então, porque eu estou aqui? – Eu olhei no visor do celular por 2 segundos, mas fui obrigada a escondê-lo atrás das costas, pois notei que o Steven estava virando-se para me olhar.
- Você ainda não entendeu? – Steven deu alguns passos em minha direção. Eu dei alguns passos para trás e encostei em uma prateleira, que talvez pudesse me ajudar a não deixá-lo notar que eu segurava o celular. Eu só tinha a simples missão de colocar o celular na prateleira sem que ele percebesse. – Você não é a presa. Você é a isca! – Ele aproximou-se ainda mais, enquanto eu me concentrava em colocar o celular entre as coisas da prateleira. Minhas mãos tremiam tanto, que acabam dificultando as coisas.
- Isca? – Eu não conseguia colocar a porcaria do celular na prateleira. – Isca pra quem? – Eu desisti no momento em que vi os seus olhos desconfiados se abaixarem para a altura das minhas mãos.
- O que você está fazendo? – Steven andou rapidamente até mim e não deu tempo de fazer nada. Ele me afastou da prateleira e viu o celular na minha mão. O olhar dele me fez estremecer e o jeito agressivo que arrancou o celular das minhas mãos me deixou ainda mais assustada. – O QUE ESTAVA TENTANDO FAZER? – Ele gritou, jogando o meu celular para o outro lado do porão. – Pedir ajuda? Pra quem? ou Mark? – Steven me encarou mais de perto ao dizer os dois nomes.
- Me deixa sair daqui! – Eu tentei encará-lo, mas ele parecia não se abalar. – ME DEIXA SAIR DAQUI! – Eu usei toda a minha força para empurrá-lo para trás. O meu empurrão fez com que ele desse apenas 3 passos ridículos para trás. Eu mal tive espaço para correr. Ele segurou os meus pulsos e me puxou bruscamente.
- Eu não achei que você me daria tanto trabalho, sabia? – Steven me levou a força para o outro lado do porão. – Você me obrigou a fazer isso. – Ele puxou uma cadeira, que estava encostada em um dos cantos e me colocou sentada nela.
- Não, não, não... – Eu reagi ao vê-lo pegando alguns pedaços de corda. – Nós podemos conversar. Nós podemos conversar! – Eu sabia que se eu estivesse amarrada, as minhas chances (que já eram poucas) diminuiriam ainda mais. – Steven! – Eu tentei chamar a sua atenção, enquanto ele me ignorava e começava a amarrar o meu pulso em um dos braços da cadeira. – STEVEN! – Eu gritei desesperadamente, quando ele começou a amarrar a minha segunda mão. – NÓS PODEMOS CONVERSAR! EU VOU ME COMPORTAR! – Eu tentei convencê-lo, mas ele parecia nem me ouvir. – STEVEN! DROGA! – Eu comecei a forçar os meus pulsos para tentar me soltar das cordas. Steven terminava de amarrar os meus pés nos pés da cadeira. – STEVEEEEEEN! – Eu comecei a me debater por inteira. O fato de eu estar amarrada só levou todos os meus sentimentos ao extremo. – OLHE PRA MIM! – Eu pedi e ele finalmente olhou. – FAÇA O QUE QUISER COMIGO, MAS ELE VAI DESCOBRIR! – Eu cuspia as palavras. – O vai descobrir e ele não vai te perdoar nunca. – Eu tentei fazê-lo desistir. – ELE NÃO VAI TE PERDOAR DESSA VEZ, ESTÁ ME OUVINDO? – Eu ainda me debatia.



- Não sou eu que vou precisar do perdão dele. É você! – Steven apoiou suas mãos em meus braços e inclinou o seu corpo em direção a cadeira.
- Você é maluco! – Eu disse, encarando os seus olhos de perto.
- Eu sou maluco? – Steven não acreditou no que estava ouvindo. Ele ainda estava próximo, quando ficou algum tempo me olhando. – Você é muito parecida com a sua mãe, sabia? O seu sorriso, o seu olhar convincente e inocente... – Ele negou com a cabeça. – Você herdou absolutamente tudo dela, mas a sua coragem... – Steven sorriu. – A coragem você herdou do seu pai. – Ele completou.
- O que você sabe sobre a minha família? – Ouvi-lo falar da minha família fez com que eu ficasse instantaneamente cega de ódio.
- Eu sei tudo sobre a sua família! – Steven afastou o seu rosto do meu e foi atrás da cadeira, onde apoiou as suas mãos. – Aliás, eu tenho certeza que sei muito mais do que você. – Ele completou, depois de inclinar-se e falar próximo ao meu ouvido.
- O que você quer dizer com isso? – Eu parecia até outra pessoa depois que ele começou a falar da minha família.
- Porque não perguntamos ao seu pai? – Steven voltou a se afastar da cadeira. Andou até o local onde havia jogado o meu celular e o pegou do chão. Meus olhos acompanharam e também viram ele voltar a andar na minha direção. – Eu aposto que ele vai adorar vir até aqui e te contar o verdadeiro homem que ele é. – Ele olhou para o visor do meu celular.
- Deixa o meu pai fora disso! – Eu novamente tentei me soltar das cordas, que amarravam fortemente os meus pulsos. – DEIXA ELE FORA DISSO! – Eu gritei, enquanto ele começou a discar o número do meu pai.
- Você já assistiu filmes de ação, não é? Essa é a parte em que nós ligamos para o herói da mocinha em perigo. – Steven aproximou-se com o meu celular nas mãos. – A sua única tarefa é dar algum sinal de vida para que ele possa vir correndo te salvar. Bem fácil, certo? – Ele sorriu.
- Eu não vou falar nada! – Eu sabia que se o meu pai soubesse que eu estava em perigo, ele moveria céus e terras para vir me salvar. Isso significava colocá-lo em perigo e eu jamais concordaria com isso.
- Está chamando! – Steven colocou a ligação no viva-voz. O telefonema me deixou ainda mais instável. Eu fiz mais algumas tentativas de me soltar das cordas, mas eu novamente não consegui. Eu precisava impedir aquela ligação de qualquer jeito.
- Alô? Filha? – Ao ouvir a voz do meu pai, o meu coração parou. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas instantaneamente, enquanto eu encarava Steven. O ódio nos meus olhos já não era mais o mesmo.
- Como vai, velho amigo? – Steven disse em meio a um sorriso. Eu fechei os meus olhos, sem acreditar no que eu estava ouvindo.
- Quem está falando!? – A voz do meu pai mudou na mesma hora. estava ao seu lado e notou imediatamente que havia algo errado. Meu pai estava ensinando algumas coisas de mecânica pro na garagem da casa.
- Está sabendo das novidades? Somos uma família agora! Eu sou o novo sogro da sua corajosa e petulante filha. – Steven ironizou.
- Não.... – Meu pai disse em meio a suspiro. Ele reconheceu a voz do outro lado da linha, mas não conseguia aceitar. A preocupação em seu tom de voz era mais do que evidente.
- As famílias e Jonas unidas novamente. Dá pra acreditar? – Steven me olhou com frieza. – Eu ainda não consigo acreditar que você tenha tido essa audácia. – Ele completou. Meus olhos continuavam fechados.
- Eu sabia! Eu sabia... – Meu pai ficou completamente transtornado. observava a reação do nosso pai, sem entender o que estava acontecendo.
- Adivinha só quem está aqui me fazendo companhia? – Mesmo com os olhos fechados, eu senti que o Steven se aproximava.
- FIQUE LONGE DELA! VOCÊ ME OUVIU? – Meu pai esbravejou, assustando ainda mais o meu irmão. A frase do meu pai fez o meu choro vir a tona, mas eu tinha que me segurar para não fazer qualquer barulho.
- Tenho que confessar que fiquei surpreso com a semelhança entre ela e a sua amada esposa. – As palavras de Steven me fizeram abrir os olhos.
- Desgraçado! – Meu pai esforçou-se para não surtar completamente. Ele estava sendo um pouco mais cuidadoso porque estava ao seu lado, mas ouvir Steven falar da minha mãe realmente o tirou do sério. – O seu problema é comigo! Resolve comigo! – Era obvio que o meu pai chamaria a responsabilidade pra ele. Era exatamente isso que eu não queria. É claro que as palavras do meu pai também me chamaram atenção. Ele e Steven pareciam já se conhecer, mas essa era a coisa que menos me importava naquele momento.
- O meu problema realmente era só com você, mas você tinha mesmo que trazer a sua filha pro seu jogo, certo? – Steven disse, me fazendo abrir os olhos. Eu ainda não conseguia entender do que eles estavam falando.
- Se você fizer alguma coisa com ela, eu juro que.... – Meu pai ameaçou, fazendo com que o coração de parasse. Ele tinha certeza que o problema era comigo.
- Pai? – tentou intervir, mas meu pai o ignorou completamente.
- Ela está bem. – Steven rolou os olhos. – Quer dizer, na medida do possível, é claro! – Ele completou.
- ME DEIXE FALAR COM ELA! AGORA. – Meu pai gritou. Suas mãos trêmulas seguravam o celular e os olhos preocupados encaravam . Eu neguei com a cabeça, pois não queria falar nada. Se eu falasse, meu pai iria fazer exatamente o que o Steven queria que ele fizesse: viria para Nova York me ajudar.
- Fala ‘oi’ pro papai, querida. – Steven aproximou o telefone do meu rosto. Eu o encarei com os meus olhos cheios de lágrimas. – Vamos! – Ele me incentivou a falar novamente. Eu neguei com a cabeça, demonstrando que não falaria nada.
- ? – Meu pai estava implorando para ouvir a minha voz. O nervosismo em sua voz fez o meu choro aumentar. Eu estava conseguindo me manter em silêncio.
- VOCÊ NÃO VAI FALAR? – Steven levou uma de suas mãos até a minha cabeça, entrelaçou seus dedos em meu cabelo e aproximou ainda mais o meu rosto do celular. O puxão de cabelo quase me fez soltar um grito de dor, mas eu me esforcei muito para segurá-lo. – FALA DE UMA VEZ! – Ele foi mais enérgico, levando sua mão até o meu braço já machucado. Ele o apertou, me fazendo reprimir ainda mais a dor e o meu grito. – FALA! – Steven gritou mais uma vez. Meu pai levou uma das mãos até a sua cabeça, sem saber o que fazer. Os gritos de Steven o deixava ainda mais preocupado e apavorado.
- Pai.... – Eu disse aos prantos. – Não venha até aqui, pai. Não venha! – Eu disse a última coisa que Steven queria que eu dissesse. Ao ouvir a minha voz e o sofrimento que transparecia por ela, os olhos de meu pai se encheram de lágrimas. Ele sabia que eu estava tentando protegê-lo. – NÃO VENHA, PAI! – Eu gritei pela última vez e a raiva de Steven novamente o fez dar mais um tapa no meu rosto. O tapa não foi tão forte quanto o anterior, mas me fez soltar um grito de dor.
- EU MATO VOCÊ! EU MATO VOCÊ! ESTÁ ME OUVINDO? – Meu pai perdeu a cabeça, quando percebeu a agressão.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO, PAI? – gritou, desesperado.
- Estamos te esperando ansiosamente! – Steven achou graça da ira do meu pai.
- ONDE ELA ESTÁ? – Meu pai estava disposto a fazer qualquer coisa para me tirar de lá. – Eu vou tirá-la daí e depois nós acertamos as nossas coisas. Só nós dois! – Ele completou. Era o que eu menos queria, mas era tudo o que o Steven queria.
- Eu tenho certeza que você sabe onde eu estou. – Steven sorriu, satisfeito. – Pense! – Ele disse antes de desligar o telefonema.

Meu pai demorou alguns segundos para processar todas aquelas informações. Os olhos ainda estavam cheios de lágrimas, a mão trêmula, o coração na mão e o celular ainda na orelha. já temia pelo pior. Tinha um nó em sua garganta e um aperto enorme no coração, sem nem ao menos saber o que era. Só o fato de eu estar envolvida já era mais do que suficiente para fazer entrar em desespero. Meu pai tirou o celular da orelha e olhou para como se estivesse completamente sem rumo. Meu irmão ficou até com medo de perguntar o que é que tinha acontecido.

- Pai? – A voz de quase nem saiu.
- Sequestraram ela, . – Meu pai finalmente disse, guardando o celular em seu bolso e passando suas mãos pelo seu rosto.
- O QUE? – arregalou os olhos. – ENTÃO, VAMOS BUSCÁ-LA! – Ele disse o óbvio.
- Não. – Meu pai afirmou. Ele parecia estar pensando no que fazer.
- NÃO? – olhou perplexamente para o pai. – PAI, MAS ELA... – Ele ficou louco.
- Eu vou! Você fica! – O jeito com que meu pai falou fez parecer que estava mais do que decidido.
- NÃO! – foi imediatamente contra. – NÃO! EU VOU JUNTO! – Ele faria qualquer coisa para me ajudar.
- Você fica. – Meu pai não falava muito, mas o pouco que falava estava deixando indignado.
- É A MINHA IRMÃ, PAI! EU VOU! – estava disposto a brigar com o pai.
- ... – Meu pai negou com a cabeça. Ele desistiu de dize e saiu, deixando falando sozinho.
- EU TAMBÉM VOU! – foi atrás dele. Ele não queria nem saber. Iria de qualquer jeito. – O que eles estão querendo? Dinheiro? – Ele continuou andando atrás do pai, que pegava algumas coisas em seu guarda-roupa. Ele estava se preparando para ir atrás de mim. – Eles machucaram ela? – começou a fazer várias perguntas, que continuavam sendo ignoradas pelo pai. – PAI! – Ele gritou, fechando a porta do guarda-roupa e entrando na frente do seu pai. – FALA COMIGO! – pediu, nervoso.
- Eu sei que está preocupado com a sua irmã, ok? Eu sei! Eu entendo exatamente o que você está sentindo. – Meu pai tentou manter a calma com ele. – Mas eu preciso que você se acalme. Eu preciso que você fique aqui com a sua mãe. – Ele pediu.
- NÃO! – mal esperou que ele terminasse a frase.
- ! – Meu pai chamou a sua atenção. – Eu preciso que você fique! Entendeu? Eu não vou conseguir ir, sabendo que você não está aqui cuidando da sua mãe. Eu preciso que você fique! – Ele foi mais grosso, mas também demonstrou um pouco mais de vulnerabilidade. levou sua mão a cabeça, lutando contra aquele instinto louco que ele tinha de me proteger. Ele sabia que seu pai estava certo.
- Está bem. – acabou cedendo, mas fez questão de demonstrar que estava fazendo aquilo contra a sua vontade. – Eu fico. – Ele suspirou. – Mas nós vamos ligar pra polícia. – colocou a condição.
- Não! – Meu pai negou na mesma hora. – Eu vou resolver! Deixa que eu resolvo, . – Ele olhou seriamente para o filho.
- Mas, pai... – ia argumentar, mas meu pai não deixou.
- Eu só preciso que você fique com a sua mãe. Ela deve estar chegando do mercado. Conte a ela e diga que eu vou resolver. Ela já vai saber do que se trata. – Meu pai não deu tantos detalhes.
- Como já vai saber? – o olhou, sério.
- Apenas diga isso a ela! Não saia do lado dela. – Meu pai deu a ordem. – Se acontecer algo urgente, você me liga. – Ele pediu.
- Está bem. – concordou com as ordens do pai. – Me ligue também quando você conseguir pegá-la. – Ele olhou para o pai. – Você vai conseguir trazê-la de volta, não é? – demonstrou a sua vulnerabilidade pela primeira vez. Ele não sabia o que faria se algo acontecesse comigo.
- Eu prometo que vou. – Meu pai tentou tranquilizar o filho e até lhe deu um rápido abraço.
- Traga ela de volta, pai. – pediu novamente. Os olhos repletos de medo e lágrimas ficaram em evidência. Seus dedos chegaram a secar as lágrimas, mas o receio de perder a sua amada irmã permaneceu.

percebeu que alguma coisa muito grave estava acontecendo. Não era um simples sequestro. Tinha muita coisa além daquilo, mas a sua única opção era confiar no nosso pai. É claro que a confiança em seu pai não tirava o seu medo, a sua angústia e preocupação, mas era a sua única esperança. Viu o pai trocar de roupa rapidamente e levar algumas coisas que ele nunca nem tinha visto para o carro. O que mais chamou a sua atenção foi uma bolsa preta. Ele não fazia a menor ideia do que tinha lá dentro. Meu pai fez questão de levar com ele a chave do carro do para o caso do filho resolver desobedecer as suas ordens. Um último abraço foi dado antes de o nosso pai entrar no carro e seguir em direção a Nova York. ficou lá com o seu coração na mão e a sua preocupação era inimaginável.

- Mãe... – não sabia como dar a notícia para a nossa mãe. Ela não demorou mais de 10 minutos para chegar.
- Onde está o seu pai? O carro não está na garagem. – Minha mãe chegou com as compras nas mãos e as colocou sobre a bancada da cozinha.
- Mãe... – tentou chamar a atenção da mãe novamente, já que ela ainda não tinha nem olhado pra ele.
- O que? – A mãe virou para olhá-lo e percebeu logo de cara que alguma coisa tinha acontecido. O sorriso em seu rosto desapareceu.
- Aconteceu uma coisa. – passou as mãos pelo seu rosto, sem saber como explicar.
- O que... foi que aconteceu? – Ela logo soube que era algo grave.
- A .... – negou com a cabeça, sem saber como continuar.
- Aconteceu alguma coisa com a ? – A expressão no rosto da minha mãe mudou quando ela ouviu o meu nome.
- Calma! – moveu as mãos, pedindo calma.
- Ela está bem? – Ela deu alguns passos na direção do filho.
- Eu preciso que você se acalme, mãe. – pediu com receio da reação de sua mãe.
- Me fala logo o que aconteceu! – Minha mãe mal conseguia respirar direito.
- O pai disse que vai resolver. – disse ao ver que a minha mãe estava muito nervosa. Ela o encarou, esperando ele dizer o que tinha acontecido. – Ele recebeu um telefonema. Ela foi sequestrada, mãe. – contou.
- Meu Deus do céu... – O desespero da minha mãe foi instantâneo. Ela levou as mãos até o seu rosto, enquanto negava incessantemente com a cabeça.
- Ele vai trazê-la de volta, mãe. – disse antes de abraçá-la. – Vai ficar tudo bem. – Ele tentou acalmá-la.
- Não pode ser. – Minha mãe disse aos prantos.
- Meu pai disse que se eu te dissesse que ele vai resolver, você já saberia do que se trata. – passou o recado do pai, pois achou que aquilo a deixaria mais calma.
- Esse pesadelo parece não ter fim. – Minha mãe chorava mais do que nunca.
- Você sabe quem fez isso? – percebeu que a mãe também sabia muita coisa.
- Via ficar tudo bem. Eu sei que vai. – Minha mãe sentou-se no sofá da sala e levou as mãos até o seu rosto.
- Mãe! Você sabe? – insistiu. O fato de todos estarem escondendo isso dele só o deixava mais nervoso.
- ... – A minha mãe demonstrou que não queria falar.
- Eu preciso saber! Talvez ainda dê tempo de eu ir até lá e.... – demonstrava um nervosismo fora de comum. Apesar de assustado, ele demonstrava coragem para enfrentar qualquer pessoa que pudesse arruinar a sua família.
- Não! Você não vai! – Minha mãe engoliu o choro e disse com mais autoridade. – Eu não quero você envolvido nisso. Já basta o seu pai e agora a sua irmã. Chega! Chega disso! – Apesar de chorar muito, minha mãe continuava sendo bastante racional.
- Eu deveria estar lá! Eu deveria.... – negou com a cabeça. Ele parecia se culpar. – Eu deveria cuidar dela. Esse é o meu trabalho. – Quando a nossa mãe percebeu o quão emocionalmente abalado o estava, ela esforçou-se para ser mais forte para poder ajudá-lo.
- Eu sei que é, querido. – Minha mãe segurou a mão do filho e o puxou para mais perto. Ele sentou-se ao lado dela. – Você sempre foi muito bom nesse trabalho e sempre vai ser o melhor, mas você sabe que não vai poder protegê-la sempre. – Ela abraçou o filho, que sentiu as lágrimas alcançarem os seus olhos.
- Eu deveria ter ido com o meu pai. Eu deveria ter ido ajudá-lo mesmo que ele não quisesse! – não se conformaria tão cedo com o fato de não ter ido me resgatar. – Como eu vou ajudá-lo daqui? – Ele esbravejou.
- Você está ajudando muito estando aqui. Acredite. – Minha mãe tentava tirar aquilo da cabeça dele, mas ele era tão teimoso quanto eu.
- Espera... – arregalou os olhos e paralisou como se tivesse tido uma ideia. – Eu.... – Ele levantou-se do sofá e pegou o celular as pressas.
- O que você vai fazer, ? – Minha mãe o acompanhou com o olhar, preocupada. Viu ele se afastar e ir para o cômodo ao lado, a cozinha.

sabia que tinha que ficar em casa com a sua mãe, mas ele sabia que tinha alguém que poderia fazer alguma coisa por ele. Alguém que, até onde ele sabe, não está tão próximo a mim, mas que não mediria esforços para ajudar a sua ex-namorada e o seu melhor amigo. discou as pressas o número do celular de . Ele sabia que o estava em Nova York e era a única pessoa que poderia ajudá-lo.

A reunião com a gerência e a presidência do Yankees ainda não havia acabado. Na verdade, ela não acabaria tão cedo. estava sentado em uma das cadeiras da sala de reunião, quando sentiu o celular vibrar no bolso de sua calça. Um dos gerentes falava há mais de 15 minutos sobre o seu voto em uma das campanhas de publicidade, que deveria ser escolhida naquele dia. não quis e nem podia interromper a reunião, portanto, ignorou a ligação.

- Atende, ! – suspirou, entrando em desespero. era a sua única esperança.

O celular no bolso de tocou pela segunda vez. Ele pegou o celular discretamente e viu o nome de no visor. O nunca ligava para falar algo sério ou importante. Com isso, não pensou duas vezes em ignorar a ligação. Poucos segundos se passaram antes do celular tocar pela terceira vez. Ainda era o ligando e o estava pensando no quanto xingaria o melhor amigo mais tarde por tamanha insistência.

- Por favor! Por favor! – implorava, aflito.

A quarta tentativa de chamou a atenção de alguns gerentes, que estavam sentados ao lado do . Eles olhavam pra ele como se dissessem: ‘Anda! Atenda logo isso!’. Ignorou a ligação mais uma vez, mas foi impossível ignorar pela quinta vez. levantou-se da mesa de reuniões e pediu licença antes de sair da sala.

- Eu espero que isso seja importante! – disse em um tom baixo ao atender a ligação.
- Graças a Deus! – olhou para cima como se agradecesse os céus.
- O que você quer? – queria que o amigo fosse rápido.
- Eu preciso da sua ajuda, . – não escondeu o quão tenso ele estava.
- Minha ajuda? Agora? – olhou para trás, preocupado com a reunião que continuava acontecendo.
- É sobre a . – não sabia ao certo como o reagiria ao falar sobre mim.
- O que tem a ? – continuava achando que não era nada importante. Ele mal estava ouvindo o amigo direito. Ele olhava constantemente para a sala de reuniões.
- Olha, eu sei que o que vocês tinham acabou e que você provavelmente guarda alguma mágoa dela. Eu sei que ela não é mais problema seu, mas você é a minha única opção. – As palavras e o tom de voz de chamaram a atenção de para aquela ligação. Alguma coisa tinha acontecido.
- Sua única opção? – deu alguns passos, enquanto encarava o chão. – , o que você está dizendo? – Ele negou com a cabeça.
- Alguém ligou pro meu pai. Estão com a . – Naquele mesmo segundo, o coração de parou. O mundo parecia ter congelado. Ele sabia exatamente do que se tratava, já que estava ciente das ameaças que eu estava sofrendo.
- Como assim estão com a ? Quem? – não queria acreditar no que estava bem na sua frente.
- Eu não sei! – notou que o ficou extremamente preocupado e isso fez com que ele se sentisse mais confortável para falar e até mesmo para surtar. – Alguém ligou pro meu pai e ele saiu daqui as pressas. – Ele explicou com euforia e nervosismo.
- Não, não, não, não... – levou uma das mãos até a cabeça e bagunçou o seu cabelo, que até então estava arrumado. Ele sabia o perigo que eu corria. Ele sabia das constantes ameaças que eu sofri. Portanto, ele sabia o quão grave e perigoso aquilo era.
- Eu sei que você não se importa mais, mas... – negou com a cabeça, pois não sabia como continuar. – Ela é a minha irmã, cara. Se alguma coisa acontecer com ela... – Ele engoliu o choro, mas as lágrimas se mantiveram em seus olhos. – Meu pai pediu que eu ficasse aqui em Atlantic City. Eu não posso fazer nada daqui, mas você pode! – quase nem ouvia mais o que o amigo estava dizendo. Ele só conseguia se perguntar como viveria se algo acontecesse comigo. Ele só conseguia pensar que ele poderia ter evitado tudo aquilo. – Estou te implorando, . – achou que o silêncio do significava um ‘não’.
- Você não faz ideia de quem ligou ou... onde ela está? – estava meio perdido e não sabia muito bem como reagir. Era como se ele estivesse drogado ou anestesiado. Talvez a ficha ainda não tivesse caído.
- Não. O meu pai não me falou nada. Ele também me pediu pra não avisar a polícia. – não conseguiu pensar em nada que pudesse ajudar o . – Eu... não sei. Eu não sei como te ajudar. Eu acho que vou enlouquecer... – Ele estava aflito.
- Eu vou encontrá-la, . – sentiu a necessidade de consolar e dar esperanças ao amigo. – Eu prometo pra você. – Ele tentou parecer confiante.
- Obrigado, cara. Obrigado mesmo! Eu acredito em você. – estava um pouco mais confiante diante da promessa de . – Me dê notícias. – Ele pediu antes de ouvir o telefonema ser desligado.



O celular já havia sido desligado há alguns segundos e continuava lá parado, sem conseguir reagir a tudo que estava acontecendo. Os olhos se encheram de lágrimas, enquanto ele encarava o chão em silêncio. O mundo a sua volta parecia ter perdido vida, parecia ter parado. Levou uma das mãos até a cabeça, passou pelo cabelo e depois voltou a descer, parando em frente a sua boca. Ele não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Só ele sabia o quanto aquela pessoa que estava comigo e que me ameaçou nas últimas semanas era perigosa. Só ele sabia os verdadeiros riscos que eu estava correndo. Ele era o único que tinha motivos para realmente ter medo do que poderia ter acontecido comigo.

Independente das esperanças e do medo do que acabaria encontrando, precisava me encontrar de qualquer jeito. Ele sempre sentiu a obrigação de cuidar de mim e de me proteger de qualquer coisa. Foi exatamente assim que a nossa história começou e talvez seja assim que tenha que acabar.

Depois de explicar rapidamente e reservadamente para o presidente do Yankees o que havia acontecido, desculpou-se e abandonou a reunião. Saiu as pressas da sala e fez o que pode para chegar o mais rápido possível em seu carro. Ligou o carro e encarou o volante, enquanto perguntava-se: ‘Onde? Por onde começar?’. Tentou lembrar-se das informações que havíamos juntado quando as ameaças começaram. O responsável por aquelas ameaças era alguém que parecia ser próximo e que sabia muito sobre mim. Quem? Mesmo sem ter respostas, arrancou com o carro. Ele não sabia para onde ir.

- Droga! Droga! – esmurrou o volante algumas vezes. Os murros não foram causados apenas pelo seu nervosismo por não fazer a menor ideia de onde começar a me procurar, mas também por se sentir culpado. Ele deveria ter contado para a minha família sobre as ameaças. Ele deveria ter ignorado os meus pedidos e ter feito a coisa certa: me fazer voltar para Atlantic City. E agora? O que acontece agora se algo pior acontece comigo? Como ele vai viver com essa culpa? Como ele vai conseguir olhar para o rosto de seu melhor amigo?

não conseguia pensar em nada. Ele estava muito nervoso, havia um nó em sua garganta e um pressentimento horrível. Ele nunca se sentiu tão mal, tão apreensivo e assustado. Meg era a única pessoa em quem ele pensou em pedir ajuda. Talvez ela soubesse de alguma coisa. Talvez ela soubesse e conhecesse alguém que poderia ser responsável por aquilo. Seria uma boa ideia também ir até a minha casa para ver se encontrava alguma pista ou qualquer outra coisa que o ajudasse em alguma coisa.

- Oi, Jonas. – Meg atendeu o celular, enquanto rolava os olhos. Ela assistia a um filme na televisão.
- Meg! – ficou feliz por ela ter atendido o telefonema. Ele dirigia em direção a minha casa, enquanto falava com ela. – Eu preciso da sua ajuda! – Ele demonstrou desespero.
- Ok! Calma! O que foi que aconteceu? – Meg perguntava-se o que poderia ser tão grave.
- A ... – não queria ter que dizer aquilo em voz alta. – Ela sumiu. – Ele completou.
- O QUE!? – Meg arregalou os olhos. – Não. Não pode ser! Ela só deve ter saído e não te avisou. – Ela amenizou.
- Ligaram para a família dela, Meg! Disseram que estão com ela. – explicou sem muita paciência. – Eu... – Ele negou com a cabeça. – Eu não sei o que fazer ou onde procurar. – A voz triste sensibilizou a Meg.
- Calma, ! Ela vai ficar bem. – Meg sentiu vontade e a obrigação de acalmar o . – Eles já devem ter avisado a polícia e... – Ela ia completar, mas a interrompeu.
- A família não quer que a polícia seja avisada. – avisou para que Meg não fizesse besteira. – Entende agora? Eu tenho que encontrá-la. Não tem mais ninguém. – Ele explicou.
- O que você precisa que eu faça? – Meg se disponibilizou a ajudá-lo. Ela faria tudo para ajudar a sua amiga.
- Eu preciso saber se você desconfia de alguém. Vocês são amigas e devem conhecer muitas pessoas. Alguém de quem você desconfie? – perguntou e viu a Meg ficar em silêncio por um tempo.
- Eu não sei. – Meg ficou pensativa por um tempo. – Nós saímos várias vezes, mas não conhecemos ninguém de importante. Ninguém com quem ela tenha mantido qualquer tipo de contato. – Ela continuava tentando se lembrar de algo.
- Está bem. – não sabia mais a quem recorrer. – Se você se lembrar de qualquer coisa, me liga. – Ele pediu antes de desligar a ligação.

Meg ficou algum tempo em choque. Ela não sabia ao certo o que fazer. Ela não sabia se chorava ou se tentava ajudar de alguma forma. O medo de perder a sua amiga fazia o seu coração se apertar. Meg recorreu a pessoa que mais tinha o poder de acalmá-la no mundo e que também era um dos meus melhores amigos. Ela contou ao , que entrou em pânico. A notícia fez com que ele fosse as pressas para a minha casa. Meg não tinha tantas notícias, então ele sabia que teria mais informações indo até a minha casa. Além disso, com certeza estava precisando dos amigos. No caminho, ligou para , que ficou de avisar a e a .

- O que você quer com a minha família? O que você quer com o meu pai? – Eu encarei Steven, depois de algum tempo tentando me recuperar do tapa que eu havia levado no rosto.
- Nós temos que acertar algumas contas. – Steven ficava sorrindo com deboche e nunca dava respostas concretas.
- QUAIS CONTAS? – Eu comecei a ficar mais furiosa. Envolver a minha família mudou tudo pra mim.
- Contas do passado. Não é assunto seu. – Steven continuava me provocando.
- Escuta aqui, seu imcebil de merda! – O meu insulto e a raiva em minha voz fez com que Steven voltasse a me dar atenção. – Você envolveu a minha família nessa porcaria! Você me envolveu nessa porcaria! Então, eu quero saber AGORA o que está acontecendo! – Eu cuspi as palavras. – Porque eu estou aqui? O que o meu pai tem a ver com tudo isso? – Eu perguntei no mesmo tom.
- Uau! – Steven começou a bater palmas por alguns segundos. – Eu gostei disso. – Os aplausos dele soaram como deboche pra mim. Meus olhos acompanharam, quando ele começou a se aproximar. Ele passou ao meu lado e depois foi atrás de mim. Apoiou suas mãos na cadeira e manteve-se de pé. – Defendendo a sua família com unhas e dentes. – Sua frase voltou a me tirar do sério e eu tentei mais uma vez me livrar daquelas cordas, que amarravam fortemente os meus pulsos. – Finalmente encontrei algo que temos em comum. Eu também faço tudo pra defender a minha família. – Steven andou mais um pouco e voltou a parar em minha frente.
- Família? Qual família? A que você abandonou? – Eu me atrevi a falar e a reação dele foi instantânea. Ele aproximou-se rapidamente de mim e me encarou de bem perto.
- Deveria tomar mais cuidado com as suas palavras. Nunca se sabe quando serão as últimas. – Steven ameaçou. Ele ficou bastante ofendido e furioso com o que tinha escutado.
- O que você quer com a minha família? – Eu voltei a perguntar, mas sem tanta prepotência.
- Eu quero vingança! – Steven sorriu, mantendo o seu rosto em frente ao meu. – Eu quero fazer o seu pai pagar por tudo o que ele me fez passar. Eu quero fazê-lo pagar por ter mexido com o meu filho. – A forma fria com que ele falava só me assustava ainda mais.
- O meu pai nunca fez nada com o . Ele nunca fez nada pra ninguém. – Eu defendi o meu pai, demonstrando perplexidade com o que eu estava ouvindo.
- Você não sabe de nada mesmo, não é? – Steven negou com a cabeça.
- Saber o que? – Eu queria saber do que ele estava falando.
- O seu pai não é quem você pensa, querida. Você não sabe nada sobre ele. – Steven começou a achar que eu era um pouco menos culpada do que ele achava, mas isso não fez tanta diferença pra ele.
- E você sabe? – Eu o encarei.
- Como eu poderia não conhecer o meu melhor amigo? – Steven cruzou os braços, apenas esperando pela minha reação.
- Seu o que!? – Eu não acreditei no que eu tinha acabado de escutar.

Depois de se esforçar para encontrar uma saída para aquele pesadelo terrível que não acabava nunca, não conseguiu chegar a lugar nenhum. Ele não sabia quem poderia estar comigo. Ele não conseguia pensar em nenhum lugar onde pudesse estar. Chegou a ir na antiga empresa da tia Janice, mas não me encontrou lá.

O nervosismo estava atrapalhando os seus pensamentos e a sua razão. mal conseguia pensar direito. Ele resolveu ir para a minha casa. Talvez aquilo não passasse de uma brincadeira boba. Talvez ele chegasse na minha casa e acabaria me encontrando lá. Talvez ele acordasse a qualquer momento e descobria que tudo aqui foi um pesadelo.


Ao chegar na minha casa, estacionou o carro de qualquer jeito. O meu carro estava na garagem e a porta da casa destrancada. adentrou a casa e parecia até estar sentindo o meu perfume. Seus olhos tristes encararam de longe a mesa de jantar ainda coberta com os meus livros de medicina. Olhou em volta e tentou encontrar qualquer pista. Não tinha uma só coisa fora do lugar. Se as câmeras funcionassem, elas ajudariam muito. Nem mesmo o Big Rob estava na frente da casa. Ele não trabalhava com tanta frequência aos sábados.

- Quem? Quem poderia ser? – perguntou-se em voz alta. Fechou os olhos por poucos segundos para tentar se acalmar e pensar racionalmente em tudo aquilo. Vamos lá! Alguém que me conhece muito bem. Alguém que queria me ver longe dele. Alguém que conhecia a Janice. Alguém que tinha acesso as câmeras da casa. Alguém que conseguiria entrar na casa sem chamar qualquer atenção. – Ele.... – negou com a cabeça. – Só pode ser ele. – Ele saiu às pressas da casa e foi direto para a casa ao lado. Ele não fez qualquer questão de ser educado. Foi logo abrindo a porta da casa de Mark e o encontrou de pé, próximo ao sofá da sala. Ele olhava a TV com atenção e levou um enorme susto com a porta sendo aberta violentamente. – CADÊ ELA? – segurou a camiseta de Mark com força e o colocou sem qualquer cuidado contra a parede.
- DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? – Mark o empurrou e tirou suas mãos de sua camisa. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas ele estava furioso com a forma que entrou em sua casa.
- EU SEI QUE ELA ESTÁ AQUI! – afastou-se de Mark e começou a andar feito louco pela casa. Foi abrindo portas, olhando em todos os cantos onde eu pudesse estar escondida. Mark observou o seu desespero e mesmo sem querer acreditar, ele deduziu o que estava acontecendo.
- Você... está falando da ? – Mark paralisou, torcendo para ouvir um não como resposta.
- Ela... não está aqui. – olhou em volta, sem saber onde mais procurar. Ele já sabia que não me encontraria na casa do Mark, mas seu desespero era tão grande que ele não descartaria qualquer hipótese.
- O que aconteceu? – Mark andou até onde o estava parado e viu seus olhos cheios de desespero e tristeza. – Alguma coisa aconteceu com a , não é? – Ele negou com a cabeça, pois não queria acreditar. – FALA DE UMA VEZ! – Mark pressionou .
- Ela foi sequestrada. Ligaram avisando a família. – resumiu tudo em poucas palavras.
- O QUE? – Mark cerrou os seus olhos verdes. – MAS VOCÊ NÃO ESTAVA COM ELA? PORQUE VOCÊ NÃO ESTAVA COM ELA? – Ele começou a fazer perguntas.
- Eu sai só por algumas horas. Eu não sabia que... – abriu os braços, tentando se justificar não só para o Mark, mas também para si mesmo.
- VOCÊ NÃO SABIA? ELA ESTAVA SOFRENDO AMEAÇAS HÁ DIAS E VOCÊ NÃO SABIA? – Mark estava furioso com a irresponsabilidade do .
- PORQUE VOCÊ NÃO DIZ DE UMA VEZ O QUE VOCÊ ESTÁ QUERENDO DIZER? – respondeu os seus gritos furiosos no mesmo tom.
- Eu queria protegê-la e eu te garanto que eu conseguiria, mas você e esse seu ciúmes estupido e egoísta não me deixava chegar perto dela. – Mark recordou-se com raiva. – Você disse que a protegeria e olha só o que aconteceu! – Ele disse e não hesitou levantar um de seus braços para lhe dar um soco. O soco só serviu para deixar Mark mais furioso. Se não estivesse tão preocupado comigo e tão determinado a me encontrar, ele ficaria para terminar aquela briga.



- CALA ESSA BOCA! – não admitiria que uma pessoa que ele tanto desprezava como o Mark falasse daquele jeito com ele e do seu instinto interminável de me proteger. Levantou o rosto e encarou o por algum tempo sem dizer uma só palavra. Segundos depois, pegou o pelo colarinho e o puxou para mais perto.
- Se alguma coisa acontecer com ela, eu juro que venho atrás de você. – Mark o ameaçou e depois o soltou violentamente. deu vários passos para trás e antes que decidisse tomar qualquer atitude, viu o Mark saindo apressadamente pela porta da casa.

As palavras de Mark só serviram para fazê-lo se sentir ainda mais culpado. Ele deveria ter contado para os meus pais o que estava acontecido. Ele não deveria ter saído do meu lado nem por um segundo. Com os olhos cheios de lágrimas fixos na porta ainda aberta, ele levou as mãos à cabeça e perguntava ‘O que eu devo fazer?’. Os pneus do carro do Mark chegaram a cantar, enquanto ele tirava o carro da garagem com toda a pressa do mundo. Já o , não tinha pra onde ir ou a quem recorrer. Pensou mais de uma vez em pedir ajuda para a policia, mas o pedido do meu pai deveria prevalecer. Se ele não conseguia ajudar, ele também não queria atrapalhar o que poderia ser a minha única chance de sair bem daquela.

Abandonou a casa do Mark completamente desolado e voltou para a minha casa. Entrar lá e não me ver era a pior sensação do mundo. começou a pensar no que já poderia ter acontecido comigo ou no medo que eu deveria estar sentindo naquele momento. Ele sabia que eu estava esperando que ele fosse até lá para me salvar como da última vez e isso só o deixava ainda pior.

não estava conseguindo fazer nada para me ajudar. Ele sabia que não conseguiria me ajudar parado no meio da sala de jantar da minha casa, por isso, ele resolveu agir. sabia que não conseguiria fazer ou pensar em nada sozinho, então recorreria a uma das pessoas em quem ele mais confiava. A pessoa que costumava resolver todos os seus problemas quando era mais novo e que era sempre a primeira pessoa disposta a enfrentar o mundo ao seu lado. recorreria ao seu pai não só por confiar nele, mas também porque sabia que Steven tinha muitos contatos. Lembrou de ter escutado o seu pai falar até mesmo em contatos no FBI. Talvez o seu pai fosse a solução.

- Não me diga que o seu pai nunca te contou! – Steven usou o seu tom sarcástico. – Nós crescemos juntos. Nós éramos os melhores amigos que você possa imaginar. Teve uma época até que dizíamos que éramos irmãos mesmo sem termos o mesmo sangue. Acredita nisso? – Steven inclinou-se em minha frente e apoiou suas mãos em seus joelhos.
- Você está mentindo! – Eu neguei com a cabeça. – Meu pai jamais seria amigo de um maluco como você. – Eu estava certa de que ele estava mentindo. – E se ele fosse, ele teria me contado. – Porque meu pai não me contaria que conhecia o pai do ? Porque ele não me contaria que eu estava namorando o filho do seu melhor amigo? – Eu perguntei.
- Ele teria te contado? – Steven arqueou uma das sobrancelhas. – E depois o que? Ele te contaria que foi o culpado pela minha ‘morte’? – Ele voltou a ironizar.
- PARA COM ISSO! – Eu reagi ao ouvi-lo insinuar coisas sobre o meu pai. – Meu pai nunca fez nada disso. Ele não é como você! – Eu tentei me soltar mais uma vez das cordas, que apertavam os meus pulsos. Eu queria ir embora. Eu não queria mais ter que ouvi-lo falando aquelas coisas sobre o meu pai.
- Ele é pior! Muito pior do que eu. – Steven não se importava se estava me deixando cada vez mais nervosa.
- Pode parar. – Eu tentei olhá-lo com frieza, mas havia poucas lágrimas nos meus olhos. – Nada do que você disser vai me colocar contra o meu pai. Desista. – Eu tentei engolir as minhas lágrimas, mas o nó na minha garganta não me ajudava nem um pouco.
- PAI! – A voz repentina do seguida de fortes batidas na porta parecia até um delírio. A voz vinha do andar de cima, mais precisamente da porta de entrada. Eu e o Steven olhamos para cima no mesmo tempo. A sensação que eu senti ao ouvir a voz dele era indescritível. Era uma mistura de felicidade e esperança. Por um segundo, eu tinha certeza que eu sairia dali. Eu estava prestes a gritar por socorro, mas Steven foi mais rápido ao tampar a minha boca com uma das suas mãos.
- Não ouse gritar! – Steven sussurrou, me olhando com os olhos assustados. – Droga. – Ele olhou para cima, sem saber o que fazer. Ele não esperava a visita do . Steven esticou um dos braços e com cuidado pegou um pano.
- Não, não... – Quando eu vi o que ele iria fazer, eu neguei com a cabeça e entrei em completo desespero.
- Eu já não mandei você calar a boca, garota!? – Steven disse com um tom ameaçador, que até me convenceu a ficar quieta. Ele só tirou a mão da minha boca para poder amarrar aquele pano, que separava os meus lábios e impedia que eu dissesse qualquer coisa. – Você vai ficar aqui. Se você tentar alguma coisa, eu juro que além de fazer o seu pai pagar pelos erros dele, faço ele pagar pelos seus também. Entendeu? – Steven voltou a sussurrar. Uma lágrima escorria pelo canto de um dos meus olhos. Eu estava com muito medo e não era só por mim, era pelo meu pai também. – Entendeu? – Ele segurou o meu rosto de forma grosseira, o que me fez afirmar com a cabeça e fechar os olhos. – Boa garota. – Steven sorriu e chegou a acariciar aminha cabeça com uma de suas mãos.
- PAI! – voltou a bater na porta. Ele já estava achando que o seu pai não estava em casa.

Steven abandonou o porão e fechou com cuidado a abertura que havia no chão. Colocou o tapete sobre a porta as pressas e andou rapidamente até a sala da casa. Olhou rapidamente em volta para ver se não tinha nada de errado e viu a minha jaqueta sobre o sofá. Steven ficou aflito ao ouvir bater na porta mais uma vez. Colocou a minha jaqueta de qualquer jeito embaixo de uma das almofadas do sofá e correu até a porta.

Assim que o Steven me deixou sozinha naquele lugar horrível, eu tentei de todas as maneiras me soltar. As cordas que amarravam as minhas mãos e os meus pés realmente eram fortes e não davam nem sinal de que iriam ceder. Eu estava prestes a desistir, quando alguns passos no andar de cima da casa me chamaram a atenção.

- Pai! Que bom que você está em casa! – sentiu um certo alívio ao ver o seu pai.
- Oi, filho! – Steven não disfarçou o nervosismo. Ele sabia que o meu pai chegaria a qualquer momento. adentrou a casa e abraçou repentinamente o seu pai, que a principio não entendeu a angústia demonstrada naquele forte abraço. – Qual o problema? – Ele perguntou.
- Eu preciso da sua ajuda. – fechou os olhos por poucos segundos.
- Claro! Qualquer coisa! – Steven mal conseguia pensar direito. Ele estava muito nervoso.
- É a . – Steven congelou ao ouvir o meu nome sair da boca do filho. O abraço foi encerrado para que pudesse olhar em seu rosto. De alguma forma, eu conseguia ouvir tudo do porão. Ouvir a voz do fez o meu choro aumentar, enquanto eu lutava outra vez com as cordas que amarravam os meus pulsos. – Alguém... sequestrou ela e eu... não sei mais o que fazer. – explicou a situação e Steven tentou fazer cara de surpresa.
- Como? Como você sabe disso? – Steven não sabia como a notícia tinha chegado até o filho.
- O irmão dela me ligou. Ele me pediu pra tentar ajudar de alguma forma, mas eu não sei como. Eu... – explico, aflito.
- Isso pode ser perigoso, . Você não precisa se envolver nisso. – Steven tentou tirar o filho de toda aquela história.
- Não preciso? Como não? – olhou para o pai com incompreensão. – Eu não estou fazendo isso porque o irmão dela me pediu. Eu estou fazendo isso por que... ela é a minha garota. – Ele ergueu os ombros. Os olhos estavam cheios de lágrimas. – Eu preciso encontrá-la! Eu tenho que encontrá-la, pai. – Ele completou.

O meu desespero aumentava cada vez mais e as minhas lágrimas escorriam espontaneamente por todo o meu rosto. Os meus braços doíam e agora a minha boca também doía. Saber que o estava ali por causa de mim e que ele estava me procurando fazia o meu coração doer também. Tudo o que eu mais queria era gritar por ajuda e vê-lo para ter certeza de que todo aquele inferno havia acabado. estava tão perto, mas ao mesmo tempo estava tão longe. Eu tinha medo que ele fosse embora sem desconfiar que eu estava logo ali. Eu tinha medo de não vê-lo de novo. Eu tinha medo de deixá-lo sozinho com o Steven.

- Eu sei! Eu sei! Me desculpe! Eu sei que você gosta muito dessa garota. – Steven percebeu que tinha estranhado o seu comportamento. – Eu vou te ajudar, está bem? Só que antes eu preciso que você se acalme. Sente-se aqui. – Ele mostrou o sofá e o se sentou. – Eu vou buscar um copo de água. – Steven chegou a virar-se de costas.
- Não. Eu não quero nada. Eu só preciso que você me fale como eu posso tê-la de volta. Como eu posso encontrá-la? – falava tudo muito rápido, demonstrando o seu nervosismo e desespero.
- Está bem. – Steven não sabia ao certo o que dizer para o filho. Ele estava com receio que descobrisse que eu estava ali embaixo. – Me conte o que você sabe. – Ele tentou demonstrar preocupação.
- Ela estava sofrendo constantes ameaças. Por algum motivo, queriam afastá-la de mim. Chegaram a invadir a casa. – pensava nas informações que poderiam ser importantes. – Eu não faço ideia de quem seja ou o que estão querendo. – Ele completou. estava extremamente agitado e gesticulava a todo o momento. – Eu sei que você já foi do exercito e que tem conhecidos no FBI. – levantou-se do sofá, pois ficar sentado só fazia com que ele se sentisse mais inútil diante toda a situação. – Eu... achei que você poderia ligar pra eles e tentar alguma coisa. – Ao ficar de pé, acabou derrubando uma das almofadas. Para o desespero de Steven, justamente a almofada que escondia a minha jaqueta. – Desculpe, eu... – agachou-se para pegar a almofada do chão. Voltou a colocá-la sobre o sofá e olhou para a peça de roupa. – O que é isso? – Ele perguntou, pegando a minha jaqueta.
- Eu não sei. – Steven mal conseguia respirar direito.
- É da . – disse antes de abrir a jaqueta e confirmar o que tinha acabado de saber. Ele reconheceu, pois tratava-se de uma das minhas jaquetas favoritas e também pelo cheiro e perfume que ele reconhecia de longe. Olhou para o seu pai, esperando alguma explicação.
- Ela... deve ter esquecido aqui naquela noite que vocês vieram jantar aqui. – Steven improvisou muito bem.

Mesmo com a explicação plausível do pai, achou aquilo realmente estranho. O fato de eu ter esquecido a jaqueta lá não era nada estranho, porque ele sabe que sou mesmo desatenta com tudo. O que lhe causava tamanha estranheza era o fato de ele ter quase certeza de que eu não estava usando aquela jaqueta no dia que fomos jantar na casa do Steven. Ao contrário de mim, era muito observador e detalhista. Ele estava sempre prestando atenção em mim e quase sempre se lembrava das roupas que eu usava. Apesar de achar estranho, ignorou completamente, já que tratava-se de seu pai. Desconfiar dele não era uma opção para o , mas não dá pra negar que por poucos segundos ele se lembrou da nossa conversa de dois dias atrás em que eu disse que Steven não gostava de mim.

- Ela é... mesmo muito distraída e vive esquecendo as coisas por onde vai. – sorriu ao encarar a jaqueta. Ele pareceu um pouco emotivo ao lembrar-se de mim. – Eu preciso encontrá-la, pai. – Ele voltou a colocar a jaqueta sobre sofá e parecia ainda mais determinado agora. – Se alguma coisa acontecer com ela, eu não sei... – negou com a cabeça, sem saber como completar. Os olhos tristes falavam por si só.
- A família avisou a polícia? – Steven quis ter certeza.
- Não. O pai dela não quis acionar a polícia. – lamentou.
- Então, não seria certo eu entrar em contato com o FBI. Se eles não querem que a polícia saiba, quem dirá o FBI. – Steven já descartou a possibilidade de chamar o FBI.
- O que eu devo fazer? – abriu os braços, já que não via outra saída.
- O que mais você sabe sobre tudo isso? Me conte tudo e talvez eu consiga pensar em alguma coisa. – Steven continuava tentando demonstrar que se importava.
- Não é muita coisa. – já não tinha tantas esperanças. – Eu sei sobre as ameaças. Deixaram um recado na parede da cozinha da casa dela uma vez e ligaram pra ela, quando nós estávamos em um shopping. Tinha alguém nos observando, mas nós não conseguimos descobrir quem era. Teve algumas gravações das câmeras da casa da tia dela, que foram enviadas pra nós também. Alguém também mandou algumas fotos minhas com uma outra garota pra . – Ele achou que já havia mencionado tudo. – É como se alguém estivesse tentando nos separar o tempo todo. É como se... – não sabia direito como explicar. – É como se alguém não quisesse que eu ficasse com ela. Alguém que... acha que ela não é boa o bastante pra mim. Eu não sei. – Ele ergueu os ombros.
- E alguém tem motivos pra achar isso? – Steven queria saber a opinião do filho sobre aquilo.
- Não! É claro que não. Todo mundo que me conhece sabe o quanto ela significa pra mim. Eu não sei como alguém que me conhece pode pensar que afastá-la de mim vai me ajudar de alguma forma. – parecia até um pouco indignado com o assunto.
- Você não desconfia de ninguém? – Steven era esperto e queria ter certeza que não desconfiava dele.
- Não. Eu já fiquei louco pensando nisso. – negou com a cabeça, enquanto vira-se de costas para o pai. Ele encarava qualquer coisa em sua frente, enquanto tentava pensar em nomes para responder a pergunta do pai. – Eu acabei de sair da casa dela e não tinha nada lá. Não tinha sinal de arrombamento e aposto que o alarme também não foi acionado, pois se tivesse a polícia estaria na casa. – Nada fazia sentido para ele. – É como se... ela tivesse saído de lá por livre espontânea vontade. – completou, esforçando-se para chegar a alguma conclusão.
- É realmente estranho. – Steven fingiu concordar. – Eu acho que se ela tivesse saído da casa por livre espontânea vontade, ela não teria deixado o carro na garagem, não acha? Se ela saísse de lá a pé, alguém iria vê-la. – Ele estava tentando deixar o filho ainda mais confuso, pois temia que ele juntasse as pistas e chegasse na verdade.

A frase dita pelo pai foi mil vezes mais dolorosa do que deveria ser. Steven não notou que tinha acabado de dar a melhor dica de todas sobre todo aquele sequestro. Na cabeça de , as frases juntaram-se com os pensamentos que ele tem tentado ignorar nos últimos minutos. Os olhos chegaram a se encher de lágrimas só ao pensar naquela possibilidade absurda, que com certeza destruiria a amizade recém-reconstruída e o amor incondicional que ele sentia pelo pai.

- Como você sabe disso? – perguntou assim que virou-se para olhar o pai.
- O que? – Somente a pergunta do filho fez Steven dar-se conta do que havia acabado de fazer.
- Como você sabe que a não saiu com o carro? Como sabe que o carro dela continua na garagem? – deu poucos passos em direção ao pai.
- O que? Você! Você me disse isso! – Steven sentiu o coração disparar e o olhar do filho fez com que um vazio enorme tomasse conta do seu corpo.
- Não! Eu não disse! – O tom triste do filho de repente se transformou em um tom mais rígido e imponente.
- É claro que disse, ! Como mais eu saberia disso? – Steven sorriu para tentar convencer o filho.
- Essa jaqueta... – foi novamente até o sofá e pegou a minha jaqueta nas mãos. – Ela não estava usando essa jaqueta na noite que viemos jantar aqui. – Ele jogou a jaqueta na direção do pai, que a agarrou no ar.
- ... – Steven apenas negou com a cabeça, pois ele não tinha mais argumentos.
- Alguém que não quer que eu fique com ela. Alguém que acha que ela não é boa o bastante pra mim. – recordou-se do que ele havia dito antes e confirmou que as descrições agora se encaixavam perfeitamente com o seu pai.
- Espera, filho... – Steven ia começar a falar, mas parecia nem estar escutando. A cabeça dele parecia um quebra-cabeça que ia montando-se automaticamente.
- Meu Deus... – ficava cada vez mais perplexo com as coisas que ele ia concluindo. – A letra idêntica a minha naquele bilhete que eu nunca escrevi pra . – Ele levou a mão uma das mãos ao rosto e depois subiu até o cabelo, que foi empurrado para trás. – A minha mãe sempre disse que a minha letra era muito parecida com a sua. – As mãos de tremiam e suavam frio. Naquele momento, o choque era maior do que a decepção. Ele demoraria algum tempo para assimilar tudo aquilo de uma só vez.
- Vamos conversar, está bem? – Steven estendeu as mãos, pedindo calma. Chegou a dar poucos passos em direção ao filho, que imediatamente recuou.

Do porão, eu acompanhava a conversa, mas sem tanta clareza quanto antes. Os passos na sala acima de mim não paravam e tinha momentos que eu não conseguia ouvir o que eles conversavam, pois eles andavam para um lado da sala que ficava mais longe do lado em que eu estava. Eu estava com medo do ir embora, pois eu sabia que era isso que o Steven iria tentar convencê-lo a fazer. era a minha única esperança e se ele fosse embora, eu sabia que uma tragédia acabaria acontecendo.

- Onde ela está? – perguntou olhando fixamente para o pai.
- Filho... me escuta! – Steven sabia que não tinha mais jeito de reverter a situação.
- Não me faça perguntar de novo. – deu um passo em direção ao pai. Ele queria demonstrar que não estava brincando.
- Nós vamos conversar, ok? Eu vou te explicar tudo. – Steven tentou novamente fazer com que o filho se acalmasse.
- ONDE ELA ESTÁ? – gritou, furioso. Os olhos cheios de ódio não assustavam Steven, mas deixavam mais claro o quanto eu era importante pra ele.

e sua mãe continuavam nervosos e sem poder fazer nada para ajudar. Era agoniante ficar lá sem saber o que estava acontecendo. Minha mãe tinha todos os motivos do mundo para ser a pessoa mais agoniada daquela história. Ela sabia muito bem o que o meu pai enfrentaria.

Mesmo com um medo enorme e um choro que ela não conseguia esconder, minha mãe ainda conseguia ser um pouco racional. Já o , não conseguia. Ele ficava andando de um lado pro outro e ficava encarando o celular, esperando uma ligação que acabasse com todo aquele sofrimento. Vendo que o filho acabaria tendo um surto a qualquer momento, minha mãe resolveu pedir reforço. Ligou para os amigos do filho para que eles dessem qualquer tipo de ajuda e soube que eles já estavam a caminho. e estavam com eles.


- O que aconteceu, cara? – nunca tinha visto o amigo daquele jeito.
- Eles pegaram a . – segurou o choro ao terminar a frase.
- Quem!? Quem pegou a ? – arregalou os olhos e sentiu o coração disparar.
- Eu não sei. Eles ligaram pro meu pai, eu... – negou com a cabeça, pois não conseguiu terminar a frase.
- Awn, amor. – aproximou-se e o abraçou forte. Ele começou a chorar em seus braços.
- Não. Não pode ser... - A notícia acertou em cheio. Ela levou uma das mãos até a boca, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas.
- Está tudo bem. Ela vai ficar bem. – abraçou , que estava inconsolável. mal conseguia falar. Os olhos fixos, mas cheios de lágrimas demonstravam a sua preocupação.
- Eu vou atrás dela. – Foi a única coisa que conseguiu dizer. Não sabia o que faria se perdesse a sua melhor amiga.
- ... – não achou que fosse uma boa ideia. Além de atrapalhar, ele poderia ficar em perigo também.
- Ela precisa de mim. – passou as mãos pelos olhos e secos as lágrimas que lá se acumulavam.
- Não vai, . – pediu ainda nos braços do .
- Eu preciso ajudá-la de alguma forma. Eu não posso... ficar aqui parado. – O nervosismo era evidente.
- Eu falei com o . Ele vai tentar ajudar. – deu a notícia assim que terminou o abraço com a . – E o meu pai também foi pra lá. Eu tentei, mas o meu pai não quis me deixar ir.– Ele aproximou-se de .
- Não acredito que ele conseguiu te convencer a ficar aqui. – sorriu fraco e negou com a cabeça.
- Ele até levou a chave do meu carro. – explicou, fazendo o sorriso no rosto do amigo aumentar. – Eu queria estar lá também. – Ele tocou o ombro do amigo. – Eu quero ajudá-la e eu... quero vê-la. Eu quero brigar com ela. – sorriu com os olhos marejados. – Eu quero a minha irmã de volta. – Ele mal terminou a frase e foi imediatamente abraçado pelo .
- Ela vai voltar. – não sabia se estava consolando o amigo ou a si mesmo. – O seu pai vai conseguir. O vai conseguir. Você sabe que ele vai, não sabe? – Ele deu alguns tapas fracos nas costas do amigo.
- Eu sei! Eu tenho fé. – respirou fundo, tentando se acalmar.
- Você já ligou para o seu pai? – estava desesperada por notícias.
- Ele nem deve ter chegado lá ainda. Não faz muito tempo que ele saiu. – explicou, terminando o abraço em .
- O que estão querendo? Dinheiro? – perguntou, preocupado.
- Eu não sei. O meu pai não me disse nada. – ergueu os ombros. Ele também não tinha muitas informações.
- Será que ele vai encontrá-la? Ele descobriu onde eles estão escondendo ela? – não via a hora de aquele pesadelo acabar.
- Eu acho que não. – também parecia confuso com tudo aquilo.
- Mas como ele vai achá-la, então? Vocês acionaram a polícia? – estranhou.
- Meu pai não queria que eu avisasse a polícia. Eles devem ter imposto alguma condição. Eu não sei. – afirmou. – A única coisa que eu sei é que meu pai parecia saber onde procurar. Eu não sei como, mas ele sabia. – Ele completou. A frase fez com que os amigos trocassem olhares.
- Acho que agora só nos resta esperar as notícias. – sabia que não tinha nada que eles pudessem fazer.

Mesmo sem conseguir se conformar que seu pai estava envolvido com algo que o machucava tanto, estava disposto a fazer de tudo para me tirar daquele pesadelo. O envolvimento de Steven só fazia o se sentir mais culpado com o que estava acontecendo e a obrigação que ele já sentia em ter de me levar de volta pra casa parecia ter triplicado. Mesmo vendo o desespero do filho, Steven parecia não se abater.

- ONDE ELA ESTÁ? – repetiu a pergunta, já que Steven não respondeu das outras vezes.

Os gritos de chegaram no porão, onde Steven me mantinha. Quando ouvi ele gritar aquelas 3 palavras, eu sabia que era sobre mim que ele estava perguntando. Isso acalmou o meu coração de tal forma, que eu me convenci de que sairia dali. Mesmo com a mordaça na minha boca, eu consegui dar um sorriso de alívio. Com a cabeça inclinada para cima, eu encarava o teto. Ele estava bem perto. Ele só precisava saber que eu estava ali. Eu sabia que tinha que ajudá-lo a me encontrar, mas eu não sabia como fazer isso. Tentei mexer a cadeira para fazer algum barulho, mas eu não consegui.

- EU SEI QUE ELA ESTÁ AQUI! – disse antes de começar a andar de um lado pro outro. Foi tirando do lugat tudo o que via pela frente. Empurrou móveis, cadeiras e até mesmo o sofá.
- Para com isso, ! – Steven só observava, sem saber como impedi-lo.

A agitação no andar de cima me fez concluir que o estava me procurando. Eu escutava os móveis sendo arrastados. Tentei mais algumas vezes arrastar a cadeira, mas eu não conseguia. Eu poderia gritar se a mordaça na minha boca não me impedisse. Gritar eu não conseguia, mas se eu forçasse a garganta eu conseguiria fazer alguns ruídos que poderiam ajudar o . Eu comecei a fazer aqueles ruídos, mas eles não eram tão altos. Mesmo assim, Steven conseguiu ouvi-los da sala de estar. parecia não saber mais onde procurar.

- O que você está fazendo? Ela não está aqui. – Steven falou para tentar neutralizar os ruídos que eu fazia no porão.
- Espera... – arregalou os olhos. Ele achou ter escutado alguma coisa.
- Eu já disse que ela não... – Steven tentou mais uma vez evitar que o me ouvisse.
- Cala a boca! – interrompeu Steven, querendo silêncio para poder se certificar de que ele não estava ouvindo coisas. Enquanto ouvia os meus ruídos, olhou para baixo. Ele sabia que eu estava lá embaixo.

Além de virem de baixo da casa, os ruídos pareciam vir do outro lado da sala. Ele tentava seguir os barulhos, mas ele não sabia como chegar ao porão da casa. Steven não se movia. Ele não ajudava, mas ele também não atrapalhava. Ele sabia que todo o seu plano tinha dado errado e que agora não tinha como reverter. Steven só reagiu, quando viu o filho de aproximar dos fundos da casa. Ele estava bem próximo do cômodo que daria passagem para o porão.

- Filho, não faz isso. – Steven foi atrás de , que o ignorou completamente. – Vamos conversar. – Ele pediu, mas dessa vez tocou no ombro do filho, que reagiu instantaneamente.
- FICA-LONGE-DE-MIM! – afastou o pai com um empurrão.

Não demorou para que encontrasse o único cômodo da casa, que seu pai não havia lhe mostrado na última visita. Isso o fez ter certeza de que a entrada para o porão estava lá. adentrou o quarto e o fato de ele estar completamente vazio só o fez achar tudo mais estranho. Tinha somente um tapete no chão, que o acabou pisando, enquanto olhava em volta e procurava alguma coisa estranha. Steven ficou parado na porta, torcendo para que o filho não encontrasse a entrada logo abaixo dos seus pés. Os meus ruídos ficavam cada vez mais altos e o sabia que estava chegando perto. Em um dos passos que deu sobre o tapete, ouviu um barulho diferente como se tivesse pisado em algo solto, uma porta. Antes de levantar o tapete, olhou para Steven, que apenas o olhou sério como se reprovasse a sua atitude. Ele encontrou a porta e não pensou duas vezes em abri-la. Assim que a abriu, encontrou uma pequena escada que dava acesso para um piso inferior.

- !? – gritou, aproximando o seu rosto daquela entrada no chão. Quando ouvi a voz dele tão próxima, eu tive colapso. Eu comecei gritar do jeito que eu conseguia e a me mover na cadeira. Ao ouvir os meus gritos, o coração de parecia ter se acalmado. Ele sorriu com lágrimas nos olhos. Olhou para o pai e negou com a cabeça, antes de começar a descer as escadas. Steven levou uma das mãos a cabeça e depois a passou pelo seu rosto. Ele não sabia o que fazer.

chegou no porão, que tinha um grande corredor. Ele tinha certeza que me encontraria no final dele. Eu estava de costas para o corredor, portanto, eu não conseguia ver quem estava chegando, mas eu conseguia ouvir os passos rápidos que pareciam estar cada vez mais próximos. Ainda parado no cômodo vazio, Steven finalmente decidiu o que iria fazer. Ele usaria a verdade a seu favor. Ele não sabia se funcionaria, mas era a única arma que ele tinha. Steven também desceu a escada e foi atrás do filho.

- ! – abriu um enorme sorriso, quando me viu de costas. Eu tentei mais uma vez me soltar daquelas cordas que amarravam os meus braços e pés, mas eu não conseguia. Eu precisava vê-lo. Ouvi a velocidade dos passos dele aumentarem e quando ele parou em minha frente, eu o olhei com carinho.

Incrível como tê-lo por perto conseguia tirar todo o meu medo e desespero. Com ele ali, eu sabia que eu estava segura. Eu sabia que daria tudo certo e que nada iria me acontecer. era a minha calmaria no meio da pior tempestade que eu já enfrentei. Ele também parecia muito aliviado em me ver. O sorriso fraco e os olhar doce descreviam exatamente tudo o que ele sentia. Por poucos segundos, ele se esqueceu que o seu pai era o responsável por tudo aquilo.




- Eu estou tão feliz em te ver. – agachou-se em minha frente e levou suas mãos até o meu rosto.Com as mãos ainda no meu rosto, ele tirou com cuidado a mordaça da minha boca.
- Você veio. – Foi a primeira coisa que eu disse, depois de tirar a mordaça. Os meus olhos estavam cheios de lágrimas e havia um sorriso no canto do meu rosto. – Você me encontrou. – Eu ainda não acreditava no que eu estava dizendo.
- Está tudo bem, amor. – ainda acariciava o meu rosto. – Vai ficar tudo bem. – Ele afirmou, tentando me acalmar ao ver o quão agitada eu estava. abaixou a cabeça para olhar para o nó, que amarrava os meus braços aos braços da cadeira. Ele estava prestes a começar a desamarrá-los, quando alguém passou por nós.
- Se afaste dela! – Steven segurou no braço do filho e o levou para trás.
- Me solte! – puxou o seu braço e não conseguiu dar nem um passo. Steven entrou em sua frente.
- Você não vai soltá-la. – Steven afirmou, enfrentando o filho.
- Eu vou soltá-la! Nem que eu tenha que passar por cima de você! – o enfrentou de igual para igual.
- Você está cego! – Steven negou com a cabeça ao olhar para o filho.
- Saia da minha frente! – estava segurando-se para não se exceder.
- Você vai ter que me ouvir! – Steven não se moveu.
- Eu mandei você sair da minha frente! – deu dois passos para frente, mas o pai impediu a sua passagem, segurando-o e empurrando-o para trás.
- VOCÊ VAI ME OUVIR! – Steven gritou energicamente e chegou até a assustar o filho, que nunca tinha visto o pai daquele jeito.
- Qual o problema com você?- perguntou, enquanto lançava um olhar de incompreensão para o pai. Ele não conseguia entender porque o pai estava fazendo tudo aquilo. – É a minha namorada ali! O que você pensa que está fazendo? – Ele apontou para mim. Eu não me manifestei em nenhum momento. Era uma conversa entre pai e filho, mas eu confesso que eu estava com medo pelo . Steven era maluco. Eu não fazia a menor ideia do que ele poderia fazer com o filho.
- Ela não é quem você pensa que é. – Steven não sabia como começar com aquilo ou como faria o filho entender.
- Eu não quero te ouvir. – rolou os olhos, ignorando completamente o que o pai dizia.
- É importante! – Steven insistiu, perplexo com a ignorância do filho.
- Importante? Sabe o que é importante? Ela é importante! Ela é importante pra mim! – cuspiu as palavras pra cima do pai. – Não me importa o que você acha sobre isso ou sobre ela. – Ele completou e tentou mais uma vez se afastar do pai para ir me ajudar e Steven novamente interferiu e dessa vez ele foi um pouco mais agressivo.
- VOCÊ VAI ME OUVIR! ENTENDEU? – Steven esbravejou, segurando o filho pelo colarinho. – PARE DE FICAR AGINDO COMO UM ADOLESCENTE INCONSEQUENTE E CRESÇA! VEJA O QUE ESTÁ BEM NA SUA FRENTE! – Ele gritou, deixando o filho sem palavras.
- VER O QUE!? VOCÊ AGINDO COMO UM LOUCO? VOCÊ DISTRUINDO A IMAGEM QUE EU TINHA DE VOCÊ TODOS ESSES ANOS? – devolveu as grosserias, que pareciam ter causado algum efeito no pai.
- Eu sou a mesma pessoa, filho. O Yankees ainda é o meu time do coração e os Beatles ainda são a minha banda favorita. – Steven deixou um triste sorriso escapar. – Nada mudou! – Ele negou com a cabeça. – Você ainda é o meu garoto e é por você que eu estou aqui agora. É por você que eu passei os piores anos da minha vida! – Steven tocou o rosto do filho, que o olhava com total incompreensão. – Eu voltei para evitar que você passe pelo que eu passei. Eu voltei para te proteger do mal que você mal consegue enxergar. – Ele completou um pouco emocionado.
- Do que você está falando? – estava um pouco assustado com as declarações do pai e com a sua constante mudança de comportamento. Ele não fazia a menor ideia do que ele estava dizendo.
- Me escuta por cinco minutos. Se depois de você ouvir tudo o que eu tenho pra dizer você ainda achar que eu sou essa pessoa horrível, eu deixo você soltá-la e levá-la pra casa, ok? Mas, por favor, me escuta. – Steven implorou. Os olhos tristes do pai que transmitiam tanta verdade chegaram a comover o .

Eu ainda estava com medo sim, mas eu também estava curiosa para saber o que de tão importante o Steven tinha para falar. Eu não tinha motivos para temer e estava completamente segura que o não acreditaria em uma só palavra. Se ele precisava ouvir um monte de besteiras para poder me tirar dali, então que ouça! Com o ali eu não tinha nada a temer.

- 5 minutos! – disse, tirando as mãos de Steven dele. – Eu estou te ouvindo. – Ele cruzou os braços, sem qualquer intenção de receber bem as mentiras que o pai com certeza diria.
- Muitas coisas aconteceram no passado, . Coisas que interferiram em toda a minha vida e que agora estão interferindo na sua vida também. – Steven não sabia como começar a explicar.
- Coisas? Que tipo de coisas? – o olhou seriamente.
- A aparência não é a única semelhança entre nós, filho. – Steven estava sendo cuidadoso apesar de tudo. – Muitas coisas pelas quais você está passando agora, eu também passei quando eu tinha mais ou menos a sua idade. – Ele continuava falando, mas continuava não sendo claro.
- Do que você está falando? – cerrou os olhos e negou com a cabeça.
- Estou falando dela, . – Steven apontou a cabeça na minha direção. também me olhou por cima dos ombros do seu pai e viu em meu rosto um enorme ponto de interrogação. – Eu também já tive alguém como ela. – Ele completou.
- A minha mãe. – afirmou com frieza, pois era algo de que tinha certeza.
- Antes da sua mãe. – Steven o corrigiu, mas não o viu ficar tão surpreso assim. – Teve alguém muito importante antes da sua mãe. Alguém que eu via como a mulher perfeita pra mim. Alguém por quem eu me apaixonei sem nem me dar conta. – Ele deu um fraco sorriso ao lembrar-se do passado.
- Então, você sabe como eu me sinto em relação a . Você sabe o que ela significa pra mim. Porque você está fazendo isso? – A cada explicação do pai as coisas ficavam ainda mais confusas para o .
- Não acabou bem, . – Steven sabia que responderia a pergunta do filho se continuasse com a sua história. – A minha história com essa garota não acabou bem. – Ele fez uma breve pausa. – Acabou da pior forma que poderia acabar. – Steven engoliu seco. Falar naquele assunto realmente mexia com o seu emocional.
- Como? – perguntou um pouco perplexo com o comportamento do pai.
- Com uma traição. – Steven respondeu de imediato.
- Uma traição? Sinceramente, eu acho que ter a sua namorada morta pelo seu próprio pai é uma forma bem pior de acabar. – ironizou o sofrimento do próprio pai.
- Não se a traição foi com o seu melhor amigo. São duas traições, . – Steven não reagiu tão mal ao comentário do filho.
- Está dizendo que o seu melhor amigo roubou a sua namorada? – estava lidando com tudo com muita tranquilidade. – Olha, eu sinto muito por você. Não deve ter sido fácil, mas... – Ele arqueou uma das sobrancelhas. – Eu não posso pagar por isso. A não pode pagar por isso. – estava tentando manter a calma por se tratar de um assunto delicado para o seu pai.
- É o meu pai. – Eu disse, depois de alguns segundos juntando todas as peças. Steven tinha me dito há alguns minutos atrás que o meu pai era o seu melhor amigo. Se o melhor amigo dele o traiu, isso quer dizer que meu pai o traiu. – Você está falando do meu pai. – Eu disse completamente surpresa.
- O que? – achou não ter escutado bem e virou-se para me olhar.
- A foto... – Na hora me veio na cabeça aquela foto que eu encontrei em uma das malas do meu pai. Aquela foto em que ele estava ao lado de um amigo. É claro! Era de lá que eu conhecia o Steven! O Steven estava naquela foto ao lado do meu pai. – Você serviu o exército com o meu pai. – Eu não estava conseguindo assimilar tudo de uma só vez.
- O que... – negou com a cabeça, sem entender. Ele estava completamente confuso.
- Eu tinha certeza que você sabia muito mais do que dizia saber. – Steven sorriu pra mim.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou um pouco mais irritado ao interromper a minha troca de olhares com Steven.
- O pai dela é o traidor, . – Steven confirmou o que eu havia dito.
- Como... – negou com a cabeça e ergueu os ombros.
- É por isso que você não gosta de mim? Por causa do meu pai? – Eu interrompi a conversa novamente, que dessa vez estava diretamente relacionada a mim. – Esse é o grande motivo? O motivo pra você tentar me matar? Um amor idiota de adolescência? – Eu confesso que estava um pouco fora de mim por causa do jeito que ele tinha falado do meu pai.
- Fica fora disso! – Steven reagiu imediatamente com aqueles seus olhos ameaçadores.
- Eu não sei os motivos que levaram o meu pai a fazer o que fez, mas eu tenho certeza que você mereceu! – Eu tentei devolver a grosseria e no mesmo instante ele tentou vir pra cima de mim, mas não deixou que ele se aproximasse.
- VOCÊ NÃO VAI TOCAR NELA! – empurrou o pai para trás, furioso com o seu comportamento. – VOCÊ NÃO PERCEBE O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – Ele estava tentando trazer o pai para a realidade. – ELA NÃO PODE PAGAR PELOS ERROS DO PAI! – argumentou ao meu favor.
- ELA NÃO ESTÁ PAGANDO PELOS ERROS DO PAI!! VOCÊ É QUE ESTÁ PAGANDO PELOS MEUS! – Steven devolveu os gritos, que soaram mais como um desabafo.
- Como!? – abriu os braços. – Como eu posso estar pagando pelos seus erros? – Ele disse em tom de descrença.
- ELA ESTÁ TE FAZENDO PAGAR! – Steven apontou na minha direção.- COMO VOCÊ NÃO CONSEGUE ENXERGAR? – Ele continuava exaltado.
- Você é maluco. – sorriu e negou com a cabeça. As coisas continuavam não fazendo sentido pra ele.
- PENSE NAQUELE ACIDENTE! O PAI DELA ESTAVA DIRIGINDO O OUTRO CARRO! COMO PODE ACHAR QUE ISSO É UMA COINCIDÊNCIA? – Steven estava disposto a jogar a verdade na cara do filho.
- O que você está insinuando? – travava toda vez que aquele acidente era mencionado. Aquele com certeza era o seu ponto fraco.
- Depois que eu descobri a traição entre o meu melhor amigo e a garota que eu amava, eu fiz muitas coisas. Coisas que não agradaram muita gente, principalmente o pai dela. – Steven voltou a se referir a mim. – Ele disse que se vingaria. – Ele pausou por alguns segundos. – Anos depois, nós sofremos aquele acidente que quase me matou e adivinha quem estava no outro carro? – Steven deu algum tempo para que o tirasse as suas próprias conclusões. – Aquele acidente que arruinou a nossa vida foi o começo da vingança dele, filho. – Ele disse apenas para o caso de não ter concluído corretamente.
- ISSO É MENTIRA! – Eu me manifestei imediatamente. – MEU PAI JAMAIS FARIA ISSO! – Eu estava furiosa e tentei mais uma vez me soltar daquelas cordas para ir até lá e defender a honra do meu pai com as minhas próprias mãos.

Aquela história tinha dois lados muito bem definidos para o e ele estava certo que escolheria o meu lado. Ele estava certo que eu era apenas uma vitima de tudo aquilo e que seu pai era o vilão com a roupa de herói. Ao longo da conversa, os lados começaram a ficar confusos. A menção ao acidente foi tudo o que precisou para deixar os sentimentos de uma completa bagunça, que ele não sabia interpretar. Não era segredo que o acidente que quase tirou a vida do seu pai tinha uma enorme influência sobre ele. Foi o seu trauma de infância e continuaria sendo o seu eterno trauma mesmo sabendo que o seu pai está vivo. Steven estar vivo não apagava o que ele sentiu naquele dia horrível. Não apagava as noites que ele não conseguia dormir por causa do choro de sua mãe no quarto ao lado. Não apagava as crises secretas de choro que ele costumava ter em cada data especial que provavelmente estaria passando com o seu pai se ele estivesse lá.

- Não. Não pode ser... – negou com a cabeça. – A estava no carro com ele. Ele jamais a colocaria em risco. – Ele completou, tentando convencer-se de seu próprio argumento.
- Essa é a outra parte da vingança dele. – Steven não deu mais explicações.
- Que outra parte? – perguntou, mas estava com muito medo da resposta que ouviria.
- A parte que queria que você se apaixonasse pela filha dele. – Steven respondeu sem qualquer hesitação. – A parte que queria ver você sendo feito de idiota exatamente como eu fui. – Ele completou. – Ele está usando a filha dele para fazer você pagar pelos meus erros. – Steven concluiu a informação.
- Isso só pode ser brincadeira. – Eu não conseguia tolerar tantos absurdos.
- Foi por isso que eu voltei, ! Eu voltei pra impedir que aconteça o mesmo com você. – Steven estava tentando fazer o me ignorar completamente.



- Você está errado! – entrou em negação e tinha todos os motivos do mundo para isso.

Mesmo com todos os problemas que aquele acidente trazia para o , ainda havia algo dentro dele lutando para ignorar aquilo. Algo que deveria ser muito forte para ainda não ter perdido a batalha para o trauma da vida do . Seria amor? Esperança de que a melhor fase da sua vida não tenha passado de uma mentira? Medo da verdade que estava saindo da boca do seu herói? Talvez fosse um pouco de cada.

- PENSE, ! – Steven não se conformava no quão cego o filho estava. – Aquele acidente que quase me matou! O homem que mais me odiava no mundo estava no outro carro! Então, o que? O homem que me prometeu vingança bateu acidentalmente no nosso caso? Ele acidentalmente tentou me matar? – Ele começou a jogar aquelas perguntas sobre o filho de uma só vez.
- MEU PAI NÃO FEZ NADA DISSO! – Eu gritei, furiosa.
- E você vai até o outro carro e conhece quem? A pobre donzela em perigo! – Steven apontou a cabeça em minha direção. – Você salva a vida dela e o que ganha em troca? Um pai morto? – Ele foi dizendo sem pensar em usar as melhores palavras. – Não me diga que a família dela nem te agradeceu pelo que você fez? É claro que eles não agradeceram! Eles sabiam quem você era! Eles sabiam que não poderiam mexer com você, porque eu não permitiria. Eles afastaram você dela, porque estavam com medo de mim. Foi então que eles descobriram que eu havia morrido. – Nem mesmo os olhos assustados do filho impediram Steven de continuar. – Você estava sozinho! Você estava vulnerável e era a melhor pessoa para pagar pelo que eu havia feito com eles. – Ele explicou.
- Ela perdeu a memória. Ela não se lembrava de mim. – ainda tentou debater os argumentos do pai.
- Não lembrava, não é? – Steven sorriu e negou com a cabeça. – Anos mais tarde, vocês foram estudar misteriosamente na mesma escola e com tantos outros garotos na escola, o irmão dela se tornou o seu melhor amigo. – Ele esperou que o filho se manifestasse.
- Isso foi... – procurou novamente uma desculpa para explicar aquilo.
- Coincidência? – Steven completou a frase do filho. – Aposto que aquele bilhete da avó dela dizendo ‘Eu sempre soube’ também foi uma tremenda coincidência, certo? – Ele ironizou. – Como será que ela sabia? Bruxaria ou... ela simplesmente sabia o que o filho dela estava planejando? Só mais um truque pra você achar que a senhorita sem memória era a garota dos seus sonhos. – Steven não tinha noção do quanto cada frase que saia da sua boca machucava o seu filho.
- ! – Eu tentei chamar a atenção de , pois o silêncio dele me assustava. Ele estava de costas pra mim e eu não conseguia ver os seus olhos, que com certeza me diriam no que ele estava acreditando ou não.
- Você se fez exatamente o que todos queriam que você fizesse: se apaixonou por ela. – Steven continuava falando com frieza. – Sendo filha de quem ela é, ela sabia muito bem que as discussões e implicâncias entre vocês só te faria ficar mais louco por ela. O ódio e o amor moram lado a lado, certo? – Ele rolou os olhos.
- DE ONDE VOCÊ ESTÁ TIRANDO TUDO ISSO? – Eu perguntei, indignada. Eu não podia fazer nada amarrada naquela cadeira.
- Agora, vem a minha parte favorita! – Steven não deixava que as minhas intervenções chamassem a atenção do . – Você conseguiu a garota. Você conseguiu tudo o que você sempre quis e o que acontece? Outro acidente e outra perda de memória. – Tudo aquilo parecia um jogo pro Steven. A minha preocupação com o que o estava pensando sobre tudo aquilo só aumentava.
- AQUILO FOI UM ACIDENTE! NÃO FOI CULPA MINHA. NÃO FOI CULPA DE NINGUÉM. – Eu gritei em minha defesa. As insinuações de Steven ficavam cada vez mais sérias.
- COITADINHA! – Steven me olhou com deboche.
- Chega. – parecia não querer ouvir mais. Finalmente alguma manifestação! Ele virou de costas para o pai e me olhou com os olhos tristes. Ele parecia perturbado.
- TANTAS PESSOAS PRA ESQUECER E ELA FOI SE ESQUECER LOGO DE VOCÊ! – Steven não se importou com o pedido do filho e continuou com aquela tortura. – O idiota apaixonado que teve que fazê-la se apaixonar por ele pela segunda vez! – Ele continuou falando mesmo com o filho de costas. – O idiota que sofreu, enquanto ela se divertia vendo você ter todo o trabalho do mundo para reconquistá-la! – Os olhos de que continuavam fixos em mim começaram a acumular poucas lágrimas. Mesmo estando longe, olhei em seus olhos e neguei com a cabeça, esperando que ele acreditasse em mim. Esperando que ele conseguisse enxergar a verdade nos meus olhos. – Mais uma vez, você foi o brinquedinho favorito dela. – Steven completou.
- EU DISSE QUE JÁ CHEGA! – gritou furiosamente ao voltar a olhar para o pai. O grito dele me assustou e assustou o Steven também.
- Você está se dando conta de tudo agora, não está? – O estado em que o filho se encontrava deixou isso mais do que claro para Steven. – A vinda dela para Nova York. Ela queria que você viesse atrás dela. – Steven ficou um pouco mais cuidadoso quando viu as poucas lágrimas nos olhos do filho.
- . – Eu o chamei, pois queria que ele voltasse a me olhar. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas também, pois no fundo eu sabia que ele estava acreditando em seu pai.
- Ela mais uma vez fez você correr atrás dela, . – Steven disse e viu o filho negar com a cabeça e depois abaixá-la para encarar o chão.
- Você não está acreditando nele. – Eu o vi de cabeça baixa e senti o meu corpo estremecer.
- Você não vai mais enganá-lo, . – Steven viu todas aquelas lágrimas nos meus olhos e se sentiu ainda mais vitorioso.
- ... – Eu ignorei completamente a provocação de Steven. – Amor, olha pra mim. – Eu disse, já sentindo que a minha voz estava embargada. Ele manteve-se de costas e eu entrei em desespero. – COMO VOCÊ PODE PROVAR TUDO ISSO? – Eu gritei, voltando a olhar pro Steven. – COMO VOCÊ PODE PROVAR TUDO ISSO DO QUE VOCÊ ACABOU DE ME ACUSAR, SEU DESGRAÇADO!? – Eu não sabia se eu estava chorando de ódio ou de tristeza.

Steven virou se costas por poucos segundos, abriu uma gaveta de um armário velho que tinha lá e tirou de lá um envelope grande. Eu acompanhei tudo em silêncio e o vi tirar de dentro do envelope algumas fotos. levantou o rosto e passou uma de suas mãos por ele para secar as suas lágrimas. Seus olhos foram direto para o conteúdo nas mãos do pai. Eu não tinha nada a temer, mas eu sabia que Steven era capaz de fazer qualquer armação para convencer o filho.

- Foi tirada essa semana, enquanto você estava em Atlantic City. – Steven entregou uma das fotos para o e depois dirigiu-se até mim com o resto delas.
- Que tal essa prova? – Steven jogou as fotos sobre o meu colo. Abaixei a minha cabeça na mesma hora para saber do que se tratava. Eram fotos do meu almoço com a Meg e o Mark. As fotos foram tiradas no momento em que a Meg foi ao banheiro. Nas fotos, eu e o Mark nos olhávamos e sorriamos um para o outro.

As fotos tiraram a minha respiração, os meus batimentos cardíacos e qualquer outra coisa que me mantinha viva. As fotos não tinham o mesmo contexto dado por Steven, mas eu sabia que elas mostravam mais do que o suficiente para comprovar cada mentira que saiu da boca de Steven. Eu não contei para o sobre aquele almoço porque eu sabia que ele ficaria chateado com algo totalmente irrelevante. Eu não queria aborrecê-lo. Eu não queria estragar o momento mais feliz da sua vida. Foi o maior erro que eu já cometi.

Aquelas fotos eram o que faltava para que o acreditasse que tudo o que vivemos não foi coincidência ou destino. Aquelas fotos comprovavam a maior decepção de sua vida. Tudo o que o seu pai havia dito de repente passou a fazer sentido. Ele estava certo de que tinha sido apenas um brinquedo idiota em minhas mãos e que eu adorava brincar com ele quando tinha chance. As perdas de memória, a faculdade de medicina e aquela carta de término que eu deixei em sua casa no dia do nosso aniversário de namoro. Tudo o que tinha sido real para o , não tinha sido real pra mim e essa era a maior de suas dores. A garota por quem ele tinha lutado, com quem ele idealizou o maior de seus sonhos e a pessoa que ele queria ter ao seu lado o resto de sua vida não passava de uma mentira. Não passava de uma vingança do passado. Tudo parecia uma grande mentira agora.

- , você não pode acreditar nisso. – Eu olhei pra ele, tentando engolir o meu choro que já estava preso na garganta. – Você sabe que tudo isso é mentira. Você sabe! – Eu sentia uma necessidade enorme de convencê-lo que tudo aquilo era um enorme engano.
- Isso. – finalmente virou-se de frente pra mim. Nossos olhos se encontraram e eu só consegui ver decepção. O jeito que ele me olhou quebrou o meu coração, que nunca doeu tanto. – Isso é mentira? – Ele deu alguns passos em minha direção e jogou a única foto em sua mão em meu colo.
- Eu ia te contar. – Eu me sentia tão culpada, mas ao mesmo tempo eu sabia que não era culpada por tudo. Eu não sou a pessoa que o Steven descreveu. Ao ouvir a minha pequena frase, ele deixou de me olhar e negou com a cabeça. – Não aconteceu nada. A Meg me chamou pra almoçar. Você não estava aqui. Eu... – Eu ia completar, mas ele me interrompeu.
- É isso o que você fazia quando ficava sozinha? – tentava dizer aquelas palavras de forma grosseira, mas seus olhos cheios de lágrimas o entregava.
- Você tem que acreditar em mim. – As lágrimas escapavam pelos cantos dos meus olhos.
- Foi tudo uma mentira, não foi? – estava se segurando para não chorar.
- Não! Não foi! – Eu neguei desesperadamente.
- Outra mentira? – negou sutilmente com a cabeça e virou-se de costas pra mim.
- NÃO! – Eu gritei em suas costas. – ! Olha pra mim! – Eu queria que ele voltasse a me dar atenção, mas ele me ignorou completamente. – OLHA PRA MIM, DROGA! – O meu choro interrompia o meu desespero a todo o momento. – VOCÊ ESTAVA LÁ! VOCÊ ESTAVA LÁ COMIGO EM TODOS OS MOMENTOS! VOCÊ VIVEU ISSO COMIGO! – Eu continuei gritando em sua direção. – NINGUÉM SABE O QUE NÓS VIVEMOS. NINGUÉM SABE TUDO O QUE PASSAMOS PRA FICAR JUNTOS, MAS NÓS SABEMOS. VOCÊ SABE! – Os meus gritos, que se misturavam com o meu choro ecoavam por aquele porão.

Meu pai chegou na casa onde passou diversos verões com o seu melhor amigo. Steven o convidada para ir passar as férias na outra casa de seus pais todos os anos. Ele dizia que não tinha muitos amigos na cidade grande e que o meu pai era o único que poderia fazer companhia a ele. Meu pai conhecia a casa tanto quanto Steven. Aquele velho porão costumava ser o local da casa onde eles passavam a maior parte de suas férias. O pai de Steven havia feito o local exclusivamente para os garotos. Assim que soube que Steven estava comigo, meu pai sabia exatamente onde procurar. Ele sabia que Steven estava me mantendo lá. Ao entrar na casa, meus gritos foram reconhecidos de longe e isso fez com que ele se apressasse ainda mais.

- Eu... não planejava me apaixonar por você. Eu não queria isso, mas aconteceu. – Eu abaixei o tom, quando novamente virou-se para me olhar. Ele chorava como eu. – Eu sei que eu te fiz sofrer muitas vezes e eu sei que eu não mereço o seu amor, mas você merece o meu porque ele é a melhor parte de mim e também é a melhor coisa que eu poderia te oferecer. – Eu o vi abaixar a cabeça. – Você pode até achar que o meu amor não é o bastante, mas você não pode dizer que ele não é verdadeiro. – Eu neguei com a cabeça.



- Deus, eu queria acreditar nisso. – levantou o seu rosto coberto de lágrimas. – Não pode ter sido apenas coincidências, . – Ele completou com tristeza.
- Quer saber o que realmente não foi coincidência? Aquelas redações de sociologia; Você segurar a minha mão dentro daquele avião na nossa primeira viagem juntos pra Nova York; Os gols que você fez pra mim nos jogos da escola; Você ser o meu par no último baile da escola; Você ser o meu único consolo quando eu perdi a minha tia; Você ser a minha maior perda quando eu vim pra Nova York. – Eu fiz uma breve pausa. – Não foi coincidência nós termos nos reencontrado naquele bar na sua primeira noite em Nova York. Não foi coincidência o que nós vivemos nesses últimos dias. Não foi coincidência eu ter me apaixonado por você, . – O choro novamente me interrompeu. – Nada disso é coincidência. Isso são decisões. Isso são sentimentos. Ninguém tem o poder de controlá-los. Nem mesmo o seu pai ou o meu. Então, por favor, me diz que você acredita em mim e em tudo o que nós já passamos juntos. – Eu pedi aos prantos. Ele apenas balançou negativamente a cabeça e me olhou com pesar.

Ouvir e relembrar todas aquelas coisas citadas por mim fizeram a sua falta de confiança em mim ser muito mais dolorosa do que já era. Ele não conseguia acreditar que eu o tinha enganado por tanto tempo. jamais imaginou que olharia pra mim com a decepção que ele me olhava agora. Eu era a última pessoa em quem ele não queria confiar e ele era a única pessoa no mundo que eu queria que acreditasse em mim. Confesso que sua falta de crença e confiança em mim foi um enorme choque. Depois do que nós passamos, eu jamais imaginei que ele encontraria motivos para desacreditar do meu amor.

- Eu te disse, não disse? O amor pode ser cego, mas a verdade é bom colírio, não acha? – Steven ironizou ao me ver chorar. Nem mesmo o sofrimento do filho ele foi capaz de respeitar.
- Vai pro inferno! – Eu consegui dizer com raiva mesmo com todas aquelas lágrimas no meu rosto.
- Solte ela. – pediu ao passar suas mãos rapidamente pelo seu rosto. Mesmo tendo certeza que eu tinha feito tudo aquilo que seu pai disse, não me queria mal. Ele não queria que Steven me fizesse qualquer mal.
- Ainda não. – Steven negou com a cabeça. – Ainda está faltando uma coisa. – Ele referia-se ao meu pai, que por acaso estava chegando no lugar onde estávamos.
- Faltando o que? – não sabia mais o que o pai queria. O que poderia ser pior do que já havia acontecido naquele dia?
- Eu. – Eu ouvi repentinamente a voz do meu pai atrás de mim. e Steven viraram-se para olhá-lo. – Estava faltando eu. – Meu pai parou alguns passos em minha frente e encarou Steven. O respeito que sempre transmitia pelo olhar toda vez que via o meu pai já não existia.
- Feliz em me ver, amigo? – Steven sorria, mas parecia que pularia no pescoço do meu pai a qualquer momento.
- Steven. – Meu pai o olhou da cabeça aos pés. Na sua concepção, Steven continuava o mesmo, mas com algumas rugas a mais.
- Vai embora, pai. – Eu pedi, assustada com o jeito que Steven o olhava. O olhar de também me deixava preocupada, mas eu o conhecia o suficiente para saber que ele jamais faria nada contra o meu pai. Ao ouvir a minha voz, meu pai virou-se pra me olhar. Ele sorriu com tanto carinho e alivio, que chegou a me comover.
- Vai ficar tudo bem, querida. – Meu pai piscou um dos olhos pra mim, tentando me acalmar. Ele me conhecia muito bem e sabia o quanto eu estava assustada. – Eu vou resolver. – Ele completou.
- Um pai tão dedicado como você, mas também com tantos segredos. – O tom sarcástico de Steven me fazia sentir vontade de matá-lo. Ele era muito insuportável.
- Não é culpa dela, Steven. Deixe ela ir embora. – Meu pai não responderia as suas provocações.
- Ele não vai fazer nada com ela, Sr. . – olhou para o meu pai com frieza. – Ele não é um assassino. – Ele deu a sua primeira indireta, o que fez meu pai perceber que havia algo errado com ele.
- Ao contrário de você, eu não escondo nada do meu filho. Ele já sabe de toda a verdade. – Steven informou ao meu pai, quando o viu olhar surpreso para o .
- Toda a verdade? A sua verdade, você quer dizer. – Meu pai também conhecia muito bem Steven e sabia que ele certamente tinha destorcido todos os fatos.
- Só existe uma verdade, basta cada um interpretá-la da maneira que quiser. – Steven ergueu os ombros.
- , eu não sei o que ele te disse... – Meu pai olhou para o . – Eu prometo que vou te explicar tudo depois, mas tire-a daqui. – Ele apontou a cabeça em minha direção.
- Eu não vou te deixar aqui, pai. – Eu fui contra o pedido do meu pai. Eu jamais sairia de lá sem ele.
- Me explicar depois? – sorriu com ironia. – Acha mesmo que eu vou acreditar em alguma coisa que sai da boca do homem que tentou matar o meu pai? – Ele arqueou uma das sobrancelhas.
- Eu não tentei matar o seu pai! Foi um acidente. – Meu pai negou imediatamente.
- Foi uma coincidência, não é? – me olhou com aquele olhar de julgamento, que só me machucava ainda mais.
- Eu sei que ele é o seu pai, ok? Eu sei que você precisa acreditar nele, mas as coisas não são como ele disse. – Meu pai falou com calma. – Seu pai e eu tivemos uma desavença no passado e ele nunca superou. Ele manteve esse rancor dentro dele por muitos anos e agora está tentando passá-lo pra você. – Ele tentou explicar ao .
- Uma desavença? É assim que você chama? – Steven interrompeu. – Se você acha mesmo que sempre esteve tão certo, porque nunca contou pra ela o que aconteceu? – Ele perguntou, apontando a cabeça em minha direção.
- Eu nunca fui de ficar remoendo o passado. O passado deve ficar no passado. – Meu pai respondeu na mesma hora.
- Então, vamos trazer o passado para o presente. Conte a ela. – Steven apontou a cabeça em minha direção. – Conte a ela que a mãe e o pai dela são os responsáveis por ela estar amarrada nessa cadeira. – Ele começou a provocar o meu pai com o assunto.
- Minha... mãe? – Eu olhei para Steven e depois para o meu pai. – O que a minha mãe tem a ver com tudo isso? – Eu estava confusa de novo.
- O não foi o primeiro Jonas a se apaixonar por alguém da sua família, querida – Steven fez questão de falar sobre aquele assunto, que ele sabia que aborrecia o meu pai.
- Você... e a minha mãe? – Eu estava completamente em choque. A reação de estava sendo a mesma que a minha.
- Os Jonas realmente tem alguma coisa com as mulheres da sua família, certo? E elas parecem ter o dom de nós fazer de idiotas. – Steven demonstrava o seu rancor ao falar do assunto. A frase dele novamente gerou uma troca de olhares entre eu e o . – Conte pra eles. – Ele voltou a incomodar o meu pai.
- Quando é que você vai esquecer isso, Steven? – Meu pai não acreditava no quanto aquilo ainda afetava o seu ex-melhor amigo. Era quase como uma doença, que ele jamais conseguiu curar.
- Está bem, então eu conto! – Steven antecipou-se. – Era uma vez um casal apaixonado. Ele foi louco por ela desde o momento em que a viu pela primeira vez. Eles se tornaram melhores amigos e alguns anos depois resolveram transformar a amizade em namoro. – Ele contava com um falso sorriso no canto do rosto.
- Vocês não namoravam. Vocês só ficaram juntos algumas vezes. – Meu pai o interrompeu para poder corrigi-lo.

Em um leve movimento com as mãos feito pelo meu pai, Steven acabou vendo a arma que ele carregava na cintura. Como um ex- soldado do exército, meu pai ainda tinha alguns equipamentos da época que serviu o seu país e a pequena arma era uma delas. Foi a única coisa que ele quis manter depois que abandonou a guerra. Ele a guardou apenas porque sabia como era comum a rivalidade entre os países continuar mesmo após o fim da guerra. Ele tinha medo que os problemas de guerra voltassem para assombrá-lo e para colocar a sua família em perigo. Esse era o único motivo de ele ter mentido aquela arma todos aqueles anos.

Quando saiu de casa, ele já sabia o que enfrentaria quando encontrasse Steven. Só ele sabia o quanto aquela história do passado havia transformado Steven. Ele sabia que eu estava em perigo, por isso, decidiu levar a arma com ele. Ele não pretendia usá-la, mas a trouxe apenas por precaução.

- Você era o meu melhor amigo. Você sabia exatamente como eu me sentia em relação a ela. Você sabia ficaríamos juntos se você não tivesse feito o que fez. – Steven conseguiu disfarçar muito bem o fato de ter visto a arma na cintura do meu pai.
- Eles não têm nada a ver com isso, Steven. Deixe eles irem embora e nós dois resolvemos. – Meu pai queria me poupar de tudo aquilo e também queria poupar o .
- CONTE A ELES! – Steven gritou com o meu pai. Eu estremeci com aquele grito de ódio, que só mostrava o quanto Steven estava fora de si. Ele deu alguns passos em direção ao meu pai e eu entrei em pânico.
- Steven... – Meu pai negou com a cabeça, esperando que ele entendesse que nada daquilo era necessário. Após ter se aproximado, Steven conseguiu o que queria. Em uma fração de segundos, ele foi pra cima do meu pai e tirou a arma de sua cintura.
- Você está meio enferrujado, não acha? – Steven sorriu ao apontar a arma para o meu pai.
- PAI! – Eu comecei a me debater na cadeira, pois eu entrei em pânico e queria ajudá-lo.
- Fica calma, filha. – Meu pai disse, olhando para Steven. – Vai ficar tudo bem. – Ele levantou uma das mãos, me pedindo pra me acalmar.
- Pai, abaixa isso. – olhou para o pai com medo que ele fizesse uma besteira.
– CONTE A ELES QUE VOCÊ A ROUBOU DE MIM! – Steven exigiu novamente, mas dessa vez estava com a arma em suas mãos.
- Ok! – Meu pai ergueu os braços, tentando acalmar Steven. – Eu conto, ok? Eu conto. – Ele não poderia contrariar Steven naquele momento. – Steven e eu sempre fomos melhores amigos. Nós crescemos juntos e éramos inseparáveis. Ele se apaixonou por uma garota, a sua mãe, . – Ele começou a contar com cuidado. Ele não podia dizer nada que desagradasse Steven. – Eles ficaram juntos um verão inteiro e eu sempre estava com eles. Ela também era a minha melhor amiga. – O nervosismo evidente na voz do meu pai me causava uma enorme angustia e um desespero que eu tive que reprimir para não aborrecer Steven. – Em Setembro daquele ano, nós fomos chamados para servir o exército no Afeganistão. Nós dois fomos juntos e a garota com quem Steven estava... ficou. – As mãos do meu pai continuavam levantadas.
- Continue. – Steven exigiu, quando meu pai fez uma breve pausa.
- Eu só fiquei alguns meses lá, quando... – Meu pai voltou a contar a história.
- Para e volta! – Steven o interrompeu. – Conte sobre a promessa. – Ele fazia questão que o meu pai contasse aquela parte, que para ele era a mais importante.
- Antes de irmos para o Afeganistão, a garota com quem o Steven estava prometeu que o esperaria voltar para que eles oficializassem o relacionamento deles. – Meu pai disse o que Steven queria ouvir.
- Ótimo. – Steven afirmou, satisfeito.
- Nós fomos para o Afeganistão e a previsão era que voltássemos em 6 meses. – Meu pai respirou fundo. – Em uma das noites, a base que estávamos foi atacada. Eu estava dormindo ao lado do Steven e... – Ele olhou com um pouco mais de tristeza para o ex-melhor amigo. – Eles iam atirar nele e eu entrei na frente. Eu acabei sendo baleado e fui obrigado a voltar para Atlantic City. – Steven também ficou mais sério ao se lembrar da atitude do amigo. Eu não sabia se estava mais surpresa por ele ter salvado o Steven ou por ter levado um tiro.
- Que amigo exemplar, não é? – Steven ironizou os fatos que viriam a seguir.
- Quando eu voltei pra casa, eu e a garota do Steven... acabamos nos aproximando. Não foi nada planejado. Acabou acontecendo de nós ficarmos juntos. – O olhar que Steven lançava em direção ao meu pai me fazia pensar que ele apertaria o gatilho a qualquer momento. – Steven acabou tendo que ficar mais 6 meses lá e só voltou um ano depois. – Ele respirou fundo, pois não queria ter que continuar a história.
- Imagina a minha surpresa ao voltar pra casa e descobrir que o meu melhor amigo e a garota que eu amava estavam juntos? – Steven tentava manter o sorriso no rosto para não demonstrar o quanto aquilo ainda o machucava. sabia exatamente como era aquela sensação de ser traído por alguém que você ama. Ele entendia o pai e começou a entender todas as semelhanças que Steven havia dito que eles tinham.
- Eu perdi as contas de quantas vezes eu pedi desculpas e expliquei que não queria que nada daquilo tivesse acontecido. – Meu pai tentou amenizar a situação.
- Uma traição dessa não tem explicação. – negou com a cabeça e em meio a tantas revelações e desespero, eu o olhei e mesmo sem ter feito nada do que eu tinha sido acusada, eu me senti culpada pelo que ele estava sentindo.
- Você consegue me entender agora, ? Entende porque eu não te quero com essa garota? – Steven virou o seu rosto para olhar para o filho, que agora parecia estar 100% ao seu lado. – Eu sei que você vai encontrar uma garota muito melhor da mesma forma que eu encontrei a sua mãe. – Steven estava tentando me atingir mais do que qualquer outra coisa. – Uma garota que realmente mereça os seus esforços, a sua espera e o seu amor. – Ele ainda apontava a arma pro meu pai, mas continuava olhando pro e depois pra mim.
- Já chega disso, pai. – não queria falar sobre o assunto. – Você queria abrir os meus olhos, não queria? Você conseguiu. Agora, deixe os ir embora. – Ele achou que não tivesse mais nada para ser dito. Deu poucos passos em minha direção, me fazendo acreditar que ele me desamarraria. Ele faria isso, se seu pai não tivesse lhe impedido.
- Espere. – Steven segurou o braço do filho.
- Pai! – já ia argumentar, mas seu pai o interrompeu.
- Eu mandei você esperar. – Steven falou, sério. Ele voltou a encarar o meu pai. – Eu quero uma confissão. – A arma continuava apontada em direção ao meu pai.
- Eu não tenho nada pra confessar. – Meu pai não confessaria algo que ele não fez.
- Confessa que você sabia que eu estava no outro carro naquela noite. – Steven referia-se ao dia do suposto acidente.
- Eu já contei toda a história como você queria. Agora você tem que soltá-la. – Meu pai olhou pra mim.
- Confessa! – Steven foi mais enérgico.
- Foi um acidente! – Meu pai também se alterou.
- CONFESSA DE UMA VEZ! – Steven gritou, furioso.
- FOI UM ACIDENTE! – Meu pai gritou no mesmo tom de Steven. olhava fixamente para o meu pai e tentava acreditar no que ele dizia.
- EU QUERO A VERDADE – Steven engatilhou a arma.
- NÃO! NÃO! POR FAVOR! – Eu comecei a implorar pela vida do meu pai.
- Para com isso, pai. – Mesmo sendo um assunto do seu interesse, não queria que o seu pai cometesse aquela loucura.
- CONFESSA QUE VOCÊ SEMPRE SOUBE QUE EU ESTAVA NO OUTRO CARRO. CONFESSA QUE VOCÊ SEMPRE SOUBE QUE FOI O MEU FILHO QUE SALVOU A VIDA DA SUA FILHA. – Steven ignorou o pedido do filho.
- EU SEMPRE SOUBE, OK? EU SABIA! – Meu pai disse o que Steven queria tanto ouvir. O que Steven queria que o filho ouvisse. – Logo depois que o acidente aconteceu, eu sabia que você estava no outro carro. Eu acabei perdendo a consciência e quando eu acordei no hospital, me contaram o que seu filho tinha feito. – Meu pai acabou contando tudo de uma vez. – Eu sabia que você a salvou, . – Ele olhou para o , que reagiu imediatamente a notícia.
- Você sabia... e nunca disse nada. – negou com a cabeça. – Eu fui ao hospital inúmeras vezes. Eu tentei visitá-la, mas era você que nunca me deixava entrar para vê-la. – Ele recordou-se de todas as vezes que as enfermeiras o expulsaram do hospital, quando ele apenas queria saber se a garota que ele tinha salvado estava bem. – Você não queria me deixar vê-la, pois não era conveniente com os seus planos na época, não é? – Todas as coisas que seu pai havia lhe contado naquele dia foram se juntando. – Você quase matou o meu pai naquele dia e só conseguiu pensar na sua vingança. Você só conseguia pensar na hora certa de me colocar na vida da sua filha para me fazer passar por tudo o que você também fez o meu pai passar. – ia dizendo todas aquelas coisas e seus olhos iam enchendo-se instantaneamente de lágrimas. Ele deixou de olhar pro meu pai e virou-se para o lado por alguns segundos, enquanto negava com a cabeça. Ele olhava em volta como se estivesse completamente perdido e suas mãos inquietas, que bagunçavam o seu cabelo demonstravam o seu nervosismo. Eu o observava em silêncio, enquanto as lágrimas escorriam pelos cantos dos meus olhos. Eu ainda não conseguia aceitar que o estava acreditando em tudo aquilo.
- Não! Não é nada disso! – Meu pai negou na mesma hora.
- Filho, você está bem? – Steven notou que o filho estava completamente perturbado. Nessa hora, meu pai aproveitou a distração de Steven com o filho e bateu na arma com uma de suas mãos, fazendo com que ela caísse no chão. Steven mal teve tempo para reagir. Meu pai foi pra cima dele e o derrubou no chão com um forte empurrão.

A noite daquele acidente continuava passando como um filme na cabeça do . Toda a sua vida parecia ser uma grande mentira. Nada parecia ser real. Era como se ele tivesse vivido uma vida controlada por outras pessoas. Pessoas que influenciavam sobre quem ele deveria amar, sobre como ele deveria viver e sobre quem ele tinha que perder. Os seus pensamentos foram interrompidos com os meus gritos desesperados ao ver meu pai e Steven brigando.

- Eu preciso ajudar o meu pai. – Eu tentava desesperadamente tirar aquelas cordas do meu braço, mas toda a minha força parecia não ser suficiente. – FAZ ALGUMA COISA, ! – Eu pedi, quando vi que meu pai estava levando a pior. Steven estava sobre ele e já tinha dado alguns socos, quando o meu pai conseguir reverter a situação. Meu pai colocou-se em cima de Steven e começou a dar vários socos seguidos.
- ! – Em meio aos socos que levava, Steven conseguiu chamar pelo filho. não sabia o que fazer para ajudar o pai. Steven conseguiu apontar uma das mãos na direção da arma, que estava jogada no chão. olhou para a direção em que o pai havia apontado e quando viu a arma, não pensou duas vezes em pegá-la. Era a única forma de salvar o seu pai.
- SOLTA ELE! – gritou apontando a arma em direção ao meu pai, que parou com os socos no mesmo instante que viu a arma.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, ? – O meu coração estava disparado, minhas mãos tremiam e os meus olhos cheios de lágrimas estavam arregalados.



- ATIRA! – Steven gritou mesmo estando no chão.
- , por favor! – A velocidade da minha respiração triplicou e parecia que eu ia ter um ataque a qualquer momento.
- , você não precisa fazer isso. – Meu pai saiu de cima de Steven e tentou se levantar, mas os socos que havia levado de Steven ainda o deixavam tonto. – Você não é como ele. – Meu pai olhou para o .
- Ele veio até aqui para terminar o trabalho, . – Steven esforçou-se para falar. – Ele não conseguiu me matar naquela noite e veio terminar o trabalho. Ele trouxe a arma! – Steven queria convencer o filho a atirar a qualquer custo.
- Por favor, por favor... – Eu comecei a chorar compulsivamente. – , olha pra mim. – Eu pedi e ele virou na minha direção. Os olhos dele estavam cheios de lágrimas e suas mãos tremiam mais do que nunca. – Por tudo o que nós já vivemos juntos, eu te imploro. Não faz isso. – Eu quase não conseguia falar por causa do meu choro.
- A pessoa responsável pelo seu sofrimento no dia que nós sofremos aquele acidente é ele! A pessoa responsável por todo o seu sofrimento durante esses anos está bem na sua frente, filho. – Steven continua pressionando o filho, sem pensar no quão transtornado ele estava. Ao ouvir aquilo, tentou segurar a arma com mais firmeza.
- Não faz isso. Você não pode fazer isso. Não você. – O meu coração e a minha mente já me preparavam para o pior. Ver uma pessoa que eu amava ameaçando tirar a vida do meu próprio pai era o tipo de pesadelo que eu não desejaria nem para o meu maior inimigo. Era a pior sensação do mundo ver o amor que você sente por uma pessoa sendo destruído de uma maneira tão traumatizante e trágica. Foi a pior coisa que eu já senti. O medo de perder o meu pai era enorme e o meu medo de o ser o responsável por essa perda era mil vezes maior.

Mesmo com a arma nas mãos, só queria sentar e chorar o resto dos seus dias. Os olhos dele se revezavam entre eu e o seu pai. Duas pessoas que ele amava mais do que tudo. Duas pessoas que ele não conseguiria viver sem. As mãos dele ainda tremiam e as lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele nunca tinha segurado uma arma antes. Ele nunca tinha pensado em se vingar de qualquer forma de alguém que teria ocasionado aquele acidente. O nunca teve isso em mente, porque até então ele achava que aquele acidente não tinha um responsável. Agora, tudo havia mudado. Nada do que ele passou anos superando era verdade. Toda a sua dor tinha um responsável e era justamente o pai da garota que ele amava. Suas mãos mal conseguiam segurar a arma direito. Steven continuava pedindo pra ele atirar, enquanto eu implorava que ele não fizesse nada com o meu pai. Não foi preciso que ele tomasse uma decisão.

- Solta a arma! – Uma voz conhecida o trouxe de volta para a realidade. Uma arma estava apontada em sua cabeça. Ele não precisou nem olhar para saber que era o Mark.
- Mark! – Eu não acreditei quando eu o vi. – Graças a Deus. – Eu ainda não conseguia parar de chorar, mas eu estava eufórica. Foi a melhor sensação do mundo.
- Você? – Como se o já não tivesse que lidar com milhões de problemas, ele ainda tinha que lidar com o Mark. O cara que sempre estava em seu caminho. O cara que tinha ido almoçar comigo naquela semana. – Sempre você. – Ele completou.
- O que achou da minha roupa de herói? – Mark ironizou e viu respirar fundo.
- Ainda não combina com você. – continuava falando, sem olhá-lo. Ele olhava para o meu pai, que ainda estava na mira da sua arma.
- Solta logo a arma. – Mark pediu mais uma vez.
- Ou o que? Você vai me matar? – perguntou e logo depois jogou a arma no chão. – Então, faça! – Ele virou-se de frente para o Mark e também para a arma, que agora estava apontada para a sua testa. – Eu sei que você sempre quis fazer isso. Faça! – Ele encarou Mark, sem ter nada a perder.
- Acha que eu não tenho coragem? – Mark também o encarou de igual pra igual.
- Espera! Você não pode atirar nele! - Steven que até então estava jogado no chão, conseguiu forças para gritar e impedir a tragédia.
- Me dê apenas um motivo. – Mark olhou friamente para o homem que ele não conhecia.
- Tem uma parte da história que ele não contou. – Steven olhou para o meu pai, que não se manifestou de forma alguma. Ele sabia do que Steven estava falando.
- Mais revelações? Incrível. – suspirou, sem saber como aquilo poderia piorar.
- Eu também tive a minha vingança. – Steven parecia muito nervoso ao falar sobre aquilo. – Quando eu descobri sobre a traição, eu fiquei maluco. Eu... – Ele não sabia como continuar. – Eu precisava me vingar. Eu precisava fazer alguma coisa. – Steven começou a enrolar. Nunca esteve em seus planos contar aquilo daquela forma.
- Diz logo o que você está querendo dizer, pai. – começou a ficar preocupado com a forma que o pai estava agindo. Mark também se surpreendeu ao ver o chamando de pai aquele homem, que até então ele não conhecia. Aliás, Mark nem sabia por que estavam lhe contando tudo aquilo.
- Depois da traição, eu acabei tentando curar as minhas feridas com uma outra garota e ao mesmo tempo, eu queria punir o cara que havia me traído da pior forma possível. – Steven engoliu seco. – Eu sabia que a irmã dele sempre foi apaixonada por mim e eu também sabia o quanto ele era protetor e ciumento com a irmã – Ele referiu-se ao meu pai.
- Tia Janice. – Eu pensei em voz alta e Mark me olhou, surpreso.
- Você também ficou com a Janice? – arqueou uma das sobrancelhas e negou com a cabeça. Quantas mulheres o seu pai já havia namorado?
- Eu não só fiquei com ela. Foi mais do que isso. – Steven olhou pro Mark.
- Eu não sei por que você está dizendo isso, mas eu ainda estou esperando um bom motivo pra não atirar nesse idiota. – Mark voltou a olhar fixamente para o .



- Você não pode matá-lo, Mark. – Steven falou o nome de Mark como se já o conhecesse. – Ele é o seu irmão. – Ao ouvir as palavras ditas por Steven, Mark virou o seu rosto para olhá-lo. O coração disparou e o seu corpo estremeceu. A arma ainda apontada para a testa de foi abaixada, porque Mark não tinha forças para manter a mão levantada. Ele olhou para o meu pai, que confirmava a informação com os olhos. Os olhos de cheios de ódio deixavam de encarar Steven e foram redirecionados para o Mark. Mark também olhou para o , engoliu seco. De longe, eu vi os dois se encararem. Olhos raivosos de um lado e olhos tristes de outro lado. Eu vou levar algum tempo para digerir essa informação: Mark e são irmãos!










CONTINUA...









Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


5 comentários:

  1. Puta que pariu, como sobreviver a esse capítulo? Eu to no chão, to jogada, to chocada com tanta informação! E essa história de ser tudo mentira? O Jonas tinha que ter acreditado em mim! Jonas e Mark irmão? Oi? Cara eu to pirando sem chances de cura. Continua logo é uma súplica eu vou morrer sem att logo. EU NÃO VOU SUPERAR NUNCA ESSE CAPÍTULO! CONTINUAAAAAA

    ResponderExcluir
  2. De longe este capítulo foi o mais surpreendente! Tem que dar tudo certo entre todo mundo, principalmente entre a protagonista e o jonas. Torço pra qie seja lindo. PRECISO DO CAP 54!!!!!!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  3. Ainda aqui, com a esperança de ter continuação! :/

    ResponderExcluir
  4. sdds continuação :(
    tá sendo muuuuuito angustiante esperar todo esse tempo T-T

    ResponderExcluir
  5. SOS precisa de continuação pff !! To essperando há meses cap 54

    ResponderExcluir