CAPÍTULO 56



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




- Não, pai! - já se aproximava de onde eu e o meu pai estávamos quando, em questão de segundos, ele viu o seu pai atrás de uma das árvores. A arma de Steven já estava apontada na direção em que eu e o meu pai estávamos.

As coisas aconteceram muito rápido, mas para tudo parecia ter acontecido em câmera lenta. Depois de ver a arma na mão de seu pai apontada na direção do meu, ele lembrou-se da conversa que eles tiveram naquela tarde. se lembrou do perdão que o meu pai tinha dado a ele apesar de tudo e das palavras tão sinceras que chegaram a acalmar o seu coração e a limpar a sua alma. Ele sabia que o meu pai não merecia aquilo. já estava correndo na nossa direção, quando olhou para mim e depois para o meu pai pela última vez. não teve dúvidas do que ele tinha que fazer.

Mark chegou em frente ao mercado pouco antes do tiro ser disparado. Deu tempo de ele parar e olhar para o irmão que corria na mesma direção em que eu e o meu pai estávamos, mas percebeu que ele olhava para alguém que estava atrás das árvores. Mark acompanhou os olhares do irmão e viu Steven entre as árvores no momento em que ele apertou o gatilho. Os olhos desesperados voltaram a olhar para o seu irmão.

- NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOO! - Mark gritou assim que viu o irmão mais novo saltar na frente do meu pai no momento exato em que a bala iria alcançá-lo. Mark viu exatamente quando a bala atingiu o lado direito do abdômen do . A gritaria e desespero de todos que estavam na rua começaram de uma hora pra outra, mas Mark não conseguia ouvir absolutamente nada. Ele estava em choque.

O barulho do tiro não me fez gritar ou correr, mas fez o meu coração congelar. A primeira coisa que eu fiz foi olhar para o meu pai para ter certeza de que ele estava bem. No primeiro momento, ele foi a minha única preocupação. Ao olhá-lo, vi seus olhos esbugalhados olharem para baixo. Meus olhos assustados acompanharam os olhos dele e só então eu percebi quem estava caído aos meus pés. Meus olhos se encheram de lágrimas em questão de segundos e minhas pernas desabaram, me fazendo cair de joelhos ao lado do corpo de . Eu o olhei de mais perto e vi uma quantidade enorme de sangue. Aos mãos de estavam em cima do local acertado pela bala e o sangue vazava compulsivamente pelos seus dedos.

- . - Foi a única coisa que eu consegui dizer. Me inclinei sobre ele e agarrei o seu rosto com minhas duas mãos. Eu precisava ter certeza de que ele estava vivo. Eu precisava que ele abrisse os olhos para me olhar mais uma vez.
- Não. Não. Não. - Mark ajoelhou-se do outro lado do corpo do irmão. Ele estava desesperado. Ele olhava para todo aquele sangue e não conseguia se mexer. - . - Ele também inclinou-se para olhar para o rosto do irmão. Eu olhei para o Mark com tristeza e com os olhos marejados.



Mark me olhou de volta por alguns segundos e depois voltou a dar toda a sua atenção para o irmão. - ! - Mark gritou o nome do irmão novamente. Suas mãos tremiam como nunca e o coração parecia que nunca mais voltaria a bater. Ele não podia perder outra pessoa. Ele não podia perder a sua única família logo agora.





Capítulo 56 – Linha de Chegada



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:



O mundo havia se apagado completamente para mim e para o Mark. não tinha respondido nenhuma das vezes em que o seu irmão o chamou e nós dois temíamos pelo pior. Nós nos olhamos por alguns segundos, mas parecia horas. As lágrimas estavam em meus olhos, mas o medo definitivamente estava nos olhos dele. Mark negou com a cabeça, pois não fazia a menor ideia do que fazer. Ele não tinha sequer coragem de checar o pulso do irmão. Eu continuava olhando para o Mark, pois esperava que ele me dissesse que ele estava bem. Eu esperava que ele me dissesse que o estava bem. Por que ele não me dizia? Bem, eu também não tinha coragem para perguntar.

Estranho como o nosso corpo responde de formas tão diferentes a determinadas situações. Eu estava ali olhando para o Mark e meu coração me dizia que ficaria tudo bem, mas a minha cabeça me mostrava dezenas de lembranças e memórias de tudo o que eu havia vivido com o . Meu coração dizia que o ficaria, mas a minha mente me dizia que eu deveria me despedir. A verdade é que eu não ouvi nenhum dos dois. Eu queria mesmo era que o Mark me dissesse que ele estava bem. Era só o que eu precisava ouvir.

Mark continuava me olhando com aquele olhar perplexo e ao mesmo tempo tão perdido. Ele queria me consolar de alguma forma, mas ele descobriu que quem deveria ser consolado dessa vez era ele. Os olhos estavam sobre mim, mas a sua mente estava em negação. Ele não podia aceitar que isso tinha acontecido com ele. Ele não podia aceitar que ele não tinha feito absolutamente nada para evitar que aquela tragédia acontecesse com o seu irmão. Mark achava que havia falhado como agente do FBI, mas principalmente como irmão. Mesmo tendo convivido tão pouco tempo com o irmão, Mark tinha criado um vínculo com aquele garoto que ele odiou por tanto tempo. Mark tinha aprendido algumas lições valiosas, mas a mais importante delas, com certeza, foi: família.

Em meio àquela intensa troca de olhares, a melhor notícia veio da maneira mais inesperada. começou a se mover com dificuldade. Ao abrir os olhos e voltar daquele grande impacto, ele levantou lentamente a cabeça e olhou imediatamente para o local que tinha sido atingido pela bala. Ele não conseguia ver muito bem, mas sabia que doía bastante. Levantou a mão que pressionava o local atingido e ficou muito assustado ao ver a quantidade de sangue em suas mãos. Quando vimos o se mexer, foi como se tudo a nossa volta voltasse a ter cores, barulho e sentido. É impossível mensurar o tamanho do alívio que sentimos.

- ! - Eu disse em meio a um suspiro aliviado. Ao olhá-lo, percebi o quão assustado ele estava.
- Deus! Você me assustou, cara. - Mark acabou deixando um fraco e sincero sorriso escapar.
- Você está bem? - A pergunta pode parecer idiota, mas eu precisava saber o quão consciente ele estava.
- Sim, eu… - Ele ia dizendo, quando a dor enorme em seu abdômen fez com que ele perdesse a voz. Sua mão voltou a apertar o local baleado. - Eu… estou bem. - disse, mas seus olhos aflitos não convenceram ninguém. Era a cara dele tentar se fazer de forte em um momento como aquele. Quando ele terminou a frase, a expressão de dor em seu rosto aumentou e ele voltou a pressionar o local atingido pela bala.
- Nós vamos dar um jeito nisso, está bem? - Mark estava completamente perdido naquela situação. Logo ele, que já havia passado por situações como essa inúmeras vezes. Fazia parte de sua profissão, sabe? Ele sempre soube o que fazer, mas dessa vez ele não sabia. A única coisa que ele queria era acalmar o seu irmão.
- Nós precisamos levar ele para o hospital. Agora. - Eu disse e acabei trazendo o Mark de volta para a realidade.
- Sim, nós precisamos. - Mark me olhou e afirmou com a cabeça.
- Peguem o meu carro e vão! Eu resolvo as coisas por aqui. - Meu pai ofereceu. Era a única coisa que ele podia fazer naquele momento pelo garoto que havia salvado a sua vida.
- Certo. - Mark aceitou a sugestão na mesma hora e já foi logo tentando ajudar o irmão a se levantar. Ele tinha que levá-lo até o carro do meu pai, que não estava a menos de 3 passos dali.
- Não, pai. Você não pode ficar aqui sozinho depois do que aconteceu. Alguém pode atirar de novo e… - Eu já ia fazendo o meu discurso de filha preocupada.
- Foi… o Steven. - disse, enquanto Mark colocava um dos braços do irmão em volta de seu pescoço. A frase dele me fez olhá-lo na mesma hora.
- Vamos! - Mark disse ao irmão ao colocá-lo de pé. Ele tinha escutado o que o tinha dito, mas o momento não era de apontar culpados.
- Eu ajudo. - Meu pai foi rapidamente até eles e colocou o outro braço de em volta de seu pescoço. A frase dita pelo não havia surpreendido nem um pouco o meu pai, mas eu ainda tentava processar aquela informação.
- Steven? - Eu repeti o nome, demonstrando total perplexidade. - Pai, você não pode ficar aqui. Esse cara pode… - Eu comecei a tomar ciência da proporção de tudo aquilo.
- , veja bem o que ele fez. Acha mesmo que ele ainda está aqui? Acha que ele vai tentar de novo? - Meu pai me olhou ao parar na minha frente. - Tudo o que precisamos fazer agora é levar esse garoto para um hospital. - Meu pai era o único que demonstrava sensatez naquele momento. Não sei se é por que ele é o mais velho ou se é por que eu e o Mark estávamos realmente abalados com a situação.
- Você está certo. - Eu afirmei com a cabeça e voltei a olhar pro . - Eu abro. - Eu abri a porta de trás do carro do meu pai para que eles colocassem o ali. - Eu vou atrás com ele. - Eu disse antes de dar a volta no carro e me sentar do outro lado do banco de trás do carro. Com um pouco de dificuldade, eles colocaram o deitado no banco e a sua cabeça ficou apoiada em meu colo.
- Aqui. - Meu pai entregou a chave do carro para o Mark.
- É a chave do meu carro. - Mark também deu a chave de seu carro para o meu pai. Ele havia abandonado ele no meio da rua.
- Certo. - Meu pai pegou a chave. - Boa sorte. - Meu pai sabia que precisaríamos muito mais do que sorte.
- Vai ficar tudo bem, ok? - Eu queria acalmar o de qualquer forma e para isso, eu tive que fingir que estava calma com toda aquela situação. Ele inclinou novamente a cabeça em direção ao seu abdômen e viu novamente as mãos cheias de sangue.
- É… muito sangue. - disse com a voz trêmula. Era realmente muito sangue, mas eu não podia me apavorar naquele momento. Eu precisava fazer alguma coisa.
- Espera. - Eu disse ao estender uma das minhas mãos para trás para pegar uma toalha que o meu pai sempre deixava no carro. - Aqui. Vamos colocar isso para tentar estancar um pouco de sangue, ok? - Eu peguei a toalha e a coloquei contra o local atingido pela bala. Ele reagiu imediatamente ao meu toque com um careta de dor. - Me desculpa. Eu vou precisar ficar segurando essa toalha aqui. - Eu sabia que estava doendo, mas era necessário. Eu ainda era apenas uma estudante de medicina, mas eu sabia o básico. Só que eu nunca imaginei que precisaria colocar o meu conhecimento em prática tão precocemente.
- Ok. - afirmou com a cabeça, tentando mostrar-se forte. Mark entrou no carro naquele momento e já foi logo dando a partida no carro.
- Mark, vamos para o hospital em que eu trabalho. É o mais perto daqui e eu também conheço a maioria dos médicos. - Eu queria que o tivesse o melhor atendimento, por isso, queria levá-lo para o melhor hospital.
- Está bem. - Mark concordou imediatamente e nós trocamos rápidos olhares através do retrovisor. Deixei de olhá-lo e voltei a encarar o rosto de , que me olhava de um jeito tão intenso, mas ao mesmo tempo tão calmo. Ele estava começando a ficar mais pálido.
- Você é mesmo maluco, não é? - Eu neguei levemente com a cabeça. A resposta dele veio com um fraco sorriso, que nem chegou a mostrar os seus dentes. A atitude dele em me responder com aquele sorriso simples era tão típico dele. Vê-lo sorrir estando naquela situação foi muito difícil. Apesar de tudo, ele ainda era o . Ainda era o mesmo sorriso.
- Agora, eu sou o seu herói? - A pergunta dele foi o bastante para me destruir completamente. Era só isso? Ele só queria ser o meu herói? Tanto sofrimento e dor e ele só queria voltar a ser o meu herói. Foi impossível que as lágrimas não alcançassem os meus olhos naquele momento. Um sorriso surgiu no canto do meu rosto, enquanto eu levava uma das mãos até a testa dele, que estava coberta de pingos de suor.
- Sim, você é. - Eu completei a frase com um sorriso emocionado.
- Que bom. - pareceu um pouco mais aliviado. - Eu não sei se vou ter outras oportunidades de te convencer disso. - Ele disse em meio a duas ou três tossidas.
- Não fala assim. - Eu disse em tom de bronca.
- Quem nós estamos querendo enganar? - Ele tossiu dolorosamente mais algumas vezes antes de dizer a frase. As mãos dele estavam trêmulas e ele ficava cada vez mais pálido. O local da bala não parava de sangrar. Ele estava perdendo MUITO sangue.
- Mark, mais depressa! Ele está perdendo muito sangue. Eu já não estou conseguindo controlar. - Eu disse demonstrando mais nervosismo. A toalha já estava completamente cheia de sangue.
- Aqui. - Mark começou a tirar a camisa xadrez que ele vestia por cima de uma camiseta. - Usa isso. - Ele olhou rapidamente para trás ao me entregar a sua camisa. Eu deixei a toalha de lado e coloquei a camisa dele no local atingido pela bala. Mark voltou a dar atenção ao trânsito e dirigia em maior velocidade. Apesar de ser o mais próximo, o hospital infelizmente não ficava tão perto do lugar onde estávamos.
- Aguenta só mais um pouco. Consegue fazer isso? - Eu estava muito mais preocupada e nervosa e eu já não conseguia esconder isso dele com tanto sucesso.
- Eu estou tentando. - A expressão no rosto dele era cada vez pior. - Eu sempre soube que isso acabaria acontecendo, mas… nunca dessa forma. - Ele deixou um sorriso nervoso escapar. Sempre rindo da sua própria desgraça.
- Do que você está falando? Não vai acontecer nada. - Eu não admitia que ele falasse daquele jeito. Eu não admitiria que ele destruísse todas as minhas esperanças daquela forma.
- … - me olhou com tristeza. Ele sabia que eu estava em negação.
- Não, . Não faça isso, está bem? - Eu tentei novamente dar um sermão dele, mas os meus olhos cheios de lágrimas tiraram toda a minha credibilidade. - Ninguém vai morrer hoje. Entendeu? Eu não vou deixar. - As lágrimas não me impediram de falar aquelas palavras com extrema seriedade. Deixei de olhá-lo para tentar me recompor.
- Hey. - levou a sua mão até a minha, que ainda pressionava a camisa de Mark contra o local baleado. Ele não fez isso para pressionar um pouco mais o local atingido, mas sim para tocar a minha mão. O seu gesto me fez olhá-lo. - Não chore. - Ele pediu ao olhar em meus olhos. - Eu não quero que a minha última memória seja as suas lágrimas. Eu quero que seja o seu sorriso. - completou a frase, que me encheu de tristeza, mas que me fez esbanjar um fraco e emocionado sorriso.
- Você ainda vai ter muitas oportunidades de ver o meu sorriso. - Eu olhei em seus olhos. - E eu ainda vou ter muitas oportunidades de te irritar e fazer você me odiar. - Eu disse e o vi sorrir com o seu jeito único. - Eu ainda vou ter muitas oportunidades de te matar por ter entrado na frente daquela bala e também... vou ter várias oportunidades de te agradecer por isso... pelo resto da minha vida. - Uma das minhas mãos ainda pressionava o ferimento. As lágrimas continuavam presas nos meus olhos e ameaçavam escorrer pelo meu rosto a todo o momento.
- Seu pai é um bom homem. Ele não merecia isso. Você… não merecia isso. - A dificuldade dele em falar aumentava aos poucos. - Você precisa dele. Eu sei o quanto precisa! - Ele fez uma breve pausa. - Eu errei antes. Eu não podia errar de novo. - completou.
- E você não errou, . Você não errou. – Eu neguei com a cabeça ao olhá-lo.
- Um acerto não apaga um erro… por isso, eu… - engoliu seco. - Eu quero que me desculpe. Me desculpa se eu te fiz chorar. Me desculpa por todas as vezes que eu te fiz sofrer. - Ele ficou visivelmente mais abalado e emocionado ao pedir desculpas.
- Não. Não precisa fazer isso agora, ok? Você não pode se esforçar. Você precisa descansar um pouco e guardar todas as suas energias. - Ouvir aquilo agora era a última coisa que eu queria. Eu sabia que ele precisava se acalmar. Eu nem mesmo fazia questão de ouvir qualquer pedido de desculpas.
- Não. Me deixe dizer, está bem? Eu preciso dizer. - insistiu e chegou a fechar os olhos por alguns segundos no meio da frase, enquanto fazia uma expressão de dor. - Eu preciso muito. - Ele já não conseguia esconder a dor e o medo que sentia. - Por favor, me escuta. - ficou um pouco agitado nesse momento. Seja o que for, o que ele tinha pra dizer deveria ser muito importante. - Eu estou te ouvindo. Estou ouvindo. - Eu quis acalmá-lo imediatamente. Toquei novamente a sua testa e sequei as novas gotas de suor que tinham lá. Dediquei toda a minha atenção a ele. Mark também prestaria atenção nas palavras que o seu irmão queria tanto dizer.
- Eu quero que você saiba que eu… eu sinto muito por tudo o que te fiz passar. Eu não me orgulho dos meus erros, mas eu acho que… eles fazem parte do meu jeito estranho, torto e idiota de amar. Eu não me arrependo deles por que sem eles, talvez, nós não estivéssemos aqui agora e… eu sinceramente não consigo me imaginar passando por um momento como esse sem você do meu lado. - Ambos os olhos estavam cheios de lágrimas. Ele estava se esforçando muito para me dizer aquelas palavras e eu encarava os detalhes de seu rosto como se estivesse tentando guardá-los em minha memória.
- Eu estou aqui. Eu não vou sair do seu lado. - Eu disse em meio a um fraco sorriso.
- Eu ainda não acabei. - queria dizer mais, mas ele já estava ficando fraco demais. Os olhos voltaram a se fechar por alguns segundos. O sofrimento dele estava me matando aos poucos. Eu estava me segurando MUITO para não chorar. - Eu não sei o que vai acontecer comigo e não sei se… vou sair dessa. - A voz ficou embargada quando ele terminou a frase.
- Você vai sim! É claro que vai. - Foi realmente muito difícil me segurar naquele momento. Eu sinceramente não sei de onde veio tanta força. - Eu já disse. Nós ainda temos muito o que brigar, . - Eu disse, conseguindo arrancar mais um sincero sorriso dele. Ele fez uma pequena pausa. Eu acho que estava procurando forças para continuar.
- Eu sempre te amei tanto… e acho que sempre vou amar. Você sabe disso, não sabe? - precisava saber. Desde o incidente com o Steven, eu vinha desconfiando constantemente do que ele sentia por mim. Ele só precisava saber que eu não tinha nenhuma dúvida sobre o seu amor.
- Eu sei. - Eu já não conseguia ter qualquer controle sobre as minhas lágrimas. Uma delas já tinha escorrido pelo canto de um dos meus olhos, enquanto eu o olhava com carinho. - Eu posso sentir. - Eu completei com um triste sorriso. Ele devolveu o sorriso e demonstrou um alívio indescritível. Eu consegui ver isso em seus olhos. Minha mão ainda acariciava uma parte de seu rosto. - Eu espero que você também possa sentir. - Sim, eu estava me referindo ao amor que eu sentia por ele.
- Eu estou sentindo. - afirmou, dando o maior sorriso da noite. Ele achou que nunca mais se sentiria amado por mim. - Pra ser bem sincero, eu senti falta disso. - Ele completou a frase com o mesmo sorriso, enquanto uma lágrima solitária escorria pelo seu rosto. A frase dele também me arrancou um sorriso. Mesmo estando naquela situação, ele ainda conseguia ser o mesmo de sempre. - Ser amado por você foi a melhor coisa que me aconteceu, mas… - O sorriso foi desfeito e ele deixou de me olhar por poucos segundos. - Eu preferia que você tivesse deixado de me amar antes por que isso amenizaria muito o seu sofrimento. Eu não quero que você sofra ainda mais por mim. - As palavras dele me entristeceram ainda mais. A preocupação e o cuidado dele comigo ia me dilacerando lentamente de dentro para fora.
- Para de falar assim. - Eu pedi mais uma vez, me segurando mais uma vez para não voltar a chorar. - Eu não vou sofrer por que vai ficar tudo bem. - Eu sinceramente não sabia se as minhas palavras eram para dar esperanças a ele ou a mim.
- Mas se não ficar tudo bem… - ia dizendo, mas eu o interrompi.
- Essa possibilidade não existe pra mim. - Eu disse, séria.
- Se não ficar tudo bem… - insistiu. - Eu quero que… você seja feliz. - Ele completou a frase.
- Nem pense em fazer um discurso de despedida. - Eu o interrompi mais uma vez.
- Eu vou! - afirmou com a cabeça. - Eu estou morrendo aqui, está bem? Por isso, você vai deixar de ser tão mandona por um segundo e vai me ouvir. - Ele disse em tom de ordem. Pode até parecer mentira, mas aquela foi a frase que ele conseguiu dizer com menos dificuldade até agora. No primeiro momento, eu até cheguei a ficar surpresa, mas depois veio o ataque de tosse, que agora vinha acompanhada de sangue. - Meu Deus. - resmungou com a voz trêmula. Ele se assustou com todo o sangue que ficou em sua mão depois de ele tossir inúmeras vezes.
- Calma. - Eu pedi a ele, colocando uma das mãos em seu peito. O peito acompanhava a sua rápida respiração. Os olhos assustados encaravam suas mãos cheias de sangue. - Hey. Olhe pra mim. - Eu abaixei as suas mãos e tentei passar tranquilidade através do meu olhar. Ele me olhou, mas ainda parecia apavorado. - Fica calmo. Eu estou aqui. Eu estou cuidando de você. - O desespero era definitivamente a pior parte pra mim. Eu não sabia o que fazer e nem sabia como me controlar para não demonstrar mais desespero. Era muito difícil pedir calma a ele, quando o que menos tinha dentro de mim naquele momento era calma. - Eu estou cuidando de você. - Eu repeti de forma mais calma, enquanto voltava a acariciar o seu rosto.
- Eu estou com medo. - afirmou com os olhos marejados. Era evidente que ele estava se controlando para não chorar. Um nó se formou em minha garganta e eu já não conseguia engolir o choro. Essa não era o tipo de frase que o costuma dizer com frequência. Para ser bem honesta, aquela devia ser a primeira vez. Ouvi-lo dizer aquilo foi pior do que eu jamais imaginei. - Fica comigo. - Ele disse ao levar sua mão até a minha e segurá-la. - Não me deixa sozinho. - pediu com tristeza, enquanto ele continuava segurando minha mão com força.
- Eu não vou te deixar sozinho. - Eu neguei com a cabeça. - Eu prometo que não vou sair do seu lado. - Eu completei e logo o vi voltar a se acalmar. Aos poucos, a respiração dele foi voltando ao normal.

ainda segurava fortemente a minha mão, enquanto manteve-se algum tempo em silêncio. A princípio, eu achei que o silêncio fosse uma coisa boa. Era bom que ele poupasse suas forças. Porém, fui percebendo que ele demonstrava cada vez mais fraqueza e os olhos ameaçavam a fechar a qualquer momento. Eu sabia que eu não podia deixar ele adormecer, pois, se ele adormecesse ele poderia não acordar mais.

- . Hey! - Eu chamei por ele e ele voltou a abrir um pouco os olhos. Ele não soltava a minha mão por nada e continuava suando frio. Também notei que em alguns momentos ele sentia calafrios por todo o corpo. - Olha pra mim. - Eu pedi ao balançar sutilmente o seu corpo. - Eu preciso que você se mantenha acordado. Você pode fazer isso? - Eu estava um tanto quanto aflita. Eu sentia como se ele fosse a minha responsabilidade. Eu faria tudo por ele. A resposta de foi apenas uma afirmação com a cabeça. Parecia que ele estava se poupando. A minha aflição me fez levantar a cabeça para olhar para o Mark. Nós voltamos a trocar olhares pelo retrovisor.
- Eu sempre achei que terminaríamos juntos. - A voz de me fez voltar a olhá-lo na mesma hora. - Mesmo com… tudo o que aconteceu. Eu sempre achei que no final ficaríamos juntos. - Ele dizia como se aquilo não fosse mais acontecer. - Quando eu botei os meus olhos em você pela primeira vez… eu sabia que seria pra sempre. Eu sabia que… você seria a minha garota. - falava com dificuldade, mas dava para entender muito bem. Mesmo estando tão debilitado, ele conseguia dizer cada palavra com carinho. - Eu sempre achei que… só um cara no mundo poderia te fazer feliz e eu gostava de me convencer de que esse cara era... eu. - Ele esboçou um fraco sorriso ao dizer a última palavra. Eu o escutava com a atenção e olhava em seus olhos. - Quando eu percebi, eu não precisava mais me convencer de nada. Eu tinha me tornado essa cara e isso… fez o meu mundo, . - As lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos sem que eu nem percebesse. Tinha sim um fraco sorriso escondido entre as minhas lágrimas, mas não era um sorriso de felicidade. Era um sorriso de admiração. Admiração pela pessoa maravilhosa que ele era e admiração pelo poder que ele tinha de acalmar o meu coração com as palavras certas. - Eu fiz tantos planos. - Ele sorriu pra mim.
- Planos? Você fez planos? - Eu sorri de forma mais descontraída, enquanto eu enxugava as lágrimas em meu rosto. - Quais planos? - Eu quis saber.
- Nós… íamos terminar a faculdade. Eu ia te pedir em casamento na nossa antiga escola e eu… ia encher todo o lugar com fotos nossas e com a sua flor favorita. Nós… nos casaríamos com o casamento dos seus sonhos. Eu ia cantar pra você no altar e depois nós íamos dançar ‘Never Gonna Be Alone’ na nossa primeira valsa. - Eu estava morrendo aos poucos.
- Talvez, nós pudéssemos dançar ‘Hey Jude’. - Eu disse, pois sabia que era a sua música favorita. O sorriso dele foi impagável e indescritível. - E depois? - Eu quis saber.
- Nós nos mudaríamos pra uma casa maior e que de preferência ficasse bem longe da loucura do centro da cidade. Uma casa com um quintal enorme para que as crianças pudessem brincar. - falava e parecia que ele estava vendo todos aqueles planos diante de seus olhos.
- Crianças? - Eu estava chorando, mas as vezes ele me arrancava um sorriso espontâneo.
- Sim. Eu sempre quis dois; um casal. - contou todo sério.
- Dois? Me parece um bom número. - Eu afirmei, olhando ele com carinho. - São planos lindos, . - Eu disse visivelmente abalada. Eu não conseguia parar de chorar.
- Você vai vivê-los. Talvez você não os viva comigo, mas você vai vivê-los. Você vai ser feliz, não vai? - Não havia vestígios de lágrimas nos olhos dele até o momento em que ele mencionou a possibilidade de não viver todos aqueles planos comigo.
- Eu vou tentar. - Eu disse, enquanto acariciava o rosto dele.
- Escuta. - pediu antes de fazer uma breve pausa. Ele parecia procurar forças. - Eu realmente acho que eu sou o cara que pode te fazer feliz, mas eu não sou o único. - Os olhos dele continuavam marejados. - Há algumas semanas, eu achava que ninguém poderia te fazer mais feliz do que eu. Eu achava que… ninguém poderia cuidar de você melhor do que eu, mas... eu estava errado. - Dava pra ver o quanto era difícil pra ele dizer aquilo. - Eu sei que você está ouvindo, Mark. - A frase dele nos fez sorrir em meio as lágrimas. Ele estava falando sobre o irmão. Mark estava sentindo uma coisa horrível no peito e mesmo esforçando-se tanto para ser forte, algumas poucas lágrimas chegaram até os seus olhos.
- Não precisa fazer isso. Não precisa se preocupar com isso. - Acariciei a sua testa e depois enterrei os meus dedos em seus fios de cabelo.
- Ele é uma boa pessoa. - insistiu no assunto. - Para ser sincero, ele é uma das melhores. Você precisa dar uma chance a ele. - E foi naquele exato momento em que a primeira lágrima escorria dos olhos do . Ao ouvir as palavras do irmão, Mark virou o seu rosto e encostou a parte debaixo dele em seu ombro, enquanto ele negava com a cabeça. - Ele vai te fazer feliz. Ele não é o melhor, mas ele é… o segundo melhor homem do mundo capaz de te fazer feliz do jeito que você sempre mereceu. Eu sei que você vai fazê-lo feliz também. - O rosto dele estava coberto de lágrimas e a respiração dele voltou a ficar intensa. Deixei de olhá-lo por poucos segundos para olhar para o Mark. O retrovisor mostrou dois olhos marejados e completamente tristes e destruídos. Eu neguei com a cabeça como se dissesse: ‘Eu não consigo mais.’.
- Vamos cuidar de você primeiro e depois nós pensamos nisso, ok? - Eu desconversei para tentar acalmá-lo. Eu sequei as lágrimas em seu rosto e depois sequei as minhas. - Nós estamos quase chegando. - Eu engoli o choro, depois de perceber que já estávamos na rua do hospital.
- Eu vou parar aqui na porta mesmo. - Mark disse ao parar abruptamente o carro em frente a porta do hospital. - EU PRECISO DE UM MÉDICO AQUI! MEU IRMÃO ESTÁ BALEADO! - Mark desceu do carro aos berros. - EU PRECISO DE AJUDA AQUI! - Na mesma hora, vieram alguns enfermeiros em nossa direção. Eles traziam uma maca.
- O que foi que aconteceu? - Um dos enfermeiros perguntou, enquanto ajudava o Mark a tirar o do carro. Eu estava embaixo do e, por isso, não podia fazer nada para ajudar.
- Ele foi baleado no abdômen. Ele está perdendo muito sangue. - Mark explicou com um nítido desespero.
- Vamos colocá-lo aqui. - O enfermeiro referiu-se a maca. Mark ajudou a colocar o irmão na maca. Ele parecia um pouco desacordado. Eu sai do carro as pressas e fui até a maca.
- Eu tentei estancar o ferimento, mas tinha muito sangue. - Eu informei ao enfermeiro, que eu nem fiz questão de cumprimentar. Eu o conhecia, mas estava desesperada demais para ser educada.
- No… meu bolso. - disse baixinho. Ele já estava sem forças.
- Há quanto tempo aconteceu? - O enfermeiro já empurrava a maca em direção ao hospital com a ajuda do outro enfermeiro. Mark e eu acompanhávamos o trajeto ao lado da maca.
- Não faz mais de 20 minutos. - Mark respondeu.
- No meu bolso. - esforçou-se mais uma vez para dizer. Ele me olhava e tentava me fazer entender algo, que ele não tinha forças para explicar.
- O que? - Eu o olhei, aflita. Eu não sabia o que ele queria dizer. Os olhos dele estavam praticamente fechados e ele estava absurdamente pálido. Honestamente, eu não sabia como ele ainda não tinha ficado desacordado.
- Vai ficar tudo bem, cara. Eu prometo! - Mark disse ao olhá-lo com extrema preocupação.
- Jaqueta… - disse bem mais baixinho dessa vez e tentou recorrer ao irmão dessa vez. Mark achou que ele já estivesse delirando.
- Seja forte. - Mark disse antes de os enfermeiros levarem a maca para dentro de uma sala.
- Vocês vão ter que ficar aqui. - Um dos enfermeiros nos afastou da porta da sala. Um médico entrou na sala as pressas.
- Mas nós… - Mark ia argumentar, mas o enfermeiro o interrompeu.
- Eu dou notícias, está bem? Só mantenham a calma e… - O enfermeiro hesitou antes de continuar. - Orem. - A frase dele só serviu para nos deixar mais nervosos. Estava mais do que óbvio que a situação de era muito delicada.

O enfermeiro também entrou na sala e nos deixou ali, desolados. Mark e eu estávamos completamente em choque. Ficamos um bom tempo olhando para a porta da sala sem dizer nada. O choque em que o Mark se encontrava era pior e maior do que o meu, que foi dando espaço a um desespero sem fim. Minha mente estava cheia de perguntas, que pareciam dilacerar ainda mais o meu coração: ‘eu iria vê-lo mais uma vez? Eu ouviria a voz dele mais uma vez? Eu disse tudo o que queria pra ele?’.

- Eu não acredito que isso está acontecendo. - Eu neguei insistentemente com a cabeça, olhando para as minhas mãos cheias de sangue. Eu não tinha mais estabilidade emocional ou física. Parecia que eu estava caindo no buraco mais fundo e mais escuro de todos e não tinha ninguém que pudesse me salvar ou que pudesse ser a luz no meio de toda aquela escuridão. A dor percorria todo o meu corpo e destruía tudo de dentro pra fora. Mark tinha escutado as minhas palavras, mas não teve forças para me olhar ou sequer para me dizer qualquer palavra de conforto.

Não demorou mais que alguns minutos para que o meu pai chegasse no hospital. Eu já tinha ido até o banheiro para lavar as minhas mãos. Eu estava inconsolável e já nem tinha forças para chorar e o Mark continuava quieto e completamente em choque. Eu nunca o vi daquele jeito. Nem mesmo quando ele descobriu toda a verdade sobre os pais deles. Os olhos continuavam fixos na porta da sala que o tinha entrado há alguns minutos. Mark sequer viu quando o meu pai chegou e foi diretamente me consolar.

- Querida… - Meu pai parou em minha frente e negou com a cabeça ao ver todas as lágrimas nos meus olhos inchados e a dor e tristeza que eu chegava a respirar. Ele me acolheu em seus braços e me abraçou. Deitei a minha cabeça em seu ombro e passei meus braços em volta dele. Ao fechar os meus olhos, algumas lágrimas escorreram pelo canto deles.



- Ele te salvou, pai. - Eu disse com a voz embargada.
- Sim, ele salvou. - Meu pai afirmou, enquanto acariciava minhas costas com suas mãos. O meu choro que era contido até então, se transformou em um choro mais sofrido.
- Isso é tudo culpa minha. - Eu disse em meio as lágrimas. - É culpa minha. - Eu repeti.
- É claro que não, filha. Foi uma fatalidade. - Meu pai ficou extremamente preocupado na hora. Ele não sabia que eu me culparia por tudo aquilo. Era um fardo pesado demais para carregar.
- Ele fez isso por mim. - As lágrimas não paravam mais de escorrer dos meus olhos. - Eu o julguei tantas vezes por ter apontado a arma pra você naquele dia e, hoje, ele quis me provar que eu estava errada. Ele não queria que eu te perdesse, pai. - O meu choro estava quase me impedindo de continuar falando. - Mas eu não posso perdê-lo também. - Eu completei a frase aos prantos.
- Você não vai perdê-lo, querida. - Meu pai terminou o abraço imediatamente para tentar me acalmar. - Vai ficar tudo bem. Ele é forte. - Ele olhou em meu rosto e começou a secar as minhas lágrimas. - Você também precisa ser forte. - Meu pai disse pacientemente.
- Ok. - Eu afirmei com a cabeça antes de respirar fundo para tentar me acalmar. Levei as mãos até o meu rosto para tentar me recompor.
- Como ele está? - Meu pai perguntou.
- Eu não sei. Levaram ele pra essa sala. Provavelmente vai retirar a bala, mas… ele perdeu muito sangue. - Eu tentei não pensar no pior.
- E o Mark? - Meu pai apontou discretamente a cabeça na direção do irmão Jonas mais velho.
- Ele… está em choque. Ele não diz nada. - Eu disse ao observar o Mark. - Eu não sei nem o que falar pra ele. - Eu queria tanto consolá-lo e tentar reconfortá-lo, mas antes eu precisava me estabilizar emocionalmente.
- É melhor deixá-lo sozinho, enquanto ele tenta absorver tudo isso. - Meu pai aconselhou.
- Sim. - Eu concordei.
- Você ligou para alguém? Avisou alguém sobre o que aconteceu? - Meu pai perguntou.
- Não. Eu… nem pensei nisso. - Mark e eu estávamos tão abalados que não tínhamos cabeça para pensar em todas as providências que devíamos tomar. Ainda bem que o meu pai estava ali.
- Eu vou ter que ir até a sua casa para buscar a sua mãe. Ela está desesperada com tudo isso e eu não quero deixá-la sozinha. - Meu pai explicou que teria que se ausentar.
- Você acha que ainda é perigoso. Você acha que o Steven pode… - Eu ia dizendo, quando meu pai me interrompeu.
- Ele atirou no próprio filho. Ele viu o filho arriscar a sua vida para salvar me salvar. Eu duvido que ele tente qualquer outra coisa. Eu duvido que ele volta a ter coragem de segurar uma arma de novo. - Meu pai afirmou com extrema segurança. Ele conhecia o Steven muito bem e sabia o quanto ele era protetor com a sua família. Steven jamais superaria o tiro que tinha dado no próprio filho. - Eu… vou ter que me ausentar por alguns minutos, mas você vai ter avisar as pessoas do que está acontecendo. - Meu pai me avisou e eu senti um nó se formar em minha garganta. - Você vai ter que avisar a família dele, . - Ele completou e foi só naquele momento em que eu me dei conta do que eu teria que fazer. Avisar os meus amigos? Ok, isso não seria problema. Com uma mensagem, eu resolveria o problema! Mas… a família do ? Como eu posso fazer isso? Como é que se dá uma notícia dessa para uma família?
- Meu Deus. - Eu suspirei, sentindo meu corpo estremecer. - Como? Como eu… dou uma notícia dessa, pai? Eu… - Eu estava prestes a ter um colapso.
- Calma. - Meu pai pediu. - Fica calma. Basta dizer e pedir que eles venham até aqui. - Ele deu a dica. - Deixe o Steven fora disso. Não vale a pena envolvê-lo nisso. Só vai trazer ainda mais sofrimento para a família dele. Diga apenas que ele foi baleado por um homem qualquer. - Meu pai me orientou.
- Eu tenho certeza que o não gostaria que a mãe dele soubesse sobre o Steven. - Eu disse. já tinha perdido a boa lembrança que ele tinha do pai. Não precisamos fazer o mesmo com a sua mãe.
- Ótimo. - Meu pai afirmou com a cabeça. - Então, você acha que pode fazer isso? Você pode ligar para eles? - Ele perguntou e eu respondi apenas com um olhar triste e aflito. - Se você preferir, eu posso ligar quando eu voltar. - Meu pai achou que pudesse estar pedindo demais.
- Não. Eu ligo. - Eu engoli seco. - É minha responsabilidade. Tudo isso aconteceu por causa de mim. - Eu ia dizendo, quando ele me interrompeu.
- Não diga isso. - Meu pai me julgou.
- Eu não sou mais criança, pai. Eu conheço as minhas responsabilidades. Eu sei que o que ele fez foi minha responsabilidade e eu também sei que é a minha responsabilidade dar a notícia para a família dele. Então, eu vou fazer isso. Não importa o quão difícil seja. - Mesmo com lágrimas nos olhos e a voz embargada, eu tentava me manter forte.
- Me espere voltar e faremos isso juntos, está bem? - Meu pai achou melhor.
- Ok. - Eu concordei.
- Eu já volto. Qualquer coisa, você pode me ligar. - Meu pai se aproximou e beijou a minha testa.
- Ok! - Eu respondi e o vi se afastar rapidamente.

Com a saída do meu pai, eu estava sozinha novamente. Mark também estava ali, mas eu mal conseguia olhá-lo sem voltar a chorar. Eu não conseguia olhar pra ele sem me perguntar o porquê de ele estar passando por mais aquilo. Depois de tantas perdas, não era justo ele perder a única família que havia lhe restado. Aí está! Mais um motivo para me culpar. Mais um motivo para sofrer.

Mesmo estando muito mal, eu estava muito preocupada com o Mark. Em vez de sentar e sofrer toda a dor que eu sentia, eu preferia me importar com o Mark, que era a pessoa mais afetada com tudo isso. é o irmão dele, sabe? Eu não conseguia nem pensar o que eu faria se alguma coisa assim acontecesse com o . Eu não fazia a menor ideia do que estava passando pela cabeça e pelo coração dele. O que eu sei é que doía muito vê-lo daquele jeito.

Eu não sabia o que o Mark estava sentindo, mas também era muito difícil pra ele entender o que ele estava sentindo, o que ele estava vivendo. Era uma sensação estranha de vazio, que de uma hora para outra era preenchida com um sentimento ruim, que ele nunca tinha sentido. Mark e não viveram uma infância juntos. Eles não tinham muitas lembranças juntos, pois não tinha dado tempo de construí-las, mas eles já se viam como irmãos. tinha mais uma pessoa com quem se importar, se preocupar e cuidar. Mark finalmente tinha alguém que tinha o mesmo sangue que o seu. Mark finalmente tinha alguém, que não deixava que ele se sentisse sozinho no mundo. Mark finalmente tinha uma família de verdade. Uma família extremamente pequena sim, mas para alguém que nunca teve ninguém aquela pequena família significava o mundo. Mark não sabia mais qual era a sensação de estar sozinho. Ele não sabia mais qual era a sensação de não ter ninguém. Ele não sabia mais como era viver sem ter alguém por quem ele se sentisse tão responsável. Ele não sabia como era viver sem o irmão.

Eu queria deixar o Mark sozinho, mas, ao mesmo tempo, eu queria abraçá-lo com toda a minha força. Eu queria tirar aquele sofrimento dele. Eu realmente deveria ir até lá e dizer algumas palavras de consolo e apoio, mas eu sabia que não conseguiria fazer isso sem deixá-lo ainda pior. Por isso, eu resolvi deixá-lo quieto por mais um momento.

Deixei de pensar um pouco no Mark para pensar no que eu deveria fazer naquele momento. Quer dizer, eu sabia o que fazer, mas eu não sabia como fazer. Encarei as minhas mãos e notei que em uma delas ainda tinha um pouco do sangue de . Olhar aquele sangue me fez estremecer novamente. Antes de reagir àquilo, eu fui rapidamente até o banheiro do hospital para lavar novamente as mãos. Depois das mãos já estarem limpas, eu encarei o espelho e quase não me reconheci. Voltei a abrir a torneira da pia e passei um pouco de água no rosto. Encarei novamente o espelho com o rosto molhado e comecei a dizer a mim mesma: ‘Você é forte ! Você é capaz de fazer isso.’.

Esperar o meu pai voltar para avisar a família do sobre o ocorrido era, com certeza, a opção mais fácil, mas também era a opção que mais demonstrava fraqueza. Eu me sentia extremamente culpada por tudo o que tinha acontecido. Eu pressionei o e o forcei, de certa forma, a tomar aquela atitude heroica. Eu tenho exigido e cobrado, indiretamente, essa atitude dele nas últimas semanas e nada no mundo me faria mudar de opinião. Eu estava muito ciente em relação a isso. Agora, seria muito fácil fugir da responsabilidade e deixar que o meu pai arque com elas, não é? É claro que seria, mas eu não consigo ser tão inconsequente. Eu sentia como se eu devesse isso ao . Eu sentia como se aquela fosse a minha obrigação.

Abandonei o banheiro e passei por um corredor cheio de pessoas, que também esperavam notícias dos médicos. Mark ainda estava no mesmo lugar e também esperava por notícias do irmão. Aproveitei para me afastar um pouco de tudo e de todos e fui até o lado de fora do hospital. Levei uma das mãos até o bolso da calça e peguei o meu celular. Ao encará-lo, eu soube que eu não conseguiria fazer aquela ligação. Deixei de olhar para o celular e olhei a minha volta com os olhos cheios de lágrimas. Era a coisa mais difícil de todas. Levei uma das mãos até o meu rosto e passei os dedos pelos meus olhos antes que qualquer lágrima escorresse. Eu respirei fundo seguidas vezes até conseguir me acalmar novamente. Suspirei longamente antes de tirar as mãos dos olhos e voltar a encarar o celular. Procurei o número da casa do , que ainda estava na minha lista de contatos. Disquei os números rapidamente antes que eu desistisse de vez de fazer aquilo. A ligação chamou 3 ou 4 vezes antes que eu ouvisse uma voz fina e doce. Era a . Justo a .

- Alô? Quem está falando? - A garotinha estava feliz da vida por finalmente ter idade suficiente para atender o telefone da casa. Quando eu ouvi a voz dela, eu entrei em pânico. era muito apegada ao irmão. Como ela ficaria ao receber a notícia? Eu não conseguia aceitar que uma pessoa tão inocente e doce tivesse que passar por algo assim. - Alôooo? - insistiu. A minha voz não saía. Com o telefone no ouvido, eu levantei a cabeça e encarei o céu, enquanto negava com a cabeça. Porque isso estava acontecendo? - Quem é? Está me ouvindoooo? - A garotinha perguntou novamente, irritada.
- Alô? - Eu consegui dizer. Minhas mãos tremiam e havia um nó em minha garganta. - ? - Eu tentei melhorar a minha voz.
- Quem é? - perguntou, desconfiada.
- Oi, linda. É a . - Eu revelei.
- Oiiiiiiiiiiiii! - A alegria de ficou evidente. - Oi, ! Não acredito que é você mesmo. - A voz dela até tinha mudado.
- Sou eu! Achei que você já tivesse se esquecido de mim. - Eu não queria que ela desconfiasse de nada.
- Eu lembro de você todos os dias. Até coloquei o seu nome em uma das minhas Barbies. - contou.
- Jura? Depois eu quero conhecê-la, viu? - Eu sorri com tristeza.
- Aham. Eu queria mesmo que você conhecesse ela. - afirmou e um silêncio se estabeleceu por poucos segundos. Estava muito difícil continuar com aquilo.
- Escuta, a sua mãe está em casa? - Eu perguntei, nervosa.
- Está! Ela… está fazendo o jantar. - contou.
- Eu posso falar com ela? - Eu perguntei com a minha melhor voz.
- Pode. Eu vou chamar. - A garotinha disse.
- Beijos, linda. - Eu disse ao me despedir.
- Beijo, . Vem me ver logo, tá? - pediu.
- Eu vou sim. - Eu afirmei, enquanto encarava o chão.
- Mãeeeee, a quer falar com você no telefone. - Ouvi a garotinha gritar.
- Quem? - Ouvi a voz da mãe questionar.
- A . - explicou.
- Ahn, sim! - A mãe lembrou-se de quem se tratava. - Alô? - Ela atendeu o telefone.
- Oi… - Eu não sabia como continuar.
- Oi, . Como você está, querida? - Como sempre, a mãe do Jonas foi muito educada.
- Eu… estou bem. - Eu nem sabia se podia dizer isso.
- Tem certeza? Não está parecendo. - A mãe de disse, desconfiada. Mesmo desconfiada, eu duvido que a tragédia com o filho tivesse passado pela sua cabeça.
- É que… - Como continuar? Eu não sabia como dar a notícia. - Deus, eu nem sei como contar isso. - Eu disse extremamente nervosa.
- O que foi que aconteceu? - Ela soube que era sério. - É alguma coisa com o ? - Eu notei a mudança em seu tom de voz.
- Sim. - Eu respirei fundo pela última vez. - Ele… - Eu hesitei. - Eu estou ligando do hospital. Aconteceu um… acidente. - Acidente não era a melhor palavra, mas a palavra ‘tiro’ poderia ser mil vezes mais assustadora.
- O que!? Meu Deus! - A mãe de entrou em pânico na mesma hora. - Ele está bem? O que… o que aconteceu? - Ela perguntou desesperadamente.
- Ele… - Fechei os olhos por poucos segundos antes de ter coragem de terminar a frase. - Ele levou um…tiro. - Eu mal terminei a frase e já pude ouvi-la chorar.
- Meu Deus… - Ela estava aos prantos. Meus olhos se encheram de lágrimas e escorreram involuntariamente pelo meu rosto.
- Calma, senhora Jonas. - Eu pedi o impossível. - Ele… está sendo atendido pelo médico agora. - Eu não queria que ela pensasse que o pior havia acontecido.
- Onde ele está? Qual o hospital? - A mãe de perguntou, engolindo o choro. O filho precisava dela. Na mesma hora, eu passei o nome do hospital e o endereço. - Eu estou indo até ai agora. - Ela afirmou.
- Ok. Estou esperando a senhora. - Eu disse.
- Obrigada. - Ela disse antes de desligar o telefone. Mesmo depois de ela ter desligado, eu continuei com o celular no ouvido. Eu neguei com a cabeça, me segurando para não voltar a chorar. A família do não merecia. O não merecia. Eu não conseguia aceitar tudo o que estava acontecendo. Pensar no sofrimento de e lembrar do choro tão desesperador de uma mãe me fez chorar novamente. Tirei o celular do ouvido e aos prantos, encarei o céu. Eu só conseguia me perguntar uma coisa: porque? Fiquei algum tempo olhando naquela mesma direção, enquanto as lágrimas escorriam livremente por todo o meu rosto. Eu queria respostas. Eu precisava de ajuda para lidar com toda aquela angustia que eu sentia.
- ? - Ouvi alguém chamar o meu nome e só fui capaz de saber quem era ao abaixar a cabeça e olhá-la. - Me ligaram do hospital. Disseram que você estava aqui. - Era a Meg. Os nossos colegas de trabalho resolveram ligar para ela quando viram o meu estado. Quando viu o meu rosto coberto de lágrimas, ela demonstrou o dobro de preocupação. - O que… - Ela nunca tinha me visto daquele jeito. Meg se aproximou e me abraçou. Ela sentiu que eu precisava daquele abraço. - Independentemente do que tenha acontecido, vai ficar tudo bem. - Meg acariciava as minhas costas, enquanto me abraçava. Eu fechei os olhos ao abraçá-la, tentando absorver toda a calma que ela estava tentando me passar.
- Eu não posso perdê-lo, Meg. Eu não posso. Não desse jeito. - Eu disse aos prantos em meio ao abraço.
- Perder quem? - Meg terminou o abraço para olhar em meu rosto. - De quem você está falando? - Ela me olhou, assustada.
- O … ele… - Eu tive que buscar forças para terminar a frase. - Ele levou um tiro e… perdeu muito sangue. Eu não sei se… - Eu ergui os ombros. Eu não conseguia terminar a frase.
- Meu Deus do céu. - Meg ficou em choque. De todas as coisas ruins, essa era a única que não tinha passado por sua cabeça.
- Ele fez isso para salvar o meu pai. Ele fez isso por mim, Meg. - Eu disse com os olhos marejados e com uma expressão de tristeza.
- Awn, . - Meg me olhou e se aproximou para mais um abraço. - Não fica assim. Você tem que pensar positivo. - Ele estava se sentindo muito mal por mim.
- É tão difícil. Dói muito. – Eu correspondi novamente ao seu abraço, que durou algum tempo. Meg só terminou o abraço quando percebeu que eu estava um pouco mais calma.
- Você está sozinha aqui? – Meg perguntou, deduzindo que a resposta seria sim, já que não viu ninguém a minha volta.
- Não. – Eu disse, tentando me recuperar de vez. – O Mark está lá dentro. – Eu disse e notei que ela estranhou a informação. – Talvez... você deva conversar com ele. – Ela com certeza poderia fazer isso bem melhor do que eu.
- Vamos entrar. – Meg apontou com a cabeça em direção a porta do hospital. Eu hesitei um pouco antes de decidir acompanhá-la. Entramos e fomos andando em direção ao Mark, que continuava paralisado. Antes de se afastar de mim para ir até o melhor amigo, Meg me olhou como se perguntasse ‘Por que ele está desse jeito?’. Ela não sabia do laço familiar entre os irmãos Jonas. – Ei, Mark. – Meg disse ao parar na frente do amigo. Ela tentou olhar em seu rosto, mas sua cabeça estava baixa. – Ei. – Meg o chamou novamente e chegou a tocá-lo. Foi nesse momento que ele foi capaz de levantar a sua cabeça para olhá-la. Ele não chorava e nem disse nada, mas os olhos demonstravam a sua tristeza e angústia. – Você está bem? – Ela perguntou, levando uma de suas mãos até o rosto do melhor amigo e acariciando-o. Meg ficou extremamente preocupada ao ver o amigo daquele jeito. Com o olhar ainda baixo, Mark respondeu a pergunta com um abraço que chegou a surpreendê-la.

Eu observava a cena há alguns passos de distância e fui capaz de sentir toda a dor dele através daquele abraço tão intenso que ele precisava dar em sua melhor amiga. Enquanto ele a abraçava, o rosto dele ficou de frente pra mim e nós pudemos finalmente trocar olhares, que pareciam pedir ajuda um ao outro. Com os braços cruzados, eu neguei com a cabeça como se dissesse a ele: ‘Eu sinto muito por tudo isso.’.
- Com licença. – Um enfermeiro disse ao se aproximar do casal de amigos. O abraço foi terminado na mesma hora e eu me aproximei rapidamente. Nós finalmente teríamos notícias. – Olá, . Meg. – Ele nos cumprimentou, pois já nos conhecíamos. – Vocês estão com o rapaz baleado, certo? – Ele queria ter certeza.
- Sim. – Eu afirmei, receosa.
- Alguém da família está presente? – O enfermeiro perguntou, seguindo o protocolo.
- É... – Eu olhei discretamente pro Mark e já pretendia contornar a situação, mas ele me interrompeu.
- Está. – Mark afirmou, sério. Meg olhou rapidamente em volta, procurando a pessoa de quem Mark estava falando. – Eu. – Ele disse sem hesitar. – Eu sou o irmão dele. – Mark afirmou e na mesma hora eu vi os olhos de Meg ficarem arregalados. Ela me olhou como se dissesse: ‘Mas do que ele está falando? Ele está maluco?’.
- Ótimo! Você pode me acompanhar até a recepção, por gentileza? Eu preciso que você preencha alguns papéis. O procedimento padrão, sabe? – O enfermeiro nem percebeu a reação estranha da Meg.
- Posso, mas... eu não tenho nenhum documento dele aqui. – Apesar de ser o seu irmão, Mark ainda não sabia algumas informações importantes como o nome completo ou a data de nascimento.
- Vou te devolver alguns pertencer que estavam com ele. Os documentos certamente devem estar na carteira. – O enfermeiro explicou.
- Ok. – Mark concordou. Eles já iam saindo, quando eu resolvi abordar o enfermeiro, que não tinha dado nenhuma notícia sequer.
- Espere. – Eu fui até ele. – Como ele está? – Eu perguntei, aflita.
- Ainda não tenho muitas notícias. Ele está sendo operado agora para que a bala seja removida e para que se possa evitar que ele continue perdendo quantidades enormes de sangue. Quando eu tiver mais notícias, eu venho falar com você. – O enfermeiro me comunicou com uma expressão de lamentação e se afastou de vez ao lado do Mark.

Fiquei algum tempo tentando me convencer de que a situação de não era tão ruim quanto pareceu. Minha maior dificuldade era, sem dúvida, me manter calma diante de tudo aquilo. Encarei novamente a porta da sala para onde o tinha sido levado. A situação dele realmente era complicada, mas o que me consolava era a qualidade do médico que estava operando ele. Era o melhor da região.

- . – Meg se aproximou repentinamente. – O Mark não precisava ter mentido sobre ser irmão do . Nós trabalhamos aqui e poderíamos dar um jeito nisso. – Ela sussurrou. Ah, é mesmo. Tem mais essa!
- Meg... – Eu a olhei, sem saber como completar a frase. – Ele não mentiu. – Eu finalmente completei.
- O QUE!? – Meg surtou na mesma hora.
- Shhhhhhh! – Eu pedi silêncio, pois estávamos em um hospital. – Olha, não dá pra te explicar tudo agora, está bem? Mas.... é verdade sim. – Eu afirmei, enquanto pedia calma com as mãos.
- Eles são irmãos? – Meg sussurrou, demonstrando indignação. – Como isso é possível? Meu Deus! – Ela estava surtando de novo.
- Só por parte de pai. – Eu complementei a notícia.
- Mas, eles... – Meg estava tentando absorver tudo. – Não. Não. Não pode ser. ! Não pode ser. – Ela não conseguia acreditar em tamanho absurdo.
- Meg... – Eu ia pedir calma a ela novamente, mas ela me interrompeu.
- Mas como eu não sabia de um absurdo desse? – Ela me perguntou.
- Ninguém sabe. – Eu afirmei.
- É por isso que o Mark está desse jeito. – Meg concluiu em voz alta. – Coitadinho. – Ela completou.
- Ele precisa muito de você agora, ok? Então, deixa as perguntas para outra hora. Só... fique ao lado dele. – Eu pedi encarecidamente.
- Claro. É... o que eu vou fazer. – Meg afirmou, apesar de tudo.

Alguns minutos haviam se passado e Mark ainda não tinha voltado, por isso, Meg me convenceu a ir até uma das salas de espera do hospital. Ficamos algum tempo sentadas lá em total silêncio. Eu já não chorava, mas minha cabeça e o meu corpo estavam anestesiados. Parecia até que eu não estava ali. Parecia que tudo aquilo acabaria a qualquer momento.

Meus pais chegaram no hospital alguns minutos depois. Minha mãe não estava aflita ou triste. Ela estava completamente desesperada. Não só por causa do que tinha acontecido com o , mas também por causa do atentado que sofremos. Steven tentou atirar no meu pai. O ex-namorado da minha mãe tentou matar o marido dela. Imagina como estava a cabeça dela? Imagina o que ela estava passando? Difícil, hum?

Era engraçado e angustiante o fato de eu me sentir na obrigação de ‘segurar a barra’ de todos ao meu redor, enquanto o meu mundo estava desabando. Minha mãe demonstrava muita preocupação comigo e estava aflita com a falta de notícias do . Quem é que teve que acalmá-la? Quem teve que se fazer de forte pra fingir que estava tudo bem? Quem é que teve que segurar o choro para não fazê-la chorar também? Eu mesma!

Havia se passado um pouco mais de 45 minutos e o Mark ainda não tinha voltado. Eu sabia muito bem o quanto demorava toda aquela burocracia de hospital e, além disso, deve ter acontecido algum problema. Eu fiquei adiando por algum tempo a ideia de ir atrás do Mark para saber o que tinha acontecido e quando eu me convenci a ir, me deparei com a mãe do Jonas, o padrasto e a . Eles tinham acabado de chegar. A urgência da situação certamente fez com que chegassem em Nova York em um tempo menor do que o comum. Eles chegaram exatamente 1 hora e 15 minutos depois de eu ligar. Ao vê-los, eu congelei por um bom tempo. A mãe do Jonas estava com os olhos completamente inchados, mas ela não chorava no momento. O padrasto estava com uma expressão de preocupação e parecia não ter total ciência sobre a situação. Ela chegou a sorrir ao me ver.

- ! – soltou a mão da mãe e veio correndo em minha direção, passando seus braços em volta da minha cintura. Troquei olhares com a mãe do antes de voltar a minha atenção para a garotinha. Me agachei para poder ver o rosto de de mais perto e ela ainda sorria, deixando em evidências alguns buracos causados pelas quedas de alguns dentes.
- Oi, linda. – Eu passei a mão pelo seu cabelo.
- Eu senti muitas saudades. – A garotinha me abraçou novamente. Meus olhos novamente foram até o rosto da mãe de , que demonstrava cada vez mais desespero. Era evidente que ela estava se segurando por causa de .
- Eu também senti. – Eu correspondi ao abraço.
- A mamãe disse que o está doente. – disse com a inocência que só ela tinha ao terminar o abraço. - Sim... – Eu afirmei com a cabeça. – Ele está doente. – Eu confirmei com um pouco de dificuldade.
- Mas.... ele vai ficar bem, não vai? – já parecia saber a resposta da pergunta, mas queria apenas ter certeza.
- É claro que vai. – Eu afirmei, colocando uma mexa de seu cabelo atrás da orelha.

- Eu disse isso para a minha mãe, mas ela estava muito nervosa. – contou.
- Isso é coisa de mãe. Elas se preocupam muito com os filhos. – Eu tentei amenizar a situação. – Você não precisa se preocupar com isso, está bem? Vai ficar tudo bem. – Eu afirmei com a intenção de tranquilizá-la.
- Está bem. – afirmou com a cabeça.
- , vamos até a lanchonete comprar um chocolate? – O padrasto de e pai de se manifestou. Ele sabia que precisava tirar a filha de lá para que a mãe de conversasse comigo.
- Eba! – adorou a ideia. – Você quer vir com a gente, ? – Ela perguntou depois de correr até o pai e segurar uma de suas mãos.
- Não. Eu estou bem. Obrigada. – Mesmo sabendo que o pior estava por vir, eu sorri mais uma vez para ela.
- Vamos. – O pai começou a levar a garota para longe. Acompanhei eles com o olhar até conseguir coragem para olhar para a mãe do e quando consegui, me deparei com seus olhos cheios de lágrimas e desespero.
- O que foi que aconteceu, ? Onde ele está? – Ela se aproximou, aflita. Eu nem sabia por onde começar.
- Eu sinto muito. – Eu já comecei a conversa me desculpando por ser a culpada por tudo o que o filho dela estava passando. Deixei de olhá-la ao abaixar a cabeça e encarar minhas mãos trêmulas. – Eu nem sei como... – Eu voltei a olhá-la com os olhos marejados. Ver todo o sofrimento nos olhos dela fez com que eu me sentisse ainda pior.
- Me conta. – Ela pediu aos prantos. O estado em que eu me encontrava já dava a ela uma boa ideia da trágica história que eu estava prestes a lhe contar. Hesitei alguns segundos para tentar encontrar uma forma plausível de contar a ela e ao mesmo tempo protegê-la de tudo aquilo.
- Aconteceu tudo muito rápido. – Eu afirmei ao olhá-la, enquanto respirava fundo para conseguir prosseguir. – Eu e o meu pai estávamos no estacionamento de um mercado. Estávamos colocando as compras no carro e... eu ouvi aquele barulho estridente e assustador. Eu não sabia ao certo o que era até ver... – Um nó se formou em minha garganta, me impedindo de continuar falando. Fechei os olhos por poucos segundos e respirei fundo novamente. – Ele... – Era tão difícil continuar aquela frase sem sentir uma dor imensa no peito e ter os meus olhos invadidos por lágrimas. – Ele se jogou na frente do meu pai. – Com as lágrimas prestes a transbordarem, eu passei uma das mãos pelos meus olhos. – Ele entrou na frente da bala e salvou o meu pai. – Eu completei a frase completamente emocionada. A emoção também tomou conta da mãe do , fazendo com que ela se aproximasse para um abraço. – Seu filho foi um herói, Sra. Jonas. – Eu fiz questão de dizer, enquanto um fraco e triste sorriso tomou conta do meu rosto. Ela deveria se orgulhar dele.
- Ele foi, não é? – Ela concordou aos prantos. – Mas... – Ela interrompeu repentinamente o abraço. – Como ele está agora? Eu posso vê-lo? – A mãe tinha muitas perguntas.
- Ele... está sendo atendido. Provavelmente, estão removendo a bala. – Eu respondi ao me esforçar para me recompor.
- Mais nenhuma notícia? – Ela me perguntou, aflita.
- Não. Eu estou esperando há quase 2 horas e ninguém ainda veio me dizer nada. – Eu expliquei.
- Se você tiver qualquer notícia, não deixe de me avisar, por favor. – A mãe de pediu, enquanto enxugava as lágrimas em seu rosto com um lenço. Provavelmente, ela não queria que percebesse que ela tinha chorado quando voltasse.
- É claro. – Eu afirmei com a cabeça. – Eu tenho certeza que tudo isso vai acabar bem. – Eu quis dar a ela uma palavra de conforto. Era a única coisa que eu poderia fazer por ela naquele momento.
- Deus te ouça, querida. – A mãe sorriu com tristeza antes de depositar um beijo carinhoso em meu rosto. Eu só consegui pensar que eu não era merecedora daquele carinho. Eu era a responsável por tudo o que ela estava passando.

A culpa que eu sentia pelo que aconteceu me consumia por dentro e ver o sofrimento daquela mãe só me fez ficar pior. A mãe de se afastou de mim para receber o apoio e consolo dos meus pais. Como todos já sabem, eles se conhecem há muitos anos devido a amizade de e . Fiquei um bom tempo observando ela conversar com os meus pais e conclui que poupá-la sobre toda a confusão relacionada ao Steven foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Ela já estava sofrendo tanto, que não merecia saber o merda que era o seu ex-marido.

- . – Ouvi alguém me chamar e me virei na mesma hora. Poderia ser notícias do .
- Mark. – Eu me aproximei dele na mesma hora. – O que aconteceu? – Eu queria saber se ele tinha alguma notícia.
- Ele ainda está na mesa de cirurgia. Não quiseram me falar nada. – Mark lamentou a notícia. Depois de ouvir a sua frase, desanimei na mesma hora, mas não pude deixar de notar o casaco, a carteira e o celular em suas mãos. Eram os pertences do .
- O que é tudo isso? – Eu perguntei, querendo que ele explicasse.
- Me deram os pertences dele. Eu preenchi todos as fichas com os documentos dele. – Mark mostrou a carteira.
- A jaqueta... – Foi a coisa que mais me interessou. Ele estava usando no momento do ocorrido. A parte debaixo de um dos lados dela estava sujo de sangue que, inclusive, já estava até seco. – É a favorita dele. – Eu completei a frase com um fraco sorriso.
- Essas coisas são do meu filho? – A mãe de de repente nos interrompeu. Ela olhava para as mãos de Mark.
- Sim, são. – Eu afirmei na mesma hora. Ela olhou para o Mark, tentando reconhecê-lo. – Oh, me desculpe. Eu não apresentei vocês. Essa é a mãe do , Mark. – Eu disse, apresentando-a. – E esse é o Mark. Ele... é um grande amigo do . – Eu achei melhor deixar as revelações para uma outra hora.
- É um prazer. – Mark estendeu a mão para a senhora, que parecia ser uma boa pessoa.
- Prazer. – A mãe de tentou sorrir.
- Eu estava preenchendo algumas fichas do hospital e eles me deram os documentos e essas coisas. – Mark achou que deveria explicar.
- Obrigada pela ajuda com as fichas. Eu estou tão arrasada com tudo isso, que nem me lembrei de toda essa burocracia. – A mãe de Jonas fez careta.
- Imagina. Sem problemas. Está tudo resolvido. – Mark tentou acalmá-la.
- Obrigada mesmo. – Ela agradeceu mais uma vez. – Agora, vamos esperar as notícias. – Ela disse em meio a um suspiro.
- Não deve demorar. – Era por isso que eu torcia. Eu precisava de uma ótima notícia para poder deixar essa angústia toda de lado.

Mark ficou ao meu lado por um bom tempo. Chegamos até a trocar algumas palavras, mas não falamos sobre o que estávamos sentindo com tudo aquilo. Parecia até que estávamos tentando preservar um ao outro de falar sobre o assunto para nos mantermos fortes. Estávamos fazendo isso inconscientemente um pelo outro.

- Você está certa. Não devemos contar nada disso para a mãe dele. Se o quiser, ele conta depois. – Mark concordou comigo, depois de eu explicar que não tinha revelado toda a verdade para a Sra. Jonas.
- Sim. É melhor. – Eu afirmei com a cabeça, deixando de olhar para o Mark para olhar para a mãe de . Ela estava sentada em uma das cadeiras e a cabeça parecia estar longe. Os olhos estavam fixos no chão.
- Ela parece ser uma boa pessoa. – Mark comentou depois de olhá-la também.
- Ela é incrível. – Eu afirmei com pesar. Ela não merecia estar passando por tudo aquilo.
- E quem é aquela? – Mark perguntou ao ver uma garotinha se aproximar da mãe de seu irmão. Voltei a olhar na mesma direção de antes e vi que se tratava de . Olhei para o Mark e deixei um fraco sorriso escapar.
- Espera aqui. – Eu pedi antes de me afastar dele. Fui até a e sua mãe. – , você pode vir comigo um minuto? Eu quero que você conheça alguém. – Eu mal tinha acabado a frase e ela já estava estendendo a sua mão para que eu a segurasse. Troquei olhares com a mãe dela, que consentiu que eu a levasse comigo.
- Quem? – olhou em volta, enquanto eu a levava em direção ao Mark. Ele nos olhava, esperando que nos aproximássemos. Chegamos até ele antes mesmo que eu tivesse tempo de responder.
- Eu quero que você conheça o Mark. – Eu disse assim que paramos na frente dele. – Ele é... um grande amigo do . – Eu completei.
- Oi. – Mark agachou-se em frente a garotinha para poder vê-la melhor.
- Então, você é amigo do meu irmão? – puxou assunto, enquanto o analisava.
- Irmão? – Mark levantou o rosto para me olhar, demonstrando surpresa.
- Sim! O é o meu irmão. – confirmou rapidamente e ele voltou a olhá-la.
- Jura? – Ele deixou um sorriso escapar. – E eu posso saber o seu nome? – Mark perguntou.
- . – Ela afirmou com um sorriso.
- é um nome muito bonito. – Mark elogiou e ela ficou toda boba.
- Obrigada. – agradeceu.
- Você se parece um pouco com o seu irmão, sabia? – Mark perguntou e ela fez careta. - As pessoas sempre dizem isso. – Ela rolou os olhos.
- E você não gosta? – Mark achou graça.
- Eu até gosto, mas... é que as vezes ele é um pouco chato e eu não sou. – explicou com o seu jeito único.
- Eu sei exatamente como você se sente. – Mark voltou a sorrir.
- Sabe mesmo? Você tem um irmão também? – se interessou.
- Na verdade, eu tenho. – Mark afirmou, depois de hesitar alguns segundos.
- E ele é chato também? – demonstrou curiosidade.
- Ele é muito chato. Acho até que ele é tão chato quanto o seu. – Mark rolou os olhos. – Mas... eu nem me importo, sabia? Por que mesmo com todas as besteiras que ele fala e as chatices dele, ele continua sendo o meu irmão. – Havia uma lição maravilhosa por detrás daquela frase dele e ele estava tentando passá-la para a garotinha.
- É verdade. – concordou. – O meu irmão gosta de ficar me irritando, mas eu sinto muita saudade dele. – Aquilo quebrou o meu coração de maneiras inexplicáveis.
- Você vai poder matar a saudade em breve. – Mark olhou com carinho para a garotinha. – Foi um prazer te conhecer, . – Ele estendeu uma das mãos.
- Você é muito legal. – sorriu antes. Ela ignorou completamente a mão de Mark e se aproximou, beijando o rosto dele. Ele foi pego de surpresa novamente. Sem dizer nada, viu a voltar a segurar a minha mão.
- Eu já volto. – Eu disse, me afastando e levando a garota até a mãe. Mark estava encantado com a garotinha e pensou no quanto o era sortudo por ter uma família como aquela.

A espera por notícias estava matando todos nós, que nos mantínhamos em silêncio absoluto e trocávamos olhares intensos e preocupados de tempos em tempos. Ocupávamos toda a sala de espera, pois o hospital estava pouco movimentado por causa do horário. Já passava das 11 horas da noite. Quase todos estavam ali, só faltava o meu irmão e os nossos amigos que já haviam avisado que estavam a caminho.

- Você está com frio? – Mark perguntou, virando o seu rosto para me olhar. Ele viu que os meus braços estavam cruzados e que eu estava sem blusa.
- Não, eu... – Eu neguei mesmo estando morrendo de frio. Quando sai do trabalho não estava frio, mas conforme foi anoitecendo, foi começando a esfriar.
- Pega. – Mark estendeu a jaqueta de na minha direção. Era a jaqueta que o enfermeiro tinha entregado ao Mark há algum tempo. – Usa a jaqueta dele. – Ele completou, mantendo a mão estendida na minha direção. Eu hesitei um bom tempo antes de aceitar.
- Obrigada. – Eu agradeci ao pegar a jaqueta sem ter certeza do que estava fazendo. Com a jaqueta em minhas mãos, eu passei a encará-la. Como eu já disse, era a jaqueta favorita do . Ele sempre estava usando ela. Vê-la suja de sangue me fazia sentir uma coisa horrível, que eu mal conseguia explicar. Quando eu comecei a perceber o que significava ter aquela jaqueta em minhas mãos e o peso enorme que ela tinha, o meu nervosismo foi aumentando gradativamente. Eu começava a cogitar a possibilidade de sair rapidamente de perto de todas aquelas pessoas para as quais eu queria me fazer de forte, quando o médico chegou na sala de espera. Meu coração parou.
- Vocês são a família e amigos do Jonas, certo? – O médico já sabia a resposta, pois ele me conhecia. Ele estava só tentando ganhar tempo para encontrar as palavras certas.
- Ele é o meu filho. – A mãe de levantou na mesma hora e foi até o médico. Eu me levantei, mas fiquei um pouco mais atrás, pois estava com muito medo do que iria ouvir. A expressão no rosto do médico não era das melhores.
- Você tem notícias? – Apesar de estar com um medo absurdo, Mark tomou a frente e perguntou.
- Eu tenho. – O médico afirmou, sério. Meus olhos se encheram de lágrimas em segundos. Eu já temia o pior.
- Fale, por favor. – Meu pai pressionou o médico.
- Mesmo estando em um local bem delicado, a bala foi removida. – O médico terminou a frase, mas parecia que a notícia ainda não estava completa. – O problema é que ele perdeu muito sangue. Estamos fazendo o possível para conter a hemorragia. – Ele finalmente completou.
- Não. Meu Deus... – A mãe de estava inconformada e foi rapidamente consolada pelo marido e pela filha mais nova, que não sabia ao certo o que estava acontecendo.

- Eu trago novas informações assim que as tiver. – O médico disse antes de se afastar. Eu estava paralisada e as lágrimas nos meus olhos também. Em silêncio, Mark voltou a se sentar, inclinou o seu corpo para baixo e passou a encarar o chão, enquanto as mãos ficavam em sua cabeça. Ele estava muito mal. Ele estava arrasado.
- ... – Parecia que Meg ia me consolar, mas eu a interrompi.
- Ajuda ele. – Eu pedi a ela, me referindo ao Mark. Ele merecia mais do que eu. Ele precisava mais do que eu. Meg aceitou o meu pedido na mesma hora e foi até o seu melhor amigo.
- Querida, nós... – Minha mãe também se aproximou com a esperança de me ajudar, mas eu também a interrompi.
- Eu... preciso dar uma volta. - Eu a olhei. - Ou eu vou acabar enlouquecendo. – Eu deixei claro que eu precisava ficar sozinha. Eu precisava ficar sozinha para me permitir ser vulnerável. Estava sendo muito difícil pra mim manter as aparências para todos. Eu não queria me preocupar com nenhum deles. – Eu volto daqui a pouco. – Eu disse, deixando de olhar para a minha mãe. Ela me conhecia bem e, por isso, nem tentou me impedir.

Eu ainda não tinha tido qualquer reação diante da notícia dada pelo médico. Eu continuava me segurando ao máximo. Comecei a andar pelo hospital e o fato de trabalhar lá, me ajudou a encontrar os lugares com pouca movimentação que, naquele horário, era ainda maior. Entrei em um dos corredores, onde eu sabia que a maioria das salas eram de médicos que não fariam plantão naquela noite. Parei logo no início do corredor e o encarei completamente vazio por algum tempo. Minhas mãos tremiam. Dei mais alguns passos até parar em frente ao vidro de uma das salas. Parada em frente ao vidro, eu conseguia ver perfeitamente o meu reflexo. Através do vidro, vi a jaqueta em minhas mãos, o que me fez abaixar a cabeça para olhá-la. Em um momento de fraqueza, aproximei a jaqueta do meu rosto. Era o cheiro e o perfume dele. Fechei os olhos quando as lágrimas ameaçaram a escorrer. Ainda com o perfume dele preso em meu nariz, eu abri os olhos e afastei a jaqueta do meu rosto. Voltei a encarar o vidro e tomei coragem para vestir a jaqueta favorita dele. Foi impossível que as lágrimas se acumulassem em meus olhos, enquanto eu colocava a jaqueta. Quando acabei de vesti-la, fiquei algum tempo me olhando. Um fraco sorriso chegou a surgir no canto do meu rosto, quando eu pensei no quanto ele iria gostar de me ver vestindo a sua preciosa jaqueta. Parecia até que eu estava ouvindo ele dizer que eu deveria ter cuidado com ela. Coloquei uma das mãos no bolso da jaqueta, enquanto enxugava as lágrimas em meu rosto com a outra mão.

- O que... – Eu estranhei ao sentir algo no bolso da jaqueta em que eu tinha colocado a mão. Tirei a mão do bolso, trazendo de lá a carteira de . Mark deve ter guardado lá depois que o enfermeiro deu os pertences do pra ele.

Fiquei um bom tempo encarando a carteira antes de decidir abri-la. Comecei a andar lentamente pelo corredor vazio, enquanto começava a fuçar na carteira dele. Encontrei alguns cartões e alguns documentos. Impressionante o fato de ele não ficar feio nem mesmo na foto da sua carteira de motorista. Continuei fuçando em sua carteira e não fiquei nem um pouco surpresa ao encontrar um preservativo. Como sempre, muito prevenido! O achado me arrancou um sorriso bobo. Era tão a cara dele.

Quando achei que já tivesse olhado toda a carteira, encontrei alguns cartões de visita de algumas lojas. A maioria delas era de jogos de videogame. Por que eu não estava surpresa? Bem, o que realmente me surpreendeu foi o que eu encontrei atrás daqueles cartões. Uma foto muito bem escondida. Uma foto que tiramos há dois anos, mais precisamente no dia do meu aniversário, ou seja, o dia em que ele me pediu em namoro. Estávamos no lugar que minha avó tinha descoberto. Na foto, meus braços estavam em volta do pescoço dele, enquanto eu beijava o seu rosto e ele fazia careta para foto. A cena parecia estar passando diante dos meus olhos. Eu lembrava como se fosse ontem. Fiquei algum tempo encarando aquela foto com um sorriso fraco e ao mesmo tempo tão triste no rosto. Algumas lágrimas escaparam pelos cantos dos meus olhos. Não acredito que ele tinha uma foto nossa na carteira. Quem disse que nós nunca tínhamos sido felizes?

Com a intenção de parar de me torturar, coloquei a foto novamente na carteira e a fechei rapidamente. Respirei fundo, levantei a cabeça e encarei o teto por alguns segundos para tentar me recompor. Com uma mão, recoloquei a carteira no bolso e comecei a secar as lágrimas com as mãos, enquanto dava mais alguns passos em direção ao fim do corredor. Ao terminar de secar o meu rosto, levei as mãos aos bolsos da jaqueta. Em um dos bolsos, voltei a sentir a carteira, mas o outro bolso também não estava vazio. Parecia ser um papel. Parecia tão inofensivo que resolvi tirá-lo do bolso para saber do que se tratava. Imagina se eu não estremeci completamente quando eu li ‘Para ’ escrito com a letra do do lado de fora de um envelope dobrado ao meio. Na mesma hora, me veio na cabeça as últimas palavras que o tinha me dito: ‘No bolso... jaqueta.’. Meu. Deus. Era isso! Era isso o que ele estava tentando me dizer. Ele queria que eu encontrasse esse papel.

Enquanto isso, a sala de espera ficava cada vez mais cheia. , , , e tinham acabado de chegar. Todos pareciam muito preocupados e sem saber muito bem o que tinha acontecido. Cumprimentaram cada pessoa conhecida que estava naquela sala, deixando o Mark por último. juntou-se a namorada, Meg.

- Como ele está? – perguntou, séria.
- Alguma notícia? – quis logo saber.
- O... médico acabou de sair. – Mark estava visivelmente abalado, por isso, Meg resolveu dar as notícias.
- Já removeram a bala, mas ele... perdeu muito sangue. – Meg fez uma expressão de lamentação.
- E? – queria mais detalhes.
- Estão tentando conter uma forte hemorragia nesse momento. – Meg disse, mostrando-se triste.
- Meu Deus. – já demonstrou sinais de choro. estava estranhamente quieto e apreensivo.
- Calma. – a acolheu em seus braços.
- E onde minha irmã está? – preocupou-se imediatamente comigo. Ele tinha certeza de que eu não estava nada bem.
- Ela disse que ia dar uma volta pelo hospital. Eu não sei onde... – Meg ergueu os ombros.
- Nós precisamos encontrá-la. Ela deve estar muito mal com tudo isso. – mostrou-se preocupado.
- Não. Eu vou. – disse sério. Ele não costumava falar daquela maneira, por isso, ninguém tentou insistir no assunto. – É a minha irmã. Eu vou. – Ele reafirmou, olhando rapidamente para todos e afastando-se. Ele não sabia onde eu estava. O hospital era enorme, mas ele me encontraria de qualquer jeito.

Fiquei um bom tempo encarando aquele envelope, sem qualquer coragem de abri-lo e saber do que se tratava. Cogitei deixar para abri-lo em um outro momento, mas a curiosidade de saber o conteúdo daquele envelope falou mais alto. Dei alguns passos para trás até sentir minhas costas encostarem na parede final do corredor. Comecei a abrir lentamente o envelope e desdobrei a folha que estava dentro dele. Encarando a folha pela primeira vez, a coisa que mais me chamou a minha atenção foram as rasuras. O formato do texto e das frases me fizeram perceber rapidamente que se tratava de uma música. Aparentava estar finalizada, mas as rasuras demonstravam que ainda poderia vir a alterá-la.

Só o fato de se tratar de uma música fez com que o meu corpo todo estremecesse. Meu coração estava apertado e muito descompassado. tinha escrito uma música pra mim. Ele tinha composto uma música sobre nós. O nervosismo me dominou tão rapidamente que, talvez, fosse melhor que eu respirasse fundo e me acalmasse antes de começar a ler aquelas estrofes, mas é claro que eu não fiz isso. Eu não consegui pensar em nada. Eu não consegui pensar no que era melhor para mim. Meus olhos simplesmente começaram a explorar tudo o que o queria tanto me dizer.



ACOMPANHE COM A MÚSICA:




“Pick up all your tears (Eu poderia pegar todas suas lágrimas)
Throw'em in your back seat (E jogá-las no seu porta-malas)
Leave without a second glance (Ir embora sem olhar para trás)
Somehow I'm to blame (De alguma forma, eu sou o culpado)
For this never-ending racetrack you call life (Por esse interminável autódromo que você chama de vida)


Turn right (Vire à direita)
Into my arms (Em meus braços) –
A cada verso que eu lia, parecia que eu estava ouvindo ele cantar no meu ouvido. As lágrimas alcançaram os meus olhos tão rapidamente, que eu mal tive a chance de tentar segurá-las.
Turn right (Vire à direita)
You won't be alone (Você não estará sozinha)
You might (Você pode)
Fall off this track sometime (Sair dessa trilha algumas vezes)
Hope to see you on the finish line (Espero te ver na linha de chegada) –
Ver a letra dele naquele papel, ler o que ele tinha pra me dizer e saber que, talvez, eu jamais poderia escutá-lo cantar aquela música pra mim me fez entrar em completo estado de desespero.

You're driving all your friends out (Você está conduzindo os seus amigos)
At a speed they cannot follow (A uma velocidade que eles não podem seguir)
And soon you will be on your own (Em breve, você estará sozinha)
Somehow I'm to blame (De alguma forma, eu sou o culpado)
For this never-ending racetrack you call life (Por esse interminável autódromo que você chama de vida) –
O meu choro triplicou. A culpa pesava cada vez mais em meus ombros. Mesmo com todas as bobagens que eu disse pra ele e tudo o que eu fiz ele passar, ele ainda era capaz de ver alguma coisa em mim. Ele não tinha desistido de mim, mesmo quando eu já tinha desistido dele.

Turn right (Vire à direita)
Into my arms (Em meus braços)
- Eu conseguia sentir o amor dele em cada palavra. O amor dele que antes tinha o poder de me acalmar, hoje estava me fazendo sentir uma dor que eu jamais tinha sentido. Saber que existia a mínima possibilidade de eu não ouvir mais a voz dele e de não ver nunca mais o jeito que ele olhava só pra mim me fez deslizar aos poucos pela parede. Eu já não tinha forças para ficar em pé. Eu estava literalmente desabando aos poucos. Turn right (Vire à direita)
You won't be alone (Você não estará sozinha)
You might (Você pode)
Fall off this track sometime (Sair dessa trilha algumas vezes)
Hope to see you on the finish line (Espero te ver na linha de chegada)

I did all I could (Eu fiz o que eu pude)
And I gave everything (Eu dei tudo)
But you had to go your way (Mas você teve que seguir o seu caminho)
And that road was not for me (E essa estrada não era pra mim)
– Nesse momento, eu pude perceber que ele estava tentando me dizer que finalmente estava me deixando para trás como tantas vezes eu pedi a ele. Ele estava disposto a seguir em frente. Por que tudo isso teve que acontecer logo agora? O choro e o nervosismo já não me deixavam ler a letra da música com tanta clareza, mas eu continuei tentando. Eu estava sentada no chão, encostada no canto de duas paredes.

So Turn right (Então, Vire à direita)
Into my arms (Em meus braços)
Turn right (Vire à direita)
You won't be alone (Você não estará sozinha)
You might (Você pode)
Fall off this track sometime (Sair dessa trilha algumas vezes)
Hope to see you on the finish line (Espero te ver na linha de chegada)”.
- A letra não era uma despedida. Ele não estava tentando me dizer que tinha desistido de mim. Ele estava tentando me dizer que independentemente do que acontecesse e independentemente de quanto tempo passasse, ele ainda estaria me esperando. Era a coisa mais bonita e mais triste que eu já tinha lido em toda a minha vida. Nada no mundo poderia me fazer sentir tão amada quanto aquela simples letra de música cheia de rasuras. Nada no mundo faria com que eu sentisse ele tão perto de mim, quanto aquela música.

Mesmo que cada palavra lida tirasse o meu chão e uma grande parte do eu coração, meus olhos se mantiveram fixos naquele papel até a última palavra. Quando acabei de ler, fiquei olhando para o papel por algum tempo, enquanto eu chorava silenciosamente. O choro silencioso e, até então, calmo, se manteve até o momento em que eu pensei que aquela música poderia ser as últimas palavras dele pra mim. Deixei de olhar para o papel e o levei até o meu peito, pressionando-o. Eu chorava desoladamente, enquanto negava com a cabeça. Eu jamais superaria o que estava acontecendo. Soltei o papel para levar ambas as mãos até a cabeça, que eu continuava balançando de forma negativa. Estava doendo muito.

já estava rodando o hospital atrás de mim há mais de 10 minutos. Ao passar por um dos diversos corredores pelos quais ele já havia passado, ele conseguiu me ver lá no fundo. Mesmo estando um pouco longe, ele me reconheceu imediatamente. não pensou duas vezes antes de começar a andar rapidamente na minha direção. Ele logo percebeu que eu estava sentada no chão e que chorava muito. Isso fez com que ele apressasse um pouco mais o passo.

Eu estava desolada e a minha cabeça estava tão ferrada naquele momento, que eu não percebi que alguém estava se aproximando. Com os olhos fechados e cansada de tanto chorar, inclinei a minha cabeça para trás e a encostei na parede. Fiquei alguns segundos naquela mesma posição tentando me acalmar, quando senti as mãos de alguém me tocarem. tinha se ajoelhado em minha frente e tocou as minhas mãos. Eu não me assustei e nem tive pressa para descobrir quem era. Trouxe o meu rosto para baixo e vi o meu irmão com poucas lágrimas nos olhos. Não trocamos qualquer palavra. Deixei de olhar em seus olhos para a olhar para a mão dele, que agora eu segurava com mais força. As lágrimas que estavam dispersando acabaram voltando. se aproximou e me abraçou quando percebeu que eu voltaria a chorar. O abraço dele me acolheu de tal forma, me fazendo inclinar a minha cabeça e deitá-la em seu ombro. Meu coração estava muito apertado e eu chorava tanto que chegava a soluçar.

- Vai ficar tudo bem. – sussurrou, acariciando a minha cabeça.
- Eu não quero ter que me despedir dele. – Eu disse aos prantos. A minha frase levou o meu irmão ás lágrimas. - A culpa é minha. - Eu mal consegui dizer a frase direito.
- . – terminou o abraço na mesma hora. – Não fala isso nem de brincadeira. – Ele completou, me olhando sério. Naquele momento, eu pude perceber que ele também havia chorado.
- Eu desconfiei dele. Eu desconfiei do amor dele. – Deixei de olhá-lo por alguns momentos ao abaixar a cabeça e encarar as minhas mãos. – Ele salvou o nosso pai para me mostrar que eu estava errada. , ele fez isso por causa de mim. Você entende? – Eu queria que ele aceitasse a realidade, que estava tão clara para mim.
- Você tem razão em uma parte. – me olhou calmamente, enquanto passava seus dedos pelo meu rosto para secar as lágrimas que já haviam escorrido. – Ele fez tudo isso por você. – Ele tinha toda a minha atenção. – Ele não fez isso para te provar nada. Ele fez isso para tentar poupar o seu sofrimento. – também parecia emocionado ao falar da atitude do melhor amigo.
- Poupar o meu sofrimento? Como? – Eu perguntei, sem entender. Sofrimento era o que eu mais senti nas últimas horas.
- Ele não queria que você perdesse alguém muito importante para você. – estava falando do meu pai. – Ele não queria que nós perdêssemos outra pessoa. – Ele se emocionou ao terminar a frase.
- Eu sei, mas... nós não podemos perdê-lo também. Eu não vou aguentar perdê-lo, . – Eu disse com a voz embargada.
- Você não vai! Nós não vamos perder mais ninguém. – afirmou, secando as lágrimas prestes a escorrer de seus olhos. Ele tentou se recompor. – O é forte demais e você sabe disso. – Ele tentou me dar esperanças. – Ele vai sair dessa, ok? – secou novamente as lágrimas em meu rosto. As palavras dele conseguiram me acalmar um pouco.
- Que bom que você está aqui. – Eu olhei para o meu irmão com carinho e ele me devolveu o olhar.
- Eu preciso que você me prometa uma coisa. – pediu, sério.
- Prometer o que? – Eu perguntei, sem saber o que esperar.
- Prometa que você nunca vai dizer ao que me viu chorando por causa dele. – continuou sério, mas conseguiu me arrancar um sorriso.



- Ele nunca vai saber. Eu prometo. – Eu afirmei com um fraco sorriso.
- Ótimo. – finalmente sorriu. – Agora, vamos voltar para a sala de espera. Você vai querer estar lá quando as boas notícias chegarem, certo? – Ele perguntou depois de se levantar e estender as mãos em minha direção.
- Eu quero. – Eu afirmei com a cabeça, levando minhas mãos até a dele. Ele me puxou, me colocando em pé novamente.
- Então, vamos. Estão todos querendo te ver. – disse, soltando a minha mão. Começamos a caminhar lado a lado. – O que tem nesse papel? – Ele perguntou, curioso.
- O coração do está aqui. Ele resolveu entregá-lo pra mim. – Eu disse, voltando a olhar para o papel, que eu ainda segurava. – Vou cuidar dele pro até ele ficar bem e resolver o que vai fazer com ele. – Eu disse ao dobrar o papel e guardá-lo novamente no bolso da jaqueta. não entendeu bem o que eu quis dizer, mas preferiu não pedir detalhes.

A presença do meu irmão me deixou um pouco melhor. Eu me sentia um pouco mais leve, pois tinha botado para fora tudo o que eu estava sentindo através das minhas lágrimas. Ler aquela letra de música foi com toda a certeza o auge de todo o sofrimento que eu tentei ignorar nas últimas horas. Botá-lo para fora e finalmente ser sincera comigo mesma foi um grande alívio. É claro que eu ainda estava aflita, nervosa e com um medo absurdo do que poderia acontecer, mas eu tinha um pouco mais de esperança agora. A culpa que eu sentia também diminuiu bastante, mas ela ainda estava lá. Eu ainda podia sentir um pouco do peso dela.

me levou para a sala de espera, onde todos ainda esperavam por notícias. Quando eu entrei na sala, todos os meus amigos se levantaram e vieram me consolar. Quem me conhecia bem, sabia exatamente como estava o meu estado emocional. Os meus amigos me conheciam muito bem. Eles sabiam que eu estava devastada. Eles sabiam o quanto o abraço deles me ajudaria.

- É tão bom te ver. – me olhou com carinho. – Quando o ligou me avisando do que tinha acontecido, eu fiquei com medo de também ter acontecido algo com você. – Ela completou.
- Eu não entendi nada. O me ligou tão nervoso. Eu entendi que alguém tinha levado um tiro e que o estava envolvido. Eu surtei. – tentou se explicar. Estava todo mundo falando ao mesmo tempo.
- Quanto tempo vai demorar para esse médico vir dar notícias? – perguntou, impaciente.
- Não deve demorar. – Meg deu o palpite.
- Como foi acontecer algo assim com o ? Um cara tão legal como ele. Eu não... – parecia não saber a versão toda da história. Aliás, quase todos não sabiam.
- O que aconteceu, afinal? – perguntou o que todos queriam saber.
- Aconteceu muito rápido. Eu nem tive tempo para parar e pensar nos detalhes. – Eu demonstrei o quanto eu estava confusa. – Eu sai do trabalho e meu pai foi me buscar. Eu tinha combinado de ajudá-lo com as compras no mercado. Na saída do mercado, estávamos colocando as compras dentro do carro e... – Eu hesitei por alguns segundos. – Eu só sei que ouvi um barulho muito alto e só percebi que se tratava de um tiro quando vi o caído nos pés do meu pai. – Eu tentei explicar sem parecer tão abalada.
- Ele... se jogou na frente da bala. – concluiu em voz alta para que os amigos soubessem. Ele demonstrou estar abalado com a informação.
- Não... – disse, incrédulo.
- Ele... – hesitou antes de concluir. – Ele salvou o pai de vocês. – Ela completou.
- Sim. – Eu afirmei com a cabeça, tentando não demonstrar o quanto aquilo me afetava.
- Uau. – não sabia o que dizer.
- Ele foi um verdadeiro herói. – Meg reconheceu, impressionada.
- Nós... tínhamos brigado. – Eu abaixei a cabeça e encarei as minhas mãos. – Foi uma briga boba e... depois aconteceu tudo isso. – Eu ainda tentava entender. – Eu sei que ele teve a melhor das intenções, mas... o que ele estava pensando? Quem é que entra na frente de uma bala por causa de... – Eu ergui os ombros, quando não consegui completar a frase. – Olha, eu não estou julgando ele. Eu sou muito grata pelo que ele fez. Eu mal consigo falar sobre isso sem que os meus olhos se encham de lágrimas. – Eu rolei os olhos, enquanto passava as mãos pelos meus olhos. – O que eu estou querendo dizer é... – Eu respirei fundo antes de continuar. – Será que realmente valia a pena para ele? Será que eu merecia tudo o que ele fez? – Eu estava em conflito comigo mesma.
- , escuta. – pediu, olhando para mim. – Quando uma coisa dessas acontece, você não tem tempo para pensar. Você não pensa se vale a pena ou não. – Ele estava tentando me ajudar. – Na hora, você tem alguns segundos para decidir entre a sua vida e a felicidade de uma pessoa que realmente é importante para você. Neste caso, haviam duas pessoas muito importantes. – deixou de me olhar para olhar rapidamente para . Ele se referia a nós dois. – Eu duvido que ele tenha pensado duas vezes. Eu tenho certeza que ele faria de novo se tivesse a oportunidade. – Ele finalmente completou. Todos os nossos amigos demonstraram comoção. Como eu já venho sofrendo e tentando lidar com isso nas últimas horas, as palavras de serviram para me acalmar ainda mais.
- Quando o sair dessa, eu vou dar uma surra nele por estar me fazendo passar por isso. – resmungou, passando as mãos nos olhos para secar as poucas lágrimas que se acumularam ali. Mesmo estando igualmente emocionados, nossos amigos riram. Me aproveitei da breve distração de todos para me aproximar do meu melhor amigo e abraçá-lo.
- Obrigada por dizer isso. – Eu agradeci durante o abraço.
- Eu estou sempre aqui por você. – correspondeu o gesto de carinho.
- Eu sei. – Eu afirmei, terminando o abraço e olhando em seu rosto. Tentei até sorrir pra ele.
- Não interprete a atitude dele como um sacrifício. Considere como um presente. Ok? Ele te deu um presente. – completou a frase levando uma de suas mãos até o meu queixo e movimentando ele sutilmente de um lado para o outro.
- Ok. – Eu afirmei com a cabeça.

Ficamos mais algumas horas sem notícias. O clima de tensão e preocupação que se estabeleceu naquela sala de espera era algo inexplicável. Todos que estava ali eram muito próximos do , por isso, estavam muito abalados com o que havia acontecido. até tentou nos distrair algumas vezes e também arriscou, mas nada tirava a aflição de todos que estavam ali. Quanto tempo teríamos que continuar esperando por uma boa notícia?

Quando achei que não teria mais que contar a história terrível que tinha acontecido naquela noite, um policial me abordou no hospital. Ele estava em busca de respostas sobre os tiros disparados em meio a uma avenida da cidade. Eu sabia que a polícia acabaria aparecendo, mas eu não achei que seria tão rápido. Ele me fez inúmeras perguntas e eu tive que explicar (novamente) tudo o que tinha acontecido. Para não envolver o Steven na história, eu disse que não sabia quem foi o autor dos tiros. Steven realmente merecia ser preso pelo que ele fez e pela pessoa horrível que ele era, mas para isso, a falsa morte dele deveria ser revelada. Isso afetaria tanto a família de , que não valia a pena. Steven não valia a pena.

Algumas perguntas também foram feitas para o meu pai e o Mark, que confirmaram toda a minha versão, que era completamente verdadeira. Eu apenas omiti o autor da tragédia. O policial também pediu alguns dados e documentos do . Chegou a falar com a mãe dele e com alguns dos nossos amigos. Depois que ele terminou de anotar alguns dados em um papel, ele finalmente acabou com todo o interrogatório quando já era mais de 4 horas da madrugada, mas antes de ir embora, ele me disse algo que me fez entender mil vezes mais a proporção do que tinha acontecido. Sem perceber o quanto aquilo me chocaria, o policial disse: ‘Seu pai teve mesmo muita sorte. Se a altura do ferido for mesma essa que vocês me passaram, o tiro que atingiu o abdômen dele atingiria em cheio o coração do seu pai.’. Isso tornou tudo mil vezes pior e mais grave para mim. Steven tinha mesmo atirado para matar o meu pai. Se o não tivesse entrado na frente daquela bala, ela teria, com certeza, matado o meu pai.

Todos a minha volta pareciam ter superado rapidamente a frase dita pelo policial, outros nem sequer a ouviram, mas ela ficou um bom tempo na minha cabeça. Não que eu já não soubesse disso antes, mas o tinha mesmo salvado a vida do meu pai. Se a bala tivesse acertado o meu pai, ele sequer estaria na situação em que o se encontrava naquele momento. Ele não teria uma só chance. Ele não teria a chance que o está tendo agora. Isso me deixou algum tempo em choque. Me mantive em silêncio para não chamar a atenção de ninguém, mas percebeu a minha inquietação.

- Tudo bem ai? – agachou-se em minha frente. Eu estava sentada em uma das cadeiras e a olhei na mesma hora.
- Sim. Eu só... estou um pouco... fora de órbita. Minha cabeça não para um só minuto. – Eu expliquei da forma que eu pude.
- Talvez seja melhor você descansar um pouco. Eu posso ir com você para casa. Eu... – ia dizendo, mas eu não deixei que ela terminasse.
- Não precisa. – Eu neguei com a cabeça.
- Mas, ... – tentou insistir, mas não conseguiu nada.
- Eu não vou sair desse hospital sem ele. – Eu afirmei com convicção. Ela não questionou a minha decisão, pois me conhecia muito bem.
- Está bem. – concordou. – Mas não fique aqui sozinha. Você vai acabar enlouquecendo. Fica com a gente. – Ela pediu, apontando com a cabeça para os nossos amigos, que conversavam em rodinha em um dos cantos da sala.
- Ok. – Eu concordei mesmo sem querer. Talvez, estar perto deles me faria bem.
- Nenhuma notícia ainda? – me olhou assim que eu me aproximei de todos eles.
- Nada. – Eu disse em tom de lamentação.
- Ok, eu preciso perguntar. – falou mais baixo, olhando rapidamente na direção do Mark. – Sou só eu ou a forma que o Mark está lidando com tudo isso é realmente estranha? – Ele perguntou.
- Ele está mesmo muito mal, não é? – teve que concordar.
- Gente, todo mundo aqui está mal. O que aconteceu é horrível. – disse em tom de bronca.
- Eu sei, mas é que eu não sabia que eles eram tão próximos. – concordou com os garotos. Os questionamentos fizeram Meg me olhar.
- Bem, eles... – Eu não sabia ao certo o que dizer. – Eles se aproximaram muito nos últimos dias. O Mark me ajudou a trazê-lo para o hospital. Talvez, ele só esteja um pouco impressionado. – Eu completei.
- Eu não sabia. – se surpreendeu com o fato novo.
- Tem muitas coisas que vocês ainda não sabem. – Eu mal tinha comentado e já estava vendo uma interrogação em cima da cabeça de cada um deles.
- O médico! – Meg afirmou repentinamente, fazendo com que todos ali esquecessem qualquer pergunta que quisessem me fazer. Eu fui a primeira a abordar o médico. Todos vieram atrás de mim.
- E então, doutor? – Eu perguntei, enquanto tentava encontrar respostas nos olhos dele.
- Como está o meu filho? – A mãe de perguntou com a voz trêmula. Meu coração estava muito acelerado. Parecia que eu ia ter um troço!
- Bom, eu não tenho boas notícias. – O médico disse em tom de lamentação. O coração, que antes estava acelerado, agora tinha paralisado.
- Fala logo, doutor. – o pressionou.
- Como vocês já sabem, o paciente acabou perdendo muito sangue no trajeto até o hospital, o que acabou ocasionando uma forte hemorragia interna. – O médico fez uma breve pausa. Meus olhos estavam fixos nele. – Nós conseguimos conter essa hemorragia antes que ela se tornasse fatal para o paciente, porém, ele encontra-se em coma no momento. – Quando médico terminou a frase, a mãe do Jonas começou a chorar descontroladamente. Ela teve que ser ajudada pelo marido. Meus pais afastaram a do local.
- Em coma? – Mark perguntou visivelmente desolado. De repente, eu tinha perdido o meu chão. Parecia que eu estava caindo lentamente em um buraco fundo e escuro que parecia não ter fim.
- Uma grande perda de sangue é uma das causas de diminuição da atividade cerebral de uma pessoa. A atividade cerebral do amigo de vocês está bem baixa, por isso, foi necessário colocá-lo em coma. Foi realmente uma sorte não termos perdido o paciente. – O médico completou. Todos estavam completamente em choque. Ninguém conseguia chora ou ter qualquer outra reação. – Os aparelhos estão mantendo ele vivo, mas eles não vão poder ajudá-lo por muito tempo. Precisamos encontrar uma rápida solução antes que os aparelhos se tornem inúteis. – As notícias ruins não acabavam, mas uma ponta de esperança surgiu dentro de mim quando eu ouvi a palavra ‘solução’ sair da boca dele.
- E qual é a solução? – Mark também se agarrou nessa esperança com unhas e dentes.
- Doação de sangue. – Como a Meg já sabia a resposta, ela respondeu antes mesmo do médico.
- Exatamente. – O médico confirmou. – Precisamos devolver uma quantidade considerável de sangue ao corpo dele para que a atividade cerebral volte antes que nós a percamos de vez. – Ele completou.
- Bem, isso não é um problema, certo? Nós temos um banco de sangue no hospital. Recolhemos doações diariamente. – Eu afirmei toda cheia de esperança. Eu sabia exatamente do que eu estava falando, pois as doações eram umas das minhas responsabilidades no hospital.
- Sim, nós recebemos, mas, infelizmente, o tipo de sangue que o seu amigo precisa está em falta nesse momento. Ele tem um dos tipos mais raros de sangue. – O médico voltou a lamentar.
- Ele é O Negativo. – Eu conclui ao fechar os olhos por poucos segundos e negar com a cabeça. Senti a pouca esperança que eu tinha abandonar o meu corpo. Quem trabalha com isso sabe o quanto é difícil receber a doação de um O Negativo. Além disso, diferente dos outros sangues, o tipo sanguíneo do era o único capaz de substituir qualquer outro tipo de sangue, mas era o único que era insubstituível, ou seja, uma pessoa O Negativo pode doar sangue para qualquer outra pessoa que tenha o mesmo sangue ou até mesmo tipo sanguíneo diferente, mas só pode receber doação exclusivamente de outro doador O Negativo. Injusto, não é?
- Não pode ser. – Mark recusou-se a acreditar. Parecia até mentira.
- Meu conselho, agora, é que vocês busquem urgentemente por doadores O Negativo. Façam o teste. Talvez, um de vocês seja compatível. – O médico disse. – Façam isso com urgência. – Ele reafirmou.
- Quanto tempo? – Mark perguntou com receio.
- É difícil dizer com exatidão, mas eu diria que... – O médico hesitou algum tempo antes de continuar. – 48 horas. – Ele disse.
- 48 horas? – estava perplexo. Todos estavam muito abalados com as notícias. e haviam se afastado um pouco, pois começaram a chorar.
- Nós vamos conseguir essas doações. – afirmou, tentando ser positivo.
- Ele vai sair dessa. Eu sei que vai. – também tentou ser positivo.
- Isso é tudo. – O médico já tinha dado todas as notícias. – Se eu tiver alguma novidade, procurarei vocês. – Ele disse antes de se afastar. Foi só ele abandonar a sala de espera para que a troca intensa e preocupada de olhares começasse entre todos que estavam ali, exceto eu. Meu olhar estava perdido em qualquer lugar daquela sala, que me parecia cada vez mais escura e fria.
- Não é possível que nenhum de nós seja O Negativo. - tentou dar esperança a todos.
- É bem raro. - Meg ressaltou.
- Eu não sei qual o meu tipo sanguíneo. - ergueu os ombros. E se ela fosse compatível?
- . - me chamou, quando percebeu que a minha cabeça estava longe. - Nós vamos conseguir. - Ele tentou me animar.
- Vocês não entendem. É muito difícil conseguir esse tipo de doação. - Eu não estava sendo pessimista. Eu estava sendo realista. - Ainda mais em tão pouco tempo. - Eu completei, olhando pra todos eles.
- É difícil, mas não impossível. - acrescentou.
- Vamos fazer os exames e descobrir se alguém aqui pode ajudá-lo. - Mark demonstrou agilidade. Ele queria resolver aquilo de uma vez, já que o seu irmão não poderia esperar muito tempo.
- Alguém aqui sabe o seu tipo sanguíneo? - Meg perguntou, aumentando um pouco mais o tom de voz.
- O meu é O positivo. - Meu pai foi o único a se manifestar. Ninguém respondeu, mas todos sabiam que as nossas chances haviam diminuído um pouco.
- Eu… - Eu hesitei algum tempo antes de continuar a frase. - O meu é A positivo. - Eu ergui os ombros como se dissesse: ‘Eu queria muito ajudá-lo, mas eu não posso.’.
- Eu também não posso doar. Eu também sou A positivo. - Meg disse com pesar. A profissão que eu e a Meg havíamos escolhido exigia que soubéssemos esses tipos de informações. Recentemente, até fizemos um trabalho sobre o assunto.
- Que droga… - Mark não conseguiu esconder o nervosismo diante daquelas informações. Alguém ali tinha que ser compatível!
- Ainda temos chance, certo? Ainda sobrou muita gente aqui. - Como sempre, mostrava-se incansavelmente otimista. Ele nunca nos deixava desistir sem antes persistir.
- O tem toda a razão. Vamos fazer os exames de sangue e ver o que acontece. De repente, a salvação de está bem aqui, nesta sala. - Meg seguiu o discurso de mesmo sabendo que a probabilidade de seu otimismo se concretizar era baixa.
- Ok! Ok! Então, quando podemos fazer esse exame de sangue? - tentou agilizar todo o processo. Estávamos perdendo minutos valiosos.
- Bem, nós podemos fazer agora. Eu posso falar com o diretor do hospital e… posso começar o meu expediente agora mesmo. Eu deveria começar a trabalhar daqui algumas horas mesmo. - Eu me prontifiquei a colaborar com as coletas de sangue. Nada mais justo, certo? Além de ter parte da culpa caindo sobre os meus ombros, aquele era o meu trabalho. não merecia nada menos que aquilo.
- Não. Eu faço, . - Meg se aproximou. - Eu sei o quanto tudo isso está mexendo com você e com a sua vida. Você não está em condições de trabalhar. Eu cubro o seu turno nesse sábado e faço as coletas de sangue. - Ela não me deixaria trabalhar naquelas condições em qualquer circunstância que fosse.
- Mas eu… - Eu ia argumentar, mas não me deixaram.
- Mas nada, . - me olhou sério.
- Deixa que ela cuida disso, . - tentou me convencer.
- Não. Eu… - Eu neguei com a cabeça ao hesitar em continuar a frase. Eu sabia que acabaria ficando mal de novo. - Eu não quero e não posso ficar aqui parada, enquanto o está daquele jeito. Eu preciso fazer alguma coisa pra ajudá-lo. Qualquer coisa. - Eu tentei parecer durona, mas a minha voz pouco embargada me entregou.
- Hey. - Mark se aproximou rapidamente antes de qualquer outra pessoa. - Eu devo isso a ele. - Eu disse isso pro Mark, que estava parado em minha frente. Ao m ouvir terminar a frase, ele segurou as minhas mãos.
- Nós vamos conseguir. Eu sei que vamos, mas… enquanto isso, eu preciso de você aqui, do meu lado. - Mark me olhou nos olhos com uma expressão triste. Ele queria sim me convencer a deixar a Meg fazer as coletas de sangue, mas ele também foi honesto em suas palavras, que me tocaram muito. Foi a primeira demonstração de fragilidade dele desde que tudo aconteceu. Mark estava tentando parecer forte nas últimas horas, mas ele deixou um pouco dessa força de lado só para me pedir que ficasse ao lado dele naquele momento tão difícil. Como eu poderia negar?
- Está bem. - Eu afirmei com a cabeça. - Eu fico aqui. - Eu disse olhando pra ele, antes de me aproximar e abraçá-lo. Mark já havia abaixado a guarda por um momento para me fazer aquele pedido e agora, o abraço que eu dava nele quase fez com que ele deixasse todas as suas forças de lado de vez, quase fez com que ele desistisse de ser tão forte.
- Obrigado. - Mark agradeceu ainda durante o abraço e o interrompeu abruptamente antes de ele ficar completamente vulnerável.
- Certo. Eu vou falar com o diretor do hospital e, conforte for, já venho chamar vocês para a coleta de sangue. - Meg avisou antes de se afastar.

Meg demorou um pouco mais de 15 minutos para explicar a situação ao diretor do hospital e convencê-lo de que tratava-se de uma emergência. Ela voltou para a sala de espera com a boa notícia que todos esperavam. Começou a chamar um por um para a sala de exames. A única que não pode fazer o exame de sangue foi a por causa de sua pouca idade.

A mãe do foi a última pessoa a ter o seu sangue coletado. Todos esperavam a Meg para saber se algum dos sangues coletados era compatível ao do . Eu tive que explicar a eles que os resultados demoravam algumas horas para ficarem prontos. Apesar de todos ali estarem aflitos, alguns começaram a demonstrar sinais de sono. dormiu nos ombros de , tirou alguns cochilos no colo de , acabava apagando de tempos em tempos sentado na cadeira e já dormia há algum tempo no colo do pai. Foi só Meg entrar na sala para que todos despertassem, ou melhor, fossem despertados. Quando eu a vi, eu não senti nada além de medo. Eu tinha medo do que eu ouviria. Alguém tinha que ser compatível.

- Os resultados já saíram? - Mark foi o primeiro a abordá-la. Como conhecia bem a sua melhor amiga, tentou conseguir respostas através de seu olhar.
- Saíram. - Meg afirmou, séria.
- E então? - a pressionou. Eu não disse nada. Apenas me levantei e fiquei esperando ela dizer, enquanto mantinha minhas mãos juntas em frente a minha boca.
- Eu acabei de checar o banco de sangue desse hospital e de outros hospitais da região. Todos continuam vazios para O negativo. - Meg começou a dar a notícia. Meu coração estava disparado e as minhas mãos estavam trêmulas. Fechei os olhos por alguns segundos, enquanto negava com a cabeça. Não pode ser. Não é possível!
- Não acredito. - ficou indignado. Todos estavam desolados.
- Mas… - Meg disse e todos voltaram a fazer silêncio e dar a ela total atenção. - Tem uma pessoa aqui que é compatível.- Ela disse e todos os corações voltaram a bater.
- Graças a Deus. - A mãe de comemorou.
- Eu sabia! - suspirou.
- Quem? - queria saber.
- Quem é compatível? - também perguntou. Acho que todos ali apostavam na mãe do .
- O Mark também é O negativo. - Meg disse e todos começaram a abraçá-lo. Eu estava feliz, mas estava em choque. Mark ajudaria a salvar o irmão. Quando eu finalmente cheguei a essa conclusão, meus olhos se encheram de lágrimas. Pela primeira vez, lágrimas de felicidade. De todos ali, Mark era a melhor pessoa para receber aquela responsabilidade. Depois de tudo o que ele passou, ele teria a chance de ajudar a salvar a família que lhe restou. Foi tão bom vê-lo tão feliz com a notícia. Ele até parecia outra pessoa.
- Vamos fazer isso agora. - Mark já queria doar o sangue.
- Ok, pessoal. Acalmem-se. - Meg pediu. - Mark ser compatível, com certeza, é uma notícia maravilhosa e vai aumentar muito mais as chances do , mas infelizmente não será o bastante. - Ela voltou a ficar séria. Conhecendo sobre o assunto, eu já sabia o que ela queria dizer. Uma bomba novamente foi jogada no meio de tantos corações aliviados e esperançosos. Me afastei dela e de todos os outros que estavam em volta dela sem conseguir me conformar.
- Como assim? - arqueou uma das sobrancelhas.
- Não será o bastante? - achou que não tivesse escutado direito.
- A doação não atende o paciente. - Meg disse.
- Traduz, por favor. - e a maioria ali não tinha entendido.
- A quantidade de sangue que o precisa nesse momento é maior do que a quantidade máxima que um doador compatível pode doar, ou seja, o precisa de mais sangue do que o Mark pode doar. - Meg explicou, deixando todos inconformados.
- Ele precisa de mais um doador. É isso? - queria ter certeza de que tinha entendido.
- É isso. - Meg confirmou.
- Não, não. Eu posso doar. Eu quero doar. - Mark estava desesperado.
- Você não pode. Ninguém pode. É uma quantidade muito grande. - Meg tentou explicar.
- Eu não me importo. Se é disso que ele precisa para viver, eu vou dar isso a ele. - Mark começou a se descontrolar. Eu escutava a exaltação dele de longe e aquilo só tornava tudo mais doloroso.
- Mark, se acalma. - Meg pediu, assustada com o comportamento desesperador do melhor amigo. - Vamos esperar. A doação pode vir de outra pessoa. Todos os hospitais da região estão sabendo da nossa necessidade. - Ela tentou mostrar que ainda havia esperança.
- E se não houver outra doação? Ele vai morrer? - Mark não conseguia se acalmar. - Eu vou deixar ele morrer? É isso? - Todos estavam muito comovidos com a reação angustiante de Mark mesmo sem saber que ele era irmão do , especialmente sua mãe. As palavras e o desespero dele me fizeram tomar uma atitude.
- Mark, vem comigo. - Eu segurei a mão dele e comecei a afastá-lo de tudo e de todos. Ele precisava se acalmar.
- Eu tenho que ajudá-lo, . Ele é o meu irmão. Eu não posso... - Mark afirmou e pela primeira vez, havia lágrimas em seus olhos. Eu o interrompi.
- E você vai. Você vai ajudar o seu irmão. Nós só precisamos de outra pessoa. - Eu fiz parecer como se fosse algo simples, mas nós dois sabíamos que não era.
- E se não aparecer outra pessoa compatível? O que acontece com ele? - Mark já não estava tão agitado. Ao final de sua pergunta, ele ficou me olhando, esperando pela resposta que eu não era capaz de dar. Continuei olhando pra ele e neguei com a cabeça, como se dissesse: ‘Não vou dizer.’. Ele entendeu perfeitamente o que eu quis dizer. Mark também balançou a cabeça negativamente e deixou de me olhar para encarar o chão.



- Mark… - Eu me senti na obrigação de consolá-lo. Me aproximei, levei uma das mãos até o seu rosto e o levantei, fazendo com que ele voltasse a me olhar. - Vai dar tudo certo. Vai ficar tudo bem. Ele vai ficar bem. - Eu disse, olhando em seus olhos. As lágrimas ainda estavam acumuladas nos olhos dele, que ficaram algum tempo me encarando.
- O que acontece? - Mark finalmente voltou a dizer alguma coisa. - O que acontece se eu resolver doar todo o sangue que ele precisa? - Ele quis saber. Ele estava calmo, mas muito triste.
- Isso não é uma opção. - Eu o olhei mais séria. Eu jamais deixaria que ele fizesse aquilo.
- Me diz. O que acontece? - Mark insistiu na pergunta. Hesitei um bom tempo antes de responder.
- Existem muitos riscos. Você pode ter uma parada cardíaca, um AVC ou uma hemorragia irreversível. Você até pode ficar na mesma situação em que o está agora, mas… você também pode só ficar desacordado por algumas horas. - Eu finalmente respondi. - É relativo. Cada pessoa reage de um jeito a perda repentina e excessiva de sangue. Para alguns, as consequências são fatais, para outros, as consequências são simples. Não dá pra dizer com certeza, mas é muito arriscado. - Eu disse, séria.
- Eu não tive a chance de salvar a minha mãe, mas eu tenho a chance de salvar ele, a única família que me restou. - Uma lágrima solitária escorreu pelo canto de seus olhos, enquanto ele me olhava com tristeza.
- Nós vamos encontrar uma outra maneira de salvá-lo. - Eu sequei a sua lágrima e aproveitei para acariciar o seu rosto.
- Não há outra maneira. - Mark negou com a cabeça.
- Talvez, tenha... - Eu disse e o olhar dele mudou repentinamente. Ele passou a me olhar de outra maneira.
- Você tem alguma coisa em mente? - Mark me olhava com desconfiança.
- Na verdade, eu tenho. - Eu sabia que poderia me arrepender daquilo mais tarde, mas se fosse para salvar o , tudo bem.
- O que? O que é que pode salvar o ? - Mark estava muito curioso. Qualquer ideia seria boa o bastante.
- Não é o que e sim… quem. - Eu não sabia qual seria a reação dele.
- De quem você está falando? - Mark mal piscava.
- Mark… - Eu neguei com a cabeça. Poderia ser a pior ideia de todas, mas ela também poderia salvar a vida do . - Você e o são O negativo. - Eu achei que ele entenderia.
- E o que isso quer dizer? - Mark não tinha entendido.
- Isso quer dizer que, cientificamente falando, existe uma possibilidade do Steven também ser O negativo. - Eu disse e ele ficou completamente sem reação. Me olhou, sem conseguir dizer nada. - Talvez, ele seja o doador que pode salvar a vida do . - Eu completei. Seria essa a chance de Steven se recompor diante dos filhos? Pra mim, ele não tinha salvação.










Em breve, a segunda parte...









Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


2 comentários:

  1. MEU DEUS DO CÉU!!!!! Menina...QUE CRIATIVIDADE É ESSA SENHOR????
    Eu chorei tanto só de pensar nele morrendo...
    Raissa...assim vc acaba com o meu psicológico😱😱😭💔 Estou ansiosa pelo próximo...posta rapido antes q eu tenha um ataque cardíaco aquii

    ResponderExcluir
  2. Sabia que eles teriam de pedir ajuda ao pai, hahaha. Melhor fanfic de todos os tempos. Você faz um ótimo trabalho, Raissa.

    ResponderExcluir