Capitulo 51



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




- Oi. – Eu disse, fechando e trancando a porta.
- Oi. Tudo certo? – deixou de olhar a TV para me olhar.
- Tudo. – Eu afirmei, tentando ser convincente. – Você... – Eu andei em direção a ele. – Você está com fome? Eu posso fazer... – Eu parei próxima a ele.
- Não. Eu to bem. – negou com a cabeça e continuou sem me olhar.
- Certo. – Eu afirmei com a cabeça, deixando de olhá-lo. Porque ele está me tratando assim? Eu continuava me sentindo péssima. Cheguei a virar de costas e dar alguns poucos passos, mas eu não aguentei. Eu tinha que perguntar. – Porque você está agindo assim? – Eu perguntei, voltando a me aproximar dele e o olhando seriamente.
- Assim como? – sabia que não conseguiria esconder isso, mas tentou arriscar ao se fazer de desentendido.
- Me tratando desse jeito! – Eu continuei séria, achando que estávamos prestes a começar uma discussão. – É por causa do beijo, não é? – Eu perguntei um pouco mais irritada, pois não gostei do fato de ele não ter sido honesto comigo. – Você não queria que eu te beijasse. – Eu afirmei com certeza.
- ... – negou com a cabeça, querendo demonstrar que não tinha nada a ver com aquilo. Ele abaixou a cabeça, sem saber como dizer aquilo. – Eu vou voltar pra Atlantic City no domingo. – Ele finalmente disse. O problema era esse! Nós não deveríamos ter nos beijado, pois vai embora em alguns dias. Nós não deveríamos ter dado aquele passo, que agora parecia mais um pulo em direção ao fundo do poço. Nós não deveríamos ter começado algo que não vamos poder terminar.





Capítulo 51 – Voltando a viver o amor



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:




- Você... – Eu demorei algum tempo pra assimilar tudo. – Esse domingo? – Eu fiz uma rápida conta e constatei que faltavam apenas 5 dias. – Eu achei que... – Eu não sabia como reagir e eu tenho certeza que ele notou o quão perdida eu fiquei.
- Eu também achei. – negou com a cabeça, deixando de me olhar. – Eles me disseram hoje na reunião. O contrato vai ser assinado no sábado. – Ele completou.
- Então, quer dizer que você conseguiu a conta do Yankees? – Eu sorri ao sentar ao lado dele no sofá.
- Eu consegui. - não parecia tão empolgado quanto deveria.
- Oh, meu Deus... – Eu não sabia o que dizer ou como expressar o quão feliz eu estava por ele. – Você conseguiu! – Eu afirmei empolgadamente, olhando pra ele. Ele acabou rindo de toda a minha empolgação. – Você conseguiu, ! – Eu reafirmei e em um ato de espontaneidade acabei abraçando ele. – Eu estou tão feliz por você! – Eu afirmei, enquanto ainda o abraçava. O abraço fez com que ele ficasse ainda mais triste. Ele não queria ir embora.
- É, eu estou feliz também. – disse, passando seus braços em volta de mim e correspondendo ao abraço. Sentiu o seu coração apertar, mas soube disfarçar muito bem.
- Porque você não me contou antes? Poderíamos ter saído pra comemorar. – Eu não entendi porque ele fez todo aquele mistério.
- Estamos comemorando. – sorriu, abrindo os braços. – Você, eu e o meu videogame. O que pode ser melhor do que isso? – Ele brincou, apontando pro seu videogame.
- Eu não sei. Cervejas, talvez? – Eu arqueei uma das sobrancelhas e ele gargalhou.
- Nós dois sabemos que isso nunca termina bem. – comentou entre risos.
- Você tem razão. É melhor não arriscar. – Eu fiz careta. Ambos pensamos ‘Seria ótimo arriscar’, mas é claro que não dissemos isso em voz alta. – Olha só, eu vou um tomar banho e ai nós pensamos em algo pra comer e pra fazer. – Eu me levantei do sofá e subi apressadamente as escadas.

Já posso parar de fingir que não existe lado ruim nessa história? Já posso mostrar o meu lado egoísta e demonstrar que não fiquei tão feliz quanto deveria por ele ter conseguido o maior contrato de sua carreira? Já posso parar e pensar o quão ruim vai ser vê-lo ir embora da minha vida de novo? Não, eu não posso. Eu não posso porque esse é um momento dele e eu não posso sequer pensar em estragá-lo com o meu drama, que nem ao menos faz sentido, considerando que eu e não tínhamos nada.

Em frente ao espelho do banheiro eu prometi a mim mesma que não me permitira sofrer novamente por algo que nem mesmo chegou a existir. Se ele ficar ou não, qual a diferença? Não estamos juntos, não é? Não queremos ficar mais juntos. Não foi esse o combinado? Não se apaixonar! Eu não vou quebrar regra alguma, muito menos a regra que impus a mim mesma no dia que eu e terminamos o nosso namoro: chega de sofrer por amor.

As coisas complicavam-se um pouco mais quando os sentimentos do são o assunto. Ele não conseguia esconder os sentimentos. A prova disso foi o fato de ele ter me ignorado a tarde toda. Ele não consegue fingir que não há nada acontecendo, por isso, me ignorar se tornou o jeito mais fácil de não demonstrar nada. Além disso, ignorar fazia com que ele tivesse certeza de que não estava me dando esperança alguma sobre o que nós podemos estar sentindo. não quer começar nada que ele não vá poder terminar no domingo.

- E então, o que vamos fazer? – Eu disse, voltando para o andar debaixo. Eu já havia tomado banho e colocado um pijama extremamente quente. Estava muito frio naquele dia.
- Eu não consegui pensar em nada. – pausou o seu jogo no videogame e virou o seu rosto pra me olhar.
- É claro que você não conseguiu pensar em nada. Você está jogando esse jogo desde que eu cheguei. – Eu apontei pra TV, me sentando ao seu lado.
- Estou tentando passar essa porcaria de fase a tarde toda e não consigo. – explicou-se, apontando pra TV.
- Então, o problema é a fase do jogo? – Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Não fala desse jeito. É uma fase muito difícil, ok? – fez careta, se ofendendo com o meu comentário. – Você não entende nada do assunto. – Ele mostrou-se superior.
- É mesmo? – Eu (com certeza) aceitei aquilo como um desafio. – Aposto que consigo passar essa fase idiota. – Eu não tinha certeza do que eu estava falando, mas eu tinha que responder aquela provocação de qualquer jeito.
- O QUE? – me olhou. – EU DUVIDO! – Ele disse aos risos.
- Duvida? – Eu segurei o riso, enquanto negava com a cabeça. – Me dá esse controle aqui. – Eu fazia questão de passar aquela fase. Eu tinha que passar.



- Eu duvido que você passe essa fase! – voltou a me desafiar. Ele realmente desacreditava que eu pudesse ganhar aquilo.
- Espera! Vamos negociar! Se eu passar, o que eu ganho com isso? – Eu voltei a olhá-lo, sabendo que precisava de um incentivo a mais para ganhar aquele desafio.
- Eu não sei. – ergueu os ombros, tentando pensar em qualquer coisa.
- Ok, já sei! – Eu resolvi unir o útil ao agradável. – Se eu passar essa fase, você vai comigo no show do Nickelback na quinta- feira. – Eu esperei pela reação dele.
- Nickelback na quinta-feira? – me olhou com desconfiança por um tempo. – Está bem! Mas se eu ganhar você vai ter que assistir o programa de esporte comigo o resto da semana. – Ele sabia que eu odiava aquilo.
- Obrigada. Eu não poderia estar mais motivada a vencer esse desafio. – Eu o olhei com um olhar ameaçador e ele fez o mesmo. – Observe. – Eu voltei a minha atenção para a TV em minha frente.

Tenho que confessar que não imaginei que seria tão divertido. Eu comecei jogando desastrosamente. Não achei que seria tão difícil, considerando que eu costumava jogar alguns jogos com o quando eu morava em Atlantic City. Eu nunca tinha jogado aquele jogo antes, então o ficava dando palpites enquanto eu jogava. Nem parecia que estávamos em meio a um desafio. Sem nem perceber, tentava me ajudar e me dava instruções a todo o momento.

- Para de rir! – Eu o empurrei aos risos, depois de morrer pela quarta fez naquela fase.
- Eu disse que você não ia conseguir. – continuou me sacaneando.
- Eu disse que eu ia passar, mas eu não disse em quantas tentativas! – Eu me defendi quase que imediatamente.
- Pode tentar o quanto você quiser. Você nunca vai conseguir! – reafirmou certo do que estava dizendo.
- Melhor já ir ensaiando os hits do Nickelback, . – Eu voltei a me concentrar no jogo.

Seria impossível contar quantas vezes eu acabei morrendo naquela fase idiota, mas cada vez que eu tentava eu ficava melhor. pegou alguns pacotes de bolacha na cozinha e fez pipoca pra comermos, enquanto nós duelávamos naquele jogo bobo. Ele continuava me orientando e dando palpites a todo o momento. Às vezes parávamos o jogo para rir de alguma besteira que havia feito e outras vezes ele me dava broncas por ter errado uma jogada.

- OH, MEU DEUS! MEU DEUS! – Eu comecei a surtar, quando me vi chegando (finalmente) no final da fase.
- NÃO PODE SER! – não conseguia piscar, pois estava absurdamente impressionado com o fato de eu ter conseguido chegar ao final da fase do jogo.
- EU CONSEGUI! – Eu gritei, quando o jogo anunciou que eu havia passado para a próxima fase.
- VOCÊ ESTÁ DE BRINCADEIRA COMIGO! NÃO É POSSÍVEL! – Ele gritou descontroladamente.
- EU PASSEI! PASSEI DE FASE! VOCÊ VIU ISSO? – Eu estava tendo um surto.
- Espera, eu preciso de um minuto. – sorriu pra mim, tentando se controlar. – Você... – Ele negou com a cabeça. – Você não pode ter passado. – Ele completou a frase em meio a risos.
- Não esperava por essa, hein? – Eu pisquei um dos olhos pra ele. – Adivinha quem vai ter que ir ao show do Nickelback? – Eu comemorei a minha vitória.
- Depois disso que você acabou de fazer, eu faço qualquer coisa que você quiser. – cedeu aos meus dons de nerd. Mentira! Não tem dom algum. Foi pura sorte mesmo. – Você foi incrível. – O elogio dele me deixou um pouco sem jeito. Eu notei que não se tratava mais de uma das nossas apostas ou desafios bobos.
- É, mas você me ajudou muito. Eu não conseguiria sem você. – Eu dei a ele os méritos merecidos.
- Acho que somos uma boa dupla. – estendeu as mãos e fizemos um rápido high-five.
- É, nós somos. – Eu sorri fraco pra ele e acabamos tendo mais um daqueles momentos estranhos repletos de clima. – Bem, agora eu vou dormir porque amanhã acordo bem cedo. – Eu mudei o assunto, quando notei que esse era o único jeito de reverter aquele clima estranho.
- Eu também vou dormir. Eu não vou superar isso tão cedo. – levantou-se do sofá, indo até o videogame e o desligando.
- Se você tiver dificuldade em passar mais uma fase, você sabe quem chamar. – Eu brinquei, enquanto me levantava do sofá também.
- Pode se gabar. Hoje você pode. – ergueu os ombros, sem responder as minhas provocações.
- Posso, né? – Eu estava achando graça do quão impressionado ele estava com o meu feito. Comecei a andar em direção a escada, esperando que ele viesse atrás de mim. – Você não vai subir? – Eu perguntei, quando vi ele indo para o lado oposto.
- Não, eu vou pegar alguma coisa pra beber na cozinha. – me olhou para responder.
- Ok. – Eu dei mais alguns passos em direção a escada. – Boa noite e não esquece do nosso compromisso na quinta-feira. – Eu reafirmei e ele rolou os olhos.
- Eu não vou. – respondeu. – Boa noite. – Ele retribuiu, quando me viu subir as escadas. Aproveitou que eu estava de costas e me observou com um sorriso tímido no canto do seu rosto.

Era incrível o fato de agirmos como um casal sem nem perceber. não se lembra de qual foi a última vez que fizemos algo tão divertido juntos. Não precisamos nos beijar ou nos abraçar. Só precisamos de uma TV e um videogame qualquer, que tudo pareceu ter funcionado melhor do que nunca. Aos poucos, voltava a enxergar a garota dos seus sonhos. Não a garota dos seus sonhos fisicamente falando, porque disso ele já havia enxergado desde o primeiro segundo que me reencontrou, mas sim da garota dos seus sonhos em todos os outros sentidos. A garota dos seus sonhos que estava dentro de mim. A garota divertida e boba que eu costumava ser no ensino médio. não sabia muito bem como lidar com aqueles sentimentos que a cada segundo tomavam mais conta do seu jeito de agir e pensar.

Eu estava mais do que abobalhada. Eu estava rindo sozinha, enquanto me lembrava do que nós havíamos acabado de fazer. Eu não conseguia parar de sorrir e de pensar no quão divertido foi fazer uma coisa tão boba como jogar videogame. Eu odiava toda vez que o me usava para ser a sua cobaia toda vez que ele comprava um jogo novo, mas dessa vez foi diferente. Eu não vi o tempo passar e não me lembro de ter rido tanto por algo tão bobo e banal antes. Eu estava até mais leve, como se eu tivesse tirado de dentro de mim algo que estivesse preso a tanto tempo. Foi como se eu tivesse me encontrado de novo. Foi como se o meu coração tivesse se encontrado de novo.

Qualquer coisa que estivesse sentindo antes com certeza aflorou ainda mais naquela noite. Era algo maior que ele. Algo que ele não conseguia controlar. sabia que estava se apaixonando novamente e não havia nada no mundo que conseguisse impedir aquilo. Ele tomou o seu copo com água e foi para a cama. Demorou algum tempo para dormir, mas isso não impediu que ele se levantasse ás 03:35 para fazer o nosso chocolate quente. Já havia se tornado uma rotina só nossa. Eu me levantei ás 03:35 também com um sorriso enorme no rosto, pois eu sabia que iria vê-lo. Tomamos o chocolate quente, enquanto relembrávamos da diversão daquela noite. Nós rimos mais um pouco e tivemos mais alguns momentos de silêncio constrangedores.

Foi uma noite incrível e memorável. Foi definitivamente naquela noite que descobrimos que o que havia entre nós era muito mais do que uma simples atração física. Nós descobrimos sem precisarmos dizer um ao outro. Nós descobrimos através de uma simples brincadeira, uma troca de risada e sorrisos. Nós descobrimos quando nos demos conta de que voltamos a ser nós mesmos sem nem perceber. Nós descobrimos quando percebemos que queríamos ter mais momentos como aquele em todos os outros dias da nossa vida.

Acordei na manhã seguinte pensando no show do dia seguinte. Eu havia ligado em um dos locais de venda no dia anterior e reservei dois ingressos. O meu plano era levar a Meg comigo, pois imaginava que o não era uma opção. Eu lamento, mas a Meg não vai ver o Nickelback dessa vez. Eu estava muito empolgada, pois só nós dois sabíamos o quanto aquela banda significou pra nós, ou melhor, o quanto uma música daquela banda significou pra nós. Imaginei qual seria a nossa reação ao ouvir ‘Never Gonna Be Alone’ ao vivo. Eu não posso negar que havia uma grande esperança dentro de mim, que me dizia que uma possível reconciliação não estava longe.

O atraso não nos deixou parar em uma cafeteria para tomar café da manhã. Nós tivemos que correr para que desse tempo de eu comer qualquer coisa na lanchonete do hospital. Eu ainda me surpreendia com o quanto nós conseguíamos nos dar tão bem depois de tudo o que passamos. Quem via as nossas conversas e brincadeiras bobas nunca acreditaria que brigamos mais do que qualquer outro casal no mundo e que tivemos um final de relacionamento que não dá nem pra chamar de traumático.

- Você vai sair no mesmo horário hoje, certo? – perguntou, quando estacionou o carro em frente a minha faculdade.
- Eu acho que sim. A professora de hoje sempre libera no horário certo. – Eu disse, sem olhá-lo, pois eu estava pegando a minha bolsa que estava sobre o meu colo.
- Está bem. Eu vou estar aqui. – afirmou, deixando de me olhar para observar a fila de carros que estava em sua frente.
- Ok. – Eu concordei e por um motivo que até mesmo eu desconheço, eu me aproximei e beijei a bochecha dele. – Te vejo mais tarde. Obrigada. – Eu não fiquei constrangida até notar a reação dele. Ele virou o seu rosto pra me olhar. Havia um sorriso no canto do seu rosto e as bochechas dele estavam levemente rosadas. O clima acabou quando eu abandonei o carro com pressa. O que está acontecendo comigo?

Foi um beijo bobo e sem qualquer malícia e era exatamente isso que acabou deixando ainda mais abobalhado com aquele simples gesto. Depois que eu sai do carro, ele se julgou mentalmente por ter agido de forma tão explicita em relação ao beijo. não tinha nem tempo de parar e pensar no que fazer. Os sentimentos dele passavam por cima de qualquer razão que pudesse existir.

- Oi, Meg. – Eu disse, me sentando na carteira ao seu lado.
- Eu ia te ligar agora mesmo. – Meg sorriu, guardando o seu celular na bolsa.
- Acordei atrasada. – Eu fiz careta e ela riu.
- Que cara é essa? – Meg me analisou, enquanto eu pegava o meu caderno e o colocava sobre a carteira.
- Que cara? – Eu me fiz de desentendida.
- Esse sorriso bobo no seu rosto. – Meg cerrou os olhos como se soubesse que eu estava enrolando.
- Eu não sei do que você está falando, mas talvez... – Eu mordi o lábio inferior em meio a um sorriso. – Talvez tenha a ver com o fato de o ir ao show do Nickelback comigo. – Eu completei.
- Não acredito! – Meg abriu a boca, surpresa. – Vai ser tipo um... encontro? – Ela perguntou.
- Eu acho que sim. – Eu demonstrei muita ansiedade. – É a primeira vez que nós saímos desde que... – Eu preferi não terminar a frase.
- E... isso quer dizer que vocês vão voltar a namorar? – Meg não gostava do , mas nem por isso estragaria a minha felicidade.
- Eu não sei. Eu acho que... é recíproco da parte dele, mas ainda não aconteceu nada demais. – Eu expliquei, vendo a professora entrar na sala.
- Você sabe o que eu acho disso tudo, mas também sabe que a sua felicidade é o que mais importa pra mim. Se é isso o que você quer, vai ser um prazer aturar o babaca do . – Meg falou, enquanto fazia careta.
- Obrigada pelo apoio, eu acho. – Eu disse em meio a risos.

A minha felicidade era tanta que nem mesmo o trabalho que a professora pediu em sala de aula me incomodou. O trabalho era individual, então Meg acabou saindo da sala um pouco antes de mim. Demorei algum tempo para terminar o trabalho. Acho que estava um pouco avoada naquele dia. Mesmo com a demora, eu consegui sair no horário e não teve que esperar tanto. Ele chegou a sugerir para almoçarmos juntos, mas eu tive que recusar o seu convite, pois pretendia entrar mais cedo no trabalho naquele dia para que no dia seguinte eu pudesse sair mais cedo por causa do show. Cheguei as pressas no hospital, mas antes dei uma passada na lanchonete para comprar um salgado. Não deu nem tempo de sentar para comer. Eu fui comendo, enquanto andava para dentro do hospital.

passou em um restaurante e levou qualquer coisa para comer em casa. Ele precisaria trabalhar durante a tarde para que tudo estivesse certo na reunião que ele teria no dia seguinte. Ele passou a tarde folheando e revendo alguns conceitos em seu caderno da faculdade, que certamente iriam auxiliá-lo a proceder da melhor maneira possível. Mesmo estando com a sua cabeça ocupada e cheia de conceitos publicitários, ainda tinha tempo para pensar em mim. Em tempos em tempos ele se pegava sorrindo sozinho ao se lembrar dos últimos dias. Ele nunca imaginou que depois de anos apaixonado por mim, ele ainda arrumaria motivos para se apaixonar ainda mais.

O dia no trabalho foi bem corrido pra mim. A cidade estava com uma campanha de vacinas e o hospital passou o dia todo lotado. Não me lembro de um dia de trabalho tão atarefado. No final do dia, a Meg estava mil vezes mais casada do que eu. Acho que o meu bom humor estava tão grande, que seria difícil que algo me abatesse.

- Meu Deus, eu não aguento mais ouvir choro de criança. – Meg resmungou ao entrar na minha sala.
- Está brincando? Você não viu o homem que devia ter mais de 2 metros que desmaiou aqui nessa cadeira hoje. – Eu disse, enquanto guardava as vacinas e seringas em seus devidos lugares.
- Uma mulher também passou mal na minha sala hoje. – Meg negou com a cabeça.
- Eu não sei quantas vezes eu tive que sair dessa sala hoje pra ir buscar mais seringas. – Eu fiz careta.
- Eu também! Hoje foi uma loucura. – Meg concordou comigo.
- Foi mesmo, mas agora vamos ter o nosso devido descanso, certo? – Eu disse, tirando o meu jaleco. Meg fez o mesmo.
- Finalmente! – Meg fez uma rápida comemoração. – Vamos logo que eu te levo. – Meg disse, colocando o seu jaleco em um dos ganchos atrás da porta da sala.
- Olha, eu acho que vou de taxi hoje. Você já me leva todos os dias pra casa e isso não é justo. Antes nós revisávamos e agora nem isso. – Eu não era tão cara de pau. Ela não é a minha motorista particular.
- Deixa de ser boba. – Meg fez careta pra mim. – Eu vou te levar sim e acho que vou aproveitar para passa na casa do Mark. Faz tempo que não falo com ele. – Meg explicou-se, abrindo a porta da sala.
- Está bem. Eu vou só pegar a minha... – Eu andei até a mesa onde eu havia deixado a minha bolsa e a encontrei aberta. Havia um envelope sobre ela. – O que é isso? – Eu estranhei. Não me lembrava de ter deixado envelope algum ali em cima.
- O que foi? – Meg afastou-se da porta e se aproximou de mim para saber do que se tratava.
- Eu não sei. Estava em cima da minha bolsa. – Eu disse, abrindo o envelope com cuidado. Meg manteve-se ao meu lado, esperando para saber o que estava escrito lá.
- O que está escrito ai? – Meg me olhou, esperando que eu dissesse.

‘Hey, .

Eu tenho uma surpresa pra você. Venha me encontrar.

Com amor,

.’


- É do . – Eu disse com um sorriso enorme no rosto. Eu reli umas 5 vezes para ter certeza que não era uma brincadeira.
- O esteve aqui? – Meg arqueou uma das sobrancelhas.
- Eu não vi também. – Eu ergui os ombros. – Ele quer se encontrar comigo. – Eu deixei de olhar o papel em minha frente para olhar para Meg.
- Chocante. – Meg fez cara de tédio. – Você está indo pra casa. Ele não podia esperar você chegar lá? – Ela abriu os braços.
- Não é na minha casa que ele quer me encontrar. Tem um endereço aqui embaixo. – Eu mostrei o papel em minhas mãos.
- Surpresa, né? – Meg me olhou com desconfiança, depois de ler e me devolver o papel. – Sei bem a surpresa que ele vai te dar. – Ela sorriu, maliciosa.
- Não é nada disso, engraçadinha. – Eu rolei os olhos e mostrei a língua pra ela.
- Vamos. Eu te deixo lá. – Meg apontou com a cabeça em direção a porta.
- Tem certeza? Você sabe onde é? – Eu perguntei, pegando apressadamente a minha bolsa e indo atrás dela.
- É aqui perto. – Meg afirmou, me esperando do lado de fora da sala.
- Legal. – Eu a acompanhei em direção a saída do hospital.

sempre foi cheio de surpresas. Quando nós namorávamos, ele sempre aparecia com um presente inesperado ou me levava pra lugares que eu nunca sabia onde eram. Ele conseguiu me pegar de novo! Da forma que eu venho me sentindo com relação a ele nas últimas semanas, é completamente impossível recusar um convite como esse. Eu ficava empolgadíssima toda vez que eu me dava conta de que estava acontecendo de novo. Estávamos agindo como antes! Durante o caminho, eu perdi as contas de quantas vezes eu reli aquele bilhete. Nunca foi tão bom ter ele me chamando de . Até mesmo o perfume dele estava impregnado naquele bilhete.

- É aqui? – Meg parou o carro em frente a um prédio, que devia ter no máximo 3 andares. As luzes dele estavam todas acesas, mas ele parecia vazio. – Deixa eu ver o endereço. – Ela pediu o papel e eu entreguei pra ela. – É aqui mesmo. Olha a placa. – Meg afirmou, apontando a cabeça em direção a placa que continha o nome da rua.
- É mesmo. – Eu disse, observando o prédio pela janela do carro.
- Parece que não tem ninguém. – Meg também analisou o prédio por um tempo.
- Ele deve estar lá dentro. – Eu afirmei. Confesso que o local me despertou ainda mais curiosidade sobre a surpresa.
- Vai mesmo entrar lá? – Meg me olhou.
- Ele está me esperando. – Eu disse, abrindo a porta do carro.
- Sexo em um prédio abandonado? Tenho que confessar que ele tem criatividade. – Meg mostrou-se impressionada.
- Cala a boca, Meg. – Eu a olhei, enquanto ria. – Não é tudo sobre sexo. – Eu afirmei.
- Ok. Tem amor e... toda aquela coisa fofa de.. Jonas. – Meg rolou os olhos.
- Você não presta. – Eu neguei a cabeça. – Posso deixar a bolsa no seu carro e você me leva amanhã na faculdade? Eu vou só levar o celular. – Eu disse, pegando o celular dentro da bolsa.
- É claro. Deixa ai. – Meg afirmou com a cabeça.
- Ok. Eu vou até lá. – Eu estiquei o meu corpo e beijei o rosto dela. – Obrigada pela carona. – Eu desci do carro e depois bati a porta.
- Não faça nada que eu não faria, hein! – Meg gritou através do vidro do carro.
- Não há nada que você não faria, Meg. – Eu abri os braços e eu a ouvi gargalhar.
- Esse é o meu lema, garota. – Meg piscou um dos olhos pra mim e em seguida acenou com uma das mãos, enquanto saia com o carro.

Sozinha em frente ao prédio, eu o observava atentamente. Eu me perguntava que tipo de surpresa estava me esperando lá dentro. Ainda não havia nenhum sinal do , que certamente estava escondido lá dentro pronto para me dar um susto. Olhei em volta e a rua me parecia pouco movimentada. O fluxo de pessoas e de carro era bem pouco. Com o bilhete que havia escrito nas mãos, eu confirmei mais uma vez para ter certeza de que era a rua e o número certo. Era naquele lugar mesmo. Com essa certeza eu comecei a dar pequenos passos em direção a entrada do prédio. Meu coração estava acelerado só em pensar que eu iria vê-lo a qualquer momento. Parei na porta do local e notei que ela estava encostada. Eu a empurrei lentamente e ela fez um ruído enorme.

- Droga... – Eu resmunguei, pois o barulhão que a porta fez anunciou a minha chegada. Eu queria chegar de surpresa. Olhei a minha volta e não encontrei nada demais. Aliás, não encontrei nada! O lugar estava completamente vazio. Olhei novamente com mais atenção, procurando qualquer sinal do . – ? – Eu chamei por ele, dando mais alguns passos e parando no meio do salão. – ? Qual é, aparece logo! – Eu sorri, pois tinha certeza que ele acabaria me assustando. Ele sempre fazia isso. Observei algumas portas que haviam em minha frente e do meu lado direito. – Se você me assustar, eu vou te matar! Estou avisando. – Eu gritei um pouco mais alto, olhando fixamente para uma das portas. Eu tinha certeza que ele estava escondido atrás de alguma delas. Dei poucos passos em direção a essa porta e parei imediatamente quando ouvi um barulho que parecia vir do andar de cima. – ? – Eu chamei por ele novamente, me afastando da porta e me aproximando da escada, que certamente me levaria para o segundo andar. – Você está ai em cima? – Eu gritei, olhando para o alto da escada, que devia ter uns 7 degraus. Eu novamente não tive resposta. Foi então que eu decidi subir para o andar de cima. Toquei o corrimão com uma das minhas mãos e comecei a subir os degraus. Meus olhos atentos tentavam enxergar qualquer coisa que estivesse no segundo andar, quando um barulho vindo da porta de entrada me fez parar. Eu levei um baita susto e olhei repentinamente para trás. A porta que antes eu havia deixado encostada, agora estava fechada. – ! Isso não tem graça. – Eu disse parada no meio da escada. De lá eu conseguia ter uma boa visão do andar de baixo e não consegui ver ninguém. Eu estava prestes a descer novamente os degraus, quando tudo ficou escuro. A energia havia sido desligada. O meu coração se acelerou mais do que nunca, mas dessa vez não era por causa do . – Não... – Eu neguei com a cabeça, sem saber se eu subia ou descia a escada.

Nos poucos segundos em que eu parei para pensar, a pior coisa me veio a mente. não sabia qual era a minha sala no hospital. Como ele pode ter entrado lá? O não conhecia quase nada em Nova York. Porque ele marcaria um encontro logo ali? O desespero tomou conta do meu corpo e da minha mente quando eu me dei conta de quem realmente poderia ter me enviado aquele bilhete. Quem mais me traria a um lugar tão deserto como aquele? Quem mais me induziria a ir em um lugar em que mais ninguém sabe onde eu estou? A velocidade da minha respiração triplicou e as minhas mãos começaram a tremer. Mesmo com todo o medo que eu sentia, eu tentava ser racional. Eu deveria ir até a porta de saída? Eu deveria correr para o andar de cima? Um barulho de passos que eu ouvi no primeiro andar me deu a resposta que eu precisava. Em meio ao escuro, eu subi as escadas com toda a velocidade que eu consegui. Não sei quem é essa pessoa que está querendo me matar, mas ela definitivamente estava ali.

Como ela mesma já havia dito, Meg foi até a casa do Mark. Ela finalmente conseguiu encontrá-lo em casa. Deixou o seu carro estacionado em frente a casa dele e arquitetou uma boa desculpa para dar a ele se caso ele perguntasse de mim. Ela não podia simplesmente dizer o que estava acontecendo entre mim e o . Mesmo que o Mark já desconfiasse.

- Você anda tão sumido! – Meg disse, depois de abraçar o amigo. – Como você ousa? – Ela deu um tapa fraco em suas costas.
- Me desculpa! – Mark terminou o abraço e olhou carinhosamente para a amiga. – Eu tenho andado muito ocupado. – Ele completou.
- Trabalhando bastante? – Meg deduziu, entrando na casa de Mark.
- Abandonei o trabalho. Estou procurando outra coisa. – Mark foi obrigado a mentir.
- É mesmo? Que bom. Você parecia odiar aquele trabalho. – Meg sentou-se no sofá da sala e Mark a acompanhou.
- Pois é. – Mark forçou um sorriso. – Mas e você? Como estão as coisas? – Ele mudou de assunto.
- Está tudo bem. Ainda sou estudante de medicina e ainda gosto de um cara que mora em outra cidade. – Meg disse, fazendo Mark rir.
- O não veio mais pra cá? – Mark perguntou, mostrando-se atencioso com os problemas da amiga.
- Não! – Meg fez careta. – Ele disse que não está tendo tempo por causa da faculdade, mas estou ciente de que posso acordar com um par de chifres qualquer dia desses. – Ela suspirou.
- Imagina. O é um cara super legal. Ele não faz esse tipo de coisa. - Mark tentou tirar aquela ideia maluca da cabeça da Meg.
- Não sei. – Meg fez careta, mostrando-se pensativa. – Acho que eu demoro um pouco pra confiar nas pessoas. – Ela explicou-se.
- Dê uma chance a ele. Ele merece e você também. – Mark sorriu para Meg, que sentiu vontade de lhe dar um abraço de urso.
- E você? Como você está lidando com tudo? – Meg apontou a cabeça na direção da minha casa.
- Eu estou bem. – Mark não hesitou ao afirmar.
- Você é tão bom que acaba fazendo mal pra você mesmo. – Meg negou com a cabeça, sorrindo fraco para o amigo.
- E qual a surpresa? – Mark ergueu os ombros. – Eu gosto dela e jamais vou desejar o mal dela. Seja com quem for. – Ele completou.
- Preciso arrumar uma amiguinha pra você. – Meg tentou animar um pouco o amigo.
- Não começa. – Mark sorriu e a fuzilou com os olhos.

já havia terminado as suas pesquisas e relatórios há alguns minutos. Ele guardou tudo quando deu o horário que eu geralmente chegava do trabalho. sentou-se no sofá e esperou que eu chegasse para nós resolvermos o que fazer e o que comer. Os minutos continuavam passando e a sua ansiedade e preocupação aumentavam cada vez mais. Esperou por meia-hora e então decidiu me ligar só para se certificar que estava tudo bem. Discou o meu número e o celular dava fora de área. O fato de não conseguir falar comigo fez com que ele ficasse mais tenso. Tentou me ligar novamente algumas outras vezes, mas não conseguiu retorno em nenhuma delas. Foi então que ele resolveu apelar para a Meg. Para ele, eu estava com ela.

- Espera um pouco. O meu celular está tocando. – Meg interrompeu a conversa para pegar o seu celular em sua bolsa. Olhou para o visor do celular e estranhou ao ver o nome de . – Porque o está me ligando? – Ela fez careta, antes de atender a ligação. – Errou de número, Jonas? – Meg fez cara feia pro Mark.
- Meg! Hey! Que bom que você atendeu. – suspirou mais aliviado.
- O que é isso, garoto? Está me estranhando? – Meg arqueou uma das sobrancelhas. Mark a observava com atenção.
- Se liga, Meg! – negou com a cabeça. – Me deixa falar com a um pouquinho? – Ele pediu.
- Como assim falar com a ? Está maluco? – Meg voltou a fazer careta.
- Deixa de ser chata! É rapidinho. – rolou os olhos. Meg adorava dificultar a sua vida.
- Olha, eu não sei que brincadeira é essa, mas ela é tão patética quanto você. – Meg suspirou demonstrando impaciência.
- Porque eu estaria brincando? – não estava entendendo qual era o problema.
- Porque a está com você e não comigo! – Meg disse, irritada.
- O que!? – A preocupação de triplicou instantaneamente.
- A não está comigo, Jonas! Ela foi se encontrar com você como você pediu no bilhete. – Meg irritou-se ainda mais por ter que repetir.
- Bilhete? Mas eu... – ia dizendo, quando a sua ficha finalmente caiu. Foi como uma bomba nuclear. – Não, não, não, não.... – Ele esbravejou, se responsabilizando por não ter ido atrás de mim antes.
- O que foi, Jonas? – Meg não estava entendendo absolutamente nada. Mark continuava acompanhando a conversa atentamente, mas não entendia muita coisa.
- Presta a atenção, Meg. – começou a falar, enquanto já foi pegando a sua carteira e a chave do carro. – Você tem alguma noção de onde seja esse lugar onde ela foi me encontrar? Qualquer coisa! – Ele saiu apressadamente da casa e correu em direção ao seu carro.
- Eu sei onde é! Fui eu que dei carona pra ela até lá. – Meg soube que o assunto era sério só pela mudança do tom de voz do .
- Ótimo. Me fala exatamente onde é! – agradeceu mentalmente. Isso facilitaria muito as coisas.
- Eu não me lembro do nome da rua agora, mas eu sei que fica 6 quarteirões antes do hospital. Na esquina tem uma farmácia. – Ela detalhou. – Eu a deixei em frente ao prédio branco. Devia ter uns 3 andares mais ou menos. – Meg achou que a informação serviria.
- Valeu, Meg. – guardou todas as informações na cabeça e desligou a ligação, saindo em disparada com o carro.
- Não entendi nada. – Meg encarou o celular, confusa.
- O que ele queria? – Mark olhou pra Meg, sério.
- Ele estava atrás da . – Meg tentava entender tudo. – Estranho, porque ela foi se encontrar com ele. – Ela completou.
- Ela não estava com ele? – Mark entrou em estado de alerta.
- Eu acho que não. Eu não entendo! O bilhete era dele. – Meg continuava tentando ligar os fatos.
- A recebeu um bilhete para se encontrar com o , mas o não sabia de nada? – Mark levantou-se do sofá.
- É! Estranho, né? – Meg acompanhou a sua mudança de comportamento repentina.
- Você sabe onde ela foi se encontrar com o ou com quem quer que seja? – Mark já sabia exatamente do que se tratava.
- Eu levei ela até lá. Era em um prédio que parecia abandonado. – Meg esforçou-se para se lembrar da fisionomia do local.
- Você disse 6 quarteirões antes do hospital, certo? – Mark disse, indo até a mesa e pegando a sua carteira e as chaves do carro.
- Disse. – Meg levantou-se do sofá. – Aonde você vai? – Ela abriu os braços.
- Eu preciso ir até lá e ver se está tudo bem. – Mark disse, indo em direção a porta da casa.
- Eu vou com você. – Meg não sabia do que se tratava, mas se estava relacionado a mim ela queria ir junto.
- Não! É melhor você ficar fora disso. – Mark disse, olhando para a amiga de longe. – Não se preocupa, ok? Pode ficar aqui se você quiser. Eu não pretendo demorar. – Ele saiu batendo a porta.
- Mark, espera... – Meg tentou intervir, mas parecia tarde demais. – Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – Ela suspirou, frustrada.

O segundo andar da casa parecia ser tão vazio quanto o primeiro. Em meio a respiração ofegante e a tremedeira, minhas mãos pegaram o meu celular em meu bolso. Usei ele para iluminar o local em minha volta e confirmar se havia alguém ali ou não. Não havia ninguém, mas o meu medo de ficar perto da escada fez com que eu me afastasse dela. Enquanto eu me afastava, ouvi novos passos que pareciam vir da mesma escada. Seja quem for, estava subindo. Sem pensar duas vezes, escolhi um dos corredores que estavam em minha frente e entrei aleatoriamente em uma das portas. Meus olhos estavam cheios de lágrimas, mas elas não escorriam pelos meus olhos. Apoiei as minhas costas em uma das paredes do cômodo em que eu havia entrado. O meu coração parecia que ia sair pela minha boca, mas eu tentava me manter racional. Voltei a pegar o meu celular e procurei desesperadamente o número do na minha lista de contatos. Eu precisava de ajuda. As minhas mãos trêmulas dificultaram a digitação do número dele. Levei o celular até o meu ouvido, enquanto tentava me acalmar. O meu choro veio a tona quando a minha última esperança parecia ter fracassado. O celular estava sem área de serviço.

- Não, por favor... – Eu sussurrei aos prantos, tentando ligar mais uma vez. Abaixei a minha cabeça, sem saber o que fazer. As lágrimas escorriam livremente pelo meu rosto, quando eu tive a ideia de tentar ligar para o Mark. As tentativas também foram fracassadas e inúteis. Eu estava sozinha ali e não havia ninguém que pudesse me ajudar. Usei novamente o meu celular para iluminar a minha volta e avistei um armário grande, uma mesa não muito grande de madeira e um sofá também grande.

As lágrimas continuavam escorrendo involuntariamente, enquanto eu chorava silenciosamente. Um alto estrondo me fez engolir repentinamente o choro para não fazer qualquer barulho. Os estrondos continuaram e eu me dei conta de que as portas dos cômodos estavam sendo abertas. Não sei quem é essa pessoa, mas ela estava me procurando em cada um dos quartos e a qualquer momento ela acabaria me encontrando. Eu queria gritar por socorro, mas ao mesmo tempo eu sabia que não podia. Não tem ninguém que pudesse ouvir os meus gritos. Mais alguns estrondos e eu tomei coragem para tomar uma atitude defensiva. Fechei silenciosamente a porta do cômodo que eu estava e comecei a empurrar tudo o que eu podia para trás da mesma porta para evitar que ela fosse aberta. O barulho dos móveis sendo arrastados foram ouvidos por quem quer que fosse e os estrondos pararam. Não era mais preciso me procurar. Quando eu terminei de arrastar a mesa de madeira e a empurrei contra a porta, a maçaneta da porta começou a fazer barulho, demonstrando que alguém do outro lado estava tentando abrir a porta. Minhas mãos além de tremerem, também soavam frio. O medo vinha rasgando por dentro tirando toda a esperança, coragem e sanidade que me restava.

- Não... – Eu disse aos prantos, dando pequenos passos para trás para me afastar da porta, que tremia como nunca. – PARA! ME DEIXA EM PAZ! – Eu gritei contra a porta e isso só fez aumentar os socos dados na porta. Meu rosto estava coberto de lágrimas e o espaço havia acabado. Minhas costas encostaram-se na parede e eu deslizei o meu corpo até o chão, levando minhas mãos até o meu rosto. – POR FAVOR, PARA! – Eu tentei gritar novamente, mas eu não parecia ter mais forças para isso. – Por favor.. – Eu disse, sendo interrompida pelo meu choro. Meus olhos já embaçados com tantas lágrimas observavam os móveis dando espaço para que a porta fosse aberta.

Os semáforos e radares das avenidas principais não impediram que dirigisse o mais rápido que ele pudesse. Ele estava cego de preocupação e não conseguia parar de pensar que algo pudesse ter acontecido comigo. Ele não conseguia parar de pensar no pior e o nó em sua garganta só aumentava. Mark também estava a caminho, mas ele estava fazendo um trajeto diferente. Como ele conhecia muito bem a cidade, ele conhecia muitos atalhos que o ajudaria a chegar lá mais rápido. A farmácia foi a principal referência de , que acabou se perdendo nos quarteirões próximos ao hospital. Quando chegou na rua, ele não teve dúvidas quanto ao prédio. Era o único naquela rua e parecia abandonado como Meg havia mencionado.

- É aqui. – parou o carro em frente ao prédio e saiu em disparada de dentro do seu carro, deixando janelas abertas e portas destrancadas. Chegou na porta e se surpreendeu ao notar que ela estava trancada. – DROGA! – Ele esbravejou, esmurrando a porta. Ele estava surtado por não conseguir entrar. Outro carro estacionou em frente ao prédio e o barulho da porta batendo chamou a sua atenção, fazendo-o olhar para trás. Mark veio correndo ao seu encontro.

- Está trancada? – Mark perguntou, vendo parado em frente a porta.
- Não! Estou aqui fora tomando um ar. – ironizou com cara de poucos amigos, esmurrando novamente a porta. Mark nem se importou com a ironia e afastou-se da porta, indo até uma das janelas. Tentou enxergar qualquer coisa dentro da casa, mas era impossível. Estava tudo escuro. – EU PRECISO ENTRAR! MERDA! – afirmou, tentando arrombar a porta.
- Espera. – Mark teve a melhor ideia da noite. Tirou o seu agasalho e o enrolou em uma de suas mãos. Protegeu o seu rosto antes de esmurrar o vidro da janela, fazendo-o quebrar por inteiro. Tirou os vidros que sobraram nos cantos da janela. – Dá pra entrar por aqui. – Ele afirmou antes adentrar a janela que não ficava tão longe do chão.

Eu já estava certa que o pior aconteceria. Os móveis já não conseguiam controlar a porta, quando a porta parou repentinamente de ser socada. Os móveis pararam de ser empurrados e um silêncio assustador se estabeleceu. A esperança repentina fez o meu choro desesperador cessar. Eu não me movi, pois ainda não me sentia segura para me aproximar da porta. Eu achava que aquela pessoa poderia voltar a qualquer momento e eu não queria ser pega desprevenida.

- Fica aqui. Eu vou achá-la e trago ela até você. – Mark afirmou, tirando uma pequena lanterna de dentro de um de seus bolsos.
- Vai se ferrar, Mark. – o olhou com desprezo. – Pode guardar o uniforme de super-herói. Não fica bem em você. – Ele disse, afastando-se de Mark e pegando a lanterna do seu celular para conseguir enxergar em meio aquela escuridão.
- Isso é perigoso. – Mark insistiu, puxando um dos braços do .
- Não brinca! – olhou para a mão de Mark, que ainda segurava o seu braço. Virou-se novamente de costas e o Mark voltou a impedi-lo.
- Eu estou falando sério, droga! – Mark irritou-se com a ignorância de .
- Me deixe ser claro sobre uma coisa, Mark. – o enfrentou sem qualquer receio. – Nada no mundo vai me impedir de tentar salvá-la e esse nada inclui você. Não importa as consequências. – Ele foi extremamente objetivo. - Então, sai da minha frente. – deu-lhe um fraco empurrão. Sua intenção agora não era brigar.

Mark resolveu deixar o de lado. Se ele queria ser teimoso, não era ele que ia convencê-lo a ser diferente. Ignorou a presença de e resolveu focar no que havia lhe trazido até ali. Como o já vasculhava o primeiro andar, Mark resolveu checar os andares de cima. Subiu as escadas com passos silenciosos. entrava em todas as portas que encontrava pela frente sem qualquer receio. O único medo que o sentia era o medo de ser tarde demais.

- ! – gritou, esperando qualquer resposta minha. Foi inútil.

Mark era extremamente cuidadoso com cada atitude. Chegou no segundo andar e observou os dois corredores, que pareciam vazios. Ele deu poucos passos em direção a um dos corredores com a intenção de entrar em cada um daqueles cômodos, mas um ruído que veio do andar de cima lhe chamou atenção. Mark não hesitou em abandonar o segundo andar e subir para o terceiro o mais rápido possível.

Alguns minutos já haviam se passado e a porta em minha frente ainda continuava intacta. Não houve mais socos ou qualquer barulho que me fizesse ter certeza de que havia alguém atrás dela. Me levantei lentamente do chão e encarei a porta por mais algum tempo. Eu sabia que o ideal seria aproveitar a deixa e sair daquele quarto onde eu estava completamente encurralada, mas o medo de que ainda houvesse alguém lá fora me esperando sair me desencorajava.

- ! – chamou novamente pelo meu nome, depois de revirar todos os cômodos daquele andar. Queria ter certeza que eu não estava ali para poder vasculhar o segundo andar.

A cada cômodo que o vasculhava e não me encontrava, ele ficava ainda mais apreensivo e desesperado. O seu corpo parecia estar completamente gelado e o coração ficava cada vez mais apertado. Com a ajuda da lanterna do seu celular, ele abandonou o primeiro andar e subiu minuciosamente a escada em direção ao segundo andar.

- Vamos, . Não faz isso comigo. – sussurrou, temendo pelo pior. Ele chegou no segundo andar e observou os dois corredores em sua frente. As diversas portas o assustavam, mas também davam a ele esperança. Talvez eu estivesse escondida atrás de uma delas, certo?

Mark tinha certeza que havia alguém ali no terceiro andar, porém o lugar amplo que mais parecia um labirinto dificultaria as coisas pra ele. Sem saber por onde começar, Mark começou a abrir as portas que apareciam no seu caminho. Os ruídos feitos por ele no andar de cima, me fizeram deduzir que a pessoa que havia me encurralado ali estava no terceiro andar. Isso me deu forças para ser corajosa novamente. Comecei a tirar rapidamente e desesperadamente os móveis detrás da porta, que agora me impediam de sair do quarto.

- Tem que dar tempo. – Eu sussurrei, arrastando com dificuldade o sofá para longe da porta. Eu tinha que conseguir chegar no andar debaixo e dar um jeito de sair daquele lugar. Era a minha única chance.

Depois de muito esforço, consegui tirar todos os móveis que eu havia colocado em frente da porta e consegui abri-la. Sai do cômodo e com a ajuda do celular, consegui ver que o corredor estava vazio. Eu tentava tomar coragem para continuar com aquilo. O meu medo de ser surpreendida por quem quer que seja no meio do corredor ou na escada fazia as minhas pernas bambearem. Novos barulhos vindos do andar de cima me incentivaram a seguir com o meu plano de sobrevivência. No corredor ao lado, mantinha-se silencioso, enquanto entrava em cada um dos cômodos. O coração dele quase parou, quando ele ouviu diversos passos que vinham de um lugar próximo. Os passos o fizeram sair do cômodo que estava e voltar para o corredor para tentar saber de onde vinha o barulho. Os passos que ele ouviu foram os que eu dei para correr desesperadamente até as escadas que me levariam de volta para o primeiro andar. Cheguei na escada e comecei a descer os degraus.

- ! – gritou novamente com a esperança de que aqueles passos fossem meus. A voz dele me fez parar no meio da escada e soltar um suspiro de alívio.
- ? – A minha respiração parou por poucos segundos e a necessidade de vê-lo tomou conta de mim. Eu precisava vê-lo para que o meu coração voltasse a se acalmar. Ouvir a minha voz fez qualquer sentimento ruim desaparecer. O sorriso ainda tenso que acabou dando sem nem perceber descreveu o tamanho de seu alívio.
- Onde você está? – gritou, esperando que eu respondesse para que ele pudesse ir até mim.
- Eu estou aqui! – Eu gritei de volta, subindo todos os degraus que eu já havia descido. O grito foi tão alto que Mark conseguiu ouvir do terceiro andar. começou a andar apressadamente em direção a saída do corredor. Quando voltei para o segundo andar, eu consegui ver a luz que vinha da lanterna do celular do e logo em seguida, eu consegui vê-lo. Foi o maior alivio da minha vida. Minha primeira e única reação foi correr para os braços dele. Os braços dele me recepcionaram e me aconchegaram como nunca. Passei meus braços em volta do corpo dele e o apertei o mais forte que eu consegui.



- Graças a Deus. – suspirou, passando uma de suas mãos pelo meu cabelo e a descendo para as minhas costas. Seus olhos se fecharam por poucos segundos, apreciando o fato de eu estar em seus braços de novo.
- A pessoa que está tentando me matar... – Eu disse próximo ao seu ouvido, pois eu não conseguia soltá-lo. – Ela está aqui, . Está aqui! – Eu disse, sentindo o desespero voltar a tomar conta de mim.
- Está tudo bem. – sussurrou, me abraçando ainda mais forte.
- Essa pessoa... – Eu disse, sentindo o meu choro voltar a tomar o controle total de mim. – Ela vai conseguir, . Ela... vai conseguir me matar. – Eu disse com a minha voz completamente embargada. As minhas palavras de desespero despertou nele a necessidade de me acalmar.
- Shhh, está tudo bem agora. – também sofria com o meu medo e desespero. Ele entrelaçou os seus dedos em meu cabelo e beijou carinhosamente o lado esquerdo da minha cabeça. – Eu estou aqui agora. Eu estou aqui. – Ele terminou o abraço para poder enxergar o meu rosto. Seus dedos foram imediatamente secar as lágrimas espalhadas pelo meu rosto. – Não vou deixar nada te acontecer. Eu prometo. – afirmou, me olhando nos olhos. – Você acredita em mim? – Ele perguntou, vendo que eu me acalmava.
- Acredito. – Eu afirmei com a cabeça, enquanto me esforçava para cessar o meu choro.
- Nada vai te acontecer. – repetiu e depois de confirmar que não havia mais lágrimas em meu rosto, voltou a me abraçar só para poder me ter em seus braços de novo. – Eu sinto muito ter demorado tanto pra vir aqui. Me desculpa. – Ele sentiu-se culpado por ter demorado tanto.
- Eu estou tão feliz por você estar aqui. – Eu fechei os meus olhos para senti-lo e para tentar me acalmar ainda mais. Quando voltei a abrir os olhos, me surpreendi ao ver o Mark. – Mark? – Eu disse, surpresa com a presença dele. Terminei o abraço com o para poder falar com ele.
- Você está bem? – Mark me olhou da cabeça aos pés para certificar-se de que eu não estava machucada.
- Eu... estou bem agora. – Eu sorri fraco, comovida com toda a preocupação estampada em seu rosto. Logo atrás de mim, observava a cena com uma cara de poucos amigos.
- Que bom. – Mark devolveu o sorriso, sentindo um alívio absurdo. – Eu fico muito feliz. – Ele completou.
- Então, vamos dar o fora daqui. – quis interromper a conversa de qualquer forma.
- Sim, por favor. – Eu não achei uma má ideia.
- Podem ir. Eu vou dar uma olhada no terceiro andar. – Mark disse e apontou a cabeça em direção a escada.
- Não! – Eu o repreendi imediatamente.
- Eu tenho que ir! Seja quem for que esteja fazendo isso, está lá em cima. – Mark afirmou com certeza.
- Não importa! É muito perigoso! – Eu disse extremamente séria.
- Se essa pessoa não for pega, ela não vai parar! Eu não vou permitir isso. – Mark manteve-se irredutível.
- Não! Você não vai! – Eu reafirmei com autoridade. – Nós resolvemos isso depois. Eu prefiro deixar essa pessoa a solta do que correr o risco de te perder. – Eu neguei com a cabeça. A minha frase fez rolar os olhos.
- Eu sei me cuidar, . Eu vou ficar bem. – Mark afirmou, tentando me tranquilizar.
- Por favor, Mark. – Eu voltei a negar com a cabeça, enquanto o olhava com uma certa apelação. – Vamos embora. – Eu pedi a ele e ele conseguiu perceber o tamanho da minha preocupação.
- Vamos ou não? – nos apressou, querendo acabar com aquela cena que estava lhe tirando do sério.
- Está bem. – Mark suspirou, cedendo ao meu pedido. – Vamos. – Ele sabia que eu já havia passado por muita coisa naquela noite e não queria me dar mais motivos para me preocupar.
- Vamos. – Eu sorri como forma de agradecimento e me virei para . Ele virou-se de costas pra mim e foi em direção a escada que nos levaria ao segundo andar. Eu fui logo atrás dele e o Mark veio atrás de mim.

Nós descemos as escadas e os garotos pareciam incomodados com alguma coisa. Mark não queria ter que ir embora sem antes descobrir quem estava fazendo tudo aquilo comigo e estava irritado pelo simples fato do Mark estar ali. não gostava do tipo de conversa que eu e o Mark sempre tínhamos. Ele odiava quando demonstrávamos que nos importávamos um com o outro.

Nós saímos do lugar pelo mesmo lugar por onde eles entraram. Quando eu cheguei do lado de fora do prédio eu nem conseguia acreditar. Por alguns minutos eu achei que eu não sairia viva de lá.

- Eu... não quero passar na frente desse lugar nunca mais. – Eu suspirei, enquanto andávamos em direção ao carro. Eu não me atrevi a olhar pra trás.
- Você conseguiu ver quem era? – virou o seu rosto para me olhar. Nós paramos entre o carro dele e o do Mark.
- Não. Eu... – Eu neguei com a cabeça. – Eu consegui correr e me esconder em um dos quartos. Eu só conseguia ouvir ou passos e... os socos na porta. – Eu cruzei os braços e tentei não demonstrar que esse provavelmente será o maior trauma de toda a minha vida.
- Socos? – Mark interessou-se no assunto.
- Sim. Teve uma hora que ele ou ela me encurralou em um dos quartos. Eu coloquei algumas coisas atrás da porta pra evitar que entrassem e foi então que... ele, eu acho... começou a dar socos tão fortes, que eu achei que a porta acabaria sendo derrubada. – Eu expliquei com um pouco de dificuldade.
- Então, você acha que é um homem? – Mark não sabia se havia entendido corretamente.
- Pela força... sim. – Eu disse, afirmando com a cabeça.
- Ótimo. – ergueu as sobrancelhas e negou com a cabeça.
- Eu só não consigo entender uma coisa. Porque aqui? – Eu perguntei, olhando para o prédio que não me dizia absolutamente nada.
- Você não reconhece esse prédio? – Mark me olhou, sério. A sua pergunta me fez deduzir que ela sabia de alguma coisa.
- Não! Porque está me perguntando isso? – Eu disse, esperando que ele dissesse mais alguma coisa.
- Por que... – Mark não sabia como dizer. – Aqui foi a primeira sede da empresa da sua tia Janice. – Ele completou a informação.
- O que!? – A minha primeira reação foi de surpresa.
- Como você sabe disso, James Bond? – arqueou uma das sobrancelhas, enquanto demonstrava desconfiança.
- Quando ela se mudou daqui pra nova sede no centro da cidade, eu a ajudei na mudança. Minha mãe também ajudou e mais alguns outros vizinhos e amigos dela. Eu acho até que o seu pai ajudou. – Mark respondeu a pergunta do olhando pra mim.
- Uau! Isso fica cada vez melhor. – Tinham tantas evidências e tantas coisas acontecendo, mas eu não conseguia ligar uma coisa a outra. – Então, esse maluco que está tentando me matar sabe onde eu moro, onde eu trabalho, provavelmente sabe onde eu estudo e agora ele também sabe coisas da minha família que nem mesmo eu sei. – Eu detalhei alguns fatos que só faziam a minha situação parecer ainda pior.
- Não é possível! Como esse cara pode saber tudo isso e nós não sabermos quem ele é? – não conseguia se conformar.
- É alguém bem próximo a sua família, . – Mark me olhou. – E pra infelicidade do , não sou eu. – Ele sorriu com ironia para o , certo de que os fatos de hoje deixaram claro que ele não tinha envolvimento algum com as ameaças que eu andava sofrendo.
- Eu não sei quem é esse cara, mas eu sei que ele é bom. Você é patético, Mark! Foi só por isso que você saiu da minha lista de suspeitos. Só por isso! – respondeu de prontidão.
- Lista de suspeitos? – Mark abriu os braços. – Quem mais está na sua lista de suspeitos? Outro ex-namorado da , talvez? – Ele provocou.
- Achei que estávamos falando da lista de suspeitos e não da de fracassados. – sorriu, pois havia adorado dizer aquilo.
- Ok, esperem. – Eu tentei intervir, mas eu parecia estar falando sozinha.
- Sabe o que eu não entendo? Se eu sou tão ruim quanto você diz, porque você começa a surtar todas as vezes que me vê perto dela? Faz parte da sua personalidade de macho-alfa ou é só insegurança? – Mark foi um pouco mais ousado do que costumava ser e naquele momento eu soube que a coisa ficaria séria.
- Te ver perto dela não me traz insegurança. Na verdade, me traz confiança. Você é o oposto de mim e coincidentemente é o oposto do que ela quer e gosta. – revidou sem deixar que o seu lado vulnerável fosse exposto.
- E como você retribui? Fazendo ela sofrer? Sendo responsável por tudo de ruim que tem acontecido na vida dela? – Quando Mark terminou a frase, eu tive que fazer a primeira intervenção, pois demonstrou que queria levar a briga para outro nível.
- Não façam isso agora. – Eu fiz dar alguns passos pra trás.
- O que você quer dizer? – o fuzilou com os olhos.
- Você sabe tudo isso só está acontecendo porque você está aqui! – Mark finalmente disse o que tanto queria dizer desde que ficou sabendo das ameaças.
- CALA ESSA BOCA! – ficou possesso naquele momento. Era inaceitável pra ele que alguém pensasse que ele colaboraria com alguma coisa que me fizesse mal.
- A única coisa que nós sabemos desse cara que está tentando matar a é que ele quer te ver longe dela. Essa foi a única exigência que ele fez pra deixá-la em paz! Se você se importa com ela, eu não sei o que você ainda está fazendo aqui. – Mark começou a jogar verdades na cara de , que o acertaram em cheio.
- Quem garante que ele iria cumprir a sua palavra? Quem garante que ele deixaria ela em paz se eu fosse embora? Você? Você cuidaria dela? – sorriu e negou com a cabeça. – Aposto que iria, certo? Acontece que eu não confio em você. Então, sim! Eu prefiro ficar e fazer tudo o que eu posso pra protegê-la. Porque é isso o que eu faço! É isso o que eu sempre fiz e não é você que vai dizer se está certo ou não. – afirmou com toda a sua fúria. Eu ainda estava entre eles, mas eu não precisei intervir, pois a discussão verbal parecia ser o que eles queriam. Eles precisavam passar alguns assuntos a limpo.
- Protegê-la? Protegê-la de algo que você mesmo causou? Isso faz você se sentir melhor? Aposto que consegue dormir a noite por causa disso, não é? – Mark negou com a cabeça achando o que havia escutado o maior absurdo de todos.
- Já chega. – Eu disse antes que o Mark respondesse qualquer coisa. – Me espera no carro, por favor. Eu já vou. – Eu olhei pro e ele pareceu não gostar.
- Presta a atenção. – fuzilou Mark com os olhos. – Fica fora disso! Isso só diz respeito a mim e a ela. – Ele disse em tom de ordem. – E não se preocupe em protegê-la. Ela já tem a mim, não precisa de você. – fez questão de dizer aquilo olhando nos olhos do Mark. Depois, ele me olhou e virou-se de costas, indo até o seu carro.
- Desculpe por isso. Eu sei que o seu dia já... – Mark tentou ignorar as palavras de , mas foi difícil disfarçar o quanto elas o machucaram.
- Tudo bem. – Eu afirmei, negando com a cabeça. – Vai pra casa e esfria a cabeça. – Eu completei e o vi deixar de me olhar para abaixar a sua cabeça e encarar o chão.
- Ok. – Mark afirmou, parecendo chateado. Vê-lo daquele jeito me fez ficar extremamente mal. Afinal de contas, ele estava ali por minha causa.
- Ei. – Eu dei alguns passos em sua direção e ele levantou a cabeça, mas não me olhou. – Mark. – Eu chamei o seu nome e consegui fazer com que ele voltasse a me olhar. – Obrigada. – Eu disse em meio a um fraco sorriso. Ele retribuiu com o melhor sorriso que conseguiu dar. Eu me aproximei e o abracei. – Obrigada por vir até aqui por mim. – Eu agradeci novamente, enquanto continuava abraçando-o. Comigo em seus braços, Mark tinha cada vez mais certeza do que ainda sentia por mim.
- Você vale a pena. – Mark sussurrou antes de terminar o abraço. A sua frase me fez querer abraçá-lo outras 20 vezes. O carinho que ele sentia por mim era exposto a cada olhar e a cada palavra que saia de sua boca. Isso era o que mais me fascinava nele.
- Te vejo por ai. – Eu pisquei um dos olhos pra ele e vi um discreto sorriso surgir no canto de seu rosto.
- Se cuida. – Mark começou a se afastar para evitar mais constrangimentos. Ele não tinha controle sobre si mesmo quando se tratava de mim.

Parada no meio da calçada, eu observei o Mark se afastar. Ele entrou em seu carro e para evitar me ver ir embora com o , ele apenas ligou o seu carro e foi embora. Do seu carro, viu toda a cena protagonizada por mim e pelo Mark. Ele odiava perceber o carinho que eu tinha pelo Mark. Ele odiava saber que eu me importava com o Mark. Isso o deixava extremamente irritado, pois fazia com que não se sentisse o suficiente. manteve-se em silêncio quando eu entrei no carro. A sua intenção não era começar uma briga. Ele apenas ligou o carro e saiu.

- Eu ainda não acredito que tudo isso aconteceu. – Eu disse, olhando através da janela. Os momentos de pânico ainda estavam presentes na minha cabeça.
- Isso não podia ter acontecido. – negou com a cabeça, mas manteve os seus olhos e a sua atenção no trânsito. – Por pouco você... – Ele preferiu não completar a frase.
- Eu sei. – Eu concordei com ele. – Eu nem sei como deixei isso acontecer. Eu não sei no que eu estava pensando quando eu resolvi entrar naquele lugar. – Eu me sentia completamente culpada pelo que havia acontecido.
- Você não viu que o lugar era abandonado? – perguntou friamente.
- Eu vi, mas eu achei que... – Eu ergui os ombros, sem saber como me explicar.
- Achou que eu estava lá? Achou mesmo que eu estava lá? – me olhou e parecia estar impaciente.
- Eu achei! O bilhete foi escrito com uma letra muito parecida com a sua. Parecia mesmo um bilhete seu. – Eu justifiquei, estranhando o seu comportamento.
- A letra era parecida com a minha? – negou com a cabeça, usando o seu tom de julgamento.
- Qual o problema com você? – Eu o olhei, irritada. O que estava acontecendo com ele?
- Você realmente achou que eu escrevi aquele bilhete? Sério? – arqueou uma das sobrancelhas, me olhando como se eu fosse uma boba inocente.
- Porque não? Você já fez isso tantas vezes! Eu já te disse! O bilhete pareceu mesmo ser seu. No bilhete, você me chamava pra um encontro. Então, eu fui. – Eu não estava entendendo porque ele estava usando aquele tom e estava agindo friamente como se eu fosse uma garota inconsequente.
- E porque você achou que eu marcaria um encontro com você? – questionou, querendo saber por que eu achei que ele marcaria um encontro comigo, sendo que nós não tínhamos nada. A sua pergunta me pareceu extremamente ofensiva.
- É claro! Porque um cara como você marcaria um encontro com uma mera mortal como eu, certo? – A sua pergunta fez com que eu me sentisse uma completa idiota e me fez pensar que o que eu sentia não era reciproco como eu imaginava.
- Espera. Eu... – até tentou se justificar e voltar atrás, mas eu o interrompi.
- Foi tudo culpa minha! Eu fui idiota e inocente. Eu entendi! – Eu não queria mais conversar sobre o assunto. apenas suspirou como se estivesse de saco cheio.

O silêncio nos acompanhou até chegarmos em casa. Eu não sabia exatamente o que estava me deixando pior: me sentir ainda mais culpada por ter me colocado em perigo ou lidar com a realidade em que o que eu sentia pelo não era recíproco. Eu desci o carro e bati a porta. Passamos pelo Big Rob e só pelo nosso aceno forçado ele notou que não estávamos bem. Eu esperei que o destrancasse a porta e entrei na casa. entrou logo atrás de mim e em seguida, trancou novamente a porta. Ouvi a chave sendo jogada sobre a mesa, enquanto eu subia a escada em direção ao meu quarto.

- , espera. – pediu, me olhando subir os degraus.
- Eu não quero conversar, . – Eu respondi, sem olhá-lo. Continuei subindo a escada e o ignorei completamente.
- Droga. – suspirou, negando com a cabeça. Ele sabia que havia sido grosseiro e que o seu comportamento foi extremamente desnecessário. Na verdade, ele só estava tentando me punir por causa do meu comportamento diante da briga dele com o Mark.

Eu cheguei no meu quarto e apenas tentei não pensar naquilo. Pelo menos, não naquele dia. Tanta coisa havia acontecido e o meu dia tinha sido péssimo. Alguém tentou me matar! parecia ser o menor dos meus problemas agora, mas seria ótimo receber o apoio dele nesse momento. A coisa que eu mais queria era tomar um banho e tirar aquela coisa ruim que ainda parecia estar impregnada em mim. Peguei algumas roupas intimas no guarda-roupa e fui direto para o banheiro.

Ainda no andar de baixo e sentado no sofá, pensava nas coisas que Mark tinha lhe dito, que sendo ditas em voz alta pareciam fazer muito sentido. Agora também havia a culpa pelo que ele havia me dito, que pensando agora parecia tão desnecessário. A verdade é que o perdia a cabeça quando me via perto do Mark. No fundo, ele sabia que o problema não era o Mark e sim o que eu sentia em relação ao Mark. tinha medo de não ser o suficiente. Ele tinha medo de me ver ter com outra pessoa uma coisa que só nós tínhamos. Ele tinha medo que eu descobrisse que havia alguém que pudesse me amar mais do que ele amou e que pudesse cuidar de mim do jeito eu só ele fazia.

No banho, enquanto a água se espalhava pelo meu corpo, as lágrimas tomaram conta dos meus olhos. Eu fechava os olhos e ainda conseguia enxergar aquela porta sendo esmurrada. Fiquei algum tempo parada embaixo do chuveiro apenas esperando que água levasse todas aquelas lembranças ruins da minha mente. A água quente me fez ficar um pouco mais relaxada e também ajudou a disfarçar as poucas lágrimas que escorreram dos meus olhos. Confesso que cheguei a pensar se aquele não era o momento certo de desistir de tudo e contar aos meus pais o que estava acontecendo. As ameaças só pioravam e nem mesmo o conseguia fazê-las parar. Isso me preocupava demais.

Ao ouvir o chuveiro ser desligado, decidiu subir e me esperar no meu quarto. Ele precisava consertar as coisas ou não conseguiria dormir. Entrou em meu quarto e se sentou na beirada da minha cama, esperando eu voltar para o quarto. Eu acabei de me enxugar e vesti a minha calcinha e o meu sutiã. Eu estava tão avoada, que até tinha me esquecido de pegar o meu pijama. Fui obrigada a me enrolar na toalha para ir até o meu quarto, mas antes escovei os meus dentes, pois eu já pretendia ir dormir. Saí do banheiro e fui direto para o meu quarto, me deparando com o sentado na minha cama. Ele me olhou com uma certa chateação, deu um sorriso que parecia dizer ‘eu sou um idiota, né?’.

- Nós precisamos conversar. – disse, olhando discretamente para a toalha que cobria o meu corpo.
- Agora? – Eu abri os braços para que ele enxergasse a toalha enrolada ao meu corpo e entendesse que eu estava um pouco ocupada agora.
- É, agora. – afirmou sem se preocupar em ser inconveniente. Eu fui até o meu guarda-roupa para pegar o meu pijama. Ele me observou sem dizer nada.
- Dá pra você virar, por favor? – Eu olhei pra ele, segurando o meu pijama nas mãos.
- Eu preciso? Não tem nada ai que eu já não tenha visto. – disse em meio a um sorriso malicioso.
- Vira. – Eu me mantive séria, ignorando a sua gracinha.
- Ok. Ok! – virou-se de costas com uma tremenda má vontade. Vesti o meu pijama de frio e fui rapidamente até o espelho para pentear o meu cabelo. Me aproximei da cama e me sente nela, ficando de frente pro . Coloquei um edredom sobre a parte debaixo do meu corpo.
- E então? – Eu o olhei, séria.
- Você está brava comigo, né? – fez cara de lamentação.
- Eu não estou brava com você. Eu estou furiosa com você! – Eu afirmei, cerrando os olhos em sua direção.
- Eu sei. Eu... – negou com a cabeça. – Eu não deveria ter falado daquele jeito. – Ele completou.
- Eu sei que foi culpa minha. Eu sei que eu deveria ter sido mais esperta e não ter caído nesse tipo de armadilha patética, mas é que... – Eu ia dizendo, quando percebi que não sabia como continuar sem me comprometer. – Eu não sei o que aconteceu comigo. – Mentira! É claro que eu sabia o que havia acontecido comigo! Eu fiquei completamente cega quando achei que o queria se encontrar comigo. A minha euforia e vontade de estar de novo em um encontro com ele me deixou estupidamente cega.
- Para de se culpar. Como você saberia? – continuou me olhando com compreensão. Ele parecia me entender agora.
- Como? Talvez se eu caísse na real e parasse de idealizar coisas que não existem. – Eu deixei de olhá-lo, rolando os olhos. Eu queria mostrar a ele que eu já havia aceitado a realidade de que o que eu sentia não era correspondido por ele.
- A sua idealização pode não estar tão longe da realidade. – não queria dizer aquilo, mas sabia que era o que eu precisava ouvir para parar de me culpar. As suas palavras me fizeram olhar pra ele, me fazendo demonstrar surpresa.
- Eu sei que você está dizendo isso só pra que eu pare de me sentir tão idiota com tudo isso. – Eu disse, vendo ele me olhar com atenção.
- Sabe? – me perguntou, sério. A simples pergunta fez um clima estranho se estabelecer ali. A troca de olhares foi inevitável. Ele estava bem sério, mas os olhos me transmitiam uma calma e um sentimento que eu nem ao menos sabia dizer qual era. Durante a nossa troca de olhares, notou o quão sem graça eu fiquei e isso fez surgir lentamente um sorriso em seu rosto.
- Para com isso. – O sorriso dele me fez notar o quão boba eu estava sendo. Abaixei a minha cabeça porque esse era o único jeito de não me perder naquele sorriso maravilhoso que só ele tem.
- Olha, eu vou embora domingo, mas eu preciso saber se você vai ficar bem. Eu preciso saber que vai ficar mais esperta e que vai ser mais cuidadosa com tudo o que você faça. – pediu, voltando a ficar mais sério.
- Eu não posso prometer que vou ficar bem. – Eu disse e ele me lançou aquele seu olhar de preocupação.
- Porque não? – arqueou uma das sobrancelhas.
- Porque você vai embora. – Eu dei um fraco sorriso, que nem ao menos deixou os meus dentes a mostra.
- Não fala isso. – pediu, tentando esconder o quão aquilo havia deixado ele emocionalmente vulnerável. – Você é corajosa e é só por isso que eu vou conseguir ir embora. Eu sei que você é forte o bastante pra cuidar de si mesma. – Ele tentou me dar forças.
- É, mas se você não tivesse ido atrás de mim hoje... – Eu neguei a cabeça, querendo dizer que não teria conseguido sem ele.
- Se eu não aparecesse, eu tenho certeza de você daria um jeito de sair de lá. Você não desistiu. Você não se entregou em nenhum momento. Você foi corajosa para lutar por si mesma. – estava tentando me mostrar que eu não precisava dele. – Eu me orgulho da sua coragem. Eu me orgulho por você não ser fraca como as outras garotas por ai. – Ele conseguiu arrancar um sorriso de mim. – A sua força é a sua maior virtude. – disse, olhando atenciosamente para as detalhes do meu rosto. – Ok! É a sua segunda maior virtude. – Ele rolou os olhos com um sorriso malicioso nos lábios.
- Bobo! – Eu cerrei os olhos em sua direção, fingindo a minha indignação.
- Não, eu estou falando sério agora. – segurou o riso para poder falar mais seriamente. – Você vai se sair bem. Eu vou embora no domingo e as coisas vão melhorar. Você vai ver. – Ele sorriu fraco. Eu não demorei para notar que ele estava se referindo as coisas que o Mark havia dito pra ele.
- Você não acha que é o culpado de tudo, não é? – Eu perguntei me referindo as constantes ameaças que eu vinha sofrendo.
- O Mark estava certo, . – disse mais friamente. – Quanto mais eu tento te proteger, mais problemas eu causo. – Ele completou, deixando de me olhar e abaixando a cabeça. A sua atitude fez meu coração se apertar.
- Ei. – Eu levei a minha mão até uma das mãos dele que estava apoiada na cama. Ainda com a cabeça baixa, ele olhou para as nossas mãos e só então levantou o seu rosto pra me olhar. – Eu não queria que você tivesse feito nada diferente. – Depois de ouvir a minha frase, seus olhos novamente se abaixaram para encarar as nossas mãos, que ainda se tocavam. – Se você me pedisse pra escolher entre ficar longe de você e sofrer ameaças, eu escolheria as ameaças. – Ele voltou a olhar nos meus olhos quando eu terminei a frase. – Eu não vou dizer que não estou com medo, mas eu acho que nós somos mais fortes juntos. – Seus olhos acompanharam os movimentos da minha boca, enquanto eu falava. Ele segurou a minha mão que já tocava a sua, enquanto um fraco sorriso surgiu no canto do seu rosto.



As minhas palavras pareciam ser tudo o que o mais precisava ouvir no momento. Todos os sentimentos que ele se esforçou tanto para reprimir e esconder até de si mesmo nas últimas semanas vieram a tona de uma só vez. Era uma coisa tão forte, que tudo o que ele havia sentido por mim até hoje parecia extremamente insignificante. Os sentimentos voltaram e se amplificaram de forma inexplicável. Ele não achava que poderia me amar mais do que sempre amou.

- Eu não consigo entender como alguém pode querer fazer mal a você. – ainda segurava a minha mão.
- Bem, eu posso ser muito odiável quando eu quero. – Eu ergui os meus ombros, segurando um sorriso.
- Mas essa é a minha parte favorita. – também ergueu os ombros, me fazendo sorrir.
- Eu tenho que te agradecer. – Eu me dei conta de que ainda não havia agradecido ele pelo que ele havia feito por mim naquela noite. – Mesmo sendo perigoso, você não mediu esforços para me tirar daquele lugar horrível. – Deixei de olhá-lo para olhar novamente a mão dele segurando carinhosamente a minha.
- O que importa é que tudo acabou bem. – afirmou, me vendo observar nossas mãos.
- Você poderia ter se machucado. O que eu faria se algo acontecesse com você? – Voltei a olhá-lo um pouco mais séria, como se desaprovasse a sua inconsequência.
- Provavelmente... você ficaria com o Mark. – sorri, deixando clara a sua alfinetada e provocação.
- Hey! – Eu empurrei de leve um de seus ombros e ele riu sem emitir som.
- Eu disse que isso aconteceria se algo acontecesse comigo, mas como não aconteceu ele vai ficar chupando o dedo. – disse com autoridade e fui eu quem ri dessa vez.
- O fato de você ter sido o meu herói hoje não te dá o direito de ficar insinuando coisas sobre mim. – Eu fingi estar brava e ele voltou a achar graça.
- Eu fui o seu herói, mas foi o Mark que ganhou um abraço de agradecimento. – cerrou os olhos em minha direção. – E agora, hein? – Ele me desafiou.
- Você ficou com ciúmes! – Eu disse em meio aos risos.
- Eu não fiquei com ciúmes! – jamais assumiria. – Eu só achei que foi muito injusto. – Havia um ar de riso em suas frases. Ele falava sério, mas era impossível levá-lo a sério.
- Isso se chama ciúmes pra mim. – Eu insisti e ele fez careta.
- Quer saber? Eu não vou discutir com você, porque você passou por muita coisa e deve estar cansada. – desconversou e demonstrou que ia se levantar da cama. Como ele ainda segurava a minha mão, eu consegui puxá-lo e impedir que ele se levantasse.
- Espera. – Eu disse e ele me olhou, parecendo surpreso. Aproveitei que estávamos de mãos dadas para puxá-lo pra perto de mim e dar a ele o abraço que ele tanto queria. Ele sorriu, adorando a minha atitude. Eu adorava o jeito que os dedos dele sempre davam um jeito de se enroscarem nos meus fios de cabelo.
- Meu abraço de agradecimento. Finalmente! – disse, enquanto terminávamos o abraço. Mesmo depois do abraço, nos mantemos bem próximos.
- Não foi um abraço de agradecimento. Foi um abraço de boa noite. – Eu disse, olhando o seu rosto de bem perto. Não tenho certeza se ele ouviu o que eu disse, pois os olhos dele estavam fixos nos meus lábios. – Eu prefiro te agradecer no show de amanhã. – Minha frase fez com que ele voltasse a olhar nos meus olhos. – Amanhã. – Eu repeti e ele afirmou discretamente com a cabeça.
- Boa noite. – disse, sem coragem para se afastar.
- Boa noite. – Eu respondi e abaixei a minha cabeça para deixar de olhá-lo. Era o único jeito de evitar um beijo. Quando abaixei a minha cabeça, ele tomou coragem para se afastar e se levantar da cama.

Eu vi o se afastar, mas queria pedir para que ele voltasse. Ele nem sequer olhou pra trás, pois se olhasse não conseguiria sair do quarto. fechou a porta do quarto e ficou atrás dela um bom tempo, sem conseguir aceitar que tudo estava se repetindo. Não era possível que ele tivesse se apaixonado de novo. Quantas vezes isso vai acontecer? Quantas outras vezes ele vai ter que ver isso acontecer sem conseguir fazer nada a respeito? Os sentimentos dele nunca pareceram tão intensos e presentes.

Antes de chegar em seu quarto, parou no banheiro e escovou os seus dentes para dormir. Deitado em sua cama, ele não conseguia dormir. não conseguia administrar todos os seus sentimentos que nunca estiveram tão claros. Seu coração pedia que ele se entregasse de uma vez a todos aqueles sentimentos e as suas vontades, enquanto a sua razão lhe dizia que tudo seria em vão, já que ele iria embora no domingo. não sabia a quem dar ouvidos.

Ao contrário de , eu sabia exatamente quem escutar. Eu estava disposta a lidar com as futuras consequências que a minha decisão ocasionaria. Nunca pareceu tão certo e guardar isso dentro de mim me machucava mais do que qualquer consequência. Não importa se ele vai embora domingo ou amanhã. Eu preciso que ele saiba como eu me sinto e eu preciso ouvir que é recíproco. Eu sei que o momento certo para dizer isso a ele seria no show do dia seguinte. O nosso namoro começou a som de Nickelback. Quem sabe o recomeço dessa história também seja ao som de Nickelback?

Dormimos pouco, pois acordamos poucas horas depois para seguirmos aquela rotina que tanto adorávamos: tomar chocolate quente. Naquela madrugada, a nossa conversa foi mais descontraída. Eu não queria me precipitar, pois eu sabia que o momento certo de abrir novamente o meu coração para ele seria no show de amanhã (hoje, na verdade). Portanto, eu evitei assuntos e climas constrangedores. Nós falamos sobre algumas lembranças da época do ensino fundamental. Eu notei o esforço que o fazia para me distrair e me fazer rir. Ele certamente estava preocupado com o meu comportamento depois das coisas horríveis que aconteceram naquele dia. queria me fazer esquecer um pouco dos problemas que ele sabia que era responsável.

Acordei tão empolgada naquela manhã de quinta-feira, que só faltou eu dançar no meu caminho até o banheiro. Eu me olhava no espelho e repetia para mim mesma que seria um bom dia. Eu tomei um rápido banho, mas optei por lavar o meu cabelo somente antes de ir pro show. Fiz a minha higiene matinal e fui pro meu quarto me trocar. No caminho, eu notei que o já havia acordado. Ele se levantou logo depois que me ouviu entrar no banheiro. Depois que me ouviu sair do banheiro, foi até lá para tomar banho e fazer a sua higiene matinal. Quando eu terminei de me arrumar, peguei a minha bolsa e um trabalho que eu tinha entregar para um dos professores naquele dia.

- Bom dia. – Eu disse, descendo as escadas e vendo o sentado na mesa de jantar. Havia alguns pacotes de biscoitos abertos na mesa, leite em um copo e alguns papéis nas mãos dele.
- Bom dia. – respondeu ao me olhar por poucos segundos.
- Trabalhando? – Eu perguntei, observando ele ler atentamente vários papéis que estavam em suas mãos.
- Estou revisando algumas coisas. Eu tenho a penúltima reunião hoje. – explicou, voltando a me olhar. – Quer tomar café da manhã? – Ele perguntou.
- Claro. – Eu sorri fraco, me sentando em frente a ele na mesa. – Sabe, se você quiser eu posso ir de carro hoje pra você poder ficar estudando os seus relatórios. – Eu peguei um biscoito e coloquei um pouco de leite no meu copo.
- A minha reunião é durante a tarde. Dá tempo de eu te levar. Sem problemas. – estava mais sério do que o normal.
- Vamos fazer assim: você só me leva na faculdade. Depois que eu sair da aula, a Meg vai comigo pegar os ingressos do show na bilheteria. – Eu expliquei, pois realmente não queria dar trabalho para ele. Ele parecia bem preocupado com os relatórios que estavam em suas mãos.
- Depois vocês vão juntas pro hospital? – questionou.
- Na verdade, eu acho que vou pedir pra ela me trazer aqui em casa pra eu pegar o meu carro. Hoje eu vou sair um pouco mais cedo do hospital e não vou poder esperar ela para me trazer. – Eu disse e ele pareceu não concordar com a ideia.
- Você vai vir pra casa sozinha? – arqueou uma das sobrancelhas.
- Vou, mas eu vou estar com o carro. Não vai ter problemas. – Eu argumentei para convencê-lo.
- Eu acho melhor não. – insistiu em ser contra a ideia.
- O que aconteceu com aquela história de que eu sou forte e corajosa? Qual é! Eu consigo voltar sozinha do trabalho pra casa. – Eu disse e ele sorriu, rolando os olhos.
- Está bem, mas você vai me mandando mensagem de tudo o que está acontecendo. Quando você chegar no hospital, quando você sair do hospital e quando você chegar em casa. – impôs a condição.
- Sim, senhor! – Eu afirmei com a cabeça.
- Então, tudo bem. – concordou, mas ainda parecia não gostar da ideia.
- E até que horas vai a sua reunião? – Eu perguntei, pois queria ter uma noção de que horas nós poderíamos ir ao show.
- Eu não sei. Não tem um horário certo, mas acredito que não vá acabar tão cedo. – foi honesto, pois conhecia bem os gerentes do Yankees. Eles nunca têm pressa pra nada e os gerentes que vieram de fora eram ainda mais enrolados.
- Você acha que consegue chegar até as 6:30? – Eu fiz careta.
- Eu acho que não. – negou com a cabeça.
- O show começa ás 7:30. Seria bom se saíssemos daqui 6:30, porque eu acho que vai ter muita fila e vai ser difícil estacionar. – Eu disse, pensando em uma forma de resolver o nosso problema.
- Eu acho que vou me atrasar. – fez careta, lamentando-se.
- Ok. Já sei! Eu vou antes pra guardar os lugares e quando você sair da reunião, você vem aqui em casa se trocar e vai me encontrar lá. – Eu dei a ideia, que parecia boa.
- E como você vai até lá? – perguntou, confuso.
- Eu pego um taxi e ele me deixa lá na porta do show. – Eu logo arrumei uma solução.
- Sozinha de novo? – fez cara de desaprovação.
- Aquele lugar vai estar lotado, . Eu duvido que esse psicopata tente alguma coisa contra mim no meio de tanta gente. – Eu dei um jeito e arrumei desculpas e argumentos pra tudo. Nada estragaria o nosso show.
- Como você pode ser tão teimosa? – disse em tom de bronca.
- Eu não estou sendo teimosa. Você sabe que eu estou certa. O último lugar no mundo em que esse cara vai pensar em se aproximar de mim vai ser naquele show. Você sabe! – Eu disse em meio a risos.
- Ok! Ok! Eu sei que eu não vou conseguir te fazer mudar de ideia. – rolou os olhos, enquanto escondia um sorriso no canto do seu rosto.
- Legal! Então, eu vou pro show de taxi, guardo os lugares e quando você chegar da reunião, você se arruma e vai me encontrar lá no show. Eu vou deixar o seu ingresso aqui em cima da mesa. – Eu apontei pra mesa, onde nós tomávamos café.
- Ok, eu entendi. – afirmou em meio a um suspiro. – Agora pega as suas coisas ou você vai chegar atrasada. – Ele disse antes de se levantar da mesa.
- Vamos. – Eu disse, bebendo o último gole do meu leite.

A falta de empolgação do para o show era nítida, mas não era uma surpresa pra mim. Eu sabia que ele não gostava tanto da banda e que iria ao show só por causa de mim. A minha empolgação não cabia dentro de mim. Eu sabia que conseguiria fazer a ida dele ao show valer a pena. Antes de me deixar na faculdade, me lembrou de enviar as mensagens de texto para que ele soubesse que eu estava bem. Eu encontrei a Meg na sala de aula e me certifiquei se ela gostaria de ir comigo buscar os ingressos que eu havia comprado na internet. Ela disse que iria comigo e foi logo mudando para o assunto que tinha deixado ela tão curiosa na noite passada.

- Dá pra você me explicar o que aconteceu ontem a noite? Eu não entendi nada. – Meg estava ansiosa para saber.
- Você sabe? – Eu estranhei. Como ela sabia?
- O me ligou pra perguntar se você estava comigo. – Meg explicou, demonstrando estar confusa. – Você não foi se encontrar com ele? – Ele abriu os braços.
- Eu fui, mas... – Eu precisei de alguns segundos para pensar em uma desculpa convincente. – Ele acabou esquecendo, acredita? Me deixou lá esperando por ele um tempão. – Eu inventei na hora. – Eu acabei me perdendo lá dentro daquele lugar e a bateria do meu celular acabou. – Eu completei a mentira.
- Você está de brincadeira! Que imbecil! – Meg não conseguiu acreditar em tamanha sacanagem.
- Eu sei! – Eu concordei com ela. – Ele percebeu que eu estava demorando pra chegar em casa e só depois se deu conta que tinha marcado o encontro comigo. – Eu fingi estar furiosa ao falar dele.
- Mas que babaca! E como ele pode ter marcado um encontro com você em um lugar que ele nem conhecia? Quando ele me ligou, ele pediu o endereço. – Meg não estava completamente convencida com a minha história.
- Eu não entendi também! Ele nem conhece Nova York direito e no mínimo deve ter se confundido. – Eu rolei os olhos.
- , ele é oficialmente um babaca. – Meg estava abismada e irritada com o comportamento do .
- Isso não é novidade nenhuma pra mim. – Eu neguei com a cabeça, parecendo concordar com ela.
- E você ainda vai ao show com ele? – Meg perguntou, inconformada.
- Ontem ele me pediu milhões de desculpas e... acabou me convencendo. – Outra mentira! Foi inevitável.
- Cara, esse garoto deve ter jogado algum feitiço ou alguma macumba em você. Não é possível. – Meg não aceitava o fato de eu continuar obcecada por ele mesmo depois de tantas besteiras.
- É complicado. – Eu disse um pouco mais baixo e deixei de olhá-la, pois vi o professor entrando na sala.
- É mais do que complicado. É doentio esse amor de vocês. – Meg negou com a cabeça. Um sorriso acabou escapando, quando eu percebi que ela não estava mais me olhando.

As palavras da Meg não me afetaram nem um pouco. Ela não sabe de toda a verdade e não sabe o que eu e o vivemos. Ele não é só um cara que eu namorei no ensino médio. Nós temos uma história juntos que muitos não acreditariam que foi real. O nosso amor é real e nada pode me provar o contrário.

Eu estive presente nas aulas daquele dia, mas a minha cabeça estava em outro lugar. Eu estava pensando qual roupa eu vestiria para ir ao show e como eu arrumaria o meu cabelo. Eu pensava em como o se vestiria e no quão bonito ele com certeza estaria. Eu pensava no que eu deveria dizer a ele e o que parecia ser bobo demais para ser dito. Eu estava pensando nos detalhes e estava até mesmo construindo diálogos na minha cabeça.

A aula acabou e eu e a Meg saímos apressadas. Tínhamos que ser rápidas para dar tempo de irmos até a bilheteria do show e de ela me levar até a minha casa. Chegamos na bilheteria e a fila para comprar os ingressos estava mediana, mas não havia fila para retirar os ingressos, por isso, eu pude fazer tudo bem rápido. Apresentei os documentos necessários e peguei os ingressos.

- Não acredito que vou mesmo no show do Nickelback. Faz tempos que eu não vou. – Eu comentei com a Meg quando chegamos no carro.
- Até parece que toda essa ansiedade é só pra ver o Nickelback. Acha que me engana? – Meg sorriu maliciosamente.
- Nickelback é a minha banda favorita. É só isso. – Eu desconversei em meio a risos.
- Me engana que eu gosto, . – Meg nunca cansava de me sacanear.

Seguimos para a minha casa. Fiquei mais tranquila quando vi que o Big Rob estava lá. Eu falei pra Meg que ia comer um lanche antes de ir para o hospital e a convidei para me fazer companhia. Ela aceitou, mas antes a deixei ciente de que era um lanche bem simples mesmo. Meg não pareceu surpresa. Ela sabia que eu era uma péssima cozinheira. A casa estava vazia, o que quer dizer que o já tinha saído para a sua reunião. Nós fizemos o lanche na cozinha e o comeríamos na mesa de jantar. Aproveitei para enviar uma mensagem para o para avisar que estava tudo bem.

- Desculpa a bagunça, Meg. Nem deu tempo de tirar a mesa do café da manhã. – Eu disse, enquanto arrumava um espaço pra ela se sentar na mesa.
- Imagina, . Parece até que você nunca entrou no meu quarto. – Meg disse e nós duas rimos.
- A minha mãe me disse que vai mandar a faxineira hoje a tarde. – Eu disse, enquanto mordia o meu lanche.
- Ela manda uma faxineira de Atlantic City vir até aqui, né? – Meg lembrou-se de eu ter falado sobre o assunto algumas vezes.
- Sim. É a faxineira de confiança dela. Ela vem pra cá e volta no mesmo dia. Eu nunca a vejo aqui. – Eu expliquei.
- Que bom que você não tem que ouvir a sua mãe mandando você arrumar o seu quarto 10 vezes ao dia. – Meg rolou os olhos e eu voltei a rir.
- Você é que pensa. A minha mãe vive ligando pra saber se eu lavei a louça, se estou comendo, se estou fazendo as compras e mandando todas as contas pra ela. – Eu fiz careta.
- As mães são todas iguais. – Meg negou com a cabeça e eu fui obrigada a concordar com ela.

Terminamos de almoçar e nos apressamos para ir para o hospital. Engraçado o fato de a minha vida ser tão corrida. Eu estou sempre atrasada e estou sempre correndo pra lá e pra cá. Eu tranquei a porta e me despedi do Big Rob. Peguei o meu carro, a Meg pegou o dela e nós duas seguimos para o hospital. Chegamos lá em cima da hora. Meg foi direto pra sua sala e eu passei antes na sala do diretor geral para confirmar se eu poderia mesmo sair mais cedo naquele dia. Ele me autorizou a sair mais cedo e eu me apressei para ir trabalhar e não perder tempo.

Não sei se é porque eu estava ansiosa demais, mas o tempo pareceu demorar 3 vezes mais para passar. A cada vez que eu olhava no relógio, apenas 5 minutos haviam se passado desde que eu havia olhado o horário da última vez. Foi sufocante e desesperador. Quanto mais rápido eu queria que o tempo passasse, mais ele demorava a passar. Quando o relógio marcou 5 horas da tarde, eu demorei para acreditar.

Como o previsto, ainda estava em sua reunião com os gerentes e com o presidente do Yankees no Gramercy Park Hotel. Ele havia acabado de receber a minha terceira mensagem do dia, avisando que eu havia chegado em casa e isso o tranquilizou para continuar fazendo o seu trabalho. apresentava mais detalhadamente todas as estratégias e anúncios publicitários que ele e a sua empresa desenvolveram. Ele respondeu várias duvidas dos gerentes e também aceitou algumas sugestões que eles deram. Todos que viam apresentar e explicar tão detalhadamente as práticas publicitárias tão específicas e complexas achava que parecia ter a experiência de um publicitário de 10 anos de carreira. realmente havia nascido para isso.
- Oi, Big Rob. – Eu o cumprimentei ao sair do carro, já estacionado na garagem da minha casa.
- Boa tarde, . – Big Rob respondeu, simpático.
- Você vai ficar aqui o resto da tarde? – Eu queria saber para que eu pudesse me sentir mais segura.
- Sim, claro. – Big Rob afirmou daquele seu jeito sério.
- Legal. – Eu pisquei um dos olhos pra ele e ele quase deu um sorriso. Isso era muito.

Entrei na minha casa e a primeira coisa que eu fiz foi colocar o ingresso do em cima da mesa para que eu não corresse o risco de me esquecer. Subi até o meu quarto e antes de qualquer coisa coloquei um CD que tinha todas as minhas músicas favoritas pra tocar. A música começou a tocar e eu fui até o meu guarda-roupa para escolher a roupa que eu vestiria. Depois de encontrar algumas opções ruins e outras boas, acabei encontrando a roupa perfeita: o vestido que eu havia comprado naquela mesma semana. Eu o comprei para usar em uma ocasião especial, né? O que poderia ser mais especial do ir ao show da minha banda favorita com o cara que eu amo? Estendi o meu vestido em cima da cama e escolhi uma dessas sandálias abotinadas preta, já que o dia estava meio frio naquele dia. Separei também uma jaqueta de couro preta para o caso de eu achar necessário mais tarde. Peguei as minhas roupas intimas e a minha toalha. Eu tinha menos de 50 minutos para me arrumar.

O relógio marcava mais de 6 horas da tarde e não parava de olhar para o seu relógio, imaginando por mais quanto tempo aquela reunião duraria. O presidente falava empolgadamente sobre o que ele havia odiado nas antigas propagandas que a empresa contratou. soube que não se tratava mais de uma reunião de negócios e sim de uma reunião entre alguns bêbados ricos. não havia bebido, mas os gerentes e o próprio presidente beberam alguns copos de um whisky extremamente caro. Mesmo querendo ir embora, não podia. Ele sabia que seria uma tremenda falta de respeito ir embora naquele momento.

Eu sai do banho e fui apressadamente até o meu quarto. Para variar, eu estava atrasada. Antes de vestir o meu vestido (VEJA AQUI), sequei o meu cabelo e constatei que o deixaria solto, já que ele parecia muito bonito naquela noite. Antes de me maquiar, vesti o meu vestido e ao me olhar no espelho me lembrei o motivo de tê-lo comprado. Ainda em frente ao espelho, eu me maquiei e fiz questão de caprichar e usar tudo o que eu tinha direito. Coloquei alguns anéis e a pulseira com o pingente de coração que o havia me dado. Entrei em pânico quando olhei no relógio e vi que já eram 6:30. Eu deveria estar saindo de casa naquele momento. Liguei pra companhia de taxi, enquanto vestia a minha sandália as pressas e passava o perfume que o mais gostava. Peguei uma carteira preta que era um pouco maior do que a que eu costumava usar. Dentro dela consegui colocar tudo o que eu precisava: dinheiro, o meu ingresso pro show, um cartão da companhia de taxi e o meu celular. Enquanto o taxi não chegava, dei mais uma conferida do espelho. Eu me senti tão bem ao ver o meu reflexo no espelho e ver o quão feliz eu estava. Fazia tanto tempo que eu não me sentia daquele jeito, que eu não sentia aquele frio na barriga. Eu me peguei sorrindo pro meu próprio reflexo e me perguntei como eu podia me sentir tão feliz só por causa de um encontro. Não era um encontro qualquer. Não era um cara qualquer.

- E então, ? Está feliz com o seu contrato? – O presidente do Yankees perguntou, quando notou que estava sozinho em um canto.
- Sim, senhor. Eu estou muito feliz e honrado por ter sido escolhido por todos os senhores. Eu sempre fui muito fã do Yankees e fazer parte disso pra mim é como um sonho. – sorriu e tentou ser o mais simpático possível.
- Eu fico muito feliz. Você é um ótimo profissional para a sua idade. Não deixe de aproveitar essa oportunidade, que será a mais insana e a mais importante experiência da sua carreira. – O presidente afirmou, admirado com o .
- Obrigado, senhor. – ficou até sem jeito diante dos elogios recebidos.
- Você mora em Atlantic City, não é mesmo? Me conte uma coisa, você tem namorada, esposa ou filhos? – O presidente o olhou, sério.
- Não, senhor. – sorriu, pois achou engraçada a parte do ‘filhos’. Ele só tem 20 anos!
- Bom pra você, garoto. – O presidente sorriu, dando alguns tapas no ombro de . – Sua vida vai ficar uma loucura agora. É bom não ter ninguém para decepcionar. – Ele completou, sem imaginar a bomba que havia acabado de jogar nos braços de .
- Com certeza, senhor. – esforçou-se para sorrir e demonstrar que havia achado graça do comentário.
- Venha no sábado durante a tarde para assinarmos o contrato. – O presidente pediu depois de dar outros tapas no ombro do . O presidente se retirou e se aproximou dos gerentes, que conversavam empolgadamente sobre outros negócios.



TROQUE A MÚSICA:



Ouvi o taxi buzinar e sai as pressas do meu quarto. Desci as escadas, enquanto eu vestia a minha jaqueta de couro. Eu apaguei as luzes e tranquei a porta. Me despedi do Big Rob e andei apressadamente até o taxi. Disse ao motorista o nome da casa de show e nem precisei dar qualquer endereço. Ao olhar no relógio e ver que era 6:45, eu temi não conseguir encontrar bons lugares para ver o show, já que as únicas cadeiras que eu havia conseguido comprar não eram numeradas.

só conseguiu se ver livre da reunião um pouco mais de 7 horas. A frase dita pelo presidente do Yankees ainda ecoava em sua cabeça e ele não sabia até quando continuaria ecoando. A frase o marcou muito, pois ela confirmou uma coisa que o está pensando e temendo há semanas. Lembrou-se como foi difícil lidar com o nosso relacionamento e a faculdade. Como seria agora? Como seria ter que ficar indo e voltando de Atlantic City pra Nova York? Como seria viver sem ter certeza de onde ele estará na semana seguinte? Seria extremamente difícil, mas o que era ainda mais difícil era decepcionar alguém que (ao contrário do que disse ao presidente do Yankees) existia. Alguém que estava esperando por ele naquele exato momento. Alguém que parecia a vitima perfeita para uma grande decepção.

Pegou o seu carro e dirigiu até a minha casa. Entrou na casa e lamentou o fato de eu não estar mais lá, porque isso queria dizer que eu tinha mesmo ido até aquele show. Aquele show que lhe traria as melhores lembranças e que certamente terminaria em incríveis consequências. foi até a mesa e encontrou o ingresso exatamente onde eu havia dito que deixaria. Sentiu uma coisa ruim, que o fez negar com a cabeça e lamentar sem saber o que. sabia o que aconteceria naquele show e não sabia se estava disposto a recomeçar a viver aquele amor, que de alguma forma sempre acabava deixando o seu coração em pedaços.

Eu cheguei no local do show e fiquei ainda mais tensa quando vi a quantidade de pessoas que estavam lá na frente. Paguei o taxista e desci do carro. Com a minha carteira em mãos, eu andei rapidamente até uma pequena fila, que era a do setor que eu havia comprado. Entreguei o meu ingresso para a pessoa responsável e entrei no recinto do show. O setor que eu havia comprado não estava tão lotado quanto os outros locais. Eu consegui escolher um bom lugar que, apesar de longe, me dava visão total do palco. Guardei o lugar ao meu lado e consultei o horário para saber quanto tempo o tinha para chegar.

Ainda indeciso, olhava pro ingresso em suas mãos e se perguntava se deveria ir até lá. Ele ficava pensando no que aconteceria se fosse até lá e era inexplicável o quanto o seu coração implorava por aquilo. já havia decidido que se fosse até lá esqueceria qualquer razão ou motivo que o impedisse de fazer o que ele realmente queria. Ele iria me beijar e ia conseguir que nós saíssemos de lá juntos de qualquer jeito. Se ele fosse até o show, seria para me trazer de volta para a sua vida. Seria um sonho voltar a chamar de ‘sua’ a única garota que ele amou até hoje, mas como seria se despedir de mim no domingo? Era justo? Era justo me encher de esperanças de um futuro pra nós dois e depois me decepcionar de novo? Seria justo com si mesmo se permitir viver uma coisa que já tinha data de validade pra acabar?

- Eu não posso. – disse, negando com a cabeça e colocando novamente o ingresso sobre a mesa. Sentindo o seu coração condená-lo por sua infeliz decisão, ele subiu as escadas e preparou-se para tomar banho.

O palco e as pessoas gritando o nome da minha banda favorita me faziam vibrar. Faltavam 10 minutos para o inicio do show e eu estava completamente nervosa porque eu sabia que o chegaria a qualquer minuto. Eu estava louca para vê-lo. Algumas pessoas passavam por mim e me perguntavam se a cadeira ao meu lado estava ocupada e eu ficava repetindo que sim. Enquanto observava o local a minha volta, notei que havia muitos casais. As fãs enlouquecidas costumavam ficar mais perto do palco. Os minutos iam se passando e eu ficava olhando no meu celular para ver se não havia alguma ligação ou mensagem do avisando que se atrasaria. O show começou 15 minutos depois.

Se sentindo horrível com o fato de não estar no show, soube que precisava ocupar a sua cabeça ou acabaria decidindo ir até lá. Aproveitou o tempo para ligar para o seu chefe em Atlantic City e contou a ele detalhes da reunião. Depois de desligar a ligação, procurou qualquer outra coisa para fazer e o videogame pareceu uma ótima distração. O que o consolava era saber que eu estava no show da minha banda favorita e que eu acabaria curtindo o show com ele ou não.

As primeiras músicas que a banda tocou no show eu consegui cantar e aproveitar, mas da quarta música em diante eu comecei a ficar realmente preocupada com o fato do não ter chegado. As pessoas cantavam ao meu lado, enquanto eu mantinha os meus olhos no visor do meu celular e me perguntava se eu deveria ligar pra ele ou não. O medo de ele ainda estar na reunião e ser prejudicado com a minha ligação me fez não ligar. Eu ficava dizendo pra mim mesma: ‘ele já vai chegar! Ele já deve estar chegando!’. Eu só parei de repetir isso para mim mesma quando percebi que eu já não acreditava mais no que eu estava dizendo.

O show já durava um pouco mais de 1 hora e 30 minutos. Tinha milhares de pessoas a minha volta gritando e cantando e a minha banda favorita estava há alguns passos de mim. Mesmo tendo todos os motivos para querer me divertir, eu não conseguia. Eu estava sentada e toda aquela gritaria a minha volta parecia um enorme silêncio. Era como se eu estivesse sozinha mesmo estando no meio de todas aquelas pessoas. Meu celular ainda estava em minhas mãos, mas eu já não esperava receber qualquer ligação ou mensagem. Eu já sabia que o não viria. Meus olhos observavam as minhas mãos, que brincavam com um dos zíperes da minha carteira. Eu tinha levado um bolo memorável, mas eu não imaginei que fosse doer tanto. A gota d’água foi quando o Nickelback começou a tocar o seu hit mais aclamado pelos fãs, que por acaso também era a minha música favorita.

‘Never Gonna Be Alone’ foi a minha ruína. A música despertou a minha atenção para o palco. Foi quando eu comecei a perceber que nada daquilo fazia sentido. A minha música favorita não fazia mais sentido e parecia uma enorme mentira agora. A letra dizia que eu jamais ficaria sozinha. cantou pra mim que jamais me deixaria sozinha e era justamente o jeito em que eu me encontrava naquele momento: sozinha. Cheguei a idealizar por alguns segundos como seria ouvir aquela música se estivesse ali comigo. Senti os meus olhos lacrimejarem e eu fiz desse o meu motivo para abandonar o show no meio da minha música favorita. Eu não aguentaria mais um minuto daquilo. Engoli o choro e me levantei. Passei rapidamente em frente de todas as outras pessoas que estavam sentadas, pois não queria atrapalhar o show delas.

O meu plano não era voltar para casa de taxi, mas eu não tinha opção, certo? Me aproximei do primeiro taxi que encontrei em frente ao local do show e entrei nele. Passei o meu endereço para o motorista e ele não fez qualquer pergunta. No caminho para casa, eu tentava melhorar a minha própria situação. Eu não me lembro qual foi a última vez que eu fiquei tão decepcionada. Talvez seja porque eu realmente tinha esperança de que o que eu e o sentíamos havia voltado da forma mais avassaladora de todas. Talvez fosse porque eu finalmente estava aceitando o fato de que eu estava apaixonada pelo de novo.

Eu estava certa que não havia ido ao show por causa da reunião de trabalho, que provavelmente deveria ter durado mais do que deveria. Mesmo com uma desculpa plausível, a minha decepção não diminuiu. Ele poderia ter me ligado. Ele poderia ter me avisado que não poderia ir para que eu não ficasse esperando por ele como uma idiota. Era exatamente isso o que eu era! Idiota! Mesmo fazendo com que eu me sentisse uma completa idiota, eu não conseguia odiá-lo. A minha decepção era tão grande, que o ódio parecia um sentimento extremamente banal naquele momento.

As lágrimas continuavam presas nos meus olhos, mas eu não pretendia derramá-las. O taxista parou o carro em frente a minha casa e eu entreguei a ele o dinheiro da corrida. Eu desci do taxi e bati a porta. O taxi foi embora, mas eu continuei parada em frente da casa, quando vi que o carro de estava estacionado em frente a minha casa. Ele estava em casa? Eu estranhei. Se ele estava em casa, porque ele não foi ao show? Me aproximei lentamente da porta da casa e a destranquei com a minha chave.

ouviu quando o taxi parou em frente a minha casa e deduziu que eu tivesse chegado. Isso fez com que ele ficasse nervoso. O videogame em sua frente perdeu total sentido, enquanto ele tentava encontrar uma desculpa convincente para não ter ido ao show. Ele não tinha certeza se eu me importaria em perguntar por que ele não havia ido, mas se eu perguntasse ele já tinha uma desculpa em mente. Concentrou-se no seu videogame, quando ouviu a porta da casa ser aberta e depois fechada. O fato da luz da sala estar acesa me chamou atenção e eu acabei indo direto lá. Assim que eu consegui ter a visão do sofá, eu paralisei. estava mesmo jogando videogame? Foi por isso que ele não foi ao show? Foi por isso que ele não podia ter pegado a porcaria do celular para me avisar que me daria o bolo? Eu estava sem reação.



- Hey. – notou que eu o observava há algum tempo em silêncio, então resolveu me olhar e quebrar o silêncio. Eu nem ao menos consegui responder. Eu neguei levemente com a cabeça, mas não notou porque estava ocupado demais notando que eu estava vestindo o meu vestido novo. Aquele que eu havia comprado para usar em uma ocasião especial. Ai está! Mais um motivo para ele se sentir mal com o que havia feito. – Como foi o show? – Ele perguntou, preocupado com o fato de eu tê-lo ignorado. A pergunta pareceu até uma brincadeira de mau gosto da parte dele. Eu me senti ainda mais idiota e humilhada do que antes.
- Eu te conto quando você estiver menos ocupado. – Eu deixei de olhá-lo para olhar rapidamente para o videogame em sua frente. Eu não consegui dizer aquela frase com raiva, o que quer dizer que ela soou com uma tristeza fora do normal. As lágrimas se acumularam ainda mais nos meus olhos e eu soube que tinha que sair dali.

Eu abandonei a sala sem dizer mais nenhuma outra palavra. O silêncio ensurdecedor fez ter certeza de que tinha cometido uma enorme besteira. Eu subi as escadas sem entender como eu poderia ter caído de novo naquela cilada. Como alguém pode cometer o mesmo erro tantas vezes? Cheguei no meu quarto e fechei a porta, sentindo o meu chão desabar. Aquela noite deixou uma coisa clara: não sentia mais nada por mim. Isso me fez sentir um desespero interno, que eu não me lembrava de ter sentido antes. Olhei para o meu quarto e andei até o espelho. Ao ver o meu reflexo, ver o meu vestido novo e ver toda aquela minha produção me fez sentir pena de mim mesma. Ele já não era mais meu. O cuidado dele comigo, o carinho demonstrado nos últimos dias me fizeram pensar que o que nós tínhamos antes ainda não havia acabado. Agora eu finalmente me dei conta de que pra mim não havia acabado, mas pra ele sim. Andei até a minha cama e me sentei nela, sentindo as lágrimas começarem a escorrer pelos meus olhos.

Ainda sentado no sofá, tentava entender o enorme vazio que de repente estava sentindo. O meu olhar e as minhas palavras demonstravam uma decepção muito maior do que ele jamais imaginou. estava se sentindo a pior pessoa do mundo e não era porque ele havia quebrado o meu coração, mas porque ele havia decepcionado a garota que ele amava. havia me decepcionado justamente para não me machucar ainda mais. Ele não queria me machucar e nem machucar a si mesmo. não queria que nós nos envolvêssemos, mas também não conseguia me ver daquele jeito. Ele teve que ir até lá. precisava se explicar e tentar fazer com que eu me sentisse melhor. Ele não conseguiria dormir sentindo aquela sensação estranha, que dava a impressão de que ele havia magoado a pessoa que ele mais amava no mundo.

As lágrimas não paravam de escorrer pelo meu rosto. Sentada na cama, eu chorava em silêncio e com a cabeça baixa. Eu tinha vergonha das minhas lágrimas, que me pareciam tão velhas. Tanto tempo se passou e as lágrimas estavam exatamente onde costumavam estar. A decepção continuava e eu não sabia nem ao menos qual era o motivo certo para estar chorando. Era por ter levado um bolo e estar me sentindo extremamente estúpida ou era porque eu não conseguia aceitar que ele não sentia mais nada? Nada que pudesse fazê-lo pegar a droga do telefone e me dar ao menos um fora descente? Nada! Eu não merecia absolutamente nada e isso me doía muito. Em meio as minhas lágrimas, ouvi a porta do meu quarto sendo aberta. Eu não tive coragem de levantar o meu rosto.

- ... – Eu ouvi a voz dele e tentei imediatamente engolir o meu choro.
- Eu quero ficar sozinha, . – Eu consegui dizer, temendo que a minha voz soasse embargada.
- Eu sei que você ficou chateada com essa história do show. Eu não... – me olhou, negando com a cabeça. Minha cabeça ainda permanecia baixa. – Eu não sabia que era tão importante pra você. – Ele completou, sentindo o seu coração acelerar. Ele teve os seus motivos para não ir ao show, mas ele achou melhor não usá-los ao seu favor. Só pioraria as coisas.
- Não sabia? – Eu suspirei em meio a um riso de deboche. – Minha banda favorita. Minha música favorita. Você lembra? – Eu finalmente levantei o meu rosto para olhá-lo. – Porque isso seria importante pra mim, ou melhor, pra você? Você não se importa! Eu já entendi. – Eu coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, vendo a expressão dele mudar completamente ao ver as lágrimas no meu rosto.
- , você está chorando. – não imaginou que pudesse se sentir pior do que antes. Me ver daquele jeito foi como ver o mundo perder a cor diante dos seus olhos. Em um momento de impulso, ele andou em minha direção com a intenção de secar todas aquelas lágrimas no meu rosto, achando que aquilo tornaria tudo menos doloroso pra mim e pra ele.
- Não, . Por favor. – Eu estendi a minha mão, impedindo que ele se aproximasse. Eu não queria a pena dele.
- Me desculpa, eu... – parou de se aproximar, procurando qualquer coisa para me dizer que pudesse fazer com que eu me sentisse melhor. Qualquer desculpa que fosse decente e que demonstrasse o quão idiota ele era.
- Você não precisa se desculpar. Foi culpa minha. Eu me precipitei e idealizei coisas que não existiam. Eu achei que pudesse reviver o passado, mas eu não posso. – Eu balancei a cabeça negativamente em meio a um sorriso triste e em meio a lágrimas, que continuavam escorrendo dos meus olhos.
- Me desculpa se eu te dei esperanças. – também parecia triste. – Eu me importo com você. Eu me importo muito... mesmo, mas... – Ele suspirou. – Eu vou embora. – Ele ergueu os ombros, demonstrando que não podia fazer nada a respeito.
- Os últimos dias me lembraram da época em que nós namorávamos. Eu tinha me esquecido como era. – Eu me achava uma boba por estar dizendo isso a ele. – Eu achei que fosse recíproco, mas agora eu já sei que não é. Está tudo bem. – Eu deixei de olhá-lo novamente.
- Não tem a ver com o jeito que eu me sinto ou não. – sentia o seu coração se apertar ainda mais, porque ele não podia ser honesto comigo e dizer que o que eu sentia era recíproco sim.
- Não. Não faz isso, ok? – Eu voltei a engolir o choro. – Você não precisa fazer isso só porque eu estou chorando feito uma idiota aqui na sua frente. Eu não quero que você faça nada porque você está com pena de mim. – Eu não queria ouvir qualquer explicação, pois tudo parecia bem claro pra mim.
- Isso nunca funcionaria. Você sabe. – abriu os braços, pois sabia que não podia fazer nada a respeito. Aquela não parecia uma desculpa boa, mas havia sido a mais sincera da noite.
- Porque você não diz de uma vez? Porque não diz logo que não sente mais nada por mim? Eu não sou tão fraca quanto você imagina! – Eu ficava ainda pior vendo ele me tratar como uma criança que não consegue lidar com a verdade.
- Mas eu sinto! – respondeu sem pensar duas vezes.
- Sente carinho por causa do que nós já vivemos. Sente que tem que proteger a irmã do seu melhor amigo, certo? – Eu estava começando a me irritar com o jeito que ele estava me tratando. – Sabe qual a parte mais engraçada nisso tudo? Você não saiu do meu pé nas últimas semanas e, hoje, quando eu queria que você estivesse lá comigo, você não estava! – Eu disse, percebendo que a minha voz estava embargada. Passei as mãos embaixo dos meus olhos para secar as lágrimas que ainda estavam lá.
- Tenta se colocar no meu lugar. – tentou argumentar a seu favor, mas ele sabia que não podia usar o seu melhor argumento.
- Eu preciso ficar sozinha, . – Com a cabeça baixa, eu encarei as minhas mãos.
- Por favor, não me afaste de você agora. Eu vou embora em alguns dias e eu não quero... – voltou a negar com a cabeça, me olhando com tristeza. – Eu não quero que seja assim. – Ele implorou e eu notei a tristeza em sua voz. O pedido dele fez o meu choro aumentar ainda mais.
- Me deixa sozinha, . Por favor. – Eu não queria ouvir mais nada. Eu não queria sentir mais nada. Eu só queria poder chorar em paz. Olhei pra ele pela última vez e todas as lágrimas em meu rosto fizeram perceber que a presença dele só estava me machucando ainda mais.
- Ok, desculpa. – saiu, respeitando o meu pedido. Ele fechou a porta e continuou encarando ela por um tempo. Ele queria entrar de novo no quarto e tentar consertar as coisas, mas ele sabia que essa não era a melhor alternativa.

Depois que ele saiu do quarto, o me senti livre para chorar tudo o que eu precisava chorar. Sentada na minha cama, eu sentia as lágrimas escorrerem por todo o meu rosto. Quanto mais eu chorava, mais vontade eu tinha de chorar. Eu já devia estar acostumada a sofrer por ele, mas a cada decepção a dor parecia ser maior. Em meio ao meu choro, eu me levantei da cama e tirei o meu vestido para que eu me sentisse menos patética. Joguei o vestido dentro do meu guarda-roupa e procurei pelo meu pijama. Passei pelo espelho e notei que o meu rosto estava completamente sujo, porque a minha maquiagem estava toda borrada. Fui obrigada a ir até o banheiro para lavar o meu rosto. Eu mal conseguia me olhar no espelho por tanto tempo, pois eu sentia ainda mais ódio de mim mesma. Como eu posso ter deixado que isso acontecesse? Voltei para o meu quarto, me enterrei embaixo das cobertas e encontrei no meu travesseiro um ótimo ombro para chorar.

Deitado em sua cama, se martirizava e se xingava mentalmente. Todos os argumentos e motivos que o fizeram desistir de ir ao show pareciam insignificantes e idiotas agora. Não ir ao show não era a melhor opção? Não era o caminho menos doloroso? Então, porque estava doendo tanto? Porque me ver sofrer era sempre maior do que as suas próprias decepções? Ele não conseguia conviver com a minha decepção. Era diferente quando se tratava do meu ódio e da minha raiva. não se importava tanto quando nós brigávamos, porque nós sempre acabávamos dando um jeito de nos desculpar e voltar atrás, mas com a decepção é diferente. Você não pode só se desculpar e pedir para a outra pessoa esquecer. Decepção é uma coisa complicada e quando está relacionada ao coração se torna ainda mais intolerável. Todo o sofrimento que o tentou adiar acabou vindo à tona de qualquer jeito. É impossível evitar uma decepção sem decepcionar alguém.

Eu só consegui parar de chorar quando eu não tinha mais lágrimas para isso. Meu travesseiro estava encharcado e os meus olhos tristes encaravam qualquer coisa que estivesse em minha frente. Demorei para conseguir dormir e esse foi o único jeito de me fazer parar de sentir pena de mim mesma. Eu nunca pensei que passaria por aquilo de novo.

Nem foi preciso que o acordasse ás 03:35, já que ele nem havia conseguido dormir. Apesar de tudo o que havia acontecido, ele se levantou e seguiu a mesma rotina de todos os dias. Esperançoso, preparou o chocolate quente que nós tanto gostávamos e se sentou, esperando que eu aparecesse a qualquer momento. Eu não vou mentir e dizer que eu não acabei acordando naquele horário rotineiro, mas eu não tive qualquer dúvida sobre descer até a cozinha ou não. Não tinha mais nada para fazer lá embaixo e nem mesmo o chocolate quente me atraiu. Além disso, eu não queria ter que voltar a olhar pro .

O chocolate quente esfriou e ele ainda pedia mentalmente para que eu aparecesse. Deu um pouco mais de 4 horas da madrugada e foi então que ele teve certeza de que eu não apareceria. Se antes ele achava que a minha decepção era momentânea, agora ele sabia que não era. Mesmo sabendo que eu não viria, ele ficou mais algum tempo olhando para aquela caneca de chocolate quente. Ele jamais imaginou que uma simples caneca de chocolate quente pudesse expor tantas verdades e tanta decepção. A caneca de chocolate quente completamente cheia era o oposto da forma que o estava se sentindo naquele momento: vazio.

jogou todo o chocolate quente no lixo e voltou para o seu quarto sozinho e cabisbaixo, o que não costumava ser comum. Nós sempre subíamos aquelas escadas rindo e brincando um com o outro. estava se sentindo um completo idiota e não era porque ele não tinha ido ao show. Não ir ao show foi um ato extremamente calculado e pensado. O que o deixava mesmo louco da vida era o fato de ele não ter imaginado o quanto aquilo me decepcionaria. Mesmo quando ele decidiu que não iria ao show, ele jamais pensou que eu fosse ficar tão mal. subestimou os meus sentimentos por ele simplesmente porque ele não sabia não correspondê-los. Ele que me conhece tão bem deveria ter previsto todas aquelas lágrimas. Ele deveria saber o quanto eu o queria naquele show. Se ele soubesse, nenhum argumento no mundo o teria impedido de ir até o show.

Dormiu por puro cansaço e acordou assustado na manhã seguinte. A luz que entrava pela janela do quarto o fez temer que estivesse atrasado. Olhou no relógio de seu celular e viu que apesar de atrasado, ele ainda tinha algum tempo para se arrumar. Ao contrário de , eu havia acordado mais cedo naquela manhã. Não havia mais lágrimas nos meus olhos ou no meu rosto, mas ainda havia mágoa. Depois de dizer para mim mesma por diversas vezes que aquele dia seria bom apesar de tudo, eu fui até o banheiro e notei que o ainda não havia acordado. Eu fiquei mais aliviada, pois eu ainda não queria e nem sabia como lidar com ele. Infelizmente, ele acordou enquanto eu estava no banho. notou que eu estava no banheiro e decidiu usar o outro banheiro da casa para se adiantar. Ele foi realmente rápido. Enquanto eu me trocava no meu quarto, ele já estava pronto no andar de baixo. Como eu não sabia que ele já tinha acordado, eu fui muito cuidadosa e silenciosa ao me arrumar. Peguei a minha bolsa e o meu caderno e saí com pressa do meu quarto para não correr o risco de estar lá quando ele acordasse. Sentado no sofá, ouviu os meus passos no corredor do andar de cima. O coração dele quase saiu pela boca, pois ele ainda não sabia como se comportar. Ele deveria se desculpar? Deveria agir como se nada tivesse acontecido? Nem deu tempo de pensar. Quando me viu descendo as escadas, levantou-se prontamente do sofá e aproximou-se do fim da escada. Não sei como aconteceu ou porque aconteceu, mas eu consegui me manter calma e serena quando eu o vi. Não olhei pra ele nem por 3 segundos e continuei descendo os degraus.

- Bom dia. – A sua voz receosa foi extremamente perceptível. estava com medo de como eu reagiria.
- Bom dia. – Eu respondi, passando reto por ele e indo até a fruteira que ficava sobre a mesa. Peguei uma maça.
- Eu pensei que nós podíamos tomar café da manhã naquela cafeteria que tem aqui perto. – me observou. Olhei friamente pra ele e vi que as mãos dele estavam no bolso de sua calça jeans. Isso quer dizer que ele está sem graça com a situação.
- Eu agradeço, mas não vai dar. – Eu parei em uma das mesas pra pegar um dos cadernos que eu havia deixado ali na sala no dia anterior. – Aliás, eu vou com o meu carro pra faculdade hoje. A Meg tem me dado muitas caronas e eu me sinto na obrigação de retribuir. – Eu passei novamente por ele e fui até a mesa, onde estava a chave do meu carro. – Você não se importa, né? – Eu perguntei, enquanto abria a porta. ficou tão surpreendentemente chateado, que não soube nem o que responder. – Até depois. – Eu disse antes de bater a porta.

Foram incontáveis as vezes que nós brigamos por causa disso nas últimas semanas. O sempre querendo me levar na faculdade e eu sempre querendo ir sozinha. Depois de muito sacrifício, conseguimos fazer um acordo. Agora, eu estava indo sozinha para a faculdade de novo. Diferente das outras vezes, a minha iniciativa de ir sozinha não foi pra irritar ou provocar o . Eu não fiz para atingi-lo. Não foi como das outras vezes e o percebeu. Ele percebeu que eu só queria ficar longe dele porque eu estava decepcionada. Isso foi mil vezes pior do que qualquer provocação infantil. Foi tão doloroso que ele nem sequer argumentou ou fez perguntas. Mesmo doendo, me deu razão. Ele deu razão porque ele sabia o que era esperar alguém e ver outra pessoa desmerecendo uma coisa que significa o mundo pra você. Aquele show era importante pra mim. A presença dele lá era importante pra mim. Ele vacilou dessa vez.

O meu dia foi totalmente chato. Tudo parecia muito chato e sem graça. Eu sou mesmo uma boba por deixar tudo isso me afetar. Eu não posso simplesmente esquecer o que aconteceu? Cadê a tecla delete? Deleta tudo! Deleta o , deleta as lembranças e os sentimentos. Aproveita e deleta essas aulas idiotas e todos esses pacientes do hospital em que eu trabalho. Eu estou tão cansada dessa rotina e dessas pequenas mudanças que eu tento fazer na minha vida e que sempre dão errado.

Todas as vezes que eu ficava tão mal daquele jeito parecia que a minha família e os meus amigos sabiam. Eles sempre me ligavam nesses dias. O me ligou e o também. Foi a melhor coisa do meu dia, pois me fez esquecer um pouco do que havia acontecido. A minha sorte foi que a Meg estava grudada no telefone com o naquele dia e não me fez tantas perguntas. Não sei quantas vezes eu entrei na sala dela e a vi esconder apressadamente o celular. Meg só me perguntou o básico, tipo: ’como foi o show? Estava lotado?’. Eu omiti as partes ruins. Eu sei o que a Meg diria se eu contasse a ela e também sabia que ela me consolaria como qualquer outra amiga. O problema é que eu não queria ser consolada. Eu não quero ninguém me dando palavras de apoio e me dizendo o que eu já sei. Eu não quero falar mais nada sobre esse assunto com ninguém. Eu só quero esquecer tudo isso.

No caminho da casa da Meg fui obrigada a ouvir ela tendo uma conversa fofa com o . Foi super reconfortante e motivador. Apenas tive vontade de ter o meu terceiro acidente de carro! Deixei ela em casa e segui para a minha, sem saber muito o que esperar. O que eu deveria fazer? Me trancar no quarto no final de semana? Acampar no quintal? Qualquer coisa! Eu precisava dar um jeito de ficar longe do . Estacionei o carro na garagem da minha casa e sem qualquer vontade de entrar na casa, resolvi ficar algum tempo no carro.

O dia de foi um pouco pior do que o meu. Eu fiz diversas coisas que ocuparam o meu tempo durante o meu dia, mas ele não havia feito nada. Ele tentou trabalhar, mas não tinha mais nada a ser feito. Durante a tarde resolveu lavar o carro, mas o frio o desencorajou. ficava pensando em algum jeito de consertar as coisas e de me fazer perdoá-lo. Nada do que ele pensava parecia ser o bastante. A essa altura, já considerava a hipótese de me contar o que ele realmente sentia. Na verdade, ele considerava essa hipótese em todos os seus planos de me fazer perdoá-lo, mas só isso não bastava. O pânico tomou conta de quando ele notou que eu havia chegado. Ele ainda não havia pensado em nada! Aproximou-se da janela e me viu sentada no carro sozinha. Eu estava ali há algum tempo já e isso o fez querer morrer. Era tão evidente o quão mal eu estava, que qualquer pessoa que não me conhecesse perceberia. Imagina o que me conhecia tão bem?

Fiquei aproximadamente 15 minutos dentro do carro. Mesmo não querendo, eu tive que sair de lá, já que o Big Rob já estava me olhando estranho. Ok! O plano é: entrar e subir imediatamente pro meu quarto. Sem olhar e se possível sem ser vista. Peguei a minha bolsa e abri a porta do carro. Acenei pro Big Rob pra ele saber que estava tudo bem e fechei o carro, ligando o alarme. viu que eu me aproximava e afastou-se imediatamente da janela. Ele não sabia se ficava perto da porta ou se sentava no sofá. Abri a porta e meu plano já foi por água abaixo. A troca de olhares aconteceu involuntariamente. Pelo menos da minha parte! estava próximo da porta e parecia que estava me esperando. Eu fiquei de costas pra ele por alguns segundos para poder fechar e trancar a porta e foi nesses poucos segundos que eu fechei os olhos e tentei não me apavorar.

- Hey. - disse em um tom nada empolgante.
- Hey. – Eu disse em meio a um suspiro, que eu juro que não foi proposital. Eu deixei de olhá-lo rapidamente e dei alguns passos em direção à escada.
- Espera, por favor. – pediu, me olhando de costas. O seu pedido me fez parar de andar.
- O que foi? – Eu respirei fundo antes de me virar pra olhar pra ele.
- Olha, eu sei que você... – começou a dizer e parecia meio confuso.
- Não. Você não sabe. – Eu o interrompi, pois sabia exatamente onde ele queria chegar.
- Se eu pudesse, eu faria tudo diferente. – realmente parecia arrependido com o que havia feito.
- Isso deveria fazer eu me sentir melhor, certo? – Eu sorri, sem mostrar os dentes. Eu não estava sendo grossa ou irônica.
- Não é sobre o que você sente. É sobre o que eu sinto. – começou a ficar sem opções, então decidiu entrar logo pro lado emocional da coisa.
- Na verdade, é sobre nós dois tentando fazer uma coisa que não funciona. Nós sabemos que isso não funciona e nós nunca aprendemos. É hora de aprender. – Eu coloquei um fim no assunto antes mesmo que ele começasse. Eu sei o quanto isso me faria mal.
- Você faz ideia de quantas vezes nós tentamos aprender? – continuou me olhando com aqueles olhos tristes.
- Você vai voltar pra Atlantic City no domingo e eu vou ficar aqui. Fim da história. – Eu disse e ele notou o quão decidida eu parecia estar. Eu acabei desistindo da conversa e virei de costas, prestes a subir a escada.
- E se você me desse uma última chance? – novamente interviu, me fazendo parar no segundo degrau da escada. Fechei os meus olhos e levei uma das mãos até o meu rosto, me xingando mentalmente por não conseguir deixá-lo falando sozinho.
- Mais uma? Quantas últimas chances você vai precisar? – Eu perguntei ainda de costas pra ele.
- Quantas eu conseguir. – me observava, esperando que eu voltasse a olhá-lo.
- Você já teve o bastante. – Eu neguei com a cabeça e me virei para olhá-lo. – Nós já tivemos o bastante. – Eu completei, olhando pra ele com tristeza. A minha contínua rejeição fez com que ele se sentisse na obrigação de se aproximar. Ele andou até a escada e parou no degrau abaixo do que eu estava.
- , eu estou aqui te pedindo desculpas. – pediu, olhando nos meus olhos. – Eu estou aqui pedindo pra você me dar a chance de fazer a coisa certa dessa vez. – Ele sorriu sem mostrar os dentes, demonstrando nervosismo.
- Eu não... – Eu neguei com a cabeça, sem saber como continuar. – Eu já cansei disso, . – Eu afirmei, vendo o seu doce sorriso se transformar em uma expressão triste. Antes que eu mudasse de ideia, eu virei de costas pra ele e subi os degraus que faltavam. ficou parado lá, tentando absorver o que havia acabado de ouvir.

Essa situação é tão difícil pra mim, porque ao mesmo tempo em que é tudo o que eu mais quero, também é tudo o que eu não posso ter. Eu não aguentava mais sofrer por aquilo. Sofrer porque eu o amo. Sofrer porque eu não posso tê-lo. Sofrer porque eu não consigo esquecê-lo. trazia uma porção absurda de sofrimento pra minha vida, mas ele também tinha o poder de fazer todas as coisas ruins desaparecerem. O problema é que de alguma forma o sofrimento sempre acaba voltando e nós voltamos do inicio. Parecia tão claro pra mim que não era pra nós ficarmos juntos. Parecia tão claro que tentamos de tudo e que nada havia sido suficiente. Porque começar tudo de novo, sendo que eu não sinto que é totalmente reciproco o que eu sinto?

não conseguia se conformar com aquela situação. Em certo momento, ele achou que eu acabaria cedendo. Ele viu nos meus olhos que ainda havia algo bom ali. sabia que não podia desistir. Ele nunca desistiu! Se existe 1% de chance de ele conseguir me dar o encontro que eu mereço, ele continuaria lutando. A luta dessa vez seria de um jeito inusitado, mas parecia ser a única alternativa.

Em um momento de completa insanidade, saiu da casa e foi até o jardim lateral da minha casa, avisando a sacada do meu quarto. Parecia muito alto e ele não conseguiu encontrar nenhum lugar onde pudesse se pendurar para poder chegar até lá em cima. Tinha uma árvore próxima a sacada, mas o seu galho mais baixo era alto demais e não conseguia alcançar. Ele parou algum tempo e pensou no que fazer.

- Hey, Big Rob! – disse um pouco mais alto, fazendo com que o segurança se assustasse.
- Você me assustou, garoto. – Big Rob disse, depois de quase voar em cima do .
- Eu preciso da sua ajuda. – disse, chamando o segurança para a lateral da casa. – Acha que consegue me levantar pra eu poder alcançar aquele galho? – Ele apontou para o galho.
- Filho, eu levantaria uns 5 de você. – Big Rob debochou, mas nem sequer sorriu. Como ele conseguia ser tão sério?
- Pergunta idiota. Entendi. – sorriu, negando com a cabeça. – Você pode juntar as suas mãos, eu coloco os meus pés nelas e você me levanta. – Ele sugeriu. Big Rob o olhou como se estivesse chamando de ‘burro’. – O que? – abriu os braços, sem saber qual outra opção eles tinham.
- Coloca os seus pés aqui nos meus ombros, eu vou levantar e você vai conseguir alcançar o galho. – Big Rob agachou-se próximo a árvore.
- O que? – se assustou com a sugestão.
- Sobe logo aqui. – Big Rob o chamou.
- Está bem. – aproximou-se, estranhando aquele plano maluco. Colocou um dos pés em um dos ombros do Big Rob. Ele tentou colocar o outro pé, mas ficou com medo de machucar o segurança.
- O que você está esperando? – Big Rob continuava esperando. Suas mãos estavam prontas para segurar , que certamente perderia o equilíbrio.
- É como estar levantando uma formiga pra você, né? – segurou o riso, enquanto colocava o seu outro pé no ombro do Big Rob. Segurou suas mãos, enquanto o Big Rob ficava de pé com ele seus ombros.
- Agora você vai ter que soltar a minha mão pra segurar o galho. – Big Rob avisou, estranhando a demora de ao agir.
- Calma, cara. Nem todos são ninjas como você. – disse, olhando para cima e avistando o galho.
- Espero que tenha um bom motivo pra estar fazendo isso. – Big Rob rolou os olhos.
- O motivo é bom. Só não sei se é bom o bastante. – ainda encarava o galho da árvore, como se desejasse que ele descesse para que ele não precisasse subir.
- Sabe que eu não consigo te levantar mais do que isso, não sabe? – Big Rob avisou, julgando a demora do .
- Eu vou cair, porra. – resmungou, fazendo careta.
- Levanta rápido e nem vai dar tempo de você cair. – Big Rob aconselhou e isso fez com que ficasse mais corajoso. Não demorou para que em um impulso ele soltasse as mãos do Big Rob, se levantasse e se segurasse no galho com as suas duas mãos.
- Bacana. E agora? – não sabia como seguir com o plano. Pendurado no galho, ele começou a se aproximar do tronco e com uma certa dificuldade, conseguiu alcançar um outro galho que ficava um pouco mais alto. Foi fazendo a mesma coisa até conseguir chegar no galho mais próximo da minha sacada, que por acaso também era o mais alto da árvore. Com muito esforço, ele conseguiu ficar de pé naquele galho, mas a sacada ainda parecia um pouco distante. – Droga. – Ele suspirou, sem acreditar que teria mesmo que fazer aquilo.
- Ei! Não faça isso! – Big Rob gritou lá de baixo, quando percebeu a intenção de de pular do galho até a sacada.

Sentada na minha cama, eu estudava um dos meus livros para as provas daquele semestre. Ainda faltava algum tempo para as provas, mas eu precisava me distrair com qualquer coisa. Nada como unir o útil ao agradável, não é? Concentrada no livro, eu ignorei algumas vozes que eu havia escutado do lado de fora da casa, mas foi impossível ignorar o barulhão que parecia vir da sacada do meu quarto. Deixei o livro de lado e encarei a porta de vidro que dava acesso a sacada e fiquei com medo de me aproximar. Qual é! Tem alguém tentando me matar, né? Me levantei da cama, fui me aproximando lentamente e abri as cortinas que impediam a minha visão do lado de fora. Eu não vi ninguém ali e achei que estivesse ficando louca. Comecei a me afastar da porta, quando uma voz gritou o meu nome.

- ! – Eu reconheci a voz e fiquei um pouco mais assustada. De onde a voz dele estava vindo? Voltei a me aproximar da porta e a abri. – Eu estou aqui. – Ele disse e eu consegui ver as duas mãos dele em volta dos pinos da grade de cimento que cercavam a sacada. Eu levei um susto ainda maior, quando me dei conta de que ele estava pendurado ali. Corri até a grade e olhei para baixo.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AI? – Eu gritei, vendo ele pendurado.
- Eu... – disse, olhando para as suas mãos. – Eu vim te convidar pra sair comigo. – Ele sorriu apesar de todo o esforço que estava fazendo.
- Você está de brincadeira, né? – Eu cerrei os olhos em sua direção.
- É perigoso demais pra uma brincadeira, não acha? – disse em meio a uma respiração ofegante.
- Precisava fazer tudo isso? O meu quarto também tem porta, sabia? – Eu o olhei, indignada.
- Você me diria não. – explicou o motivo de ter optado por um caminho alternativo.
- Bem, eu ainda estou te dizendo não. – Eu neguei com a cabeça, enquanto fazia careta.
- Então, eu vou esperar você dizer sim. – voltou a olhar para as suas mãos, que já doíam por causa da força com que ele segurava aquela grade.
- Deixa de besteira. – Eu não o levei a sério. – Vem, eu te ajudo a sair dai. – Eu disse, me inclinando e estendendo a minha mão em sua direção.
- Não! – negou com a cabeça, recusando a minha ajuda.
- Você está maluco? Já viu a altura disso? – Eu não entendi qual era o objetivo dele.
- Basta você dizer sim. – me deu a solução.
- Eu não vou sair com você! – Eu afirmei, voltando a negar com a cabeça. – Me dá logo a sua mão! – Eu estendi novamente a minha mão em sua direção.
- Sai comigo amanhã? Qual é! É o meu último dia. – ignorava qualquer coisa que eu falava. Ele só queria que eu aceitasse o seu convite.
- , para com essa idiotice agora! Eu estou falando sério! – Eu disse, olhando pra ele mais séria. Era realmente perigoso o que ele estava fazendo.
- Sai comigo! – continuou insistindo.
- Não! – Eu afirmei de forma mais grosseira. Foi então que ele resolveu soltar uma das mãos e o meu coração quase parou.
- Está maluco, garoto? – Big Rob gritou lá de baixo.
- ! – Eu chamei a sua atenção. – Para com isso! – Eu estava desesperada.
- Sai comigo! – gritou, fazendo cara de esforço.
- ! – Eu novamente dei uma bronca nele.
- SAI COMIGO? – gritou ainda mais, revezando os seus olhares para mim e para a sua mão, que ainda segurava a grade.
- OK! OK! – Eu gritei, cedendo a pressão básica que ele estava fazendo. – EU SAIO COM VOCÊ! EU SAIO! DROGA! – Eu estava furiosa, mas ao mesmo tempo preocupada com ele. No segundo seguinte, ele voltou a segurar a grade com as duas mãos. Ele sorriu pra mim, satisfeito com a sua conquista. – Me dá logo a sua mão! – Eu voltei a estender a minha mão em sua direção e ele não demorou para segurá-la. Eu não sou tão forte, mas me esforcei ao máximo para trazê-lo para cima para que ele ao menos pudesse alcançar a parte de cima da grade. Eu consegui trazer uma das mãos dele até em cima e foi fácil pra ele levar a sua outra mão até a parte de cima da grade. fez um esforço absurdo para trazer o seu corpo pra cima só com a força de seus braços. – Meu Deus... – Eu fiquei horrorizada, temendo que ele caísse a qualquer momento. Ele conseguiu ajoelhar-se na grade e depois virou o seu corpo pra dentro da sacada, pulando lá dentro em seguida.
- Merda. – suspirou, olhando para as suas mãos, que estavam extremamente vermelhas.
- Qual é o seu problema? – Eu o empurrei, quando vi que ele já estava a salvo.
- Agora não tem mais problema algum. – sorriu pra mim, referindo-se ao fato de eu ter aceito o seu convite.
- Seu idiota! – Eu voltei a empurrá-lo. – Você poderia ter morrido! – Eu o condenei pela sua atitude irresponsável.
- E perder o nosso encontro amanhã? – provocou, me fazendo cerrar os olhos em sua direção.
- Você é inacreditável! – Eu neguei com a cabeça.
- E tinha outro jeito de te convencer a me dar outra chance? – ergueu os ombros.
- Saí daqui. – Eu olhei pra ele, furiosa. – Vai! – Eu apontei em direção a porta. Ele sorriu, pois percebeu que eu ainda estava assustada com o que havia acontecido.
- Está bem. – achou que já havia extrapolado todos os limites naquele dia. – Desculpa se eu... – Ele fez cara de menino travesso.
- Ok... – Eu fechei os olhos para não surtar de vez. Ele não queria causar uma nova briga, então ele atendeu o meu pedido de sair do quarto. – Meu Deus... – Eu sussurrei, quando vi que ele já tinha saído do quarto. Ele era maluco! Se arriscar só por causa de um encontro? De uma chance? Ele era mesmo louco.

Mesmo com a insanidade do que ele havia feito, estava extremamente feliz. Pior seria se ele fizesse tudo aquilo e não conseguisse o que tanto queria. Ele conseguiu me convencer a sair com ele! É claro que isso não era uma garantia de que eu ia perdoá-lo ou até mesmo querer alguma coisa com ele, mas já era um bom começo. me conhece muito bem e sabe exatamente do que eu gosto. Ele vai usar todas as suas armas para me provar que ele se importa e que nada mudou pra ele desde que nós namorávamos.

Eu não estava tão empolgada como o . Na verdade, eu não estava nem um pouco animada. Eu não queria mais aquilo. Eu não queria me envolver com ele. Pra mim, parecia que ele estava fazendo tudo por pena. Parecia que ele ficou mal em me ver tão arrasada e agora está querendo se redimir. Se o que eu sentisse fosse recíproco, ele teria ido ao show. Foi como a gota d’água. Já chega! Eu já entendi! Ele não precisava ficar tentando fazer eu me sentir melhor. Não é mais problema dele. Eu não queria ir a lugar algum com o , pois eu sabia o quanto isso ia me magoar mais tarde.

Mesmo sabendo que eu iria naquele encontro contra a minha vontade, sabia que conseguiria dar um jeito de fazer eu me divertir. Essa era a única certeza dele. estava tão ansioso, que passou o resto da noite planejando a noite seguinte. Ele queria que tudo fosse perfeito. Aquela não era só a sua última chance, mas também o seu último dia em Nova York e não havia mais ninguém com quem ele gostaria de ficar. Nós não trocamos mais palavras naquela noite. Eu cheguei a vê-lo quando desci para comer alguma coisa na cozinha, mas não houve manifestação em nenhuma dos lados.

Demorou para que o meu coração se acalmasse depois do que aconteceu. Eu tive que parar e sentar para conseguir me acalmar daquele susto. Tudo aquilo foi tão insano, que chegou em um momento que eu cheguei a achar graça da situação. Quem faz uma coisa dessas? Achar graça não fez tudo se tornar menos desagradável. Comecei a pensar em como seria esse encontro e como seria passar a noite inteira com ele. Era tudo o que eu menos queria. Eu só queria ficar longe dele. Eu só queria parar de sofrer por causa dessa idiota. É pedir muito?

Não consegui voltar a estudar naquela noite. Não tinha concentração e nem paciência para isso. Depois de tomar banho e jantar, me contentei com um filme qualquer que estava passando na TV. Era um daqueles filmes antigos que passam quase todo dia na TV, mas você nunca assistiu. O filme estava bom, mas eu acabei dormindo na metade dele. A sexta-feira turbulenta havia acabado pra mim.

dormiu um pouco mais tarde. Ele estava empolgadíssimo com o dia seguinte e não via a hora que chegasse logo o sábado, por isso, resolveu se ocupar para ver se a hora passava. Depois de fazer altos planos para o dia seguinte, ele comeu qualquer coisa que encontrou na cozinha e jogou um pouco do seu videogame. Antes de subir para tomar banho e dormir em sua cama, se certificou de que a porta estava trancada e o alarme ligado. Tomou o seu banho e fez a sua higiene antes de ir para a cama. Não demorou tanto para dormir como na noite passada, mas acabou acordando ás 3:35. Diferente dos últimos dias, nem sequer levantou da cama. Ele sabia que eu não desceria para tomar chocolate quente, mas isso não fez com que ele sentisse menos falta das nossas conversas da madrugada. Ele sentia falta de estar numa boa comigo e de poder falar comigo sempre que queria. Ele sentia falta de mim e se perguntou como conseguiria lidar com isso quando voltasse para Atlantic City. Como seria não me ver todos os dias? Com seria estar tão longe de mim de novo? sabia muito bem como seria, mas ele não gostava de se lembrar.

Acordei bem tarde naquele sábado, porém isso não me motivou a levantar da cama. Fiquei um bom tempo lá deitada mesmo sabendo que já deveria ser bem tarde. Fiquei tentando imaginar como seria aquela noite e não consegui pensar em nada que pudesse me empolgar. Devo ter ficado olhando para o teto uns 30 minutos e só então eu decidi levantar. Arrumei a minha cama e fui até o banheiro com toda a preguiça do mundo para fazer a minha higiene matinal. Ainda de pijamas, desci as escadas e estranhei o silêncio total na casa. Cadê ele? Eu olhei na sala e depois na cozinha e foi então que eu vi uma xícara de café dentro da pia e me lembrei que o tinha comentado sobre uma reunião com o pessoal do Yankees. Hoje era a última reunião.

Era um pouco mais de uma da tarde, quando a reunião no Gramercy Hotel acabou. assinou o contrato e foi saudado por todos os gestores a sua volta, inclusive pelo presidente da companhia. Todos pareciam muito felizes por terem conseguido entrar em um acordo com o , que além de parecer muito ético, trabalhava em uma das empresas publicitarias esportivas mais conhecidas do país. A felicidade de também era evidente.

- Você me disse que é muito fã do Yankees, certo? – O presidente da companhia se aproximou.
- Sim, senhor. Eu sou torcedor desde... sempre. – sorriu, sem jeito. O homem parecia meio intimidador.
- Saiba que pode vir assistir os jogos quando quiser. A temporada logo começará. – O presidente afirmou, fazendo abrir um enorme sorriso. Ele imediatamente lembrou de seus melhores amigos.
- Eu adoraria. Vou ver se trago alguns amigos. – sorriu para o homem respeitável em sua frente, que pareceu ter gostado do que ouviu.
- Faça isso. – O presidente afirmou com a cabeça antes de se retirar.

A reunião acontecia em uma sala enorme de reuniões que havia em um dos andares do Gramercy Hotel. Olhando pela janela da sala, conseguiu avistar um parque lá embaixo. O parque não era muito grande e parecia ser muito reservado. Havia muitas árvores a sua volta e era difícil conseguir enxergar algo além de todo aquele verde. O parque chamou a atenção de , que por sua vez também chamou a atenção de um dos principais gestores, que estranhou ao vê-lo afastado de todos. O gerente se aproximou silenciosamente, colocou-se ao lado de e passou a olhar pela mesma janela que ele.

- É bonito, não é? – O gerente surpreendeu , que quase perdeu a compostura.
- Sim. É um parque muito bonito e... incomum. – olhou para o gerente por poucos segundos e em seguida voltou a olhar para o parque lá embaixo.
- Incomum. Essa é a descrição perfeita pra ele. – O gerente concordou.
- Esse é o Gramercy Park, certo? – perguntou apenas para ter certeza.
- O próprio. – O gerente afirmou.
- Uau. – ficou ainda mais interessado no parque e o olhou com ainda mais atenção. – É um dos únicos parques privados do país. – Ele completou.
- Eles me deram a chave quando eu cheguei no hotel. Acho que é por causa da suíte presidencial. – O gerente sorriu. – Porém, eu não sou tão ligado a natureza. – Ele disse, deixando ainda mais perplexo.
- O senhor tem a chave do parque? – demorou para acreditar. A chave era restrita apenas para alguns dos moradores mais antigos do bairro e também para alguns clientes importantes do Gramercy Hotel.
- Deve estar aqui em algum lugar. – O gerente olhou em volta e não encontrou. Em poucos segundos, teve a melhor ideia de sua vida.
- Desculpa, senhor. Eu sei que vai parecer estranho e... incomum, mas... – não sabia nem como explicar. – Seria possível o senhor me emprestar a chave por apenas uma noite? – Ele sorriu, sem graça.
- Você quer as chaves? Você gosta da natureza? – O gerente sorriu para o garoto em sua frente.
- Na verdade, eu acho que gosto de alguém. Alguém que adoraria conhecer esse parque. – estava extremamente sem graça. Ele não saberia o que fazer se o gerente recusasse o seu pedido de empréstimo.
- Eu entendo perfeitamente. – O gerente deu um sorriso ainda maior para . – O problema é que eu sou o responsável pelas chaves. Se você as perdesse... – Ele lamentou.
- Eu entendo, senhor. – deu um sorriso um pouco mais murcho.
- Sinto muito. – O gerente notou que ficou um pouco decepcionado.
- Imagina. Está tudo bem. É claro que o senhor não pode emprestar. Onde eu estava com a cabeça? – sorriu, debochando de si mesmo. – Eu já vou indo embora. Eu ainda tenho que arrumar as minhas coisas. Volto pra Atlantic City amanhã. – Ele fingiu ter esquecido o assunto. – Obrigado, senhor. – estendeu a mão e o gerente a apertou.

Antes de ir embora, fez questão de apertar as mãos de cada um dos gerentes e do presidente da companhia. Ele fez um breve discurso de agradecimento e disse que estava extremamente feliz e honrado com a grande oportunidade. Por fim, prometeu dar o seu melhor e prometeu não decepcioná-los. Os gerentes ficaram bem felizes com a dedicação que demonstrava ter e a capacidade que ele havia demonstrado até agora. Ele parecia o cara perfeito para o Yankees: jovem, inteligente e moderno. Despediu-se de todos e chegou a sair para o lado de fora da sala de reunião, quando alguém chamou a sua atenção.

- Ei! – ouviu uma voz atrás dele e virou-se rapidamente. – Pegue isso. – O gerente jogou as chaves em sua direção e a pegou no susto.
- Isso é... – olhou as chaves do Gramercy Park e não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
- Passe aqui para me devolver antes de você ir embora amanhã. – O gerente pediu, vendo um enorme sorriso no rosto do . – Impressione a sua garota. – Ele piscou um dos olhos e antes mesmo que respondesse qualquer coisa, o gerente virou-se de costas e voltou para a sala de reunião. ficou algum tempo olhando para a porta, perplexo.
- Ela não vai acreditar. – disse em meio a um enorme sorriso.

Sem qualquer expectativa de ter o meu sábado salvo, eu resolvi fazer um almoço decente naquele dia, porque eu estava com saudades de comer comida de verdade. Seria mais fácil ir até um restaurante, certo? Ideia estúpida! Eu fiz sim a comida e ela parecia ótima até eu começar a comê-la. Ficou tudo salgado e eu nem conseguia engolir. Me recuperei daquele trauma com uns 10 copos de água tomados um atrás do outro. Depois do meu fracasso, eu resolvi comer algo que a minha mãe havia deixado no meu congelador há algumas semanas. Eu não sabia se estava bom, mas qualquer coisa era melhor do que a minha comida.

Terminei de almoçar, lavei a louça e arrumei toda a bagunça que eu havia feito. Voltei a subir para o meu quarto para buscar o meu material da faculdade para poder terminar alguns trabalhos que eu já havia começado. Levei tudo lá pra baixo e usei a mesa de jantar para fazer aquilo. Fiquei um bom tempo fazendo os meus trabalhos e nem sequer notei que o estava demorando demais para chegar, mas fui obrigada a me lembrar dele quando ouvi o seu carro sendo estacionado lá fora. entrou na casa com uma sacola e um envelope nas mãos. Eu não dei muita atenção e fiz de propósito.

- Hey. – disse, aproximando-se da mesa de jantar.
- Oi. – Eu respondi sem olhá-lo. Ele continuou parado, me olhando. As mãos dele estavam no bolso de sua calça. – O que foi? – Eu finalmente o olhei.
- Está tudo certo pra hoje? – sorriu de canto.
- Hoje? – Eu me fiz de boba.
- Não tem graça. – arqueou uma das sobrancelhas.
- Olha... – Eu deixei de olhá-lo por um momento. – Eu sei que você tem boas intenções e sei que só está querendo consertar os seus erros, que na verdade nem são erros. – Eu voltei a olhá-lo, enquanto negava com a cabeça.
- Mas... – previu o que viria a seguir.
- Mas eu não sei se quero fazer isso. – Eu disse logo de uma vez.
- Nem pense nisso. – também ficou sério. – Você disse que iria. Você tem palavra, então eu sei que você vai. – Ele usou a minha palavra a seu favor.
- Eu sei, mas... eu posso ter mudado de ideia. – Eu ergui os ombros.
- Não faz isso, ok? Eu não quero mais conversar, porque não quero ouvir você dizer que vai desistir do nosso encontro. Se eu não ouvir, você vai ter que aparecer porque você não vai me deixar esperando. Não faz o seu tipo. – deixou de me olhar e foi saindo.
- Sabe que seria a vingança perfeita, né? – Eu olhei pra ele de costas.
- Você já teve a sua vingança e ela durou 6 anos, lembra? – disse, subindo as escadas. – Eu te espero aqui embaixo ás 19hrs. – Ele continuou subindo e nem sequer olhou pra trás.

Qual seria a graça de ir em um encontro com uma pessoa que não quer estar lá? Ou o tem um plano épico para fazer com que eu me divirta nesse encontro ou ele tem uma esperança enorme. A verdade (que eu não sabia) era que o tinha mesmo um plano. Ele sabia exatamente do que eu gostava e de como eu reagia a diferentes coisas que ele fazia. Apesar do plano ser bom, também havia um pouco de esperança. Esperança de que alguma coisa dentro de mim acabesse falando mais alto do que qualquer outra coisa. Mesmo tendo pensado em tudo, ainda se sentia inseguro com relação a tudo. Ele temia que tudo desse errado. Se desse errado, ele não teria outra chance, já que ele iria embora no dia seguinte.

Toda a segurança do com relação a aquele encontro me deixava um pouco desconfiava. Parecia que ele estava armando algo que eu não sabia o que era e eu tenho medo de como eu vou reagir isso. Eu não gosto de ser pega desprevenida. Ainda mais em uma situação dessas. Apesar de tudo, tentei me concentrar nos meus trabalhos e consegui terminá-los quando já era um pouco mais de 17hrs. Guardei tudo e voltei pro meu quarto sem qualquer coragem de começar me arrumar. Enrolei algum tempo na minha cama e só comecei a me arrumar ás 18hrs. Foi nesse mesmo horário que o também começou a se arrumar.

Depois de tomar banho, eu voltei para o quarto sem saber o que vestir. Estava frio demais para um vestido, mas também não dava para vestir tanta roupa e sair andando por ai como um robô. Optei por uma calça jeans simples, uma blusa branca básica e uma jaqueta de couro preta por cima (VEJA A ROUPA AQUI). Como achei que eu passaria um pouco de frio, coloquei um cachecol em volta do pescoço e vesti botas de salto, porém sem cano longo. Não era porque eu não queria ir nesse encontro que eu tinha que ir mal arrumada, né? Me maquiei como em qualquer outro dia, mas não quis que a maquiagem ficasse tão pesada. Mantive o meu cabelo solto e passei perfume. Coloquei alguns acessórios como anéis, brincos discretos e até mesmo uma pulseira, mas não era mais a que ele havia me dado. Deu 19hrs e eu já estava pronta.



As 19hrs o também estava pronto e já estava lá embaixo me esperando. Ele estava ansioso e não sabia como se comportar. teve medo que eu lhe desse um bolo, mas eu acabei com todo o seu receio quando eu apareci no topo da escada. Eu desci as escadas sem dar tanta atenção pra ele, mas a atenção de estava toda voltada pra mim. Ele mal conseguia piscar. Os olhos dele me acompanharam até eu parar em sua frente. distribuiu olhares pelo meu rosto e eu consegui ver um discreto sorriso surgir no canto do seu rosto. O sorriso dele não foi a única coisa que me chamou atenção. Ele estava muito bonito. vestia calça jeans, camiseta de cor vinho lisa, uma jaqueta de couro preta e tênis também preto. O cabelo dele estava estrategicamente bagunçado e ainda parecia um pouco molhado. Em seu rosto não tinha nada de diferente. Ele estava bonito como sempre, mas havia algo especial nele naquele dia. Talvez fosse o olhar, o sorriso ou talvez o conjunto todo. estava absurdamente perfeito, mas ele não poderia saber.



TROQUE A MÚSICA:



- Você está incrível. – disse, enquanto ele me olhava discretamente dos pés a cabeça.
- Obrigada. – Eu nunca me acostumava com aquilo e acabava ficando sem graça. Abaixei a minha cabeça, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – Podemos ir? – Eu quis mudar de assunto.
- Sim, podemos. – percebeu que eu ainda estava com o pé atrás com o que faríamos, mas isso não o intimidou nem um pouco. Ele foi até a porta e a abriu, esperando que eu saísse. Eu sai e ele veio logo atrás de mim, apagando as luzes e trancando a porta.

Apesar de ter dado a ideia e de ter idealizado tanto aquilo, estava extremamente nervoso. Fazia tempos que ele não fazia aquilo. Fazia tempo que ele não ia a um encontro de verdade em que ele pudesse agir naturalmente e ser ele mesmo. Essa era a parte mais complicada. Comigo era tão mais fácil de ele ser ele mesmo e isso deixava totalmente vulnerável e aberto sobre tudo o que ele sentia. Isso era preocupante e perigoso, pois não sabia se eu cederia. Isso faria tudo ser em vão e ser muito mais doloroso para ele.

O silêncio que se estabeleceu dentro do carro fez ficar mais preocupado. Ele sabia lidar comigo antes. Ele sabia o que me acalmava e o que me fazia ceder a todos os seus encantos, mas tanto tempo se passou e já não sabia se ainda sabia fazer aquilo. Ele não sabia se eu ainda aceitaria as suas palavras bobas e atitudes desajeitadas. Ele não sabia mais se era o bastante pra mim.

- Você está com fome, né? – tentou quebrar o silêncio.
- Estou. – Eu afirmei, sem olhá-lo. Ficamos mais algum tempo em silêncio. – Não vai perguntar onde eu quero ir jantar? – Eu perguntei, pois era o que ele costumava perguntar.
- Previsível demais, não acha? – sorriu de canto, enquanto mantinha a sua atenção no trânsito. Ele ficou feliz com o comentário. Surpreender sempre é o melhor caminho.

Eu não estava levando tanta fé nele. O parecia ter cartas na manga, mas a única que eu havia visto até agora era a sua beleza fora de limites naquela noite. Como o previsto, ele me levou em um restaurante. Era um restaurante italiano que eu nunca tinha ido antes. Eu me lembro de ter dito pra ele há tempos atrás que eu gostava de comida italiana. Estava explicado! Mesmo eu querendo disfarçar, a minha reação não tinha sido do jeito que o imaginava e esperava.

- Eu nunca vim aqui. – Eu disse apenas para agradá-lo. Eu não queria ser mal educada e ficar dando patadas nele a noite toda.

Eu conseguia notar o esforço de em fazer eu me sentir bem fazendo aquilo. Ele puxou a cadeira para que eu sentasse, ele pediu as massas mais caras e um vinho maravilhoso, mas a nossa falta de assunto o preocupava. Eu continuava me esforçando para ser legal e até mesmo conseguia forçar um sorriso de vez em quando, mas nada que pudesse convencê-lo de que o seu plano estava dando certo.

Nós acabamos de jantar e o não demorou nada para pedir a conta. Ele queria sair logo daquele restaurante, que havia feito do nosso encontro (até agora) um desastre. É claro que eu notei a sua evidente frustração e decepção por não estar conseguindo fazer a coisa certa, mas eu não podia fazer muita coisa a respeito. Para mim, eu estava fazendo muito de estar ali. Eu não queria estar ali. Ficar perto dele me fazia mal, considerando a situação em que nos encontrávamos.

Nós entramos no carro e o silêncio se manteve. estava um pouco mais decepcionado do que deveria, pois a primeira parte do seu plano não tinha dado nada certo. Na verdade, foi um fracasso. Ele não conseguiu fazer com que eu me divertisse e esquecesse o que eu havia acontecido. Eu não estava tão surpresa com o que estava acontecendo. Eu sabia que seria difícil quebrar o gelo e que seria difícil fingir que nada havia acontecido. Eu fiz o meu melhor para ser agradável e pra ser menos fria possível, mas realmente não é tão fácil fazer isso depois de tudo o que aconteceu.

- Você sabe que a minha casa é para aquele lado, né? – Eu estranhei, quando ele foi para o lado oposto de onde ficava a minha casa.
- Não estamos indo pra casa. – afirmou. Ele nem sequer me olhou, pois não queria me ver surtar.
- Como assim? – Eu o olhei, surpresa.
- O encontro não acabou. – afirmou como se nem estivesse se importando com o fato de eu querer ir até lá ou não.
- Mas onde você... – Eu comecei a perguntar, quando ele parou o carro repentinamente em frente a uma pista de ski. Eu fiquei algum tempo olhando para todas aquelas pessoas patinando sem saber o que dizer. – Não. – Eu virei o meu rosto para olhá-lo.
- Sim. – afirmou, abrindo a porta e saindo do carro. A atitude dele me deixou um pouco irritada e me fez sair do carro. Como ele me levou até lá sem me consultar?
- Você não acha que eu vou patinar, acha? – Eu disse logo depois de bater a porta do carro e ir atrás dele.
- E porque não? Você não consegue? – olhou pra trás e sorriu pra mim.
- Eu consigo! Você é que não consegue. Lembra? – Eu disse, me lembrando das outras vezes que tivemos a oportunidade de patinar juntos (não como namorados, mas junto com os nossos amigos).
- Quer dizer que você está preocupada comigo, então? – me olhou com um sorriso malandro, enquanto ele parou de costas para a pista de patinação para ficar de frente pra mim.
- Não. Isso quer dizer que se você cair, eu não vou conseguir te levantar. – Eu ergui os ombros, parando em sua frente.
- Não se preocupe comigo. Eu sei cuidar me cuidar. – ignorou todas as minhas desculpas. – Eu te trouxe aqui, porque sei que você gosta de patinar. Você não vai fazer essa desfeita, vai? – Ele me olhou com aquela cara de cachorro que caiu da mudança.
- Está bem. – Apesar de tudo, eu ainda estava tentando ser legal. – Eu vou patinar. – Eu rolei discretamente os olhos, quando vi ele abrir um enorme sorriso.

Eu estava percebendo o que ele estava tentando fazer e, sinceramente, é muito adorável e tentador, mas ainda não havia me convencido. Eu não sai de casa hoje disposta a ceder e nada até agora me fez mudar de opinião. Pra mim, isso era uma coisa boa. Isso só me mostrava que a minha decepção havia finalmente me ensinado alguma coisa e estava me fazendo seguir o caminho certo pela primeira vez.

Enfrentamos uma pequena fila e quando chegou a nossa vez, pagou a patinação e nós fomos até o balcão para pedir patins dos nossos números. Entramos na pista de patinar e nos sentamos em um banco, onde as pessoas costumavam sentar para colocarem os seus patins. Nos sentamos lado a lado, enquanto trocávamos os nossos calçados pelos patins.

- Não acredito que estou fazendo isso. – suspirou, enquanto fechava o segundo patins.
- Não precisa ir se não quiser. – Eu disse, enquanto me levantava do banco.
- E te deixar sozinha no nosso encontro? Nunca. – me olhou daquele seu jeito sedutor.
- Você é quem sabe. – Eu neguei com a cabeça, enquanto começava a me afastar dele. Virei de costas pra ele e comecei a dar algumas voltas pela pista.

Eu não era nenhuma profissional e nem ao menos tinha feito aulas de patinação. Eu acho que eu só levava jeito pra coisa. me observou por algum tempo e não se atreveu nem a levantar do banco. Ele era péssimo nessa coisa de patinar. Depois de algumas voltas, eu percebi que ainda estava lá sentado e resolvi ir até lá.

- E então, vai ficar sentado ai? – Eu parei em sua frente.
- Eu acho que sim. É mais... seguro. – fez careta, pois achava vergonhosa a sua falta de habilidade para patinar.
- Você me fez vir até aqui para ficar ai sentado? Pode ir levantando. – Eu cruzei os braços, enquanto dizia em um tom de bronca. Ele me olhou, mas demorou algum tempo para decidir o que fazer.
- Você está certa. – sabia que não estava fazendo a sua parte. – Espera. – Ele pediu, enquanto inclinava-se lentamente para levantar. A sua lentidão e nervosismo ao levantar me fizeram ter vontade de rir, mas eu me esforcei para segurar. – Pronto. – me olhou, satisfeito com o que havia feito até agora.
- Consegue patinar? – Eu perguntei, apontando a cabeça em direção ao restante da pista.
- Você está pedindo demais, não acha? – reprimiu um sorriso, enquanto olhava pra mim.
- Porque você não tenta? – Eu o incentivei e ele demonstrou indecisão.
- Ok, como eu faço? – pediu indiretamente a minha ajuda. Ele estava disposto a aprender.
- Comece parando de tremer tanto as pernas. – Eu brinquei, fazendo com que ele deixasse de me olhar para rolar os olhos.
- Oh, você está achando engraçado? – cerrou os olhos pra mim.
- Me desculpa. Eu já parei. – Eu engoli o riso e me esforcei para ficar séria. – É tudo uma questão de equilíbrio. É só manter o equilíbrio e deixar a lamina deslizar. – Eu aconselhei, olhando para os pés dele. demorou algum tempo para ganhar confiança para dar um pequeno passo para frente e quando ele o fez, se desequilibrou. Se ele não conseguisse segurar a grade que estava logo atrás dele, ele teria caído.
- Droga. – suspirou, irritado com o quase tombo. – Viu? É melhor eu ficar aqui. – Ele me olhou, segurando firme na grade atrás dele.
- Vamos. Eu vou te ajudar. – Eu estendi a minha mão em sua direção. Juro que eu não tinha segundas intenções. Eu só queria que ele se divertisse, já que ele havia tido o maior trabalho para estarmos ali juntos naquele dia. Eu só estava sendo legal com ele.
- Sério? – olhou para a minha mão, demonstrando não gostar muito da ideia.
- Sério! – Eu afirmei, esperando ele segurar a minha mão.
- Isso é meio gay, sabia? – rolou os olhos, levando a sua mão até a minha.
- Deixa de ser bobo. – Eu sorri discretamente. – Vem. – Eu puxei ele, mas ele demorou algum tempo pra soltar a grade. – Ok. – Eu disse, voltando a me virar de frente pra ele quando nós paramos quase no centro da pista. – Olha para os meus pés. – Eu fui ao lado dele e ambos olhamos para baixo. – Esse é o movimento que você vai fazer. – Eu fiz os movimentos com os pés para que ele visse.
- E se eu quiser parar... – perguntou, prestando muita atenção.
- Se você quiser parar você faz assim. – Eu demonstrei. – Ok? – Eu voltei a olhar para o rosto dele, pois queria saber se ele tinha mais alguma dúvida.
- Mais ou menos, né. – levou uma de suas mãos até a cabeça e bagunçou o seu cabelo, demonstrando estar confuso.
- Vamos tentar. – Eu disse e comecei a dar pequenos passos. Ele me acompanhou com mais cuidado. Ainda estávamos de mãos dadas. Ele estava usando a minha mão para conseguir equilíbrio.
- Inacreditável. – sorriu, sem acreditar que era ele mesmo que estava patinando.
- Viu? A coisa muda quando se tem uma boa professora. – Eu me gabei, parando de patinar. Ele parou comigo.
- Você fez um milagre aqui. Sério! – sorriu pra mim.
- Você já pode dar uma volta. – Eu tentei desconversar e disfarçar o meu comportamento diante do seu sorriso. Isso ainda me tirava do chão.
- Não. Eu não acho que eu ainda... – começou a arrumar desculpas para justificar a sua falta de coragem de continuar patinando sozinho. Foi nesse momento que eu resolvi tomar a atitude por ele e o puxei com a mão, que eu ainda segurava e depois o soltei. Ele saiu patinando desengonçadamente e manteve os braços abertos para tentar encontrar equilíbrio. parou um pouco longe de mim e parecia não conseguir se mover. Acho que traumatizei o garoto. Fui patinando até ele e parei em sua frente. – Está maluca? – Ele esbravejou. Estava até pálido.
- Você faz isso comigo todas as vezes que eu não tenho coragem de fazer alguma coisa. Funcionou! – Eu ergui os ombros, segurando o riso.
- Sim, mas eu faço isso porque eu sei que se acontecer alguma coisa eu vou conseguir te segurar. Você conseguiria me segurar se eu caísse? – perguntou, tentando segurar o riso também.
- Eu não sei. Porque você não tenta e nós descobrimos? – Eu ironizei e ele cerrou os olhos pra mim.
- Depender da ajuda da garota que mais me odeia no mundo. Onde eu estava com a cabeça? – negou com a cabeça e manteve um sorriso no canto do rosto.
- Não me diga que já se arrependeu do nosso encontro. – Eu disse com um discreto sorriso, enquanto me afastava dele. Deixei de olhá-lo, quando me afastei ainda mais para dar algumas voltas pela pista. me observou com um fraco sorriso no rosto. Ele não sabia o motivo, mas sempre que as coisas ficavam mais difíceis, elas pareciam ainda mais interessantes pra ele.

A situação continuava complicada, mas eu estava começando a me divertir. Eu adorava patinar, mas tinha poucas oportunidades de fazer isso. Eu costumava fazer isso com as minhas melhores amigas, quando nós éramos mais novas. Com o passar do tempo, acabamos deixando isso pra trás. O ter me levado até aquela pista de patinação foi uma boa surpresa, mas não foi suficiente para fazer com que aquele gelo se quebrasse. O gelo não era uma coisa planejada por mim ou algum tipo de vingança. Era a forma que eu estava reagindo diante de tudo. Depois da última decepção, eu estou um pouco travada. Estou com medo de me soltar e de me permitir enganar de novo. Então, eu ficava na defensiva.

entendia completamente o meu comportamento, mas aos poucos ele sentia que estava conseguindo quebrar aquele muro que eu havia construído a minha volta. Ele ficava me observando, enquanto eu patinava por todo o lugar e ficava pensando o quão incrível era me ver daquele jeito: livre, feliz e irritantemente bonita. Era naqueles momentos que ele pensava o quão injusto era me fazer sofrer.

se lembrou de quantas vezes idealizou me fazer a garota mais feliz do mundo e ser o motivo de todos os meus sorrisos. Eu dei a ele uma nova chance de ser aquela pessoa, mas ele jogou essa chance fora. Parado no centro daquela pista de patinação, percebeu que ele ainda queria ser aquela pessoa pra mim. Ele ainda queria ser o cara que me arranca os melhores sorrisos e que vivia no meu pensamento.

- Se você não está se divertindo, nós podemos ir embora. – Eu disse quando voltei a me aproximar dele.
- Eu estou me divertindo. – respondeu prontamente. Sua resposta quase me fez rir.
- Está mesmo? – Eu cruzei os braços, ironizando o fato de ele estar há 10 minutos ali parado.
- Eu estou aqui com você. Eu não poderia pensar em nenhum outro lugar melhor para estar. – sorriu, sem jeito. Mesmo depois de tanto tempo, ele ainda ficava sem graça quando dizia qualquer coisa mais romântica.
- Não me diga. – Eu não consegui controlar o sorriso. Wow! Ele estava investindo pesado! – Você é bom! Você sabe que é, não sabe? – Eu neguei com a cabeça entre risos.
- Para de rir. – também riu sem emitir qualquer som. Eu deixei de olhá-lo. Pra mim não passava de lábia. – Ei. – Ele chamou a minha atenção, levando sua mão até a minha e me puxando pra mais perto. – Eu estou falando sério. – me viu ficar um pouco mais tensa com aproximação. – Eu gosto de ver você se divertindo. Se você está se divertindo, então eu também estou. – Ele disse olhando nos meus olhos.
- Que tal parar de ver e se juntar a mim? – Eu forcei um sorriso, que deixou claro que eu apenas estava querendo fugir do assunto. Aproveitei que ele ainda segurava a minha mão e eu o puxei para darmos uma volta. Ele me seguiu, enquanto rolava os olhos e ria, frustrado.

Eu não vou mentir e dizer que não sinto o meu coração disparar a cada investida dele. Eu não vou dizer que mesmo longe, o perfume dele me perseguia e me fazia querer abraçá-lo. Eu não vou dizer que o meu coração não está começando a querer ceder a toda aquela pressão. Demos algumas voltas pela pista. Eu tive que patinar mais devagar por causa do . Ele quase escorregou umas duas ou três vezes. sabia apenas o básico do básico. Qualquer coisa a mais que ele tentava fazer, ele ameaçava levar um tombo.

- Meu Deus, você é horrível! – Eu disse, enquanto nós patinávamos mais devagar do que nunca.
- Isso não é justo! – me olhou, mas eu ainda estava de costas pra ele, pois eu estava patinando em sua frente. – Hey! – Ele puxou a minha mão, me fazendo virar de frente pra ele.
- O que foi? – Eu sabia que ele julgaria as minhas criticas.
- Você não pode falar desse jeito. – me olhou fingindo estar indignado. Havia um sorriso, que ele estava tentando reprimir, mas estava difícil. – Eu estou aqui só por causa de você! – Ele cerrou os olhos.
- Você tem que saber lidar com a verdade. – Eu ergui os ombros entre risos.
- Não! Você é que tem que ser mais sensível. Qual é! Estou dando o meu melhor. – continuou com o seu teatro, que só me fazia sentir mais vontade de rir.
- O seu melhor? Você nem ao menos está se esforçando! – Eu o provoquei ainda mais e ele voltou a cerrar os olhos.
- Como você ousa!? – disse pausadamente e foi impossível não rir. – Eu vou te provar que eu consigo fazer melhor. – Ainda segurando a minha mão, ele tentou fazer alguma gracinha com os patins, mas dessa vez ele não conseguiu manter-se de pé depois de um escorregão e foi direto pro chão.
- OH, MEU DEUS... – Eu resmunguei, quando a mão dele que segurava a minha me puxou junto com ele para o chão. caiu de costas pro gelo e eu cai de frente, mas em cima do corpo dele.
- Oh... – suspirou assim que o meu corpo caiu em cima do dele. – Droga. – Ele fechou os olhos para não sentir a dor. O jeito que o meu corpo caiu sobre o dele me assustou.
- ! – Eu disse, subindo o meu rosto e levando-o para perto do rosto dele para que eu pudesse ver como ele estava. – Você está bem? – Eu perguntei, vendo os seus olhos fechados. Algumas pessoas a nossa volta nos olhavam e outras pararam a nossa volta.
- Desculpa. – abriu os olhos e ficou surpreso por me ver tão perto do seu rosto.
- Você está bem? – Eu repeti a pergunta, ignorando o seu pedido de desculpas. As bochechas dele estavam rosadas e os olhos me encaravam de bem perto.
- Honestamente? – distribuiu olhares por todo o meu rosto. Eu estava aflita, esperando a continuação de sua resposta. – Eu nunca estive melhor. – Ele abriu um enorme sorriso. Ele certamente estava se referindo a nossa proximidade e o fato de eu estar em cima dele.
- Oh! – Eu rolei os olhos. – Seu idiota. – Eu dei um leve tapa no seu braço, enquanto ria.
- Foi o melhor mico de toda a minha vida. – disse aos risos e eu ri ainda mais.
- E você tinha mesmo que compartilhá-lo comigo? – Eu neguei com a cabeça, incrédula.
- Ninguém mandou você ficar me sacaneando. – se justificou.
- Ok. Ok! – Eu tive que concordar. – Você está bem mesmo? De verdade? – Eu voltei a perguntar, demonstrando preocupação. Eu sabia o quanto era perigoso essas quedas. Ele poderia ter batido a cabeça ou ter quebrado alguma coisa.
- Eu acho que sim. Eu acho que só bati a minha bunda. – fez careta.
- Então, você não deve ter sentido nada. – Eu brinquei e ele pareceu chocado com a minha brincadeira.
- O que? – abriu a boca, surpreso.
- Nada. – Eu desconversei e me esforcei para segurar o riso. – Vamos levantar. – Eu comecei a me levantar com um pouco de dificuldade. Depois de ficar de pé, estiquei as minhas mãos para ajudá-lo a levantar. – Vem. – Eu consegui levantá-lo com um pouco de dificuldade.
- Pronto. – soltou a minha mão, depois que já estava de pé.
- Está todo mundo nos olhando agora. – Eu disse bem baixinho.
- O que você acha de dar o fora daqui? – também disse em um tom baixo.
- Boa ideia. – Eu concordei com ele. – Consegue andar até a saída da pista? – Eu perguntei, apontando em direção a saída.
- Por quê? Vai me carregar no colo? – ironizou e em seguida saiu patinando. Eu ri silenciosamente e fui atrás dele.

Nós fomos até a saída e nos sentamos no banco novamente para tirarmos os patins e colocarmos os nossos calçados. Foi realmente divertido patinar com o . Mesmo ele sendo péssimo, eu dei altas risadas. Até o nosso tombo memorável foi divertido. A diversão havia sido a mesma para o , que não conseguia conter a felicidade por causa de todas as risadas que trocamos. Era tudo o que ele mais queria naquela noite. Depois de me ver chorar naquela noite, ele queria me ver sorrir e rir novamente. Ele queria ser o responsável pelo meu sorriso e não só pelas minhas lágrimas.

- Você não se machucou? – perguntou, enquanto nos afastávamos da pista de patinação.
- Não. Eu estou bem. Você amorteceu a minha queda. – Eu respondi, virando o meu rosto para olhá-lo. Estávamos andando lado a lado em direção ao carro.
- Que bom! Pelo menos eu fiz alguma coisa que preste hoje. – Mesmo achando divertido, achava que aquela parte do nosso encontro havia sido um pouco vergonhosa.
- Não! Não fala assim. Foi divertido. Eu me diverti. – Eu não queria que ele se sentisse mal com aquilo. A intenção dele foi tão boa! – Eu ainda não acredito que pagamos aquele mico. – Eu neguei com a cabeça, tentando não voltar a rir ao lembrar do nosso tombo.
- Eu ainda não acredito que você fez uma piada sobre a minha bunda. – disse, sem me olhar. Ele estava segurando a sua risada ao máximo.
- Ei! – Eu parei de andar e fiquei olhando pra ele até que ele se virasse para me olhar. Eu estava sentindo o meu rosto arder.
- O que foi? – não aguentou o começou a gargalhar.
- Para de rir! – Eu fui até ele e o empurrei. Isso só o fez rir ainda mais. – Você nunca mais vai esquecer isso, né? – Eu me controlei novamente para não rir.
- Você está tão envergonhada. – se aproximou de mim para ver o meu rosto de perto e eu o afastei.
- Não. Para! – Eu acabei deixando um sorriso escapar.
- Ok! Eu já sei! – insistiu em se aproximar, mas dessa vez eu deixei. Ele parou em minha frente e olhou fixamente pro meu rosto. – Eu... adoro o seu sorriso. – Ele afirmou, olhando para os meus lábios. Eu arqueei uma das sobrancelhas, demonstrando que não havia entendido o seu comentário repentino. - Pronto. Agora você não precisa ficar mais tão sem graça por ter falado sobre a minha bunda, porque eu falei sobre o seu sorriso. Estamos quites. – afirmou, me arrancando um sorriso bobo. Foi de longe a coisa mais encantadora da noite até agora. Eu nem consegui disfarçar a minha reação.
- Isso não foi justo. Eu falei sobre a sua bunda e você sobre o meu sorriso. Eu tenho muito mais motivos pra ficar sem graça. – Eu brinquei para tentar disfarçar a minha reação ao que ele tinha acabado de fazer.
- Eu não ia falar sobre o sorriso, mas eu estou tentando ser romântico. Ainda é um encontro. Lembra? – disse com malícia e eu gargalhei.
- Oh, é mesmo! Você está tentando me impressionar. – Eu concordei com a cabeça, aceitando o seu argumento.
- Exatamente! É o que os caras fazem. – afirmou, enquanto nós voltávamos a andar em direção ao carro.
- Eles fazem tudo para impressionar. – Eu deixei de olhá-lo e continuei andando ao lado dele.
- É, mas nem tudo é para impressionar. – foi dizendo, enquanto olhava para o chão. As mãos dele estavam nos bolsos de sua calça. – A parte que eu falei do seu sorriso foi verdade. – Ele completou, fazendo o meu coração voltar a acelerar. Eu nem ao menos consegui responder, mas acho que ele teve a sua resposta, quando viu o sorriso bobo que surgiu espontaneamente no meu rosto.
- E então? Fim do encontro, certo? – Eu perguntei retoricamente, quando chegamos em seu carro.
- Na verdade, ainda não. – me olhou com aquela sua cara de malandro.
- Não brinca! – Eu não acreditei que ele tinha mais planos para aquela noite.
- Eu tenho que te levar em mais um lugar. O último lugar, eu prometo! – forçou um sorriso, tentando me convencer.
- Está bem. Nós já pagamos um mico público. O que pode ser pior do que isso? – Eu ergui os ombros, concordando.
- Legal! Então, vamos. – pareceu empolgado. Ele abriu a porta de seu carro para que eu entrasse. Eu estava com tanto frio, que adorei voltar para dentro do carro. deu a volta no carro, entrou e sentou-se no banco do motorista.

Honestamente, eu estava ansiosa para saber onde estávamos indo. O que seria mais surpreendente do que uma pista de patinação? Eu não fazia a menor ideia. estava mais ansioso do que nunca. Ele havia deixado o melhor por último. Ele queria muito saber qual seria a minha reação. Por sorte, o lugar não ficava tão longe da pista de patinação, portanto, chegamos lá em menos de 5 minutos. Já era mais de 11 horas da noite, portanto, as ruas não estavam tão movimentadas quanto antes. estacionou o carro e a primeira coisa que eu fiz foi olhar em volta para procurar algo surpreendente. Cadê?

- Chegamos. – avisou para que eu descesse do carro. Sem entender o que estava acontecendo, eu sai do carro e o fez o mesmo. – Por aqui. – Ele indicou com a cabeça em direção a calçada.
- Onde nós estamos? - Eu perguntei, andando lado a lado com ele pela calçada. Ao nosso lado havia grades enormes, que pareciam cercar alguma coisa.
- Você não sabe onde estamos? - virou o seu rosto pra me olhar. Havia um sorriso diferente no seu rosto.
- Eu deveria saber? - Eu tentei matar a charada através do seu olhar. Seguimos até o final da calçada e viramos para a esquerda, onde havia uma enorme placa com o nome do local. - Oh, espere! - Eu parei em frente a placa que dizia 'Gramercy Park'. - Eu sei onde estamos agora. - Eu reconheci o famoso nome do parque da cidade.
- Você já veio aqui? - perguntou, deixando de olhar a placa para me olhar.
- Não, mas eu sempre ouvi falar muito daqui. É um dos únicos parques privados do país. - Eu deixei de olhar a placa para olhar para o portão ao meu lado. - Isso é... incrível. - Eu estava muito impressionada. Como eu nunca estive ali?
- O que você acha que tem lá dentro? - perguntou, aproximando-se do portão.
- Eu não sei. Talvez tenha uma fonte dos desejos ou uma árvore que dá dinheiro. – Eu brinquei. - Já viu como esse bairro é extravagante? - Eu olhei em volta.
- É, eu vi. – sorriu, achando graça das minhas suposições bobas.
- Eu acho que deve ser um parque normal. – Eu deduzi de forma mais séria.
- E qual a graça? – esforçou-se para tentar olhar através das grades.
- Bem, poucas pessoas tiveram a chance de entrar ai dentro. Deve ser empolgante ter a oportunidade de fazer algo que poucas pessoas podem fazer. Além disso, tem aquela mágica de um parque privado. Não tem mais ninguém pra você dividir as paisagens e a natureza. Exclusividade, entende? Eu não sei. – Eu ergui os ombros, pois não sabia explicar o quanto aquilo parecia empolgante pra mim.
- O que você acha de entrar lá e descobrir por si só como é? – parecia estar tentando insinuar alguma coisa.
- Eu não acho que seja possível entrar ai dentro. Não sem a chave. – Eu nem me animei com aquela possibilidade. – Deve ter alarmes e seguranças de olho. – Eu olhei em volta para ver se via alguém.
- E se nós entrássemos pelo portão da frente? – sugeriu, sendo extremamente cuidadoso para não me deixar descobrir nada ainda.
- Já viu o tamanho dessas grades? Impossível. – Eu olhei para cima e logo depois neguei com a cabeça.
- E se... – levou uma de suas mãos até o bolso de sua calça. – Entrássemos com a chave? – Ele tirou as chaves do bolso e as balançou próximo ao meu rosto. Eu olhei para as chaves e não acreditei.
- Muito engraçado. – Eu cerrei os olhos em sua direção, achando que ele estivesse blefando.
- Ok. Vamos tentar. – segurou o sorriso e aproximou-se do portão. – Licença. – Ele queria que eu me afastasse para que ele pudesse ficar de frente com a fechadura do portão. Eu dei um passo para trás e mantive os meus olhos vidrados na fechadura, desacreditando que ele conseguiria abrir aquele portão.
- Você não... – Eu ia desencorajá-lo, vendo que ele estava demorando um pouco demais para conseguir virar as chaves. Quando eu ouvi o barulho do portão se abrindo, eu paralisei. – Impossível. – Eu continuei paralisada, vendo ele adentrar o parque. abriu um pouco mais o portão e me olhou, fazendo sinal com a cabeça.
- Primeiro você. – sorriu, esperando que eu adentrasse o parque.
- Você não fez isso. – Eu levei uma das minhas mãos até a minha boca em meio a um sorriso desconcertante.
- Eu disse que valeria a pena, não disse? – ergueu os ombros, enquanto continuava segurando o portão para que eu entrasse. Eu estava surtando um pouco, talvez muito. Adentrei o parque com as mãos em minha boca, demonstrando o tamanho da minha surpresa.
- Eu não acredito. – Eu parei de andar logo depois que eu passei o portão e fiquei olhando tudo em volta. fechou o portão logo atrás de mim e guardou as chaves.
- Eu também não acredito. – disse, olhando para as enormes árvores que nos cercavam. Quando olhávamos para frente, víamos um corredor cercado de bancos e de árvores. Os galhos mais altos das árvores ficavam inclinados sobre o corredor, fazendo com que ele parecesse um túnel. No fim do corredor havia um pequeno lago e no centro dele havia uma estátua qualquer. Era incrível.
- Olha todas essas árvores. – Eu disse, dando alguns passos em direção ao inicio do corredor de árvores. As árvores estavam completamente cheia de flores. Cada árvore tinha uma flor de cor diferente.
- Eu nunca vi uma coisa assim. – estava tão surpreso quanto eu. Ele estava andando ao meu lado.
- Eu... – Eu não conseguia parar de sorrir. – Eu não acredito que estamos aqui. – Eu completei a frase olhando pra ele.
- Eu tinha certeza que você ia gostar de vir até aqui. – também deixou de olhar o lugar estonteante a sua volta para me olhar.
- Eu tenho que confessar que dessa vez você se superou. – Eu ainda demonstrava perplexidade com tudo aquilo. – Quem você teve que matar para conseguir as chaves? – Eu o olhei com desconfiança.
- Você não acreditaria. – fez careta, me fazendo rir.
- Sério. Como você conseguiu as chaves? – Eu estava curiosa. Continuávamos andando lado a lado por aquele corredor de árvores.
- Um dos gerentes do Yankees está hospedado na melhor suíte do Gramercy Hotel. Eu só pedi um favor. – explicou sem qualquer problema.
- Então, você é amiguinho dos chefões do Yankees agora? – Eu demonstrei estar impressionada.
- Depende. Você não vai destruir o parque, vai? Isso com certeza me faria perder a conta do Yankees e a amizade de todos eles. – me olhou, desconfiado.
- Eu estava pensando em como fazer isso agora mesmo. Alguma ideia? – Eu entrei na brincadeira, mas me esforcei para me manter séria.
- Devíamos começar com aquela estatua lá na frente. Eu achei de muito mal gosto. – continuou a brincadeira.
- Foi exatamente isso o que eu pensei. – Eu fingi concordar com ele. Não aguentamos nos olhar por tanto tempo sem rir. – O que você disse para o gerente? – Eu voltei a falar a sério. – ‘Me empresta a chave? Eu tenho um encontro!’. – Eu tentei imitar a voz do .
- Você não está insinuando que eu falo desse jeito, né? – arqueou uma das sobrancelhas, mantendo um simples sorriso no canto do seu rosto.
- Imagina! – Eu disse como se aquilo fosse o maior absurdo e ele deu um sorriso um pouco maior.
- Eu disse pra ele que eu precisava da chave, porque eu queria impressionar uma garota incrível. – disse, ficando um pouco sem jeito.
- Sério? – Eu também fiquei sem saber como agir. A melhor coisa que eu consegui fazer foi sorrir igual boba.
- Sério! – deixou de me olhar por poucos segundos. – Ela não pode vir, então eu trouxe você mesmo. – Ele completou e a minha primeira reação foi olhá-lo com indignação e empurrá-lo para o lado. – Eu estou brincando! – levantou as mãos, demonstrando inocência. – Você sabe que eu não traria nenhuma outra garota aqui que não fosse você. – Ele completou, tentando se redimir.
- Por quê? Onde estão todas as suas opções? – Me manter na defensiva parecia a melhor coisa a ser feita no momento.
- Estão todas aqui. – disse sem me olhar, mas sorriu ao perceber que eu havia ficado sem palavras. Ele basicamente quebrou as minhas pernas com três palavras. O que eu faço agora?
- Acho que ainda dá tempo de destruir aquela estátua. – Eu mudei o assunto para fazer uma ameaça. Eu queria que ele parasse de falar aquelas coisas.
- Não me obrigue a te segurar a força. – me ameaçou com uma certa malícia. - Eu vou ter que devolver essas chaves amanhã, antes de ir embora. – Ele completou. A frase dele me fez sorrir e rolar os olhos. Ficamos alguns segundos em silêncio, pois eu não quis me manifestar.
- Então, me diga, Jonas: todo o seu esforço para que esse último encontro acontecesse valeu a pena? – Eu me atrevi a perguntar, virando o meu rosto para olhá-lo.
- Definitivamente sim! – não hesitou em responder.
- Por quê? – Eu abri os braços, virando o meu corpo em sua direção. Havíamos chegado ao final do corredor e estávamos parados em frente ao lago. – Nós só... comemos comida italiana, levamos um tombo na frente de dezenas de pessoas e nos tornamos os mais novos visitantes exclusivos de um parque privado. O que tem demais nisso? – Eu fui além.
- O que você quer que eu diga? – ergueu os ombros, sem saber onde eu estava querendo chegar.
- Você perdeu a sua última noite em Nova York com uma causa perdida. – Eu estava sendo tão dramática quanto parecia. Eu realmente estava falando numa boa. Eu queria que ele enxergasse que não importava o quanto ele se esforçasse para que aquilo funcionasse.
- Você não é uma causa perdida. – negou com a cabeça.
- Não estou me referindo a mim. Estou me referindo a nós. Nós somos uma causa perdida. – Eu o corrigi, vendo que ele não concordava comigo.
- Então, eu vou encontrá-la. Leve o tempo que levar. – deu uma solução simples para os meus argumentos.
- Não precisava fazer tudo isso. – Eu deixei de olhá-lo. Pra mim, ele estava apenas tentando fazer com que eu me sentisse melhor.
- Eu não fiz isso por você. Eu fiz por mim. – afirmou, chamando novamente a minha atenção pra ele. – Eu precisava disso. Eu precisava viver isso de novo. – Os olhos dele estavam fixos em mim. – Eu senti falta de tudo isso. – Ele completou com um sorriso triste.
- Eu fico feliz quando eu me dou conta de quantos momentos bons e felizes nós tivemos. Se nós não tivéssemos esses momentos, tudo o que nós vivemos seria uma lembrança triste. Que bom que depois de tudo nós ainda tenhamos boas lembranças. – pareceu chateado quando eu me referi a nós como uma lembrança. Deixei de olhá-lo para olhar o lago em minha frente. Ele permaneceu algum tempo em silêncio, enquanto me observava. – Estranho, né? Último encontro. – Eu disse, me sentando na borda de concreto que havia em torno do lago.
- Consegue se lembrar do primeiro? – fez o mesmo, sentando-se ao meu lado.
- Qual foi o primeiro? – Eu virei o meu rosto para olhá-lo, sem conseguir me lembrar.
- Você está brincando que você não se lembra do nosso primeiro encontro, ! – me olhou com indignação.
- Nós tivemos muitos encontros que poderiam ter sido o nosso primeiro encontro. Eu nunca soube qual realmente foi o primeiro. – Eu me defendi, achando graça de sua indignação.
- O nosso primeiro encontro não oficial foi no último baile da primavera. Lembra? – recordou-se com um sorriso.
- É claro que eu lembro. Nós dançamos ‘Hey Jude ’ no parque. – Eu me lembrei na hora.
- ‘Hey Jude’. – ironizou a música, que parecia ser sempre a mesma.
- Você dançou ‘Hey Jude’ comigo. Agora tudo faz sentido! – Eu o olhei com uma certa euforia. - Você já pagava pau pra mim naquela época, né? – Eu disse em tom de deboche.
- E você nem desconfiava! Como você não percebeu nada? Só faltou eu te agarrar naquele dia. – devolveu o deboche.
- O meu ex-namorado tinha acabado de me humilhar em público, ok? Me dá um desconto! Eu estava sofrendo demais pra perceber. – Eu me defendi e nós rimos.
- E mais uma vez eu apareci para salvar o dia. – afirmou, se gabando.
- Eu estava vulnerável naquele dia. Não acredito que se aproveitou disso. – Eu cerrei os olhos, negando com a cabeça.
- Não vem com essa agora. Você sabe que adorou dançar comigo naquele dia. – estava convicto do que ele estava falando. – Assuma! – Ele me pressionou.
- Ok! Ok! Eu assumo, ok! – Eu ergui as mãos, demonstrando que me renderia. – Você foi adorável naquele dia. – Eu tentei disfarçar o meu sorriso bobo, que aparecia sem nem ao menos avisar.
- Adorável? – queria um adjetivo melhor.
- Você foi incrível, ok? – Eu revirei os olhos. – Você... salvou o meu último baile de primavera e graças a você eu tenho alguma boa lembrança daquele dia. – Eu dei a ele os créditos merecidos, mesmo estando um pouco envergonhada. – Você salvou o meu baile, a minha dança e a minha noite. – Eu completei. – Melhorou? – Foi só então que eu tive coragem de voltar a olhá-lo.
- Melhorou. – me olhou com aquele seu jeito doce, que voltou a me deixar completamente sem jeito. – Eu me lembro que fiquei tão nervoso quando eu te chamei pra dançar, porque... eu não costumava fazer esse tipo de coisa. Quando eu percebi, a música já estava tocando e... você estava nos meus braços. – Ele me contou como se fosse uma boa memória. Uma memória que estava tão viva, que parecia até ter acontecido no dia anterior.
- Mesmo com todas as coisas ruins que aconteceram naquele dia, foi o melhor primeiro encontro que nós poderíamos ter. – Eu disse, enquanto sorria timidamente e olhava para o chão.
- Eu quero que esse último encontro também seja o melhor que nós poderíamos ter. – também abaixou a cabeça, pois não gostava de mencionar que aquele era o nosso último encontro. Ele não tinha certeza sobre o que ele estava prestes a fazer. – Eu quero que você tenha uma boa lembrança de hoje. Eu quero que você se sinta exatamente como no nosso primeiro encontro. Eu quero salvar a sua noite, mesmo que eu tenha sido o responsável por arruiná-la. – repentinamente se levantou, me fazendo deixar de olhar o chão para olhá-lo. – Dança comigo? – Ele estendeu cordialmente a sua mão em minha direção. – Como da primeira vez? – completou o pedido, mantendo a sua mão estendida.

Mais uma boa surpresa! Meu coração se apertou, enquanto implorava para que eu aceitasse aquele pedido. Meus olhos encararam a mão dele por algum tempo, demonstrando a minha indecisão. A indecisão não era porque eu não sabia se queria ou não dançar. Eu queria! Eu só não sabia se eu devia. Meus olhos abandonaram a sua mão e subiram até o seu rosto. Ele parecia nervoso, quando um rápido sorriso surgiu no canto do seu rosto. Foi como se mais nada importasse. Foi como se eu tivesse tido um blackout.

parecia mais nervoso do que da primeira vez. Ele nunca aprendia a lição. Ele nunca tinha controle dos seus sentimentos. A minha demora para aceitar o seu convite o fez pensar que eu não aceitaria. Em qualquer outra situação, ele já teria recolhido a sua mão e teria esquecido aquele momento frustrante e vergonhoso, mas ele ainda tinha esperança. Ele tinha esperança que alguma coisa me fizesse aceitar o seu convite. Talvez fosse as boas lembranças dos momentos que vivemos juntos ou a falta de coragem de rejeitar um convite que parecia ser tão importante pra ele. Durante a nossa troca de olhares, os nossos corações pareciam ter conversado e resolvido todos os problemas que não fomos capazes de resolver. Levei a minha mão até a dele e ele a segurou prontamente. Parecia que havia saído uma tonelada dos ombros dele. O coração dele batia tão forte, que ele nem percebeu o fraco sorriso que ele esboçou. Eu me levantei com o auxilio cuidadoso da mão dele, que tratou de me puxar para mais perto dele quando eu fiquei de pé em sua frente. Mantivemos uma de nossas mãos juntas e esticamos os nossos braços. A outra mão dele tocou a lateral da minha cintura e foi deslizando lentamente para as minhas costas. A minha outra mão tocou o seu ombro.

Será que ele estava sentindo o quanto o meu coração estava disparado? A nossa proximidade me amedrontava. O nosso rosto estava a menos de um palmo de distância e os olhos dele procuravam os meus a todo o momento. Estávamos novamente trocando olhares, sem conseguir dizer uma só palavra. Apesar de estar nervoso, conseguia me transmitir uma tranquilidade indescritível em seu olhar. Ele olhava por todo o meu rosto e enxergou os mesmo detalhes, os mesmos olhos e os mesmos lábios do nosso primeiro encontro. Era como se estivéssemos revivendo o nosso primeiro encontro.

- Sem ‘Hey Jude’ ? – Eu perguntei e ele fez questão de acompanhar os meus lábios pronunciarem o final da minha frase.
- As músicas estão sempre presentes nas nossas despedidas. Sem músicas dessa vez. – disse, negando levemente com a cabeça.
- Dançar sem música? Nós já fizemos isso também. – Eu me lembrei de uma outra vez que nós dançamos. O sorriso fraco dele demonstrou que ele gostou do fato de eu ter lembrado daquilo.
- Gosto de ouvir a sua respiração. – disse em um tom mais baixo, abaixando novamente os seus olhos até os meus lábios. Ele começou a balançar lentamente o nosso corpo de um lado pro outro.
- O que tem demais na minha respiração? – Eu me atrevi a perguntar, sentindo o corpo dele conduzir o meu.
- Ouvir a sua respiração significa que você está perto. Gosto de ter você por perto. – Os olhos dele nunca pareceram tão bonitos. Eu não conseguia parar de olhá-los.
- Não precisa levar esse teatro do nosso primeiro encontro tão a sério, sabia? – Eu tentei acabar com o clima, que estava começando a me afetar. Cheguei até a sorrir para que ele não me levasse a mal.
- Nada mudou desde o nosso primeiro encontro. – não me deixaria fugir dele dessa vez.
- Nós mudamos. – Eu respondi quase que imediatamente.
- Nós não mudamos. Nós crescemos. – afirmou, olhando calmamente nos meus olhos. – Estamos mais fortes e temos responsabilidades agora, mas... nada mudou. – Ele reafirmou, negando levemente com a cabeça. – Você ainda é a mesma garota chata de sempre. Muito mais bonita, mas ainda chata. – brincou, vendo um sorriso maior surgir no meu rosto. – O sorriso ainda me encanta também. – Ele também sorriu ao olhar para os meus lábios e apreciar por alguns segundos o meu sorriso. Eu estava tão louca por ele, que eu nem conseguia acreditar. As palavras dele me tiravam do chão e faziam o meu coração tomar conta de todo o meu corpo. Deixei de olhá-lo por poucos segundos, quando abaixei a minha cabeça, pois eu estava estupidamente abobalhada. – As lágrimas que estavam no seu rosto a noite do nosso primeiro encontro já não estão mais, mas eu ainda consigo vê-las. – As palavras dele me fizeram voltar a olhá-lo.
- Consegue? – Eu queria saber como. Nossos corpos colados ainda balançavam de um lado pro outro.
- Eu vejo a tristeza nos seus olhos. – olhou intensamente nos meus olhos, me sensibilizando mais uma vez. – Você precisa saber que essa tristeza é a único sentimento que nós não compartilhamos. É o único sentimento que não é correspondido por mim. – Eu entendi exatamente o que ele estava querendo me dizer. Foi ao mesmo tempo a melhor e a pior coisa que eu já ouvi. Incrível como ele conseguia ser o responsável por todas as minhas feridas, mas também ser a cura de todas elas.

As palavras dele tiveram um efeito tão grande em mim, que quando eu percebi eu já estava olhando para os lábios dele. não queria ir com tanta sede ao pote, então ele me afastou, levantou uma das mãos e me fez dar duas voltas completas. Ele voltou a me puxar pra perto, mas dessa vez ele conduziu a minha mão até o seu rosto. Ele precisava sentir a minha mão tocar o seu rosto mais uma vez. Ele precisava trazer toda a minha atenção para o seu rosto.

Inexplicável a forma que ele fazia o meu coração bater mais rápido e mais devagar ao mesmo tempo. Eu estava completamente envolvida e entretida com o seu rosto tão próximo ao meu. Eu não sabia para onde eu preferia olhar. A minha mão tocava uma das laterais do rosto dele e a barba extremamente rala fazia cocegas nos meus dedos. Nós não dançávamos mais. Estávamos vidrados um no outro de um jeito que nem mesmo uma granada seria capaz de atrapalhar.

- É correspondido. Sempre será correspondido. – sussurrou, olhando fixamente para os meus lábios. O rosto dele aproximou-se um pouquinho e então, ele voltou a olhar nos olhos para pedir permissão para continuar se aproximando. A minha permissão foi dada, quando eu também aproximei um pouco mais o meu rosto do dele. A partir de então, a aproximação lenta e cuidadosa passou a ser mutua. As pontas dos nossos narizes tocaram-se e eu sentia o meu coração comandar uma orquestra dentro de mim, que implorava para que aquele beijo acontecesse. Os nossos lábios estavam prestes a se tocar, quando eu fechei os meus olhos eu tentei ignorar as milhares de coisas que passavam pela minha cabeça.

- Você vai embora amanhã. – Eu não sei como eu consegui forças para afastar o meu rosto do dele. Ainda com os meus olhos fechados e a mão em seu rosto, eu abaixei a minha cabeça. Aquilo não era justo comigo. Não era justo com nós! Nunca parecia a hora certa para nós dois. – Me desculpa, mas eu não passar por isso de novo. – Eu me referia a distância. Eu tirei a minha mão de seu rosto e me afastei, ficando de costas pra ele. Levei uma das minhas mãos até o meu cabelo e entrelacei os meus dedos nele.

Ainda parado no mesmo lugar de antes, tentava absorver o que havia acabado de acontecer. Mesmo sabendo que eu tinha razão, ele não conseguia deixar de ficar decepcionado. Não comigo, mas com a nossa situação. Não era justo nós não podermos viver algo tão forte e único. Sempre havia algo maior para nos atrapalhar e para nos dizer que o melhor a ser feito era ficarmos longe um do outro. sabia que eu também queria aquilo e apreciou o quão forte eu fui para evitar um mal maior e futuro. Ele me olhou de costas e não achou certo eu me culpar por mais uma vez ter evitado o que parecia ser a nossa última chance.

- Está tudo bem. – disse, tentando fazer com que eu me sentisse melhor. – Eu entendo. – Ele afirmou.
- Desculpa, eu... – Eu ergui os meus ombros, sem saber o que argumentar.
- Deve ser o melhor para nós dois mesmo. – aproximou-se e parou em minha frente. Eu o olhei e neguei com a cabeça. – Eu entendo. – Ele repetiu e conseguiu até forçar um sorriso para tornar tudo mais convincente.

Tudo perdeu a graça a partir daquele momento. O parque parecia não ter mais tantas cores e a magia do parque privado parecia nunca ter existido. O dizia que estava tudo bem e fingia que não estava chateado, mas eu conseguia ver através dele. Eu conseguia ver que mesmo ele sabendo que poderia ser o pior erro das nossas vidas, ele estava disposto a arriscar.

A noite havia acabado para nós dois. perguntou se eu queria ir embora e a minha resposta não poderia ser diferente de sim. Percorremos todo aquele corredor de árvores em silêncio. Meus braços cruzados demonstravam que eu estava com frio e a silêncio demonstrava que não havia mais nada a ser dito. trancou o portão do parque e eu o esperei para que fossemos juntos até o carro. A rua estava ainda mais deserta do que antes. Era um pouco mais de meia-noite.

- Você está com frio? Eu posso... – ia oferecer a sua jaqueta no caminho até o carro.
- Não. Não precisa. – Eu recusei antes mesmo que ele terminasse a frase. – Eu estou bem. Já estamos chegando no carro. – Eu fiz questão de justificar.

Chegamos no carro e o silêncio permaneceu até a minha casa. não queria que eu achasse que ele estivesse bravo ou qualquer coisa do tipo, mas ele não sabia o que dizer. Ele estacionou o carro em frente a minha casa e ambos descemos. Passamos pelo Big Rob e o cumprimentamos sem muito alarde. Chegamos na porta da casa e eu esperei que o abrisse a porta. Ele tirou as chaves da casa do bolso e destrancou a porta. Entramos na casa ainda em silêncio e eu fui na frente, enquanto ele trancava a porta. Eu já ia subir as escadas, mas sabia que eu não podia fazer isso sem falar com o . Parei em frente a escada, esperando que ele se aproximasse. trancou a porta e viu que eu o esperava em frente da escada, então ele foi até lá sem saber muito o que esperar da conversa que nós provavelmente teríamos. Ele parou em minha frente e me olhou com receio. Eu deixei de olhar para as minhas mãos e levantei o meu rosto para olhá-lo. Eu só conseguia pensar no quão incrível ele era por ter salvado a minha noite de sábado e por ter feito eu me sentir especial de novo. Eu só conseguia pensar o quanto aquele olhar que ele me lançava tirava o meu sossego e fazia o meu coração querer sair pela boca.

- Então... - abaixou a cabeça por poucos segundos e depois voltou a me olhar. Não tinha muito o que dizer.
- Obrigada pela noite. Foi... muito divertido. - Eu fiz questão de dizer, pois não queria que ele achasse que o que havia acontecido no parque havia arruinado algo que ele pareceu ter planejado com tanto cuidado.
- Eu me diverti também. - gostou do que ouviu. - É sempre bom passar um tempo com você. - Ele completou, percebendo que aquele era mais um dos momentos constrangedores da noite.
- É, eu... gosto também. - Eu esbocei um sorriso desajeitado e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Você já arrumou as suas malas? - Eu mudei de assunto.
- Já. Eu não cheguei a tirar tantas coisas da mala, então não tinha tanta coisa pra arrumar. - entendeu e respeitou a minha mudança de assunto. Ele não forçaria mais nada naquela noite.
- Que bom. - Eu sabia o quanto ele odiava arrumar malas. - E que horas você vai embora amanhã? - Eu queria saber se quando eu acordasse ele ainda estaria lá.
- O meu chefe está esperando o contrato assinado do Yankees até amanhã ás 11 da manhã. Acho que ele está um pouco mais ansioso do que deveria. - avisou, enquanto rolava os olhos e negava com a cabeça. - Aliás, eu acho que nem vamos nos ver amanhã. Acho que na hora que eu sair você vai estar dormindo. - Ele fez questão de me avisar para que no dia seguinte eu não achasse que ele foi embora sem nem se despedir.
- É, eu acho que sim. - Eu cheguei a pensar em pedir para que ele me acordasse antes de sair, mas eu sabia que isso poderia fazer as coisas ficarem mil vezes piores. Não vai ser tão fácil vê-lo ir embora quanto eu achei que seria. - Então, eu acho que isso é mais um adeus. - Eu o vi afirmar com a cabeça e o sorriso em seu rosto parecia lamentar uma nova despedida.
- Eu acho que sim. - disse, abaixando a sua cabeça por alguns segundos.
- Eu queria te dizer um 'obrigada', mas parece tão pouco. - Eu neguei com a cabeça visivelmente abalada.
- Eu é que tenho que te agradecer por ter me deixado ficar aqui na sua casa e, principalmente, por ter sido tão incrível comigo essa noite. Eu sei que eu não merecia e que você se esforçou muito pra deixar as suas decepções de lado. Eu sei que você fez tudo isso para que eu não me sentisse mal. - Havia uma sinceridade e vulnerabilidade fora do comum em seu olhar.
- Eu te perdoo, . - Eu afirmei e vi ele sorrir espontaneamente. - Eu te perdoo e prometo que vou guardar apenas as nossas boas lembranças. - Eu disse e vi o sorriso no rosto dele aumentar.
- Então, você terá que esquecer muitas coisas. - brincou e ambos rimos.
- Eu também tenho que me desculpar por tudo o que eu sei que eu fiz. Por coisas que eu não sei que fiz, mas que também te magoaram e também pelas coisas... que eu não fiz. - Eu não queria guardar mágoas e ressentimentos.
- Esquece isso. - negou com a cabeça, achando o meu pedido de desculpas desnecessário.
- Não, eu estou falando sério. Você é importante pra mim e independente do que aconteça com nós a partir de agora, você fez parte da minha vida. Você sempre vai ser uma parte importante da minha história. - Eu novamente estava nervosa por estar dizendo aquilo em voz alta. - Eu sei que faço parte da sua história também, então eu quero que seja uma parte boa. Combinado? - Eu precisava que ele concordasse com isso.
- Combinado. - afirmou com a cabeça com um desconcertante sorriso.
- Ótimo. - Eu disse, me aproximando para abraçá-lo. Essa seria a melhor forma de selar o nosso acordo. Mentira! Eu só queria abraçá-lo mais uma vez. Passei os meus braços em volta do seu pescoço e os braços dele fizeram o mesmo com a minha cintura. O perfume dele entrou pelo meu nariz e parecia ter me deixado dopada. Eu adorava o cheiro dele, o jeito carinhoso que ele me abraçava e o costume que ele tinha de sempre sentir o perfume do meu cabelo. Aproveitando que minhas mãos estavam próximas, levei uma delas até a sua nuca e deixei que os meus dedos brincassem um pouco com o seu cabelo.
- Você não é só uma parte boa da minha história. Você é a melhor parte dela. - sussurrou, pois precisava que eu soubesse disso. A sua frase novamente me tirou a paz que eu sentia. Cada palavra dele que me surpreendia me fazia pensar que aquela parte da minha vida não tinha acabado. Senti as mãos dele acariciarem as minhas costas. Meus olhos se fecharam, tentando buscar forças para resistir a aquele abraço. Eu terminei o abraço da melhor forma que eu consegui. Os olhos dele tentavam me dizer alguma coisa, que eu não queria entender.
- Eu vou subir. – Eu fingi não ter escutado o que ele havia dito. Me afastei, subindo o primeiro degrau da escada.
- Eu acho que vou dormir aqui embaixo hoje por causa da lareira. Está muito frio. – achou melhor me avisar, já que aquela ainda era a minha casa.
- Tudo bem. – Eu afirmei, dando a permissão que ele queria. – Então, boa noite. – Eu disse, olhando pra ele. Uma das minhas mãos tocava o corrimão da escada.
- Boa noite. – sorriu de canto e nem mesmo os seus dentes ficaram a mostra. Ele me viu virar de costas e subir o restante dos degraus.

Os olhos tristes me observavam subir todos aqueles degraus e a esperança de que eu desistisse de subir e dormir ainda existia. ficou ali parado, esperando que eu tivesse um momento de fraqueza e que eu cedesse aos meus sentimentos. A cada degrau que eu subia, a esperança diminuía e os olhos ficavam mais decepcionados. Ele queria me chamar e me pedir pra ficar com ele, mas ele não queria forçar mais nada naquela noite. Tudo o que ele poderia ter feito, ele fez.

Eu cheguei ao final da escada e com medo de voltar a descer aqueles degraus, eu não consegui olhar para trás. Eu não consegui olhá-lo pela última vez. Entrei no corredor e todos os sentidos do meu corpo pareciam um vento forte, que tentava me fazer voltar lá. Entrei no meu quarto e fechei a porta atrás de mim. Encostei as minhas costas na porta e senti um enorme vazio. Parecia que eu havia deixado o meu coração com o . Parecia que eu estava incompleta.

Ciente de que eu não voltaria mais atrás, resolveu se conformar e seguir em frente. Ele olhou para a lareira acesa e aproximou-se dela. Afastou uma mesa de centro que estava próxima a ela e subiu para o segundo andar para buscar um colchão. Pegou o colchão que estava na cama que ele dormiu nos últimos dias e o levou para o primeiro andar. O colocou em frente a lareira, colocou um lençol e depois arrumou as cobertas. Mesmo o seu travesseiro estando pronto para aconchegá-lo, preferiu não se deitar. Sentou-se no colchão de frente para a lareira e ficou olhando para ela. Gostava de pensar que estava apenas se aquecendo, mas ele estava mesmo era procurando respostas. Respostas que pareciam nunca ser respondidas. Até quando ele insistiria naquele amor impossível? Até quando ele vai admitir que eu continue voltando e saindo da sua vida? Até quando ele vai aguentar sofrer por minha causa?

Fiquei alguns minutos encostada na porta do meu quarto. Os meus olhos perdiam-se pelo quarto e eu procurava entender o que é que eu estava sentindo. Se não deixar nada acontecer é a melhor opção, porque eu sinto que estou fazendo a coisa errada? Porque é errado estar com o se essa é a coisa que eu mais tenho desejado nas últimas semanas? Nada fazia sentido. Aliás, o que é que vem tendo sentido na minha vida nos últimos tempos? Está tudo uma bagunça! Tudo fica ainda pior quando o aparece. Eu perco o controle da situação e o controle da minha vida. Eu nunca sei quando eu vou estar bem ou mal com ele. Eu nunca sei se no dia seguinte eu vou querer matá-lo ou beijá-lo até cansar. Tem horas que eu acho que isso é uma coisa boa, sabe? Viver tendo surpresas. Viver sem ter certeza como será o dia seguinte. Essa é definitivamente a característica que o trazia para a minha vida: surpresa. Tudo é sempre uma surpresa. Algumas boas e outras nem tanto, mas ainda são surpresas.

Com a minha cabeça a mil e os meus sentimentos completamente desorientados, eu me afastei da porta. Meus olhos procuravam respostas em qualquer coisa que eu encontrava pela frente. No fundo, eu sabia que a resposta para todas as minhas perguntas estavam no andar debaixo. Tirei o meu cachecol e o joguei sobre a cama. Fiquei mais algum tempo parada e pensativa. O sentimento estava tomando conta de todo o meu corpo e até mesmo o meu lado racional estava cedendo aos pedidos do meu coração. O meu coração me pedia para descer até o primeiro andar e resolver logo aquela situação. Como é possível resolver a situação? O vai embora pela manhã. Como eu posso resolver uma coisa dessa? Eu vou pedir para que ele não volte pra Atlantic City? Eu não posso fazer isso. Ele não fez isso comigo.

Eu sei que nós não estamos juntos, mas o fato de ele ir embora na manhã seguinte me deixava com o coração na mão. Eu já havia me acostumado em vê-lo todos os dias e a tê-lo sempre por perto. Mesmo nos nossos piores dias e em meio as nossas piores brigas. Eu sei que é errado e egoísta, mas eu queria que ele ficasse. Eu queria que tivéssemos tido tempo para continuarmos a nossa história.

Me virei novamente em direção a porta e a encarei. Eu deveria ir? Não, eu não deveria, mas eu só queria vê-lo mais uma vez. Talvez até ele já estivesse dormindo. Me aproximei com receio da porta, sabendo que eu poderia desistir a qualquer momento. Toquei a maçaneta e a girei lentamente. Ainda com a mesma roupa que eu havia usado no nosso encontro, eu percorri o corredor que me levaria até a escada. Sabe quando você está em uma fila de uma montanha russa? Ou quando você está prestes a pular de paraquedas pela primeira vez? A sensação que eu estava sentindo era a mesma. Parecia que eu estava prestes a cometer uma loucura. O meu coração reagia a tudo e eu não conseguia acalmá-lo. Cheguei na escada, toquei o corrimão e comecei a descer silenciosamente os degraus. O lugar estava um pouco escuro, já que havia só algumas lâmpadas da sala de jantar e da sala de estar acesa. Eu desci um pouco mais da metade da escada e foi quando eu virei o meu rosto em direção a lareira. Foi no mesmo instante que o também me viu. Ele não acreditou quando me viu. A rápida troca de olhares me fez desistir na hora daquela loucura. Virei de costas, disposta a subir todos aqueles degraus. soube que ele tinha que correr.

- ! – me chamou, levantando-se e andando rapidamente até a escada. – . Espera! – Ele repetiu, me fazendo parar de subir os degraus. Eu paralisei e no mesmo instante comecei a me condenar pela ideia idiota de ter ido até ali. Meus olhos se fecharam, enquanto eu me xingava mentalmente. O coração de parece ter ganhado vida novamente. A esperança fez seu corpo estremecer. – Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou, me olhando de costas.

Minhas mãos continuavam apoiadas no corrimão da escada e os meus olhos continuavam fechados. Abaixei a minha cabeça e tentei me acalmar para não enlouquecer de vez. Abri os meus olhos e notei que eu havia apenas duas opções: ou eu subia as escadas e o ignorava ou eu tomava vergonha na cara e encarava de uma vez aquele medo absurdo de sofrer de novo. continuava me olhando de lá debaixo, desejando poder ler a minha mente.

- , tudo bem? Aconteceu alguma coisa? – perguntou mais uma vez. A voz dele me fez perder qualquer força para lutar contra o que eu sentia. Eu respirei fundo e me virei para olhá-lo. Ele estava sério daquele jeito que fazia com que ele parecesse ainda mais bonito do que ele costumava ser. Os olhos dele buscavam respostas, mas também não me cobravam absolutamente nada.
- Aconteceu. – Eu afirmei em meio a suspiro. Desci dois degraus e voltei a parar.
- O que foi que aconteceu? – ficou imediatamente preocupado. Ele não tirava os olhos de mim.
- A pior besteira de toda a minha vida. – Eu respondi, tentando acalmar o meu coração, mas era impossível. Ele entendeu tudo no mesmo instante. Eu esperei que ele fosse dizer alguma coisa, mas a sua única atitude foi negar com a cabeça e me olhar como se dissesse: ‘Eu não posso concordar com você.’. Os olhos dele me deram o pouco da coragem que ainda me faltava para descer o resto daqueles degraus. Eu os desci rapidamente e quando cheguei na frente do , eu não me dei tempo para pensar. Toquei o rosto dele com as minhas duas mãos e levei os meus lábios ao encontro dos dele. Foi a cura imediata para toda a minha angústia e resposta para todas as minhas perguntas. Mantive os meus lábios colados aos dele por um tempo, apenas para poder me convencer de que era realmente aquilo que eu desejo há dias.



entendeu que aquilo era a única coisa no mundo que poderia acalmar o seu coração. Os lábios que ele conhecia muito bem pareciam ter algum tipo de antidoto para todos os seus problemas. O selinho se transformou em beijo em um piscar de olhos. Uma das minhas mãos deslizou até a sua nuca e a outra desceu o seu ombro e parou em sua jaqueta de couro, onde eu passei a segurar. As mãos dele finalmente alcançaram o meu rosto para que ele passasse a ter o controle da situação. Seus dedos afastaram os fios de cabelo que estavam próximos ao meu rosto para que nada pudesse atrapalhar o nosso beijo. O nosso beijo se aprofundou, mas manteve-se calmo. Meus dedos se entrelaçaram nos fios de cabelo próximos a sua nuca. Minha mão só abandonou a sua nuca para que eu pudesse trazê-la para o rosto dele e conseguisse interromper o beijo.

- Não me importa se é o pior erro da minha vida. – Eu sussurrei assim que consegui descolar os nossos lábios. Meus olhos ainda estavam fechados. As mãos dele ainda mantinham o meu rosto próximo ao dele. – É o que eu quero. – Eu completei a minha frase, enquanto eu abria os meus olhos. também abriu os dele e distribuiu olhares por todo o meu rosto. Ele parecia estar no céu.
- É o que eu quero também. – respondeu, enquanto acariciava as minhas bochechas com as suas mãos. – Eu quero você. – Ele completou, olhando docemente para os meus olhos. - Eu sou sua. – Eu afirmei e esbocei um fraco sorriso, que fez com que ele olhasse para os meus lábios. também sorriu, enquanto colocava carinhosamente uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. A outra mão dele desceu até o meu queixo e um de seus dedos começou a puxá-lo lentamente em direção ao seu rosto. O rosto dele veio de encontro ao meu e nós voltamos a nos beijar. As mãos dele voltaram a tocar o meu rosto, enquanto nos beijávamos. Levei uma das minhas mãos novamente até a sua nuca, onde entrelacei os meus dedos em seu cabelo. Continuamos nos beijando por algum tempo, até que as mãos dele desceram até as aberturas da minha jaqueta. começou a tirar lentamente a minha jaqueta e eu fui obrigada a tirar a minha mão de sua nuca para poder ajudá-lo a tirá-la. Quando ele conseguiu tirar a minha jaqueta, eu aproveitei para tirar a dele também. Interrompi o beijo por poucos segundos para poder enxergar o que eu estava fazendo. Mantivemos o contato visual e voltamos rapidamente a nos beijar. levou suas mãos até a minha cintura e começou a me puxar para frente, enquanto ele dava alguns passos para trás. Eu o acompanhei sem qualquer hesitação. Desci as minhas mãos, toquei a borda de sua camiseta e a tirei, interrompendo novamente o nosso beijo por poucos segundos. Levei a minha mão até o seu peitoral e comecei a empurrá-lo bem devagar em direção ao lugar que ele queria me levar.

- Tudo bem se você quiser subir e... – começou a dizer até me ver negar com a cabeça. Ele tinha planejado dormir próximo a lareira, mas ele não sabia tudo aquilo acabaria acontecendo.
- Não. – Eu sorri, me aproximando e roubando um selinho dele. – Eu gostei daqui. – Eu disse, olhando para o colchão próximo a lareira. Aproveitei que já estava apoiada nele e tirei as minhas botas com a ajuda dos meus próprios pés. Deixei as minhas botas de lado e tive um pouco mais de dificuldade de tirar as minhas meias. aproveitou para tirar as dele também, já que já havia se livrado do seu tênis há algum tempo. – Desculpa. Eu sou meio atrapalhada. – Eu mordi o meu lábio inferior, fazendo careta. Ele riu sem emitir qualquer som.
- Eu achei que foi muito sexy. – sorriu feito bobo, me puxando para mais perto dele.
- Mentiroso. – Eu neguei com a cabeça, resistindo a sua tentativa de me beijar.
- Nada no mundo pode me fazer ficar menos louco por você. – sussurrou entre um beijo e outro que ele depositou em uma das minhas bochechas e que depois foi descendo, próximo a minha orelha. – Nada. – Ele repetiu, quando colou os seus lábios ao meu ouvido. Levei uma das minhas mãos até o seu rosto e consegui trazê-lo para frente do meu rosto novamente. A ponta dos nossos narizes se tocaram em meio a um fraco sorriso que nós trocamos antes dos nossos lábios voltarem a se colar. As mãos dele mantiveram-se na minha cintura, enquanto eu conduzia o nosso beijo, mantendo as minhas mãos em seu rosto. aproveitou a proximidade e desabotoou os botões da minha calça e logo depois desceu o seu zíper.

A proximidade com a lareira não nos deixava sentir tanto frio. Ela era a única coisa que nos iluminava naquela sala de estar escura. interrompeu o nosso beijo para olhar para a minha calça jeans, que por ser um pouco justa não sairia com tanta facilidade. Ele agachou-se- repentinamente em minha frente e com as mãos em minha cintura, foi descendo a minha calça jeans até os pés. Eu voltei a me apoiar nele para levantar os meus pés para que ele tirasse de uma vez a minha calça. olhou as minhas pernas descobertas e não pensou duas vezes em levar suas mãos até as laterais delas. As mãos dele começaram a subir lentamente até chegarem a minha cintura novamente. Ele então se levantou para que a sua mão pudesse continuar subindo e levasse com elas a minha blusa branca.

O toque dele e a delicadeza com que ele conduzia tudo até me fez lembrar da minha primeira vez. conduziu a minha blusa até que ela passasse pela minha cabeça. Ele a jogou no chão e passou a observar o meu rosto. As mãos dele subiram até o meu cabelo e o ajeitaram, depois da leve bagunça que ele havia ficado quando havia tirado a minha blusa. Meus olhos mantiveram-se fixos nele, enquanto ele ajeitava com cuidado alguns fios do meu cabelo. Levei uma das minhas mãos até o seu ombro e depois a deslizei lentamente pelo seu peitoral, depois pela sua barriga e cheguei em sua cintura. Desabotoei a sua calça e, ao contrário da minha calça, eu consegui tirar a dele sem grandes esforços. As mãos dele desceram até as minhas costas e trouxe o meu corpo para mais perto do dele. Antes que acabássemos nos beijando, ele me segurou com um pouco mais de firmeza para que nós pudéssemos deitar no colchão, que estava logo atrás de nós.

me deitou com extremo cuidado em seu colchão e trouxe o seu corpo por cima do meu. Ele posicionou o seu rosto bem em frente ao meu e ficou algum tempo me admirando, enquanto acariciava um dos lados do meu rosto. Ele não cansava de me olhar. Eu também olhava incansavelmente pra ele e cheguei até a levar uma das minhas mãos até a sua nuca. A luz que vinha da lareira era a única coisa que nos iluminava e que nos permitia observar um ao outro. As bochechas dele estavam adoravelmente rosadas e ele conseguia ver o reflexo do fogo na lateral do meu rosto. não conseguia parar de pensar o quanto amava tudo sobre aquela garota que estava ali em sua frente. As sobrancelhas bem desenhadas, os olhos nos quais ele conseguia ver o mundo todo e os lábios que sempre lhe faziam convites inapropriados. Consegui trazer o rosto dele para mais perto do meu e a proximidade fez com que ele tomasse iniciativa do beijo.

Os nossos corações batiam como um só. A sintonia era a mesma e as intenções também. Os beijos nunca eram intensificados, porque ambos parecíamos querer apreciar cada segundo daquilo sem pressa alguma. Ele me beijava carinhosamente como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Meus dedos brincavam com o seu cabelo só para variar e a minha outra mão estava em suas costas largas. Os beijos dele abandonaram os meus lábios e começaram a descer delicadamente em direção ao meu pescoço. aproveitava para apreciar o meu perfume, que com certeza era o melhor do mundo. Os beijos continuavam descendo, fazendo com que os meus olhos se fechassem involuntariamente. Minha mão acariciava as suas costas, enquanto os seus beijos passaram ligeiramente pelos meus seios ainda cobertos pelo meu sutiã branco e chegaram na minha barriga. Os beijos pararam, quando eu senti as mãos dele alargarem o elástico da minha calcinha. tirou a minha calcinha sem qualquer dificuldade. Ele voltou a jogar o seu corpo por cima do meu e antes que mais um beijo acontecesse, eu joguei o meu corpo sobre o dele, deixando-o por baixo dessa vez. Meus beijos foram direto para uma das laterais de seu pescoço. Os dedos de uma das mãos dele se entrelaçaram no meu cabelo. Meus beijos subiram até o seu queixo. A sua barba rala fez cócegas e me arrancaram um sorriso inesperado. terminou de trazer o meu rosto para cima para que ele pudesse me beijar novamente. Eu atendi a sua vontade e nós voltamos a nos beijar. As mãos dele em meu rosto guiavam o beijo, que depois de algum tempo não precisou mais de guia. As mãos dele deslizaram até os meus ombros, onde ele começou a abaixar com delicadeza as alças do meu sutiã. Eu o ajudei a passar as alças pelos meus braços sem que o beijo fosse interrompido. Depois foi só ele abrir o feixe nas minhas costas para conseguir se livrar do meu sutiã. Voltamos a focar exclusivamente no beijo, enquanto as mãos dele exploravam as minhas costas nuas. percebeu que eu estava com frio, então resolveu jogar um cobertor sobre os nossos corpos. O beijo calmo foi finalizado do nosso jeito tradicional: eu puxei o seu lábio inferior e ele não conseguiu evitar o sorriso. Afastei ainda mais o meu rosto do dele, quando comecei a descer o meu corpo. Aproveitei para depositar beijos em seu peitoral e continuei a dá-los até chegar em sua cintura. Eu sorri pra ele, antes de enfiar a minha cabeça por debaixo da coberta para que eu pudesse continuar descendo, já que a minha intenção era tirar a sua cueca. inclinou o seu corpo e apoiou os cotovelos no colchão para que pudesse ver a cena, que estava fazendo ele rir silenciosamente. Mesmo debaixo da coberta, eu consegui tirar a cueca dele e voltei a subir o meu corpo. Tirei a minha cabeça debaixo da coberta e ele voltou a me ver. negou com a cabeça e nós dois rimos da situação.

- Demorei? – Eu perguntei, posicionando o meu rosto em frente ao dele.
- Muito. – sorriu fraco, puxando o meu rosto pra perto do seu e me roubando um longo selinho, que resultou em mais um beijo doce.

Foi a melhor despedida que poderíamos ter. Ficou bem clara em cada toque e em cada sorriso que o que sentíamos não era uma simples atração física. Havia muitos sentimentos envolvidos, que somente nós dois entendíamos o que era. Era como se os nossos corações conversassem sem que precisássemos dizer uma única palavra. Os nossos momentos de silêncio em que nós costumávamos trocar olhares e sorrisos era o momento em que tínhamos as nossas melhores conversas. Era impossível brigarmos sem usar as palavras, por isso, gostávamos de conversar sem usá-las.

Foi de longe a melhor noite que nós tivemos. A nossa intimidade um com o outro faria qualquer um imaginar que éramos namorados há anos. sentia-se completo. Foi como se mais nada pudesse superar aquele momento único que nós compartilhamos. Confesso que fiquei com medo de como a minha cabeça ficaria depois do que aconteceu e depois de voltar a pensar que ele iria embora dali algumas horas. Surpreendentemente, eu estou bem. Estou feliz da vida com o que aconteceu e faria tudo de novo se eu descobrisse que ele iria embora dali meia-hora. Foi incrível e foi também o nosso momento de maior demonstração de carinho e amor.

Antes de adormecer, me lembro de ter selado longamente os seus lábios e depois ter aconchegado a minha cabeça em seu peito, próximo ao seu pescoço. Os braços dele me acolheram e depositou um beijo carinhoso em minha testa. Os dedos de uma das suas mãos entrelaçaram-se no meu cabelo e eu fechei os meus olhos em meio a um sorriso fraco. O melhor lugar do mundo era nos braços dele. Eu adormeci sem nem perceber. Os carinhos de certamente colaboraram para isso. Ele também dormiu mesmo querendo manter-se acordado. não queria perder um só segundo ao meu lado, já que ele não terá mais tantas oportunidades para fazer isso.

Acordei algum tempo depois. Eu demorei um pouco para me dar conta de que eu não estava no meu quarto. A respiração calma de fez meus olhos quererem acompanhar o seu peito se encher e depois se esvaziar. Eu sorria feito boba, quando inclinei o meu rosto para poder enxergar o dele. Os olhos fechados e a boca semiaberta me fizeram querer acordá-lo aos beijos, mas eu não consegui. Eu me perguntei que horas eram e o fato de eu ter acordado do nada já respondeu a minha pergunta. Fiquei mais algum tempo admirando ele, quando eu tive uma ideia.

Eu queria me levantar, mas as mãos dele em minha volta dificultaram as coisas. Com todo o cuidado do mundo, eu tirei a mão dele da minha cintura e depois tirei a outra que tocava o meu braço. Fiz careta, achando que o acordaria a qualquer momento. Me sentei e antes de me levantar, eu vesti a minha calcinha e depois o meu sutiã. Peguei uma coberta que estava dobrada sobre o sofá e a enrolei no meu corpo. Olhei uma última vez para ele, antes de entrar na cozinha. acordaria a qualquer momento, o que quer dizer que eu tinha que ser rápida.

Era a primeira vez que eu fazia chocolate quente, então eu não queria ter que fazer tudo com tanta pressa, mas eu não tinha opção. Eu me recordei de uma receita que eu havia visto na internet no outro dia e fiz dela a minha base para fazer aquela proeza. Fiz o chocolate quente com pressa, porém com muito empenho e carinho. Quase queimei as minhas mãos e a coberta que cobria o meu corpo duas vezes, mas são só detalhes. Coloquei o chocolate quente dentro de duas canecas e abandonei a cozinha com receio de que o já tivesse acordado. Cheguei na sala e sorri aliviada, quando eu vi que ele ainda dormia na mesma posição. Eu me aproximei e coloquei as duas canecas sobre a mesa de centro, que estava bem ao lado ao colchão. Fui até o colchão e me sentei ao lado de , que continuava dormindo. Havia um sorriso bobo no meu rosto, enquanto eu admirava ele só mais um pouquinho. Aproximei lentamente o meu rosto do dele e o encarei de bem perto. Acariciei o lado direito do seu rosto e aproximei os meus lábios da sua orelha esquerda.

- Acorda, dorminhoco. – Eu sussurrei e em seguida beijei carinhosamente o seu rosto. Ouvi ele dar um engraçado gemido com os seus olhos ainda fechados. Como ele havia reagido ao meu primeiro beijo, resolvi beijá-lo novamente, mas dessa vez o beijo foi no canto de sua boca. Foi então que ele deu um enorme sorriso. – Se você não acorda, eu... – Eu fingi que ia me afastar e ele mordeu a isca, puxando e segurando a minha mão. abriu lentamente os seus olhos e virou o seu rosto pra me olhar. – Oi. – Eu disse em meio a um sorriso. Ele respondeu com um fraco e doce sorriso. Puxou ainda mais a minha mão em sua direção, trazendo o meu corpo pra cima do dele. Eu entendi o que ele queria e atendi a sua vontade, jogando o meu corpo em cima do dele e colocando o meu rosto em frente ao seu. – Nós dormimos. – Eu disse a ele, enquanto ele observava o meu rosto de perto em silêncio.
- Meus Deus. – negou com a cabeça com aquela sua voz rouca. – Você é tão linda. – Ele disse todo bobo. Eu fiquei imediatamente sem graça. Eu me aproximei e selei os seus lábios como forma de agradecimento. levou as suas mãos até o meu rosto para se certificar de que o selinho se transformaria em beijo.
- Eu tenho uma surpresa pra você. – Eu disse, interrompendo abruptamente o beijo antes que fosse tarde demais.
- Surpresa? – me olhou com desconfiança.
- Adivinha só? – Eu deixei de olhá-lo e apontei com a cabeça em direção a mesa em que eu havia deixado as canecas de chocolate quente.
- Não pode ser. – voltou a me olhar, recusando-se a acreditar que aquilo era o que ele estava pensando.
- Eu disse que eu faria algum dia, não disse? Hoje é a minha última oportunidade. – Eu expliquei, olhando pra ele.
- Eu não acredito. – cerrou os olhos, achando que fosse alguma pegadinha.
- Acredite. – Eu selei os lábios dele em meio a risos e logo depois tirei o meu corpo de cima do dele e me levantei para pegar as canecas. sentou-se no colchão para poder segurar a caneca que eu lhe entreguei. – Esse é seu. – Eu disse, me sentando em sua frente com a minha caneca nas mãos.
- O cheiro está bom. – elogiou para me deixar feliz.
- Experimenta. – Eu pedi, olhando ansiosamente pra ele, que parecia receoso em tomar o meu chocolate quente . tomou um pequeno gole e depois tomou outro maior.
- Uau. – me olhou, mostrando-se impressionado.
- O que foi? – Eu ainda não havia tomado o meu, então não sabia se estava bom ou ruim.
- Está divino! – afirmou antes de tomar mais um gole. Eu achei que fosse brincadeira dele. Levei a caneca até a minha boca e tomei um gole também.
- É... – Eu fiz careta. Não achei que tivesse ficado tão incrível assim.
- Eu adorei! – me olhou com cara feia, achando que eu estivesse me cobrando demais.
- O seu ainda é melhor. – Eu tomei mais um gole.
- Até parece. – fez careta.
- Para de ficar puxando o meu saco. – Eu neguei com a cabeça, olhando pra ele.
- Eu não estou puxando o seu saco. Eu gostei mesmo! Eu juro. – reafirmou antes de beber o último gole de chocolate quente de sua caneca.
- Bem, então eu fico feliz. – Eu ergui os ombros, sem jeito. – Eu fiz pra você. – Eu também bebi o último gole da minha caneca.
- Eu adorei. Obrigado. – sorriu fraco pra mim, segurando uma das minhas mãos e a levando até a sua boca para que ele depositasse um beijo.
- Me dá a sua caneca. Eu vou levá-la na cozinha. – Eu me levantei assim que ele me entregou a sua caneca. Fui até a cozinha e coloquei as duas canecas dentro da pia. Voltei para a sala e vi que o já havia se deitado novamente. Eu me aproximei, enquanto ele me observava. Eu me deitei ao seu lado e virei de frente para ele, que fez o mesmo. ajeitou o seu travesseiro para que ele desse para nós dois.
- Assim está melhor. – disse, voltando a se aconchegar em metade do seu travesseiro, já que a outra metade estava sendo compartilhada comigo. Ele ajeitou a coberta e a trouxe para mais perto do meu rosto. Eu fiquei parada, olhando ele cuidar de mim como se eu fosse uma garotinha de 5 anos.
- Eu não acredito que isso está acontecendo de novo. – Eu disse, olhando o seu rosto de bem perto. Ele fazia o mesmo com o meu. Uma das mãos dele estava próxima ao travesseiro e ele aproveitava para acariciar a minha cabeça com os seus dedos.
- Eu acredito. – afirmou daquele seu jeito incrivelmente sério. – Eu sempre acreditei em nós. – Ele completou em um tom mais baixo.
- Sempre? Até mesmo depois que nós terminamos o namoro e eu estava aqui e você lá em Atlantic City? – Eu fiquei curiosa para saber.
- Porque você acha que eu vim pra Nova York? – arqueou ambas as sobrancelhas e deu um fraco sorriso que nem chegou a deixar os seus dentes a mostra.
- Por causa da conta do Yankees, não é? – Eu estranhei o que ele havia dito.
- Eu quase não aceitei a conta do Yankees, porque eu não queria vir pra Nova York e correr o risco de te encontrar. – contou, distribuindo olhares pelo meu rosto.
- Então, o que te convenceu a vir? – Eu olhava os detalhes do seu rosto com muita atenção.
- Eu achei que se eu viesse eu conseguiria, de algum jeito, que você voltasse pra mim. – disse como se não fosse nada. Eu voltei a ficar toda sem jeito.
- Bem, você estava certo. – Eu afirmei e vi ele abrir um lindo sorriso
- Não por tanto tempo. – pareceu ficar um pouco mais chateado. Ele se referia a sua volta para Atlantic City no dia seguinte.
- Eu queria que nós tivéssemos tido mais tempo. – Eu também lamentei, enquanto levava uma das minhas mãos até uma das laterais de seu rosto e o acariciava.
- Eu também queria. – fechou os olhos por poucos segundos, apreciando o carinho que eu fazia em seu rosto. – Somos os vilões da nossa própria história. – Ele completou, abrindo os olhos.
- E quando é que vamos ser apenas os mocinhos? – Eu perguntei, demonstrando um pouco de decepção.
- Eu não sei. – respondeu, enquanto continuava fazendo carinho na minha cabeça.
- Nem tudo é culpa nossa. Os nossos problemas começaram antes mesmo de nós nos conhecermos. – Eu neguei com a cabeça. – Fui tudo um caos desde o primeiro momento. – Eu me referia ao acidente que havia matado o pai dele.



- Eu não mudaria nada. – me olhou com ternura. – Porque se eu mudasse, eu não teria conhecido você. – Ele aproximou-se e beijou a ponta do meu nariz. O beijo dele me fez fechar os olhos e sorrir como nunca. Eu aproveitei que a minha mão já estava em seu rosto e o puxei para um beijo. Ele puxou o meu lábio inferior, fazendo com que o nosso beijo terminasse em meio a um sorriso.
- Você é um amor. – Eu suspirei ainda com aquele sorriso bobo no rosto.
- Sim, eu sou. – afirmou com a cabeça, voltando a colocá-la sobre o travesseiro.

O silêncio reinou por algum tempo, enquanto só ficávamos parados observando um ao outro. A mão dele continuava acariciando a minha cabeça e a minha mão continuava acariciando o seu rosto. Eu via quando os seus olhos pesados se fechavam por alguns segundos e o também percebeu que os meus já estavam ficando minúsculos. Nós estávamos resistindo para não dormir.

- Não quero dormir, porque quando eu acordar eu vou ter que ir embora. – sussurrou com os seus olhos praticamente fechados.
- Eu não queria ter que me despedir de você de novo. – Eu também sussurrei com os meus olhos também fechados. O carinho em minha cabeça repentinamente parou e eu soube que ele havia voltado a dormir. Eu fiz o mesmo antes que pensasse em fazer o contrário.

Dormimos naquela mesma posição até a manhã daquele domingo. Eu costumava me mexer muito durante a noite, mas quando eu dormia com o eu sempre ficava parada. Eu não sabia o que acontecia.



TROQUE A MÚSICA:



O dia frio foi amanhecendo e as luzes começavam a entrar pelas janelas da sala. acordou um pouco assustado, sem saber muito bem que horas eram. Estava preocupado em ter dormido demais. Quando abriu os olhos, a primeira coisa que ele viu fui eu. Eu ainda estava deitada bem próxima a ele e o meu rosto estava bem em frente ao seu. Com um pouco de esforço, ele conseguiu se esticar para pegar o celular que ele havia deixado próximo do colchão. Consultou o relógio e viu que era um pouco mais de 8 horas. Ele não tinha tanto tempo.

- Droga... – lamentou-se, pois queria ficar um pouco mais deitado ali comigo. Voltou a me olhar e com cuidado, afastou o seu corpo do meu. Certificou-se que eu estava coberta e afastou-se do colchão, pegando as suas roupas do chão e indo em direção a escada. Chegou em seu quarto e foi logo vestindo a roupa que ele havia separado para usar naquela manhã. Guardou a roupa da noite anterior e voltou a fechar a sua mala. Com toda a pressa, foi ao banheiro e fez a sua higiene matinal. Ele voltou para o quarto e certificou-se de que não havia esquecido nada. Pegou a sua mala e abandonou o quarto as pressas. Desceu as escadas e viu que eu ainda dormia. Consultou novamente o relógio e viu que apenas 15 minutos haviam se passado. Deixou a mala no chão e de longe voltou a me olhar. ficou algum tempo pensando se deveria ou não me acordar para se despedir. Ele sabia que era o certo, mas faltava coragem para um último sofrimento.

ficou um bom tempo pensativo. Ele deu algumas voltas pela casa, enquanto decidia o que fazer e pensava no quão difícil seria passar por aquilo mais uma vez. Ele nunca pensou que desejaria tanto ficar naquela cidade que ele passou meses odiando, quando eu fui embora para fazer a minha faculdade. Tanta coisa mudou, mas as despedidas sempre eram difíceis. Ele não era bom em despedidas. Ele nunca conseguia realmente dizer o que ele pensava ou sentia, porque isso só tornava as coisas mil vezes piores. sabia que ainda havia coisas que precisavam ser ditas entre nós, mas ele não conseguiria fazer isso na nossa despedida. Ele não conseguiria falar nada. Por isso, tomou a sua decisão. Ele diria sim tudo o que ele precisava me dizer, mas ele não faria isso pessoalmente. Ele escreveria a sua despedida e escreveria tudo o que ele precisava me falar. Assim, ele não teria que ver novamente aqueles olhos tristes.

Na mesa de jantar havia alguns papeis em meio a alguns cadernos e apostilas da minha faculdade. Eu havia deixado lá no dia anterior. aproveitou e pegou um daqueles papeis limpos e uma caneta do meu estojo. Ele sentou-se na mesa de jantar e começou a escrever a sua carta de despedida. Não levou mais do que 10 minutos. Tudo o que precisava ser dito estava há dias em sua mente, então ele não precisou nem de tempo para pensar e saber o que escrever.

A carta de despedida estava pronta, fazendo com que se levantasse da mesa. Ele segurou a carta em suas mãos e se aproximou do colchão em que eu dormia. Aproximou-se de mim e agachou-se ao meu lado. Ele estava sorrindo sem motivo algum, enquanto me observava dormir. Me ver dormindo tão calmamente e sem qualquer preocupação ou indicio de tristeza dava a ele certeza de que estava fazendo a coisa certa. Aproximou lentamente a sua mão do meu rosto e o acariciou cuidadosamente com um de seus dedos. Como ele queria poder ficar ou me levar com ele. Como ele queria ficar o dia todo ali me olhando sem que trocássemos qualquer palavra.

- Nós ainda vamos ficar juntos. Eu prometo. – sussurrou mesmo sabendo que eu não estava escutando. Engoliu o nó em sua garganta e afastou-se depois de deixar a sua carta sobre o espaço vazio em meu travesseiro. Conseguiu forças para pegar as suas malas e sair da casa. Andou rápido em direção ao seu carro com medo de desistir de ir embora no meio do caminho.
- Bom dia, . – Big Rob o cumprimentou. Era uma surpresa ver o sair tão cedo em pleno domingo.
- Hey, Big Rob! – aproximou-se para cumprimentá-lo. – Eu estou indo embora. – Ele avisou.
- Indo embora para onde? – Big Rob estranhou.
- Estou voltando pra Atlantic City. – sorriu para o segurança, que pareceu surpreso.
- Cuide-se, garoto. Vê se para de ficar se pendurando em árvores. – Big Rob estendeu a sua mão para que eles fizessem um high-five.
- Deixa comigo. – gargalhou, enquanto eles se cumprimentavam. – Foi legal te conhecer. – Ele sorriu para o segurança, que agora ele já considerava o seu amigo.
- Foi legal te conhecer também. – ficou um pouco chocado, quando achou ter visto um sorriso em seu rosto.
- Cuida dela, ok? – pediu, apontando a cabeça em direção a minha casa.
- Esse é o meu trabalho. – Big Rob afirmou com a cabeça.
- Você tem o melhor trabalho do mundo. – sorriu e Big Rob não expressou muitas reações, pois era muito respeitoso.
- Se você está dizendo. – Big Rob ergueu os ombros.
- Te vejo por ai. – começou a se afastar.
- Até mais. – Big Rob acenou de longe, vendo o guardar a sua mala no porta-malas do carro.

entrou em seu carro, o ligou e saiu sem olhar para trás. Além de não querer ficar pensando que estava me deixando para trás, ele estava com pressa, pois ainda precisava passar no hotel para devolver as chaves do Gramercy Park para o gerente do Yankees. Ele não queria ter que ir embora, mas ele tinha as suas responsabilidades em Atlantic City e não podia dar-se ao luxo de agir como um adolescente inconsequente que deixa tudo para trás para viver um romance.

Dormir na sala não foi uma boa ideia. Como a rua era muito movimentada, o barulho dos carros, dos caminhões e das crianças dos vizinhos acabava sendo muito mais alto e incomodo ali no primeiro andar. Eu acabei acordando com a risada da filha da vizinha da frente, que parecia mais um apito de tão insuportável. Eu me mexi na cama e abri os olhos com dificuldade. A claridade da sala me fez fechar os olhos novamente. Eu comecei a me espreguiçar com os olhos ainda fechados. Entranhei o fato de não ter esbarrado em , quando estiquei os meus braços com uma enorme preguiça. Abri os meus olhos e olhei para o meu lado para procurá-lo. Ele não estava ali. Eu nem perdi o meu tempo procurando ele pela casa, porque o papel ao lado do meu travesseiro já foi suficiente para me fazer entender que ele já não estava mais ali. Eu me sentei na cama e peguei aquele papel em minhas mãos. Eu pensei duas vezes antes de abri-lo.

‘Bom dia, .

Hoje eu acordei e fiquei algum tempo te olhando. Eu pensei se eu deveria te acordar, mas eu desisti quando me dei conta de que teria que me despedir de você de novo. Eu nunca estou pronto para despedidas e sempre dou um jeito de fugir delas. Eu descobri isso no dia em que eu perdi o meu pai. Na época, eu me lembro que o fato de não poder me despedir dele me destruía por dentro. Agora, eu vejo que foi melhor. Despedidas são tristes. Você olha e fala com a pessoa como se fosse a última vez que fosse vê-la. Eu não queria te olhar dessa forma. Eu não queria te olhar e pensar que não sei quando vou te ver de novo. Eu não quero ter que ficar longe de você.

Nós já cometemos muitos erros. Eu já cometi muitos erros, mas não é por mal. Decepcionar você é a pior coisa do mundo pra mim e sempre acaba acontecendo quando eu estou tentando fazer o melhor para você. Você não sabe, mas foi por isso que eu não fui ao show do Nickelback. Eu sabia o que aconteceria lá, mas eu também sabia que eu iria embora hoje. Eu não queria te dar esperanças e depois acabar com todas elas. Eu não queria te ver sofrer mais uma vez por minha causa. Eu tentei evitar o pior, mas o pior aconteceu quando eu te vi chorando naquela noite depois do show. O meu mundo perdeu o sentido e eu não conseguia aceitar que o responsável por aquelas lágrimas era eu. Por isso, eu quis uma nova chance. Eu precisava te fazer feliz só mais uma vez. Eu precisava ver o seu lindo sorriso de novo.

Eu estou indo pra longe de você de novo, mas saiba que nada nunca vai mudar entre nós. Saiba que o que nós temos é o que ainda me faz acreditar que o amor não é apenas doloroso, mas também é o sentimento mais puro e forte que alguém pode sentir por outra pessoa. Por isso, eu nunca vou ser grato a você o suficiente por ter me dado a oportunidade de te amar mais do que a mim mesmo.

Eu não sei se você sonha com isso tanto quanto eu, mas eu sinceramente espero que um dia nós possamos viver a nossa história e o nosso amor, que eu tenho certeza que não está acabando aqui. Nós ainda temos muito o que viver e eu vou continuar incluindo você em todos os meus planos e sonhos. Quando você achar que está pronta, você sabe onde me encontrar.

Obrigado por me fazer lembrar o quão bom é estar apaixonado por você. Obrigado por ter feito a minha viagem para Nova York valer a pena.

Não se esqueça de mim.

Com amor,

.’

Aquela carta destruiu tudo o que eu sentia. Meus olhos percorreram aquelas linhas mais de uma vez e eu não conseguia acreditar no que eu estava lendo. Na carta, estava dizendo que estava apaixonado por mim. Ele estava apaixonado por mim! Isso me fez perder completamente o rumo. Eu sei que nós ficamos juntos na noite passada e que dissemos muitas coisas um para o outro, mas ele nunca disse que estava apaixonado. Isso mudava tudo. Isso tornava as coisas muito mais dolorosas pra mim. Isso me fazia enxergar uma verdade cruel, que eu não queria mais enxergar. Eu disse ao que ele não poderia se apaixonar por mim!

Em meio a uma crise sentimental, eu me levantei as pressas do colchão. Passei pelo relógio que ficava na sala e vi que eram 9 horas ainda. Isso quer dizer que eu ainda poderia alcançá-lo! Eu subi as escadas correndo e entrei no meu quarto. Fui tirando o meu pijama e já fui vestindo uma legging preta e um casaco vermelho extremamente quente, que vinha até o meio das minhas coxas. Me olhei rapidamente no espelho e vi que o meu cabelo estava um pouco bagunçado. Peguei um elástico e fui amarrando o meu cabelo até o meu caminho até o banheiro. Fiz a minha higiene matinal às pressas e voltei correndo para o quarto para vestir uma bota. Desci a escada feito um jato, peguei as chaves do meu carro e a carta que ele havia escrito e fui até a porta da casa.

- Big Rob! Faz tempo que o saiu? – Eu perguntei, enquanto abria a porta do carro.
- Faz uns 20 minutos. – Big Rob respondeu rapidamente, quando viu que eu estava com pressa.
- Merda. – Eu resmunguei, pois achei que poderia ser tarde demais. – Obrigada. – Eu gritei antes de entrar no carro. Valia a pena tentar!

Eu liguei o carro rapidamente e nem esperei para dar a partida. Eu sabia que o ia até o Gramercy Hotel antes de voltar para Atlantic City. A minha esperança era de encontrá-lo lá. O hotel não ficava tão longe e eu me esforcei para chegar lá o mais rápido possível. Passei em alguns semáforos amarelos e devo ter levado alguma multa por velocidade. Cheguei na rua do hotel, passei pelo parque e o pequeno trânsito que havia na frente do hotel me fizeram xingar em voz alta. Eu ficava procurando o carro do e não conseguia vê-lo em lugar nenhum. O meu coração ganhou vida novamente, quando eu o vi saindo do hotel.

- Graças a Deus. – Eu sorri, aliviada. O trânsito continuava e em meio a um surto, eu decidi dar ré e parar o carro na rua paralela a do hotel. Larguei o carro de qualquer jeito naquela vaga que eu nem sabia se eu podia estacionar e sai correndo em direção ao hotel. Olhei para a frente do hotel e vi que o não estava mais lá. Comecei a procurá-lo por todos os cantos e consegui vê-lo andando para o lado oposto de onde eu estava. Eu não pensei duas vezes antes de sair correndo para alcançá-lo. Consegui me aproximar dele, quando ele estava prestes a abrir a porta de seu carro. – ! – Eu gritei o nome dele para evitar que ele entrasse no carro. Ele manteve os olhos no carro, sem coragem para se virar e ter certeza de que eu estava mesmo ali. – Ei! – Eu chamei por ele mais uma vez, parando logo atrás dele. Eu sabia que ele já tinha me escutado. virou-se para mim, certo de que levaria uma bronca. – Como você ousa? – Eu olhei pra ele, furiosa. Cheguei a empurrar o corpo dele contra o seu próprio carro. Ele me olhou e parecia não estar surpreso com a minha reação. – Isso! – Eu peguei a carta que ele havia escrito e a coloquei contra o seu peito. – É só isso? – Eu cerrei os olhos em sua direção.
- ... – tentou argumentar, mas eu o interrompi.
- Depois de ontem a noite, é só isso o que eu merecia? Uma carta de despedida? – Eu estava muito brava. – Ia mesmo embora sem se despedir de mim? – Eu perguntei, indignada.
- Tem certeza que foi isso o que te deixou tão brava? – pegou a carta que eu havia jogado nele.
- O que? – Eu me fiz de boba. Eu ainda não sabia como falar daquele assunto.
- Foi por causa do que eu escrevi, não foi? Eu quebrei a sua última regra. – Apesar de nervoso, um sorriso surgiu no canto do rosto de . Eu não consegui respondê-lo de imediato. A minha raiva foi sumindo, quando eu via o jeito que ele me olhava. Eu apenas neguei com a cabeça, sem saber o que dizer.
- Eu disse pra você não se apaixonar por mim de novo! – Eu disse e logo abaixei a minha cabeça. – E agora? O que eu faço agora? – Eu abri os meus braços, demonstrando o quanto aquilo havia me abalado.
- Eu não me apaixonei por você de novo. – disse, me fazendo engolir um pouco daquele sentimento ruim. – Eu nunca deixei de estar apaixonado por você. – Ele completou e fez tudo parecer ainda pior. Eu fechei os olhos por alguns segundos, tentando absorver tudo o que ele estava me dizendo.
- Tinha mesmo que me dizer isso hoje? – Seria tão mais fácil se ele tivesse me dito isso antes. As coisas teriam sido bem diferentes.
- Eu tinha! – ergueu os ombros e me olhava como se dissesse: ‘desculpa, mas você tinha que saber.’.
- E agora? Você vai embora e eu tenho que conviver com isso? – Eu já não conseguia dizer com tanta grosseria. As palavras dele haviam amolecido o meu coração. – O que nós fazemos agora? – Eu não sabia o que fazer.
- Isso não funcionaria. – negou com a cabeça, me olhando com tristeza.
- Eu sei. – Eu abaixei a minha cabeça. Mesmo já estando ciente, aquilo ainda me deixava triste.
- E agora, ? – Eu repeti aquela pergunta pela terceira vez. Eu ainda não sabia o que fazer.
- Agora, nós vamos voltar a viver as nossas vidas. Você aqui e eu em Atlantic City. – sabia que não tínhamos outra opção. – Vamos deixar acontecer, sabe? Se for pra ser, vai ser. – Ele sorriu fraco.
- Então, eu não vou mais te ver? – Eu fiquei um pouco mais emotiva do que eu gostaria.
- É claro que vai. – deu um sorriso maior. – Com a conta do Yankees, eu vou ter que vir para Nova York com mais frequência. Eu já tenho um lugar pra ficar, não tenho? – Ele conseguiu me arrancar um sorriso.
- É claro que tem. – Eu ainda sorria, quando neguei com a cabeça. – Se eu souber que você veio pra Nova York e não veio me ver, eu acabo com você. Entendeu? – Eu cerrei os olhos em sua direção.
- Promete? – me olhou com malicia.
- Engraçadinho. – Eu rolei os olhos em meio a risos.
- Eu venho te ver. Eu prometo. – piscou um dos olhos pra mim.
- Ótimo. – Eu me aproximei e beijei carinhosamente uma das suas bochechas. Eu já ia me afastar, quando ele segurou a minha mão e começou a me puxar para mais perto.
- Qual é. – sorriu, sem jeito. – Veio até aqui e não vai me dar um beijo de despedida? – Ele continuou me puxando em direção a ele.
- Você estava indo embora sem se despedir. Achei que não fazia questão de beijo de despedida. – Eu fiz charme, mantendo o meu rosto em frente ao dele.
- Mas eu faço. – sorriu, mantendo os seus olhos fixos nos meus olhos. – Eu faço muita questão. – Ele completou antes de aproximar lentamente os seus lábios dos meus e me beijar. Subi a minha mão até o seu rosto para impedir que o beijo durasse muito. Eu interrompi o beijo e aproveitou para puxar o meu lábio inferior, o que me fez sorrir. Ainda segurando o seu rosto com uma das minhas mãos, deslizei os meus lábios e dei um novo beijo em sua bochecha. Aproveitei que os meus lábios estavam próximos do seu ouvido e disse o que ele esperava ouvir há tempos.
- Não conta pra ninguém, mas... eu também quebrei a sua regra. – Eu queria que ele soubesse que eu também estava apaixonada por ele. Afastei o meu rosto do dele e vi aquele sorriso maravilhoso no seu rosto. – Boa viagem. – Eu soltei a sua mão. Eu não queria atrasá-lo ainda mais.
- Se você precisar, você pode me ligar sempre que você quiser. Eu venho. – disse, vendo eu me afastar.
- Eu sei que vem. – Eu me virei para olhá-lo, mas continuei dando alguns passos para trás. Eu continuei me afastando dele e ele continuou me olhando. Eu não me atrevi a olhar para trás, pois eu não queria ficar mal.

Eu fui para o meu carro sentindo uma sensação de paz. Parecia que havíamos finalmente nos entendido. Não, nós não estávamos juntos, mas nós resolvemos as nossas pendências. Nós deixamos claro um para o outro que gostamos um do outro, mas que esse não é o momento certo para vivermos esse amor. Insistir poderia acabar estragando o que levamos algum tempo para construir. Não funcionou da última vez e não seria agora que funcionaria.

também se sentia melhor. Não estávamos juntos, mas também não estávamos brigados. Nós estávamos bem. Deixamos em aberto a oportunidade de ficarmos juntos no futuro e concordamos que essa não era a hora certa. Ele estava indo embora muito mais feliz e aliviado. O seu coração estava ficando para trás, mas a esperança de tê-lo de volta era o que lhe confortava. Não estava tudo acabado.

Eu fui pra minha casa e eu estava feliz, apesar dele ter ido embora. Não foi uma despedida como das outras vezes. Não nos despedimos como se o que nós temos estivesse acabado. Nos despedimos como se fossemos voltar a nos ver em breve e soubéssemos que algum dia ia ficar tudo bem entre nós. Eu cheguei na minha casa e o Big Rob veio me perguntar se ele podia dar uma saída para ir comer alguma coisa. Eu autorizei a sua saída e adentrei a minha casa. Aquele colchão no chão da sala e as minhas roupas espalhadas pelo chão me fizeram rir sem qualquer motivo. Eu fiz questão de arrumar tudo, pois fiquei com medo da Meg aparecer para uma visita. Terminei de arrumar a sala e fui até a cozinha para fazer alguma coisa para comer. Comi algumas bolachas, enquanto decidia se eu voltaria a dormir ou não.

Já fazia um pouco mais de uma hora que o tinha ido embora, o que me fez pensar que ele já devia estar chegando em Atlantic City. Senti inveja dele, já que a minha vontade de ir para Atlantic City era enorme. Eu não via a hora de rever os meus amigos e a minha família. Fiquei algum tempo pensando quando eu poderia arrumar um tempinho para ir até a minha cidade natal e então resolvi subir e voltar para a cama. Eu estava prestes a subir a escada, quando a campainha tocou. Eu encarei a porta e deduzi que fosse a Meg. Agradeci mentalmente por ter arrumado a bagunça que estava na sala. Fui até a porta e a abri. Bem, não era a Meg.



- Olá. – Eu esforcei um sorriso para aquele desconhecido. Ele ficou algum tempo olhando para o meu rosto e parecia um pouco surpreso. – Posso te ajudar? – Eu perguntei, esperando ele falar alguma coisa.
- Você deve ser a . – O homem pouco grisalho deduziu, me fazendo achar que nos nos conhecíamos.
- Desculpa, mas nós nos conhecemos? – Eu sorri, sem graça. Estava com medo de estar sendo mal educada por não me lembrar dele. Eu o analisei discretamente, tentando me lembrar quem era. Ele estava muito bem vestido e devia ter os seus 45 anos.
- Não pessoalmente, mas com certeza você deve ter me visto em alguma foto. – Ele sorriu brevemente, esperando que eu o reconhecesse agora. Sinceramente, ele realmente não me parecia estranho.
- Não. – Eu neguei com a cabeça com os olhos fixos nele. – Eu certeza que eu te conheço de algum lugar. – Eu procurava nele qualquer pista que pudesse me ajudar a descobrir quem era aquele homem.
- Bem, as pessoas costumam achar que me conhecem, porque eu me pareço muito com algumas pessoas da minha família. – Quando ele disse aquilo a minha ficha caiu.
- É claro! – Eu abri um enorme sorriso. Ele ficou parado, me olhando. – Você deve ser algum parente do , certo? Você se parece muito com ele! – Eu me achei a maior lerda do mundo por não ter notado a semelhança entre o e ele antes. – Entra. – Eu me senti muito mal por ter feito tantas perguntas antes. Eu abri a porta e o homem entrou. – Me desculpa mesmo. – Eu me xinguei mentalmente, enquanto fechava a porta.
- Não, tudo bem. – O homem gentil negou com a cabeça. Ele não queria que eu me incomodasse com aquilo.
- É que eu não sou muito boa em guardar a fisionomia das pessoas. O me mostrou algumas fotos da família algum tempo atrás, mas a minha memória é péssima. – Eu voltei a me lamentar. Eu não me lembrava exatamente quem era, mas se era um parente do eu não podia tê-lo tratado tão friamente antes.
- Não se incomode com isso. – O homem disse, olhando discretamente a sua volta. Ele parecia impressionado com a casa.
- O foi embora há menos de uma hora. É uma pena. – Eu lamentei, achando que o que havia trazido aquele homem até ali era a esperança de encontrar o . – Ele ficaria feliz em te ver. – Eu completei.
- Será mesmo? – O homem disse e eu estranhei. O que ele quis dizer com aquilo?
- Você é algum tio do ? – Eu cruzei os braços, sem graça por perguntar.
- Não. – O homem negou, sério.
- É algum... primo? – Eu comecei a falar um pouco mais sério também. Eu estava começando a ficar desconfiada.
- Também não. – O homem me olhava de um jeito, que parecia insinuar alguma coisa. Eu fiquei mais preocupada. Quem seria aquele homem? Será que ele realmente era parente do ?
- Quem é você? – Eu perguntei de forma mais grosseira. Eu já olhava para a porta, pronta para correr e sair por ela se fosse preciso.
- O meu nome é Steven. – O homem deu um passo em minha direção e eu dei outro para trás. – Steven Jonas. – Ele completou, achando que o nome soaria um pouco mais familiar para mim. Eu neguei com a cabeça, mostrando a ele que eu não reconhecia o seu nome. – Eu sou o pai do . – O homem jogou a bomba nos meus braços. Os meus olhos se arregalaram e eu comecei a dar vários passos para trás.
l - Não. – A minha voz mal saiu direito. – Não pode ser. – Eu comecei a negar incessantemente com a cabeça. Parecia que eu estava vendo um fantasma. – Você está... – Eu ia dizer, mas ele foi mais rápido.
- Morto? – O homem arqueou as sobrancelhas exatamente do mesmo jeito que o fazia. Aquilo me assustou pra caramba.
- Meu Deus... – Eu suspirei, olhando fixamente pra ele. Na hora, me vieram algumas memórias a mente. Aquele porta-retrato que o tem na casa dele. Abaixei a minha cabeça, enquanto absorvia tudo aquilo. Me veio a mente o homem que estava naquela foto. O homem que eu cheguei até a elogiar e dizer que era bonito. O cara daquela foto estava bem na minha frente. – Meu Deus. – Eu repeti, levando um choque ao voltar a olhar para o homem na minha frente. Era ele! Levei minhas mãos até a minha boca e voltei a negar incessantemente com a cabeça. – Você não está morto. – Eu disse, sentindo o meu coração disparado. Eu estava muito assustada. – Ele sabe? O sabe? – Eu perguntei com um certo tom de desespero. era a pessoa mais importante em tudo aquilo.
- É por isso que eu vim até aqui. – O pai do disse com calma para que eu não surtasse de vez. – Eu quero que você me ajude a encontrar com o meu filho. Eu não sei como ele vai reagir. – Ele pediu a minha ajuda para algo completamente insano. Como posso ajudar a explicar pro que o pai que ele achou que estava morto, na verdade está vivo? Como se dá uma notícia dessa?
- Ok. – Eu levei uma das minhas mãos até a minha cabeça e entrelacei os meus dedos em meu cabelo, tentando pensar no que fazer e me acalmar.
- Você vai me ajudar? – O pai de questionou, receoso. A minha resposta foi pegar o meu celular, que estava em meu bolso e começar a discar o número do . As minhas mãos tremiam, fazendo com que eu tivesse um pouco de dificuldade de digitar o número do celular do .
- Alô? – atendeu todo fofo. Já com saudade de ouvir a minha voz.
- ... – Eu não conseguia falar direito. Olhei para o pai dele que estava na minha frente e tentei respirar fundo. – Eu preciso que você volte pra Nova York agora. – Eu disse e a voz aflita foi instantaneamente notada pelo . Uma coisa ruim o atingiu e um nó formou-se repentinamente em sua garganta. não queria saber do que se tratava ou se era importante ou não. A minha voz já havia dado todas as informações que ele precisava saber. Ele deixaria tudo para trás e voltaria para Nova York.










CONTINUA...









Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


7 comentários:

  1. Mdsssssssssss! O pai do Jonas voltou?!

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  2. ContinuuuuuuaaaaaaContinuuuuuuaaaaaa, demora mto pra escrever! Mas sou apx por essa fanfic ❤��

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  3. OH MEU DEUS continuaaaaaaaaa

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  4. continuuuaaaa por favorr continuuaaa gente e os amigos deles que fim deram eles ,continuaaaaa

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  5. Continua, pelo amor de deus, alguém me socorre!

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