Capítulo 41





Capítulo 41 – A garotinha cresceu



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:



O coração de parecia ter parado no minuto em que eu lhe dei aquela grande notícia e voltou a bater absurdamente forte assim que ele realmente entendeu o que aquilo queria dizer. Seus olhos cheios de lágrimas olhavam os meus, demonstrando surpresa. Ouvir aquilo era tudo o que mais queria, mas parecia que a voz da razão não deixaria que ele fosse feliz por tanto tempo.

- Eu não vou. – Eu repeti, sentindo o meu choro e desespero cessarem. respirava de forma mais rápida e ele observava os detalhes do meu rosto, pensativo. – Eu vou ficar com você, . – Eu me aproximei com um fraco sorriso, colocando minhas mãos em seu rosto. Eu já não estava entendendo a falta de reação dele.

não conseguia olhar em meus olhos. Ele não conseguia parar de pensar no que aquilo significaria. Mesmo ele percebendo que eu olhava fixamente pra ele, o seu olhar continuou perdido por todo o meu rosto. Aquela notícia parecia ser a solução de todos os seus problemas, mas também parecia ser a causa. Os olhos dele finalmente encontraram os meus e eu pude ver todas as lágrimas que existiam ali.

- Não.. – disse com a voz trêmula. O meu sorriso desapareceu imediatamente, quando eu vi suas sobrancelhas decaírem, demonstrando que ele estava segurando as lágrimas nos olhos. – Você não pode.. – Ele negou levemente com a cabeça, levando suas mãos pra junto das minhas e as tirando do seu rosto. Ele saiu da minha frente, me deixando de frente para a porta da sua casa. e eu estávamos de costas um para o outro. Eu encarava a porta e ele encarava a rua em frente a sua casa.

Não era a reação que eu esperava. Definitivamente não era! não precisava dizer mais nada. Eu já sabia o que aquilo queria dizer. Eu já tinha a certeza do que viria a seguir. Meus olhos tristes e cheios de lágrimas encaravam aquela porta branca como se ela pudesse me dar algum tipo de força para aquele momento. O desespero voltava aos poucos para o meu peito.

sabia o quanto aquela situação era difícil. Quer dizer, era a coisa que ele mais queria no mundo, mas também era a coisa mais egoísta que ele poderia fazer com a pessoa que ele mais ama. sabia muito bem que ele era o principal motivo da minha desistência. Ele era o motivo da desistência do sonho da minha vida. Como ele poderia viver com isso?

- Eu já decidi, . – Eu disse, ainda de costas pra ele. Virei o meu corpo e vi ele de costas. Eu estava certa de que ele não me faria mudar de ideia.
- Eu não vou deixar você fazer isso. – continuava dizendo tudo de costas pra mim.
- Olhe pra mim. – Eu pedi com mais firmeza. Eu sabia o que ele estava fazendo e não estava me agradando nem um pouco. – ! Olha pra mim. – Eu pedi novamente, vendo que ele ainda não havia virado pra mim. Quando vi que ele não se viraria, fui até ele e puxei o seu braço com uma das mãos. – Eu estou falando com você. – Eu consegui fazê-lo olhar pra mim. Ele parecia pior do que eu, mas isso não me fez desistir do que eu queria fazer. – Eu sei o que está pensando.. – Eu tinha certeza de que não consegui dizer com toda a raiva que queria.
- Você sabe que eu não vou deixar você desistir do seu sonho. – negou com a cabeça, como se fosse óbvio.
- Eu não estou pedindo permissão, . – Eu disse friamente.
- No que diabos você está pensando? É o seu sonho! Você lutou por isso! Você não pode jogar tudo pro ar só por causa.. – hesitou dizer.
- Você? – Eu completei rapidamente. – Era isso que ia dizer? – Eu o olhei, séria.
- Porque decidir entre duas coisas se você pode ter os dois? Eu já disse que te espero. – não correspondia ao meu tom de raiva, ele continuava falando daquele jeito triste e emotivo.
- Não é sobre esperar. É sobre ficar sem você, . – Senti uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto naquele instante. – Eu não quero e não vou ficar sem você. – O final dessa minha frase quase não saiu por causa do meu choro.
- Não! Isso não é uma opção! – pareceu ficar indignado naquele momento. – Como você acha que eu vou me sentir, olhando pra você todos os dias e sabendo que era pra você estar lá, vivendo o seu sonho, garantindo o seu futuro? – me olhou seriamente, apesar de todas as lágrimas nos seus olhos.
- Eu honestamente estou bem mais preocupada com o NOSSO futuro. – Minha voz ainda parecia embargada.
- Você faz ideia de quantas pessoas queriam estar no seu lugar? – negou com a cabeça, sem acreditar.
- E você, ? Faz ideia de quantas garotas queriam estar no meu lugar? Você faz ideia do quanto as garotas querem viver um amor como o nosso? Você faz alguma ideia, , de quantas garotas no mundo queriam ter a chance de chamar um garoto como você de namorado? – Eu estava desmoronando aos poucos.
- Eu ainda vou ser seu namorado! Eu ainda vou amar você mais do que qualquer coisa no mundo. – parecia incomodado com o fato de eu achar que a distância o faria me amar menos. – Ei, me escuta. – se aproximando, tocando meu rosto com suas mãos e me olhando nos olhos. – Eu amo você e eu quero o melhor pra você. Eu não vou a lugar nenhum. – forçou um fraco sorriso. – Eu te esperei por 6 anos, lembra? Eu não desisti. Eu nunca desisti de você e eu nunca vou desistir, porque você é a minha garota e é com você que quero ficar. – acariciou o meu rosto, sem deixar de me olhar nos olhos. – Você tem que viver o seu sonho. – secou a lágrima em meu rosto com um de seus dedos.
- Você ainda não entendeu.. – Eu suspirei, tirando suas mãos do meu rosto e olhando pra qualquer coisa que não fosse ele. – Eu já estou vivendo, . – Eu voltei a olhá-lo.
- O que? – me olhou com aquele olhar que parecia dizer ‘não diz isso’.
- Eu passei todos esses anos lutando, me esforçando pra realização de um sonho que parecia tão impossível. – A imensa vontade de chorar voltou e eu senti meus olhos decaírem, enquanto eu tentava segurar as lágrimas. – E hoje eu finalmente me dei conta de que ele não era impossível, que ele estava mais perto do que eu pensava, que eu estava vivendo ele a cada dia dos últimos 7 anos. – Eu respirei para continuar. – Hoje eu percebi que o meu sonho não tem a ver com um diploma, uma mansão e uma cidade grande. Meu sonho tem a ver com um cara. Um cara que apesar de bonito, é um idiota. Um cara que sacrifica a sua própria felicidade pra colocar um sorriso no meu rosto. Um cara que faz com que eu sinta que tenho tudo o que eu preciso, quando eu já perdi tanta gente. Um cara que apesar de me fazer odiá-lo, também sabe como ninguém como me fazer amá-lo cada dia mais. – Eu abaixei a cabeça, quando vi as lágrimas escorrerem dos olhos dele. – E esse cara está na minha frente nesse exato momento. - Eu disse e voltei a olhá-lo. não se moveu. Ele apenas me olhou com todas aquelas lágrimas em seu rosto e aquele olhar triste.
- Não faz isso.. – pediu em um suspiro, enquanto negava com a cabeça. Ele já estava sendo tão forte e me ouvir dizer aquelas palavras tornavam tudo ainda mais difícil de suportar.
- Você é o meu sonho, . – Eu finalmente disse, sem me mover. Eu apenas fiquei olhando pra ele, enquanto ele recebia aquela notícia.
- Você está dizendo que seu sonho não é mais estudar em Nova York? – perguntou, sem tirar seus olhos encharcados de mim.
- Eu estou dizendo que eu tenho muitos sonhos, mas você é o único que quero realizar agora. – Eu dei alguns passos em direção a ele e parei em sua frente. – Eu sinto que eu posso deixar todos os outros sonhos pra outra hora, mas eu também sinto que eu não posso deixar você pra outra hora. Eu não quero deixar você pra outra hora. – Aproximei o meu rosto do dele e toquei o meu nariz no dele. – Por favor, não me faça te deixar para outra hora. – Eu pedi encarecidamente. Selei rapidamente os seus lábios e coloquei meus braços em torno de seu pescoço, abraçando-o. – Eu não quero te deixar pra outra hora. – Eu repeti, enquanto eu o abraçava como nunca.

nunca havia ficado tão confuso em toda a sua vida. A garota que ele ama estava implorando para ele fazer tudo o que ele mais queria fazer, mas ele não podia. Ele simplesmente não podia me deixar cometer a insanidade de deixar algo tão importante pra trás. Algo que eu poderia não ter a chance de ter novamente.

Todos sabem que essa é uma fase decisiva para o futuro de um adolescente. Escolher um curso, escolher uma faculdade e passar no vestibular. Eu havia conseguido tudo aquilo! Como eu poderia adiar algo inadiável? Eu não tenho mais a tia Janice para me ajudar a conseguir bolsa. É agora ou nunca! sabia de tudo isso e era exatamente por isso que ele não podia atender o meu pedido.

- Ei.. – disse, passando as mãos pelo seu rosto, enquanto ainda me abraçava. Afastou nossos corpos para que pudesse olhar em meu rosto. – Me responde uma coisa. – suspirou longamente para que o seu choro cessasse. – Se fosse eu no seu lugar. Se eu estivesse desistindo do meu maior sonho, do meu futuro... por você. Você me deixaria ficar? – perguntou e esperou a minha resposta.
- Esse não é o caso, . – Eu não queria responder, pois eu sabia que a resposta não seria ao meu favor.
- E se fosse! – insistiu. – E se eu estivesse largando tudo por sua causa? E se eu resolvesse ir pra Nova York com você? Deixar a minha família, a minha faculdade, os meus amigos, o meu emprego, tudo! Você me deixaria ir? Você me deixaria largar tudo por você? – perguntou, sabendo que aquela pergunta me faria ver um pouco do seu lado. Apesar de estar segurando toda a tristeza dentro dos olhos, tocou o meu rosto com uma das mãos e afastou uma mecha de cabelo que estava perto dos meus olhos. Eu hesitei responder, pois a resposta me faria ceder.
- Você sabe que não.. – Eu neguei levemente com a cabeça, observando seu rosto de perto. – Mas.. – Eu hesitei novamente, pois sabia que as próximas palavras deixariam ele ainda pior. - Mas o que? Pode falar. – não queria que eu guardasse nada.
- Eu.. – Eu cruzei os meus braços, pois estava começando a ficar com frio. Eu deixei de olhá-lo por algum tempo para poder tomar coragem para dizer. – Eu já te fiz esperar por tanto tempo, . Você já perdeu tanto da sua vida pra me esperar e... – Eu voltei a olhá-lo, segurando aquele choro com todas as minhas forças. – Eu vou entender se você não quiser me esperar dessa vez. Você não pode parar a sua vida por causa de mim. – Eu percebi a expressão de indignação tomar conta do rosto dele.
- Isso não é e nem nunca foi uma opção pra mim. – afirmou com um quase sorriso. – Eu esperei por muito tempo, mas no final, valeu a pena. – O sorriso de aumentou, percebendo um certo alívio da minha parte. – E eu sei que dessa vez não vai ser diferente. – voltou a se aproximar e colocou suas duas mãos em meu pescoço, embaixo do meu cabelo. – Antes eu esperei sem ter esperança alguma, sem saber se algum dia aquilo valeria a pena. – Apesar das poucas lágrimas em seus olhos, conseguia me passar a segurança que eu precisava naquele momento. – Hoje eu tenho esperança. Eu tenho esperança em você, em nós e eu sei que você também tem. – aproximou-se ainda mais e beijou lentamente a minha testa. – Não há o que temer. – disse em um tom quase inaudível, quando descolou seus lábios da minha pele. Aproveitei para passar meus braços em torno do corpo dele.
- Eu estou com tanto medo.. – Eu o apertei com toda a minha força e encostei minha cabeça em seu peito. Só pelo jeito que eu o abracei, percebeu o tamanho daquele medo que eu dizia ter. – Eu não quero mais sentir medo. – Eu disse, tendo certeza de que a minha maquiagem estava sujando toda a sua camisa branca.
- Eu queria, mas eu não posso tirar o seu medo. – passou seus braços em torno de mim e beijou o topo da minha cabeça, sentindo-se inútil por não poder me ajudar. – O medo só vai embora, quando você superar ele. – Ele apoiou levemente o seu queixo em minha cabeça, enquanto eu ainda continuava abraçada a ele.
- Eu tenho medo do novo. Eu tenho medo de ter que lidar com tudo sozinha. Eu vou estar sozinha. Eu sempre tive tanta gente olhando por mim e agora vai ser só... eu. – Eu disse, sem terminar o nosso abraço.
- Você vai se sair bem. Eu tenha certeza. – deu um sorriso espontâneo, enroscando seus dedos em meu cabelo. – Você sempre foi a garota mais responsável que eu conheci. Você vai saber como lidar com tudo. – continuava me dizendo aquelas palavras de apoio que eu não esperava ouvir de mais ninguém. – Além do mais, você é forte, lembra? Você já passou por tanta coisa, que isso vai ser fácil pra você. – não fazia ideia do quanto aquilo estava me ajudando. Eu afastei o meu rosto do seu peito para olhar em seu rosto. – Você é uma garota bonita e incrível. Você vai arrumar muitos amigos, que de preferência sejam mulheres. – disse, sabendo que aquilo me faria rir. – Depois de algum tempo, você vai estar se divertindo tanto que até vai se esquecer de mim. – aproveitou para citar um medo que também lhe consumia. Eu dei um fraco sorriso e neguei com a cabeça.
- Não.. – Eu continuei negando e me aproximei mais, roubando um selinho dele. – Eu não vou, porque eu amo você e eu vou voltar. – deu um doce sorriso, ao meu ouvir dizer aquilo. – Eu vou voltar pra você. – Olhei em seus olhos, antes dele me roubar mais um longo selinho.

O selinho já estava em seu final, quando uma das mãos dele foi até o meu rosto e me puxou pra um beijo. O beijo foi aprofundado rapidamente, mas também não foi intensificado. Logo quando eu achei que o beijo duraria por um bom tempo, ele descolou os nossos lábios. Ele não estava sorrindo como das outras vezes em que terminamos um beijo.

- Você tem que ir embora. Já é tarde e.. – afastou-se, demonstrando o quanto não queria fazer aquilo.
- Não.. – Eu neguei com a cabeça, olhando fixamente pra ele. me olhou com desaprovação.
- , eu já te expliquei que.. – ia dizendo, mas eu o interrompi.
- Eu quero passar a minha última noite com você. – Eu fui direto ao assunto e ele paralisou, enquanto me olhava. Me esperava dizer a qualquer momento que estava brincando, mas não demorou para ver que eu realmente falava sério.
- Espera, você está dizendo que... – ainda não acreditava que havia escutado aquilo.
- É exatamente o que eu estou dizendo. – Eu quase ri da perplexidade dele. me observou por um longo tempo e sorriu sem mostrar os dentes, negando com a cabeça.
- Não é justo! Você sabe que não dá. – Ele suspirou por ter que dizer aquilo. – O seu irmão, os seus pais estão todos esperando você voltar pra casa. – colocou as mãos no bolso, demonstrando-se decepcionado por ter que negar aquele pedido que ele queria TANTO atender.
- Então você não quer? É isso que está me dizendo? – Eu também demonstrei estar decepcionada por não ouvi-lo dizer nenhuma palavra que mostrasse que ele também queria aquilo.
- Qual é.. – quase riu, deixando de me olhar, enquanto negava com a cabeça. – Você sabe o quanto eu quero isso. – voltou a me olhar de uma forma um pouco mais séria. – Você sabe que se eu pudesse, eu te colocaria no meu carro agora mesmo e te levaria pra qualquer lugar que fosse longe daqui. Eu roubaria você... só pra mim e nós não teríamos mais que pensar em Nova York, distância e toda essa porcaria. – suspirou antes dizer. – Mas.. – hesitou, negando com a cabeça.
- Mas você não pode, não é? – Eu deduzi, dando um fraco e doloroso sorriso.
- Você já sabe. – Mesmo com um sorriso no rosto, o olhar decepcionado ainda me encarava.
- Eu só.. – Eu ergui os ombros. – Eu queria ficar o máximo de tempo com você. – Eu fiquei um pouco mais séria.
- É, eu sei. – voltou a se aproximar. – Eu também. – Colocou seus braços em torno do meu corpo. – Eu posso te levar pra casa e ficar um pouco lá se você quiser. – deu a ideia, não sabendo a minha opinião sobre o assunto.
- Eu quero.. – Terminei o abraço para olhar em seu rosto.
- Certo, então eu só vou subir pegar o casaco e a minha carteira, ok? – se aproximou e selou longamente os meus lábios. Durante o selinho, eu afirmei com a cabeça mostrando que estava de acordo.

terminou o selinho e se afastou, entrando em sua casa em seguida. Ele foi rapidamente até o seu quarto e pegou o seu casaco e antes de sair, resolveu passar no quarto de sua mãe para avisar que sairia. O pai de continuava fora da cidade, estava resolvendo alguns negócios em outra cidade e só voltaria no dia seguinte. A mãe de dormia, quando levou um enorme susto com a porta sendo aberta.

- Desculpa, mãe. – disse em um quase sussurro.
- Entra, filho. Tudo bem? – Ela se sentou e ligou o abajur que ficava ao lado de sua cama. Ela logo pensou que fosse uma notícia ruim.
- Está tudo bem. Fica calma. – quase riu. – Eu só passei pra te avisar que estou indo pra casa da . Tudo bem? – pediu a permissão da mãe.
- Agora? Mas já é tarde. – Ela não entendeu o porquê do filho querer ir até a minha casa tão tarde.
- Eu sei, mas.. – hesitou dizer para não preocupar mais a mãe. – Ela precisa de mim, mãe. – deu um sorriso que mostrava o tamanho da sua tristeza.
- É amanhã, não é? – A mãe de sabia exatamente do que se tratava.
- É.. – disse com a voz que soava como tristeza
- Você está bem, ? – A mãe de olhou pra ele ainda mais séria e preocupada.
- Eu.. acho que sim. – forçou um sorriso e sua mãe logo percebeu o esforço.
- Vai lá.. – Ela sorriu e apontou com a cabeça em direção a porta. – E fique bem. – Ela pediu.
- Eu vou ficar. – se aproximou e beijou o rosto da mãe. – E a ? Deu tudo certo? – finalmente se lembrou da irmã.
- Tudo certo! Ela já voltou a comer loucamente. – Ela disse, fazendo com que os dois rissem.
- Que bom. – ainda ria um pouco.
- E qual o horário do voo amanhã? – A mãe de perguntou.
- Ás 9:00. – respondeu de imediato.
- Eu e a vamos passar lá bem rápido para dar um abraço nela. – Ela avisou.
- É, faça isso. Ela vai gostar. – sorriu. Ele adorava aquela relação que a família dele tinha comigo.
- Eu vou parar de ficar te enchendo de perguntas. Vá ficar com a sua garota. – Ela piscou para o filho, que finalmente deu um sorriso sincero.
- Eu vou. Obrigado, mãe. – se aproximou e beijou a testa da mãe. – Qualquer coisa me liga no celular. – disse, afastando-se.
- Certo. Boa noite. – Ela voltou a apagar o abajur, vendo o filho fechar a porta de seu quarto.

passou pelo quarto de e abriu a porta para olhar rapidamente a sua irmã. Ela dormia calmamente. deu um fraco sorriso e inclinou-se para arrumar a coberta que estava quase no chão. Ele se afastou da cama da irmã e foi em direção a sala e depois a saída da sua casa.

Eu estava de costas para a porta, pois meu olhar estava perdido na rua logo a frente. Estava vazia, mas qualquer lugar parecia prender a minha atenção. Eu não ouvi se aproximar, mas notei a sua presença quando ele colocou o seu casaco sobre os meus ombros. Eu senti vontade de sorrir apenas por saber que ele estava por perto. Os braços dele fizeram a volta em meu corpo e apoiou o seu queixo em um dos meus ombros depois de beijar carinhosamente o meu pescoço.

- Tão séria... – virou o seu rosto para olhar para o meu, que ainda escarava a rua. - Eu daria tudo pra saber o que você está pensando agora. – me olhou de um jeito doce.
- Estou pensando em como vou conseguir superar amanhã, sabendo que ele será pior que hoje. – Eu virei o meu corpo de frente pro dele para que eu pudesse olhar o seu rosto. Os braços dele continuaram em torno de mim.
- Vamos combinar uma coisa.. – arqueou a sobrancelha, ficando um pouco mais sério.
- O que? – Eu quis saber.
- Não chorar. – foi direto. – Amanhã já será triste o suficiente. Chorar sempre piora as coisas. – Ele afirmou. – Me prometa que você não vai chorar amanhã. – pediu, sério.
- Como se isso fosse possível. – Eu neguei com a cabeça. – Eu choro só em pensar. – Eu quase ri, sentindo as lágrimas em meus olhos.
- É por isso que é uma promessa. Eu não pediria que você prometesse se achasse que você atenderia um simples pedido meu. – continuou sério.
- Você está falando sério? – Eu voltei a ficar mais séria, pois percebi que ele realmente queria que eu prometesse.
- Prometa. – pediu mais uma vez.
- Mas... – Eu sabia o quanto seria difícil, mas eu também sabia que isso faria ele se sentir melhor. – Certo, eu prometo. – Eu suspirei longamente. Me aproximei e toquei seu rosto com uma das mãos. – Ta? Eu prometo. – Eu repeti antes de selar os seus lábios. O nosso selinho foi interrompido pelo seu sorriso.
- Obrigado. – Ele continuou dando aquele fraco sorriso e disse olhando docemente nos meus olhos. – Vamos? Devem estar preocupados com você. – voltou a dar uma de responsável.
- Certo, vamos.. – Eu olhei pra ele sem nenhum tipo de expressão, apenas o observei. Ele também passou a me observar, enquanto uma de suas mãos desciam pelo meu braço, chegava em minha mão e entrelaçava nossos dedos.

deu alguns passos e me puxou. Fomos até o meu carro e decidimos que ele iria dirigir, já que eu estava totalmente sem condições. Durante todo o caminho, não foi dito absolutamente nada. O silêncio demonstrava toda a nossa apreensão. Ninguém tinha coragem de dizer alguma coisa. Primeiro por não saber o que dizer e segundo por saber que tudo o que precisava ser dito, já havia sido dito.

Os meus olhos estavam fixos na janela do carro, onde eu observava a rua vazia, já que já era bem tarde. Percebi quando estávamos chegando perto da minha casa e o meu coração se apertava cada vez mais, pois eu sabia que depois de me deixar em casa, ele iria embora novamente. Eu não queria que chegássemos nunca.

- Eles chegaram. – disse, olhando pela janela da sala. Seus pais já haviam acordado e também esperavam pela minha volta.

desligou o carro, depois de estacioná-lo em frente da minha casa. Nós descemos do carro e ele esperou que eu chegasse até ele para que pudéssemos dar as mãos. Eu cheguei ao lado dele e ele entrelaçou os nossos dedos. O casaco dele ainda estava nos meus ombros.

- Eles vão me matar.. – Eu dei um fraco sorriso, enquanto caminhávamos até a porta da minha casa.
- Não vão.. – tentou me acalmar, acariciando a parte superior da minha mão com um de seus dedos. Chegamos em frente a porta e eu não precisei nem abri-la, pois fez isso.
- Você está bem? – perguntou, me olhando muito sério. Eu passei por ele e soltei a mão do , que preferiu ficar mais atrás com o . Olhei para os meus pais e vi que eles estavam mais preocupados do que zangados.
- Estou. Eu.. – Eu não sabia como continuar. – Eu sinto muito. Eu não queria deixar vocês preocupados. – Eu sorri sem mostrar os dentes. – Eu só.. Eu não sei. Eu estou meio nervosa pra amanhã. – O meu sorriso aumentou para que eles não sentissem o drama daquela frase.
- Está tudo bem, filha. – Minha mãe se aproximou com aquele olhar materno que todos conhecem. – Eu entendo que esteja sendo difícil pra você. – Ela se aproximou ainda mais, me abraçou rapidamente e beijou o meu rosto.
- É e está tudo bem se você quiser desistir agora. Nós não queremos te pressionar a nada. – Meu pai disse para me deixar com ainda mais vontade de desistir, mas eu não podia pelo mesmo motivo de sempre.
- Não, está tudo bem. Vocês não estão me pressionando. – Eu olhei pra eles com carinho. – Eu estou fazendo isso por mim. Sempre foi o meu sonho e eu tenho certeza que não foi fácil pra tia Janice me conseguir essa bolsa. Eu não posso jogar o meu esforço e o esforço dela fora desse jeito. – Eu fiquei um pouco mais emotiva por estar falando da tia Janice. – Eu quero que ela se orgulhe de mim, onde quer que ela esteja. Eu quero que vocês se orgulhem de mim. – Eu olhei para os meus pais. – Eu quero orgulhar todas as pessoas que me amam, que estão torcendo e que, de alguma forma, estão me fortalecendo pra fazer essa coisa tão difícil, mas que vai ser tão bom pra mim. – Eu olhei rapidamente pro . Ele já sabia que se tratava dele. Todos na sala sabiam que se tratava dele.
- Essa é a minha garota. – Meu pai se aproximou e me abraçou, bagunçando o meu cabelo como ele sempre fez, porque ele sabia que isso me fazia rir.
- Eu vou, mas só porque sei que todos vocês vão estar me esperando voltar. – Eu ainda estava nos braços do meu pai, mas não deixei de olhar pro , que de longe deu um enorme sorriso e afirmou com a cabeça.
- Eu acho que não vou conseguir ir ao aeroporto amanhã. – Minha mãe disse, passando as mãos pelo seu rosto para enxugar as lágrimas que haviam escorrido dos seus olhos.
- Falando nisso, é bom você subir, . O seu voo é bem cedo amanhã. – Meu pai disse.
- É, eu vou subir. – Eu saí dos braços dele e olhei pro . – Eu só vou me despedir do . – Eu olhei pro meu pai.
- Não. Suba e se troque. – Meu pai disse, sério. – Eu vou conversar com ele e ai deixo ele subir para se despedir. – Ele disse em tom de ordem. Olhei pro e vi o seu olhar de medo. A única pessoa no mundo da qual tinha medo era o meu pai.
- Certo. – Eu não quis discutir. Pisquei pro e sorri, tentando acalmá-lo e me virei para subir as escadas. Meu pai olhou para a escada e esperou até que eu não estivesse mais no seu campo de visão. Virou-se para olhar pro .
- , como está indo? – Meu pai perguntou com aquela voz grossa, que fazia parecer que ele estava furioso.
- Eu estou bem, Senhor. Obrigado. – forçou um sorriso e se aproximou. riu silenciosamente, quando percebeu o quanto o amigo estava assustado com a tal conversa.
- Então, eu venho querendo conversar com você há algum tempo. Tudo bem se for agora? – Meu pai perguntou, pois não queria ser inconveniente já que era tão tarde.
- Claro! Sem problemas. – jamais negaria nada ao meu pai.
- , vá pro seu quarto. – Meu pai disse em tom de ordem.
- O que!? – fingiu não ter escutado direito.
- Sobe logo. – Meu pai apontou com a cabeça em direção a escada.
- Mas eu quero participar da conversa, pai. – não queria sair dali, pois além de estar curioso, sabia que aquela cena seria algo que poderia zoar com a cara do mais tarde.
- Você não tem nada a ver com a conversa, garoto. – Meu pai quase riu da cara dele.
- Eu quero saber o que o senhor vai falar pra ele. A é a minha irmã e ele é.. o meu amigo. – forçou uma risada.
- E essa conversa continua não tendo a ver com você. – Meu pai foi irônico.
- Vamos, querido. – Minha mãe chamou com a mão.
- Mas.. – fez bico e ia argumentar novamente, mas desistiu. – Droga. Eu sempre saio na melhor parte. – resmungou como uma criança birrenta. Minha mãe passou os braços em torno no corpo dele e os dois foram juntos lá pra cima. Parecia que ela também queria deixar e meu pai sozinhos.
- Esse garoto não toma jeito. – Meu pai comentou com , que não conseguiu nem rir de tão nervoso que estava. O assunto deveria ser muito sério para ser tratado em uma conversa particular.
- É.. – forçou um sorriso, que ficou bem claro pro meu pai que era falso.
- Bem, é claro que o assunto dessa conversa é o único assunto que temos em comum. – Meu pai deu inicio a conversa.
- A . – logo soube do que meu pai estava falando.
- Exatamente. – Meu pai afirmou com a cabeça. – Vocês são namorados há algum tempo e eu realmente não tenho nada a reclamar de você. Você tem sido um bom namorado, respeitoso e educado. – Ele sorriu pro . – Você tem ganhado a minha confiança a cada dia que a vejo chegar em casa com um enorme sorriso no rosto. – Meu pai continuou dizendo, deixando mais aliviado.
- Eu fico muito feliz, senhor. – deu um sorriso espontâneo.
- Eu sinto que ela está segura com você e aparentemente ela também se sente segura com você, porque hoje, quando ela sentiu medo e estava aterrorizada com a viagem de amanhã, ela procurou por você. Isso me deixa muito feliz. – O sorriso do meu pai aumentou.
- Eu disse que eu a protegeria e é isso que eu venho fazendo. É isso que eu vou continuar fazendo. – já não estava tão nervoso.
- Eu tenho certeza que sim, mas.. – Meu pai hesitou, pois não sabia como dizer aquilo. – Ela vai mudar-se para outra cidade amanhã. – Ele conseguiu dizer. – Não me entenda errado, garoto, mas você está mesmo disposto a continuar com isso? – Meu pai perguntou, sério.
- Senhor, eu e a sua filha já passamos por tantas coisas que pareciam querer testar o que nós sentíamos um pelo outro e se nós estamos juntos até hoje, é porque fomos muito fortes e lutamos para passar por isso. – não quis entrar em detalhes. – Eu não desisti até agora. Não chegou nem perto! Eu não vou desistir agora. – finalizou o seu pequeno discurso. Meu pai o analisou por um tempo, parecendo gostar do que havia escutado.
- O jeito que você fala.. – Meu pai riu silenciosamente por poucos segundos. – Me lembra uma pessoa. – Meu pai negou com a cabeça, achando idiotice ter dito isso em voz alta. – Enfim, você parece gostar bastante dela. – Ele voltou a sorrir pro .
- Eu amo ela, senhor. – não teve vergonha de dizer. - Então está tudo certo. Eu só tinha receio que você pudesse não querer um relacionamento a distância, mas depois do que você disse, eu não tenho dúvidas. – Meu pai olhou com afeto.
- Eu fico feliz. – voltou a sorrir pro meu pai.
- Então era isso. – Meu pai olhou pra escada. – Você quer se despedir, não é? – Ele apontou pra escada. – Vamos, eu te levo até lá. – Meu pai andou em direção a escada e o acompanhou. – E se perguntar, não diga a ele sobre o que conversamos. Vamos deixá-lo curioso. – Meu pai riu, fazendo rir também.
- É uma ótima ideia. – concordou.

e meu pai seguiram em direção ao meu quarto. Quando chegaram na porta, meu pai bateu nela 3 vezes seguidas. Não quis entrar sem bater, pois não sabia se eu ainda estava trocando de roupa. Não, eu não estava. Eu estava sentada em minha cama. Já havia colocado o pijama, escovado os dentes e tirado toda a maquiagem. Eu só esperava que passasse em meu quarto para se despedir. Quando ouvi baterem na porta, me levantei rapidamente e abri a porta.

- Oi. – Eu dei um fraco sorriso, olhando pro meu pai e depois pro . Eu me afastei da porta para que pudesse entrar. passou pelo meu pai e parou em minha frente. Olhei pro meu pai para ver se ele não sairia dali, mas é claro que o meu pai não deixaria sozinho comigo no meu quarto.
- Achei que já estaria dormindo. – sorriu, me olhando de perto.
- E perder a chance de me despedir de novo? – Eu dei um jeito de sorrir, quando percebi que as lágrimas estavam voltando para os meus olhos.
- É, não deu certo da última vez. – ficou um pouco mais sério, pois percebeu minhas lágrimas. – Então, eu vejo você amanhã? – perguntou, meio sem jeito por causa do meu pai.
- Eu espero que sim. – Se eu sobreviver até o dia seguinte.
- Eu vou estar no aeroporto ás 8hrs esperando por você, certo? – perguntou.
- Certo. – Eu abaixei a cabeça e encarei o chão por poucos segundos. Quando levantei o meu rosto, passei a manga do pijama pelos olhos para evitar que as lágrimas escorressem pelo meu rosto. – Ah e eu já estava me esquecendo! – Eu me afastei e fui até a cadeira, onde peguei o seu casaco. – O seu casaco. – Eu entreguei pra ele.
- Já? Você ficou tanto tempo com o outro, que achei que iria querer ficar mais tempo com esse. – brincou, pegando o casaco.
- Idiota. – Eu ri, mostrando a língua. riu instantaneamente.
- Certo, eu tenho que ir. – foi ficando mais sério aos poucos. Encarou o chão, pois queria dizer mais coisa, mas com o meu pai ali não dava. – Você tem que dormir logo. – levantou a cabeça e me olhou.
- É, eu acho que sim. – Eu cruzei os braços e sorri sem mostrar os dentes. As lágrimas insistiam a voltar para os meus olhos. Que droga.
- Você.. vai ficar bem? – perguntou, preocupado. Ele não queria que acontecesse o que havia acontecido há minutos atrás.
- Sim, eu.. – Eu tentei demonstrar certeza, mas a minha voz saiu embargada. Ficar bem? Isso é possível hoje? Abaixei a cabeça para que ele não visse que eu estava prestes a chorar. Eu também não queria chorar por causa do meu pai. – Não. – Eu não aguentei. Levantei o meu rosto e o olhei com os meus olhos completamente cheios de lágrimas. – Eu não vou. – Eu completei, sem me mover. – Eu não consigo me despedir de você. – Voltei a passar as mangas da minha blusa nos olhos e me aproximei para abraçá-lo. Quando eu o abracei, consegui olhar no rosto do meu pai, que estava atrás do .

Meu pai era aquele tipo de pai antigo. Aquele que não deixa que nenhuma situação suspeita chegue acontecer. Ele estava certo de que não devia deixar sozinho comigo naquele quarto, mas depois da conversa que ele havia tido com naquela noite. Depois de ver o quanto eu estava sofrendo por ter que deixá-lo, meu pai abriria uma exceção. Ele confiava muito em e em mim. Não haveria problemas.

- ? – Meu pai o chamou e terminou o abraço, achando que levaria uma bronca do sogro. – Acha que pode ficar com ela até ela dormir? – Meu pai perguntou, vendo um sorriso surgir no meu rosto. – Eu não quero que ela saia correndo dessa casa atrás de você novamente, então é melhor que fique aqui. – Meu pai finalizou.
- O que está acontecendo? – ouviu a voz do pai e foi lá para ver o que era.
- O seu amigo vai ficar com a sua irmã até ela dormir. – Meu pai avisou .
- Ele o que!? – arqueou a sobrancelha.
- É isso mesmo o que você ouviu. – Meu pai riu da perplexidade de . – Ela precisa dele. – Meu pai olhou pra mim e sorriu.
- Quer que eu fique vigiando? – sorriu, certo de que o pai diria que sim.
- É claro que não, . – Meu pai arqueou a sobrancelha.
- Mas pai, o senhor vai deixar ela e ele.. aqui.. sozinhos? – ainda não acreditava.
- Nem todos são como você, meu filho. – Meu pai riu e deu um tapinha no ombro do . Saiu em direção ao seu quarto.
- Isso porque o seu pai não sabe nem a metade das putarias que você fala, não é? – gargalhou.
- Cala a boca, palhaço. – segurou a risada. – Escuta aqui! Eu quero essa porta encostada, ok? – apontou pra porta. – ENCOSTADA! – reafirmou. – Se eu vier aqui e ela tiver fechada eu te arranco desse quarto e não vai ser pela porta. – ameaçou.
- Eu entendi. – piscou pro amigo.
- Estou de olho, hein. – fez cara de bravo e saiu.
- Seu irmão tem sérios problemas. – negou com a cabeça, quase rindo.
- Esquece ele. – Eu voltei a abraça-lo. – O que importa é que você está aqui. – me apertou e sorriu por poder ficar mais um pouco ali comigo.
- É, mas você tem que dormir, lembra? – terminou o abraço e me olhou.
- Eu sou a estraga prazeres aqui, lembra? – Eu o olhei, indignada.
- Hoje é a minha vingança. – cerrou os olhos. – Vem. – me puxou por uma das mãos em direção a cama.

sentou-se na cama e encostou suas costas na parede e eu peguei o meu travesseiro e coloquei em seu colo, onde eu deitei em seguida. A coberta estava até a minha cintura e as minhas mãos estavam descobertas. Eu olhava pra cima para poder ver o rosto dele, enquanto os dedos dele se entrelaçavam em meu cabelo e faziam carinho em minha cabeça.

- Ele gosta de você. – Eu disse, fechando os olhos, pois aquele carinho da minha cabeça estava realmente muito bom.
- Quem? – abaixou o seu rosto para me olhar.
- Meu pai. – Eu sorri e abri os olhos para olhar pra ele. – Ele nunca deixou Peter chegar nem perto da minha casa. – Eu me recordei da implicância que meu pai tinha com o Peter. – Já você.. – Eu voltei a fechar os olhos. – Ele até te deixou ficar aqui no meu quarto. – Eu completei.
- Até o seu pai tem um gosto melhor pra garotos do que você. – aproveitou para brincar e tirar com a minha cara.
- Peter foi um erro, eu sei. – Eu neguei levemente com a cabeça.
- Eu ainda não sei o que você via nele. – continuava me olhando, mesmo eu estando de olhos fechados.
- Ele não era tão ruim antes e além do mais, nós tínhamos o ódio por você em comum. – Eu voltei a abrir os olhos apenas para ver a reação dele.
- Sério? – fingiu estar indignado. – Quer dizer que você só ficou com o Peter pra me atingir? – Ele cerrou os olhos.
- Não, é claro que não. – Eu gargalhei por poucos segundos. – Eu nunca faria isso. – Eu rolei os olhos.
- Então você ficou com ele porque você gostava dele? – fez careta, pois sabia que talvez não fosse gostar da resposta.
- Lembra aquele dia em que estávamos escrevendo aquela redação? – Eu perguntei e vi ele afirmar com a cabeça. – Você perguntou se eu realmente amava o Peter e eu disse que um dia eu te contaria. – voltou a cerrar os olhos, pois não sabia se gostaria da continuação.
- É, eu meio que me lembro disso. – continuou me olhando daquele jeito.
- A resposta é não. – Eu fui direta e vi o rosto de desconfiança dele se transformar rapidamente.
- Não? – repetiu para ter certeza.
- Eu confesso que naquela época eu não tinha certeza. Eu não sabia o que responder. Eu achei que eu talvez tivesse gostado dele. – Eu comecei a explicar. – Eu nunca tinha gostado de verdade de um garoto e eu não sabia medir o que eu sentia, mas hoje eu sei que não. – Olhei pra ele com aquele olhar suspeito e ele sorriu imediatamente.
- Foi uma boa resposta. – A mão dele desceu da minha cabeça, desentrelaçou-se dos meus cabelos e desceu por uma das laterais do meu rosto, acariciando todo o local. Levei uma das minhas mãos ao encontro da dele e, depois de beijar as pontas dos seus dedos, a observei de bem perto e comecei a brincar com seus dedos.

Eu continuava brincando com seus dedos, enquanto sentia o olhar dele sobre mim. Depois de um certo tempo, não resisti e olhei pra ele. negou com a cabeça, impressionado como um simples ato como aquele fazia ele ficar ainda mais louco por mim. Ele se abaixou e selou os meus lábios e depois que os descolou, continuou bem próximo ,enquanto nós dois nos olhávamos de muito perto.

- Você não vai desistir de mim, né? – Eu perguntei por que eu precisava ouvir a resposta novamente para que o meu coração se acalmasse um pouco mais. sorriu de forma espontânea e olhou em meus olhos. Negou com a cabeça, sem dizer nada. As pontas dos nossos narizes se tocavam a todo o momento. Ele se aproximou e selou meus lábios mais uma vez, dessa vez de forma mais rápida. Voltou a se afastar e a encostar suas costas na parede.

O carinho que continuava fazendo em minha cabeça despertava um sono enlouquecedor em mim. Em menos de 20 minutos eu já havia adormecido no colo dele. Ele percebeu rapidamente que eu havia dormido, mas preferiu esperar mais um pouco para ir embora. Os olhos dele começaram a rolar por todo o meu quarto. Viu as minhas malas e o meu guarda-roupa completamente vazio. Quando ele percebeu, havia parado de acariciar a minha cabeça e estava completamente imóvel observando o meu quarto. Estava completamente vazio.

Não é que a ficha de estava finalmente caindo. Já havia caído há um bom tempo, mas ver aquele vazio não fazia ele se sentir bem. Ele abaixou a cabeça e voltou a me olhar. Eu ainda dormia calmamente. Ele sorriu, enquanto me admirava.

Tudo o que conseguia pensar é no quanto era bom me ter ali nos seus braços e no quanto será ruim não poder repetir aquilo com tanta frequência. Ele sempre teve essa vontade de me ver adormecer só para que ele pudesse me observar sem julgamentos. Ele estava feliz, porque sabia que agora que eu estava dormindo, eu não estava mais sofrendo, mas aquilo também queria dizer que agora ele poderia sofrer sem ter que se esconder, já que eu não veria de qualquer jeito.

- Você não está ouvindo, mas... – hesitou dizer, quando sentia as lágrimas alcançarem os seus olhos. – Eu queria que você ficasse. – finalmente disse, voltando a enroscar seus dedos em meu cabelo. – Eu realmente quero, mas você não pode saber disso. – finalizou e deixou de me olhar imediatamente, encostando a sua cabeça na parede e olhando para o teto. Respirava longamente para se acalmar e fechou os olhos para que não chorasse.

Os olhos de permaneceram fechados por um bom tempo. Tanto tempo que ele acabou adormecendo naquela mesma posição. O coração de partiu, depois que ele resolveu sair do seu quarto e ir até o meu. Aquela cena acabou com ele. Aquela cena demonstrava a tristeza vencida pelo cansaço, mas nada, nada vencia aquela união, aquela conexão, aquela vontade de ficar juntos que eu e tínhamos.

Tudo o que eu sei é que acordei com o meu celular despertando. Eu não sabia nem mais onde eu estava. Abri os meus olhos com dificuldade e quando olhei pra cima, vi o . A cabeça dele ainda estava encostada na parede. Tadinho, ele dormir naquela posição a noite toda? Porque ele não havia ido embora? Eu me levantei e voltei a olhá-lo e sorri, vendo que ele dormia profundamente. Eu me sentei na cama e coloquei meus pés no chão. Eu iria para Nova York em menos de 3 horas!

- Ei.. – disse com aquela voz de sono. Ele havia me visto assim que havia aberto os olhos. Ele fazia careta, enquanto espreguiçava-se. As costas deveriam estar doendo.
- Você dormiu sentado. Deveria ter me acordado. Eu arranjaria um lugar pra você dormir. – Eu sorri ao ver suas caretas.
- Não, não.. eu não deveria ter dormido. – passou as mãos pelos olhos, que ainda tinham dificuldade em se manter abertos por causa da luz. – Que hora são? – perguntou, preocupado.
- São 7 horas. – Eu disse, depois de pegar o meu celular e consultar o horário.
- Então levante ou vai se atrasar. – disse, aproximando-se da beirada da cama e também colocando seus pés no chão.
- Ok, mãe. – Eu brinquei e me levantei. Olhei em volta e não sabia o que fazer primeiro.

Fiquei parada no centro do quarto por algum tempo, pensativa. Eu não sabia por onde começar ou se deveria começar. ficou algum tempo me observando de costas. Levantou-se e parou ao meu lado, olhando para o meu rosto. Ele já sabia a resposta daquela pergunta, mas deveria fazê-la de qualquer jeito.

- Você está bem? – finalmente perguntou. Eu demorei um tempo para responder e continuei sem olhá-lo.
- Estou. – Eu comecei a dar alguns passos em direção a porta e fui até o banheiro. Fechei a porta e dei um longo suspiro. Um suspiro de alívio por não ter que segurar aquele sentimento ruim dentro de mim. Andei, parei em frente ao espelho e apoiei minhas mãos na pia.

O meu reflexo no espelho continuava mostrando a pior parte de mim. A minha respiração estava saindo com mais intensidade e os meus olhos estavam cheios de lágrimas. Era como se ‘tristeza’ estivesse escrito na minha testa. Eu neguei com a cabeça, desaprovando aquela imagem que eu estava passando a mim mesma e certamente a todas as outras pessoas. Abaixei a cabeça para que eu pudesse parar de sentir pena de mim mesma. Depois de ficar algum tempo observando a pia, voltei a olhar o espelho.

- Vamos, é o seu sonho. Não pode ser tão ruim. – Eu disse bem baixinho. – Você não vai chorar. – Eu forcei um sorriso para convencer a mim mesma do que estava dizendo. – Você prometeu que não choraria, então você não vai chorar. – Eu voltei a falar comigo mesma. Afirmei com a cabeça, demonstrando que havia entendido.

Depois de fazer a minha higiene matinal, fui até o meu quarto. não estava mais lá. Aproveitei a oportunidade para me trocar. Vesti a roupa que eu havia separado para usar naquele dia, a única roupa que eu deixei fora da mala (VEJA AQUI).

estava na sala com . Eles esperavam que eu finalmente descesse para tomar café. O silêncio tomava conta da sala. parecia inquieto, ele não parava de bater os dedos em um dos braços do sofá. Ele não fazia a menor ideia do que fazer.

Arrumei a minha cama pela última vez e segurei meu travesseiro nas mãos. Olhei para o criado mudo e peguei um dos porta-retratos que havia ali. Aproximei para olhar de mais perto e vi a foto da minha família. Foi em uma das minhas festas de aniversário. Deve ter sido tirada há uns 2 anos atrás. me segurava no colo, fazendo uma careta pra foto. Eu também fazia uma careta em que eu fingia que estava furiosa com ele. Meus pais estavam mais atrás e estavam abraçados. Era óbvio que eu levaria aquela foto comigo, junto com a foto minha e do e a dos meus amigos.

Guardei os porta-retratos dentro de uma das minhas malas e olhei em volta para ver se não estava me esquecendo de mais nada. Eu já havia pegado as roupas, os sapatos, as maquiagens e acessórios. Eu já tinha tudo o que eu precisava ali. Coloquei o travesseiro sobre as malas e peguei a minha bolsa. Observei o quarto, o MEU quarto por um tempo. Eu até sentiria falta dele. Coloquei uma das alças da minha bolsa em um dos ombros, sai do meu quarto, descendo as escadas e chegando na sala. Estranhei o silêncio.

- Vocês estão ai. – Eu disse, vendo e sentados no sofá. Eles me olharam no mesmo instante e sorriram.
- Oi . – se levantou com aquele mesmo sorriso.
- Onde estão a mão e o pai? – Eu perguntei, sabendo que eles já deveriam estar em algum lugar da casa me apressando.
- É.. sobre isso.. – coçou a cabeça, fazendo careta. levantou-se e ficou um pouco mais atrás, sério.
- O que aconteceu? – Eu olhei para eles, achando que havia acontecido alguma coisa.
- Você sabe quanto é difícil para os pais verem um dos filhos sair de casa, ainda mais pra outra cidade. – introduziu o assunto.
- , cadê eles? – Eu voltei a perguntar, séria.
- A mãe está chorando há umas 2 horas. O pai está com ela, tentando acalmá-la. – fez uma careta triste. Eu fiquei olhando para ele por um tempo, pensativa.
- Eu esperava por isso. – Eu neguei com a cabeça.
- Você sabe como a mãe é emotiva e dramática. – sorriu e revirou os olhos, tentando me deixar mais calma.
- É, eu devo ter herdado isso dela. – Eu ironizei, indo em direção a cozinha.
- O café está na mesa. – disse, indo atrás de mim.
- Eu estou sem fome. – Eu disse, sentindo meu estomago revirar só em ver aquela comida sobre a mesa. – Eu como alguma coisa no avião. Eu não sei. – Eu não estava preocupada com a minha fome agora.
- Então é bom nós já irmos. Já são 8 horas. – disse, olhando no relógio.
- Você está certo. – Eu suspirei longamente. Eu estava tentando agir friamente.
- As minhas malas estão lá em cima. Podem pegá-las pra mim, por favor? – Eu pedi gentilmente.
- Claro. – sorriu. – Vamos, . – Ele olhou pro amigo.
- Vamos.. – continuou me olhando, parecendo estar meio perdido. Ele olhou para a escada, viu subindo e foi atrás.

sempre esteve certo de que a sua ficha já havia caído, mas a cada minuto parece que ela ia caindo ainda mais. A ficha continua caindo e caindo e nunca parava de cair. Quanto mais fundo ela vai, mais dolorido vai ficando. sabia muito bem que pisar naquele aeroporto seria a pior coisa que ele faria em toda a sua vida. Ele realmente não sabia o que aconteceria com ele quando nós chegássemos lá. É por isso que ele estava tentando ficar meio longe de mim. Para que toda essa carga emocional seja descarregada de uma só vez naquele aeroporto.

pegou uma das malas e pegou a outra e mais o meu travesseiro. Eu aproveitava para olhar em volta. Olhar a minha casa. Eu certamente voltaria ali outras diversas vezes, mas não seria mais a MINHA casa. Não é lá em que eu vou morar, não é ali que eu vou acordar todos os dias. Eu sentiria falta de cada ruído que a porta do armário da cozinha fazia, do cheiro que a minha casa tinha, daquelas escadas que eu subi e desci diversas vezes.

- São só duas, ? – perguntou no topo da escada. Ele se referia as malas.
- Sim. – Eu disse, vendo ele e desceram cuidadosamente com as minhas malas. trazia meu travesseiro nos braços.
- Tem mais alguma coisa? – perguntou, sério.
- As outras coisas eu não posso levar. – Eu disse, tendo certeza de que ele entenderia do que se tratava.
- Eu vou chamar a mãe e o pai. – voltou a subir as escadas. Dessa vez de forma mais rápida.
- Eu estou preocupado com você. – finalmente disse. Aproximou-se e colocou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
- Não se preocupa. Eu estou bem. – Eu dei um fraco sorriso.
- Porque eu não acredito nisso? – arqueou a sobrancelha com um simples sorriso.
- Porque é mentira. – Eu respondi e me virei, pois percebi que meus pais desciam as escadas.

Meus olhos foram diretamente para o topo da escada e eu vi a minha mãe. Os olhos estavam inchados, mas ela dava um enorme sorriso. Meu pai estava mais sério, mas parecia orgulhoso. vinha atrás, preocupado com o que aconteceria a seguir.

- Veja só se não é a minha garotinha. – Meu pai disse com aquele velho tom de pai coruja.
- É, eu acho que a sua garotinha cresceu. – Eu respondi, já sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. As escadas acabaram e agora eles estavam em minha frente.
- Não. Não importa o quanto você cresça, você sempre será a minha garotinha. – Meu pai se aproximou e me abraçou. Minhas unhas grudaram em seu casaco. Eu não queria mais soltá-lo.
- Ainda é cedo para eu chorar. – Eu terminei o abraço, quando percebi que choraria. Passei as mangas da minha blusa pelos olhos e sequei as lágrimas que nem chegaram a escorrer. – Nós podemos ir? – Eu olhei pra minha mãe e ela negou com a cabeça.
- Eu não consigo. – Ela voltou a chorar.
- Filha, eu acho melhor a sua mãe ficar aqui. Eu ficarei com ela e o te leva no aeroporto. – Meu pai passou o braço pelos ombros da minha mãe. Eu olhei para a minha mãe para ver se aquilo era realmente a verdade e os olhos dela afirmavam que sim.
- Me desculpa, querida. Eu não consigo te ver ir embora, entrando naquele avião. – Minha mãe disse com a voz embargada. – Eu não consigo me despedir da minha garotinha. – Ela estava se esforçando para segurar aquele choro desesperado. Olhei para ela e neguei com a cabeça, sem acreditar no quão difícil aquilo estava sendo para ela. Eu a abracei em um impulso e ela desabou a chorar ainda mais.
- Mãe, eu vou sempre voltar aqui. Depois que acabar a faculdade, eu volto. – Eu tentei animá-la de algum jeito.
- Eu prefiro ver você saindo por essa porta, como você fez todos os anos, porque eu sei que de alguma forma, você vai voltar. Eu não posso te ver entrar sozinha naquele avião. Você entende, não é, meu amor? – Minha mãe terminou o abraço e acariciou o meu rosto.
- Eu entendo, mãe. Não tem problema nenhum. – Eu sorri e neguei com a cabeça. Deus, como eu estava segurando o meu choro. Se eu chorasse, minha mãe ficaria ainda pior. Eu não posso chorar.
- Você vai se cuidar, não vai? – Minha mãe engoliu o choro. A preocupação era maior do que a sua tristeza naquele momento. – Vai comer direitinho, vai cuidar da casa, fazer as compras, pagar as contas, não vai? – Minha mãe estava preocupada com tudo.
- É claro que eu vou. Eu sou a filha responsável, lembra? – Eu disse por que sabia que eu a faria rir. cerrou os olhos e mostrou a língua.
- E você não acha que está na hora de ir, Sra. Responsável? – disse, olhando no relógio. Eram 8:15. Faltavam apenas 45 minutos para o meu voo.
- Ele está certo, . – Meu pai disse, sério. Ainda bem que meu pai era mais durão. Ele nunca chorava. Ele estava sabendo lidar muito bem com aquela situação.
- Certo, então eu tenho que me despedir, né? – Eu suspirei longamente. Vamos, seja forte.
- Tchau, pai. Cuida dela, ok? – Eu o abracei e sussurrei em seu ouvido. Fiquei algum tempo o abraçando, controlando as lágrimas que enchiam cada vez mais os meus olhos.
- Eu vou cuidar. – Meu pai sorriu. – E você, cuide-se, hein. – Meu pai terminou o abraço e me olhou, sério. – Sem festinhas, bebidas ou qualquer outra coisa. As regras continuam valendo! – Meu pai disse daquele jeito autoritário.
- Certo, pode deixar! – Eu afirmei com a cabeça, achando engraçado ter que ouvir aquelas regras.
- E qualquer coisa VOCÊ ME LIGA! A qualquer momento do dia. Está entendendo? – Meu pai continuou dizendo tudo em tom de sermão. – A casa terá seguranças, mas tome cuidado! – Ele pediu.
- Não se preocupe, pai. – Eu afirmei novamente com a cabeça. Ele me olhou por um tempo e depois sorriu.
- Boa viagem, querida. – Ele beijou a minha testa com carinho e eu sorri, comovida. Passei novamente as mangas da minha blusa pelos olhos.
- Mãe! – Eu olhei pra ela e ela voltou a chorar. – Pare de chorar. – Eu implorei.
- Eu vou parar. Desculpe. – Ela passou as mãos pelo rosto e riu. Eu a abracei longamente. Eu adorava o perfume dela. Eu queria guardá-lo dentro de mim pra sempre.
- Tchau, então. – Eu disse, terminando o abraço.
- Se você esquecer de me ligar, eu vou até lá te dar uma tapas. – Ela forçou uma cara de brava.
- Eu vou ligar, eu juro! – Eu ri para dispersar as minhas lágrimas.
- E vê se não come só porcaria. – Minha mãe pediu, séria. Ela me conhecia.
- Eu não vou! – Eu afirmei, séria.
- E não esqueça de me ligar quando chegar lá. – Ela voltou a me dar recomendações.
- Eu ligarei. – Eu afirmei novamente. Ela ficou algum tempo me olhando e aquela expressão séria foi se desfazendo. – Boa sorte na realização do seu sonho. Você não faz ideia do tamanho do meu orgulho. – Ela sorriu de forma doce.
- Nós estamos muito orgulhosos. – Meu pai reafirmou.
- Eu sei que estão. – Eu dei alguns passos para trás, porque se eu não fizesse isso agora, não conseguiria fazer depois.
- Vamos, . – já estava na porta.
- Eu vou colocar as malas no carro. – disse, estendendo a mão para que lhe desse a chave.

Quer saber a verdade? Aquela despedida estava matando por dentro, porque todas as vezes em que ele pensa em despedida ele se lembra do seu pai. Ele se lembra que não conseguiu despedir-se do seu pai e ele levaria aquela mágoa por toda a sua vida. Além disso, havia o meu sofrimento. Ele conseguia ver por detrás daqueles meus sorrisos. Ele conseguia ver que eu estava desabando. Foi só por isso que ele quis levar as malas para o carro. Ele tinha que sair dali.

- Então, eu estou indo. – Eu apontei pra porta.

Aquela foi a maior dor que eu já senti em toda a minha vida. Me afastar e ver meus pais na ponta daquela escada. Minha mãe chorando e meu pai a consolando. Faz ideia de como é ter que ver a sua mãe chorar e saber que é o motivo disso? Saber que não pode fazer nada pra ajudá-la? Sabe como é ter que se despedir de uma pessoa que você vê todos os dias durante 18 anos? Aquilo estava me matando. Parecia que a única coisa que me mantinha de pé era o orgulho que eles sentiam por mim. Parece que todo aquele orgulho estava me empurrando. Estava me empurrando para um caminho que os deixaria ainda mais orgulhosos. Que deixaria tia Janice orgulhosa. O meu caminho.

Meu pai abraçou a minha mãe antes que eu fechasse a porta. Assim que eu fechei a porta, eu tive vontade de voltar lá pra dentro e pular nos braços deles como eu fazia aos 7 anos de idade. Sabe aquele medo que você sente quando você vai dormir na casa de uma amiga pela primeira vez? Aquele medo de ficar longe dos pais? Aquele medo de voltar pra casa no dia seguinte e não encontrá-los lá? Esse medo me consumia naquele momento. Dessa vez não era a casa de uma amiga e nem era por uma noite.

Eu encarei aquela porta em minha frente por um bom tempo. Minhas mãos tremiam e meus olhos se enchiam cada vez mais de lágrimas. e me observavam do lado de fora do carro. Ambos estavam sérios e não sabiam o que fazer. resolveu fazer alguma coisa e foi até lá. Parou ao meu lado e ficou me observando.

- Não dava pra escolher uma universidade em Atlantic City, não? – suspirou longamente. Eu sorri e neguei com a cabeça. Virei para olhá-lo.
- Por quê? Você vai ficar com saudades? – Eu disse meio que tirando com a cara dele.
- Não, você sabe que eu arrumo outra irmã rapidinho. – disse com um riso malandro no rosto.
- Eu mato você e ela, palhaço. – Eu cerrei os olhos.
- Você sabe que eu estou brincando. – riu, colocando seu braço em torno do meu pescoço e me puxando com ele em direção ao carro. Chegamos no carro e entrou no banco traseiro. – Entra ai. – disse, indo para o banco do motorista.
- Eu vou atrás com o . – Eu avisei e ele não disse nada.

Eu abri a porta e me sentei ao lado do . Ele virou o seu rosto para me olhar e deu um fraco sorriso. Eu me aproximei e ele estendeu um dos braços e passou ele pelas minhas costas, me puxando pra mais perto. Apoiei a minha cabeça em seu peito e passei meus braços em torno do corpo dele e ele fez o mesmo.

ainda usava a camisa do baile, mas acredite, o seu perfume ainda estava muito, mas muito forte. A mão dele descia e subia pelo meu braço, na verdade, pela manga da minha blusa. Eu sentia o peito dele subir e descer lentamente, mas eu também conseguia sentir o seu coração disparado.

- Eu estou orgulhoso de você. – abaixou um pouco a sua cabeça para poder me olhar. – Você está se saindo bem nas despedidas. – Ele deu um fraco sorriso.
- Eu também estou, acredite. Eu nem sei como estou conseguindo me controlar. – Eu disse, enquanto os dedos de uma das minhas mãos brincavam com os botões de sua camisa. – Foi a coisa mais difícil que eu já fiz. – Eu disse, deixando de olhar os botões e olhando pra ele.
- Mas você fez. – forçou um sorriso. – Pior do que se despedir, é não se despedir. Acredite. – disse com um olhar triste, que demonstrou tudo o que ele queria dizer. Eu sabia que ele se referia ao seu pai.

Depois daquela frase, eu não consegui dizer mais nada. Aquela frase já havia me quebrado. Eu não podia nem imaginar como teria sido se eu tivesse ido sem me despedir dos meus pais. Continuamos abraçados até o aeroporto. nos observava pelo retrovisor e sentia-se triste. Triste pela irmã, triste pelo amigo, triste pelo nosso amor.

- Chegamos. – disse, estacionando o carro no estacionamento do aeroporto. olhou para o aeroporto e viu ali o seu maior pesadelo. Eu me afastei dos seus braços para poder descer do carro. ficou parado por um tempo, fuzilando aquele aeroporto com os olhos.
- ? – Eu o chamei, quando estava prestes a descer do carro. Ele me olhou, como se tivesse acordado de um transe.
- Eu estou indo. – abriu a sua porta e saiu. Ele ainda parecia pensativo.

começou a tirar as malas do porta-malas do carro e depois tirou o meu travesseiro. olhava para todos os cantos, como se estivesse pensando em alguma coisa, como se estivesse confuso sobre alguma coisa. Eu o observava, mesmo estando há alguns passos dele. O olhar dele finalmente me encontrou e ele pareceu ter decidido alguma coisa. Eu não sei.

- Eu preciso buscar uma coisa. – disse e olhou pro .
- O que? – Eu achei não ter escutado direito.
- Eu preciso buscar uma coisa na minha casa. – Ele repetiu e foi até o . – Me empresta o carro? – estendeu a mão.
- Onde você vai? – arqueou a sobrancelha.
- Eu preciso pegar uma coisa na minha casa. – repetiu, sério.
- Mas só falta meia hora. – Eu disse, depois de olhar no relógio.
- Eu sei! Eu consigo voltar a tempo. – insistiu. – Me dê logo a chave! – estendeu a mão.
- Eu só vou dar, porque parece ser muito importante. – colocou a mão no bolso e entregou para , enquanto olhava pra ele.
- Eu já volto. – sorriu pro amigo, agradecido.
- , não dá tempo de você ir até a sua casa e voltar! – Eu já estava pirando. Ele tinha que estar ali na hora em que eu entrasse naquele avião.
- Eu volto. Eu prometo que volto. – se aproximou e selou carinhosamente os meus lábios. – Me espera que eu volto. – Ele disse, olhando meus olhos de perto. No segundo seguinte, ele saiu correndo e entrou no carro do .
- Parabéns, seu namorado é maluco. – disse, observando sair com o seu carro.
- O que ele está fazendo? – Eu não fazia ideia do que ele estava indo buscar ou o que estava tentando fazer.
- Vamos. Você tem que fazer o check-in. – segurou uma mala em cada mão e nós fomos juntos para dentro do aeroporto.

Ainda bem que a fila não estava grande! Havia 4 pessoas na minha frente e ficou ao meu lado. Eu olhava a todo o momento para os lados para ver se não encontrava ninguém conhecido. Meus amigos disseram que estariam ali.

Chegou a minha vez e eu entreguei os meus documentos para a atendente. As minhas malas foram despachadas e o cartão de embarque foi entregue a mim. Eu havia dado um jeito de enfiar o meu travesseiro dentro de uma das malas, assim as minhas mãos ficariam livres. Saímos do balcão de atendimento e fomos em direção ao embarque. Durante todo o caminho eu fui procurando no rosto de cada pessoa que passava ao meu lado, os meus amigos.

- Está procurando alguém? – me olhou, percebendo que insistia em olhar por todo o aeroporto.
- Eles disseram que estariam aqui. – Eu disse, quando paramos em frente a porta que levaria direto para a entrada do avião. Algumas pessoas já entravam.
- Está falando deles? – apontou com a cabeça para algo atrás de mim. Eu me virei e vi os 4 ali, um ao lado do outro. Eles imediatamente sorriram pra mim e eu neguei com a cabeça, sem saber como eu tive a sorte de tê-los em minha vida. Eles começaram a se aproximar lentamente.
- Você vai ficar muito brava se eu explodir a sua universidade? – parou em minha frente, segurando o riso.
- É, seria um pouco frustrante. – Eu segurei a risada, olhando pra ele.
- Eu não quero que você vá. – fez bico.
- É, eu sei que vai morrer de saudades. – Eu disse, me achando e ele riu.
- Todos nós vamos. – apareceu ao lado do .
- Eu também vou sentir saudade de vocês. – Eu abri os braços para dar um abraço em grupo. Os dois me abraçaram forte. – Mas vocês podem ir me visitar quando quiserem. – Eu terminei o abraço e olhei para eles. – E vocês também garotas. – Eu deixei de olhá-los para olhar para as garotas que estavam um pouco mais atrás. – Tem muitos quartos naquela casa. Vocês podem ir lá sempre que quiserem. – Eu sorri pra elas.
- Eu sei que está indo por um bom motivo, mas é tão triste ter que me despedir. – fez bico. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas.
- Eu sei. – Eu neguei com a cabeça, forçando um sorriso. – Isso está me matando, mas... é mesmo por um bom motivo. – Eu olhei pra todos eles.
- Quem vai me ajudar com os deveres de casa? – voltou a fazer um enorme bico.
- Você já saiu do ensino médio, lembra? – Eu gargalhei. – Além do mais, você ainda vai ter amigos pra pedir ajuda. – O meu sorriso se desfez. – Eu é que não terei ninguém. – Eu abaixei a cabeça e vi meus dedos brincarem com o cartão de embarque.
- .. – ia dizer algo pra me consolar.
- Não, está tudo bem. – Eu balancei uma das mãos de forma negativa e voltei a olhá-los. – Só vai ser estranho não ver vocês todos os dias. Vai ser estranho não ouvir o fazer piadas idiotas sobre tudo. Vai ser estranho não ter alguém como você pra estudar comigo, . – Eu sorri pra ele. Meus olhos estavam absolutamente cheios de lágrimas. – E vai ser muito estranho não ouvir aquela risada escandalosa da , quando dizia algo estúpido. Vai ser ainda mais estranho não ter alguém para conversar sobre a minha banda favorita e sobre os meus sentimentos como a sempre fez. – Eu não parava de sorrir para não tornar aquilo pior do que já era.
- Awn, amiga. – me abraçou. Ele já estava chorando.
- Tudo bem, amor. – abraçou a namorada, que também estava prestes a chorar.

lutava contra o tempo para fazer o que tanto queria. Depois de 10 minutos, chegou em casa. Estacionou o carro de quase no meio da rua e saiu correndo pra dentro da casa. A porta estava trancada, o que o atrasou ainda mais. Procurou a chave reserva, que costumava ficar escondida embaixo do tapete e abriu a porta rapidamente. Quando entrou, percebeu que não havia ninguém em casa. Sua mãe e sua irmã já deviam ter ido para o aeroporto.

Chegou em seu quarto e foi tirando a roupa rapidamente e as jogando pelo quarto. Colocou uma camiseta preta com gola v, uma calça jeans mais escura e o seu tradicional tênis. Passou rapidamente o perfume e nem se preocupou em arrumar o cabelo. Abriu a gaveta de um de seus criados-mudos e pegou um cartão de memória. Revirou o quarto atrás de um papel sulfite e quando o achou, fez um envelope e depois de colocar o cartão de memória ali dentro, escreveu alguma coisa no tal envelope e foi imediatamente atrás de uma outra coisa. Tirou debaixo da sua cama uma caixa. Uma pequena caixa preta, onde ele jogou o envelope com o cartão de memória e depois voltou a fechá-la. Agarrou a caixa com as mãos e correu imediatamente para fora do seu quarto e depois para fora da sua casa. Trancou a porta e correu para o carro. Olhou para o relógio e viu que faltava apenas 15 minutos para o meu voo.

- ! – Alguém disse atrás de mim e eu me virei para olhar. Eu já sabia quem era.
- ! – Eu me abaixei e abri os braços. Ela me abraçou. – Eu não acredito que você está aqui. – Eu disse, terminando o abraço.
- Nós também viemos nos despedir. – A Sra. Jonas disse com um sorriso.
- não me disse que vocês viriam. – Eu me levantei para cumprimentá-la rapidamente. – Onde está ele? – Eu perguntei, achando que fossem elas quem ele havia ido buscar.
- Ele não está aqui? – A mãe dele arqueou a sobrancelha.
- Ele disse que ia pra casa buscar uma coisa. – Eu abri os braços, sem entender.
- Acho que nos desencontramos. – Ela sorriu.
- , você tem mesmo que ir? – perguntou, parecendo triste.
- Eu tenho que ir, linda. – Acariciei o rosto dela. – Lembra aquela conversa que eu e tivemos com você? É por um bom motivo. – Eu a olhei com ternura.
- Mas você vai voltar, né? – perguntou, séria.
- Eu vou voltar sim. – Eu afirmei. – E eu prometo que vou te visitar. – Eu pisquei pra ela e ela riu.
- Eu vou adorar e o também. – respondeu, sorridente.
- , nós não podemos demorar. O voo dela já vai sair e eu tenho que te deixar na casa da sua amiga. – Sra. Jonas pareceu estar triste por estar com tanta pressa. – A mãe dessa amiguinha dela é uma mala. Se eu atraso já viu, né? – Ela revirou os olhos.
- Eu entendo. – Eu quase ri, enquanto me levantava. – Eu estou muito feliz só por terem passado aqui para se despedir. – Eu disse e ela me abraçou.
- Boa sorte nessa nossa fase da sua vida. – A mãe de me abraçou forte. – Eu fico feliz que tenha conseguido uma garota que me dá tanto orgulho como você. – Ela terminou o abraço e segurou minhas mãos.
- Obrigada, muito obrigada mesmo. – Eu sorri, sem jeito. Nem sabia como agradecer. Eu deixei de olhá-la e olhei para . – Então, acho que você tem que me dar um abraço. – Eu me abaixei novamente e abri os braços. ela deu um lindo sorriso e abraçou forte e com tanto carinho que até me deixou comovida.
- Não se esqueça de mim. – Ela pediu e eu terminei o abraço para olhá-la, séria.
- Eu jamais faria isso. – Eu disse, demonstrando pra ela o quanto isso parecia impossível pra mim.
- E não se esqueça do . – pediu com um fraco sorriso.
- Eu não vou me esquecer dele nunca. Vocês são muito importantes pra esquecer. – Eu acariciei o rosto dela. Os meus olhos estavam quase transbordando de tantas lágrimas que havia ali.
- Então está bom. – deu um enorme sorriso. – Eu vou ficar esperando você voltar. – piscou pra mim.
- Faça isso. – O fato dela ter piscado me fez sorrir. – Eu posso te pedir uma coisa? Uma última coisa? – Eu continuei a olhá-la e vi que ela prestava muito atenção. afirmou com a cabeça, séria. Ele lembrava ainda mais o , quando ficava séria.
- O que é? – demonstrava-se curiosa.
- Cuida dele pra mim? – Eu pedi, sentindo que minha voz estava embargada. Não vou chorar, não vou! sorriu sem mostrar os dentes e seu olhar se tornou doce.
- Eu cuido. – Ela voltou a piscar pra mim. – Deixa comigo! – O sorriso dela aumentou, fazendo com que o meu também aumentasse.
- Certo, obrigada. – Eu me aproximei e beijei o seu rosto.
- Até logo. – Ela deu alguns passos pra trás e segurou a mão de sua mãe.
- Até, linda. – Eu acenei com a mão e ela fez o mesmo.
- Volte logo. – A mãe de sussurrou e eu afirmei com a cabeça. Ela também acenou com a mão, antes de virar-se de costas e sair pelas portas do aeroporto.
- O que alguns meses de puxa-saquismo não fazem? – riu da minha cara.
- Já conquistou a sogra. – gargalhou.
- Fiquem quietos. – Eu ri, sem jeito.
- ‘O avião para Nova York decola em 10 minutos. Por favor, dirijam-se até o portão de embarque.’ – O auto falante do aeroporto anunciou.
- Cadê o ? – Eu comecei a ficar preocupada, achando que ele não chegaria a tempo.
- Espera, não se preocupe. – tentou me acalmar, mas no fundo ele também estava bem preocupado com e o seu carro.
- Nós temos uma coisa pra você, . – disse e olhou para os outros amigos.
- Uma coisa? – Eu arqueei a sobrancelha. Do que eles estavam falando?
- Um presente pra você não se esquecer de nós. – sorriu.
- Onde está, ? – perguntou, olhando pro ‘amigo’. Ele colocou a mão no bolso e fez cara de assustado.
- Oh não.. – continuava fazendo careta. Depois de algum tempo, ele forçou um sorriso. – Só pra saber: o que aconteceria se eu tivesse esquecido o.. presente? – forçou um sorriso ainda maior.
- Eu vou te matar. – fuzilou o amigo com os olhos.
- , você esta brincando! – cerrou os olhos.
- .. – suspirou longamente.
- Eu estou brincando. – gargalhou. – Eu só queria ver a reação de vocês. – continuou rindo.
- Palhaço.. – revirou os olhos.
- Dá aqui logo! – estendeu a mão.
- Olha como você fala comigo. – fingiu estar bravo. Só eles pra me fazerem rir.
- Dá logo. – o apressou.
- Está aqui! – colocou uma caixinha na mão de .
- Gente, vocês não precisavam gastar comigo. – Eu neguei com a cabeça.
- Isso não é ouro, querida. – riu, querendo dizer que não havia custado tanto.
- É só uma lembrança. – adicionou.
- Pegue. – estendeu a pequena caixinha em minha direção.
- Só vocês mesmo... – Eu peguei a caixinha e a abri. – Awn, não acredito! – Eu peguei a pulseira nas mãos e dei a caixinha para . – É linda! – Eu estava encantada.
- Olhe só. – pegou a minha mão e a trouxe pra cima. – Tem vários pingentes. Cada pingente é de um de nós. – explicou. – Essa luva de box é o que eu escolhi. – Ele segurou o riso. – Você é a única garota que eu conheço que sabe lutar. – me olhou e riu, quando viu que eu estava rindo.
- Você é demais. – Eu ainda estava rindo. Era tão cômico e ao mesmo tempo tão incrível.
- E esse é o meu. – pegou o pingente que tinha o formato de um livro. – Pra você se lembrar de todas as vezes que ficamos na frente de um livro discutindo teorias e rindo com as fotos daqueles caras antigos que adoravam usar aqueles bigodes enormes. – sorriu e eu voltei a rir.
- Eu nunca esqueceria, . – Eu ainda estava rindo.
- O meu é esse vestido. – segurou o seu pingente. – Pra você se lembrar de todas as vezes que saímos para procurar um vestido para ir a uma festa ou a um baile. – me olhou.
- Foram muitas vezes mesmo. – Eu sorri pra ela, já sentindo falta das nossas saídas para procurar um vestido. – Da próxima vez, vá para Nova York e nós procuraremos um vestido novo nas dezenas de lojas de lá. – Eu pisquei pra ela e ela pareceu empolgada.
- Eu vou, hein! – riu.
- Espera, falta o meu! – se aproximou e pegou o seu pingente.
- É o símbolo do infinito. – Eu disse, antes mesmo que ela explicasse.
- É, como a nossa amizade. Nós passamos por momentos difíceis, mas nós sempre vamos voltar a ter momentos bons porque nossa amizade é infinita, é pra sempre. – deu um fraco sorriso e eu a olhei, comovida.
- Isso é.. lindo. – A minha voz quase não saiu. – Eu amei! Eu amei tudo isso. Vocês são incríveis! – Eu dei um abraço coletivo. – Muito obrigada. É lindo. – Eu adicionei.
- . – Alguém tinha que interromper aquele momento, né? Eu terminei o abraço e me virei. Demorei alguns segundos para entender que realmente era ela ali.
- ? – Eu fiquei sem reação.
- Ainda bem que cheguei a tempo. Eu não podia deixar você ir antes de falar com você. – parecia nervosa.
- Falar comigo? – Eu repeti, incrédula. – Você passa dias me ignorando e agora quer falar comigo? – Eu forcei um riso.
- É, eu sabia que ia dizer isso. – rolou os olhos.
- Então você também deve saber que eu não vou querer te ouvir. – Eu estava furiosa. Ela teve tanto tempo pra fazer aquilo e ela vai querer fazer agora? Quando falta menos de 10 minutos pra eu me mudar pra Nova York?
- É rápido, ! – insistiu.
- São os meus últimos minutos aqui. Eu não quero perdê-los com você e sim com quem merece. – Eu apontei a cabeça para os meus amigos.
- Eu sei que está com raiva de mim e está com toda razão. – se aproximou.
- É! Com toda a certeza eu estou. – Eu tive que concordar com ela.
- Escuta. – se aproximou ainda mais e parou em minha frente. – Eu não vou pedir desculpas, porque sei que você não vai me desculpar, mas eu quero que você saiba que eu sinto muito. – A cada palavra daquela frase, foi ficando mais emotiva.
- Sente muito? – Eu repeti, sem acreditar. – Pelo que exatamente? Por dar as costas pra mim quando eu mais precisei ou por tentar acabar com o meu namoro? – Eu cruzei os braços. Eu estava sendo dura com ela e sabia disso.
- Você não entende.. – suspirou longamente.
- Não, eu não entendo, . Eu nunca vou entender o porquê de você ter achado que eu merecia passar por tudo isso. – Eu estava muito brava. – E quer saber? Eu não faço questão de entender. – Eu finalizei.
- Um dia você vai entender. – afirmou, tentando segurar as lágrimas em seus olhos.
- Espero que não seja você quem me explique, porque eu não acredito em mais nenhuma palavra que sai da sua boca. – Eu estava me vingando por toda a dor que ela havia me feito passar.
- Eu não devia ter vindo.. – suspirou, negando com a cabeça.
- É claro que não devia ter vindo. – Eu afirmei. – O que você achava? Que se chegasse aqui no aeroporto com um discursinho no meu último dia em Atlantic City iria resolver as coisas? Que eu ia me esquecer de tudo o que você fez, tudo o que você disse? Meio clichê, não acha? – A minha raiva não parava de aumentar. – Eu não precisava que você viesse aqui e tornasse o meu dia pior do que ele já está sendo, ok? – Quando eu percebi que as lágrimas estavam voltando para os meus olhos, eu as engoli.
- Você está certa. Eu vou embora. – olhou para os amigos e depois pra mim. – Eu só queria te desejar boa sorte. – forçou um sorriso e saiu. Observei ela sair e a vontade de chorar aumentou ainda mais.
- , eu vou atrás dela. – chegou ao meu lado.
- Vai, pode ir. – Eu sorri pra ele. – Obrigada por vir aqui hoje. – Eu dei um fraco sorriso, enquanto meus olhos se enchiam ainda mais de lágrimas.
- Venha aqui. – se aproximou e me abraçou forte. – Você vai se sair bem. – Ele terminou o abraço e sorriu pra mim. – Eu te ligo depois pra saber se foi tudo bem. – beijou a minha testa, sorriu pela última vez e depois saiu correndo atrás de .
- Era só o que me faltava. – Eu entrelacei os dedos em meu cabelo e me virei para olhar para , , e .
- Deixa pra lá. – se aproximou e me abraçou.
- , você tem que entrar ou vai perder o avião. – disse, olhando no relógio do aeroporto.
- Não, não.. – Eu entrei em desespero. – O não chegou. Eu não vou sem me despedir dele. – Eu me afastei dos braços de .
- Mas você tem que ir! – disse, sério. – Ele vai ficar muito bravo se você perder o seu avião por causa dele. – Ele tentava me convencer.
- Não importa, eu não vou! – Eu senti o meu coração disparar só em pensar na hipótese de não me despedir dele. Eu não podia ir sem vê-lo antes.
- , você sabe que tem que ir. – disse, tentando ajudar . – Chegou a hora. – completou.
- Mas.. – Eu ia argumentar, mas não me deixaram.
- Se despede das garotas e do . – aconselhou.
- .. – viu que eu não tomaria atitude, então decidiu tomar. Ela se aproximou e me abraçou muito forte. – Eu vou sentir muita saudade. Sempre que a saudade apertar, eu vou te ligar, ok? Me atenda, não me faça esperar. – disse, ainda durante o abraço.
- Eu vou! – Como eu posso segurar as minhas lágrimas agora? terminou o abraço e beijou o meu rosto. O rosto dela estava totalmente cheio de lágrimas. Ela se afastou e rapidamente se aproximou e a tomou em seus braços.
- Eu posso ir pra Nova York com você? – disse com a voz embargada e me abraçou. – Eu não quero ficar longe da minha melhor amiga. – Ela estava chorando nos meus braços. Passei as mangas da minha blusa nos meus olhos para evitar que as lágrimas caíssem. Eu não havia chorado até agora. Eu havia conseguido cumprir a minha promessa até agora, não vou dar pra trás agora.
- Eu também não quero. – Eu respondi, a abraçando com toda a força. – Isso não muda nada. Você vai continuar sendo a minha melhor amiga. – Eu disse e ela sorriu.
- Eu vou te ligar pra contar sobre tudo. Me diga que você vai me ligar também. Eu quero saber de tudo. – afastou nossos corpos, esperando que eu dissesse o que ela pediu. Olhei o rosto dela completamente molhado.
- Eu vou ligar! Você vai saber sobre tudo o que acontecer comigo. Você é a melhor amiga, você tem que saber de tudo, certo? – Eu sorri e nós duas nos olhamos com os olhos marejados.
- Certo. – Ela se aproximou e beijou longamente o meu rosto. – Boa sorte, amiga. – Ela disse e depois deu alguns passos pra trás.
- Não dá pra pular essa parte? Não dá pra pularmos pra parte em que você volta pra cá? – parou em minha frente e me olhou. Eu não posso lidar com o chorando!
- Venha aqui. – Eu me aproximei e o abracei. Ele me apertou forte.
- Isso está errado. Melhores amigos devem ficar perto um do outro. Você vai estar longe. Você não pode ir pra longe de mim, . – dizia com aquela voz de choro que quebrava o meu coração.
- Então talvez você deva arrumar uma melhor amiga que esteja mais perto de você. – Eu disse, sabendo que aquilo quebraria um pouco a tristeza do momento. Ele terminou o abraço abruptamente e me olhou, furioso.
- Nunca-mais-repita-isso. – disse, irritado. Havia lágrimas por todo o seu rosto. – E se você pensar em colocar um nova yorkino imbecil no meu lugar, eu vou até lá e quebro a cara dele, entendeu? – continuou me lançando aquele olhar.
- Só existe um cara no mundo que pode ser o meu melhor amigo e essa cara é você. – Eu disse e ele sorriu.
- Eu já sabia disso. – riu rapidamente. – Cuide-se e tente não socar mais alguns caras, ok? Me chame que eu faço isso pra você. – disse, me fazendo rir também.
- Eu farei isso. – Eu gargalhei, apesar da quantidade enorme de lágrimas nos meus olhos.
- Eu te amo, melhor amiga. – se aproximou e beijou longamente o meu rosto.
- Eu também. – Eu o olhei com carinho e ele se afastou. ainda chorava e ele a abraçou.
- Oh Deus, eu não sei fazer isso. – me olhou e negou com a cabeça.
- Isso nos seus olhos são lágrimas? – Eu sorri, apontando para o seu rosto.
- É claro que não. – cerrou os olhos, sorrindo. – Ok, talvez seja. – abaixou a cabeça por um tempo e depois me olhou. – Mas são lágrimas de orgulho. – Ele deu um enorme sorriso, quando percebeu que estava sendo emotivo. – Você é a minha irmã, droga! Eu passei a minha vida toda cuidando de você, vendo você todos os dias, enchendo o seu saco e agora você vai morar em outra cidade. – suspirou longamente. – Eu estou com um puta medo só em pensar que você vai estar sozinha lá, mas eu também sei que você sabe cuidar de si mesma. – Ele me olhou de forma carinhosa. – Olhe só pra você! Você não é mais aquela garotinha ingênua e indefesa. Você cresceu e se tornou essa garota linda, responsável e forte. – Os olhos dele se encheram de lágrimas e eu não aguentei. Uma lágrima escorreu de cada canto dos meus olhos. – Você não precisa mais de mim ou da minha proteção. É meio difícil pra mim aceitar isso, mas eu vou superar. – Ele riu de si mesmo.
- É claro que eu preciso de você. Eu preciso muito de você, porque você é o meu irmão. Ninguém vai cuidar tão bem de mim, ninguém vai fazer com que eu me sinta mais segura do que você. – sorriu, feliz pelo que estava me ouvindo dizer. – E eu fico feliz que esteja dizendo isso. – Eu o olhei e ele me abraçou.
- Por favor, cuide de você mesma e quando achar que não consegue sozinha, me chame e eu vou até lá. A qualquer hora do dia! – disse, me fazendo abraçá-lo ainda mais forte. Voltei a passar as mangas da minha blusa nos olhos para enxugar as lágrimas.
- Eu prometo que farei isso. – Eu terminei o abraço e olhei o seu rosto, que estava coberto de lágrimas. Passei minhas mãos pelo seu rosto e as sequei. – Vamos, pare de chorar. Você tem uma imagem de durão pra manter. – Eu disse e ele riu.
- Você está certa. – Ele passou as mãos pelo seu rosto, acalmando-se. – Agora, vá! Você já está atrasada. – me apressou. Eu deixei de olhá-lo e me virei para a porta do aeroporto. Onde o estava? Eu ainda tinha esperança de vê-lo entrar por aquela porta. Porque ele não estava entrando por aquela porta?
- Ele não vai chegar, . – disse, vendo aquela angustia nos meus olhos.
- Entra logo, . – pediu, vendo que os seguranças da porta do meu embarque, começavam a se preparar para fechá-las.

TROQUE A MÚSICA:





Cada vez que aquela porta do aeroporto se abria, eu achava que podia ser ele. A porta se abriu e se fechou algumas outras vezes e eu finalmente me dei conta de que eu teria que partir sem vê-lo, sem me despedir. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e eu rapidamente a enxuguei com uma das mãos. Me virei e comecei a andar em direção a porta de embarque, que ficava apenas alguns passos a frente. A porta, na verdade, era um desses detectores de metal. Depois que eu passasse por ele, eu entraria no avião.

estava desesperado, pois sabia que faltavam apenas 3 minutos para o meu embarque. Ele precisava correr ainda mais. Entrou no estacionamento do aeroporto e parou na primeira vaga que encontrou. As lágrimas estavam em seus olhos, pois ele estava com medo de chegar lá e não me encontrar mais. Pegou a caixa com uma das mãos e saltou do carro. Travou o carro, enquanto já corria em direção a porta do aeroporto. A caixa estava embaixo de um dos braços e ele ia correndo, trombando nas pessoas e nos carros.

A cada passo que eu dava parecia que uma parte do meu coração estava sendo arrancada. Não só por eu estar indo embora, não só por eu estar vendo os meus amigos e o meu irmão ali, chorando por minha causa, mas porque não estava ali, nem ao menos pra sorrir pra mim e dizer que tudo vai ficar bem. Eu estava ainda pior por saber que ele estava se esforçando para chegar a tempo e quando ele chegasse, eu já teria ido embora. Ele ficaria muito mal com isso, porque ele disse que estaria ali.

O choro estava preso na garganta e as lágrimas presas nos olhos. Tudo em minha volta parecia estar em câmera lenta. Passei a mão pelo meu cabelo, que estava caindo um pouco em meu rosto. Abaixei o rosto e fui andando olhando para o chão. Eu não precisava que todos vissem a tristeza no meu rosto. Passei pelo detector de metais e já havia colocado a pulseira que havia acabado de ganhar no pulso. Levantei o rosto e olhei para a porta que me levaria até o avião. Observei ela por algum tempo e senti minhas sobrancelhas decaírem. Eu estava me segurando para não chorar, para não desabar.

entrou pela porta correndo feito um maluco. Ele foi até o centro do aeroporto e olhou por todos os cantos e não achou ninguém conhecido. Correu para a área dos embarques e no primeiro lugar em que olhou, me viu de costas. Eu estava andando em direção a porta que me levaria até o avião. O coração dele parecia ter parado naquele instante. Ele engoliu imediatamente o choro para tomar mais fôlego.

- ! – Ele começou a correr na minha direção. – ! – Ele gritou ainda mais alto, quando viu que eu não havia escutado. – !! – Ele gritou mais uma vez, enquanto ainda corria como nunca.

Quando ouvi aqueles gritos, eu parei de andar. Eu conhecia aquele grito, aquela voz. Era ele! Eu sorri, mesmo com todas as lágrimas nos meus olhos. Eu me virei lentamente e logo o vi. Ele ainda estava um pouco longe, mas eu tinha certeza que era ele. estava correndo na minha direção e eu não sei o que deu em mim. A única coisa que eu sei é que eu saí correndo, mas antes disso eu tinha que passar pelo detector de metais novamente.

- ME DEIXEM PASSAR! - Eu comecei a empurrar os seguranças que entraram na minha frente. Ninguém me impediria de ir até ele.
- Não dá mais tempo de voltar, moça. – Um dos seguranças disse, sem saber o que fazer.
- Não importa! Eu vou passar. – Eu consegui desviar dele e passei por fora do detector de metais. Comecei a correr em direção a ele. e os meus amigos acompanhavam tudo, sem se manifestar. continuou correndo o mais rápido que conseguia. Quando ele me viu correr em sua direção, ele correu ainda mais. O aeroporto todo havia parado para ver a cena.

Em um certo ponto do caminho, ele parou. colocou a caixa no chão e voltou a me olhar. respirava de forma rápida e ele esperava que eu chegasse até ele. Um fraco sorriso estava no rosto dele e os olhos continuavam cheios de lágrimas. Ele estava tão aliviado por ter chego a tempo. Estava tão aliviado por ver que todo o seu esforço valeu a pena. não se importava se estavam todos olhando. Era só eu e ele naquele momento. Não existia mais ninguém ali.

Entenda, eu não sou uma boa corredora. Não chega nem perto! Mas eu não sei o que aconteceu comigo. Eu estava correndo feito uma maluca e eu finalmente cheguei onde queria. Quando eu cheguei na frente dele, eu nem parei. Eu pulei direto nos braços dele, que pareciam saber exatamente o que eu faria e me agarraram. Cada uma das minhas pernas estava em um lado do seu corpo e ele segurava minhas coxas com as suas mãos. Eu havia segurado o seu rosto com as minhas duas mãos e agora o beijava. O beijo foi rapidamente aprofundado e consequentemente intensificado diante da situação em que nos encontrávamos. O rosto do estava inclinado para cima, já que eu estava um pouco mais alta que ele naquele momento.

O beijo não foi tão longo quanto queríamos. Não havia tempo pra isso. soltou as minhas pernas e me segurou pela cintura até que eu alcançasse o chão. Quando eu toquei meus pés no chão, finalizou o beijo, transformando-o em um selinho. Quando descolamos os nossos lábios, eles se continuaram próximos e os nossos olhos continuaram fechados. Nossos narizes ainda se tocavam, quando resolvemos abrir os olhos.

- Eu achei que teria que ir sem me despedir de você. – Eu disse em um tom tão baixo, que só ele conseguiu ouvir.
- Eu ia atrás de você. Eu não deixaria de me despedir de você. Eu não deixaria você ir sem ouvir um ‘eu te amo’. – negou com a cabeça, me olhando nos olhos. Os olhos dele estavam completamente cheios de lágrimas. Suas bochechas estavam levemente rosadas, talvez por causa de ter corrido tanto. Eu adorava quando as bochechas dele ficavam daquele jeito.
- Todos estão nos olhando. – Eu dei um sorriso tímido.
- Eu não ligo. – Ele negou com a cabeça, sério. – Você é tudo o que importa agora. – olhava os detalhes do meu rosto.
- ‘Última chamada para o voo para Nova York.’ – O auto falante do aeroporto disse.
- Droga, você tem que ir. – olhou para trás e viu que os seguranças olhavam em nossa direção. Estavam me esperando.
- Eu não sei como fazer isso. – Eu neguei com a cabeça, sentindo meus olhos se encherem cada vez mais de lágrimas a cada segundo.
- Escuta. – se aproximou para olhar nos meus olhos de bem perto. – Eu pensei mais de mil vezes em tudo o que eu deveria te dizer agora, mas eu não consigo lembrar de nada. Eu não consigo pensar em nada agora. – Ele negou com a cabeça. Ele estava confuso, nervoso ou os dois.
- Não precisa falar nada, só me abraça. – Eu passei meus braços em torno do pescoço dele e ele passou os dele em torno da minha cintura. fechou os olhos enquanto me abraçava forte.
- Eu te amo, . – disse com a voz embargada. Quando eu ouvi ele dizer aquilo com aquela voz, eu não aguentei.
- Eu também te amo. – Eu terminei o abraço e olhei pro rosto dele. Ele sorriu sem mostrar os dentes.
- Você vai ficar bem? Diga que vai ficar bem. – Ele implorou, me olhando com aqueles olhos tristes.
- Eu tenho que ficar, né? – Eu forcei um sorriso depois da minha frase.
- Não fala assim. – acariciou o meu rosto com uma de suas mãos. Chega, eu não aguento mais. Eu deixei de olhá-lo por poucos segundos, encarei o chão. Me desculpa, mas eu não consigo segurar as minhas lágrimas agora. Voltei a olhá-lo e o observei por pouco tempo.
- Você não vai se esquecer de mim, não é? – Eu perguntei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. acompanhou o trajeto de uma das lágrimas e me puniu com o olhar.
- Droga, . Você prometeu que não choraria. – disse, sabendo que me ver chorar faria com que ele não conseguisse mais segurar as suas lágrimas. Ele abaixou a cabeça, enquanto negava com ela. Ele não conseguia se conformar que estava passando por outra despedida. As lágrimas já estavam escorrendo pelos seus olhos.
- Eu só preciso ouvir você dizer que não vai desistir, que não vai se esquecer de mim. – Eu pedi, olhando ele de cabeça baixa. – Por favor, diga. – Eu estava entrando em desespero por ele não estar dizendo o que eu pedi.
- Eu não vou. – levantou o rosto, mostrando o seu rosto coberto de lágrimas. – Eu vou ficar aqui, esperando você voltar. Esperando você voltar pra mim, como eu sempre fiz. – continuava com aquela voz de choro. – Você e eu. Sempre. – relembrou a frase que viemos dizendo nos últimos dias. – Eu não me esqueci. – Ele sorriu, mesmo com os olhos inchados e os cílios enxercados. – Quando eu digo sempre, é pra sempre. – Ele finalizou, olhando em meus olhos.
- Agora sim, eu posso ir. – Eu sorria pra ele, porque estava muito feliz com o que havia acabado de ouvir.
- Espera. Isso é pra você. – abaixou-se, pegou a caixa e depois me entregou.
- Mas o que é isso? – Eu fui abrir a caixa, mas ele me impediu.
- No avião. – disse. – Abre no avião. – Ele completou.
- Certo. – Eu segurei a caixa e depois voltei a olhá-lo. – Então é isso? – Eu perguntei, pois sabia que agora eu teria que ir. Eu ainda tinha esperança que ele me pedisse pra ficar. Eu ficaria, sem pensar.
- Vai. Você tem que ir. – apontou para o portão de embarque.
- Você está certo. – Eu já havia extrapolado todos os limites. Eu tinha que ir mesmo agora. – Então.. – Eu passei as mangas da minha blusa nos meus olhos para secar todas as lágrimas. – Tchau. – Eu disse, sem saber como me expressar direito.
- Nos vemos em algumas semanas. – acrescentou, querendo me mostrar que não podia ser tão ruim. Nos veríamos dali alguns dias.
- Certo. Algumas semanas... – Eu repeti, apenas adiando a minha ida. Ele ficou me olhando, como quem dissesse ‘Não vá.’. Eu sorri pra ele pela última vez e virei de costas. Levei uma das mãos até a minha cabeça e entrelacei meus dedos em meu cabelo. Dei um longo suspiro, pronta para ir em direção o embarque.
- Posso te dar um último beijo? – disse, enquanto eu ainda estava de costas. Eu dei um fraco sorriso e quando achei que deveria virar, ele apareceu em minha frente. – Só um beijo e eu deixo você ir. – Os olhos tristes dele me torturavam.
- Sempre há tempo pra um último beijo. – Eu permiti, deixando a resposta óbvia. continuava carregando aquela tristeza, enquanto se aproximava. Tocou meu rosto com suas duas mãos e deslizou até as laterais do meu pescoço. Os meus olhos já estavam fechados e eu esperava que ele me beijasse. Ele me observou por alguns poucos segundos e então eu senti os lábios dele tocaram levemente nos meus.

O beijo foi aprofundado e eu juro que foi o mais triste de toda a minha vida. Havia alguma coisa diferente nele. Talvez os sentimentos estivessem a flor da pele ou talvez fosse coisa da minha cabeça. Passava tanta coisa pela nossa cabeça naquele instante, que era impossível descrever o que sentíamos. Havia tanto carinho, tanto amor, tanta emoção nele que todas as pessoas que nos olhavam conseguiam perceber. Eu senti uma enorme angústia, quando percebi que ele estava terminando o beijo. Puxando o meu lábio inferior como ele costumava fazer.. Eu nem consegui sorri dessa vez. Abri os meus olhos e eles foram direto para os lábios dele. Um outra lágrima escorreu dos meus olhos, enquanto eu voltei a olhá-lo nos olhos.

- Volta logo, ok? – pediu, passando uma das mãos pelo meu rosto e enxugando aquela lágrima. Selou meus lábios mais uma última vez e afastou-se, deixando de me tocar. Eu afirmei com a cabeça, dando alguns passos para trás. Quando já estava a uma certa distância, acenei lentamente com a mão. Havia um fraco sorriso no meu rosto e as lágrimas nos meus olhos eram bem visíveis.

continuava vendo eu me afastar. Aquilo estava matando ele de formas que ele não podia explicar. Ele tinha vontade de correr até mim e me segurar para que eu não fosse. Ele queria tanto, mas ele não podia. Ele tinha que me deixar ir.

Distância? Não é sobre isso que se trata afinal? Não. O amor, quando é verdadeiro, resiste a qualquer coisa. Distância não é nada, quando alguém é tudo. sofria sim com a distância, mas talvez não fosse a distância entre as cidades que agora nos afastava e sim a distância de si mesmo. Não existe distância para o amor, mas existe a distância de si mesmo. Você pode estar longe de uma pessoa, mas o real motivo do seu sofrimento é que longe dela, você se afasta de si mesmo. Porque com essa pessoa, você é completo. Longe dela, você é só... você. Você se perde, perde a si mesmo, se distância do que você costumava ser quando estava com ela e certas vezes, você acaba se acostumando com isso. Esse é o grande problema. É pra isso que serve a saudade. Pra você sentir falta de quem você realmente é, pra você se lembrar de quem você é e ir atrás do seu verdadeiro eu.

A caixa estava em minhas mãos e eu andava de cabeça baixa. Passei pelo detector de metal novamente. Os seguranças me olhavam com uma cara feia, mas eu nem me importei. Olhei novamente a porta que me levaria até o avião e continuei indo em direção a ela. Parei na frente dela e olhei para trás. estava longe, mas eu ainda sim conseguia vê-lo. Ele também me olhava. Eu respirei fundo, me virei e passei pela porta.

Entrei no avião e notei que a minha poltrona ficava mais no fundo do avião. A caixa ainda estava em minhas mãos. Comecei a caminhar até a minha poltrona. Minhas mãos tremiam e eu juro que não era por medo de estar naquele avião. Pela primeira vez na minha vida, eu não estava dando a mínima para isso. Achei a minha poltrona e me sentei. Respirei longamente, olhando para qualquer coisa que eu não estava prestando a atenção. Abaixei a cabeça e olhei aquela caixa. Porque eu sentia que não devia abri-la?

Depois de me ver entrar naquele avião, as lágrimas escorreram pelos seus olhos. Ele ficou algum tempo parado, olhando para aquela mesma porta que eu havia entrado. Parecia haver um buraco em seu peito e ele sentia uma coisa ruim. Talvez fosse um pressentimento ruim ou só uma bobagem. Levou uma das mãos ao seu cabelo e o bagunçou, demonstrando que não sabia o que fazer. Andou até um das cadeiras que havia no aeroporto para que os passageiros sentassem. se sentou e seus cotovelos apoiaram em suas coxas e os dedos continuavam entrelaçados em seus fios de cabelo, enquanto ele encarava o chão.

- Coitado do . – disse, olhando o amigo de longe. Ela ainda estava nos braços de .
- Ele nem faço ideia do que ele deve estar sentido agora. – disse com tristeza. – Eu nem sei o que eu faria se você fosse pra longe de mim, . – Ele abraçou ainda mais forte a namorada.
- Eu jamais iria pra longe de você, amor. – levantou um pouco o seu rosto e selou os lábios do meu irmão e depois voltou a abraçá-lo.
- Nós devemos ir até lá, né? – deu a ideia. Ele queria ajudar de algum jeito.
- Vamos lá. – concordou, afastou seu corpo do de e segurou sua mão. e também se afastaram e começaram a andar em direção ao .

Ninguém sabia o que dizer ao . Nada parecia ser bom o suficiente e nem chegava perto de se tornar uma boa consolação. Eles chegaram até o em silêncio e o observaram por algum tempo, esperando que talvez ele iniciasse aquela conversa. É claro que percebeu a presença dos amigos, mas não quis levantar o seu rosto para não mostrar todas as suas lágrimas e tristeza.

- ? – chamou pelo amigo, que nem ao menos se moveu.
- Ei, cara. – pensou em como continuar. – Eu sei que não está sendo fácil, mas você tem que superar isso. – Ele finalizou.

ouvia tudo o que os amigos diziam. Ele sabia que estava certo, mas não era tão fácil como parecia. Não era só levantar a cabeça e seguir em frente. Era um processo um pouco mais lento e doloroso que aquilo, mas ele não esperava que ninguém entendesse. O seu choro cessou, mas o seu rosto continuava molhado. se levantou e olhou para os amigos.

- Você está certo. – Ele afirmou com a cabeça, passando os dedos de uma de suas mãos pelos seus olhos. – Eu vou fazer isso. – voltou a olhá-los com o rosto já seco.
- Eu posso fazer alguma coisa pra ajudar? – perguntou, sério.
- Me deixa em casa. – pediu com a expressão também séria. – Eu quero ir pra casa e eu estou sem carro. – negou com a cabeça, se arrependendo de não estar ali com o seu carro.
- Eu levo você. – sorriu sem mostrar os dentes. – Aliás, levo todos vocês. – Ele acrescentou.
- Vamos. – sorriu pra .

A caixa continuava sendo um mistério. Eu ainda não fazia ideia do que tinha ali dentro. Eu estava com muito medo de ser uma notícia ruim, já que não queria que eu soubesse do que se tratava perto dele. Eu estava prestes a abri-la agora. Eu fazia tudo muito lentamente. Parecia até que eu estava com medo de encontrar uma bomba ali. Terminei de puxar a tampa e a coloquei embaixo da caixa. A primeira coisa que eu vi foi um envelope branco, mas não foi ele que me chamou mais atenção.

- Eu não acredito. – Eu disse, quase sem emitir som.

A caixa estava completamente cheia de coisas sobre nós. Coisas que certamente veio guardando durante todos esses anos. Havia algumas fotos nossas que eu nem me lembrava de ter tirado. Fotos da época que nos odiávamos. Havia também algumas fotos minhas, que ele deve ter tirado de alguma rede social, não sei.

Havia tantas coisas ali, que eu não sabia o que ver primeiro. É claro que eu já havia voltado a chorar, principalmente quando vi aquele pequeno pedaço de árvore. Era o pequeno galho que ele havia usado para me convidar pro baile no dia anterior. O recibo da sorveteria que fomos juntos, as entradas do teleférico e o trabalho de Sociologia que ele havia feito em grupo com os garotos na minha casa. Também havia algumas letras de músicas, inclusive a letra de ‘Never Gonna Be Alone’, a minha música favorita.

Lembra daquele trabalho de Sociologia que fizemos em dupla? Lembra de quando eu disse que achava que ele me espionava? Eu estava certa! Ele realmente fazia isso. Havia um pequeno dossiê sobre mim em minhas mãos. Havia até uma lista com as minhas coisas favoritas e as coisas que eu odiava. É como se ele tivesse me observado todo aquele tempo e soubesse tudo sobre mim. Uma de suas anotações me chamou a atenção. Ela dizia:

‘Ela fica extremamente brava e linda, quando eu a chamo de . Fazer isso sempre!’

Encontrei diversas cartas. Cartas que ele certamente havia feito para mim há uns 4 anos atrás ou até mais tempo e nunca tinha tido coragem de me entregar. Havia no mínimo 5 cartas. Todas diferentes uma da outra. Eu estava absurdamente boba com tudo aquilo. O sorriso estava no meu rosto, mas as lágrimas escorriam por ele.

Quando me dei conta, o avião já havia decolado. Eu não sei se foi proposital, mas todas aquelas coisas haviam me distraído e eu não tive que passar por aquele medo da decolagem. Era uma boa coisa, mas eu nem me importei na hora. Eu estava mais interessada naquele envelope agora. A única coisa daquela caixa que eu ainda não tinha visto. Virei o envelope e vi algo escrito com a letra do :

‘Antes tarde do que nunca, certo? ‘

Eu fiquei algum tempo pensando no que poderia ser aquilo. O que ele quis dizer com aquilo? Abri o envelope e encontei um cartão de memória. Um cartão de memória? Isso é algum tipo de brincadeira? O que o quer que eu faça com isso? Antes tarde do que nunca? Realmente, ! Ganhar um cartão de memória sempre foi o meu sonho de consumo!

- Isso quer dizer alguma coisa? – Eu falei sozinha. – Espera. – Eu tive uma ideia! Peguei o celular e torci para que o tamanho do cartão de memória fosse compatível com o do celular. – Entrou.. – Eu sussurrei e sorri, satisfeita.

Eu continuava pensando no que poderia ser. No que poderia ser tão importante a ponto dele arriscar não se despedir de mim no aeroporto. Nada parecia fazer sentido. Peguei a minha bolsa e tirei de lá os meus fones de ouvido. Conectei no celular e comecei a procurar o conteúdo do cartão de memória. Procurei nas fotos, procurei nas músicas e não encontrei. Os vídeos foram o último lugar que eu consultei e foi lá em que eu achei o que procurava.

- Ah não, .. – Eu neguei com a cabeça, sem coragem para ver aquele vídeo. Eu sabia que aquele vídeo acabaria comigo. Eu tinha certeza! Justo agora que eu havia parado de chorar. Eu desliguei a tela do celular e desisti de ver aquilo. Olhei para frente e vi todos sentados e em silêncio. – Certo, eu tenho que ver. – Eu voltei a abaixar a cabeça para olhar a tela do celular. Eu vou ter que ver de qualquer jeito, certo?

Ao apertar o play e foi a primeira coisa que eu vi. Ele estava com uma regata preta e parecia estar em seu quarto, precisamente em sua cama. Eu consegui perceber, já que eu já estive lá antes. Foi só voltar a vê-lo, mesmo que fosse por vídeo, que eu já senti o corpo estremecer, que já me fazia morrer de saudades dele, que já fazia meus olhos se encherem de lágrimas novamente. Eu vou escutar o que ele tem pra dizer.


‘Hey, linda.’ sorriu, olhando pra câmera e acenou rapidamente com uma das mãos.

‘Então, essa deve ser a décima vez que eu tento gravar esse vídeo. Os outros ficaram uma... – Ele negou com a cabeça, como se o que ele fosse dizer não fosse importante.

‘Não importa...’ – Ele mordeu o lábio inferior, rindo rapidamente.

‘Você deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui e quer saber? Eu acho que também não sei. ‘ ficou mais sério e confuso.

‘Se você está vendo esse vídeo agora, você já deve ter saído da cidade. Você deve estar a caminho de Nova York.’ – Ele pensou e respirou fundo antes de continuar.

‘Escuta, eu não faço ideia do que você está sentindo agora, mas eu sei que está mal. Eu ainda devo estar naquele aeroporto, esperando que você volte a qualquer minuto, mas eu também estou torcendo pra você. Estou torcendo pra que você tenha sucesso em tudo o que está acontecendo na sua vida agora.’ deu um fraco sorriso e depois de algum tempo, ele continuou.

‘Eu sei que nós não conversamos muito sobre esse assunto. Não é o meu assunto favorito. Ele me deixa um pouco assustado. Talvez seja porque toda vez que tocávamos nele, eu não podia dizer o que eu realmente queria dizer. Você sabe... eu tenho que cuidar de você. Todas as vezes em que eu dizia que queria que você fosse pra Nova York, que eu dizia que você tinha que ir realizar o seu sonho, eu estava cuidando de você.’ – Os primeiros vestígios de lágrimas começavam a aparecer nos olhos dele.

‘E agora que eu cumpri o meu trabalho. Agora que você já está indo em direção ao seu futuro, eu acho que você precisa saber de uma coisa. Uma coisa que eu queria que você soubesse no minuto em que toda essa história de Nova York veio a tona.’ – Ele desviou os olhos da câmera por alguns segundos, procurando um jeito de dizer. Ele voltou a olhar depois de algum tempo.

‘Não existe pior coisa no mundo do que partir, sem saber que alguém quer que você fique. Eu não podia deixar você ir sem saber que essa pessoa sou eu.’ – A quantidade de lágrimas nos olhos dele aumentaram.

‘É, eu queria que você ficasse. Eu sempre quis que você ficasse.’ abaixou a cabeça e logo depois voltou a levantá-la. Olhou novamente para a câmera e sorriu sem mostrar os dentes.

, eu quis tanto te pedir pra ficar comigo, mas eu não podia. Eu não podia por que eu sabia que se eu pedisse, você ficava.’ – Ele negou levemente com a cabeça.

‘E se você ficasse, eu jamais iria me perdoar. Eu não ia conseguir olhar pra você todos os dias, sabendo que você havia perdido a chance da sua vida por causa de mim.’ – Eu percebi a intensa respiração que ele deu, tentando segurar as lágrimas.

‘Bem, não importa agora. Eu só queria que soubesse disso.’ parecia aliviado ao dizer aquilo, mas ele quis mudar logo o assunto, pois não queria tornar aquilo mais triste do que deveria.

‘Eu também quero que você saiba que você não vai se livrar de mim assim tão fácil. Eu falei sério, quando eu disse que vou te esperar e eu espero que você possa me esperar também. Os sonhos não podem tomar o lugar do amor. Os sonhos não podem tomar o lugar de amar você. Nós podemos fazer os dois.’ – Ele voltou a dar um fraco sorriso.

‘Eu acho que é isso. Eu acho que já disse tudo o que tinha pra dizer.’ – O sorriso dele ficou maior.

‘Se divirta, mas não esquece de mim. ‘ – Ele pediu de um jeito doce.

‘Eu te amo, .’ disse, parecendo sem jeito. O sorriso sem graça e ao mesmo tempo sincero me fez sorrir ao final daquele vídeo, apesar de todas as lágrimas no meu rosto.


Eu fiquei algum tempo olhando para a tela do celular, mesmo depois dela ter ficado escura com o término do vídeo. Saber que queria que eu ficasse era bom e ao mesmo tempo ruim. Quer dizer, ele queria que eu ficasse! Ele queria me ter por perto! Eu não posso negar. Não dá pra negar que ver aquilo me deu ainda mais vontade de pegar o primeiro voo de volta pra Atlantic City.

deu carona para todos os amigos. Durante todo o caminho, ninguém teve coragem de abrir a boca. O silêncio deixava o clima ainda mais pesado. Ele deixou na casa de . Elas haviam planejado passar a tarde juntas, já que as aulas começariam e elas já não teriam tanto tempo pra fazer isso.

- , passa pra frente. – pediu e atendeu o seu pedido em silêncio. ficou sozinho no banco detrás.

O silêncio permaneceu. olhou para através do retrovisor. fez uma cara de chateação e depois olhou pro e negou com a cabeça. estava distraído com algo fora do carro. Depois de estacionar o carro em frente a casa do , ele desceu do carro e despediu-se sem se prolongar demais.

Agora restavam apenas e no carro. queria falar alguma coisa, qualquer coisa. Ele sabia que precisava desabafar com alguém, mas ele não sabia se ele era a pessoa certa para aquilo. sabe que não é bom com as palavras. Olhou pro , que olhava para o lado de fora do carro através do vidro do carro.

- Como está indo ai, cara? – perguntou, dividindo olhares entre o trânsito e .

não queria falar com ninguém. Ele não queria falar sobre aquilo, mas ele sabia que só estava tentando ajudar. Só estava tentando ser o amigo que ele sempre foi. permaneceu em silêncio por algum tempo, não sabia o que responder.

- Eu vou ficar bem. – Foi a única coisa que disse e nem ao menos o olhou para responder.
- Você precisa se abrir, . – negou com a cabeça. – Eu estou aqui, se você quiser. – Ele demonstrou apoio.
- Me abrir pra quê? – continuava falando, sem olhar para o amigo.
- Para as pessoas poderem te ajudar. – disse, como se fosse óbvio.
- Me ajudar? – o olhou dessa vez. – A garota que eu amo acaba de se mudar pra Nova York. Ninguém pode me ajudar. – sorriu, sarcástico.
- Então é isso? Você vai começar a dar uma de ignorante, fingindo que não se importa? É isso? – começava a ficar irritado com a ignorância de . Ele não tinha culpa do que estava acontecendo.
- Você está certo. – disse, sério. – Pare o carro. Assim nós podemos conversar, eu vou chorar, colocar a cabeça no seu ombro e depois nos abraçamos. – disse em uma séria ironia. ficou ainda mais puto da vida.
- Eu vou ignorar, porque eu sei que hoje o dia está sendo uma droga. – disse com uma expressão furiosa. – Se dissesse isso amanhã, eu quebraria a sua cara. – Ele trocou de marcha de forma brusca.

nem ao menos respondeu. Achou melhor ignorar, pois não queria arrumar confusão com o amigo. era o meu irmão e também estava triste com tudo aquilo que estava acontecendo. Além disso, ele não precisava de mais uma coisa pra estragar o seu dia. O silêncio permaneceu até o resto do caminho. parou o carro na frente da casa de e esperou que ele descesse do carro.

- Valeu, cara. – agradeceu, abrindo a porta do carro.
- Tudo bem. – continuava sério e parecia continuar irritado.
- Não, eu quero dizer por tudo. – disse, olhando para o amigo pela janela do carro. – Valeu por tudo. – Olhou o amigo por um tempo e afastou-se do carro.

entrou em sua casa, que parecia vazia. Jogou o casaco sobre o sofá e foi para o seu quarto. Além de estar mal e chateado, o sono também o consumia. Entrou em seu quarto e tirou a camisa e o tênis. Jogou-se na cama e virou-se para o lado, olhando o porta-retratos. Observou a nossa foto por um tempo, pensativo e depois voltou a colocá-la sobre o criado-mudo. Os olhos pesavam e ele acabou dormindo.

Senti o avião pousar no aeroporto. Eu estava em Nova York. Os passageiros começaram a se levantar e eu fiz o mesmo. Andei até a porta de saída. Eu havia conseguido colocar a caixa de dentro da minha bolsa. Então é isso? Meu sonho estava se realizando. Onde estava a minha felicidade? Comecei a andar pelo aeroporto em busca do desembarque. Eu precisava pegar as malas.

É claro que eu me lembrei da última vez que eu estive naquele aeroporto. Eu me lembro de também estar triste. havia me decepcionado e eu estava voltando pra casa mais cedo, deixando ele, meu irmão e meus amigos para trás. Consegui pegar a minha mala e comecei a andar com elas em direção a saída. Eu parecia uma maluca segurando todas aquelas malas, mas não havia mais ninguém para me ajudar.

Depois de algum tempo, consegui achar um taxi. Era um senhor muito simpático que me ajudou a colocar as malas no porta-malas. É claro que eu não sabia o endereço da casa, por isso tive que pegar um papel em minha bolsa, onde o meu pai havia anotado o endereço da minha nova casa.

- Muito obrigada! – Eu agradeci o motorista do taxi, depois de pagá-lo.

A casa parecia ainda maior do que da última vez. Estava toda fechada, mas havia algumas seguranças na porta. Eu sentia uma sensação estranha ao olhar para aquela casa. Não que fosse ruim, mas pensar que tia Janice morava ali me deixava ainda mais triste. Os seguranças me olharam, sem saber se eu era a pessoa certa. Eu fui me aproximando com as malas na mão e um deles veio até mim.

- Srta. ? – Ele perguntou, sério. Ele era enorme!
- Eu sou, mas vai ter que esquecer isso de Srta. – Eu disse e sorri pra ele. Ele deu um fraco sorriso. Não podia perder a postura de segurança.
- Tudo bem. – Ele afirmou com a cabeça.
- E qual o seu nome? – Eu perguntei, procurando qualquer tipo crachá.
- Rob. – Ele afirmou. – Big Rob. – Completou.
- Big Rob? É, eu já faço ideia do por que. – Eu ri por poucos segundos.
- Me deixe ajudá-la com as malas. – Big Rob se aproximou e tirou as malas das minhas mãos.
- Obrigada. – Eu sorri, satisfeita.

A porta da casa foi aberta e eu estranhei aquele silêncio ao entrar na casa. Não que eu esperava que tivesse alguém ali, mas era estranho vê-la tão silenciosa. Big Rob colocou as malas dentro da casa e saiu educadamente. Ele não era algum tipo de segurança 24 horas, ele apenas fazia a segurança da casa e consequentemente de mim, mas ele não era algum tipo de empregado.

- É, estou em casa. – Eu suspirei longamente, olhando em volta.

Não foi fácil subir aquelas malas por aquela enorme escada. Sim, eu demorei algumas horas para arrumar as minhas roupas no guarda-roupa, que, aliás, era novo. Tudo naquele quarto era novo. Meus pais haviam comprado e mandado organizar. O quarto de tia Janice continuava intacto. Eu jamais mexeria nele. Meu quarto agora era o mesmo quarto em que eu havia dormido na última vez que estive ali, mas as outras camas foram trocadas por uma única cama, uma cama enorme por sinal.

Alguma dúvida de que minha mãe havia ligado? Eu tive que dizer umas 5 vezes pra ela que eu estava bem e que tudo havia dado certo. Eu havia colocado uma alta música para ouvir, enquanto arrumava as minhas coisas. Depois de terminar de arrumar as minhas coisas, dei uma volta pela casa. Passei pelo quarto da tia Janice e sorri ao ver que tudo estava do mesmo jeito que da última vez que eu havia visto. Me aproximei de uma de suas prateleiras e peguei o seu perfume. Tia Janice adorava aquele perfume. Eu me lembro até hoje de senti-lo toda vez que eu a via. Não havia tristeza. Eu só me lembrava de tia Janice sorrindo e brincando. Se lembrar dela nunca vai ser algo triste pra mim e sim, uma boa lembrança.

O quarto que os garotos ficaram da última vez também estava do mesmo jeito. As camas ainda estavam ali, a cama que havia dormido também estava. Ali sim havia tristeza. Tristeza por que eu queria tê-lo ali agora. Todos os cantos daquela casa me traziam recordações dele. Parecia havíamos brigado e nos agarrado em todos os lugares.

Desci as escadas novamente e passei pela sala. Lembrei de ver todos os meus amigos sentados naquele enorme sofá. Lembrei de todas as pizzas que comemos naquela mesa de jantar e de quantas comidas ruins preparamos naquela cozinha. Fui para o lado de fora da casa e encontrei a piscina. Eu e havíamos tido boas brigas ali. Meus amigos e eu até brincamos de briga de galo, lembra? Tudo parecia me deixar ainda mais nostálgica, mas nada se comparava ao que eu senti ao olhar o topo daquele gramado. Foi bem ali que eu e vimos o nascer do sol, enquanto tomávamos aquele chocolate quente que ele mesmo havia feito. O toque do meu celular atrapalhou meus pensamentos.

- Onde eu deixei? – Eu perguntei a mim mesma, depois de colocar as mãos no bolso. Acabei me lembrando de que havia deixado o celular na sala. Corri até lá e consegui atendê-lo a tempo. – Alô? – Eu perguntei, sem saber quem era. Não havia dado tempo de ver quem era no visor.
- Hey, . – sorriu instantaneamente ao ouvir a minha voz.
- É tão bom ouvir a sua voz. – Eu sorri feito boba, me jogando no sofá.
- Você não faz ideia do quanto é bom ouvir a sua voz também. – encarou o teto de seu quarto. – Você está bem? Foi tudo bem? – Ele estava preocupado.
- Foi tudo bem. – Eu afirmei. – Eu fiquei tão distraída com a sua caixa, que nem fiquei com medo do avião. – Eu disse e ele forçou uma risada.
- Sério? – Ele pareceu um pouco mais sem jeito ao me ouvir falar da caixa.
- Sério. Eu fiquei totalmente sem reação. Eu adorei.. – Eu fiquei um pouco mais séria. – Eu não acredito que guardou tudo durante todos esses anos. – Eu queria que ele falasse mais sobre aquilo.
- Eu sei o quanto está insegura com relação a nós e... – Ele ainda parecia sem jeito. – Eu não sei. Eu só achei que se visse aquelas coisas, você saberia que todo o tempo que eu já esperei, valeu a pena e que eu sei que agora não vai ser diferente. – explicou, sabendo que o próximo assunto seria o seu vídeo.
- Você... – Eu nem sabia o que dizer. – Você não existe, . – Eu completei. – Todas aquelas coisas acabaram comigo, mas aquele vídeo... – Eu neguei com a cabeça. – Aquele vídeo me destruiu, . – Eu finalizei, lembrando daquele vídeo com tristeza.
- O vídeo.. – hesitou por algum tempo. – Você tinha que saber daquilo, mas eu nunca tive coragem de te dizer pessoalmente. Então agora você sabe. – suspirou, sem saber exatamente qual seria a minha reação.
- Você estava certo. – Eu fiquei mais séria. – Se você tivesse dito, eu não teria vindo. – Eu disse e o coração de pesou ainda mais. Pesou ao me ouvir dizer que ficaria se ele tivesse me pedido. Ele já sabia, mas parecia bem mais torturante ter ouvido isso de mim.
- Não importa. – não queria mais se torturar por isso. – Você está ai agora e isso é tudo o que importa. – Ele completou, querendo mudar o foco do assunto.
- Sim, você está certo. – Eu também não queria mais drama.
- Então, como está indo? – perguntou, curioso para saber sobre as minhas primeiras horas em Nova York.
- Bem, eu já arrumei as minhas roupas, fiz um tour pela casa e conheci o segurança, Big Rob. – Eu disse, quase rindo ao citar o segurança.
- O segurança? – ficou imediatamente sério. – Como ele é? Se ele for bonito você volta pra casa hoje mesmo. – disse, dando o seu primeiro ataque de ciúmes a distância.
- Digamos que ele não tem o ‘Big’ no nome por acaso. – Eu disse, rindo.
- Sério? – começou a rir.
- E ele é bem mais velho e é tão sério, que deve ser impossível tirar um sorriso dele. – Eu expliquei e parecia estar achando engraçado.
- Certo, você me convenceu. – revirou os olhos e ainda sorria. – E amanhã? Está ansiosa? – Ele perguntou.
- Nessa primeira semana as aulas vão ser noturnas. Eles disseram que todos os calouros vão durante a noite pra evitar os trotes e pra conhecer a escola. – Eu expliquei, demonstrando o quanto achava aquilo estranho. Eu não estava adaptada aos costumes da capital.
- Justo essa semana que você vai estar sem carro? – voltou a ficar preocupado.
- É, eu sei. Minha mãe não dormirá a noite pensando nisso, mas eu me viro. Eu posso ir de taxi ou ônibus. – Eu disse, demonstrando que não estava preocupada com isso.
- É, mas é perigoso ficar andando de noite por Nova York. – Ele voltou a dizer daquele jeito sério.
- Eu sei que é, mas não é como se eu fosse parar no caminho pra conhecer as gangues de Nova York! Eu vou vir direto pra casa e, além disso, vai ter muitas pessoas saindo da universidade nesse mesmo horário. – Eu continuava tentando convencê-lo de que não havia motivos para se preocupar.
- Certo, certo! Eu sei que sabe cuidar de si mesma, mas tome cuidado. – pediu.
- Eu vou tomar cuidado. Não se preocupa. – Eu sorri, pois eu adorava vê-lo cuidando de mim.
- E quando o seu carro chega? – Ele perguntou, sabendo que quando eu estivesse com o carro eu estaria mais segura.
- Eu não sei. Meu pai disse que tem que resolver uns problemas de documentação, mas ele deve estar aqui no final de semana. – Eu expliquei. – Mas e você? Está ansioso pra amanhã? – Eu perguntei. Amanhã também seria o seu primeiro dia na faculdade e no novo emprego.
- Ansioso não é a palavra certa. – fez careta, enquanto ria em silêncio. – Eu estou curioso pra saber como é a faculdade, como é o trabalho, mas ansioso? Não. Eu não estou ansioso para ficar sem tempo e sem vida social. – Ele disse, me fazendo rir.
- É, eu entendo o que está dizendo. – Minha vida também não seria fácil nos próximos anos.
- Então, o que você vai fazer agora? – perguntou, curioso.
- Eu vou comer alguma coisa e dormir. – Eu disse, pensando no que poderia comer.
- Eu também vou fazer isso. Amanhã será um longo dia. – fez careta, já sentindo falta da vida boa que tinha.
- Então você me liga amanhã? – Eu perguntei com um fraco sorriso.
- É claro que eu ligo. – também sorriu fraco. – Ah! E eu já estava me esquecendo. – Ele disse, segurando a risada.
- O que? – Eu quis saber.
- Nada de saias e shorts curtos, vestidos ou decotes. – disse, tentando demonstrando autoridade na voz.
- Quer que eu esconda o rosto com um lenço também? – Eu entrei na brincadeira.
- Se for possível, seria ótimo! – não aguentou e riu.
- Eu já estava sentindo falta das suas brincadeirinhas idiotas. – Eu também ri.
- Brincadeirinha? Eu não estou brincando, . – Ele voltou a fazer voz grossa.
- ! – Eu revirei os olhos, ainda rindo.
- Ok, ok! Mas eu falei sério sobre os decotes e sobre as coisas curtas. – realmente falava sério sobre isso.
- Certo, eu entendi! – Eu suspirei longamente, mas adorei perceber o seu ciúmes. – E você, vê se para de dar uma de galã. – Era a minha vez de fazer as exigências.
- Eu não posso mudar quem eu sou, . – brincou só para me irritar.
- É, mas você pode parar de ficar dando esse sorriso pra todo mundo e de andar tão bem arrumado. – Todas as garotas da nossa escola elogiavam o estilo dele e o sorriso.
- É, eu vou reservar duas horas do meu dia pra fazer um curso de ‘Como ser menos irresistível’. – adorava me irritar só pra me ver com ciúmes.
- Eu estou falando sério, ! – Eu disse, irritada.
- É, eu sei. Desculpa, mas eu adoro ver você com ciúmes. – gargalhou.
- Eu não estou com ciúmes. – Eu me defendi, segurando o riso.
- Você nunca vai assumir, não é? Tudo bem, eu entendi! Eu vou tentar ser o menos encantador possível! Eu juro. – Ele disse o que eu queria ouvir.
- Obrigada. – Eu voltei a sorrir.
- Então, nos falamos amanhã? – Ele perguntou, ouvindo sua mãe chamá-lo pra jantar.
- Sim. – Eu afirmei, sabendo que desligaríamos a qualquer momento.
- Tudo bem, então boa noite e durma bem. – disse, olhando para a nossa foto, que estava em cima do criado-mudo.
- Boa noite e durma bem também. – Eu dei um sorriso fraco, que demonstrava a minha tristeza por não poder ouvi-lo dizer aquilo pessoalmente.
- E eu já estou sentindo a sua falta. – Ele fez uma cara triste, enquanto encarava o chão do quarto. A sua voz também demonstrava tristeza.
- Eu também estou, . – Eu fiquei ainda mais triste ao ouvi-lo dizer aquilo.
- Eu amo você. Não esquece. – disse de forma extremamente doce.
- Eu também amo você. – Eu respondi do jeito mais carinhoso que consegui e desliguei o celular.

Aquele telefonema havia me feito ficar mais segura com a nossa relação. A distância nunca é fácil, mas eu senti um grande alívio ao ouvir a voz dele pelo telefone. Eu não sei se conseguiríamos manter aquelas ligações por tanto tempo, mas eu não vou pensar nisso agora.

foi jantar com a família como havia me dito e depois voltou para o quarto. O telefonema também havia feito ele se sentir um pouco melhor e perceber que eu também estava bem conformada com a situação o fez ficar mais despreocupado. Ele assistiu um pouco de tv em seu quarto e sem que quisesse, voltou a dormir.

Eram 22hrs e eu ainda não havia jantado. Eu pedi uma pizza, mas ela só chegaria dali algum tempo. Aproveitei para tomar banho e trocar a roupa. Coloquei um shorts e uma blusinha preta. A pizza ainda não havia chego, então eu arrumei o meu material para o dia seguinte. Do quarto, ouvi o meu celular tocar novamente. Eu havia deixado ele na sala de novo! Desci as escadas correndo e consegui atendê-lo.

- Alô? – Eu perguntei para ver quem era.
- ! – Era a voz de .
- Oi ! Eu não esperava que ligasse. – Eu dei uma rápida risada.
- Foi tudo bem na viagem? – Ele perguntou, atencioso.
- Foi tudo bem sim. – Eu afirmei, curiosa para saber o que ele queria.
- Eu liguei porque quero conversar com você, já que é impossível falar com você pessoalmente! – disse como se fosse uma crítica.
- Eu sei! Você vem tentando falar comigo há um tempão! – Eu voltei a rir.
- Eu nunca encontrava você sozinha. – Ele explicou.
- Então é um segredo? Hm. – Eu disse, interessada.
- Não é um segredo. Quer dizer, é um segredo porque você será a primeira a saber. – disse apenas para me deixar mais curiosa.
- Então diga, que eu já estou curiosa. – Eu fiquei esperando ele dizer.
- Eu sei que está esperando coisa boa, mas não é. – preferiu me avisar.
- Certo, eu estou ouvindo. – Eu continuei esperando ele dizer. Eu estava colocando a mesa pro jantar, enquanto falava com ele.
- Eu... – Ele hesitou dizer.
- Fala ! – Eu o pressionei.
- Eu vou terminar com a . – Ele finalmente disse. Eu paralisei em frente ao armário da cozinha.
- Você o que?- Eu achei que não tivesse escutado bem.
- É isso mesmo. – reafirmou. – Eu gostava dela, sabe? Eu amava ela e eu tinha certeza de que era ela a garota certa, mas o jeito com que ela vem agindo. – hesitou por um tempo. – Eu não sei. Ela não é a mesma garota e eu não aguento mais esperar ela voltar a ser o que era. Eu nem sei se ela vai voltar. – disse, parecendo decepcionado.
- Você disse amava? – Eu perguntei, perplexa. – Quer dizer que não ama mais? – Eu perguntei.
- Eu acho que não. – negou com a cabeça. – Quer dizer, eu tenho um carinho por ela. Nós sempre fomos amigos, mas amar? Parece ser uma palavra muito forte agora. – explicou.
- , eu nem sei o que dizer. – Eu não sabia mesmo! Ele era doido por ela. – Ela mudou mesmo nos últimos tempos, mas eu não sabia que isso estava afetando tanto vocês. – Eu achei que o problema dela era só comigo.
- Ela está sempre mal humorada e não topa nada. – parecia irritado só em falar.
- Bem, você deve saber o que está fazendo. Se você disse que não ama mais ela, não tem porque você ficar sustentando isso. – Eu aconselhei.
- É por isso que eu queria falar com você. Eu não sei bem o que fazer. – parecia confuso.
- Diga a verdade a ela. Talvez ela queira mudar e até tente te reconquistar. Já que esse é o único motivo do término. – Eu disse, suspeitando. – Esse é o único motivo, né? – Eu perguntei, desconfiada. Será que tinha outra garota na jogada?
- Não, eu não estou com outra garota. Eu não tenho ninguém. Eu jamais trairia a . – Ele me tranquilizou.
- Ótimo. – Eu sorri, orgulhosa. – Então faça isso. Converse com ela. – Eu disse e logo depois ouvi a campainha tocar.
- O que é esse barulho? – perguntou, ouvindo algo tocar.
- É a campainha. A pizza deve ter chego. – Eu fui até o balcão e peguei o cartão que havia separado. O cartão que meus pais me deram para eu pagar as minhas despesas.
- Tudo bem, eu te ligo depois. Vai lá atender. – sabia que eu tinha que atender.
- Certo. Depois você me conta como foi. Boa sorte, amigo. – Eu disse carinhosamente.
- Obrigado, . Beijos. – Ele disse e esperou que eu respondesse.
- Beijos. – Eu disse e desliguei.

Eu corri colocar uma rasteirinha e depois corri até o meu quarto para pegar uma gorjeta na minha bolsa. Desci as escadas correndo novamente e fui até a porta. O entregador deveria estar querendo me matar por estar demorando tanto. Eu abri a porta e quando olhei quase cai dura. Mark estava bem ali na minha frente. Ao me ver, ele sorriu imediatamente.

- Vim dar boas-vindas pra minha nova vizinha. – Ele disse e voltou a sorrir. Certo, eu não posso negar que ele tem um belo sorriso.
- Oi Mark. – Eu forcei um sorriso, sem saber direito como reagir.
- Eu vi você descendo do taxi hoje. – Mark explicou. – Como está indo? – Ele perguntou com um fraco sorriso.
- Eu estou bem. – Eu ainda parecia perdida. Eu queria ser legal com ele, mas odiaria isso. – Entra. – Eu o convidei. Eu não seria tão mal educada!
- Licença. – Ele também foi educado.
- E você, está bem? – Eu estava pensando no que fazer.
- Estou. – Ele afirmou, percebendo que eu estava estranha. – Você demorou pra vir pra cá, que eu achei que tivesse desistido. – Mark brincou.
- Eu quase desisti mesmo. – Eu forcei novamente um sorriso, quando percebi ele olhar para a minha mão e ver a minha aliança de compromisso.
- Eu tenho certeza que sim. – Ele afirmou, sabendo que o motivo da minha quase desistência era o .
- Eu pensei em trazer algo pra comer. Eles costumam fazer isso nos filmes. – Ele riu. – Mas parece que você já tem planos. – Ele olhou para a mesa de jantar que eu já havia arrumado.
- É, eu estou esperando a pizza. – Eu expliquei, colocando uma das mãos no bolso do shorts. Se ele queria que eu o convidasse pra jantar comigo ele ficaria querendo.
- Eu não vou ficar tomando muito o seu tempo. – Mark percebeu que havia sido um pouco inconveniente. – Eu só vim aqui pra te dizer que se precisar de mim, qualquer coisa, eu estou bem aqui ao lado. – O riso voltou ao seu rosto. Ele parecia sem jeito.

O que eu devo fazer? mataria ele e eu se ao menos soubesse que ele havia ido até a minha casa. O meu relacionamento com o já estava tumultuado o suficiente para eu colocar mais alguém no meio disso. Estamos longe um do outro agora e as coisas entre nós devem ser mais calmas do que nunca. Eu não quero arranjar um motivo para brigarmos. Todo mundo sabe o quanto o sente ciúmes e odeia o Mark. Porque procurar mais problema?

- Mark, escuta. – Eu o olhei e depois encarei o chão, me preparando para dizer aquilo. – Eu sei que está tentando ser legal e me ajudar, mas... – Eu hesitei dizer e neguei com a cabeça.
- Mas o que? – Ele me olhou, sério. Mark já sabia do que se tratava, mas ele queria me ouvir dizer na sua cara. Ele não acreditava que eu ia dizer aquilo.
- Eu estou namorando o e todos nós sabemos o quanto ele odeia você. – Eu expliquei para finalmente chegar no ponto principal. – Eu não quero arrumar problemas com ele agora. Não agora que nós estamos tentando passar por esse momento turbulento. – Eu não sabia se havia sido clara.
- Então eu sou o problema? – Mark sorriu, incrédulo.
- Não, mas você será se continuarmos com isso. – Eu fui tão grossa, que já estava odiando a mim mesma.
- Eu entendi. – Mark mordeu o lábio inferior e sorriu, sem acreditar. – Você está certa! – Ele afirmou com a cabeça. Eu percebi o quanto ele ficou irritado.
- Mark, espera. Eu não queria.. – Eu ia dizer, mas ele interrompeu.
- Queria sim! Era exatamente o que você queria dizer e eu entendi. – Mark deu alguns passos pra trás, me olhando com indignação. – Eu não vou mais te incomodar e não se preocupe. Eu não vou ser um problema pro seu relacionamento. – Mark me olhou de um jeito tão sério, que eu nunca havia visto. Ele virou de costas e saiu, batendo a porta.
- Que droga. – Eu suspirei, me sentindo culpada.

Depois de ficar algum tempo me sentindo a pessoa mais ignorante do mundo, eu fui me conformando. Quer dizer, eu agi mal com o Mark, mas o meu namoro com o parecia ser prioridade no momento. Eu havia feito a coisa certa, apesar dos efeitos colaterais. Mark era um bom amigo e era bem próximo a tia Janice, mas eu não podia estragar tudo o que eu tenho com o por causa dele.

Depois de uns 15 minutos a pizza chegou. Foi muito empolgante sentar e comer sozinha naquela mesa enorme. Passei mais algum tempo vendo tv e depois subi pro meu quarto. Coloquei o pijama e deitei em minha cama. Dormi observando os porta-retratos que ficavam ao lado da minha cama. Ali haviam os meus pais e meu irmão, e meus amigos.


O despertador de tocou ás 7 da manhã. Primeiro dia na faculdade! Ele havia dormido muito no dia anterior, mas a preguiça ainda reinava. Ele levou alguns minutos para se levantar e foi direto para o banho, pois era o único jeito de aguentar aquele dia em que ele tinha tanta coisa pra fazer. Depois de sair do banho, foi se arrumar. Ficou muito feliz ao se lembrar que não precisava mais usar uniformes. Foi até o guarda-roupa e escolheu a roupa que usaria. Colocou uma camisa branca e depois colocou outra jeans por cima, deixando os botões abertos. A calça também era jeans e o tênis era preto. Não queria arrumar o cabelo, mas teve que arrumar, pois iria direto para o trabalho depois da faculdade.

- Bom dia, . – O pai de disse. Estava sentado na mesa, esperando pelo café. - Bom dia. – sorriu e se sentou ao seu lado.
- Nem acredito que é o seu primeiro dia na faculdade. – A mãe de disse, empolgada.
- Nem eu. – Ele disse com pouca empolgação.
- Bem vindo a vida dos adultos. – O pai de sorriu.
- Nem me fale. – sorriu e negou com a cabeça. Olhou pra mesa e depois para o relógio, vendo que não teria tempo para comer. - Eu acho que já vou indo. – não estava a fim de esperar pelo café.
- Mas você não vai tomar café? – A mãe dele o olhou, sem entender.
- Eu como na faculdade. Estou louco para conhecer as comidas daquele lugar. – sorriu e levantou-se da mesa.
- Eu tenho certeza que sim. – A mãe dele riu, pois conhecia o filho.
- Estou indo. – se aproximou e beijou o rosto da mãe.
- Boa sorte, filho. – Ela admirou o filho e viu o quanto havia feito um bom trabalho.
- Valeu. – sorriu rapidamente para mãe, afastando-se. – Tchau. – Ele se despediu e sua mãe e seu marido despediram-se.

A faculdade não ficava tão longe de casa, por isso ele demorou menos de 10 minutos para chegar até lá. Quando estacionou o carro, observou a quantidade de jovens que entravam na faculdade. Saiu do carro e seguiu a mesma direção que as pessoas. Elas deveriam saber onde era a entrada. Continuou a segui-los e passou por um enorme portão. Ficou até um pouco assustado ao ver o quanto aquilo era enorme. Havia um enorme pátio, que estava cheio de estudantes. Havia umas 10 escadas, que certamente levavam os alunos para as classes.

- Hey, bonitão! – ouviu alguém gritar e depois dar um tapa em sua costa.
- Eu sabia que você me acharia. – riu, ao virar-se e ver .
- Isso é loucura, cara. – olhou em volta.
- É, você está bonito e perfumado! Que loucura! – foi mexer no cabelo de e levou um tapa.
- Eu tenho que causar uma boa impressão para as nerds dessa escola. – disse, depois de rir do que havia dito.
- Nerds? E a ? Está maluco? – riu do amigo, achando que ele estava doido.
- Estou falando das outras nerds, cara. – revirou os olhos. Não queria nem ouvir falar na . – Já viu quantas gatas tem nesse lugar? Eu estou sonhando. – disse, olhando para os lados.
- Não, eu não vi. – arqueou a sobrancelha, achando que estava brincando com a sua cara. – Eu já tenho a minha nerd, lembra? – ergueu a mão e mostrou a aliança.
- Eu sinto muito por você, amigo. – deu alguns tapinhas no ombro de .
- Finalmente! – suspirou longamente. – Tem tanta gente que eu até me perdi nesse lugar. – fez careta.
- Eu nem sei mais por onde eu entrei. – brincou e ela riu.
- O que estão fazendo? – perguntou, percebendo que havia interrompido alguma conversa.
- Nós estamos.. – estava pensando em alguma desculpa para não comprometer .
- Eu estou admirando as garotas. Já viu quantas delas tem aqui? – sorriu falsamente pra . o olhou, como quem dissesse ‘Está maluco?’.
- Eu devo ter visto uma ou outra, enquanto eu observava os garotos. – também forçou o sorriso, dando o troco.
- Aposto que eles vão adorar se divertir com você. – foi sarcástico, referindo-se ao que havia lhe dito no dia seguinte. Ele ainda não havia superado.
- Isso é meio familiar pra mim, então já que eu já sei como isso vai terminar, acho que vou procurar a minha classe. – disse e os dois amigos fizeram cara feia. – Vejo vocês no intervalo. – sorriu e saiu, indo em direção ao grande quadro que mostrava qual a sala de cada aluno.

havia passado na casa de para que eles fossem juntos para a faculdade. Apesar dele não ter certeza sobre o seu curso, ele estava ansioso para conhecer o seu novo local de estudo. também estava muito empolgada. Aliás, ela devia ser a pessoa mais empolgada do mundo.

- Será que a sua sala fica perto da minha? – disse, depois de encontrar o número de sua sala naquele enorme mural.
- Deixa eu ver. – disse, analisando com dificuldade a lista de Engenharia. – Sala 14. – olhou a namorada com um bico.
- Fica bem longe da minha sala. – também fez bico.
- Mas fica ao lado da minha. – Uma voz disse e olhou para ver quem era.
- ! – ficou extremamente empolgado ao ver o amigo.
- Finalmente achei vocês. – revirou os olhos.
- Sua sala é perto da minha, então? – perguntou.
- Minha sala é a 15. – sorriu.
- Aposto que foi você quem fez eles te mudaram de sala só pra ficar perto de mim e não morrer de saudades. – brincou com o amigo, como sempre costumava fazer.
- Droga! Como você descobriu? – fingiu estar desapontado.
- Vocês estão ai comemorando que vão ficar próximos e eu vou ficar longe. – voltou a fazer bico.
- Awn, amor! Eu vou te levar até a sua sala todos os dias. – abraçou a namorada.
- Falando nisso, onde está a sua namorada, ? – perguntou, referindo-se a . – Ela não vai estudar? – completou a pergunta.
- Ela passou em uma faculdade de arquitetura. Fica bem perto da casa dela e nem é tão conhecida. – fez careta.
- Ela nem me contou! – disse, sem acreditar.
- Ela não contou pra ninguém. Só pra mim, eu acho. – não deu muita atenção. O assunto parecia não lhe interessar.
- Arquitetura? – fez careta. Nunca soube que interessava-se pela área.
- Pois é. Loucura, né? – ergueu os ombros.
- Vamos, . Eu vou te levar até a sua sala. – disse, ouvindo o sinal do inicio das aulas tocar. – , me espera aqui. – Ele pediu ao amigo.
- Então anda logo! – o apressou, sabendo que teria que ir logo para a sala.
- Já volto! – agarrou a mão de e a puxou. Só deu tempo de ela acenar para .

, e tiveram suas primeiras aulas na faculdade. Marcaram de se encontrar em um dos lugares do pátio durante o intervalo. já havia percebido que diversas garotas de sua sala ficavam olhando pra ele e ficavam conversando entre si. Pela primeira vez, ele não deu a mínima. Ele percebeu que aquilo só servia para melhorar a sua autoestima e nada mais. Ele se perguntava se aquelas garotas não haviam visto a sua aliança de compromisso. Parece que isso não era um problema pra elas.

- Eu demorei uns 3 minutos para encontrar o lugar que havíamos marcado. – disse, quando viu de costas.
- A minha sala fica aqui perto. Foi só por isso que achei tão rápido. – gargalhou.
- E a ? – procurou em volta.
- Olha quem eu encontrei pelos corredores. – Eles ouviram a voz de . Viraram-se para olhar e deram de cara com a Amber. estava ao seu lado.
- Amber. – forçou um sorriso.
- Oi garotos. – Amber parecia sem jeito. Sua última conversa com não havia terminado bem.
- Oi Amber. – respondeu, sem fazer questão de sorrir.
- Eu até tinha me esquecido de que você estudava aqui também. – puxou assunto, depois de um longo silêncio.
- Eu estava passando e ela me achou. – explicou, querendo mostrar que não tinha culpa por ela estar ali.
- Eu vou comprar alguma coisa pra comer. – olhou para uma das cantinas atrás de Amber e saiu. Amber revirou os olhos e depois olhou pra e .
- Eu vou falar com ele. – Ela disse e saiu correndo atrás dele.
- Qual o seu problema? Porque trouxe ela aqui? – olhou furiosamente pra . – Nós temos que mantê-la longe do , lembra? – arqueou a sobrancelha.
- Eu sei, mas ela me achou! Perguntou se eu sabia onde estava o . O que queria que eu dissesse? – defendeu-se.
- Isso ainda vai dar merda. – negou com a cabeça, sentando em uma das cadeiras de uma das mesas.
- Você está bravo comigo. – Amber disse, andando ao lado do em direção a cantina.
- Porque eu estaria? – nem a olhou, mas continuou andando. Parou em uma das cantinas. – Um refrigerante e um salgado. – Ele fez o pedido para uma das atendentes da cantina.
- ? – Amber o chamou, esperando que ele a olhasse.
- Obrigado. – sorriu pra atendente, depois de entregar o dinheiro e pegar o seu pedido. Ele voltou a andar em direção aos amigos.
- Dá pra olhar pra mim? – Amber entrou na frente dele e ele foi obrigado a parar.
- O que você quer, Amber? – olhou pra ela, demonstrando impaciência.
- Me desculpa pelo que eu disse pra aquele dia, ok? – Amber suspirou longamente.
- Era isso? – arqueou a sobrancelha. Não foi o suficiente pra ele.
- Você sabe o quanto ela me irrita. Você sabe que eu diria qualquer coisa para deixá-la furiosa. – Amber argumentou.
- Porque agiu como se ainda houvesse algo entre nós? Você sabia o quanto isso me causaria problemas. – negou com a cabeça, sem se conformar no que ela havia dito.
- Eu sei, eu sei! – Amber parecia arrependida. – Eu fui uma idiota. Eu só queria irritá-la, . – Amber disse com sinceridade.
- Mas ela é minha namorada agora. Eu não quero que a fique irritando e muito menos que me envolva nessa briguinha ridícula de vocês. – continuava sendo grosseiro.
- Eu sei! É por isso que eu estou me desculpando. Eu sei que eu fiz besteira e estou arrependida. – Amber olhou pra ele, esperando a sua resposta.
- Está mesmo? – queria ter certeza do que estava ouvindo.
- Estou! Eu quero que esqueçamos isso e voltamos a ser os amigos que sempre fomos. – Amber tinha medo de ouvir um não do amigo. – Vamos, por favor! – Amber forçou um sorriso exagerado, fazendo rir.
- Certo, certo. – revirou os olhos. – Mas deixa a fora disso. – deu a condição e ela afirmou com a cabeça.
- Pode deixar! Eu não quero nem falar mais nela. – Amber sorriu, quando viu sorrir também. – Estamos de volta! – Amber abraçou em um impulso. não pode abraçá-la, pois estava com as mãos ocupadas com o refrigerante e o salgado.
- Está todo mundo olhando. – falou baixo, vendo algumas pessoas olharem para eles fazendo careta. Amber terminou rapidamente o abraço.
- Foi mal. – Amber fez careta e riu.
- É o primeiro dia. Não vamos estragar a minha reputação tão cedo. – disse e Amber gargalhou.
- Deixa que eu te ajudo. – Amber pegou o refrigerante de sua mão.
- Valeu. – sorriu, podendo finalmente dar uma mordida em seu salgado.
- Então como foram as primeiras aulas? – Amber perguntou, enquanto eles andavam em direção ao e a .
- Foram legais. Eu gostei. – afirmou, sentando-se ao lado de . – E as suas? – perguntou, olhando pra Amber.
- Foram legais também. – Ela sorriu, feliz por ele ter perguntado.
- Do que estão falando? – perguntou, desconfiado da conversa.
- Sobre as aulas. Como foi a de vocês? – olhou para e . – Querem? – Ele ofereceu o salgado e todos recusaram.
- Foram legais. Eu amo direito, vocês sabem. – riu.
- E eu ainda não vi ninguém de roupas apertadas de ginásticas. – fez bico. – Mas tem muitas gatas na minha sala. – riu pro , demonstrando o quanto estava adorando aquele novo mundo. – É muita mulher bonita em um lugar só! Onde elas estavam esse tempo todo? – continuou falando para irritar .
- Procurando o seu cérebro, seu idiota. – revirou os olhos.
- Se o estivesse aqui, ele mandaria vocês calarem a boca. – disse, lembrando-se do amigo e cunhado.
- É a cara dele dizer isso. – Amber riu, imaginando o quanto aquela cena estaria irritando .
- Já está com saudades dele? – rolou os olhos.
- Que saudades o que! – fez careta pro amigo.

teve as ultimas aulas e depois foi direto para o seu primeiro dia de trabalho. Enquanto todos estudavam, eu dormia. Sim, aquela cama nova era o máximo! Além do mais, fazia algum tempo que eu não podia acordar tarde e na semana que vem eu não poderia mais ter esse privilégio, então eu estava aproveitando. Ouvi o meu celular vibrar sobre o criado-mudo e tive que abrir os olhos. Olhei no relógio e vi que eram quase 1 da tarde. Peguei o celular e sorri ao ver que era uma mensagem do .

‘Boa tarde, dorminhoca.

Estou saindo da faculdade agora e indo direto pro trabalho. Foi tudo bem, depois eu te conto. Só vamos poder nos falar quando você chegar da universidade. Então quando chegar, me liga. Eu vou ficar esperando.

Beijos e se cuida.

Te amo, linda.’

Eu adorava as mensagens carinhosas que ele me mandava. Sempre me faziam sorrir. Imaginei o quanto ele deveria estar correndo para chegar a tempo no trabalho e ele ainda arranjou um tempinho pra falar comigo. Esses pequenos gestos de carinho dele me deixavam abobalhada e ainda mais louca por ele.

‘Boa tarde, amor. Como sabia que eu estava dormindo? Eu sei! Era óbvio, né? haha

Estou MUITO ansiosa pra saber como foi o seu primeiro dia na faculdade e no trabalho. Eu ligo sim, pode deixar.

Te amo, não esquece.

Beijos.’

Depois de enviar a minha mensagem, me dei conta de que eu deveria levantar. Eu estava com fome e precisava pensar no faria pra almoçar. Desci até a cozinha e encontrei a geladeira cheia. Minha mãe pensou mesmo em tudo. Fui até a dispensa e peguei um macarrão qualquer. Era bem mais prático, já que eu teria que cozinhar só pra mim.

Eu não era a melhor cozinheira do mundo, mas o meu macarrão ficou bem comível. Depois de almoçar, passei a tarde sem fazer nada. Eu precisava arrumar um emprego logo. Não dava pra ficar o dia inteiro naquele tédio. Quando eram 5 horas da tarde, resolvi começar a me arrumar para a ir para a universidade.

ficou realmente impressionado com o trabalho. Parecia ser bem mais interessante do que ele pensava que seria. Também era muito bom ver o respeito que todos tinham com ele, já que ele era o filho de um dos sócios. Dali alguns anos, assumiria a controle da empresa. Quer dizer, se tudo continuar dando certo. Ele até conseguiu uma sala só pra ele. Ela era bem modesta, mas era uma sala.

- Você lembra muito o seu pai, . – Um dos sócios disse, ao vê-lo pela primeira vez.
- Não é a primeira vez que escuto isso. – sorriu fraco. Ele gostava quando o comparavam com o seu pai, que era e sempre foi um grande exemplo pra ele.
- Até o seu jeito de falar é igual ao dele. – O seu chefe e ex-sócio de seu pai disse.

A empresa em que trabalhava cuidava da publicidade na área de esportes. Eles basicamente criavam slogans e propagandas para os grandes centros de esportes. Sejam eles times, programas e produtos esportivos. só precisava ter ideias inovadoras e criativas para manter o seu emprego e conseguir crescer dentro da empresa.

Faltavam menos de uma hora para o inicio das aulas e eu já estava pronta. Eu havia colocado uma calça jeans, botas, uma blusinha e uma jaqueta de couro por cima. O cabelo estava arrumado e eu estava levemente maquiada. O taxi chegaria em poucos minutos, então eu me apressei ainda mais. Coloquei o relógio no pulso e coloquei a pulseira que meus amigos haviam me dado. Separei o dinheiro para o caso de eu ficar com fome e também, é claro, para pagar o taxi.

- Tchau, Big Rob. – Eu disse, passando pelo segurança na saída de casa.
- Até mais, Srta... – Ele ia dizer, mas lembrou-se do que havíamos combinado. – . – Ele corrigiu a si mesmo.
- Até. – Eu afirmei com a cabeça, sorrindo pra ele.

Não foi nem preciso passar o endereço para o motorista. Foi só dizer o nome da faculdade que ele já sabia para onde me levar. Ficava um pouco longe da minha casa, mas nada demais. Quando ele parou o carro e eu vi a universidade, eu paralisei. A universidade dos meus sonhos estava bem na minha frente.

- Moça? – O motorista olhou para trás, esperando eu pagar.
- Desculpe. – Eu ri, negando com a cabeça. – Aqui. – Eu entreguei o dinheiro e desci do carro.

Nem piscar eu conseguia. Eu não achava que fosse ficar tão feliz por estar ali. Comecei a andar em direção a portaria da universidade e passei pelos seguranças. Se não fosse parecer idiota, eu pararia ali na porta e ficaria olhando para aquela enorme universidade, que mais parecia um castelo. Tem noção do quanto eu sonhei estar ali? Quantas vezes eu idealizei aquele dia, aquele momento? É loucura.

- Meu Deus... – Eu suspirei, passando por uma das catracas.

Sou eu ou todo mundo parecia nerd? Tudo bem que era uma universidade muito concorrida, mas todo mundo? Não que eu estivesse procurando garotos bonitos ou patricinhas, mas é estranho. Procurei pela minha sala, já que eles já haviam mandado qual o número dela através de um email. Eu fiquei algumas horas andando por lá e só depois de 20 minutos encontrei a minha sala.

assistia tv e esperava eu ligar, como eu havia dito que faria. Ele havia combinado de jogar videogame com o , mas o meu irmão teve que desmarcar porque a queria ir ao shopping. até que não achou tão ruim, já que estava cansado. Mesmo assim, ele não dormiria até eu ligar. Até porque ele estava preocupado. Já havia tomado banho e jantado. Passava das 10 horas da noite. Eu deveria ligar a qualquer momento.

A última aula acabou e o sinal soou. Como eu esperava, não houve matéria alguma. Os professores que conhecemos apenas apresentaram a matéria e alguns coordenadores do curso nos apresentaram a universidade e suas regras. Eu ainda estava encantada com tudo. Era exatamente do jeito que eu e tia Janice achávamos que era. Nós sempre conversávamos sobre isso.

Não, eu ainda não fiz amigos. Algumas pessoas na sala já haviam feito amizades, mas eu não estava tão sociável naquele dia ou ninguém foi com a minha cara mesmo. Não importa. Eu estava ali para estudar, mas uma amiga não seria tão ruim, né? Fui em direção a saída e passei pela portaria. Havia diversos alunos saindo do estacionamento com os seus carros e outros entravam em alguns carros. Havia também alguns ônibus parados. Onde estavam os taxis? Quer dizer, eles não deviam estar passando ali por perto para atender os alunos?

- Licença. – Eu fui até um dos alunos, que parecia esperar um dos ônibus. – Você sabe me dizer qual desses ônibus passa no bairro ZP? – Eu disse, feliz por pelo menos ter decorado o nome do meu bairro.
- ZP? – O garoto me olhou, desconfiado.
- Sim. – Eu afirmei, sem entender.
- Bem, aquele ali passa. – Ele apontou com um dos dedos. Eu me virei para ver para qual dos ônibus ele apontava.
- Obrigada. – Eu agradeci e sai andando rapidamente, vendo que o motorista ligar o ônibus. Aquele mesmo ônibus que eu tinha que pegar.

Mesmo depois de ter que correr um pouco, eu consegui chegar a tempo. Subi no ônibus e o motorista me olhou, parecendo confuso. Paguei pela entrada e procurei por um acento. Quando eu olhei para as pessoas do ônibus, vi que havia 20 homens e umas 3 mulheres. Todos estavam me olhando pra minha cara e pareciam estar irritados. Esse pessoal de Nova York é bem mal educado.

Depois de me sentar ao lado de uma moça, comecei a prestar a atenção no lado de fora do ônibus, pois assim que eu visse algum lugar que eu conhecia, eu poderia descer. Fiquei aproximadamente meia-hora olhando pela janela do ônibus e nada em volta parecia familiar. Nova York é grande! O ônibus parou, assim como havia parado outras diversas vezes para que alguns passageiros descessem. Eu não me movi.

- Moça, você tem que descer. – O motorista virou-se para me olhar. Eu olhei pra ele para ver se ele estava falando comigo.
- O que? – Eu perguntei, pois queria ter certeza de que ele falava comigo.
- É o ponto final! Você tem que descer. – Ele apontou com a cabeça para o lado de fora do ônibus. Olhei pra trás e vi que não havia mais ninguém no ônibus.
- Descer? Mas.. – Eu voltei a olhar pela janela. – Eu ainda não cheguei onde eu queria. – Eu comecei a ficar preocupada. Onde eu estava?
- Pelo menos você deu uma boa volta de ônibus, não é? – Ele forçou um sorriso, que pareceu muito falso. – Desça. – O motorista voltou a dizer.
- Mas... – Eu ia argumentar, mas ele me interrompeu.
- Desça de uma vez ou eu mesmo te faço descer. – O motorista disse com extrema grosseria. Certo, agora eu me assustei. O cara estava me ameaçando! Era claro que eu ia descer.

O meu primeiro dia e eu já fui ameaçada. Devo ficar preocupada? Eu já estava um pouco assustada, mas era melhor descer e pedir informação para alguém. Eu desci do ônibus e o motorista fechou as portas e foi embora. Fiquei bem mais aliviada ao vê-lo indo embora. Olhei em volta e a rua parecia deserta. Eram 22:30! O que eu esperava?

- Isso não é nada bom. – Eu suspirei, vendo duas mulheres se aproximaram. Finalmente alguém para eu pedir informação! – Com licença, a senhora pode me dar uma informação? – Eu fui extremamente educada. Uma das moças me olhou de cima a baixo e pareceu me analisar.
- O que foi? – A mais velha se aproximou, fazendo cara feia.
- Onde eu estou? Que bairro é esse? – Eu perguntei de uma vez. Essa história de ser educada não estava dando certo.
- ZP, moça. – A mulher disse e riu para a amiga, que estava mais atrás. O que? Elas estavam rindo de mim? Tenho cara de palhaça?
- ZP? – Eu perguntei, olhando em volta. Aquele não podia ser o bairro em que eu morava. Eu não estava tão maluca e perdida assim.
- Zona Pesada, moça. – A mulher me olhou e negou com a cabeça. Meu coração parou naquele instante. As duas mulheres se afastaram rindo e eu não conseguia me mover.
- Zona Pesada? – Eu repeti em voz alta. A minha voz quase nem saiu. Minhas mãos começaram a tremer sem eu nem mesmo perceber. Olhei em volta e a rua continuava deserta. – Estou no bairro mais violento de Nova York. – Eu disse pra mim mesma. – Eu vou chorar. – Eu coloquei as mãos no rosto, sem saber o que fazer.

Eu nunca havia sentido tanto medo em toda a minha vida. As mãos continuavam tremendo e as pernas começaram a tremer. Eu estava esperando ser atingida por uma bala perdida a qualquer momento. É sério! Aquele era um dos bairros mais barra pesada de Nova York. Era conhecido no país todo por isso. Alguém me explica como eu consigo me meter nessas ciladas? ALGUEM ME EXPLICA!

- O que eu faço? – Eu estava perdida no meio do crime. Vamos manter a calma! Fiquei algum tempo pensando no que poderia fazer, quando comecei a ouvir vozes. – Ai não. – Eu quase tive um colapso. Olhei pro alto da subida e vi um grupo de homens se aproximando. Socorro, alguém me ajuda. – O que eu faaaaaaaaaaaaço? – Eu entrei em pânico, vendo que eu ainda estava parada no mesmo lugar. Eu não sabia se eu corria ou me escondia. Não dá pra correr. Minhas pernas tremiam mais que vara verde. Eu ia cair no meio do caminho e todos sabem o que acontece depois disso nos filmes de terror, né?

Depois de dar alguns passos em direção a um muro, corri e me escondi atrás dele. Os filmes de terror serviram pra alguma coisa, está vendo? Eu quase não estava respirando pra não fazer barulho. As vozes ficavam cada vez mais alta e o meu medo aumentava ainda mais. Fechei os olhos para tentar me acalmar. Aos poucos, as vozes foram diminuindo. Quando eu não conseguia mais ouvi-las, eu espiei, ainda atrás do muro e vi que a rua voltava a ficar deserta.

- Foda-se! Eu vou ter que fazer isso. – Eu peguei o celular e quase nem consegui digitar os números por causa da minha tremedeira.

Mark estava deitado em sua cama. Ele assistia um filme qualquer na tv e comia pipoca. Ele mesmo havia feito no micro-ondas. Sua mãe estava em algum lugar da casa, provavelmente dormindo. Seu celular começou a tocar e ele resolveu limpar as mãos que estava cheias e manteiga antes de atender. Quando olhou no visor do celular, sorriu. Ele pensou em não atender, mas ele estava tão curioso para saber o motivo da ligação que não resistiu.

- Problema falando. – Mark ironizou ao atender o telefone.
- MARK! – Eu fiquei tão feliz em ouvir a voz dele.
- Ligou errado? – Mark voltou a pegar pipoca com uma das mãos.
- Mark, eu preciso de ajuda. – Eu disse, sussurrando.
- Sério? E eu preciso dormir, mas estou muito ocupado vendo um filme sobre aliens na tv. – Mark disse, parecendo nem se importar. Ele estava muito bravo comigo.
- É, sério! – Eu revirei os olhos, vendo que ele estava tirando com a minha cara.
- O que você quer, ? – Mark perguntou novamente, impaciente.
- Eu preciso que me ajude! – Eu disse novamente.
- Verdade? Porque ontem você disse que não precisava de mim. – Mark continuava dizendo, achando que estava me dando o troco. Ele não está ajudando, droga!
- Mark, por favor, me ajuda. – Eu percebi que estava prestes a chorar. Eu estava muito assustada mesmo. Semana passada eu estava na minha casa, cercada de pessoas que estavam dispostas a me proteger. Eu estou sozinha agora. – Eu estou com medo. – Eu engoli o choro. Naquele minuto, Mark percebeu que algo muito sério estava acontecendo.
- O que aconteceu? – Mark ficou imediatamente sério.
- Eu estava voltando da faculdade e peguei o ônibus errado. – Eu expliquei, segurando as lágrimas e o desespero. – Eu estou sozinha e estou com medo. Mark, me ajuda. – Eu pedi novamente, achando que ainda tinha que convencê-lo.
- Fica calma, . – Mark estava muito preocupado agora. – Onde você está? Eu vou te buscar. – Mark se levantou de sua cama e começou a colocar o tênis.
- Estou na ZP. – Eu disse, fechando os olhos para tentar ficar mais calma.
- ONDE? – Mark quase gritou. Ele não podia ter escutado certo.
- Eu estou na Zona Pesada. – Eu repeti. – Apareceram uns caras e... – Eu hesitei dizer. – Eu estou com medo que eles voltem. – Eu voltei a espiar pelo muro.
- Ai é muito perigoso! – Mark estava assustado também. – Onde você está exatamente? – Mark quis saber.
- Eu estou escondida atrás de um muro. – Eu expliquei. – Mark, vem logo, por favor. – Eu implorei, segurando o choro.
- Presta a atenção, . – Mark disse, indo em direção a porta da sua casa. – Procure alguma placa com o nome da rua. Eu preciso saber exatamente onde você está. – Mark sabia que sem o nome da rua seria impossível me achar. Não dava pra ele ficar passeando pela ZP atrás de mim, muito menos naquele horário.
- Espera. – Eu voltei a olhar através do muro e vi que a rua continuava vazia. Sai detrás do muro e fui até o ponto de ônibus onde eu havia descido. Ao lado do ponto de ônibus, havia um enorme poste com o nome da rua. – Achei! Rua Oscar Bess. – Eu disse e voltei correndo pra trás do muro. – Tem um ponto de ônibus e tem um muro. Eu estou aqui atrás. – Eu expliquei para que não houvesse problema.
- Ok, entendi. – Mark disse, entrando em seu carro. – Estou saindo da minha casa agora e daqui a pouco eu chego ai. – Mark avisou.
- Mark, obrigada. – Eu suspirei, aliviada.
- Me agradeça depois. – Mark respondeu, ligando o carro. – Fica calma e não saia daí. – Ele pediu, tentando me acalmar.
- Eu vou ficar. – Eu disse e desliguei o celular.

Mesmo sabendo que o Mark estava vindo me buscar, eu ainda estava aterrorizada. Muita coisa ainda podia acontecer até ele chegar. Eu queria tanto chorar, mas isso faria barulho e eu não podia fazer barulho. Engoli o meu choro mais uma vez, enquanto sentia meus olhos encherem-se de lágrimas.

Mark estava desesperado! Ele sabia o quanto aquele lugar era perigoso e só em pensar que eu estava lá sozinha, ele pensava em dezenas de coisas que poderiam acontecer. Ele estava dirigindo o mais rápido que ele podia. O seu GPS o guiava até o local certo. Ele nunca havia nem chegado perto da ZP. Sua mãe o mataria se soubesse que ele estava ali, mas ele realmente não se importava. Ele não podia me deixar lá sozinha.

Os minutos pareciam não passar. Já haviam dado 15 minutos desde que eu tinha ligado pro Mark. Os 15 minutos mais longos de toda a minha vida. Eu nem tinha mais coragem de espiar através do muro. Minhas mãos suavam frio e meu corpo continuava tremendo por inteiro. Onde o Mark estava? Meu celular vibrou e eu olhei rapidamente para ver o que era.

‘Estou chegando. Fica pronta.’

Aquela mensagem foi a melhor coisa que eu li nos últimos dias. Passei as mãos pelos olhos para enxugar as lágrimas. Coloquei o celular em um dos bolsos da calça e voltei a espiar. Cadê o Mark? Aos poucos, consegui a enxergar o reflexo de um farol de carro, mas eu ainda não sairia dali até ter certeza de que era ele. Continuei observando e esperando. O carro parou em frente ao ponto de ônibus. Mark olhou para o tal muro, temendo que eu não estivesse mais ali.

- É ele. – Eu sorri e sai correndo em direção ao carro dele. Quando me viu, Mark ficou mais aliviado. Estava prestes a entrar no carro, quando vi um grupo de homens descendo a rua. Eu tive outro colapso. Entrei correndo pra dentro do carro, como se fosse uma fugitiva. – Vai, vamos logo. – Eu olhei pra trás e percebi que o grupo de homens olhava para o carro de Mark.
- Se segura. – Mark disse, acelerando tanto o carro, que até cantou pneu. Foi um grande alivio saber que eu estava em um local seguro.
- Graças a Deus... – Eu suspirei longamente. Eu não pararia de tremer tão cedo.
- Como você veio parar aqui? – Mark me olhou, curioso.
- Me falaram que o ônibus vinha pra ZP e eu achei que era Zona Premium. – Eu expliquei e Mark imediatamente começou a rir. – Do que está rindo? – Eu o olhei, furiosa.
- Você é maluca! – Mark negou com a cabeça, sem acreditar.
- Eu não sabia! – Eu me defendi.
- Você desceu no ponto final da ZP e não percebeu? – Mark ainda ria. – Esse lugar realmente se parece com o nosso bairro. – Ele continuava brincando.
- Dá pra parar de rir? – Eu estava ficando furiosa. Eu estava morrendo de medo e ele estava rindo da minha cara?
- Tudo bem, desculpe. – Mark se esforçou para ficar sério.
- Que pesadelo. – Eu suspirei, olhando para fora do carro.
- Posso fazer uma pergunta? – Mark virou o seu rosto para me olhar.
- Faça. – Eu olhei pra ele. Ele tinha o direito de fazer quantas perguntas quisesse.
- Como vai explicar pro seu namorado que o problema aqui salvou a sua vida? – Mark continuava dando indiretas sobre o que eu havia lhe dito no dia anterior.
- Eu falo com ele. Ele vai entender. – Eu disse, mesmo não tendo certeza do que dizia.
- Eu duvido! – Mark negou com a cabeça, prestando a atenção no trânsito. Olhei pra ele e voltei a me arrepender do que havia feito no dia anterior.
- Certo. – Eu rolei os olhos. – Vamos, diga. Diga o quanto você está feliz por eu ter pedido a sua ajuda depois do que eu te disse ontem. – Eu cruzei os braços, sabendo que ele ficaria me torturando com isso.
- Não. – Mark afirmou e depois me olhou. – Acha que eu estou feliz por ter arriscado a sua vida? Quem você acha que eu sou? – Mark parecia ofendido com o que eu havia dito.
- Então não está bravo? – Eu me senti um pouco melhor, achando que ele não estava mais bravo.
- Bravo? Por qual motivo exatamente? Por ter sido grossa e estúpida ou por ter se tornado essa pessoa? – Mark não deixou de ficar sério nenhum minuto. Ele estava mesmo falando sério.
- Me tornado essa pessoa? Do que você está falando? – Eu não fazia ideia do que ele queria dizer.
- Esquece. – Ele voltou a negar com a cabeça.

O que ele quis dizer com aquilo? Eu sou a mesma pessoa! Ele é quem está ficando maluco. Eu posso ter sido grossa e estúpida, eu assumo. Eu poderia ter dito aquelas coisas de forma mais educada, mas dizer que eu mudei? Eu não mudei. Talvez eu tenha amadurecido, mas eu não mudei. Certo, isso está me deixando maluca. O carro estava silencioso e eu ficava pensando o que diabos ele quis dizer com aquilo. O carro parou e eu percebi que estávamos em frente a minha casa.

- Chegamos. – Mark disse, me olhando.
- Mark... – Eu ia dizer alguma coisa. Ia agradecer pelo que ele havia feito, mas ele me interrompeu.
- Não. – Mark afirmou, sério.
- Eu só quero agradecer pelo que fez. – Eu estava me sentindo muito mal só em ver aquele olhar de decepção.
- Tudo bem, não precisa. – Mark negou com a cabeça com um fraco sorriso.
- É claro que preciso. – Eu soltei o cinto de segurança, me aproximei e o abracei. Eu juro que não teve nada de romântico naquele abraço. Na verdade, era um daqueles abraços fraternais.

Adivinha? Aquele abraço parecia não ter o mesmo significado pro Mark. O seu coração quase saiu pela boca, quando eu o abracei. Naquele momento ele percebeu que os sentimentos dele por mim não haviam ido embora, pelo contrário, eles estavam mais vivos do que nunca. Acontece que Mark também não era hipócrita. Ele sabia que não havia nenhuma chance comigo. Apesar de não suportar , ele respeitava muito o meu relacionamento com ele e ele não seria mais um problema de jeito algum. Além disso, ele estava decepcionado comigo.

- Obrigada, mesmo! – Eu disse e me afastei novamente para olhar em seu rosto.
- Certo. – Mark me olhou, demonstrando frieza. – Agora que você não precisa mais de mim, você pode voltar pra casa. – Ele apontou com a cabeça para a minha casa. - Você finge que é legal comigo pro caso de um dia precisar de mim de novo e eu finjo que acredito. – Mark afirmou e voltou a olhar para frente. Certo, ele me quebrou naquele momento.
- Eu sinto muito, Mark. – Eu voltei a me desculpar, já que agora eu me sentia a pior pessoa do mundo. É o meu primeiro dia na cidade e ele vai e me coloca no meu lugar. Isso é loucura.
- Eu não. – Ele afirmou e abaixou o freio de mão, demonstrando que queria ir embora.
- Porque não? – Eu não havia entendido onde ele estava querendo chegar. Eu estava me desculpando!
- Porque se você não tivesse me dito aquelas coisas, eu continuaria vivendo a ilusão de que você era quem eu pensava que fosse. – Ele dizia tudo com uma frieza, que me deixava sem reação.
- Está tentando me dizer alguma coisa? – Eu me irritei. Porque ele não falava de uma vez. – Que pessoa eu me tornei? Que pessoa você achava que eu fosse? – Eu insisti na pergunta que ele não quis responder antes.
- Aquela garota que veio visitar a tia há alguns meses atrás. Aquela garota que nem mesmo me conhecia, mas mesmo assim sorriu e foi incrivelmente legal e encantadora, não era a mesma garota que eu vi chegar naquele taxi, ontem. – Mark finalmente me olhou. – O pouco tempo que eu passei com você eu já pude perceber o tipo de garota que você era. A que eu conhecia jamais deixaria um garoto controlar a sua vida do jeito que está deixando fazer e você sabe disso. Você sabe. – Mark colocou primeira marcha no carro e acelerou o carro. – Boa noite, . – Ele disse, praticamente me expulsando do carro.

Eu normalmente ficaria furiosa e daria alguma resposta a altura, mas não havia resposta a altura. Dizem que a verdade dói e agora isso faz todo o sentido pra mim. Não era como se fosse uma má influencia pra mim. Não é nada disso! É só que eu nunca me importei com isso, entende? Eu nunca fiquei controlando meus amigos por causa de um namorado, por causa do que o meu namorado ia achar. me ama do jeito que eu sou e isso inclui os meus amigos. Isso inclui o meu jeito de ser amiga de todos. Amigo. Era exatamente isso que Mark havia mostrado ser naquela noite.

- Boa noite. – Eu sai do carro, pensativa. Eu desci e ele nem ao menos esperou que eu entrasse. Saiu com o carro e entrou na garagem ao lado. Observei a cena e percebi que ele devia estar muito, mas muito bravo comigo e ele tinha razão.
- Boa noite, . – Big Rob disse, enquanto eu passava por ele. Big Rob estava em frente a casa, como sempre. Havia um pequeno quartinho pra ele. Parecia que ele estava me esperando chegar.
- Oi, Big Rob. – Eu sorri pra ele, sem dar tanto atenção.

continuava deitado em sua cama. A tv continuava ligada, mas ele havia cochilado. O seu celular continuava ao lado de sua cama para que quando tocasse, ele ouvisse. O volume da tv estava bem alto e quando começou um tiroteio qualquer no filme que estava passando, acordou assustado.

- Que droga. – Ele resmungou, ainda recuperando-se do susto. Ele pegou o controle e abaixou o volume. Irritou-se ao perceber que havia cochilado. Eu provavelmente já deveria ter ligado e ele não ouviu. Pegou o celular e viu que não havia nenhuma chamada perdida. Olhou para o relógio e levou um susto. – 23 horas? – ficou imediatamente preocupado. Já era bem tarde e eu ainda não havia ligado. Já era pra eu ter chego em casa e isso deixava ele ainda mais preocupado. começou a digitar rapidamente o número do meu celular. Se eu não ligava, ele ligaria.

Mark já havia estacionado o carro na garagem de sua casa e também havia desligado o carro. Ficou extremamente feliz por ver pela janela que a luz do quarto de sua mãe continuava apagada. Isso quer dizer que ela não havia acordado e isso também queria dizer que ele não levaria bronca. Saiu do carro e o travou. Virou-se de costas, indo em direção a porta da casa e começou a ouvir um barulho.

- Que barulho é esse? – Ele disse em um sussurro. Ficou em silêncio para ouvir de onde vinha o barulho e percebeu que vinha de dentro do carro. Também percebeu que era o toque de um celular. Colocou a mão em seu bolso e sentiu que o seu celular estava ali. – Um dos idiotas esqueceu o celular de novo! – Mark revirou os olhos, destravando o carro. As vezes ele dava carona para os amigos da faculdade e eles viviam esquecendo o celular em seu carro. Entrou no carro e começou a procurar pelo celular, que insistia em tocar. – Cadê? – Ele não conseguia achar. Depois de algum tempo procurando, encontrou embaixo do banco do passageiro. O telefone estava tocando a tanto tempo, que ele atendeu em um impulso, sem nem mesmo ver quem era. – Alô? – Mark disse, esperando ouvir a voz de um dos amigos. Sempre que eles perdiam o celular, ligavam pra saber com quem estava. Era normal.
- Mark? – ficou extremamente surpreso. Cerrou os olhos e sentiu seu sangue subir no mesmo instante. – O que diabos está fazendo com o celular da minha namorada? – perguntou, se segurando para não começar a xingá-lo de todos os palavrões possíveis.










CONTINUA...









Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


9 comentários:

  1. Só acho que você é a melhor de todas e essa fic tbm é a melhor q eu já li <33 Amo demais

    ResponderExcluir
  2. Continuaaa!!!! É a melhor fanfic de todas!!!!! haha vai dar treta essa história do mark atender o celular!!! Eu estou morrendo de curiosidade!!!!!

    ResponderExcluir
  3. Awn rah, vc quer me matar? Acho que desidratei de tanto chorar . Amei cap vc é perfeita. Ui o jonas nervosinho. Não separa a gnt de novo ta? Ahshahua n irei aguentar, vc acaba c meu pobre coração

    ResponderExcluir
  4. Continua !! Please ! essa é a melhor fic de todas s2

    ResponderExcluir
  5. mds eu preciso do 42 *--------* #pirandoo

    ResponderExcluir
  6. Continuaaaaaa.. ta perfeito e eu nao aguento mais esperaaaar..

    ResponderExcluir
  7. AHHHHHHHHHHHHHHH! QUE PER-FECT!!!!! AMEI D+!!!Estou muitom ansisa pelo proximo!!! Eu gosto do Mark, acho ele fofo rsrs mas prefiro mil vezes o meu Jonas!!!!! Continua rapidooo!!!!

    ResponderExcluir
  8. Ai pfpf , continua , eu to esperando deis de agosto, e estou morta de curiosidade . De todas as fic que eu já li ou estou lendo , essa é a melhor !! PF CONTINUA ...

    ResponderExcluir
  9. Cara pelo amor de deus termina essa fic pq se nao eu vou morrer desidratada

    ResponderExcluir