Capítulo 57



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- Mas é claro que me importa. Que tipo de pai você acha que eu sou? - Steven perguntou, sentindo-se insultado. Mark se segurou muito naquele momento para manter-se fora da conversa. As últimas atitudes de Steven demonstravam exatamente o contrário e ele sabia disso, mas o não.
- O pai que você tem mostrado ser desde que voltou dos mortos. - rebateu imediatamente.
- Você pode até não acreditar, aliás, você pode acreditar no que quiser, mas saiba que eu me lembrei de você em todos esses dias e torci mais do que você imagina pela sua saúde. - Steven tentou sensibilizar o filho. A frase foi a gota d’água para o Mark.
- Chega dessa palhaçada! - Mark passou pelo e colocou-se em sua frente, ficando cara a cara com o Steven. - Chega de tentar parecer exatamente o oposto da pessoa que você realmente é! Quem você pensa que é pra manipular todos a sua volta desse jeito? - Mark esbravejou contra o pai. sabia o que o irmão tinha ressentimentos do Steven, mas o seu comportamento e explosão repentina o surpreendeu.
- Eu… - Steven até tentou falar, mas o filho mais velho não deixou.
- Cala a sua boca que agora eu vou falar! - Mark gritou em sua direção. - Eu estou pouco me fodendo para a pessoa que você era antes ou o tipo de relacionamento que vocês dois tinham. - Ele referia-se ao Steven e ao . - Eu, ao contrário do , nunca criei qualquer expectativa em relação a você e é só por isso que eu quis poupá-lo de saber o bosta que você é. - Mark estava fora de si. - Honestamente, eu não queria nem vir aqui, pois não queria ter que olhar pra sua cara de novo. Eu não queria vir para evitar passar raiva e para não ter que ver cenas patéticas desse seu teatro de quinta categoria! - Ele apontava o dedo na cara do pai. não estava entendendo bem o que estava acontecendo. - Eu prometi pra mim mesmo que eu não falaria nada e que eu não perderia o meu tempo dirigindo a palavra para uma pessoa tão repugnante, mas não deu pra ficar calado. - Mark olhou rapidamente pro . - Você pode fazer o que quiser comigo. Eu não me importo e não faço a mínima questão de ser o seu favorito. Você pode mexer comigo, se você quiser, mas você não vai mexer com o . - Ele disse.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? - intrometeu-se, pois começou a ficar preocupado. Do que eles estavam falando?
- Acontece que o pai do ano ai… - Mark olhou para o irmão e depois apontou a cabeça em direção ao Steven. - Era compatível com o seu sangue, . Ele poderia ter sido o seu segundo doador. Ele poderia ter salvado a sua vida. Eu mesmo vim até aqui e implorei para que ele fizesse a doação. Expliquei pra ele toda a situação e o estado crítico em você se encontrava e ele… simplesmente… recusou. - Mark explicou, olhando pro Steven com desprezo. ficou em choque com a notícia e demorou algum tempo para assimilar o que tudo aquilo realmente queria dizer.
- Isso… é verdade? - olhou para o pai. Apesar das desavenças, nunca esperou algo tão cruel de seu pai. Steven parecia envergonhado com o seu comportamento. Os olhos estavam um pouco marejados e ele não conseguia falar. - Me diz, Steven: isso é verdade? - Ele perguntou outra vez. sabia que o Mark não mentiria sobre isso, mas ele queria ouvir o pai assumir a covardia. O silêncio e a expressão facial de Steven foi o bastante para responder a pergunta. demorou poucos segundos para reagir da maneira que qualquer outra pessoa no mundo reagiria. Ele foi pra cima de Steven, agarrou a sua camisa e o pressionou contra a parede. - Seu desgraçado! Você tem noção do que poderia ter acontecido por causa desse seu egoísmo de merda? Você tem noção!? - esbravejou. Ele referia-se ao que poderia ter acontecido ao Mark.
- Eu… não doei porque eu não quis. Eu não doei porque eu não podia doar. - Steven disse de maneira fragilizada.
- Não podia? - ironizou.
- Eu não podia doar porque… - Steven hesitou antes de continuar a frase. Não tinha mais como e porque esconder. - Eu estou doente. Eu tenho uma doença grave e terminal nos pulmões e, por isso, não posso fazer doações de sangue. - Ele finalmente fez a grande revelação, que tirou imediatamente o ódio dos olhos de seus filhos. Sem dizer absolutamente nada, soltou o pai e então, olhou para o irmão mais velho. Eles perguntavam um ao outro ‘E agora?’.





Capítulo 57 – Exposed Party



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- Você está mentindo. - Mark foi o primeiro a se manifestar.
- Não. - Steven negou imediatamente.
- Você está mentindo! - Mark acusou novamente. - Sua máscara caiu de vez, não é? Você só está procurando um motivo para se justificar. - Ele completou, indignado.
- Você realmente acha que eu não salvaria a vida do meu filho se eu pudesse? - Steven argumentou.
- Eu acho! Aliás, eu sei! - Mark respondeu na mesma hora.
- Eu já te disse isso uma vez e vou dizer de novo: eu não sou o monstro que você pensa ou que você quer que eu seja! - Steven demonstrou irritação.
- Você não acredita nele, não é? - Mark deixou de dirigir a palavra ao Steven para que não perdesse a paciência de vez e encarou o irmão, que ainda não havia se manifestado sobre o assunto. o olhou, mas manteve-se em silêncio, o que deixou o irmão bastante preocupado. - ! - Ele chamou a atenção do irmão, tentando incentivá-lo a responder. Ele parecia um pouco distante. - , você não acredita nesse cara, né? - Mark repetiu a pergunta com tanta ênfase, que o foi obrigado a voltar para a realidade.
- Não. - o olhou, um pouco contrariado, e afirmou. - É claro que não. - Ele completou, vendo uma expressão de decepção no rosto do pai.
- … você sabe que eu jamais deixaria que algo de ruim acontecesse com você. Você sabe! - Steven tentou apelar para o lado emocional.
- MAS VOCÊ DEIXOU! - Mark perdeu o controle novamente. Ele simplesmente não conseguia tolerar tanto falso moralismo. - VOCÊ DEIXOU! - Ele reafirmou, apontando o dedo bem na cara de seu pai. - E você tem muita sorte de eu ter conseguido resolver tudo isso sozinho e a tempo, porque se eu não tivesse, você não estaria aqui fazendo esse falso drama, que chega a me dar nojo. - Nesse momento, afastou o irmão do pai.
- Vocês têm que acreditar em mim. Ao menos você, . - Steven tentou mais uma vez.
- Eu não vou perdoar você, Steven. E não é nem por mim. Eu não me importo com os seus deveres e obrigações de pai. Eu não me importo se você está preocupado ou não com a minha felicidade, mas… eu me importo com ele. - Ele apontou para o irmão. - Eu me importo se ele arrisca a vida dele por mim porque você simplesmente não conseguiu agir, ao menos uma vez, como o pai que um dia você foi. - foi sincero e, inevitavelmente, grosseiro. - Tirando tudo isso, eu acho que posso te agradecer ao menos por uma coisa. - Ele fez uma breve pausa. - Obrigado, Steven, por não ajudar a salvar a minha vida e por não alimentar a esperança dentro de mim de que você, lá no fundo, poderia ser o mesmo de anos atrás. Muito obrigado. - foi extremamente frio. Steven não pode acreditar no que tinha escutado e o Mark chegou até a sentir um pouco de orgulho, apesar de se sentir um pouco mal pelo irmão. - Bem, o eu recado já está dado. Procura um novo alvo pra essa sua obsessão doentia. - Ele deixou de olhar para o pai e virou-se, olhando para o Mark. - Vamos. - foi saindo em direção a porta e o irmão foi logo atrás dele, sem dizer absolutamente nada.
- Você consegue acreditar nisso? - Mark perguntou com indignação, enquanto eles se aproximavam do carro. - Quando eu penso que esse cara passou de todos os limites, ele me vem com essa! - Ele completou. - Ele sabe que foi longe demais dessa vez e está tentando nos sensibilizar. - Eles já estavam no carro, mas o Mark continuava furioso. - Agora, ele está tentando se fazer de vítima e fazer de nós os culpados. Qual o problema com esse cara? - Mark terminou a frase e notou que o irmão continuava calado. Ele nem ao menos o olhava. - ! - Ele chamou pelo irmão, que parecia estar com a cabeça bem longe dali. o olhou na mesma hora, demonstrando estar um pouco confuso. Eles trocaram olhares por poucos segundos. - Não me diga que… você acreditou nele? - Por um momento, Mark torceu pela resposta negativa, mas a expressão no rosto do irmão o fez desistir. - Ah não, cara! - O irmão mais velho negou com a cabeça, incrédulo.
- É claro que não! Deixa de ser idiota. - desconversou, demonstrando irritação.
- Olha pra você! - Mark referia-se a expressão no rosto do irmão.
- Ok! Quer saber? Ele pode mesmo estar falando a verdade, mas não faz a menor diferença porque eu não me importo! Eu não me importo se ele está morto, se está vivo ou se ele é a porra de um walking dead. - Ele se exaltou mais do que gostaria. - Feliz? - Perguntou retoricamente. - Agora, vamos logo pra casa. O que era para ser feito, já foi feito. - Ele disse de maneira mais calma.
- Ir pra casa? Minha casa você quer dizer. - tinha falado com tanta autoridade e com tanta estupidez, que Mark procurou qualquer coisa que pudesse questioná-lo.
- Sério?! Serio mesmo que você quer começar uma briga aqui e agora? - nem conseguia disfarçar o quanto a notícia que seu pai tinha dado havia deixado ele nervoso.
- Brigar? Você acabou de sair do hospital. - Mark rolou os olhos.
- E? - se fez de bobo apenas para não demonstrar fraqueza.
- E ai que eu não sou de chutar cachorro morto. - Mark demonstrou indiferença com o tom ameaçador do irmão.
- Quem você está chamando de cachorro morto? Me respeita, palhaço! - Mesmo sabendo que o irmão tinha razão, não perdia a compostura nunca.
- Cala a boca e dirige. - Mark ignorou os insultos. Sabia que o irmão dizia qualquer coisa para não perder uma briga.
- ‘Cala a boca e dirige’. - imitou o irmão, usando uma voz mais fina. Mark não respondeu, mas deixou de olhar a tela do seu celular por um momento para rolar os olhos em meio a um suspiro.

Não dava pra negar. O tinha mesmo ficado um pouco abalado com a possível doença grave que o pai tinha. Apesar das desavenças e dos erros contantes do Steven, ele ainda era o seu pai. Diferente do Mark, tinha um grande passado com aquele homem que tinha sido o herói de toda a sua infância. Uma época que foi tão feliz e que foi interrompida por um trauma que marcou toda a sua adolescência. Bem, o trauma continuava o mesmo, mas o pai não, pelo menos, não completamente, mas isso não fazia a menor diferença. Steven ainda era o pai e o ainda era o filho.

Naquela noite de sexta-feira, depois de tanto chorar por causa do meu último encontro com o , eu me encontrava na minha cama. Passava alguma coisa na TV e eu mal estava prestando à atenção. Meus olhos encaravam o teto do quarto, enquanto as últimas frases ditas pelo ecoavam na minha cabeça. As batidas das portas de um carro me trouxeram para a realidade. Ainda deitada na cama, eu olhei em direção a janela do meu quarto. Eu sabia que o e o Mark tinham acabado de chegar. Eu bem que tentei me conter. Eu juro que tentei, mas eu tive mesmo que ir até a janela e abrir discretamente a cortina do quarto. Eu só queria ir até lá para recebê-lo e dar as boas vindas, depois de todo aquele tempo que ele ficou no hospital. Eu não podia. Se o realmente queria se afastar, e confesso que ele realmente tinha o melhor motivo de todos para fazer isso, eu respeitaria a sua decisão.

- Precisa de ajuda? - Mark perguntou, cuidadoso com o irmão.
- Não precisa. - afirmou, segundos antes de fazer careta ao tentar sair do carro. - Está bem. Me dá uma mão aqui. - Ele cedeu, irritado. odiava ficar dependendo dos outros.
- Ok. - Mark estendeu uma das mãos, a segurou e o irmão o puxou.
- Valeu. - Ele agradeceu.
- Dá pra andar? - Mark ainda estava preocupado.
- Por quê? Você vai me carregar no colo? - perguntou em tom de deboche.
- Eu posso tentar se você… - Mark brincou, aproximando-se do irmão.
- Ei! Ei! Não se aproxima. - esquivou-se, fazendo com que o Mark gargalhasse.
- Vem logo! - Mark o apressou, andando em sua frente. foi logo atrás, pois estava andando um pouquinho mais devagar do que o normal. - Entra ai! - Ele destrancou a porta da casa e entrou. entrou atrás.
- Tem certeza que posso ficar aqui na sua casa? Eu poderia ter voltado pra Atlantic City, mas não quero atrapalhar a minha mãe. Ela fica preocupada demais. - perguntou e, em seguida, se explicou.
- Essa não é a minha casa. É a nossa casa. - Mark fez questão de corrigi-lo. não conseguiu conter o sorriso ao ouvir a frase do irmão.
- Você está querendo dizer que nós somos um casal agora? - sempre brincava para desconversar nos momentos de irmãos.
- Se esse é mais um dos seus jeitos tortos de dizer ‘obrigado’, bem… de nada! - Mark ironizou.
- Nós podemos deixar esse momento comovente de irmão para outra hora? Eu preciso muito jogar uma partida. Joga comigo? - apontou para o seu videogame, que estava instalado na TV da sala do Mark.
- Previsível. - Mark riu, enquanto rolava os olhos. - Vai jogando aí! Eu vou levar suas coisas para o quarto de hóspedes. - Ele levantou-se do sofá.
- Que? Quarto de hóspedes? - arqueou uma das sobrancelhas.
- Você não pode ficar morando no meu sofá o resto da vida, né? - Mark pegou a mala e algumas outras coisas do irmão, que estavam no canto da sala.

não disse mais nada, mas ficou bastante surpreso e feliz com a notícia. Ele finalmente dormiria em uma cama novamente! Apesar de estar bastante feliz com a cama nova, o que realmente o deixou radiante foi a atitude do irmão mais velho. Mesmo estando bastante em choque com a notícia, voltou a dar toda a sua atenção para a TV e o videogame em sua frente. Ele ligou o jogo como se fosse a primeira vez. Começou a jogar, quando o Mark aproximou-se, sentou-se ao seu lado e pegou o controle do videogame.

- Eu começo! Não vou ter dar moleza não. - Mark provocou, sem olhar para o irmão. , no primeiro momento, não disse nada. Ele apenas sorriu.
- Obrigado, irmão. - finalmente agradeceu por tudo. Mark o olhou e sorriu, sem dizer nada.
- Isso é realmente lindo, mas eu sinto muito informar que eu vou acabar com você. - Mark tentou levar o momento um pouco mais na brincadeira, pois sabia como aqueles momentos eram para o .
- Quero só ver! - voltou a sua atenção para a TV com um enorme sorriso. Fazia algum tempo que ele não tinha um momento feliz e tranquilo como aquele. Apesar de tudo o que tinha acontecido naquele dia, estava imensamente feliz.

Quatro semanas se passaram e eu tive que reconhecer: foi bem difícil ficar fugindo e evitando encontros com o durante todo esse tempo. Infelizmente, a minha relação com o Mark acabou sendo um pouco prejudicada com essa situação. Diferentemente do que acontecia antes, eu não ia mais na casa dele e nós também não fazíamos nada juntos, pois se fizéssemos, o também teria que ser convidado. Porém, mesmo com todas essas divergências, o Mark sempre dava um jeitinho de me ver ou me encontrar quando eu chegava ou saia de casa. Esse jeito dele de tratar toda essa situação me fez sentir um pouco mais de admiração por ele. Admiração sim, pois na situação em que ele se encontrava, seria muito mais fácil para ele se ele desistisse de mim. Ele nunca desistia de mim. Mesmo sem receber qualquer tipo de esperança ou qualquer outra coisa em troca, o Mark continuava se preocupando e cuidando de mim.

Agora, quanto ao , eu fiquei realmente muito orgulhosa de mim mesma por conseguir ficar sem vê-lo e evitá-lo por um mês. Sim, um mês já havia se passado. Eu quis muitas vezes olhar pela janela, quando ouvia o carro dele sendo estacionado na garagem da casa do Mark ou quando ouvia a voz dele reclamar do Mark por causa da maneira que ele havia estacionado o carro. Foi muito difícil e desconfortável para mim, mas foi necessário.

Dois meses depois e as coisas começavam a voltar ao normal. Não que eu já tivesse superado o ou o que tinha acontecido, mas eu já não ficava pensando tanto nisso e nem me preocupava tanto no que aconteceria dali pra frente. Porém, o meu sossego não durou tanto quanto eu gostaria. Na verdade, durou até aquela sexta-feira a tarde, exatamente no momento em que eu recebi o telefonema da minha melhor amiga, . Ela me ligou para me dar a notícia de que ela e o resto do pessoal viriam para Nova York no dia seguinte para fazer uma visita surpresa ao . Bem, eu não a culpo. Ela não sabia dos últimos ocorridos e, por isso, não sabia que estava me dando uma péssima notícia. Como eu evitaria o , sendo que todos os nossos amigos estariam em Nova York? Como eu evitaria uma reunião de amigos que, inevitavelmente, aconteceria?

- Você estará em casa, certo? - me perguntou ao perceber que eu não havia me manifestado nos últimos segundos.
- Eu… - Eu tive um colapso mental. O que eu ia dizer? Qual era a desculpa? - Eu… vou trabalhar. - Eu finalmente respondi.
- Não brinca! - pareceu decepcionada.
- Pois é… eu já tinha combinado com… o meu chefe. - Eu fechei os olhos, me odiando por estar mentindo para a minha melhor amiga.
- Não acredito! - suspirou. - Mas… e a noite? Você estará em casa no sábado a noite, né? - Ela fez uma nova pergunta.
- Eu não sei. Eu não sei até que horas vai o… plantão no sábado. Faz alguns sábados que eu não trabalho, então… - Mais uma mentira.
- Você está falando sério mesmo? - achou que eu pudesse estar brincando.
- Estou! - Eu confirmei na mesma hora. - Mas, a casa estará a disposição de todos vocês, é claro. Vocês podem dormir aqui. Eu chego a tempo de ver todos vocês antes de dormir. - Eu arrumaria um jeito de vê-los.
- Bom, pode ser. Melhor que nada, não é? - já não estava tão empolgada quanto antes.
- Hey, não fique assim, está bem? As férias estão chegando e vamos dar um jeito de nos reunir, ok? Eu prometo! - Eu não sabia como isso aconteceria, mas… um problema de cada vez!
- Ok! - concordou.
- Que horas vocês vão vir amanhã? - Eu perguntei, pois precisava saber exatamente o período que eu teria que permanecer fora de casa.
- O trabalha até a hora do almoço, então eu acho que nós vamos almoçar e ir.- Ela explicou. - Vamos ter que ir embora no domingo de manhã porque o tem um compromisso com o pessoal da faculdade. Ele tem que ensaiar a apresentação de um seminário ou algo assim. - Ela contou.
- Que pena! Bem, ao menos vamos nos ver no sábado a noite. - Eu lamentei. - De qualquer forma, eu vou deixar a chave da casa com o Big Rob e vou avisar a ele que vocês vão vir. - Eu disse.
- Está bem. - afirmou.
- Eu não estarei em casa, mas fiquem à vontade, ok? Eu vou tentar voltar pra casa o mais rápido possível. - Eu já estava triste por pensar que não passaria mais tempo com todos eles.
- Obrigada, ! Eu te vejo amanhã! - sorriu ao ouvir as minhas palavras.
- Até amanhã. - Eu respondi.
- Amo você. - Ela disse, esperando a minha resposta.
- Eu também. - Eu sorri fraco ao responder e desliguei o celular em seguida.

Eu juro que, por um momento, eu pensei: ‘Por que eu tinha que arcar com as consequências de uma decisão que foi tomada pelo ? A decisão foi dele, não minha!’. Evitar um clima ruim? Evitar recaídas? Eu não sei explicar. Eu sentia que devia isso a ele. Pra que deixar as coisas mais difíceis pra ele? Pra que forçar um reencontro que só vai servir para nos deixar desconfortáveis? Respeitar a decisão mais madura que ele já havia tomado era a melhor coisa que eu podia fazer por ele.

Depois da ligação, a primeira coisa que eu fui fazer foi falar com a Meg. O plantão daquele sábado seria dela, por isso, além de pedir a ela para trabalhar em seu lugar, eu ainda teria que dar uma ótima desculpa para pedir isso a ela. Tentei encontrar uma boa justificativa até o final do nosso expediente no hospital, mas foi praticamente impossível. Com isso, eu tive que falar com ela sem saber muito bem o que eu iria dizer.

- Amanhã? - Meg estranhou o meu pedido.
- É! Na… semana que vem eu tenho um compromisso, então… seria melhor se eu trabalhasse nesse sábado e não… no próximo. - Eu tentei ser bem convincente.
- Tudo bem, mas eu achei que você ia querer ficar com os seus amigos amanhã. - Meg continuou estranhando o meu pedido.
- E você vai querer ficar com o , certo? Eu vou fazer isso por vocês dois também. - Agora sim eu tinha uma boa justificativa.
- Ok, deixa eu ver se entendi. Você está me pedindo para trabalhar no meu lugar amanhã que, por acaso, seria o seu primeiro dia de folga nos últimos… eu não sei… 2 meses? - Meg me olhou, arqueando uma das sobrancelhas.
- Exatamente. - Eu confirmei.
- Ok! Você está doente. - Meg afirmou na mesma hora.
- Meg… - Eu rolei os olhos.
- É sério! Você só pensa em trabalhar e… fazer horas extras. O que você está querendo? Dormir com o diretor-chefe do hospital? - Ela perguntou em tom de ironia.
- Fala baixo! - Eu a olhei feio.
- Você não tem mais vida social. - Meg disse, demonstrando preocupação.
- Olha só quem fala! - Eu fiz careta.
- Ei, isso não é justo! Eu não acho legal sair sem o . É só por isso que eu não tenho saído. - Meg se defendeu.
- Olha, você está exagerando. - Eu cruzei os braços.
- Estou? Me diz ai qual foi a última vez que você saiu pra algum lugar. - Meg também cruzou os braços, me desafiando. - Não! A Biblioteca de Medicina não conta! - Ela se antecipou.
- E que tal um encontro? - Eu cerrei os olhos na direção dela.
- Um encontro? Você foi a um encontro? - Meg ficou desconfiada.
- Eu não fui a um encontro. Eu vou a um encontro. - Eu estava improvisando.
- Posso saber com quem? - Meg continuava desconfiada. - Se você disser o nome de algum personagem de Grey’s Anatomy, eu te mato. - Ela ameaçou.
- Eu não ia dizer. - Eu neguei com a cabeça. Ok, talvez isso tivesse passado pela minha cabeça.
- Com quem? - Meg insistiu.
- Com… - Eu hesitei algum tempo antes de concluir a frase. O motivo era bem simples: eu não tinha um encontro. Nos segundos em que fiquei pensando em um bom nome, um dos enfermeiros do hospital passou por nós. Ele era simplesmente o cara mais tedioso que eu já havia conhecido e já tinha me convidado para sair mais de 4 vezes. - Com o Knox. - Foi a melhor companhia que eu consegui arranjar em menos de 30 segundos.
- Com o Knox? - Meg fez careta. - Você está falando do cara que almoça todos os dias sozinho no vestiário do hospital? - Ela estava perplexa.
- Qual é! Ele é bonitinho. - Eu argumentei.
- O nome dele á Knox, ! - Meg não conseguia se conformar.
- É só um encontro. Eu não vou me casar com ele. - Eu rolei os olhos. Ela sempre era muito radical e dramática.
- Ok! Você deve saber o que está fazendo. - Meg achou melhor nem insistir no assunto. - Então, você vai trabalhar amanhã e vai sair com o Knox a noite. Uau! Sua vida realmente está uma droga. - Ela debochou.
- Para com isso! - Eu disse, tentando não rir do comentário dela. O velho ‘rir pra não chorar’, sabe?
- Já parei. - Meg gargalhou. - De qualquer forma, obrigada. A sua insanidade me deu algumas horas a mais com o . Obrigada! - Ela agradeceu com o seu jeito torto de sempre.
- Tudo bem. - Eu respondi, negando com a cabeça.
- Nos vemos por ai. - Meg se aproximou e beijou o meu rosto, depois de pegar a sua bolsa, que estava sobre a cadeira. - Me liga pra contar sobre o encontro com o Knox, ok? Não esquece de levar um energético para se manter acordada. - Ela brincou e eu a reprovei com o olhar.
- Dá logo o fora daqui. - Eu disse aos risos.

Fiquei algum tempo observando ela se afastar. O que eu estava fazendo? Olhei para trás e avistei o Knox no final do corredor. Ele olhava o quadro de avisos dos funcionários. Estava tão concentrado, que não me viu encará-lo por mais ou menos 5 minutos. Sim, eu estava tomando coragem para ir até lá. Não pode ser tão ruim, pode? Além disso, seria muito bom me distrair. Eu estou aceitando qualquer coisa.

- Oi… - Eu me aproximei e ele me olhou imediatamente.
- Oi, . - Knox sorriu pra mim.
- Lendo os avisos, huh? - Olhei para o quadro em nossa frente.
- Estou. Eu sou meio distraído e costumo deixar muita coisa passar. - Ele riu.
- Eu também. - Eu também ri, apenas para não deixá-lo sem graça. O silêncio constrangedor começou e aquela foi a minha deixa.
- Então, eu… eu estava pensando em fazer alguma coisa amanhã a noite e estava me perguntando se… de repente… você vai estar livre amanhã. - Eu estava mesmo chamando o cara pra sair. Quando foi que eu virei essa pessoa?
- Amanhã? - Knox pareceu surpreso. Só me faltava levar um fora. - É claro! Claro! Eu estou livre. - Ele não escondeu a empolgação.
- Legal. - A empolgação dele me fez sentir um pouco de vergonha alheia.
- Eu passo te pegar na sua casa. - Knox demonstrou educação e cavalheirismo.
- Não, não! Não vai ser necessário. Eu… não vou estar em casa. Eu… vou ao restaurante. - Eu neguei imediatamente. - Você estava pensando em um restaurante… certo? - Eu fiz careta. Eu nem mesmo sabia onde nós iríamos.
- Estava. Você gosta de comida japonesa? - Ele perguntou.
- Perfeito. - Eu confirmei.
- Você tem algum restaurante favorito? - Knox me perguntou.
- Aquele… ao lado do Shopping. Perto daqui. - Eu não tinha certeza se ele conhecia.
- Lá é ótimo! - Ele concordou. - 20hrs? - Perguntou.
- Pode ser. - Eu afirmei com a cabeça.
- Então, eu te encontro lá amanhã. - Knox sorriu.
- Até amanhã. - Eu estava um pouco constrangida com o que tinha acabado de fazer, mas me afastei sorrindo como se não houvesse amanhã.

Cheguei em minha casa no início da noite e foi só no momento em que eu entrei no meu quarto e olhei para a minha cama que eu notei o quanto eu estava exausta. Eu só queria deitar, dormir e acordar na semana seguinte. O cansaço extremo era resultado do excesso de trabalho nas últimas semanas. Não trabalhar no dia seguinte era tudo o que eu mais precisava, mas eu teria que abrir mão disso também. Por quanto tempo eu vou aguentar essa vida?

Acordei um pouco mais cedo do que o normal naquele sábado pois, além de me arrumar para o trabalho, eu ainda teria que separar as roupas e as coisas que eu usaria para me arrumar pro meu encontro com o Knox, já que depois que eu saísse do trabalho, eu não poderia voltar para casa. Arrumei uma pequena mochila e levei algumas coisas para o carro. Conferi dezenas de vezes se realmente eu não havia esquecido de nada antes de sair de casa. Deixei a chave da casa com o Big Rob para que os meus amigos e o meu irmão pudessem deixar suas coisas e também deixei a chave para que a moça que eu havia pagado para fazer uma boa faxina na casa pudesse entrar.

Ao contrário de mim, Mark e acordaram um pouco mais tarde. Ambos não trabalhariam naquele dia e não tinham nenhum tipo de obrigação. Mark sabia da surpresa que os amigos fariam para o irmão e seu único trabalho era manter o em casa até a hora que eles chegassem. Apesar disso, ele pôde seguir um pouco da sua rotina diária sem prejudicar a surpresa. Ele leu as páginas policiais do jornal, foi até a padaria para preparar um café da manhã descente. Sua ida até a padaria também serviu para que ele estranhasse o fato do meu carro não estar na garagem. Ele achou que tivesse me escutado dizer que eu não trabalharia naquele sábado.

Eu estava literalmente trabalhando à base de café. Era só 1 hora da tarde e eu já havia perdido a conta de quantos cafés eu já havia tomado. Aquela era a única maneira de me manter acordada e atenta ao que eu precisava fazer. O período da manhã era sempre mais complicado porque era o período menos movimentado do hospital e também era o período ao qual eu não estava acostumada a trabalhar. O grande movimento de pacientes no período da tarde me deixava mais agitada e, consequentemente, mais acordada. Honestamente, não estava sendo nada fácil ser eu nos últimos meses.

Passado poucas horas do horário do almoço, e os amigos estavam chegando em Nova York. Mark tinha feito um bom trabalho até então, já que o não havia desconfiado de nada. A missão do Jonas mais velho pôde ser considerada cumprida no instante em que a campainha foi tocada. estava na mesa de jantar, analisando algumas cláusulas do contrato com o Yankees e o Mark estava sentado no sofá da sala.

- Ei! Você não vai atender? - perguntou, demonstrando impaciência. A campainha já havia sido tocada mais de 3 vezes. Mark queria que o irmão atendesse. Era parte da surpresa!
- Fica à vontade. - Mark fingiu indiferença.
- É a sua casa! - A verdade é que o estava com preguiça de ir até a porta.
- Você nunca lembra disso na hora de comer toda a minha comida, não é? - Mark respondeu com um falso sorriso.
- Você nunca cansa de jogar isso na minha cara, né? - rolou os olhos ao levantar-se da mesa e ir lentamente em direção a porta. Encarou a porta, a destrancou e virou a maçaneta.
- SURPRESA! - Os gritos foram tão inesperados, que chegaram a assustá-lo.
- Mas o que… - não conseguiu nem reagir. , , , e o abraçaram e já foram entrando na casa. - O que vocês estão fazendo aqui? - Ele riu ao perguntar. Estava perplexo em ver todos os amigos ali.
- Nós gritamos ‘surpresa’. Você não ouviu? - perguntou, sentando-se no sofá, depois de cumprimentar o Mark. Aliás, todos o cumprimentaram, é claro.
- E você deveria pelo menos fingir que está feliz. - brincou.
- Está brincando? Eu estou feliz! - tentou compensar seus maus modos. - Eu só estou um pouco surpreso. - Ele sorriu, empolgado. - Vocês são sempre muito ocupados. Não acredito que conseguiram vir todos de uma vez. - Ele completou.
- Nós arrumamos tempo pra você! - sorriu.
- Sinta-se importante. Ela não tem arrumado tempo nem pra mim. - reclamou.
- Não repara. O tem andado bastante sentimental nesses últimos dias. - negou com a cabeça.
- E a sua namorada, ? Vai arrumar tempo pra você? - achou que Meg não viria.
- Ela deve estar chegando. - sorriu, vitorioso.
- Como eu senti falta de vocês! - estava em êxtase com a presença dos amigos e com as discussões bobas.
- Cara, nós conte como tudo isso aconteceu! - perguntou, curioso. - Você já está 100% recuperado? - Ele perguntou.
- Estou! Está tudo bem! - tranquilizou todos. - Eu… estava passando por um mercado. Reconheci o carro da e vi um cara armado se aproximando dela e do pai dela. - Mesmo querendo, ele não podia contar toda a verdade. - Eu não tive tempo de fazer mais nada a não ser entrar na frente do Sr. . Foi… espontâneo, sabe? - O que ele podia contar, ele contaria.
- Eu nunca vou cansar de te agradecer. - o olhou com admiração.
- Eu já percebi. Você me liga quase todos os dias para agradecer. - riu, negando com a cabeça.
- Sentimental demais. Eu disse. - entrou na brincadeira, fazendo a maioria rir.
- Ele salvou a vida do meu pai. Eu dou até um beijo na boca dele se ele quiser. - se explicou. - Mentira. Não dou não. - Ele fez careta, rindo.
- E depois? Do que você se lembra? - quis voltar ao assunto.
- A e o Mark me colocaram em um carro e me levaram para um hospital. Eu apaguei logo depois que cheguei no hospital e… só acordei dias depois. - continuou a explicação.
- Graças ao Mark. - disse ao sorrir para o amigo.
- Não foi nada. - Mark negou com a cabeça em meio a um sorriso sem jeito.
- Todos nós fizemos o teste de compatibilidade. Ninguém era compatível! - contou.
- Eu soube! - afirmou com a cabeça. - Se não fosse o Mark… - Ele achou que nem precisava terminar a frase.
- Agora, o Mark é o seu herói. Existe coisa mais irônica do que isso? - comentou.
- Você ficaria surpreso se soubesse. - Mark riu, sem emitir qualquer som. Ele referia-se ao fato de eles serem irmãos.
- Você está mesmo morando aqui? - quis saber.
- Provisoriamente sim! - confirmou.
- Então, agora vocês são melhores amigos? - perguntou, perplexo.
- Não exatamente. - respondeu e olhou para o Mark. Ele queria avisá-lo que contaria a notícia aos amigos.
- Um casal? - sugeriu, fazendo careta.
- Ele não faz muito o meu tipo. - Mark negou com a cabeça.
- É… seus olhos e a sua boca não são muito parecidos com os da mesmo. - concordou, recebendo olhares do .
- Se vocês não são melhores amigos e nem são um casal, o que vocês são, afinal? - estava confusa e curiosa.
- Eu tenho uma pequena história pra contar para vocês. - tentou segurar o sorriso. - Acho melhor vocês se sentarem. - Ele apontou para o sofá. Quem ainda não estava sentado, se sentou.
- Você vai contar mesmo? - Mark riu, surpreso. Ele achou que o irmão demoraria mais algum tempo para contar. afirmou com a cabeça.
- Não acredito que o vai finalmente assumir que é gay. Eu estou emocionado. - disse extremamente empolgado.
- Fica quieto. Deixa ele falar. - deu a bronca no namorado.
- Meu pai, antes de se casar com a minha mãe, namorou uma garota e a engravidou. - começou a contar.
- Não esperava menos do pai do Jonas. - ironizou, interrompendo o amigo.
- Shhhhh! - cutucou o namorado. - Continua. - Ela sorriu para o .
- Ele… engravidou uma garota mais nova. O nome dela era… Janice. - continuou.
- Janice… tipo a tia do ? - estranhou a coincidência.
- Não existe só uma Janice no mundo não, viu? - responde, achando a possibilidade completamente remota.
- Nesse caso, existe! - afirmou com um sorriso forçado no rosto.
- Mentira! - abriu a boca. arregalou os olhos.
- Como é? - estava perplexa.
- Espera! Você está dizendo que o seu pai engravidou… a minha tia Janice? - quase nem conseguiu concluir a frase.
- Então, você tem uma irmã? - também estava em choque.
- Ou um irmão. - corrigiu.
- Não pode ser. - desacreditou. Mark estava presenciando toda a conversa e estava até achando graça da reação de todos.
- Eu tenho um irmão. - confirmou a notícia.
- Nós conhecemos ele? - perguntou.
- Na verdade, ele está nessa sala. - Quando terminou a frase, todo mundo se entreolhou.
- Não! - foi a primeira a se manifestar.
- Impossível! - não conseguia acreditar.
- Você está querendo dizer que o Mark é filho da tia Janice e que ele é o seu irmão? - jamais superaria a notícia.
- Vocês são irmãos? - perguntou, fazendo careta.
- Essa é a coisa mais louca que eu já ouvi. - ainda estava boquiaberta.
- Não. Não! Isso é mentira. Vocês estão tentando nos sacanear. - se recusou a acreditar.
- É verdade, . - Mark confirmou, fazendo careta.
- Estou chocada. - não escondeu a perplexidade em seu rosto
- Se você é filho da tia da e do , então… você e a … - arqueou uma das sobrancelhas.
- Eles são primos! - completou a frase do amigo.
- Não somos primos de sangue. A tia Janice era adotada. - corrigiu os amigos.
- Eu sempre esqueço disso! - disse, demonstrando mais tranquilidade.
- Nós… deveríamos ser primos de consideração, mas eu acho que nem isso nós somos, já que nós crescemos sem saber de nada. - Mark adicionou.
- Você não sabia também? - quis saber.
- Não. Eu descobri recentemente também. - Mark contou.
- Eu continuo impactada. - negou com a cabeça.
- Se existe coisa mais irônica no mundo do que o fato de vocês dois serem irmãos, eu desconheço. - comentou, segurando o riso.
- Bem, isso explica o mesmo gosto por garotas. - não se conteve e acabou rindo.
- Haha. Muito engraçado. - fuzilou o amigo com os olhos e negou com a cabeça. Mark levou tudo um pouco mais na brincadeira. Ele já esperava essas brincadeiras.
- E a já sabe disso? - perguntou.
- Sabe. - Mark confirmou.
- Deixe-me adivinhar: os meus pais também já sabem. - fez cara de tédio.
- Eles também sabem. - Mark confirmou outra vez.
- Sempre o último a saber. - suspirou.

A novidade rendeu uma longa conversa entre todos que estavam ali. Houve deboche, risos e perplexidade por um bom tempo. Muitas perguntas foram feitas, mas algumas não puderam ser respondidas. Steven era um assunto proibido e ninguém poderia desconfiar que ele estava vivo. Ele era um problema exclusivo dos irmãos Jonas.

Meu turno no hospital acabou um pouco mais de 7 horas. Quer dizer, o turno acabou bem antes, mas eu acabei fazendo algumas horas extras. A vontade de ir para casa era enorme e a vontade de dar o bolo no Knox era ainda maior, mas eu não podia fazer isso. Mesmo estando cansada, fui até o estacionamento do hospital, peguei a minha roupa no carro e voltei para o hospital para me trocar em um dos vestiários. Apesar da minha pouquíssima vontade de impressionar o Knox, eu ainda era vaidosa e eu ainda estava indo para um encontro. Eu queria estar bem vestida (VEJA A ROUPA AQUI) e até investi um pouco na maquiagem. O cabelo ficou básico mesmo, já que não dava para fazer tanta coisa a respeito no vestiário de um hospital. Fazia tanto tempo que eu não tinha um encontro, que dava até para se dizer que eu estava um pouco animada. Não com a companhia, mas sim com o fato de ter que me arrumar e sair. Eu não fazia isso há algum tempo.

Sai do hospital discretamente e voltei para o estacionamento. Entrei no meu carro e passei um pouco de perfume antes de dar a partida no carro. O restaurante ficava bem perto do hospital, por isso, não demorei quase nada para chegar até lá. Quando desliguei o carro e já me encontrava no estacionamento do restaurante japonês, pensei em desistir novamente daquela ideia estúpida, porém, o manobrista do restaurante me encorajou a descer do carro.

- Bem vinda, senhorita. - O manobrista foi gentil ao abrir a porta. Não tinha mais jeito. Eu tive que descer.
- Obrigada. - Entreguei a chave do carro para ele e me afastei, caminhando até a entrada do restaurante. Ao chegar na porta, usei o meu sorriso mais falso de todos ao acenar para o Knox de longe, que só faltou subir em cima da mesa para que eu o encontrasse lá dentro. - Estou com ele. - Eu disse ao Maître que havia me recepcionado.
- Eu a acompanho até a mesa. - O Maître foi educado, como sempre. Ele me levou gentilmente até a mesa.
- Oi, Knox. - Eu tentei parecer animada ao cumprimentá-lo. Ele já foi logo se aproximando e beijando o meu rosto.
- Oi. - Knox estava visivelmente animado.
- Já escolheram o que vão beber? - O garçom que estava bem ao lado do Maître perguntou.
- Eu quero… - Eu estava pronta para pedir água, quando Knox me interrompeu.
- A carta de vinhos, por favor. - Knox estava mesmo tentando me impressionar.
- Aqui está. - O garçom entregou a carta de vinho nas mãos dele. Knox olhava a carta com muita atenção, mas eu tinha certeza que ele não fazia ideia do que estava fazendo. - Se me permite sugerir, o 5° vinho é o favorito dos nossos clientes. - O garçom achou que ele precisasse de ajuda.
- Pode ser esse. Obrigado. - Knox concordou imediatamente.
- E o que desejam comer essa noite? - O garçom perguntou. Já fui logo pedindo o meu prato para que o Knox não pensasse em se antecipar dessa vez. Logo depois de mim, ele também fez o pedido dele. - Pois não. - O garçom se afastou, depois de anotar os nossos pedidos, nos deixando sozinhos pela primeira vez naquela noite.
- Você está muito bonita. - Knox aproveitou a primeira deixa.
- Obrigada. - Eu agradeci em meio a um sorriso. - Gostei da sua camisa. - Tentei retribuir o elogio.
- Obrigado. Ela é nova. - Knox contou, olhando para a peça em seu corpo. Nós trocamos sorrisos, visivelmente sem assunto. - E como estava o hospital hoje? - Ele puxou assunto.
- Bastante movimentado. - Eu respondi com uma careta.
- Finais de semana são os piores. - Knox reclamou. - Muita gente e a supervisora fica no nosso pé. - Ele também fez careta. - Você conhece ela? Ela é muito chata. Uma bruxa, na verdade. - Knox começou o assunto que, acredite: durou mais ou menos 15 minutos. Sim! Ele ficou 15 minutos reclamando da supervisora dos enfermeiros. Só ele falou! Eu só afirmava, negava com a cabeça e me controlava para não bocejar. Os 15 minutos mais longos de toda a minha vida.

Ao contrário do que acontecia no restaurante japonês, todos estavam se divertindo na casa do Mark, que já se sentia um antigo membro do nosso grupo de amigos. O laço familiar entre ele o só serviu para aproximar ainda mais todos dele. Diferentemente de mim e do Knox, assunto não faltava para eles. Eles estavam sempre contando coisas, sacaneando e rindo um dos outros. A conversa entre todos eles só foi interrompida com a chegada da pizza, que o havia pedido há mais ou menos 40 minutos.

- Vocês colocaram a mesa, agora deixem que eu tiro. - Mark ofereceu-se, levantando da mesa. Eles haviam acabado de jantar. - Você me ajuda, Meg? - Ele pediu para a melhor amiga, que parecia ter entendido o recado.
- Claro. - Meg também se levantou, pegou alguns pratos e talheres e foi para a cozinha atrás do melhor amigo.
- Você sabe da ? - Mark finalmente perguntou. Ele achou muito estranho o fato de eu não ter aparecido para reencontrar os meus amigos.
- Você não vai acreditar. - Meg segurou o riso.
- O que? - Mark ficou muito curioso.
- Ela foi a um encontro. - Meg disse, rindo. - Ela não te contou? - Ela perguntou.
- Não contou. - Mark tentou demonstrar indiferença com a notícia. - Com quem? - Ele não conseguiu se segurar.
- Com o cara mais chato de todo o hospital. Só de falar nele, eu já fico sonolenta. - Meg disse, bocejando.
- Ela… gosta dele? - Mark sorriu para não demonstrar sua verdadeira reação.
- Gosta dele? Eu acho que ela nunca tinha falado com ele até ontem. - Meg fez careta. - Eu não sei o que deu nela. Até trabalhar no meu lugar ela quis. - Ela disse.
- Como assim? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- O sábado era meu essa semana. Ela trabalhou nos últimos sábados e ia folgar hoje, mas ontem ela me pediu para trabalhar no meu lugar. Eu não entendi nada. - Meg negou com a cabeça. A frase da amiga fez com que as coisas fizessem um pouco mais de sentido pro Mark. Ele sabia exatamente quais eram os meus motivos.
- Não sei como não pensei nisso antes. - Mark sorriu, negando com a cabeça.
- Pensou no que? Está maluco? - Meg fez careta, confusa.
- Você sabe onde está sendo esse encontro? - Mark ignorou as perguntas da amiga.
- No restaurante japonês. - Meg lembrou da breve conversa que havíamos tido naquela manhã pelo celular. - O favorito dela. - Ela completou.
- Sei qual é! - Mark disse, aproximando-se e beijando o rosto da melhor amiga. - Obrigado. - Ele agradeceu.
- Obrigado pelo quê? - Meg não tinha entendido nada. - Hey! Mark! - Ela gritou, vendo o amigo sair da cozinha.
- Pessoal, eu vou ter que dar uma saída. Aconteceu… um imprevisto no trabalho. Eu vou ter que… - Mark pegou o seu casaco que estava pendurado na cadeira e foi se dirigindo em direção a porta. Sabendo bem qual era o trabalho do irmão, não estranhou sua saída repentina. - Fiquem à vontade. - Ele gritou, antes de sair pela porta.
- Eu nem sabia que o Mark trabalhava. - comentou.
- E como você acha que ele banca uma casa como essa? - respondeu, desmerecendo a afirmação do amigo.
- Com a pensão que a sua família paga para ele… talvez? - sugeriu, segurando o riso.
- O que? Uma pensão? - arqueou ambas as sobrancelhas. - Como eu não sabia disso? Não é possível! - Ele reclamou.

Enquanto o tentava superar o fato de ser o último a saber de tudo, Mark aguardava ansiosamente pelo táxi que ele havia chamado através do celular. Ele resolveu chamar o táxi, quando percebeu que eu tinha ido com o meu carro. Se tudo ocorresse como ele imaginava, o carro dele seria totalmente desnecessário. Assim que o táxi chegou, ele entrou e falou o endereço do restaurante japonês para o taxista.

- Nenhum dos enfermeiros aguenta ela. - Knox continuava reclamando.
- Aham. - Eu não estava aguentando mais. Parecia que estávamos ali há uma hora, mas só haviam se passado 25 minutos. Nem a comida havia chegado ainda. Como eu vou sobreviver? - Então, a comida está demorando, né? - Eu tentei mudar de assunto.
- Está mesmo. Onde está o garçom? - Knox olhou em volta e não encontrou o garçom que havia atendido a nossa mesa. - Se você vê-lo, me avise. - Ele pediu, voltando a me olhar. - Mas então, você não vai acreditar no que aquela mulher fez semana passada! - Knox estava tentando me matar de tédio. Não era possível!
- O que? - Eu estava me controlando muito para não me levantar e ir embora. Era simplesmente o pior encontro de todos os tempos.

O taxista deixou o Mark em frente ao restaurante, ele pagou a corrida e dirigiu-se até a porta do restaurante. Ficou com receio de ser visto e decidiu olhar através de um dos vidros da janela do estabelecimento. Os olhos dele percorreram por todo o salão antes que ele me encontrasse. O sorriso no rosto dele foi completamente involuntário, quando ele viu a minha expressão de tédio e de saco cheio. Era impressionante a maneira como ele me conhecia. Só ao me olhar de longe, ele já sabia que eu estava desesperada para sair dali. Ainda achando muita graça da minha situação, ele pegou o seu celular e discou o número do meu celular.

- E ai ela entrou na sala e falou que… - Knox estava no auge da história mais chata da história, quando o meu celular começou a tocar em cima da mesa. Eu estava tão desesperada, que o toque do meu celular pareceu a música mais linda que eu já tinha escutado.
- Desculpa. Eu tenho que atender. - Eu fingi lamentar. - Alô? - Eu já sabia que era o Mark. Eu nunca fiquei tão feliz com um telefonema.
- Ele é tão ruim assim? - Mark riu silenciosamente ao perguntar. Ele observava a minha reação através do vidro da janela do restaurante.
- O que aconteceu? - Eu tentei evitar o sorriso.
- Sorria pelo menos. Eu já estou ficando com pena do cara. - Mark estava gargalhando no telefone.
- É muito grave? - Eu fingi preocupação. Knox me olhou, assustado.
- Pra você não esperar nem a comida chegar, deve ser bem grave mesmo. - Mark brincou, sem conseguir parar de rir.
- E onde você está? - Eu estava séria por fora, mas por dentro eu estava morrendo de tanto rir. Eu era uma excelente atriz.
- Eu estou aqui fora. Vim te resgatar. - Mark continuava me observando do lado de fora.
- Ok! Não saia daí! Não se mova. Eu estou indo, está bem? - Eu olhei para o Knox, que não demonstrou tanta decepção.
- Eu não vou me mover. - Mark afirmou, antes que eu terminasse a ligação.
- O que aconteceu? - Knox perguntou na mesma hora.
- Uma amiga minha levou um escorregão e acabou se machucando. Ela sempre me liga pra esse tipo de coisa. Ela não tem mais ninguém além de mim. - Eu odiava mentir, mas era extremamente necessário naquele momento. Questão de vida ou morte!
- Coitada. - Knox lamentou.
- Me desculpa! Eu vou ter que ir. - Eu disse com uma expressão de tristeza.
- Eu entendo totalmente! Pode ir! - Knox foi totalmente compreensivo. - Qualquer dia desses eu termino de te contar a história. - Ele completou. Ele estava me sacaneando, né?
- Combinado. - Eu forcei um sorriso, me levantando da mesa. - Desculpe novamente. - Eu me desculpei pela segunda vez.
- Fica tranquila! Melhoras para a sua amiga. - Knox disse, enquanto eu começava a me afastar.
- Valeu! - Eu sai rapidamente, ou melhor, desesperadamente do restaurante. Eu não aguentava ficar mais um minuto ali. Ao sair para o lado de fora, me afastei da porta para que o Knox não me visse e olhei para os lados, tentando encontrar o Mark. Sorri espontaneamente ao vê-lo encostado em uma das paredes do restaurante, bem ao lado de uma das janelas. Eu comecei a andar na direção dele e quando ele me viu, deu o sorriso mais lindo de todos.
- Eu não me movi! - Mark ergueu as mãos.
- Eu nunca fiquei tão feliz em te ver! - Eu me aproximei aos risos e o abracei.
- Sua cara estava ótima! Você não faz ideia. - Mark comentou, rindo.
- Como você veio parar aqui? - Eu fiquei curiosa.
- A Meg me contou sobre o encontro e sobre esse cara. Deduzi os seus motivos para estar aqui nesse restaurante e não na minha casa com os seus amigos. Resolvi vir até aqui e não pretendia te ligar ou interferir no seu encontro de qualquer maneira, mas quando eu te olhei por essa janela, eu não tive outra opção. Você estava implorando por ajuda. Eu não consegui evitar. - Mark contou com o seu bom humor de sempre.
- Eu estava ficando maluca lá dentro! Sério! - Eu disse e o vi rir novamente. - Pensa na pessoa mais chata que você já conheceu! - Eu fiz uma breve pausa. - Ele é 3 vezes pior! - Eu completei. - Sério! Muito obrigada por ter vindo! - Eu agradeci, olhando-o com carinho.
- Tudo bem. - Mark negou com a cabeça. - Vamos sair daqui? - Ele perguntou.
- Vamos! Ele não pode me ver. - Eu fiz careta, antes de começar a andar em direção ao estacionamento. Mark me acompanhou. Esperamos que o manobrista trouxesse o meu carro.
- Quer que eu dirija? - Mark se ofereceu e eu não pensei duas vezes antes de aceitar. Entramos no carro e colocamos o cinto de segurança. Mark deu a partida no carro e saímos do estacionamento do restaurante. - E ai? Pra onde? - Ele perguntou, dividindo a sua atenção entre o trânsito e eu.
- Para qualquer lugar, exceto a sua casa… ou a minha. - Eu iria para qualquer lugar com ele. Mark era sempre a melhor companhia.
- Certo. - Mark entendeu exatamente o que eu quis dizer. - E… você está com fome? - Ele perguntou.
- Para ser bem sincera, eu estou morrendo de fome. Você não faz ideia da quantidade de comida que eu tinha pedido naquele restaurante. - Eu disse e ouvi ele gargalhar.
- O que você quer comer? - Mark me levaria para qualquer lugar.
- Qualquer coisa. - Eu ergui os ombros, demonstrando indiferença.
- Que tal… um hambúrguer? - Mark perguntou, enquanto passávamos em frente a uma hamburgueria bem famosa na cidade.
- Perfeito! - Eu respondi na mesma hora.
- Certo. - Mark entrou com o carro na direção do restaurante e nos deparamos com uma fila enorme no drive thru.
- Nossa. Vai demorar. - Eu fiz careta. Com a fome que eu estava, seria um martírio enfrentar aquela fila.
- Vai. - Mark concordou. - E se entrássemos para comer? Pode ser mais rápido. - Ele sugeriu.
- Pode ser. - Eu concordei. Ele saiu da fila e seguiu em direção ao estacionamento do local que, apesar de estar bem lotado, tinha algumas vagas.
- Vamos lá. - Mark disse, abrindo a porta do carro. Eu fiz o mesmo e nós andamos até o restaurante.
- Uma mesa para dois, por favor. - Mark disse assim que a recepcionista do estabelecimento se aproximou.
- Eu peço mil desculpas pra vocês, mas o local está lotado! Vocês se importam de esperar uma das mesas desocupar? - A recepcionista nos olhou com muito pesar. Mark e eu nos olhamos.
- Eu… posso pedir para viagem? - Eu encontrei uma outra solução.
- É claro que sim. - A recepcionista afirmou.
- Então, eu vou fazer isso. - Eu estava com muita fome e não podia esperar.
- É só se dirigir ao balcão. - A recepcionista nos acompanhou até o local indicado por ela.
- Obrigada! - Eu agradeci.

O balconista me atendeu extremamente bem e anotou detalhadamente o meu pedido, que incluía refrigerante e batata frita. Mark pediu com jeitinho para que ele tentasse agilizar o meu pedido e o rapaz pareceu ter entendido. Depois de pagar pela comida (ele não me deixou pagar), Mark e eu esperamos até que o meu pedido ficasse pronto. Conversamos por aproximadamente 15 minutos até que o garçom trouxesse o meu pedido em um pacote. Peguei o pacote e o Mark pegou o meu refrigerante e nos dirigimos até a saída do restaurante.

- Ainda bem! O cheiro estava me matando. - Eu me referia ao cheiro delicioso de hambúrguer.
- Estava muito bom mesmo. Me deu até vontade de jantar de novo. - Mark concordou, enquanto andávamos até o carro.
- Eu te dou um pedaço do meu. - Eu disse assim que chegamos no carro.
- Onde você vai comer? - Mark quis saber se eu queria que ele me levasse para algum lugar.
- Aqui mesmo. - Eu coloquei o pacote com o meu lanche em cima do carro e me sentei com cuidado no capô. Mark achou graça da minha atitude. Ele adorava aquele meu jeito simples de ser. Não era qualquer garota que comia um hambúrguer no meio de um estacionamento, em cima do capô de um carro. - Meu Deus! Está divino! - Eu suspirei logo depois da primeira mordida. Mark sorriu, me observando. Ele estava apoiado no capô, bem ao meu lado. - Dá uma mordida. - Eu estendi o lanche na sua direção.
- Não. Pode comer. Obrigado. - Mark recusou, reconhecendo a minha educação por oferecer mesmo estando faminta.
- Qual é! Pega só um pedaço. - Eu insisti. - Você é o meu encontro agora. Não pode me deixar comer sozinha. - Ele não escondeu a sua reação extremamente fofa ao me ouvir dizer que ele era o meu encontro.
- Eu sou o seu encontro? - Mark sorriu de maneira doce.
- Você ficou com essa responsabilidade no momento em que você arruinou o meu primeiro encontro. - Eu ergui os ombros.
- Arruinei? Eu te salvei. - Mark riu, sem emitir som.
- Isso é o que você diz. - Eu mantive os ombros erguidos, mas deixei um sorriso escapar. Trocamos sorrisos por alguns segundos, antes que ele cedesse ao meu hambúrguer.
- Eu vou aceitar, mas só porque eu nunca recusei um hambúrguer na minha vida. - Mark se aproximou e deu uma mordida no hambúrguer, enquanto eu segurava o lanche. - Nossa! Está bom mesmo. - Mark concordou, impressionado.
- Eu disse. - Eu disse, tomando um gole do meu refrigerante. - E ai? Meus amigos são assim tão chatos para você tê-los deixado sozinhos na sua casa e estar comigo aqui nesse estacionamento? - Eu puxei assunto, enquanto comia as batatas.
- É claro que não. - Mark sorriu, negando com a cabeça. - Eles estão tão impactados com as bombas que o contou para eles, que eu tenho certeza que eles não vão nem sentir a minha falta. - Ele disse.
- Bombas? - Demorou alguns segundos para que eu me desse conta do que se tratava. - Ah! Ele contou? Contou sobre… vocês? - Eu também fiquei um pouco surpresa. Achei que ele esperaria mais um pouco mais para contar.
- Contou. Ele só omitiu a parte do Steven, é claro! - Mark confirmou.
- E qual foi a reação deles? - Eu fiquei curiosa.
- Sinceramente? Eu acho que eles vão levar alguns meses para assimilar tudo. - Mark disse, fazendo careta e me arrancando um sorriso.
- Foi o que eu imaginei. - Eu disse, rindo. Ficamos algum tempo em silêncio e ele chegou até a tomar um gole do meu refrigerante.
- Então, é isso o que você faz para fugir dos seus problemas? Faz horas extras no trabalho e vai a encontros horríveis. - Mark perguntou, sem qualquer tom de julgamento. Eu já tinha terminado de comer.
- Sobre as horas extras no trabalho, eu assumo. - Já que ele conhecia bem os meus motivos, eu não me sentia desconfortável com aquela conversa. - E até concordo com a parte do encontro, mas a parte do horrível eu não tenho tanta certeza, já que a noite ainda não acabou. - Eu disse, sorrindo fraco. - Eu ainda posso ter um ótimo encontro essa noite. - Faltou tanta sutileza da minha parte, que eu fiquei até um pouco sem graça. Mark entendeu exatamente o que eu quis dizer.
- Se depender de mim, você terá. - Mark sorriu de maneira encantadora. - Mas… e você? Vai me deixar salvar o resto da sua noite? - Ele estendeu uma de suas mãos na minha direção.
- É claro que sim. - Eu segurei a mão dele e com ela, ele me puxou e me ajudou a descer do capô do carro. Teria sido mais fácil se eu não estivesse vestindo saia. - O que você tem em mente? - Eu quis saber.
- Nós podemos dar uma volta. - Mark sugeriu.
- Pode ser, mas acho que vamos demorar um pouco para sair daqui. A fila para sair está enorme. - Eu fiz careta, olhando a fila bem atrás dele.
- Vamos a pé. - Mark deu poucos passos na minha frente, esperando que eu o acompanhasse.
- Não é muito perigoso? Já já está um pouco tarde. - Eu fiquei um pouco receosa.
- Você está segura comigo. - Ele sorriu pra mim de uma maneira que me convenceria de qualquer coisa.
- Certo. - Eu andei até ele. - Eu tinha esquecido que o meu encontro era com um agente do FBI. - Eu disse em um tom baixo, quase sussurrando. Ele riu sem emitir qualquer som.
- E então, como foi o seu dia? - Mark perguntou, enquanto andávamos lado a lado.
- Foi… muito melhor do que eu imaginava. - Eu respondi, virando o meu rosto para olhá-lo. - Se você tivesse me perguntado isso há 30 minutos, a minha resposta seria bem diferente. - Eu completei.
- Eu poderia dizer o mesmo. - Mark também me olhou.
- Suponho que você deva ter respondido muitas perguntas. - Eu deduzi, pois conhecia bem os meus amigos.
- Muitas. - Mark confirmou com a cabeça.
- Ei, olha! - Eu interrompi a nossa conversa. - É uma cabine de fotos. - Eu segurei a mão dele repentinamente e o arrastrei até uma cabine de fotos, que havia sido montada no meio da calçada. Era um pouco comum nas ruas de Nova York nos finais de semana. - Vamos? - Eu perguntei para ele, parando ao lado da cabine. - Nós não temos muitas fotos juntos. - Eu complementei com a intenção de convencê-lo.
- Vamos. - Mark não parecia tão empolgado quanto eu, mas ele gostou da ideia.

Tivemos que esperar um casal sair de lá de dentro da cabine e, enquanto isso, conversamos com o senhor responsável pelas fotos. Ele nos disse que era só seguir as instruções que apareceriam no monitor, que ficava dentro da cabine. O casal saiu e nós entramos. Conseguíamos nos ver no monitor, o que tornava tudo mais engraçado. Sorrimos somente na primeira foto. Na segunda, decidimos que faríamos uma careta e nas duas últimas, nossas poses foram extremamente espontâneas, já que não conseguíamos parar de rir da careta que havíamos feito na segunda foto.

- Vamos ver! - Saímos da cabine, ansiosos para vermos as fotos, que eram impressas na hora. - Meu Deus. - Eu voltei a rir.
- Olha a sua cara. - Mark também ria.
- A primeira ficou linda. - Eu disse, encantada.
- Quanto custa? - Mark deu atenção ao senhor, que esperava para receber o seu pagamento. Ele informou o valor e o Mark pagou, depois de pedir uma cópia das fotos. Ele queria guardar aquelas fotos. - Aqui. - Ele me entregou o cartão com as 4 fotos.
- Apesar de tudo, eu adorei as fotos. - Eu disse, olhando as fotos novamente. Voltamos a andar pela calçada.
- Eu também. - Mark sorriu ao olhar mais uma vez para o cartão em sua mão. - Eu vou guardá-las para não me esquecer nunca dessa noite. - Ele colocou o cartão cuidadosamente em seu bolso. Eu também guardei o meu cartão na minha bolsa, tentando não demonstrar o quão boba eu estava diante do comentário dele.
- E agora? - Eu perguntei, querendo saber o que faríamos a seguir. Andávamos lentamente pela calçada e eu percebi que ele estava se esforçando para pensar em uma alguma coisa.
- Ok. Eu tive uma ideia. - Mark parou repentinamente. Olhei para ele, ansiosa. - Não surta, ok? - Ele riu em meio a uma careta e me deixou extremamente desconfiada. Eu ainda estava sem entender até o momento em que ele agarrou uma das minhas mãos e me puxou.
- O que você está fazendo? - Ele estava me arrastando para dentro de academia de dança, que ficava naquela mesma calçada.
- Você gosta de dançar, não gosta? - Mark disse em um tom de voz mais baixo.
- Gosto, mas você odeia. - Eu respondi no mesmo tom de voz.
- Eu te disse que você ia se divertir, não disse? - Mark parou repentinamente e fez questão de dizer aquilo olhando pra mim. - Se você está feliz, eu estou feliz. - Ele completou com um sorriso admirável.
- Está bem, mas… - Eu olhei por cima dos ombros dele. - É uma aula particular. Não podemos invadir. - Os argumentos dele já haviam feito com que eu me derretesse toda. Eu ainda estava tentando ser racional, mas o sorriso bobo não saia do meu rosto.
- Eu te prometo que não vou deixar que você saia presa daqui. - Mark brincou, me fazendo rir.
- Tudo bem. - Eu ri, sem emitir qualquer som. - Mas… como vamos fazer? Não podemos simplesmente entrar e dizer: ‘Olá, viemos invadir a aula de vocês. Vamos dançar o que hoje?’. - Eu disse e ele gargalhou.
- Eu sei! Vamos esperar a música começar e ai nós entramos no meio dos outros alunos. A professora nem vai perceber. - Mark definiu o plano.
- Certo. - Eu disse, afirmando com a cabeça.

Ficamos bem atrás da porta e espiávamos através das frestas, esperando a música recomeçar. A professora explicou alguns passos de dança antes de colocar a música para tocar. Aquela era a nossa deixa! Entramos na sala rapidamente, mas tentamos não fazer tanto alarde. Poucos alunos que estavam no fundo da sala perceberam a estranha movimentação, mas a professora não viu absolutamente nada. Os alunos continuavam fazendo os passos, que continuavam sendo demonstrados pela professora e eu e o Mark começamos a imitá-los, sem fazer ideia do que estávamos fazendo. A música que tocava era uma valsa e, consequentemente, os passos eram lentos.

- Eu nunca vi ninguém dançando valsa sozinho. - Mark sussurrou na minha direção. Tentei olhá-lo feio, mas o sorriso no meu rosto me entregou.
- Isso. Agora, peguem o seu respectivo par. - A professora orientou, respondendo (sem querer) a dúvida do Mark. Ele se aproximou de mim e antes de me tocar, olhou para os casais ao nosso lado para ter certeza de que ele levaria as suas mãos aos lugares certos. Mark colocou uma de suas mãos nas minhas costas e a outra teve seus dedos entrelaçados nos meus. A mão que me restou, coloquei em um de seus ombros. - Nesse primeiro momento, comecem devagar. Mantenham a postura. - A professora orientou novamente. Mark e eu endireitamos os nossos corpos na mesma hora, o que nos fez sentir vontade de rir.
- A professora está vindo. - Eu disse em um tom de voz baixo. O receio que fossemos descobertos era enorme.
- Continue dançando. - Mark pediu, tentando me manter calma.
- Levantem mais esses cotovelos. - A professora deu a dica ao passar por nós. Mark e eu continuamos nos olhando e trocamos sorrisos.
- Como eles estão fazendo isso com os pés? - Mark perguntou, incomodado por não conseguir acompanhar os passos.
- Você está se saindo bem. - Eu o tranquilizei.
- Agora, façam o giro como eu demonstrei anteriormente. - A professora falou novamente. Fizemos o giro, mas mantemos os olhos nos outros casais para que não errássemos nada. Dançamos por um bom tempo e acabamos pegando o jeito da coisa.
- Eu ainda não acredito que estamos fazendo isso. - Eu sussurrei, olhando nos olhos verdes dele que pareciam me hipnotizar.
- Já está se divertindo ou… - Mark perguntou, enquanto continuávamos dançando entre os casais.
- Eu não sei. Eu acho que eu preciso de um pouco mais de tempo para responder. - Eu disse em um tom sério, mas ele percebeu que eu estava brincando.
- Ah! É mesmo? - Mark ironizou, fingindo estar ofendido. - Talvez você mudasse de ideia se eu dançasse um pouco melhor. - Ele afastou repentinamente o nosso corpo, me girou duas vezes seguidas e me trouxe novamente para perto, antes de jogar o meu corpo pra trás, me fazendo rir alto. Nós dois estávamos rindo e demoramos algum tempo para perceber que havíamos chamando a atenção de todas as outras pessoas da sala.
- Me desculpem, mas esses passos não fazem parte da minha aula. - A professora nos deu a bronca. Mark e eu nos recompomos na mesma hora.
- Eu sinto muito. Não queríamos atrapalhar a aula. - Mark tentou reverter a situação.
- Qual o nome de vocês mesmo? - A professora nos olhou de cima a baixo. Ela estava desconfiada.
- Nós somos… Alejandro e … Consuelo. - Mark tinha acabado de inventar os nomes. Eu tive que pressionar meus lábios para não rir. De onde ele tirou aqueles nomes?
- Ok. - A professora acreditou, mas manteve a desconfiança. - Eu vou apenas conferir a minha lista de alunos. - Ela virou-se de costas e começou a ir para um dos lados da sala, onde ficava a sua mesa. Mark e eu nos olhamos. Estávamos encrencados, mas o riso ainda estava em nosso rosto.
- Algum plano, Alejandro? - Eu sussurrei. Ele olhou discretamente em volta.
- Nós vamos correr em 3, 2… - Mark também estava sussurrando. - 1. - Ele terminou a contagem e no segundo seguinte, agarrou a minha mão e me levou às pressas até a porta. Nós saímos correndo de mãos dadas pelo corredor da acadêmia e corremos mais um pouco quando chegamos na calçada. Só paramos de correr quando vimos que estávamos longe da acadêmia de dança.
- Eu corri tanto, que até esqueci que eu estou de salto. - Eu disse, ofegante. - E de saia. - Eu fiz careta, descendo um pouco mais a minha saia.
- Você foi ótima. - Mark me tranquilizou.
- E você também foi. - Eu devolvi o elogio. - Você dançou muito bem. - Eu fiz questão de elogiá-lo.
- Eu já estou até pensando em abandonar a minha carreira no FBI. - Mark brincou.
- Você não dança tão bem assim. - Eu devolvi a brincadeira.
- Hey! - Ele fingiu me olhar feio e eu não consegui conter a risada.
- Sério. - Eu disse, depois que eu consegui parar de rir. - Você literalmente salvou a minha noite. Eu nem sei como te agradecer. - Eu o olhei com carinho.
- Eu sei como. - Mark não pensou duas vezes antes de responder. Confesso que não esperava por aquilo. - Me paga um sorvete. - Ele sorriu, apontando a cabeça na direção de a um carrinho de sorvete que tinha logo a nossa frente.
- Pago quantos você quiser. - Eu afirmei, enquanto nos aproximávamos do carrinho de sorvete. Pedimos os sorvetes ao sorveteiro e eu paguei pelos dois com todo o prazer do mundo. No fundo, eu sabia que o Mark só tinha usado o sorvete como desculpa para que eu me sentisse melhor por tudo o que ele tinha feito por mim.
- Eu tenho que dizer uma coisa: esse é o melhor encontro que eu já tive. - Mark disse, enquanto tomávamos o nosso sorvete. Andávamos lado a lado pelas calçadas de Nova York.
- Fazia muito tempo que eu não me divertia tanto. - Eu concordei com ele.
- Não foi um encontro muito convencional, né? Nós pulamos algumas etapas, mas não fez a menor falta pra mim. - Mark apenas comentou.
- Quer saber? Você tem razão! Nós pulamos a parte das perguntas. Você não perguntou sobre o meu trabalho, sobre a minha família ou sobre as minhas ambições para os próximos anos. - Eu disse.
- Deve ser porque eu já sei as respostas de todas essas perguntas. - Mark disse como se fosse óbvio.
- Ok. Já sei! - Eu tive uma ideia. - Você… tem que me contar uma coisa sobre você que eu ainda não sei. - Eu o desafiei.
- Você já sabe de tudo! - Mark tentou me fazer desistir daquela ideia.
- Eu duvido que eu saiba de tudo. - Eu cerrei os olhos.
- Olha, andamos tanto pelos quarteirões, que voltamos ao estacionamento da hamburgueria. - Mark apontou para o estacionamento logo a frente.
- Não muda de assunto. - Eu sabia o que ele estava fazendo.
- Eu não sei o que contar. - Mark tentou me despistar. Estávamos entrando novamente no estacionamento. Estava ficando muito tarde.
- Me conta alguma sobre mim. - Eu tentei ajudá-lo. - Alguma coisa sobre você e eu que eu ainda não saiba. - Eu melhorei a proposta.
- Eu conto, mas você vai primeiro! - Mark jogou a encrenca pra mim.
- Isso não é sobre mim. É sobre você. - Eu argumentei.
- Isso é sobre nós. - Mark me corrigiu. - Me conta alguma coisa que eu não saiba sobre nós e eu prometo que faço o mesmo. - Ele insistiu.
- Ok! Justo. - Eu não via porque não ceder.
- Muito justo. - Mark concordou.
- Eu preciso pensar. Espera. - Eu disse, apoiando as minhas costas na porta do meu carro. Mark estava parado na minha frente e me olhava, enquanto eu pensava.
- Lembrando que tem que ser uma coisa que eu ainda não saiba. - Mark reforçou. - E tem que ser uma coisa significativa. Não pode ser uma coisa boba. - Ele complementou.
- Ok. Eu já sei. - Eu disse um pouco mais séria. Eu não tinha certeza se eu queria mesmo dizer aquilo em voz alta. Não que fosse algo errado ou algo que eu me arrependesse, mas era uma coisa minha e eu não sentia necessidade nenhuma de expor isso pra alguém.
- Eu estou ouvindo. - Mark me deu toda a sua atenção.
- Eu vou te contar, mas eu não quero ouvir qualquer reclamação ou agradecimento, ok? Apenas ouça. - Eu impus a condição.
- Está bem. - Mark concordou, mas ficou um pouco desconfiado com a minha exigência. O que poderia ser?
- Ok. - Eu respirei fundo antes de começar a dizer. - Quando toda a coisa do Steven veio à tona e aconteceu tudo aquilo comigo e com o , eu… - Eu hesitei por alguns momentos, mas continuei olhando nos olhos dele. - Eu pensei mais de uma vez em voltar pra Atlantic City. Meus pais imploraram para que eu voltasse. Era mais seguro lá. Era longe do Steven. Era longe do , mas… também era longe de você. - Deixei de olhá-lo por um momento e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- Eu não entendi. - Mark continuou me olhando, confuso.
- Eu não quis voltar pra Atlantic City por você. - Eu disse sem demonstrar qualquer arrependimento. - Eu não queria que você ficasse sozinho. - Eu completei. Continuei olhando pra ele e acabamos trocando longos olhares em meio a um silêncio ensurdecedor. Eu o conhecia bem o suficiente para perceber que ele estava impactado com a minha revelação.
- Eu não acredito que você… - Mark negou com a cabeça.
- Sem reclamações. Lembra? - Eu o interrompi, antes que ele terminasse a frase.
- Eu sei. Eu sei. Você tem razão. - Mark negou com a cabeça novamente, sorriu desajeitadamente e levou as mãos aos rostos por poucos segundos. Ele estava tentando se recompor. - Minha vez, né? - Mark tentou seguir em frente.
- Sua vez, herói. - Eu afirmei com o meu melhor sorriso. Eu percebi que ele ainda estava perplexo.
- Sabe, é engraçado ver você me chamando assim. - Mark devolveu o sorriso. - Você deve saber que você também me salvou, quando você se mudou para a casa ao lado da minha. - Ele ficou um pouco mais sério. - Não que isso seja uma novidade pra você, mas naquela época a minha vida estava péssima. Eu tinha perdido a namorada, meu melhor amigo e toda a família que havia me restado. Eu não tinha nada. Eu nem mesmo tinha uma vida. Eu achava que nunca mais seria feliz e, por isso, acabei pensando em fazer muitas besteiras. - Ele estava contando com a serenidade que só alguém que superou muita coisa poderia ter. - E ai, você apareceu. Você mudou tudo pra mim. Você me mostrou que eu podia ser feliz novamente. Você me fez ver que, talvez, eu pudesse ter uma vida de novo. Você foi a única pessoa que foi capaz de me impedir de desistir. - Mark dizia cada palavra olhando em meus olhos. - E agora, eu tenho amigos, eu tenho um irmão e tenho uma vida de novo. Eu devo tudo a você. - Ele sorriu fraco, quando percebeu o quão abalada eu fiquei com a sua revelação. Devolvi o sorriso e me aproximei para abraçá-lo. Coloquei meus braços em volta de seu pescoço e ele me acolheu, como sempre.
- Obrigada por me contar. - Eu o abraçava tão forte, que tive certeza que ele conseguiu sentir o meu coração acelerado. Mark era uma pessoa tão incrível e sempre me fez tão bem, que era muito difícil controlar os meus sentimentos quando se tratava dele. Era a coisa mais pura que eu já tinha sentido por qualquer pessoa.
- Você está quebrando as regras. Não pode agradecer. - Mark tentou deixar o clima menos pesado.
- Você está certo. - Eu terminei o abraço, rindo. - Foi involuntário. - Eu fiz careta.
- Você está bem? - Ele percebeu que eu ainda estava abalada.
- Eu estou bem. É que… você pegou um pouco pesado. Eu não estava preparada. - Eu me justifiquei.
- Você também pegou bem pesado. - Mark respondeu. Um barulho vindo da minha bolsa interrompeu a nossa conversa.
- Espera. - Eu sabia que era o meu celular. - É a . Está me perguntando onde eu estou. Eles já estão na minha casa. - Eu resumi a mensagem que eu havia recebido.
- Seu plano funcionou! - Mark referia-se a minha fuga constante do .
- Sempre funciona. - Eu pisquei uma dos olhos pra ele. - Você dirige? - Eu pedi.
- Claro que sim. - Mark concordou. Eu joguei a chave em sua mão e fui para o outro lado do carro. Entramos no carro e seguimos para casa.

Ao chegarmos na minha casa, Mark e eu mal tivemos tempo para nos despedir, pois o meu irmão e os meus amigos não podiam saber que havíamos saído juntos. Infelizmente, eu não pude dizer a ele tudo o que eu queria dizer, mas os meus amigos não me deram tempo para ficar chateada por isso. Foi tão bom vê-los e abraçá-los novamente. Nós conversamos por horas e praticamente não dormimos naquela noite. Mark também não teve muito trabalho com o , já que a desculpa do trabalho tinha funcionado muito bem.

Na manhã seguinte, acabei acordando cedo, mas não tive coragem de levantar da cama. Eu sabia que o e os meus amigos ainda iam se despedir do e eu não podia correr o risco de encontrá-lo do lado de fora da casa. Consegui evitar novamente aquele reencontro, já que todos vieram se despedir de mim no meu quarto. Eles mal me deixaram levantar da cama, pois sabiam que eu precisava descansar, pois eu havia trabalhado muito no dia anterior. Me despedi com carinho de cada um deles e antes de irem embora, eles reforçaram a ideia de fazermos algo juntos no próximo feriado prolongado. Eu não prometi nada, mas também não neguei.

Quando eles saíram da minha casa, continuei na cama e do meu quarto consegui ouvi-los do lado de fora da casa. Eles se despediram do e do Mark. Eu não me atrevi sequer a olhar pela janela. Na verdade, eu nem ao menos tinha forças para isso, pois eu realmente estava muito cansada. Fazia semanas que eu estava exausta e parecia que eu nunca conseguia estar completamente descansada, por isso, promete a mim mesma que só sairia daquela cama naquele domingo para comer e ir ao banheiro.

As próximas semanas continuaram sendo cansativas. Juntou trabalho com a época de provas da faculdade. Quando eu não estava no hospital ou na faculdade, eu estava em casa estudando ou dormindo em cima dos meus livros de medicina. Foram semanas terríveis que eu queria esquecer. Eu mal consegui dar toda a atenção que o Mark merecia. Nós nos vimos sim quase todos os dias, mas sempre era muito rápido. De fato, eu precisava muito de férias.

Tudo indicava que as minhas férias antecipadas começariam no próximo feriado, que já estava bem próximo. O hospital me deu folga, isso queria dizer que eu teria 4 dias para descansar. Eu nunca tinha tido uma oportunidade tão incrível para hibernar por 4 dias seguidos. Esse era realmente o meu plano até eu receber o telefonema do . havia convidado todos para passar o feriado na casa do lago da tia Janice. Era o tipo de proposta que seria difícil de recursar.

- Não vou trabalhar. - Eu respondi, quando o meu melhor amigo perguntou.
- Então, você tem que ir. A , a e o também conseguiram folga no trabalho nesse feriado. - Eu estava ciente que o não desistiria até me convencer, mas o que realmente me chamou a atenção foi o fato de ele não ter mencionado o .
- E quem mais vai? - Eu perguntei, mas não consegui ser tão discreta quanto eu gostaria. - Vocês vão levar mais algum amigo de vocês ou… - Eu tentei consertar.
- Se o que você está querendo saber é se o vai, ele não vai. - respondeu com cara de tédio.
- Não era isso o que eu estava querendo saber. - Eu respondi, me fazendo de desentendida.
- Está bem. Vamos fingir e seguir em frente. - insistiu em sua afirmação. - Nós convidamos ele, mas ele disse que não vai. - Ele completou.
- Bem, eu vou ver o que eu consigo fazer. Eu não vou trabalhar, mas tenho alguns trabalhos da faculdade para finalizar. - Eu não quis dar certeza de nada.
- Vai ver o que consegue fazer? , você já foi melhor do que isso, sabia? O que está acontecendo com você? - perguntou, contrariado com a minha resposta.
- Eu sei! Me desculpa! - Eu me senti mal. Eu sabia que estava em falta com todos eles. - Eu prometo que vou tentar ir, ok? - Eu demonstrei que me esforçaria.
- Está bem. - concordou, mas parecia decepcionado.
- Eu amo você e sinto a sua falta. - Eu quis tentar agradá-lo, pois sabia que ele estava contrariado comigo.
- Eu também. - respondeu, antes de desligar a ligação.

Obviamente, eu me senti a pior pessoa do mundo. Eu queria muito passar o feriado prolongado com todos eles e aquela oportunidade era maravilhosa, já que o não estaria lá. Porém, eu realmente tinha alguns trabalhos da faculdade para finalizar. O que eu deveria fazer? Bem, a minha única opção foi tentar desesperadamente terminar aqueles trabalhos antes do feriado. Se eu conseguisse terminar, eu iria ao encontro dos meus amigos na casa do lago, caso contrário, eu passaria o feriado todo trancada dentro de casa e embaixo de dezenas de livros.

A situação do era um pouco parecida com a minha. A princípio, ele havia recusado o convite dos amigos e inventou uma desculpa qualquer, pois tinha certeza que eu viajaria com todos eles, já que a casa do lago era da minha família. Para o , era muito óbvio que eu estaria lá e, por isso, ele achou melhor evitar o reencontro, mas isso não mudava a enorme vontade que ele sentia de ir passar o feriado com eles. Quando acabou falando casualmente durante uma conversa deles que eu não iria para a casa do lago com eles, não pensou duas vezes: ele decidiu ir.

Véspera de feriado e já era madrugada quando eu finalizei o meu último trabalho. Isso queria dizer que eu conseguiria passar o feriado ao lado dos meus amigos, porém eu não consegui nem comemorar tal feito, pois acabei me jogando na minha cama e dormindo 2 segundos depois. O meu cansaço me fez decidir que eu dormiria até tarde na manhã seguinte e só viajaria para a casa do lago depois do almoço.

arrumou as suas malas, pegou o seu carro e saiu logo pela manhã naquele feriado. O GPS levaria ele até a casa do lago, já que ele tinha combinado de encontrar os amigos lá. Eu acordei um pouco depois das 11 horas. Pensei em convidar o Mark para ir comigo mesmo sabendo que já tinham feito o convite a ele, mas desisti quando me lembrei que ele estava trabalhando. Alias, foi exatamente por isso que ele não pode ir viajar conosco. Segundo o próprio Mark, ele tinha alguns trabalhos e reuniões importantes naquele final de semana e não poderia faltar de maneira alguma.

A noite de sono realmente havia me feito muito bem. Acordei uma outra pessoa. Arrumei as minhas coisas, comi qualquer coisa que eu encontrei na geladeira e coloquei as malas no carro. Como a dispensa da casa estava completamente vazia, decidi passar no mercado e comprar comida para ajudar a abastecer a casa do lago, que obviamente estava às mínguas. Antes de sair de casa, pedi ao Big Rob para olhar e alimentar o Buddy nos próximos 4 dias. Resolvi não avisar o e nem os meus amigos que eu estava indo encontrá-los, pois eu queria fazer surpresa. Eu estava extremamente empolgada para o feriado prolongado. Seria inesquecível!

chegou na casa alguns minutos antes que o e o resto do pessoal, pois a localização ficava mais perto de Nova York do que de Atlantic City. A Meg tinha viajado para Atlantic City na noite anterior para ir de carona com eles. Quando todos chegaram, abriu a casa e a mostrou para os nossos amigos. Todos ficaram perplexos e apaixonados pela casa. As portas e as janelas foram imediatamente abertas, já que o cheiro de mofo era bem presente. Cada casal escolheu o seu respectivo quarto e o ficou com um quarto só para ele.

- E ai, o que vamos almoçar? - perguntou, depois que percebeu que todos já haviam se acomodado.
- Mal chegou e já quer comer. - negou com a cabeça.
- Eu não tomei café da manhã. O ficou me apressando. - respondeu, lançando olhares maldosos para o amigo.
- Na verdade, ninguém conseguiu tomar café da manhã. - fuzilou o meu irmão com os olhos.
- Eu não estou nem ai. Eu avisei todo mundo o horário que nós íamos sair. - respondeu, sem qualquer remorso.
- Você chegou bem antes na minha casa. - cruzou os braços.
- Na casa do também. - Meg concordou com um sorriso maldoso.
- Mentira! Eu cheguei na hora exata! - debateu na mesma hora.
- Amor, você chegou antes. - teve que reconhecer.
- Ninguém respondeu ainda o que nós vamos comer. - interrompeu a discussão.
- Mesmo com todas as reclamações, eu vou ser solidário com todos vocês. Vocês vão comer o melhor churrasco da vida de vocês. - sorriu, se sentindo importante.
- E cade o churrasqueiro? - arqueou sobrancelha.
- Está nessa sala. - disse, se gabando.
- Cadê? Não estou vendo. - o sacaneou, olhando embaixo das almofadas do sofá e da mesa.
- Sou eu, palhaço. - respondeu, irritado. Todos riram.
- E você sabe se o seguro da casa cobre incêndios? - continuou a irritá-lo.
- O que eu sei é que os três babacas vão me ajudar ou ninguém vai comer nessa casa hoje. - disse em tom de ordem.

O final da manhã deles terminou em brincadeiras e risadas. Quando eles finalmente resolveram começar a preparar o almoço, todos foram para o quintal da casa. Os garotos ajudaram o a mexer na churrasqueira, enquanto as garotas observavam e riam das trapalhadas de todos eles. ficaria no comando da churrasqueira e os outros garotos revezariam a ajuda. O dia estava extremamente ensolarado e não poderia estar mais perfeito.

Depois de dirigir um pouco mais de uma hora, eu finalmente cheguei na casa que tinha sido uma grande parte da minha infância, mas que eu não frequentava há alguns anos. Ao final daquela longa estrada de pedras, eu via a casa que costumava ser o lugar favorito da tia Janice. Confesso que estranhei a enorme felicidade que eu senti ao vê-la. A saudade era maior do que nunca, mas a casa me trazia lembranças tão boas, que eu não consegui olhar para ela e sentir a tristeza que eu já previa sentir.

A promessa de um final de semana incrível com os meus melhores amigos me fez ter certeza de que aquela casa continuaria sendo um lugar repleto de boas lembranças e momentos inesquecíveis. Estacionei o meu carro ao lado do carro do e mesmo com o carro desligado, meus olhos não saiam daquela casa. Se eu pudesse, eu ficaria olhando para ela e relembrando tudo o que eu vivi ali durante todo o final de semana.

Demorei alguns minutos para sair do carro. Eu estava com tanta saudade de todos, que eu resolvi deixar para pegar as minhas malas depois. Eu queria vê-los logo! Me dirigi até a porta e antes de tocar a campainha, as risadas do e do me chamaram a atenção. Eles eram tão escandalosos, que eu conseguia ouvi-los dali. As risadas trouxeram um sorriso involuntário para o meu rosto e despertou em mim uma vontade de surpreendê-los. Resolvi tentar a sorte e girei lentamente a maçaneta da porta. Estava aberta! Aquela era a minha chance!

- Jonas, é a sua vez de buscar as cervejas. - gritou da churrasqueira. Os garotos tinham combinado de revezar.
- Não! É a vez do . - achou que valia a pena tentar, já que ele estava com preguiça de ir até a cozinha.
- Eu busco e você ajuda aqui com o churrasco! O que você acha? - disse em um tom irônico e ameaçador.
- Ok! Ok! Eu pego. - rolou os olhos. - Você anda passando tempo demais com a Meg. - Negou com a cabeça.
- Esse é o meu garoto. - Meg gargalhou, piscando um dos olhos para o namorado.
- Não começa, ruiva. - passou por ela, mas evitou olhá-la. Foi preguiçosamente até a cozinha casa, chegou a abrir a geladeira, mas um barulho que parecia vir da sala de estar da casa chamou a sua atenção.

Quando entrei na casa, minha cabeça foi a mil. Eu não conseguia acreditar que eu estava ali novamente. Meus olhos percorriam toda a casa, enquanto minha mente explodia com todas aquelas memórias. Os móveis, a decoração, as paredes… estava tudo exatamente igual a última vez que eu estive ali. Eu estava em êxtase e o sorriso no meu rosto não me deixava mentir. Fiquei tão distraída, que mal percebi que eu tinha companhia.

- Eu… posso te ajudar? - perguntou, sem saber quem era. Eu estava de costas para ele, por isso, ele não me reconheceu, mas eu tenho certeza que se ele não tivesse feito a pergunta tão rápido, ele acabaria tendo a sua resposta. Pelo menos, foi o que aconteceu comigo. Aquela voz repentina me pegou tão desprevenida, que eu não tive tempo de raciocinar. Eu já fui logo virando o meu corpo para descobrir de quem se tratava.

Quem diria que voltar àquela casa não seria o momento mais impactante da minha viagem? Dois idiotas que não conseguiam ter qualquer reação. A troca de olhares foi intensa, mas ninguém teve coragem de dizer uma só palavra. E lá estava ele: camisa regata, bermuda, chinelos e um boné com a aba virada para trás na cabeça. Ele não disse nada, mas os olhos dele não negavam o fato de ele também ter reparado em mim. O meu shorts não era tão curto e a minha blusa não era decotada (VEJA AQUI), mas ele notou que o meu cabelo estava com um corte diferente e estava um pouco mais cumprido do que eu costumava deixar.

- Oi! - Eu não sei de onde veio. Eu simplesmente falei.
- Hey. - tentou sorrir, mas ficou bem claro o seu incomodo ao me ver. Mesmo com o cumprimento simples, nós continuamos parados e mudos. Nos olhávamos sem conseguir interpretar o que o outro estava pensando e sem saber como reagir.
- Eu não vou fazer. Eu sou péssima na cozinha, vocês sabem! - disse, enquanto passava pela porta que dava a passagem para a casa. Meg e estavam com ela.
- Ela tem razão. - concordou na mesma hora.
- Não pode ser tão ruim assim! - Meg desacreditou. Elas adentraram na casa sem prestar muita atenção ao que estava acontecendo em volta.
- Jonas! O que você está fazendo? - perguntou ao ver o amigo de costas. Elas ainda não tinham se aproximado o bastante para me ver.
- Daqui a pouco o vai… - parou de falar quando ela e as meninas se aproximaram um pouco mais e acabaram me vendo.
- ! - sorriu ao me ver. Deixei de olhar para o pela primeira vez desde que eu havia chegado naquela casa.
- Não acredito que você veio! - foi a primeira a se aproximar para me abraçar.
- É, eu… - Eu ia dizendo, sem saber muito bem como continuar aquilo.
- Você não me contou que vinha! - Meg também se aproximou, beijando carinhosamente o meu rosto.
- Eu… decidi de última hora. - Eu disse com um sorriso, tentando disfarçar o que eu estava sentindo. - Eu… vou falar com os meninos. - Eu arrumei a primeira desculpa para sair daquela sala. Fui saindo e não consegui evitar uma nova troca de olhares com o . Ele continuava paralisado.
- É a … vindo ali? - cerrou os olhos. Ele sabia bem o que estava vendo, mas as circunstâncias o fez duvidar.
- Você veio! - sorriu, depois de virar-se e me ver. Eu continuei me aproximando deles.
- Eu disse que ela vinha! - se gabou.
- Primeiro: eu sei o que vocês fizeram! Segundo: eu vou matar vocês! - Foi o que eu disse a eles assim que os alcancei.
- Oi pra você também! - me olhou, irritado.
- Não vem com essa! - Eu esbravejei.
- Ok, calma! - pediu, fazendo gestos com a mão.
- Vocês me disseram que ele não estaria aqui! - Eu estava furiosa, mas, ao mesmo tempo, estava angustiada.
- Nós dissemos que ACHÁVAMOS que ele não estaria aqui. É diferente! - se defendeu.
- Você mentiu pra mim, ! - Eu o fuzilei com os olhos. - Todos vocês mentiram! - Eu neguei com a cabeça. - O que eu vou fazer agora? - A pergunta foi retórica. Eu só estava pensando alto.
- Ok, eu não ia dizer nada, mas a ideia foi toda do ! - se sentiu mal na mesma hora e resolveu entregar o amigo.
- Ei! - o olhou feio.
- Ele tem razão! Foi ideia dele. - concordou com o .
- E vocês não pensaram duas vezes antes de me ajudar, né? - estava furioso. Eu estava tão atordoada, que nem estava prestando a atenção discussão deles.
- Eu vou embora. - Eu disse, depois de pensar por alguns segundos em meio a briga deles.
- Não vai nada! - me olhou feio.
- Vocês não entendem! Eu não posso ficar aqui. - Eu não quis dar detalhes.
- O que… ela está fazendo aqui? - perguntou para as meninas assim que eu saí da sala.
- Querido, eu não sei se você percebeu, mas essa casa é dela. - Meg respondeu na mesma hora.
- É mesmo? - perguntou, irônico. - E como foi que descobriu isso? Nos seus livros de anatomia? - Ele completou a ironia. - Vocês disseram que ela não viria. - ignorou a Meg e deu toda a sua atenção a e .
- Nós dissemos, mas… - forçou um sorriso antes de terminar a frase.
- Ah não! - entendeu exatamente o que tinha acontecido. - Me digam que vocês não estão bancando o cúpido pra cima de mim. - Ele cruzou os braços e continuou a olhá-las.
- Nós somos as cupidas mais lindas que você já viu, não somos? - sorriu em meio a uma careta. Ela sabia que estava encrencada.
- Oh… - rolou os olhos e suspirou longamente.
- A boa notícia é: eu não estou envolvida nisso. - Meg ergueu os ombros. - Não fica decepcionado, mas… eu nunca fui ‘Team Jonas’. - Ela sorriu e piscou um dos olhos pra ele.
- Bem, eu não posso te culpar. Eu sempre fui ‘Team ’. - ergueu os ombros, demonstrando indiferença.
- Jonas! - condenou o comentário dele.
- Ela começou! Vocês viram! - se defendeu. - Aliás, eu não sei nem porque eu estou discutindo com essa garota. Ela é o menor dos meus problemas! - Ele fez careta.
- Fica calmo e me escuta! Nós cogitamos sim a ideia de bancarmos o cúpido, mas acabou não dando certo. Nós convidamos sim a pra vir, mas ela disse que não poderia vir. Estamos tão surpresas quanto você. - tentou explicar.
- E em nenhum momento vocês pensaram em me contar que ela poderia aparecer aqui? - perguntou, mantendo-se desconfiado.
- Não. - afirmou com um sorriso forçado.
- Isso é mesmo ótimo! - esbravejou, deixando de olhá-las. Ele não sabia o que fazer. - Vocês são minhas amigas! Vocês supostamente deveriam me ajudar! - Ele voltou a olhar para elas, furioso.
- Nós estamos ajudando! - tentou acalmá-lo.
- Ah, qual é! - Ele rolou os olhos. As garotas se entreolharam, sem saber o que fazer pelo amigo.
- Olha, todo esse drama é mesmo necessário? Se a presença dela te incomoda tanto, por que você continua aqui? A porta está bem ali! - Meg apontou.
- Meg, você não está ajudando. - olhou feio pra ela.
- Não, eu estou falando sério! Eu esperei semanas por esse final de semana. Estar com vocês, o e até mesmo com esse babaca do . - Meg parecia estar desabafando. - Eu não vou deixar você estragar o nosso feriado simplesmente porque você não aguenta ficar 3 dias na mesma casa que a . - Pela primeira vez, não tratava-se de implicância por parte da Meg. Ela estava sendo sincera.
- Você não faz a menor ideia do que você está falando, mas… talvez, eu deva ir embora mesmo. - Ele estava irritado com a Meg por julgá-lo sem nem ao menos saber qual era o verdadeiro problema, mas a sugestão para que ele fosse embora talvez não fosse não ruim assim.
- Não. - reagiu na mesma hora.
- Vai ser melhor assim. - percebeu que a e a tinham ficado chateadas com a sua decisão. Ele começou a se afastar e ir em direção aos quartos.
- Não vai ser melhor. - segurou o amigo pelo braço e o puxou de volta.
- Há quanto tempo não temos um final de semana como esse, ? Há quanto tempo planejamos vir nessa casa? - tentaria a última cartada.
- Você sabe como foi difícil conciliar os compromissos, o trabalho e a faculdade de todo mundo para podermos nos reunir aqui. Você sabe como vai ser difícil fazer isso acontecer de novo. - usava os mesmos argumentos comigo do lado de fora da casa. Parecia até que eles tinham planejado.
- Eu sei, mas… - sabia que a amiga estava certa, mas isso não deixava as coisas mais fáceis pra ele.
- Eu queria ficar, mas… - Eu neguei com a cabeça. As palavras de só me deixaram mais confusa.
- Então, fique! Vamos aproveitar o final de semana. Isso não é sobre você e a . É sobre você e os seus amigos. - sabia que tinha feito o seu melhor. Bastava saber se tinha sido o suficiente para convencê-lo.
- É sobre estarmos todos juntos! - argumentou, me pedindo para ficar.
- Ok. Eu fico. - e eu concordamos juntos em ficar.
- Mas, eu tenho uma condição! - Eu me adiantei.
- Condição? - fez careta. estava fazendo a mesma exigência na sala da casa.
- Eu sabia que teria uma condição. - suspirou.
- Sem cúpidos nessa casa! - impôs a sua condição.
- Sem comentários maldosos e constrangedores sobre nós dois. - Eu também defini a minha condição.
- Feito! - Os garotos concordaram.
- Combinado! - As garotas também concordaram.
- Agora que o drama foi resolvido, nós podemos voltar lá pra fora? Eu estou com fome. - Meg estava querendo dizer isso há algum tempo.
- Não estou vendo ninguém te segurando. Fica à vontade! - ironizou, apontando na direção do quintal da casa.
- Eu estou bem à vontade, afinal, não sou eu que vou passar 3 dias com o meu ex. - Meg sorriu, vitoriosa. - Boa sorte, lindo. - Ela piscou um dos olhos antes de se afastar e ir em direção ao quintal da casa.
- Uau! Ela é boa. - comentou, admirada.
- Nunca critiquei. - também demonstrou admiração.
- Eu ainda estou aqui! - rolou os olhos e suspirou longamente.
- Ah, ok! Vamos lá pra fora. - afirmou, depois de uma longa gargalhada.
- Eu preciso urgentemente de novas amigas. - negou com a cabeça, enquanto caminhava em direção ao quintal ao lado das meninas.
- Não fala assim! Você sabe que ninguém te aturaria por tanto tempo. - o abraçou desengonçadamente. Eles pararam na geladeira para pegar as cervejas.

Foi só colocar os pés no quintal da casa, para que ele não ouvisse mais nada do que as garotas diziam pra ele. Ele só pensava em uma coisa: ‘aja naturalmente.’. Mesmo estando de costas, eu percebi que o se aproximava só pelos olhares dos garotos. Confesso que fiquei nervosa, mas sabia que seria muito mais fácil lidar com aquilo com tantas pessoas a nossa volta. O problema mesmo era quando estávamos sozinhos.

- E esse churrasco, sai ou não sai? - tentou parecer descontraído e já foi logo se aproximando dos garotos.
- Está saindo tanta fumaça dessa churrasqueira que daqui a pouco os bombeiros aparecem. - disse, balançando uma das mãos de um lado para o outro.
- Para de reclamar e vê se me ajuda. Pega todos os ventiladores que você encontrar lá dentro. - deu a ordem.
- Eu ajudo. - se prontificou.
- E vocês, tentem fazer alguma coisa comível naquela cozinha. Nós precisamos de um plano B. - olhou para mim e para as outras garotas.
- Eu… não sei se interessa pra vocês, mas eu trouxe muita comida de Nova York. Está tudo no meu carro, se vocês… - Eu achei que eles não gostariam da ideia.
- Graças a Deus! Estamos salvos! - sorriu, aliviada.
- Ei! - tentou intervir.
- Minha heroína! - Meg se aproximou e me abraçou. - Ei, ei! E o meu churrasco? - Meu irmão ficou emburrado na mesma hora.
- Que churrasco? - arqueou uma das sobrancelhas. - Faz mais de uma hora que você está nessa churrasqueira e a única coisa que saí dela é fumaça. - Ele fez careta.
- Eu não sei vocês, mas eu vou comer churrasco. Você está comigo, não é, ? - achou que o melhor amigo o apoiaria.
- Cara… - negou com a cabeça. - É melhor parar antes que você coloque fogo na casa. - Ele lamentou.
- Traidores. - resmungou, enquanto fuzilava os amigos com os olhos.
- Qual é, ! Não tem problema. Nem todo mundo sabe fazer churrasco. Está tudo bem. - Eu tentei consertar a situação e consolá-lo.
- Faz 15 minutos que você chegou e você já está me irritando! Por que você me odeia? - continuava me olhando feio.
- Como eu poderia odiar o melhor irmão que eu poderia ter no mundo? - Eu forcei um sorriso, enquanto o abraçava a força.
- Ok, ok. Eu entendi. - fez careta, tentando me afastar.
- Aqui. Isso foi tudo o que encontramos. - disse, aproximando-se com dois ventiladores nas mãos. estava bem ao lado dele.
- O que está acontecendo? - percebeu que algo está acontecendo ali.
- Não vai ter mais churrasco. - resumiu.
- Como assim não vai ter mais churrasco!? - perguntou com os olhos esbugalhados e com uma voz de indignação.
- A trouxe comida. - Meg contou.
- Você trouxe comida? - me olhou, arqueando uma das sobrancelhas. - De que tipo de comida estamos falando? - Ele perguntou, demonstrando interesse.
- Lasanha? - Eu respondi, sabendo que era a comida favorita dele.
- Ela realmente disse lasanha ou eu só estou com fome? - sussurrou para a namorada, que ainda estava ao seu lado.
- Ela disse! - respondeu aos risos. Na mesma hora, soltou os ventiladores.
- Eu nem estava tão a fim de comer churrasco mesmo. - ergueu os ombros. A reação dele fez com que todos rissem.
- Lasanha? Pegou pesado, hein? - negou com a cabeça, tentando segurar o sorriso.
- Eu trouxe a sua lasanha favorita também. - Eu sorri pro meu irmão.
- Não dá pra odiar essa garota. - passou um dos seus braços pelos meus ombros.
- Ela salvou o nosso almoço. - gargalhou.
- Ok, seus interesseiros. Eu preciso de ajuda pra tirar as coisas do carro. - Eu disse, me afastando da churrasqueira. Os garotos se disponibilizaram na mesma hora e a Meg e a também. não se moveu, quando percebeu que o foi o único que não havia saído do lugar.
- Sério? - cruzou os braços ao olhá-lo.
- O que foi? Eu fiquei para apagar a churrasqueira. - inventou uma desculpa qualquer.
- Não precisa fazer isso. - rolou os olhos. - Não é como se ela fosse te agarrar a qualquer momento. - Ela completou.
- Eu estou bem aqui. - sorriu, demonstrando que tinha um bom argumento.
- Então, qual é o seu medo? Você tem medo de perder o controle perto dela? Você não tem autocontrole. É isso? - perguntou, provocando-o.
- Eu tenho autocontrole. - debateu na mesma hora.
- Você não tem autocontrole. Você mal consegue olhar pra ela. - insistiu.
- Ok! Eu não se esse é mais um desses seus joguinhos para me manipular, mas eu vou te provar que eu tenho autocontrole e que eu consigo conviver com a , se eu quiser. - odiava ser desafiado, pois sempre que isso acontecia, ele se sentia obrigado a provar o contrário. - Começando agora! - Ele afirmou, antes de abandonar a churrasqueira e sair andando em direção ao interior da casa.
- Hey! Como eu vou apagar essa churrasqueira sozinha!? - gritou ao vê-lo se afastar. - ! - Ela tentou chamá-lo mais uma vez. - Droga. - Ela esbravejou, concluindo que teria que fazer aquilo sozinha.

O que não se faz por comida, não é mesmo? Todos estavam me ajudando a tirar as minhas malas e as compras que do carro. Eu tirava uma mala ou sacola do carro e repassava para um deles, que levavam quase tudo para o quarto que eu ficaria (as compras foram deixadas na cozinha). Em uma só viagem, o meu irmão e os meus amigos já haviam levado quase tudo para dentro da casa. Faltava apenas uma mala e uma sacola pesada. Como não tinha mais ninguém a minha volta, resolvi tentar levar tudo sozinha. Com isso, descarreguei a mala e a sacola e as coloquei no chão para poder fechar o porta-malas e trancar o carro. Em seguida, fiz a minha primeira tentativa de levar a mala e a sacola, mas não consegui dar mais de três passos com elas. Na segunda tentativa, eu tentei segurá-las de uma outra maneira. Eu estava tão entretida em arrumar um jeito de levar aquilo para dentro da casa, que não notei que alguém se aproximava.

- Precisa de uma ajuda? - A voz me fez olhá-lo. Eu reconheci a voz dele, mas estava surpresa por vê-lo ali.
- Não. Eu… - Eu fiz uma outra tentativa de levar a sacola e a mala, mas fracassei novamente. - Ok. Eu preciso de ajuda. - Eu fui obrigada a aceitar a ajuda.
- Deixa que eu as levo pra você. - se aproximou para pegar a minha bagagem e eu automaticamente me afastei. Eu queria evitar aproximações estranhas.
- Obrigada. - Eu agradeci, sem jeito. Fiquei parada bem ali, observando ele se afastar e entrar na casa com a minha bagagem. Me senti um pouco boba por não ter aceitado a ajuda dele logo de primeira, mas nada que eu não pudesse superar. Além disso, o meu motivo para tal atitude era extremamente nobre: eu só estava respeitando a decisão dele de se afastar de mim. Voltei para dentro da casa e segui as vozes, que vinham da cozinha.
- Não acredito que vocês já estão fazendo a lasanha! Vocês estão realmente com fome. - Eu fiquei perplexa ao entrar na cozinha.
- Sinto muito, mas eu estou em fase de crescimento. Vocês sabem! - justificou a sua fome e fez todos rirem.
- Imagina só quando ele crescer de vez! - Meg gargalhou.
- Já começa a pensar nas dietas que você vai ter que obrigá-lo a fazer no futuro, . - brincou.
- Você disse ‘dieta’? - fez careta. - Bem, essa é a minha deixa! - Ele levantou-se da cadeira. - Vamos, ! Eu vou te mostrar o seu quarto. - veio em minha direção.
- Espera. Vocês não vão precisar de ajuda? - Eu olhei para os que estavam cozinhando.
- , se nós fizermos a comida, o que os nossos escravos vão fazer? - disse em voz alta para que os outros ouvissem. Ele virou-se para rir dos amigos no momento exato em que o atacou um tomate em sua direção. Foi por pouco, mas ele conseguiu se esquivar.
- Hey! - abriu os braços ao olhar feio para o meu irmão.
- Até que você se esquivou bem. Eu tenho que reconhecer. - fingiu estar impressionado.
- Vocês podem parar de brincar com a comida? - deu a bronca.
- Fala isso pro ogro do seu namorado. - apontou para o meu irmão e, na mesma hora que o viu cerrar os olhos em sua direção, ele sorriu. - Brincadeira! - Ele deu o seu melhor sorriso.
- Vai logo mostrar o quarto para a , amor. - riu, fazendo sinal para que o namorado fosse de uma vez.
- Vamos. - Eu o chamei e ele me acompanhou. Eu conhecia muito bem a casa, por isso, eu sabia onde ficavam os quartos.
- É por aqui. - apontou na direção dos quartos.
- Aham. - Eu concordei, demonstrando que já sabia onde ficava.
- Eu esqueci que você já esteve aqui antes. - riu de si mesmo.
- Muitas vezes. - Eu ri junto com ele.
- Certo! - fez careta. - Então, aqui… é o meu quarto e o da . - Ele apontou para uma das portas.
- Eu não estou surpresa. - Eu o olhei com um sorriso safado.
- Esse é o do . - Ele mostrou e me olhou. - Por que você ficou tão séria de repente? - aproveitou para se vingar.
- Não começa! - Eu o fuzilei com os olhos.
- Aqui… é o quarto do seu irmão e da . - apontou.
- Ew! - Eu fiz careta. Ele riu.
- O quarto da Meg e do fica logo ali na frente e o seu é esse aqui. - apontou com a cabeça para a porta que estava logo a nossa frente.
- Oh! Sério? Bem em frente ao banheiro? Odeio ficar em frente ao banheiro! Eu fico acordando toda hora com essa porta abrindo e fechando. - Eu reclamei.
- Era esse quarto ou o que fica na frente do quarto do . - ergueu os ombros.
- Eu amei o meu quarto! - Eu mudei de ideia na mesma hora.
- Foi o que eu pensei. - riu sem emitir qualquer som.
- Vamos ver como vocês deixaram as minhas malas. - Eu me adiantei e empurrei a porta do quarto, que estava apenas encostada. Adivinha quem foi a idiota que esqueceu que o tinha acabado de levar as minhas coisas para o meu quarto? Sim! Ele estava lá! E pior: foi surpreendido com um porta-retrato nas mãos.
- Ei, cara. - foi o único que conseguiu falar alguma coisa. Ainda bem que ele estava comigo!
- Hey! - sorriu, sem jeito. - Eu vim trazer… as coisas da e acabei ficando curioso com a foto. - Ele falava como se eu nem estivesse ali.
- Não tem problema. - sorriu, tentando tranquilizar o amigo. - Não é? - Ele me olhou, esperando que eu me manifestasse de alguma maneira.
- Claro! Sem problemas. - Eu neguei com a cabeça e forcei um sorriso.
- Certo. Eu… - apontou em direção à porta. - Eu vou voltar lá pra fora. - Ele disse, antes de sair do quarto sem conseguir me olhar.
- Ok. - suspirou, percebendo o clima estranho.
- Ainda bem que você estava aqui comigo! Seria muito estranho se estivesse só eu e ele. - Eu respirei, aliviada.
- Mais estranho do que já foi? - me olhou.
- Acredite: é possível! - Eu fiz careta.
- E… o que tem nessa foto? - deixou de me olhar e aproximou-se do criado-mudo, que ficava ao lado da cama.
- Somos eu e o . Eu acho que nós tínhamos uns 10 anos. - Eu conhecia muito bem aquele porta-retrato.
- Que bonitinhos. - sorriu. - É uma bela foto. Por que ela continua aqui? - Ele perguntou.
- A minha tia costumava colocá-la ai todas as vezes que nós vinhamos pra cá. Esse quarto costumava ser meu e do . - Eu gostava de contar aquela história.
- Sério? - interessou-se na história.
- Eu tinha medo de dormir sozinha e o costumava fazer xixi na cama durante a noite por não conseguir chegar ao banheiro a tempo, então nós dormíamos aqui. - Eu contei.
- Espera. Você disse que o costumava fazer xixi na cama ou eu estou louco? - segurou o riso.
- Não! Você não vai falar nada! - Eu não acredito que tinha contado pra ele. O ia me matar!
- Não me peça isso! - negou com a cabeça, morrendo de rir.
- Para! Ele me fez prometer que eu não contaria pra ninguém! - Eu tentei me manter séria.
- Não! Por favor, não me peça isso. - pediu mais uma vez.
- Me prometa! - Eu precisava ter certeza de que ele não falaria nada.
- Não! - fez careta.
- , me prometa! - Eu pedi mais uma vez.
- Ok. - Ele me olhou, emburrado. - Eu prometo não dizer nada. - Ele suspirou, chateado. - Mas saiba que você é responsável por destruir a piada do século. - disse com um bico.
- Você vai pensar em outra coisa. Eu tenho certeza. - Eu toquei o ombro dele, tentando consolá-lo.
- Ok. Ok. - rolou os olhos. - Vamos voltar pra cozinha. Eu estou morrendo de fome. - Ele pareceu ter se conformado.

Chegamos na cozinha agindo como se nada tivesse acontecido. superou o fato de não poder sacanear o e eu e o fingimos que não tínhamos nos reencontrado naquele quarto. Quando sentamos na mesa para almoçar, sentamos em lugares opostos na mesa. Era tão óbvio o quanto estávamos evitando um ao outro.

O calor estava estarrecedor naquela tarde e decidimos que iríamos na piscina depois que organizássemos a bagunça enorme que havíamos feito na cozinha durante o preparo do almoço. Os garotos ajudaram a retirar as coisas da mesa, enquanto eu e a garotas cuidávamos da louça. Juntos, conseguimos terminar de organizar e limpar tudo bem mais rápido do que esperávamos, por isso, alguns optaram por dormir um pouco e outros, como eu, resolvemos ficar conversando em volta da piscina. Conservamos um pouco mais de uma hora, quando os dorminhocos resolveram acordar. Na verdade, eles foram acordando aos poucos. A Meg foi a primeira, depois foi o , o e por fim, a . O foi o único que permaneceu dormindo.

- Vamos entrar na piscina, ? - me convidou, levantando-se da cadeira. Ela ia até o quarto dela para colocar o biquíni.
- Eu não sei se estou com coragem para entrar agora. Eu até já estou com o biquíni, mas continuo sem coragem. Pode ir. Eu vou esperar mais um pouco. - Eu não queria atrapalhá-la. A maioria já estava na piscina e eu não queria que ela não entrasse por minha causa.
- Está bem. Eu volto já. - afastou-se e entrou na casa. Continuei observando o meu irmão e os meus amigos na piscina.

não demorou mais do que 5 minutos para voltar com os seus trajes de piscina. Ela entrou na água e foi carinhosamente recebida pelo . Continuei ali sentada, embaixo de um guarda-sol. Eu estava me divertindo bastante vendo todos eles brincarem e jogarem água uns nos outros, mas toda a diversão desapareceu quando, pela visão periférica, eu vi saindo da casa a única pessoa que ainda estava dentro dela.

Eu não me atrevi a olhar para ele, mas senti os olhares dele sobre mim. Ainda sonolento, ficou sem saber o que fazer. Ele tinha 3 opções: entrar na piscina mesmo sem estar com vontade para tal, deitar-se na espreguiçadeira que estivesse mais longe de mim e bancar o mal educado ou sentar-se na cadeira que estava bem ao meu lado para quebrar de uma vez por todas aquele clima insuportável.

ficou um bom tempo parado na porta da casa, pensando no que era melhor a se fazer. Eu estava muito tensa e até suspirei de alívio quando notei que ele entrou novamente na casa. Para mim, ele tinha achado melhor voltar a dormir, pois essa era a melhor maneira de me evitar. Cheguei a me entreter novamente com as brincadeiras bobas que aconteciam dentro da piscina e não percebi quando ele voltou para a porta. Eu só notei a presença dele, quando ele puxou a cadeira ao meu lado e se sentou. Eu congelei.

- Trouxe uma pra você. - deslizou uma garrafinha de cerveja pela mesa e a deixou na minha frente. Ele também tinha trazido uma garrafa para ele. A frase dele parecia um pedido de trégua.
- Você pode ser preso por isso, sabia? - Eu sorri, pegando a garrafa com uma das mãos. Teoricamente, eu ainda não tinha idade para beber.
- Não seria a primeira vez, não é? - disse com a maior tranquilidade, trazendo um sorriso involuntário para o meu rosto. Tomei um gole da cerveja e ele fez o mesmo. Meus olhos continuavam fixos na piscina, mas a verdade é que eu já nem estava prestando a atenção no que acontecia dentro dela. Eu só queria que ele achasse que eu estava entretida com outra coisa que não fosse ele. também olhava para a piscina, tentando parecer distraído. - Então, o que você acha? - Ele perguntou repentinamente. - Eles armaram para nós dois? - referia-se aos nossos amigos e ao fato de estarmos naquela casa. A pergunta dele trouxe um novo sorriso para o meu rosto.
- Sem dúvidas. - Eu respondi com convicção, antes de tomar um outro gole de cerveja.
- Então, eu não sou o único. - concluiu, mantendo os olhos na piscina.
- Eles também te disseram que eu não vinha? - Eu deduzi.
- Disseram. - confirmou com um sorriso. - Eles são bons. - Ele reconheceu, me fazendo rir sem emitir qualquer som.
- Eles são bons. - Eu concordei com ele. A conversa começou a fluir tão naturalmente que, por um momento, eu esqueci que deveria manter meus olhos na piscina e virei o meu rosto para olhá-lo. Quando percebeu que eu olhei pra ele, também acabou cedendo e também me olhou, sorrindo. Não vou dizer que olhar pra ele, olhar nos olhos dele e ver o sorriso dele tão de perto foi a coisa mais normal do mundo. Foi intenso para ele também.
- E o que nós vamos fazer a respeito? - Ele me perguntou, querendo saber o que eu tinha em mente.
- Que tal se só… curtíssemos o feriado? - Eu sugeri, erguendo os ombros. Deixei de olhá-lo.
- E nós deveríamos continuar agindo como dois idiotas ou… - ficou um pouco sem jeito ao perguntar.
- Foi estranho pra você também? - A frase intrigante dele me fez olhá-lo novamente.
- Está me matando, na verdade. - foi tão sincero, que chegou a me surpreender.
- E se tentássemos agir normalmente? Eu quero dizer, já que estamos aqui e temos o mesmo objetivo de passar o feriado com os nossos amigos, nós poderíamos fazer um esforço. - Eu propus.
- Eu gostei. - afirmou com a cabeça.
- Legal. - Eu sorri, tentando parecer feliz, mas eu estava aterrorizada. Como é que eu podia agir normalmente com ele? Onde eu estava com a cabeça?
- Temos um acordo? - estendeu sua garrafa de cerveja, esperando que brindássemos.
- Temos. - Eu levei a minha garrafa de cerveja até a dele. Depois de brindar, levei a minha cerveja até a boca e bebi um gole enorme. - Eu… vou pra piscina. - Eu coloquei a cerveja sobre a mesa e me levantei. Eu nem ao menos o convidei para ir comigo ou agradeci pela bebida. Eu só queria sair dali. Era muita coisa para processar tão rápido.

Era muito difícil ficar sozinha com ele sem parecer que éramos um casal ou que estávamos pensando em ser um casal. Havia sim uma zona de segurança entre interagir um com o outro e nos mantermos afastados o suficiente para respeitar o pedido que o havia me feito naquele hospital. Aquela zona de segurança era onde eu deveria estar e, naquele momento, essa zona de segurança era dentro da piscina.

Em qualquer outra situação, eu tiraria a minha roupa ali mesmo, tomaria um sol e depois pularia na piscina, mas esse não era o caso. Eu não queria que o pensasse que eu pudesse estar tentando provocá-lo, por isso, fui de roupa até o outro lado da piscina e tirei discretamente a minha roupa. Mesmo de longe, senti os olhares dele sobre mim e isso me fez querer entrar ainda mais rápido na piscina. Depois de tirar a minha roupa, eu não demorei mais do que 10 segundos para pular na água.

A piscina acabou sendo a melhor coisa para mim, pois eu acabei me distraindo bastante com o meu irmão e com todos os meus amigos. Por um momento, cheguei até a esquecer que o estava logo ali. Era nesses momentos que eu conseguia entender que a falta que eu sabia que sentia de todos eles era muito, muito maior do que eu imagina. Independentemente de qualquer coisa, ter ido passar o final de semana com eles foi a melhor decisão que eu já havia tomado.
Saímos da piscina quando o sol começou a se pôr. Para a minha sorte, o não cogitou entrar na piscina em nenhum momento. Mesmo com o nosso singelo acordo, nós ainda parecíamos evitar um ao outro. Pode parecer exagero para quem vê tudo isso do lado de fora, mas para nós dois era muito importante manter a distância.

Antes de sairmos da piscina, definimos que faríamos uma fogueira naquela noite. O clima estava ótimo para isso e tínhamos muitas caixas de marshmallow no armário. Diante disso, os garotos resolveram sair da piscina antes e tomarem banho primeiro para que eles pudessem ir atrás de lenha para acendermos a fogueira, enquanto eu e as garotas nos arrumávamos. Eu e as garotas esperamos que eles desocupassem os banheiros e entramos logo atrás deles.

O quintal da casa era enorme e tinha um espaço ideal para que a fogueira fosse acesa. Os garotos tiveram um pouco de dificuldade de conseguir a lenha. Se não fossem os vizinhos, eles não teriam conseguido e não teríamos marshmallows naquela noite. Quando eles terminaram de acender a fogueira, eu e as garotas separamos as caixas de marshmallows e os espetos. Nos sentamos em volta da fogueira e para não perder o costume, e eu sentamos bem longe um do outro.

- Vocês fizeram um ótimo trabalho! - elogiou os garotos.
- Eu quase carreguei toda a lenha sozinho. - reclamou.
- Até parece! Meus dedos estão todos ferrados de carregar esses negócios. - respondeu, sem deixá-lo levar o mérito sozinho.
- Você só ajudou por causa dos marshmallows. - debochou do amigo.
- A verdade é que só conseguimos a lenha por causa de mim. Eu fui muito educado com o vizinho, ele foi com a minha cara e nos deu toda a lenha. - entrou no meio.
- Você pediu mesmo pro vizinho? - perguntou, surpresa.
- Está mais pra implorar. - corrigiu.
- Ele nos deu a lenha, não deu? - desconversou. - Come o seu marshmallow ai e fica quieto. - Ele disse, fazendo com que os amigos rissem.
- Nossa. Está delicioso. - Meg suspirou, após morder o seu segundo marshmallow.
- É o melhor que eu já comi. - Eu concordei.
- Foi a que comprou. Arrasou, amor. - aproximou e selou rapidamente os lábios da namorada.
- Ei, nós podíamos fazer alguma coisa, né? - sugeriu.
- Vamos cantar. É o que as pessoas fazem, né? - achou que seria uma boa ideia.
- Quais pessoas? - olhou para o amigo, desconfiado.
- Nos filmes. - respondeu como se fosse óbvio.
- Que tipo de filme você anda fazendo ele assistir, ? - fez careta. cerrou os olhos na direção do amigo.
- É uma boa ideia. - concordou.
- Ninguém sabe cantar aqui, gente. Estou cansada de ser humilhada pela e pelo Jonas. - Meg fez careta.
- Imagina, Meg. - Eu rolei os olhos, sem jeito.
- Já está até acostumada, né? - provocou Meg.
- Qual é, galera. Estamos em volta de uma fogueira e sozinhos. Quem se importa com quem canta mal ou bem? Vamos só cantar. Não é uma competição. - tentou nos conscientizar.
- Eu apoio! - Eu fui a primeira a concordar com ela.
- para presidente. - brincou, mostrando que concordava com a amiga.
- Está bem, mas… não temos nem um violão. - ergueu os ombros.
- Quem disse que não temos? - perguntou, levantando-se e andando rapidamente para dentro da casa. Voltou segundos depois com um violão nas mãos e o entregou ao , que era o único que sabia tocar o instrumento ali.
- Prestou pra alguma coisa, . Parabéns! - bateu palmas.
- Ok. Isso é ótimo, mas… por que diabos você tem um violão? - arqueou uma das sobrancelhas.
- Eu comprei há alguns anos porque pretendia aprender a tocar, mas acabei descobrindo que o meu único talento mesmo é na cama. - riu e olhou para a namorada, que revirou os olhos.
- Pena que o seu talento não tem a mesma duração que uma música, não é, amor? - respondeu e foi imediatamente ovacionada por todos.
- Você, mais do que ninguém, sabe que isso não diminui o meu talento. - respondeu, levando tudo na brincadeira.
- Eu sei. - riu, abraçando-o e beijando-o.
- Isso foi fofo, mas… vamos cantar? - Meg tentou voltar ao foco.
- O que vamos cantar? - perguntou.
- Cada um poderia escolher uma música. - Eu sugeri.
- Boa! - apoiou a ideia.
- Mas tem que ser música boa! - adicionou.
- Tem que ser músicas que todos conhecem. Não venham com essas músicas de menininhas não. - complementou.
- A música tem que agradar a todos. - ressaltou.
- Combinado! - aprovou as condições.
- Esperem. Eu só preciso afinar o violão. - pediu, enquanto afinava o violão.

Cantar não me incomodava tanto. Não tinha problema se eu cantasse uma música com o , desde que todos os nossos amigos cantassem junto. O que poderia vir a ser um problema era ver o tocando violão novamente. As últimas vezes que isso aconteceu, estávamos juntos. Uma delas, inclusive, foi no nosso pedido de namoro, em que ele cantou ‘Never Gonna Be Alone’ pra mim. Vê-lo com aquele violão nas mãos me trazia boas lembranças, mas eu preferia não ter que recordá-las.

Começamos a selecionar as músicas, mas sem deixar os preciosos marshmallows de lado. foi o primeiro a escolher a música e a escolha realmente não me surpreendeu: ‘It’s My Life’ do Bon Jovi. O segundo a escolher a música foi o , que também não surpreendeu, já que tratava-se de sua banda favorita: ‘How To Save A Life’ do The Fray. foi a terceira e escolheu ‘Free Fallin’ do John Mayer, aliás, o destruiu no violão nessa. Ele era muito bom. Quando chegou a vez dele de escolher, eu tinha certeza que ele escolheria uma música dos Beatles.

- Eu escolheria Beatles, mas vocês não vão saber cantar. - rolou os olhos, contrariado. - Então, pode ser ‘Use Somebody’ do Kings of Leon. - Ele definiu.
- Boa escolha! - vibrou.

Aquela fogueira foi definitivamente a coisa mais divertida que nós já fizemos. Estávamos cantando todos juntos e com muita empolgação. Foi uma coisa extremamente única entre nós, que pareceu ter nos unido ainda mais. Nem mesmo parecia que eu e o passaríamos o resto do feriado nos evitando. Estávamos rindo, cantando e comendo marshmallows. O que poderia ser melhor do que isso?

Era o que puxava as músicas para que os outros entrassem na música no momento certo. Foi assim que ele fez com a música pedida pela : ‘Wonderwall’ do Oasis. Nós cantamos como nunca. Apesar de eventualmente nos olharmos enquanto cantávamos, o clima não ficou nem um pouco estranho entre eu e o . O que realmente me surpreendeu, na verdade.

- Eu tinha me esquecido dessa! - Eu vibrei, depois de terminarmos de cantar a música pedida pela . - Ok, minha vez. - Eu disse, pensativa.
- Uma boa, vai! - Meg pediu, empolgada.
- ‘A Thousand Miles’ da Vanessa Carlton. - Eu fiquei feliz por ter me lembrado dessa. - Vocês conhecem, né? - Eu perguntei para os garotos mesmo tendo certeza de que eles conheciam.
- Infelizmente. - disse, segurando o riso.
- Como poderia não conhecer! - assumiu.
- Por um acaso, eu sei tocar. - brincou, fazendo com que todos rissem.
- Vamos, ! Canta igual você canta quando está no chuveiro. - Eu entreguei o meu irmão, que foi zoado por todos.
- Prazer culposo. Já ouviram falar? - se defendeu, tentando parecer sério.

Mais uma música que foi cantada por todos, mas que foi, de longe, a mais engraçada. Foi muito engraçado ver os garotos cantando a música, enquanto faziam dancinhas no refrão. Foi memorável. A música pedida pelo também não ficou atrás, ele pediu ‘Time Of Your Life’ do Green Day. Naquela altura do campeonato, nós já tínhamos comido todos os marshmallows do mundo, mas continuamos cantando, afinal, ainda faltava a música pedida pela Meg, que seria a última da noite.

- Depois de pensar muito, eu já sei qual escolher. - Meg disse, empolgada. - Eu quero ‘Never Gonna Be Alone’ do Nickelback. - Ela disse com a maior inocência do mundo. Ninguém disse nada. Para falar a verdade, acho que todo mundo parou de respirar por 5 segundos. e eu acabamos trocando olhares constrangedores. - O que foi? É um hit! Não é possível que ninguém conheça. - Ela não entendeu o motivo do clima. Não dava para culpá-la. Ela era a única que não estava presente no dia em que o me pediu em namoro.
- Meg. - tentou avisá-la.
- O que foi? - Ela sussurrou, olhando pra ele. Ela não sabia o que estava acontecendo.
- Não. Tudo bem. - Eu impedi que o a julgasse por aquilo. - Nós podemos cantar mais essa, não é? - Eu perguntei ao , demonstrando que para mim estava tudo bem e que, portanto, só dependia dele.
- É claro que podemos. - afirmou, sem pensar duas vezes.
- Vocês conhecem a letra, não é, pessoal? - Eu estava tentando fazer tudo funcionar. A Meg não tinha culpa e, assim como todos os outros, ela também deveria ter a sua música tocada e cantada. Todos confirmaram que conheciam a música. - Boa escolha, Meg. É a minha favorita. - Eu pisquei para ela. Não queria que ela se sentisse culpada por nada.

Quase 4 minutos de músicas. Quase 4 minutos de coração disparado e de borboletas no estômago. E eu não estava falando só de mim. Eu também me referia ao . Mantive meus olhos fechados durante toda a música para evitar olhar para ele, mas eu ainda conseguia vê-lo mesmo com os olhos fechados. Eu estava revivendo aquela noite na minha mente. Eu me lembrava dos detalhes. Eu me lembrava da roupa que ele estava usando. Eu me lembrava de tudo. tocou toda a música com a cabeça baixa. Ele fingiu o tempo todo que estava acompanhando seus dedos no violão, mas a verdade é que a sua mente estava bem longe dali. Eu e ele estávamos com o pensamento no mesmo lugar naquele momento.

Apesar de todo o clima, todos cantaram a música exatamente como cantaram as anteriores. Ao final da música, nós comemoramos o sucesso da noite com aplausos. A recordação que a última música nos trouxe não conseguiu tirar o sorriso do rosto de todos que estavam ali. Todos estavam muito felizes com o quão incrível havia sido aquela noite. Sabe aquele tipo de coisa que você vive e sabe que vai lembrar daquilo o resto da sua vida? Foi aquela noite para cada um que estava em volta daquela fogueira.

O horário nos fez abandonar a fogueira. Os garotos se responsabilizaram por apagar a fogueira e eu e as garotas levamos os marshmallows e as outras coisas que haviam sobrado para dentro da casa. Nós ainda estávamos recordando e rindo de alguns momentos que aconteceram durante a cantoria. e estavam admiradas com a habilidade do para tocar violão e não falavam de outra coisa. Meg aproveitou para se aproximar e descobrir o que tinha acontecido na última música.

- O que foi que eu fiz de errado? Eu não entendi. - Meg sussurrou, me olhando com preocupação.
- Não foi nada. Nem se preocupa. - Eu tentei evitar o assunto.
- Como não foi nada? Todo mundo mudou do nada! - Meg insistiu. - Qual o problema com a música? - Ela perguntou novamente.
- Não é nada demais. - Eu rolei os olhos, tentando demonstrar indiferença. - O cantou ‘Never Gonna Be Alone’ pra mim quando me pediu em namoro. - Eu não queria que ela se sentisse mal.
- Não acredito. - Meg fez careta e levou as mãos ao rosto.
- Não, Meg. Não tem problema. Sério! - Eu tirei as mãos dela do rosto. - Você não sabia. - Eu completei.
- Agora que você falou, eu lembrei. Eu acho que você mencionou alguma coisa sobre isso pra mim um dia. - Ela se lembrou. - Eu nem lembrava disso. - Ela estava se sentindo muito mal com aquilo.
- Para com isso, Meg. - Eu neguei com a cabeça. - Não tem problema. Eu já disse! Nós cantamos e deu tudo certo. - Eu quis acalmá-la.
- Desculpa mesmo. - Ela pediu, lamentando. - Eu não sinto muito pelo , mas por você sim. - Ela completou, me fazendo rir. Me aproximei e a abracei entre risos.
- Está tudo bem. - Eu reafirmei, finalizando o assunto.

Minha conversa com a Meg foi 100% verdadeira. Realmente estava tudo tão bem, que chegou a me surpreender. Assim como todas as outras pessoas da casa, eu fui dormir extremamente feliz. A noite tinha sido maravilhosa e memorável. Os meus problemas com o não atrapalharam em nada. Aliás, eu acho que nem haviam mais problemas. Para mim, estava tudo resolvido e superado. Já para o , as coisas eram um pouquinho mais complicadas, mas nada com o que ele não conseguisse lidar. Para ele, o que tratava-se de mim era sempre um pouco mais complicado do que o convencional, mas isso não faria daquela noite menos especial para ele.

Acordamos bem cedo na manhã seguinte, pois havíamos combinado de ir até o lago, que ficava bem próximo da casa da tia Janice. As garotas vestiam biquínis por baixo de suas roupas e os garotos vestiam regatas e shorts para nadar. Como fazia muito tempo que não visitávamos aquele lago, e eu não tínhamos certeza se ainda era possível nadar nele. e eu ainda estávamos agindo normalmente um com um outro. Não fazíamos mais tanta questão de mantermos distância um do outro. Não estávamos pensando sobre o que já tinha acontecido entre nós. Na verdade, era como se nada tivesse acontecido.

- Meu Deus. Continua igualzinho! - Eu fiquei perplexa ao me aproximar do lago.
- É muito bonito aqui. - disse, perplexo.
- A ponte e a árvore ainda estão aqui. - sorriu pra mim. Ele referia-se a uma pequena ponte que terminava no meio do lago. Bem ao fim dessa ponte, havia uma árvore enorme, que fazia uma sombra maravilhosa sobre o lago. A árvore também tinha uns cipós enormes, que permitia que os visitantes se agarrassem e se jogassem no lago. Era incrível.
- Vocês brincavam aqui quando eram crianças? - quis saber.
- Muito. - afirmou com um sorriso nostálgico.
- Minha mãe não gostava muito que pulássemos aqui. Ela tinha medo que acontecesse alguma coisa e só nos deixava ficar no raso. - Eu apontei na direção da parte rasa do lago.
- Mas a tia Janice sempre nos trazia aqui quando ela não estava por perto e nos deixava pular dessa ponte. - lembrou aos risos.
- A tia de vocês era maravilhosa. - fez questão de nos dizer.
- Ela era. - Eu concordei na mesma hora.
- O Mark iria gostar de conhecer esse lugar. - me olhou com um fraco sorriso.
- Ia mesmo. - Eu afirmei em meio a um sorriso. Era incrível para mim ver o falando daquele jeito e desejando que o irmão estivesse ali conosco. Demonstrava que ele realmente se importava e isso era tudo o que poderia desejar ao Mark.
- Quem vai primeiro? - apontou em direção ao lago. Todos nós trocamos olhares.
- As damas primeiro. - olhou para mim e para as garotas.
- Eu vou, seus medrosos. - Meg rolou os olhos, antes de aproximar-se da beirada da ponte. Ela ficou de costas, enquanto começava a tirar suas peças de roupas. E com ‘ficou de costas’, eu quis dizer que ela deu a chance para que alguém a empurrasse. Imagina se o perderia essa oportunidade. nem teve tempo de impedi-lo.
- Não! Não. - Foi o que Meg conseguiu dizer antes de cair na água.
- Ops. - forçou um sorriso e abriu os braços.
- Idiota! - Meg esbravejou, tentando jogar água na direção dele com os braços.
- Nós vamos nos vingar por você, Meg! - gritou, depois de trocar olhares com e .
- Como assim vão se vingar? - não levou a sério.
- Você empurrou ela e, agora, nós vamos te jogar. - fingiu lamentar.
- Uma ova! - fez careta, pensando em como fugir. Ele estava preso na beirada da ponte e não tinha pra onde correr. - Esperem! - Ele tentou evitar que os amigos se aproximassem, mas foi inútil. - Não. Vamos conversar! - Os garotos o ignoraram completamente e seguraram ele. segurou um dos braços, segurou o outro e o segurou as pernas. - MEU CELULAR! ESPERA. - Ele pediu, fazendo um escândalo.
- Dá pra mim. - se aproximou e pegou o celular do bolso do amigo. Meg estava gargalhando de dentro do lago.
- Ok. Vão com calma. - pediu, enquanto os garotos riam. - Deixa eu me preparar… - Ele começou a pedir, mas nem conseguiu terminar a frase. Os garotos fizeram uma rápida contagem e o jogaram no lago.
- Obrigada, meninos. - Meg fez um coração com as mãos.
- Eu vou agora. - se prontificou. cuidou para que ninguém a pegasse desprevenida, enquanto ela tirava suas peças de roupa. Ela foi a primeira de nós a pular no lago, depois de se balançar no cipó. foi logo em seguida. Depois, foi a minha vez e a vez da . foi o último a pular.

Passamos praticamente a tarde toda no lago. Só paramos para comer algumas coisas que havíamos trazido em uma cesta de piquenique. Foi muito divertido. Terminamos a tarde, fazendo uma competição de saltos no lago. foi o campeão da brincadeira e ficou se gabando durante todo o nosso caminho para a casa. Não dava para julgá-lo. O salto dele no lago realmente tinha sido memorável.

Ao voltarmos para a casa, resolvemos tomar banho, antes que preparássemos algo para o jantar. Estávamos com tanta fome, que nem deu tempo de preparar algo mais elaborado. Comemos alguns salgados prontos, que a havia trazido de Atlantic City. Após o jantar, nos reunimos na sala para jogar conversa fora. A maioria fez isso, enquanto bebia garrafas de cerveja e alguns goles do vinho que a Meg havia trazido.

Depois de todas as bebidas, alguns estavam mais bêbados do que outros. e estavam especialmente bêbados. tinha bebido bem pouco e para ser sincera, não me lembro de ter visto o tomar alguma coisa que não fosse água. As garotas também estavam um pouco alteradas, mas nada que chegasse perto dos meus conhecidos vexames. Para não dizer que eu não havia tomado nada, eu tomei sim dois ou três goles de cerveja, mas eu não cheguei a ficar instável.

- Ok, acabou a cerveja! - informou a todos, depois de forjar uma ida até a cozinha. Ele sabia que a maioria já havia bebido demais e, por isso, achou melhor mentir.
- O que ele quis dizer com ‘acabou a cerveja’? - olhou para o meu irmão, confuso.
- Ele quis dizer que você bebeu tudo! - o olhou, irritado.
- EU? - apontou pra si mesmo.
- Foi o . - rolou os olhos.
- Foi o Jonas. - Meg tentou defender o namorado.
- Você está drogada? O Jonas nem bebeu. - respondeu, apontando para o .
- Eu sei. Foi só pra não perder o costume. - Meg disse antes de começar a rir sozinha.
- Vocês deram droga pra ela? - perguntou, olhando para os amigos.
- Se ela está drogada, todas vocês também estão. - defendeu a namorada.
- Eu estou drogada? Eu não consigo me lembrar. - arregalou os olhos. - ! Eles me deram drogas? - Ela puxou o namorado.
- Meu Deus. - Eu estava perplexa com toda a cena que eu estava vendo e não consegui evitar a risada. me viu rindo e se aproximou.
- Nós devemos continuar presenciando essa comédia ou devemos bancar os responsáveis e mandar todo mundo pra cama? - perguntou ao sentar-se ao meu lado.
- É uma proposta bem tentadora. - Eu olhei pra ele, sem conseguir parar de rir.
- Hey! Do que vocês estão rindo? - nos interrompeu, nos olhando feio.
- Tem algum palhaço aqui, por acaso? - cruzou os braços. Ele estava bêbado! Ele nem sabia do que estava falando.
- Palhaços? Onde? - entrou em pânico.
- Nós somos os palhaços! - tentou explicar.
- O QUE? Há dois minutos nós eramos usuários de drogas e agora nós somos palhaços? Que tipo de suruba é essa? - parecia confusa.
- Minha nossa! Você está bêbada, amor. Fica quietinha e me deixa resolver. - colocou uma das mãos sobre a boca da namorada. - Do que vocês estão rindo? - Ele voltou a encarar o e a mim.
- De vocês, é claro! Vocês estão tão bêbados! - tentou falar sério com o meu irmão, mas foi impossível.
- Vocês estão péssimos. - Eu tive que concordar com ele.
- Oh, nos desculpem se não somos bêbados tão legais como vocês dois. - disse, fazendo careta.
- Me desculpem se eu não estou em cima de um palco agora cantando o que eu não tenho coragem de falar na cara de . - ironizou. Desnecessário essa, hein?
- Me desculpem se eu não estou sofrendo por ter meu coração quebrado. - também ironizou.
- Ok, esperem… - Eu ia argumentar a meu favor e a favor do também, mas fui interrompida.
- Me desculpem se eu não estou soletrando todas as minhas palavras. - acompanhou os garotos e foi apoiada por todos. O que isso? Um complô?
- Já está bom, né? - tentou acabar com o assunto.
- Me desculpem por não perder a minha virgindade, hoje. - sorriu para o , sentindo-se vitorioso. Pesada essa, hein?
- Me desculpem se eu não estou tentando fazer sexo nos bastidores de um show de uma banda qualquer. - Meg repentinamente soltou essa bomba. Ela lembrou-se daquela vez em que eu a abandonei em um barzinho para sair às presas com o . Na mesma hora, todos olharam para ela, perplexos.
- Espera, o que ela quis dizer… - estava bêbado demais pra entender.
- Ok, todo mundo pra cama! - antecipou-se, antes que as coisas piorassem.
- Eu estou exausta mesmo. - suspirou.
- Você entendeu o que ela… - ainda estava um pouco perdido e tentou pedir a ajuda da namorada.
- Eu já nem lembro o que ela falou. - negou com a cabeça.
- Ela disse que… - parou de falar e ficou pensativo. - Do que nós estamos falando mesmo? - Ele olhou pra ela, confuso.
- , eu quero dormir. - rolou os olhos, sem paciência.
- Vocês conseguem ir para os seus respectivos quartos ou precisam de ajuda? - perguntou em um tom mais alto para que todos ouvissem.
- Eu não posso dormir aqui mesmo? - perguntou, apontando para o sofá.
- Deixa que eu levo você e a . - me olhou e rolou os olhos.
- Eu ajudo o e a . - Eu disse, segurando o riso.
- Eu não estou tão ruim. Eu posso encontrar o nosso quarto. - Ouvi o dizer para a Meg.
- Vamos. - Eu fui até o , virei o corpo dele na direção dos quartos e comecei a empurrá-lo. nos acompanhou lentamente. - Por aqui. - Nos aproximamos dos quartos. - Não! Aqui não! - Eu segurei a , que estava entrando no quarto errado. - É esse aqui. - Nós paramos em frente a uma porta e eu a abri. entrou, ele estava meio cambaleando. entrou logo atrás dele. - Vocês preferem tomar banho? Vai ajudar. - Eu propus.
- Não. Eu só quero dormir. - disse, jogando-se na cama.
- Dormir? - olhou pra ela, decepcionado.
- Se você chegar perto de mim, eu te jogo da cama. - ameaçou, sem mover-se na cama.
- Mas nem se… - começou a dizer, mas eu interrompi porque eu não queria ouvir.
- Ok! Eu vou deixar vocês sozinhos. - Eu saí de fininho e fechei a porta.

Apesar de ter achado tudo aquilo muito engraçado, era horrível ficar com aquele cheiro de bebida impregnado nas minhas roupas e até mesmo no meu cabelo. Como eu disse, eu não tinha bebido, mas eu tinha várias pessoas bêbadas ao meu redor. O cheiro era tão forte, que parecia que era eu que tinha bebido. Com isso, eu resolvi tomar outro banho antes de ir dormir. Passei no meu quarto e optei, por causa do calor, por pegar a camisola ( VEJA AQUI) que eu havia trazido e fui para o banheiro.

Depois do banho, demorei mais algum tempo no banheiro, pois fiquei secando um pouco o meu cabelo. Eu não gostava de dormir com ele muito molhado. Escovei os dentes e vesti a minha camisola. Eu estava prestes a sair do banheiro, quando decidi colocar o hobby por cima da camisola, pois não sabia se ainda havia alguém acordado na casa. O banheiro ficava em frente ao meu quarto e parecia bastante silencioso do lado de fora, mas não custava nada, certo? Abri a porta do banheiro com muito cuidado e fiz o mesmo ao passar pelo corredor. Entrei lentamente no meu quarto, tomando cuidado para não bater a porta. Após fechar a porta, dei alguns passos em direção a cama e peguei o meu celular que estava em cima dela. Dei uma rápida olhada nas minhas redes sociais e me mantive completamente entretida por alguns segundos. Foi nesse momento, que alguém que estava logo atrás de mim cobriu os meus olhos. Minha primeira reação foi o susto.

- Adivinha quem é. - Era a voz do sussurrando no meu ouvido. Eu me arrepiei da cabeça aos pés e um sorriso espontâneo surgiu no meu rosto. Mesmo se ele não tivesse dito nada, eu reconheceria o perfume.
- O único cara dessa casa com coragem suficiente para entrar no meu quarto, mesmo o meu irmão estando no quarto ao lado. - Eu disse, rindo sem emitir som.
- Você está tentando me fazer ir embora? - tirou as mãos dos meus olhos.
- Não! É claro que não! - Eu me virei para olhá-lo e me certifiquei de fechar o meu hobby na mesma hora. Estávamos bancando os amigos, mas era melhor não abusar, certo? - Mas você deve estar ciente disso. - Eu ergui os ombros. Devo dizer que ele estava vestindo algo bem casual: um jeans velho e uma camiseta regata preta larga. Mesmo assim, ele continuava muito bonito.
- Seu irmão só vai acordar daqui uns 10 dias. - brincou, me fazendo rir. - Sério! Você precisava ter visto. Ele caiu na cama dormindo. Ele parecia uma pedra. - Ele contou.
- Ele nunca ficou tão mal. - Eu disse, surpresa. Eu queria me sentar e como a cama poderia soar como um convite, eu resolvi me sentar na mureta que tinha em volta da enorme janela do quarto, que ficava um pouco mais baixa do que o normal. Ele aproveitou a minha ida até a janela para observar o que eu vestia. Mesmo sem deixar quase nada à mostra, gostou do que viu. Aliás, quando é que ele não gostava?
- Eu nunca vi ninguém ficar tão mal quanto ele! - concordou comigo, mantendo a discrição. - Quer dizer, vi sim, né. - Ele me olhou de um jeito malandro, referindo-se aos meus dias de bebedeira.
- É exatamente por isso que eu tento evitar as bebidas alcoólicas. - Eu cerrei os olhos em sua direção. - Obrigada por me lembrar. - Eu deixei um sorriso escapar.
- Pode até ter sido uma experiência horrível para você, mas me garantiu umas boas risadas. - riu, sem emitir som. - E você também riu de todos hoje, por isso, você não pode me julgar. - Ele disse.
- Eu não vou te julgar, mas só porque o seu argumento é muito bom. - Eu disse e ele gargalhou.
- Eu sabia que ele era bom. - disse, deixando a risada de lado.

Depois das boas risadas que nós demos, um silêncio repentino se estabeleceu no quarto. Para que ficasse menos constrangedor, virei a cabeça para olhar para o lado de fora da janela. O céu estava extremamente estrelado e a lua cheia ajudava a clarear o quarto. também deixou de me olhar e aproximou-se novamente do criado-mudo, pegando pela segunda vez o mesmo porta-retrato nas mãos. Quando eu voltei a olhá-lo, ele ainda encarava a foto com um fraco sorriso no rosto.

- Qual o motivo da obsessão com essa foto? - Eu realmente fiquei intrigada. Não podia ser só curiosidade. Ele deixou de olhar para foto por poucos segundos para me olhar e logo depois voltou a olhá-la. Deu alguns passos na minha direção e parou na minha frente.
- O seu vestido. - finalmente disse.
- Meu vestido? Qual o problema com o meu vestido? - Eu o olhei com desconfiança e tirei o porta-retrato de suas mãos. Encarei a foto, procurando algum problema com o meu vestido e não consegui encontrar nada.
- Você estava usando ele no dia do acidente. - Ele explicou, sentando-se ao meu lado na janela. - Você estava usando ele no dia em que eu te conheci. - completou.
- Você… está falando… sério? - Eu olhei pra ele, achando que ele pudesse estar brincando.
- Eu juro que estou. - confirmou com um fraco sorriso no rosto. Seus cotovelos estavam apoiados em suas coxas e o rosto estava virado para mim.
- Uau… Eu não me lembrava. - Eu voltei a olhar para foto, sem acreditar. - Como… - Eu estava tão perplexa, que não consegui falar de primeira. - Como… você lembra disso? - Olhei novamente pra ele.
- Como eu poderia não me lembrar. - disse um pouco mais sério.
- Não. Sério! Como você lembra? - Eu ainda não estava acreditando que ele realmente se lembrava.
- Bem… - não sabia bem como falar. O sorriso tímido deixou isso bem claro. - Foi um dia bem marcante e importante pra mim, sabe? Eu… - Ele ergueu os ombros. - Eu não sei. Eu só… lembro. - completou.
- Provavelmente é por causa do seu pai. Foi um dia muito traumatizante por causa do que aconteceu com ele. - Eu disse apenas para que ele soubesse que eu não estava pensando que o que ele sentia por mim tinha alguma coisa a ver com aquilo.
- O engraçado é que eu não consigo me lembrar qual das camisas do Yankees ele estava vestindo naquele dia, mas eu consigo me lembrar perfeitamente o que você estava vestindo. - As palavras dele me deixaram um pouco nervosa. De repente, haviam borboletas no meu estômago.
- Isso é… - Eu nem sabia como descrever.
- Eu sei! É loucura. - A breve troca de olhares que tivemos, fez com que ele se afastasse. Ele manteve-se sentado, mas inclinou o seu corpo para trás e apoiou suas costas na janela.
- Eu duvido que, quando aquele acidente aconteceu e você me viu pela primeira vez, você imaginou que um dia nós viveríamos tudo o que nós já vivemos juntos. - Eu disse, sem olhá-lo.
- Eu acho que nem mesmo Shakespeare imaginaria algo assim. - sorriu, achando graça do meu comentário.
- Você tem razão. Talvez, Shakespeare fosse preferir um final mais trágico para nós dois. - Virei o meu rosto para trás para poder olhá-lo.
- E por que não um final feliz? - voltou a inclinar o seu corpo para frente, deixando-o na mesma direção que o meu. A simples aproximação dele fez com que eu me afastasse um pouco, me sentasse de frente para ele e a apoiasse as minhas costas na parede.
- Porque somos nós! As coisas sempre dão errado pra nós dois, lembra? - Eu disse com bom humor.
- Você provavelmente está certa, considerando que nos conhecemos em meio a um acidente em que o meu pai forjou a sua própria morte. - concordou, antes de mudar a posição de seu corpo e ficar de frente pra mim, apoiando suas costas na parede.
- E depois teve a perda de memória. - Eu fiz careta.
- Você está se referindo a primeira ou a segunda vez? - fingiu estar confuso e acabou deixando um sorriso escapar.
- Da primeira. - Eu afirmei com um olhos cerrados e um sorriso no rosto.
- E ai, você resolveu namorar o cara mais babaca do colégio, que coincidentemente era o meu maior inimigo. - Ele me julgou com os olhos.
- E você com a líder de torcida mais popular do colégio! Dava pra ser mais clichê? - Eu devolvi, me sentindo vitoriosa.
- É claro que dava! Eu me apaixonar justamente pela única garota que não queria ficar comigo naquela escola. - riu, sem emitir som.
- Convencido. - Eu neguei com a cabeça.
- Realista. - Ele abriu os braços.
- Ok! E ai, nós fomos para Nova York. - Eu quis retomar a brincadeira e a linha do tempo dos problemas que tivemos. - Eu fiquei doente. - Eu lamentei.
- Não. Isso foi bom! Nós demos o nosso primeiro beijo. - me corrigiu.
- É… eu acho que dá pra se dizer isso. - Eu disse, demonstrando estar em dúvida.- Oh! E eu descobri sobre a sua listinha. - Eu fiquei feliz por ter lembrado daquela.
- Está bem! Eu assumo a culpa por está pequena parte da história. - cedeu, me fazendo rir.
- Não é a pior parte, mas faz parte do meu top 3. - Eu disse.
- Você tem um top 3 dos meus erros? - me olhou com uma careta engraçada.
- Você não tem? - Eu devolvi a pergunta, segurando o riso.
- Nós temos que discutir isso, mas antes eu preciso lembrar que quando essa besteira da lista aconteceu, você foi pra festa com o Mark, que diga-se de passagem: é o meu irmão. - retomou o assunto anterior.
- Nem vem! Ninguém sabia que o Mark era o seu irmão naquela época. - Eu me defendi.
- Isso não muda os erros. - disse, tentando manter-se sério.
- Aham. - Eu fuzilei ele com os olhos.
- E o que vem depois? - perguntou, pensando alto.
- O meu segundo acidente. - Eu lembrei.
- E a sua segunda perda de memória. - complementou. - Você se lembrava de todo mundo, exceto de mim e o Peter. - Ele lembrou.
- Não foi culpa minha. - Eu ergui os ombros.
- É, mas você se deixou ser enganada pelo Peter pela segunda vez. - fez a ressalva.
- E depois eu me apaixonei por você pela segunda vez. Não conta? - Eu tentei reverter a situação.
- É um bom argumento. - mostrou-se satisfeito.
- Oh, e você deu em cima da Chelsea! - Eu novamente fiquei feliz por lembrar.
- E você beijou o Peter. - retrucou na mesma hora.
- Ok! Vamos pular essa parte, né? - Eu mordi o meu lábio inferior em meio a um sorriso desajeitado.
- E o que vem depois disso? - Ele me perguntou.
- Nós fomos presos. - Eu lembrei.
- Qual é! Isso foi divertido. - gargalhou ao se lembrar.
- Foi, mas poderia ter sido evitado, né? - Eu argumentei. - E depois disso? - Eu perguntei, em dúvida.
- Acabou, né? Acho melhor pararmos por aqui. Eu estou com sono mesmo. - demonstrou que pretendia se levantar, mas eu segurei o seu braço quando me lembrei do que vinha a seguir.
- Agora, vem a Amber! - Eu o fiz continuar sentado. - Me desculpa. - Eu coloquei uma das mãos na minha boca e fiz careta. - Subiu uma ânsia de vômito. - Eu brinquei e ele me olhou, negando com a cabeça.
- Ela era a minha amiga! - se defendeu, achando graça da minha reação ao falar o nome da infeliz.
- Ela era apaixonada por você! Como você não conseguia enxergar isso? - O assunto ainda me deixava um pouco indignada.
- Eu fui cego, ok? Eu assumo. - teve que reconhecer.
- Ah! Obrigada! - Eu fiquei feliz ao ouvir ele reconhecer.
- Mas depois teve a sua ida pra Nova York. - tentou mudar o assunto.
- Sim! O que nos remete novamente a Amber. - Eu voltei a julgá-lo com o olhar.
- Eu fiz besteira, ok? Pare de me julgar. - pediu, me fuzilando com os olhos. - Não foi você que começou a namorar o meu irmão logo depois? - Ele sorriu.
- De novo: ninguém sabia que ele era o seu irmão. - Eu me defendi novamente.
- Eu já disse que não gosto desse seu argumento. - tentou manter-se sério, mas acabou rindo.
- Vamos de uma vez para a real tragédia dessa história: Steven. - Eu lamentei por tocar no nome dele.
- Steven… - rolou os olhos. - De todos os problemas que nós tivemos, esse foi o mais difícil de aceitar. - Ele disse, chateado.
- É… ele virou a nossa vida de cabeça pra baixo. - Eu falei um pouco mais séria.
- Ele foi o pior. - concordou, balançando a cabeça para cima e para baixo. - E é exatamente por isso que essa linha do tempo que nós acabamos de fazer termina com ele. - Mesmo estando chateado, ele tentava parecer conformado.
- Quer saber? Nós não precisamos falar sobre isso. Nós já relembramos tudo mesmo. - Eu tentei mudar o assunto.
- Sim. Vamos falar do top 3 dos meus erros. Eu fiquei curioso. - olhou em meus olhos.
- Tem certeza? - Eu achei que poderia não ser muito agradável para ele.
- Eu tenho que ter o direito de me defender. - justificou a sua curiosidade.
- Certo. - Eu olhei no rosto dele e trocamos sorrisos sem nem perceber. - No meu top 3, a Amber definitivamente está no primeiro lugar. - Eu fui sincera.
- Sério? - desacreditou.
- Eu odeio ela. Muito! - Eu me justifiquei.
- Não me surpreende nem um pouco. Você sempre se sentiu muito ameaçada por ela. - rolou os olhos.
- Como é que é? - Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- O que foi? Você sabe que é verdade. - achou graça da minha reação.
- ‘Você sabe que é verdade.’ - Eu engrossei a voz e repeti a frase dele, enquanto fazia careta.
- Para com isso! - começou a rir.
- É impressionante o fato de você continuar defendendo ela mesmo depois de tudo. - Eu não estava levando tudo tão a sério quanto parecia.
- Ok, ok! Eu acho que você entendeu errado. O que eu quis dizer é que você sempre se sentiu ameaçada por ela sem necessidade alguma. - tentou se explicar.
- Isso soou bem melhor. - Eu ergui os ombros, reconhecendo. - Mas não justifica o seu erro! - Eu ressaltei.
- Eu sei. Não tem como eu me defender desse. - também reconheceu.
- Bom mesmo. - Eu tentei dizer mais séria, mas ele voltou a rir.
- E qual é o segundo lugar do seu top 3? - Ele perguntou.
- A lista! É claro. - Eu o julguei com o olhar.
- Eu era jovem e… imaturo. - explicou-se na mesma hora.
- E idiota. - Eu completei.
- E isso também. - reconheceu. - Faz muito tempo. Você não pode me condenar por isso. - Ele abriu os braços.
- Eu sei, mas… eu também não posso tirar isso do meu top 3. - Eu argumentei.
- Justo. - Ele ergueu os ombros. - Faltou o número 3. - esperou que eu falasse.
- O seu apartamento. - Eu cruzei os braços.
- O que tem o meu apartamento? - não entender.
- Você deixou que ‘ela’ te ajudasse a decorar o seu apartamento. Esse… foi um erro cruel. - Eu neguei com a cabeça.
- A Amber de novo? Espera! Mas isso não estava incluso no primeiro lugar do seu top 3? - ficou confuso.
- Não! São fatos diferentes. Coincidentemente, diz respeito a mesma pessoa, mas são erros diferentes. - Eu tentei explicar pra ele.
- Esse foi totalmente involuntário. - se defendeu.
- Mas continua sendo um erro. - Eu ergui os ombros, tentando mostrar que eu não podia fazer nada a respeito.
- Está bem. Eu tenho que reconhecer que o seu top 3 me surpreendeu. - mostrou-se impressionado.
- É, mas… eu estou me sentindo um pouco mal por ter ficado aqui enumerando os seus erros. - Eu disse, deixando de olhá-lo. Quem gosta de ficar ouvindo alguém falar e julgar os seus erros?
- Tudo bem. Eu tenho ciência de todos os meus erros. Além disso, nós conseguimos superar todos eles, certo? - tentou fazer com que eu me sentisse melhor.
- Certo. - Eu concordei, enquanto pensava que, mesmo superando tudo aquilo, não tinha sido o bastante para nos manter juntos. Acho que nós dois pensamos a mesma coisa. - Por que você também não faz um top 3? Nós ficaríamos quites. - Eu sugeri, tentando melhorar o clima.
- Agora? Eu nunca pensei nisso. - ficou um pouco indeciso.
- É claro que já pensou. Todo mundo pensa nessas coisas, mesmo que inconscientemente. - Eu tentei incentivá-lo. - Qual é! São só 3. - Eu insisti.
- Ok. Eu vou fazer isso! E vou fazer porque eu sou competitivo demais para deixar que o seu top 3 seja melhor que o meu. - disse, me fazendo rir.
- É um bom começo. - Eu ainda estava rindo.
- O primeiro lugar do meu top 3 dos seus erros é… - pensou algum tempo antes de continuar. - Sem dúvida, aquela sua carta de término. Você inventou que estava com outro cara! - Ele afirmou, indignado.
- Eu não sei se você lembra, mas eu fiz isso por você. - Eu tentei argumentar.
- Fez por mim? Você me convenceu de que tinha me traído com outro cara. - ainda achava aquilo um absurdo.
- Está bem! Talvez, tenha sido um erro. - Eu reconheci, sem muita empolgação.
- É o topo do meu top 3. É um erro gigantesco! - corrigiu.
- Podemos trocar de brincadeira? Eu não gosto mais dessa. - Eu brinquei, sabendo que ele ia me julgar.
- Oh, não! Eu estou me divertindo bastante. - riu, sabendo que eu estava brincando.
- Pra quem não queria brincar, você está muito animadinho. - Sem pensar, inclinei um pouco o meu corpo em sua direção e fiz careta, mantendo o meu rosto em frente ao dele.
- Posso continuar o meu top 3? - olhou detalhadamente o meu rosto.
- Vai em frente. - Eu sorri discretamente.
- O meu segundo lugar é… - Ele pensou menos dessa vez. - Você não ter evitado a doação de sangue do Mark. - lamentou por dizer aquilo. - Me desculpa. Eu sei que a sua intenção foi boa, mas… foi um erro que me marcou bastante e que envolvia muita coisa. - Ele tentou ser sincero. De repente, a brincadeira ficou um pouco mais séria.
- Eu entendo completamente o seu lado e o seu ponto de vista. - Eu fui totalmente compreensiva. - Eu acho que esse foi o meu erro involuntário, sabe? Acabou acontecendo. - Eu tentei explicar. O assunto era um pouco delicado para nós. Provavelmente porque era bem recente.
- Eu sei disso! É exatamente por isso que esse é o segundo lugar do meu top 3 e não o primeiro. - A frase dele conseguiu me arrancar um sorriso.
- Você é muito generoso. - Eu ironizei, voltando a olhar para ele.
- Eu sei que sou. - sorriu, olhando nos meus olhos. Um estranho silêncio se manteve, enquanto trocávamos olhares. A coisa ficou mais séria quando os olhos dele desceram sutilmente até os meus lábios. Meu instinto involuntário foi me levantar da janela. Aquilo me assustou um pouco. - Você não quer ouvir o meu terceiro lugar? - ficou um pouco sem graça com a minha atitude repentina, mas tentou seguir em frente.
- Qual é? - Eu não quis demonstrar tanto pânico com o que tinha acontecido. Me virei para ele e vi a sua cabeça baixa. Achei que alguma coisa estava errada. - Qual é o terceiro lugar? - Eu repeti a pergunta, fazendo com que ele levantasse o seu rosto e me olhasse.
- Seu terceiro maior erro foi… - hesitou poucos segundos antes de continuar. - Eu acho que… foi ter vindo passar o feriado aqui. - Confesso que fui pega de surpresa.
- Por quê? - Eu olhei pra ele mais séria e cheguei a dar alguns passos na direção dele. - Por que eu não deveria ter vindo? - Aquilo me incomodou um pouco, pois parecia que ele estava me acusando ou tentando insinuar alguma coisa.
- Eu estava indo bem, sabe? Sem te ver nessas últimas semanas… e te evitando de todas as maneiras possíveis. E… de repente, você aparece aqui e… estamos aqui conversando e eu já nem me lembro mais dos meus motivos pra ter me afastado de você. - disse, mantendo-se sentado.
- Foi pela sua família. - Eu fiz questão de lembrá-lo. - Você se afastou... pela sua família. - Eu completei, sensibilizada com o que eu estava ouvindo.
- E por que, olhando pra você agora, isso não faz o menor sentido pra mim? - Ele parecia um pouco confuso.
- Faz sentido, . Você só… não quer aceitar isso. - Apesar de tudo o que eu estava sentindo naquele momento, eu não queria que ele voltasse atrás em uma decisão tão importante pra ele. Depois de ouvir a minha frase, ele se manteve algum tempo em silêncio e parecia pensar bastante. Vê-lo naquela total confusão, fez com que eu me sentisse mal por ter estar ali e por aquela conversa que acabamos de ter. Eu voltei a me aproximar dele e me sentei novamente ao lado dele, pensando em algum jeito de reverter tudo aquilo. - Olha, eu sinto muito por ter vindo e por ter deixado as coisas mais difíceis pra você. Eu espero que você entenda que a minha intenção nunca foi te deixar confuso ou… bagunçar com os seus sentimentos ou com as suas decisões. - Eu estava olhando para ele, mas o olhar não era correspondido.
- Pare de se desculpar. Você mal sabia que eu estaria aqui. Você não tem culpa de nada. Nós não temos culpa de nada. - negou com a cabeça. - Eu olho pra nós dois agora, relembrando todos os problemas que tivemos que superar e... eu só consigo pensar em uma coisa. - repentinamente virou o seu corpo em minha direção e passou a me olhar nos olhos. - Por que nós? Por que nós tivemos que passar por tudo isso? Por que nada disso aconteceu com o seu irmão e a ou… com a e o ? - Ele parecia um pouco frustrado.
- Por que se acontecesse, talvez, eles não fossem capazes de superar como nós fizemos. - Eu dei o meu palpite.
- O que você quer dizer? Que eles não se apaixonaram como nós? Que o nosso amor era maior que o deles? É isso? - hesitou antes de o usar os verbos da frase no passado.
- Eu acho que… não existe amor maior ou menor. O que existe são maneiras diferentes de se viver o amor. A nossa maneira era diferente. - Eu fui completamente sincera. A minha resposta à pergunta dele fez com que o jeito que ele me olhava mudasse. Um breve silêncio deixou tudo ainda mais intenso.
- Se a nossa maneira é assim tão diferente e… errada, por que é que toda que eu olho pra você, mesmo depois de um término como o que tivemos, eu sinto que ainda existe algo inacabado entre nós? - Quando ele percebeu que me pegou desprevenida, seu olhar desceu novamente até os meus lábios por poucos segundos.
- Talvez, você só esteja confundindo o inacabado com a sua dificuldade de aceitar que realmente acabou. - Em um momento de fraqueza, meus olhos também desceram até os lábios dele. Era tão errado, mas o fato dos nossos rostos estarem tão próximos me fez perder um pouco o senso da realidade.
- Se realmente acabou, por que o meu coração continua reagindo a você? - pegou uma das minhas mãos e a levou até o seu peito para que eu pudesse sentir o seu coração, fazendo com que nossos rostos ficassem ainda mais próximos. O coração dele batia tão forte quanto o meu. - Por que a única coisa boa que aconteceu comigo nesse último mês foi ter sonhado com você todas as noites? - Ele aproximou um pouco mais o seu rosto do meu. Ele só deixava de olhar nos meus olhos, quando desviava o olhar até os meus lábios. - Por que é que só em pensar em beijar você, eu esqueço que algum dia existiu algum motivo que me levasse a não fazer isso. - Mais uma aproximação por parte dele e eu já nem conseguia pensar em mais nada que não fosse ele. Eu já conseguia sentir a respiração quente dele nos meus lábios.
- Essas perguntas… - Eu estava tão atordoada por tentar tanto evitar aquilo e não conseguir, que fechei os meus olhos para tentar terminar a frase. Neguei sutilmente com a cabeça e sorri fraco. - Essas perguntas são suas, mas elas também poderiam ser minhas. - Ao me ver fechar os olhos, aproximou ainda mais o seu rosto do meu, fazendo com que a ponta dos nossos narizes se tocassem. Ele também fechou os seus olhos, tentando evitar uma nova aproximação.
- Você sabe a resposta, não sabe? - Os lábios dele acabaram tocando sutilmente os meus, enquanto ele sussurrava.

Meu coração estava tão apertado, que até parecia que ele estava implorando para que eu tomasse uma atitude naquele exato momento. Todo o meu corpo estava reagindo a proximidade dele. Eu não conseguia pensar em nada além da boca dele tão próxima a minha. Tentei me controlar nos primeiros segundos, mas não teve jeito. Eu tive que beijá-lo. O beijo foi tão esperado por nós dois, que até parecia o nosso primeiro beijo. Nossos lábios se tocaram e se mantiveram colados, sem que fizéssemos qualquer movimento. O momento foi tão mágico, que não houve qualquer tipo de malícia ou afobação.

- Eu… - começou a sussurrar, interrompendo repentinamente o beijo. A ponta dos nossos narizes ainda se tocavam. - Eu queria tanto que vivêssemos isso. - A frase dele fez com que eu abrisse os meus olhos. Ele já tinha aberto os dele. - Eu queria tanto. - reafirmou, angustiado. - Mas… eu… - Ele olhou em meus olhos. - Eu... não posso. - Ele se afastou e se levantou repentinamente. No primeiro momento, eu não soube como reagir ou até mesmo como me sentir. Eu não sabia se eu estava brava, arrependida ou triste. Eu achava que tinha cometido um erro. Eu não deveria ter beijado ele.
- Eu não… - Eu não sabia se eu me desculpava ou se eu mandava ele sair do meu quarto. Me levantei e fiquei olhando para ele, que continuava de costas para mim.

estava parado em frente a porta do quarto. Ele a encarava, tentando decidir se sairia por ela ou se a trancava e ficava de vez. A decisão era difícil e ele ficou algum tempo tentando encontrar respostas dentro de si mesmo para tomar uma atitude. O coração dizia uma coisa e o cabeça dizia o oposto. A razão e a emoção estavam iniciando a ‘3° Guerra Mundial’ dentro dele e aquilo só o deixou mais angustiado.

- Me desculpa, . - Eu finalmente consegui dizer alguma coisa. - Eu não queria… - Eu estava extremamente nervosa. - Eu não devia… ter feito isso. - Eu estava me sentindo péssima. Ele me provocou e se aproximou, mas eu tinha que ter sido mais racional. Eu tinha que ter impedido aquele beijo. não disse absolutamente nada. Ele apenas tocou a maçaneta da porta e eu estava certa de que ele ia sair do quarto e ia me deixar falando sozinha. - Vamos fingir que nada disso aconteceu. - Eu sugeri, dando alguns passos na direção dele. - Eu vou juntar as minhas coisas e vou voltar pra Nova York amanhã bem cedo e… nós podemos fingir que nada disso aconteceu. - Eu estava desesperadamente procurando uma maneira de me sentir melhor. O silêncio dele só me deixava cada vez mais angustiada. - Fala comigo, . - Eu pedi. Ele manteve-se em silêncio, mas percebi que ele havia feito algum movimento com as mãos. Eu imaginei que ele fosse sair do quarto e tentei dizer mais alguma coisa. - Por favor, diz alguma coisa. - Eu pedi outra vez e continuei sem qualquer resposta.

Eu olhei para ele pela última vez, conformada com a maneira que aquela noite terminaria. Abaixei a minha cabeça e encarei minhas mãos inquietas por poucos segundos. Eu ficaria ali, encarando elas o resto da noite, se o meu rosto não tivesse sido repentinamente puxado para cima pelas mãos do segundos antes de ele colar os nossos lábios. O beijo não chegou a ser aprofundado, pois o o interrompeu antes. As mãos dele continuavam em meu rosto e eu tive um pouco de dificuldade para abrir os meus olhos.

- Eu não quero esquecer. - afirmou, olhando em meus olhos. - Eu não quero pensar em mais nada que não seja você. - Ele negou com a cabeça. - Eu só quero ficar com você. - Seus olhos desceram até os meus lábios. - Eu quero ficar com você sem pensar no que isso vai me custar. - disse antes de me beijar mais uma vez.

Dessa vez, o beijo foi imediatamente aprofundado. As mãos dele continuavam no meu rosto e os dedos dele estavam entrelaçados nos fios do meu cabelo. O beijo foi longo e calmo, mas teve uma intensidade fora do normal. Estávamos aproveitando todo o tempo perdido naquele último mês. Quando parecia que ele estava prestes a terminar o beijo, suas mãos desceram pelo meu cabelo, deslizaram pelas minhas costas e alcançaram a minha cintura. puxou o meu lábio inferior, mas acabou não desgrudando os nossos lábios. Ele começou a dar lentos passos, empurrando o meu corpo para trás. Meus olhos estavam fechados, mas eu sabia que ele estava indo em direção a cama.

- Você está falando sério? Acha mesmo uma boa ideia? - Eu descolei os nossos lábios e abri os olhos para encará-lo.
- Você não precisa fazer nada que você não queira. - tirou suas mãos da minha cintura e as colocou no ar, demonstrando que eu poderia desistir a qualquer momento. Olhei para ele, como se dissesse: ‘Muito engraçado!’. Ele respondeu com um sorriso. Seu corpo continuou empurrando o meu e no momento em que eu percebi que a cama estava logo atrás de mim e que as mãos dele continuavam afastadas do meu corpo, eu segurei a camisa dele e o puxei junto comigo. Eu cai na cama e trouxe o corpo dele por cima do meu. Para ele, foi o bastante para que ele entendesse que eu havia aceitado a sua proposta. Com a proximidade dos nossos rostos, foi inevitável que não nos beijássemos novamente. Os cotovelos dele estavam apoiados no colchão para evitar que todo o peso do corpo dele recaísse sobre o meu.
- Espera. - Eu finalizei abruptamente o beijo. Ele me olhou, sem entender. - Você esqueceu que o está no quarto ao lado? - Eu arqueei uma das sobrancelhas. Eu queria ter certeza de que ele sabia o que estava fazendo.
- Não esqueci. - negou com a cabeça, mantendo seus olhos em meus lábios. - Eu me resolvo com ele depois. - disse antes de se aproximar e selar os meus lábios. Ele puxou o meu lábio inferior, começando um novo beijo. Mesmo estando extremamente surpresa com a resposta dele, eu correspondi ao beijo. Joguei o meu corpo contra o dele propositalmente, trazendo o meu corpo para cima do dele. Continuei a beijá-lo, mas a última frase dele continuava na minha cabeça e estava me deixando eufórica. Eu tive que interromper o beijo mais uma vez.
- Você realmente disso isso? - Eu perguntei, sem conseguir esconder a minha felicidade.
- O que eu disse? - não sabia sobre o que eu estava me referindo.
- Você disse que vai se resolver com o meu irmão depois. - Eu repeti a sua frase.
- E eu vou. - confirmou, me arrancando um sorriso espontâneo.
- Você faria isso? - Eu estava muito surpresa. Obviamente, nós estávamos falando sobre sexo. Eu não conseguia acreditar que nós finalmente iriamos parar de mentir e parar de fingir que nada tinha acontecido.
- Por você? - perguntou retoricamente. - Me diz o que eu não faço por você, . - Ele sorriu de maneira doce, antes de colocar uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
- Você está diferente. - Eu comentei, sem conseguir evitar o tom de admiração. Eu me referia a maturidade dele.
- Isso é bom? - perguntou, curioso.
- É muito bom. - Eu tentei não soar como uma idiota apaixonada, mas eu definitivamente falhei. Eu não consegui evitar uma reaproximação e o beijei.

O nosso beijo era algo surreal. Dizer que nossos lábios faziam o encaixe perfeito parecia pouco para explicar. Era mágico. Os dedos dele se enroscaram no meu cabelo, afastando os fios de cabelo do meu rosto. Quando o beijo se intensificou um pouco, desceu suas mãos até a minha cintura e com um pouco de dificuldade desfez o laço do meu hobby. Com o laço desamarrado, ele subiu suas mãos até os meus ombros e foi tirando lentamente o hobby. Jogou o hobby em qualquer lugar e voltou a total atenção de suas mãos para mim.

Na primeira oportunidade, jogou o seu corpo sobre o meu, colocando-se novamente em cima de mim. Minha mão esquerda deslizou automaticamente até a sua nuca. Os lábios dele deslizaram até o meu queixo e chegaram até o meu pescoço. Os beijos carinhosos e ao mesmo tempo tão calorosos me deixaram um pouco mais ofegante. Desci minhas mãos pelas costas dele, segurei a barra de sua camiseta e a puxei para cima. interrompeu os beijos para me ajudar a retirar sua camiseta e logo que nos desvincilhamos dela, ele voltou com os beijos, enquanto uma de suas mãos subia pela minha coxa, levantando parcialmente a minha camisola. A empolgação exagerada com os beijos em meu pescoço me fizeram puxar o rosto dele para cima para que eu voltasse a beijá-lo. acompanhou o meu ritmo sem fazer qualquer questionamento, mas as mãos dele ainda estavam trabalhando bastante. Percebendo que tudo estava indo rápido demais, uma importante dúvida me veio em mente e eu tive que interromper o beijo para saná-la.

- Você está com o preservativo ai, certo? - Eu perguntei, olhando pra ele. Na hora eu percebi que havia algum problema. O olhar de desejo dele mudou repentinamente. Ele fechou os olhos e negou com a cabeça, como se estivesse insultando a si mesmo mentalmente. - Você não tem preservativo? - Eu refiz a pergunta, surpresa. - Está no seu quarto? - Eu não imaginei que o problema fosse tão grande.
- Não. - respondeu em tom de lamentação.
- Ok. - Eu coloquei minha mão sobre o peito dele e o tirei de cima de mim. - Como assim você não tem? Você sempre tem. - Eu estava perplexa.
- Foi aquela promessa idiota. - resmungou, irritado.
- Promessa? - Eu não achei que tivesse escutado direito. Não podia ser. - Você prometeu que não faria sexo? - Eu não conseguia acreditar. - Pra quem você fez essa promessa? Pro meu irmão? - Eu deduzi na mesma hora.
- Pro meu irmão. - respondeu, rolando os olhos.
- Ok! Isso está ficando cada vez melhor. - Eu ri, pois não conseguia acreditar no que ele estava dizendo. - Você prometeu ao Mark que não faria sexo… comigo? - Eu tinha que ter entendido errado.
- Mais ou menos. - respondeu em meio a uma careta. - Ele tinha certeza que você vinha pra cá nesse feriado e me fez deixar os preservativos lá. - Ele completou.
- Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi. - Eu estava irritada com o fato de ele ter deixado as coisas irem tão longe, sabendo que não tinha preservativos.
- Eu sei. – teve que concordar.
- Ok! Deixe eu ver se eu entendi: você não tem preservativos e você está na minha cama. Por quê? - Ele sabia muito bem que sem preservativos o sexo era inadmissível.
- Eu esqueci completamente. Eu… - também estava incomodado com a situação. - Espera. Eu vou resolver isso. - Ele disse, levantando-se da cama.
- O que você vai fazer? - Eu perguntei.
- Tem outros 3 casais nessa casa. Não é possível que não tenha um preservativo nessa casa. - disse, colocando a camiseta novamente.
- Você está maluco? - Eu até me sentei na cama de tão perplexa que eu havia ficado com a ideia.
- Você já se viu com essa camisola? Você é que deve estar maluca. - disse, sério. Eu deixei um sorriso escapar. - Não se mova! Eu já volto. - Ele saiu do quarto com toda a pressa do mundo.

Apesar da determinação, estava um pouco receoso com o que iria fazer. Se não fosse tão necessário, ele não se arriscaria tanto. Já do lado de fora da porta do meu quarto, ele olhou para os lados, sem saber qual quarto invadir primeiro. Ele tinha três opções e duas delas eram mais fáceis, pois e estavam muito bêbados e deveriam estar dormindo feito uma pedra. era um grande risco, pois era o que menos tinha bebido naquela noite e o único que provavelmente estava consciente.

Ciente das suas duas opções, resolveu investir no primeiro. Invadir o quarto do em busca de preservativo seria ousadia demais. Andou silenciosamente pelo corredor e parou em frente a porta do quarto do e da . Com todo o cuidado, abriu a porta e assim que adentrou o quarto, foi surpreendido com as vozes do casal de amigos. Ele pararam de conversar assim que o o viram.

- ? Hey! Que bom te ver por aqui. - sorriu.
- Podemos te ajudar? - sorriu da mesma maneira. Eles continuavam bêbados.
- Eu duvido. - disse em baixo tom.
- O que? - não havia entendido o que ele tinha dito.
- O que vocês estão fazendo, afinal? Por que não estão dormindo? - não entendeu o que é que eles estavam fazendo, já que ambos estavam deitados na cama, mas estavam com roupa.
- Estamos discutindo sobre o sexo entre os animais. - explicou, séria.
- Fala pra ela que as tartarugas fazem sexo sem o casco, por favor! Ela não acredita! - também falou sério. Por um minuto, achou que eles estivessem brincando, mas era real. Eles não estavam só bêbados. Eles pareciam dopados.
- Vocês só podem estar de brincadeira. - os olhou, perplexo.
- Escuta, estamos tendo uma discussão realmente importante aqui. Você pode… - fez sinal com a mão. Ela estava expulsando o do quarto.
- É claro. - afirmou, olhando para os dois como se fossem dois malucos.
- Então, a casca faz parte do charme. - voltou a sua atenção para o e eles voltaram a discutir sobre o assunto, enquanto dirigia-se a porta do quarto.
- Que charme? Desde quando a casca de uma tartaruga é charme? - revidou. O motivo da discussão deles só fez com que ele tivesse certeza que eles estavam completamente bêbados. abriu a porta e saiu, segurando-se para não rir.

O plano do havia ficado um pouco mais complicado do que ele imaginava. estava fora de cogitação e o poderia acordar a qualquer momento, já que ele não estava tão bêbado. Restava o . Encarou o quarto em que o amigo dormia com a perguntando a si mesmo se ele era tão louco para seguir em frente com aquilo. Naquele momento, a necessidade foi mais importante do que o medo de ser pego. abriu lentamente a porta do quarto e procurou saber se o e a estavam mesmo dormindo. Conseguiu ouvir os roncos do amigo da porta, o que o deixou mais tranquilo.

entrou no quarto sem fazer qualquer barulho e já foi logo procurando a carteira do . Ele sabia bem que o amigo costumava guardar os preservativos lá. avistou a carteira em cima do criado-mudo, que ficava exatamente ao lado do . Ele pensou três vezes antes de arrumar coragem para se aproximar da cama. Quando chegou ao criado-mudo, olhou para o amigo e viu que ele dormia tranquilamente. Esticou o braço e pegou lentamente a carteira nas mãos. não percebeu que havia pego a carteira ao contrário. Com isso, duas ou 3 moedas caíram no chão, fazendo um barulho estrondoso. Ele apenas fechou os olhos e segurou a respiração, rezando para que o amigo não acordasse. Segundos após o barulho das moedas, o quarto voltou a ficar silêncio e ele resolveu voltar a abrir os olhos. e continuavam dormindo. Suspirou aliviado e abriu rapidamente a carteira. Os olhos dele chegaram a brilhar quando ele encontrou o preservativo. O pegou e devolveu rapidamente a carteira no criado-mudo. Afastou-se lentamente da cama, abriu a porta e saiu do quarto. Ao chegar do lado de fora, ele finalmente conseguiu respirar fundo.

O tempo que o usou para pegar o preservativo, eu usei para pensar. Eu pensei no que ele havia me dito naquele hospital e pensei na promessa que ele havia feito ao Mark. Como eu posso ficar com ele, sabendo daquela promessa? Para ele é bem fácil quebrar promessas, mas para mim as promessas eram muito importantes. Eu já havia sofrido com a quebra de uma promessa e sabia muito bem o quão doloroso isso era. Eu não desejava isso para ninguém. Com isso, me levantei da cama e vesti novamente o meu hobby. Voltei a deitar na cama e coloquei um lençol em cima do meu corpo, já que eu estava decidida a dormir. Não demorou quase nada para que a porta do meu quarto fosse aberta. Eu estava deitada de costas para porta, por isso, eu não pude ver quem era, mas eu sabia muito bem que era o . Pensei em fechar os olhos e fingir que estava dormindo, mas ele saberia que eu estava fingindo.

Quando o entrou no quarto e me viu deitada daquela maneira, ele deduziu o que estava acontecendo. Ele deveria saber que citar a promessa feita ao Mark seria um erro. Mesmo assim, ele se aproximou, deu a volta na cama e se deitou calmamente ao meu lado, virando o seu corpo de frente para o meu. Nos olhamos algum tempo em silêncio.

- Ainda não acredito que você fez isso. - Eu disse, sem deixar de olhá-lo.
- Nem eu. - sorriu fraco, olhando em meus olhos.
- Onde você conseguiu? - Eu me referia ao preservativo.
- Na carteira do seu irmão. - disse em meio a uma careta.
- Não brinca. - Eu fechei os olhos, negando com a cabeça. - Você é mesmo maluco. - Eu disse, deixando um sorriso escapar.
- Você sabe que eu sou. - concordou. Mais um silêncio e os olhares continuavam. Ele estava esperando que eu me manifestasse.
- Eu reconheço muito todo o seu esforço… - Eu comecei a dizer e ele me interrompeu.
- Mas… - deduziu.
- Nós não podemos fazer isso. Você sabe que é errado. - Eu afirmei, séria.
- É errado querer ficar com a garota pela qual eu sou apaixonado desde os… Eu não sei… 12 anos? - Ele perguntou, sem qualquer intenção de cobrar alguma coisa de mim.
- Não diga isso. - Eu pedi encarecidamente. Apesar de ter ciência de que ficar com ele aquela noite era errado, eu ainda era humana que tinha sentimentos e vontades. Era difícil ficar ouvindo ele dizer esse tipo de coisa.
- Nenhuma promessa pode estar acima dos meus sentimentos e das minhas vontades. - disse.
- Então, talvez fosse melhor você parar de fazê-las. - Eu sugeri.
- Talvez seja. - Ele reconheceu. - Mas todas as minhas promessas são sinceras. Quando eu as faço, eu faço pra valer. Eu não falo da boca pra fora. - tentou se explicar. - O problema é que a vida é curta demais para se abrir mão de coisas tão importantes por causa de uma simples promessa. - Ele completou.
- Mas… você e o Mark? Isso não é importante? - Eu questionei.
- É claro que é! Ele é o meu irmão e… eu devo a minha vida a ele. - afirmou, sério. - E é exatamente por isso que é muito mais fácil de quebrar essa promessa. - Ele completou, me fazendo olhá-lo, sem entender.
- Jura? E por quê? - Eu perguntei, achando um pouco engraçado. Que tipo de argumento era aquele?
- Ele é o meu irmão! Não importa quantas besteiras eu faça, ele vai continuar sendo o meu irmão. Não tem como quebrar esse vínculo. - respondeu com um sorriso. - É completamente diferente quando é com alguém que não é com a família. Por exemplo: se um dia o seu irmão descobrir o que já aconteceu entre nós, ele vai querer me matar e provavelmente não vai mais querer olhar na minha cara, mas você… ele vai perdoar. Você é irmã dele. Não tem como quebrar esse vínculo. - Ele complementou o seu argumento.
- Você pensa mesmo em tudo, não é? - Eu neguei com a cabeça, tentando evitar um sorriso.
- Eu sou um gênio! - gargalhou.
- Ok, mas e eu? Eu não costumo quebrar promessas. - Eu percebi o esforço dele para me convencer a continuar com aquilo. - Como eu posso te ajudar a quebrar a sua? - Eu perguntei.
- Você tem razão. - me pareceu conformado demais. - É por isso que… - Ele sorriu. - Eu te prometo aqui e agora que… eu vou ficar com você essa noite. - fez uma nova promessa.
- Ah, não! - Eu demonstrei indignação.
- Parece que eu acabei de fazer outra promessa, não é? - fingiu estar aflito. - Não acredito! - Ele fingiu, negando com a cabeça.
- Você não fez isso! - Eu sorri, incrédula.
- Bem, parece que você vai ter que me ajudar a quebrar uma promessa essa noite. - ergueu os ombros em meio a um sorriso malandro.
- Você não presta, Jonas. - Eu cerrei os olhos na direção dele.
- Eu vou te deixar escolher qual das promessas eu devo quebrar. - Ele voltou a ficar um pouco mais sério. - Mas antes, eu queria te aconselhar a usar o seu coração e… - hesitou por alguns segundos. - Eu quero te lembrar que… - Ele se aproximou antes que eu tivesse qualquer reação e selou carinhosamente os meus lábios. Quando nossos lábios se descolaram, ele manteve-se bem próximo. - Eu sou louco por você. - sussurrou, bem próximo ao meu rosto. Meu coração parou por alguns segundos. Fiquei tão alucinada com o beijo, a aproximação e o sussurro, que não deixei que ele se afastasse. Segurei o rosto dele com as minhas mãos e levei a minha boca até a dele, beijando-o mais uma vez. Assim que terminei o beijo, abri os olhos e dei de cara com o melhor sorriso dele.
- Me desculpa, mas… eu prefiro quebrar a promessa que você me fez. - Foi difícil para mim dizer aquilo e ver o sorriso desaparecer no rosto dele. Eu me sentia um pouco culpada, pois fui eu que comecei aquilo, não é? Fui eu que beijei ele primeiro.
- Eu entendo. - Apesar da expressão de decepção, ele foi compreensivo.
- Mas eu não me importo se você ficar. - Eu disse, antes que ele pensasse em se levantar da cama. - Eu sinto falta de acordar ao seu lado. - Eu completei com um fraco sorriso.
- Eu acho que posso fazer esse sacrifício por você. - não escondeu sua felicidade diante do meu pedido.
- Obrigada. - Eu levei a minha mão até a dele e a acariciei.

Conversamos mais um pouco e, antes de dormir, definimos algumas condições para que aquilo funcionasse: eu poderia tirar o hobby e dormir só com a camisola, mas eu teria que me cobrir com o lençol; e o podia tirar a regata para dormir, mas teria que manter a bermuda. Achamos melhor não conversarmos muito para não correr o risco de falarmos alguma besteira, que pudesse me fazer mudar de opinião, mas não abrimos mão dos olhares. Eu adorava olhar pra ele e senti-lo tão perto de mim. se sentia da mesma maneira, mas a sua parte favorita era me ver dormir. Sempre que conseguia, ele costumava me esperar dormir para ficar me olhando. Foi exatamente isso o que ele fez naquela noite. Eu acabei dormindo e ele ficou ali, me olhando com um sorriso bobo no rosto. fez isso até adormecer.

Na manhã seguinte, eu fui a primeira a acordar. Era impressionante como o fato de acordar e vê-lo ao meu lado me trazia uma enorme tranquilidade e uma felicidade fora do normal. Fiquei observando os traços do rosto dele, enquanto ele dormia. Ele realmente era maravilhoso. Só parei de olhá-lo porque eu precisei ir ao banheiro. Quando eu voltei para o quarto, ele infelizmente já tinha acordado.

- Hey. - Eu sorri, me reaproximando da cama e me deitando novamente ao lado dele. Ele me olhou, ainda meio sonolento.
- Hey. - disse com a voz rouca, me arrancando um sorriso involuntário. - Que horas são? - Ele perguntou. Eu me virei e peguei o meu celular.
- São quase 9 horas. - Eu disse, devolvendo o celular no criado-mudo.
- Já? - reclamou, passando as mãos pelo rosto. - Eu tenho que sair daqui antes que alguém acorde. - Ele se sentou na cama.
- Eles não devem acordar tão cedo. - Eu deduzi, considerando o estado deles na noite anterior.
- De qualquer forma, eu… - levantou-se da cama e pegou a sua camiseta, colocando-a em um de seus ombros. - Eu vou… - Ele apontou em direção a porta.
- Tudo bem. - Eu queria que ele ficasse mais, mas eu não insistiria. Ele saiu do quarto visivelmente atordoado. Ele ainda estava bastante sonolento. Ouvi a porta do banheiro sendo fechada e deduzi que fosse ele.

Decepcionada por estar sozinha novamente, pensei seriamente em voltar a dormir, mas o sono não quis colaborar. Virei de um lado pro outro e constatei que não conseguiria dormir novamente. Com isso, resolvi levantar da cama. Demorei algum tempo para decidir trocar de roupa. Tirei a camisola e vesti somente o sutiã, já que já estava vestindo calcinha. Fui até a minha mala e a revirei por algum tempo até decidir qual roupa vestir.

aproveitou que já estava no banheiro e fez a sua higiene matinal. A água jogada em seu rosto foi o que fez com que ele acordasse de vez. Saiu do banheiro e olhou para o corredor. Tudo parecia muito silencioso, ou seja, todos ainda estavam dormindo. Como eu disse, a ressaca faria todos eles dormirem um pouco mais. Com isso em mente, achou que poderia voltar ao meu quarto. Ele havia percebido o quanto eu queria que ele ficasse um pouco mais comigo.

Sem nem pensar duas vezes, ele entrou no meu quarto. Eu fui pega de surpresa. Eu até tinha escolhido a minha roupa e estava prestes a vesti-la, mas quando ele entrou eu ainda estava só de calcinha e sutiã. Quando o me viu daquele jeito, ele paralisou. Eu também não tive qualquer reação. Os olhos dele percorreram o meu corpo sem que ele dissesse absolutamente nada. A cara dele chegou a me fazer sorrir. Ele só deixou de me olhar para virar-se em direção a porta e trancá-la. Eu não sabia o que estava acontecendo. bem que tentou respirar fundo e pensar em qualquer outra coisa que não fosse o que ele tinha acabado de ver, mas foi inútil. O seu desejo falava mais alto do que qualquer outra coisa.

- Eu não sabia que você… - Eu tentei me justificar, mesmo sabendo que eu não precisava. Tudo aconteceu totalmente sem querer. - Eu achei que você não fosse voltar. - Eu completei, vendo ele vir na minha direção. Peguei a blusinha que eu tinha separado e estava prestes a vesti-la, quando um dos meus braços foi puxado repentinamente. Eu até tentei dizer alguma coisa, mas o beijo que ele me deu foi mais rápido.

Mesmo sendo pega totalmente desprevenida, eu não vou negar que a pegada foi surreal. O beijo foi extremamente intenso e as mãos dele apertando a minha cintura não me deixaram qualquer escolha. Foi tão inesperado e avassalador, que eu nem tive tempo de pensar em promessas. As mãos dele deslizaram pelo meu quadril e chegaram nas minhas coxas. Ele as segurou e me tirou do chão, levando elas até a sua cintura. aproveitou para me levar até a cama e me jogou em cima dela, trazendo o seu corpo por cima do meu.

- O que você está fazendo? - Eu perguntei, aproveitando a interrupção do beijo.
- Quebrando a minha promessa. - selou os meus lábios em meio a um sorriso safado. - Eu quebro quantas promessas for preciso. Eu não me importo. - Ele selou mais uma vez os meus lábios. Ficar com você é tudo o que eu mais quero. - afirmou, olhando em meus olhos. Fiquei tão hipnotizada, que não consegui reagir ou evitar o que eu também queria tanto. Ele redirecionou os seus beijos para o meu pescoço e uma das mãos percorreram lentamente todo o meu corpo. As mãos dele simplesmente me deixavam louca e, de repente, as coisas começaram a ficar lentas demais para mim. Resolvi tomar o controle da situação. Joguei o meu corpo contra o dele e me coloquei em cima dele. A primeira coisa que eu fiz foi desabotoar a bermuda dele. Depois, comecei a depositar beijos na barriga e depois no peitoral dele, chegando ao seu pescoço. já estava maluco e eu gostava disso. Ele segurou o meu rosto e o levou ao encontro do dele para que ele voltasse a me beijar. Nos beijávamos empolgadamente em meio a várias mãos bobas, quando a pior coisa que poderia ter acontecido, aconteceu!
- ! - Era o , esmurrando a porta. O beijo foi interrompido imediatamente e o literalmente me empurrou de cima dele e me jogou na cama.
- Ei! Está maluco? - Eu sussurrei, furiosa. Ele acha que eu sou o que?
- Puta que pariu! Eu sabia que ele ia descobrir. - colocou as mãos no rosto, em choque.
- Calma. - Eu pedi, tentando manter a paciência.
- ! Acorda! Eu preciso de um remédio. Ou… de muitos remédios. - gritou mais uma vez, tentando abrir a porta.
- Se veste de uma vez! - estava em pânico e começou a jogar minhas peças de roupas em cima de mim. Não era a primeira vez que ele reagia assim. Dois anos e nada mudou. - Saí logo daqui. - Ele estava desesperado. Peguei o primeiro travesseiro que encontrei pela frente e ataquei na cara dele.
- Esse quarto é meu, idiota! - Eu estava muito brava com a atitude imatura dele.
- Desnecessário. - pegou o travesseiro com raiva e o jogou sobre a cama.
- Desnecessário é esse seu chilique. - Eu respondi na mesma hora.
- O que eu vou fazer? - olhou por todo o quarto.
- Que tal agir como um homem? - Eu sugeri, cruzando os braços.
- Que? - me olhou, fazendo careta.
- O que aconteceu com: ‘Depois eu me resolvo com ele!’? - Eu repeti a frase dele, tentando engrossar a voz.
- Você quer que eu faça isso agora? - perguntou com um sorriso sarcástico.
- Quero! - Eu o desafiei. Eu já estava exausta de ficar me escondendo e mentindo pro meu irmão.
- Agora? - perguntou novamente, tentando me enrolar.
- Agora! - Eu afirmei, rolando os olhos.
- Mas ele está de ressaca! - argumentou.
- ! Qual é! - gritou outra vez.
- Você disse que faria! - Eu cobrei o que ele tinha me dito na noite passada.
- Eu disse que depois eu resolveria, mas eu não disse quando. - abriu os braços e sorriu, achando que a desculpa me convenceria.
- Você é mesmo um babaca! - Eu fiquei ainda mais furiosa. Depois de tudo, ele ainda tinha a coragem de me fazer de idiota. Deixei ele falando sozinho e fui até a minha mala.
- O que você está fazendo? - perguntou desesperadamente ao me ver indo em direção a porta.
- Eu vou dar o remédio pro meu irmão. - Eu me demonstrei indiferença.
- Espera… - tentou evitar, mas quando viu que eu estava prestes a abrir a porta, se escondeu atrás da cortina.
- . - Eu abri a porta, mas escondi o corpo, já que eu estava só de calcinha e sutiã.
- Ainda bem! - sorriu ao me ver. - Minha cabeça vai explodir. - Ele levou as mãos à cabeça.
- Eu imagino. - Eu fiz careta. - Esse remédio é ótimo. Um deve bastar. Vai ajudar bastante. - Eu entreguei a caixa de remédios nas mãos dele.
- Muito obrigado. - demonstrou estar realmente agradecido. - Está tudo bem? - Ele percebeu que eu estava um pouco escondida atrás da porta.
- Está! Eu estava trocando de roupa. - Eu me justifiquei.
- Ok. - não desconfiou em nenhum momento. - Vou até a cozinha tomar o remédio. Valeu mesmo. - Ele aproximou-se e beijou rapidamente o meu rosto.
- Melhoras. - Eu disse, preocupada. Eu sabia que era só uma ressaca, mas era instintivo, sabe?
- Valeu. - agradeceu novamente, enquanto se afastava. Eu voltei a fechar a porta e a tranquei.
- Você está maluca!? Ele podia ter me visto! - veio tirar satisfações.
- Que pena que não viu! Quem sabe assim você não resolvesse agir como homem sem precisar estar em cima de uma cama. - Eu mal olhei pra ele e já fui logo em direção a cama.
- Ainda isso? - perguntou, impaciente. Eu não respondi. - Por que isso é tão importante pra você, afinal? - Ele se aproximou.
- Eu não sei! Maturidade? Parar de mentir pro meu irmão? Contar para as minhas amigas sobre o fato de eu ter perdido a minha virgindade? Ver você finalmente me assumindo? Parar de ter roupas jogadas na minha cara? Fica à vontade pra escolher. - Eu disse, enquanto me vestia.
- Eu não sabia que você fazia tanta questão assim. - demonstrou um pouco de arrependimento. Ele se aproximou e eu me afastei, sentando na beirada da cama para colocar o meu tênis. - … - Ele disse em meio a um suspiro. Eu já sabia o que viria a seguir.
- Se você pedir desculpa, eu juro por Deus que eu vou jogar esse tênis na sua cara. - Eu ameacei, furiosa.
- O que você quer que eu diga? - abriu os braços, sem saber o que dizer.
- Eu quero que você dê o fora do meu quarto. Pode ser? - Eu disse, amarrando os cadarços do tênis.
- Sério? - me olhou com cara de tédio.
- Sério! - Eu afirmei, sem hesitar. - E vê se me faz um favor: mantenha distância do meu quarto, especialmente da minha cama. Se você não é homem para enfrentar o meu irmão, você também não é homem para estar na minha cama. - Eu encerrei o assunto de vez. ficou tão surpreso com a minha reação, que nem ao menos conseguiu responder. Colocou o seu orgulho no bolso e foi em direção a porta. - Ei! - Eu o chamei assim que avistei a camiseta dele no chão do quarto. Eu fui até ela e a peguei. - . - Eu o chamei outra vez. Ele parou de andar e virou-se para saber o que eu queria. Assim que ele virou, peguei a camiseta e a joguei em seu rosto. - É sua, né? - Eu sorri ironicamente. Era muito bom devolver na mesma moeda. - E vê se dá uma passada no banheiro pra conferir se a cueca continua limpa. O susto foi grande, né? - Continuei com a ironia. cerrou os olhos, enquanto negava com a cabeça. Ele achou melhor não dizer nada. Virou-se de costas e andou até a porta, enquanto vestia a sua camiseta.

Depois de sair do meu quarto e dar dois ou três passos no corredor, foi surpreendido pelo meu irmão, que saiu repentinamente de seu quarto e começou a andar em sua direção. tentou identificar a expressão no rosto dele. Achou que, talvez, o tivesse desconfiado de alguma coisa e estava voltando para o meu quarto para matá-lo. tentou demonstrar tranquilidade, mas estava pronto para sair correndo, se preciso fosse.

- Já está acordado, Jonas? - estranhou ao ver o amigo de pé naquele horário.
- Eu… estou voltando do… banheiro. - disse, tentando disfarçar a gagueira.
- Eu também preciso ir ao banheiro. Estou com uma puta ressaca. - reclamou, fazendo careta.
- Vai lá. Melhoras, cara. - deu alguns tapinhas no ombro do amigo e se afastou o mais rápido que conseguiu.

Sozinha no meu quarto, descontei os meus ataques de fúria nos lençóis da cama, que eu estava tentando arrumar há uns 10 minutos. A atitude dele diante do meu irmão era muito frustrante. nunca teve coragem para enfrentá-lo. Nem mesmo coragem para assumir para o que estávamos namorando ele teve! Meu irmão descobriu por acaso. Sem contar que antes do acidente que ocasionou a minha segunda perda de memória, nós também brigamos por esse mesmo motivo: o medo de contrariar o . Eu estava muito cansada daquilo.

Só saí do meu quarto naquele dia, pois estava muito preocupada com a ressaca de quase todos que estavam na casa. Fui ao quarto do e confirmei se ele havia tomado o remédio da maneira certa. Aproveitei e dei o remédio para a também. Fiz o mesmo com o , a , a Meg e até mesmo com o , que nem tinha bebido tanto. Ao ver o estado deles, me senti obrigada a ir para a cozinha para fazer uma sopa para todos eles. A sopa os ajudaria um pouco.

manteve-se em seu quarto durante o resto da manhã. Ele pensou sim em tudo o que eu havia dito pra ele e até cogitou a remota hipótese de contar tudo ao , mas ele mudou de ideia quando concluiu que esse seria o fim da amizade deles. não conseguia nem pensar nessa possibilidade.

Todo mundo sabia que eu era péssima na cozinha, mas eu conseguia me virar em algumas coisas. Eu não sabia se eu era tão ruim na sopa, porque aquela seria a primeira sopa que faria na vida. Não poderia ser tão difícil assim, né? Juntei todos os legumes que eu havia encontrado na geladeira e joguei dentro da panela. Eu estava dando o meu melhor para fazer a melhor sopa de todas. Minha paz acabou quando o entrou na cozinha. Ele manteve-se um bom tempo em silêncio, me observando e eu continuei fingindo que ele não estava ali. Tive a brilhante ideia de colocar na sopa alguns vegetais, que eu também havia encontrado na geladeira.

- Essa sopa é para ajudá-los ou para matá-los? - brincou para tentar quebrar o clima. Ele se referia ao e aos meus amigos. Abandonei a panela no fogão e me virei para fuzilá-lo com os olhos.
- A sopa, na verdade, é pra você e é pra matar sim. - Eu cruzei os braços, sorrindo ironicamente. Ele percebeu que eu ainda estava brava.
- Até quando você vai me tratar assim? - perguntou, querendo trégua. Eu ignorei completamente a pergunta, pois ele já sabia a resposta dela. Quando ele percebeu que eu não responderia, ele se aproximou. - E se ele nunca mais quiser olhar na minha cara? E se a nossa amizade acabar? - pensou na possibilidade.
- Algum dia ele vai acabar descobrindo. Qual vai ser a diferença? - Eu perguntei, me virando para olhá-lo. - Você não acha que é melhor ele saber por você? - Eu completei.
- Ele vai me matar. Você sabe que vai! - tentou usar outro argumento.
- Se eu me lembro bem, da última vez que escondemos alguma coisa dele, quem quase morreu fui eu. - Eu forcei um sorriso, me lembrando de quando o meu irmão descobriu que eu e o estávamos juntos. A minha recordação parece ter feito ele pensar um pouco.
- Eu… - hesitou alguns segundos, antes de terminar a frase. - Eu vou contar pra ele. - Ele finalmente disse. - Está bom assim? - se aproximou um pouco mais e parou em minha frente. - Eu vou contar pra ele. - Ele repetiu, percebendo que eu já estava olhando para ele de maneira diferente.
- Contar o que? Pra quem? - entrou repentinamente na cozinha e deu poucos passos para trás, afastando-se de mim. Mesmo com o afastamento, eu mantive os meus olhos sobre ele, esperando que ele mantivesse a sua palavra.
- O que? - fingiu que não tinha entendido a pergunta.
- Você estava dizendo pra que ia contar alguma coisa pra alguém. - disse, impaciente.
- É! Eu disse! - sorriu para o amigo, visivelmente nervoso. - Eu… - Ele hesitou. - Eu estava aqui dizendo pra ela que eu precisava contar pro… - Mais uma hesitação e eu já tinha certeza de que ele ia dar pra trás. - Mark que… eu quebrei a TV dele. - demonstrou alívio por ter encontrado uma boa desculpa. - Eu apertei alguns botões do controle remoto e a TV não quis ligar mais. Eu não sei o que eu fiz. Ele vai querer me matar. - Ele sustentou a sua mentira. A desculpa dele voltou a me tirar do sério. Me segurei ao máximo e tentei voltar a minha atenção para a panela que estava no fogão. Cheguei a derrubar a tampa da panela.
- Vai com calma, . - me olhou feio e depois voltou a dar atenção ao . - Então, você precisa arrumar a TV antes que ele veja que você estragou. - Meu irmão aconselhou.
- Ou ele podia ser sincero com o Mark e contar tudo pra ele. - Eu interferi na conversa. Minha frase foi direcionada ao .
- Pra quê? - me olhou feio. - Pra que contar se ele pode evitar confusão? - Ele completou. dividia seus olhares entre eu e o meu irmão.
- Porque é o certo a se fazer! - Eu argumentei, como se fosse óbvio.
- , você não sabe de nada. - rolou os olhos, voltando a sua atenção pro . - Arruma logo a TV e ele nem vai ficar sabendo. O que os olhos não veem, o coração não sente. - Meu irmão deu o pior conselho de todos. Era exatamente isso o que o queria ouvir.
- E se fosse com você? Você ia ficar feliz que ele escondesse coisas de você? - Eu tentei outra vez.
- Se ele quebrasse a minha TV? Eu ia matar ele. - respondeu, sem hesitar. - E é exatamente por isso que era melhor que eu não soubesse. - Ele ergueu os ombros. Olhei pro e ele fez careta e ergueu os ombros, como se dissesse: ‘Viu? Eu te disse!’. Engoli seco e respirei fundo, tentando controlar a minha vontade de matar aqueles dois idiotas.
- Era exatamente isso o que eu estava tentando explicar pra ela. - concordou com o meu irmão.
- Não liga pra ela. - sussurrou para o amigo, apontando um dos dedos na minha direção. Mesmo estando de costas, eu percebi o que ele estava fazendo.
- Já melhorou da ressaca, ? - Eu perguntei, sem coragem para olhar para ele.
- Mais ou menos. - respondeu, sem perceber o quanto eu estava furiosa com ele. - Eu só vim pegar um copo de água pra . - Ele explicou, aproximando-se do filtro. - E como está essa sopa? - Meu irmão perguntou, tentando olhar dentro da panela.
- Quando estiver pronta, eu chamo vocês. - Eu disse, séria.
- Valeu mesmo. - agradeceu, enquanto ia em direção a saída da cozinha.
- Valeu pelas dicas. - também agradeceu o amigo pelos valiosos conselhos. Meu irmão saiu da cozinha. Eu continuei de costas para o , fingindo que eu estava prestando a atenção na panela de sopa, mas a verdade é que eu estava com tanta raiva, que eu não conseguia nem olhar para ele. manteve-se em silêncio e me observava de longe, pensando se deveria se aproximar ou não. Ele achou que valia a pena tentar e foi se aproximando lentamente. Eu percebi a movimentação dele e notei quando ele parou bem atrás de mim.
- Corre. - Eu fechei os olhos, tentando não explodir de vez.
- Mas… - tentou argumentar.
- Sai daqui, Jonas. - Minha ordem soou mais como uma ameaça. Ele percebeu a minha fúria só pelo meu tom de voz. Ele até pensou em insistir, mas ele me conhecia bem e sabia que o melhor a fazer era se afastar e me deixar sozinha.

saiu da cozinha sem dizer absolutamente nada. No fundo, ele sabia que eu estava com a razão. O problema é que ele não conseguia colocar aquilo em prática. O simplesmente não conseguia contar a verdade pro meu irmão e eu não conseguia mais viver daquele jeito. Eu não conseguia aceitar que ele realmente queria continuar me colocando em uma situação como aquela, em que eu tenho escondê-lo atrás da cortina ou embaixo da minha cama para que o meu irmão não soubesse que eu não era mais virgem. Era inadmissível para mim que o tivesse coragem de invadir o quarto do meu irmão no meio da noite para roubar um preservativo e não tivesse a coragem de assumir para ele que o nosso relacionamento já havia chegado em outro patamar. Eu estava no meu limite.

Deixei o assunto e toda a minha irritação de lado e fui chamar todos as pessoas que estavam de ressaca na casa para virem até a mesa de jantar para que eles pudessem comer a sopa que eu havia preparado com tanto empenho e carinho. Modéstia parte, o cheiro que vinha de dentro daquela panela estava sensacional. Todos se sentaram na mesa e já não pareciam tão mal quanto antes. Aparentemente, o remédio havia começado a fazer efeito. também se juntou a nós na mesa, mas foi por livre e espontânea vontade, porque eu não o chamei em nenhum momento.

- O cheiro está ótimo. - elogiou.
- Está mesmo e, acredite: eu estou muito surpreso por estar dizendo isso. - disse, debochado.
- Para de falar besteira. A sopa está maravilhosa. - Meg me defendeu.
- Está mesmo! Parabéns, . - sorriu pra mim.
- Obrigada. - Eu fiquei até sem jeito com os elogios. Não era muito comum.
- Tem uns negócios aqui no meio que eu nem sei o que são, mas está muito bom. - também elogiou.
- Tem de tudo ai dentro. - Eu ri, sem emitir qualquer som.
- Arrasou, cunhada. - piscou um dos olhos pra mim.
- Eu vou repetir só por consideração a você, . - brincou, enchendo outro prato de sopa.
- Eu nem sabia que eu gostava de sopa. - disse, fazendo com que a maioria risse.
- E você não vai comer, Jonas? - perguntou, olhando para o amigo, que não tinha dito nada até então.
- Eu… - estava prestes a dar uma resposta afirmativa, quando eu me adiantei e peguei a panela nas mãos.
- Ele não vai, porque… - Eu coloquei o restinho de sopa no meu prato. - Infelizmente, acabou. - Eu sorri falsamente, fingindo lamentar. me olhou, como se dissesse: ‘Sério?’.
- Demorou, Jonas. - Meg achou graça.
- Ainda bem que você não está de ressaca. - ergueu os ombros.
- Come outra coisa. - aconselhou.
- Aqui. - Eu me levantei e fui até a fruteira. - Come essa maçã. - Eu disse, jogando a maçã da direção dele. Ele conseguiu pegá-la, mesmo sendo pego desprevenido.
- Obrigado. - agradeceu, me olhando torto.
- Então… - Eu voltei a me sentar. - Como foi a noite de vocês? - Eu perguntei.
- Estava todo mundo muito louco. - gargalhou ao se lembrar.
- Nem todo mundo. O estava bem consciente. - Eu estava oficialmente ‘ligando o foda-se’ e o percebeu.
- O também não bebeu muito. - tentou tirar o foco de si mesmo.
- Eu lembro de quase tudo. - confirmou, afirmando com a cabeça.
- E você, ? Não lembra de nada? Alguém invadindo o seu quarto durante a noite, talvez? - Eu perguntei e o afogou-se com a maça, quase cuspindo-o para fora.
- Como assim? - me olhou, confuso.
- É impossível! Eu verifiquei se a porta da casa estava trancada antes de dormir. - tentou evitar a tragédia.
- E você, ? Não deu falta de nada? - Eu olhei para o meu irmão, mas senti os olhos de me fuzilarem.
- Tipo o que? - arqueou uma das sobrancelhas, sem entender.
- Suas cervejas. - interferiu novamente. - A Meg tomou várias delas ontem a noite. - Ele estava tão nervoso, que suas mãos chegavam a suar frio.
- Confesso que não lembro de nada, mas isso soa como algo que eu faria. Desculpa ai. - Meg forçou um sorriso ao olhar para o meu irmão. - Valeu por me entregar, Jonas. Não esperava menos de você. - Ela ironizou.
- Você ficaria surpresa, Meg. - Eu afirmei, mas dessa vez eu olhei para o .
- Eu duvido muito. - Meg fez careta.
- Uma palavra pra você, Meg: Amber. - relembrou.
- É mesmo! Eu tinha até me esquecido. - Meg disse entre uma colherada e outra. - Vocês têm razão. Me entregar pro não foi nada. - Ela completou.
- Amber. - Eu disse em meio a um suspiro. - Não foi com ela que você perdeu a sua virgindade, Jonas? - Ele ficou até pálido.
- Por que estamos falando disso mesmo? - perguntou, me encarando.
- Eu gosto de saber de histórias sobre a primeira vez das pessoas, vocês não? - Eu perguntei e olhei para todos da mesa.
- Como se você soubesse alguma coisa sobre o assunto. - sorriu, debochado.
- E… se eu souber? - Eu disse e todos a minha volta paralisaram.
- , só porque você assiste essas séries adolescentes que só falam de sexo, não significa que você sabe. - estava tão seguro em relação a minha virgindade, que estava cego. Ele nem sequer cogitava a possibilidade. O olhar que o me lançava implorava piedade.
- Cuidado com o burro. - Meg suspirou, negando com a cabeça. Ela se referia a lerdeza do meu irmão em interpretar o que eu estava tentando dizer. deixou de me olhar para olhá-la e eu aproveitei a oportunidade para rir sem emitir qualquer som. fechou os olhos, sem acreditar no que estava acontecendo.
- O que você disse, Meg? - Meu irmão a olhou com um pouco mais de desconfiança. pisou no pé da namorada.
- Eu… fui burra… por ter bebido tanto. Minha cabeça parece que vai explodir. - Meg colocou uma das mãos na cabeça, fingindo uma terrível dor de cabeça.
- Nós devíamos voltar pra cama. Até a noite nós vamos ter melhorado. - quis tirar a namorada dali, antes que ela dissesse mais alguma besteira.
- Boa ideia. - Meg entendeu a intenção do namorado e aceitou a ideia.
- Vamos fazer o mesmo, amor. - sugeriu, achando melhor tirar o meu irmão dali.
- Vamos. - concordou, levantando-se da mesa.
- Obrigada pela sopa, ! - agradeceu.
- Estava maravilhosa! - Meg completou, antes que eles saíssem da sala de jantar.
- Divina! - piscou um dos olhos pra mim.
- Já pode casar. - completou, enquanto se afastava ao lado da namorada. Na mesa, sobraram apenas o , a , o e eu.
- Eu não sei o que está acontecendo entre vocês, mas resolvam isso bem rápido. - sussurrou, irritado.
- Ninguém precisa morrer nesse final de semana, né? - sorriu com sarcasmo.
- Alguém fala com ela! - apontou na minha direção.
- Foi você quem causou tudo isso e você sabe! - Eu cuspi as palavras na direção dele e me levantei da mesa para não surtar de vez.
- É sério! Fala com ela, cara. - pediu encarecidamente ao amigo.
- Eu? - apontou para si mesmo. - Com ela brava desse jeito? - Ele riu, negando com a cabeça. - Se vira, amigo. - deu alguns tapinhas no ombro do amigo.
- ! Você vai me ajudar, não vai? - sorriu carinhosamente para a amiga.
- É claro que eu vou ajudar. - devolveu o sorriso. - Minha ajuda é: arruma as suas coisas e dá o fora daqui. - Ela foi sincera. - Eu não me lembro de já ter visto ela assim tão brava. - completou. - Quer dizer, eu até lembro, mas não vou contar para não te assustar. - Ela fez careta.
- Isso é muito reconfortante. Valeu mesmo. - ironizou.
- Vai lá! - empurrou o amigo em direção à cozinha, que era onde eu estava.

sentia uma mistura de nervosismo com raiva. Ele estava com raiva por causa do meu comportamento na mesa de jantar. Todas aquelas insinuações deixaram ele maluco! odiava se sentir ameaçado e pressionado daquele jeito. Para ele, eu tinha que respeitar a sua decisão de não contar nada para o meu irmão. Ele não entendia que, para mim, dizer a verdade para o era importante. Ele não entendia o quão frustrante era para mim saber que o medo dele de enfrentar o meu irmão era maior do que a vontade dele de estar comigo. Ele não entendia o quanto eu me sentia ridícula, quando ele me obrigava a agir como uma adolescente boba e inocente.

Depois de pensar muito na melhor maneira de ter aquela conversa, decidiu que era melhor pegar um pouco mais pesado comigo, já que a conversa civilizada não tinha dado certo. Quando ele entrou na cozinha, eu ainda estava mexendo com os pratos na pia, mas eu estava ciente de que ele viria atrás de mim a qualquer momento.

- Olha pra mim. - pediu, sem se importar em ser gentil. Ele estava bem atrás de mim. - Olha pra mim. - Ele pediu mais uma vez. - Então, você se acha muito esperta e valentona, mas não tem coragem nem de me encarar? - Ele provocou. Mesmo sabendo que era exatamente isso o que o queria, eu tive que olhar.
- Você querendo falar de coragem? Logo você? - Eu cruzei os braços, enquanto sorria ironicamente.
- Você tem noção do que você quase acabou de fazer? - ignorou completamente a minha frase e foi direto ao ponto. - Você tem noção de que isso é muito maior do que um dos seus caprichos? - Ele me encarou. - O que você está querendo com tudo isso? A terceira guerra mundial? - Ele perguntou retoricamente.
- Você disse que ia contar! - Eu perdi a paciência de vez.
- Eu mudei de ideia! - não hesitou em responder. - E você não pode me obrigar a fazer isso! - Ele completou.
- Eu não preciso te obrigar a nada. - Eu ergui os ombros, demonstrando indiferença.
- E o que isso quer dizer? - Ele sabia que havia algo por detrás daquela frase.
- Quer dizer que se você não contar, eu conto. - Eu ameacei em meio a um sorriso.
- Você está blefando! - não me levou a sério.
- Estou? - Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Então, você vai contar pra ele? - perguntou em um tom sarcástico. - E o que você acha que ele vai fazer? Te dar um abraço e dizer que está orgulhoso? Te dar uma aula sobre sexo seguro? - Ele sorriu. - Ou você acha que quando ele ficar sabendo, vai sobrar só pra mim? - achou que o argumento seria convincente.
- Lembra o que você me disse ontem sobre quebrar promessas? - Eu perguntei e ele demonstrou estar confuso. O que uma coisa tinha a ver com outra? - Você disse que era mais fácil quebrar as promessas, quando elas eram entre família, porque não interesse o tamanho da besteira que você fizer, família sempre continua sendo família. - Eu refresquei a memória dele. - Quando o souber, ele vai ficar muito bravo e decepcionado comigo, mas como você mesmo disse, eu e ele vamos continuar sendo família. Ele vai acabar me perdoando. - Eu respondi, acabando com o argumento dele.
- Você só pode estar brincando. - negou com a cabeça, incrédulo.
- Eu não estou brincando, Jonas. - Eu afirmei, ficando mais séria. - Se você não contar, eu conto. - Eu dei o ultimato, antes de me afastar e deixá-lo sozinho na cozinha.

Depois daquela conversa, ficou um pouco mais apavorado. Ele me conhecia bem e sabia que as minhas ameaças eram legítimas. Ele sabia que eu não estava brincando, porém, ele ainda tinha esperanças de que poderia me fazer mudar de ideia. Cogitou novamente a possibilidade de contar de uma vez tudo para o . Chegou a ir até a porta do quarto dele, mas simplesmente travou. Ele realmente não conseguia. Aproveitou que todos na casa estavam dormindo e foi para o seu quarto para pensar no que deveria fazer.

Todos acordaram um pouco depois das 5 horas da tarde. Decidimos que tomaríamos banho e depois pediríamos pizza. A maioria estava melhor da ressaca, mas preferiram ficar em casa naquela noite. foi quem pediu as pizzas. Eu não tinha mais visto o até o momento em que as pizzas chegaram e todos tivemos que nos reunir na mesa de jantar. Eu percebi que ele estava um pouco inquieto e me olhava a todo o momento. Eu não sabia o que aqueles olhares queriam dizer.

- Eu peguei a bebida, mas esqueci os copos. - fez careta.
- Eu pego os copos. - Eu fui a primeira a me manifestar e já fui logo me levantando da mesa.
- Eu ajudo ela. - levantou-se imediatamente, indo atrás de mim. Eu logo imaginei que teríamos uma nova discussão. Eu já não aguentava mais. - . - Ele me chamou, me fazendo parar de andar e olhá-lo, sem qualquer paciência.
- O que foi? - Eu respirei fundo, tentando manter a paciência.
- Eu pensei muito em tudo o que nós conversamos. - disse, se aproximando. - E eu… - Ele olhou para o meu rosto de bem perto. - Eu… - não conseguiu dizer mais nada. Ele simplesmente se aproximou de vez e me beijou. Correspondi ao beijo mesmo estando completamente ciente de que aquele beijo era só mais um dos argumentos dele para me convencer a desistir de contar toda a verdade para o .
- Não acredito que vocês também esqueceram o katshup. - reclamou, depois de ter colocado a pizza em seu prato. - Eu vou pegar. - Ele se levantou e foi em direção a cozinha. Quando entrou, se deparou com o inesperado: eu e o nos beijando. Eu interrompi o beijo na mesma hora, quando percebi que alguém tinha entrado na cozinha. Olhei para o meu irmão e ele não parecia tão surpreso. - Eu nunca vou me acostumar com isso. - rolou os olhos. olhou para o amigo e depois voltou a me olhar. Diante das circunstâncias, eu achei que aquele era um bom momento para acabar com aquilo de uma vez por todas.
- Conta pra ele, . - Eu pedi, olhando nos olhos do . Ele arregalou os olhos.
- Me contar o que? - demonstrou curiosidade.
- Eu… vou contar. - estava visivelmente em choque. Ele não esperava por aquilo.
- Estou esperando. - o pressionou, sério. Pela minha expressão, ele imaginou que era algo grave.
- Eu preciso te contar que… - hesitou mais uma vez. Ele me olhou novamente e depois voltou a olhar para o meu irmão. - Eu e a … nós… - Ele bem que tentou, mas o resto da frase simplesmente não saía. - Nós estamos juntos de novo! - afirmou com um enorme sorriso. Eu quis morrer. A quantidade de palavrões que vieram na minha mente naquele momento era incontável. Fuzilei ele com os olhos e ele percebeu.
- Não me diga. - ironizou, reagindo normalmente à notícia. - Estou em choque. - Ele ironizou.
- Nós não íamos te contar, mas achamos que não era certo esconder alguma coisa de você, não é, querido? - Eu fingi um olhar apaixonado, mas sabia o seu real significado.
- É. - concordou com um sorriso forçado.
- Bom saber que vocês concordaram em ser honestos comigo dessa vez. - sorriu.
- 100% honestos! - Eu ironizei, sorrindo para o meu irmão. - Aliás, é exatamente a honestidade que mais me atrai nele. - Voltei a olhar pro . - Eu fico maluca só de pensar. - Eu disse, depois de levar uma das minhas mãos até o rosto dele e apertar suas ambas bochechas.
- Fico feliz por vocês. - tentou encerrar o assunto de uma vez. - Eu só vim pegar o ketchup. - Ele foi direto ao que realmente importava naquele momento.
- Vamos comer, meu bem? - Mais uma ironia minha e ele estava visivelmente aflito. - Eu estou morrendo de fome. Preciso matar de uma vez o que está me matando. - Eu sorri de maneira ameaçadora e me afastei, saindo da cozinha.
- Idiota. - suspirou, passando uma de suas mãos pelo seu rosto.
- O que foi? - achou que o amigo tinha falado com ele.
- Não é nada. - estava bastante preocupado.
- Você não vem? - perguntou com o ketshup em suas mãos.
- Eu vou. - confirmou, acompanhando o amigo até a sala de jantar.

Furiosa era muito pouco para me descrever naquele momento. Eu me sentei na mesa, pensando na melhor maneira de trazer o assunto à tona. Se eu tinha alguma dúvida em fazer aquilo, tinha me dado toda a certeza que eu precisava. descobriria tudo naquela noite. Agora, não seria somente por necessidade, mas por vingança por ter sido feita de idiota tantas vezes com aquela história. sentou-se na mesa e mal conseguia me olhar. Os movimentos dele eram calculados. Ele sentia que a qualquer momento, a qualquer movimento seu, a bomba poderia estourar.

Terminamos de jantar e eu ainda não tinha conseguido uma boa oportunidade para falar tudo o que eu queria. permaneceu mudo durante toda a refeição. Tinha momentos em que eu achava que nem respirando ele estava. Ele estava aterrorizado e eu estava adorando. Quantas oportunidades eu dei para que ele contasse tudo para o meu irmão? Quanto tempo eu deixei que ele levasse a nossa situação daquela maneira? Quantas vezes eu tive que me fazer de idiota e inocente por causa dele? Quantas vezes eu senti raiva por ver que ele não era capaz de enfrentar o meu irmão para que pudéssemos voltar a pensar em ter um relacionamento mais sério? Quantas vezes senti como se tivesse dormido com um adolescente babaca? Chega!

- Sábado a noite e não podemos cogitar em sair de casa ou em beber. - Meg suspirou. - Me diga que vocês têm algo em mente. - Ela fez careta.
- Podíamos jogar cartas. - sugeriu. Estávamos todos sentados no sofá.
- Quantos anos você tem? 65? - rolou os olhos.
- Podíamos brincar de esconde-esconde. Seria engraçado e a casa é ótima para isso. - sugeriu, empolgada.
- Não precisa exagerar. - negou com a cabeça.
- Com tanta compatibilidade, ainda não consigo acreditar que vocês dois são um casal. - gargalhou.
- Eu gostei da ideia da . - se manifestou, recebendo olhares perplexos do meu irmão. Em sua cabeça, esconde-esconde seria a brincadeira mais inofensiva que eles poderiam brincar. Ele sabia que eu estava procurando uma boa deixa para iniciar o meu show.
- Você está bem, ? - estranhou.
- Seria divertido. - sorriu, ergueu os ombros.
- Para quem é bom em esconder, deve ser bem divertido mesmo. - Eu disse, olhando fixamente para ele.
- E poker? - sugeriu, tentando desviar o foco de mim e do . Ela também havia percebido que havia algo acontecendo entre nós.
- Demora muito para acabar. - Meg reclamou.
- E se jogássemos ‘Eu Nunca’? - Eu sugeri com um enorme sorriso. Era perfeito!
- Essa foi boa. - parecia ter gostado da ideia.
- Eu estou dentro! - não pensou duas vezes.
- Não! Eu não quero jogar isso. - recusou na mesma hora.
- Fica assistindo. - Meg afirmou com um falso sorriso.
- Por mim… - ergueu os ombros, demonstrando indiferença. No mesmo instante, chutou o pé do amigo por baixo da mesa. - Nós temos que jogar outra coisa. - Ele mudou de ideia repentinamente. Eu desconfiei que o tinha interferido em sua decisão.
- Você joga, não é, ? - Eu me adiantei para que ele não interferisse na resposta dela também.
- Jogo! - afirmou com a cabeça.
- Eu também jogo. Então, o e o são os únicos que não vão jogar. - concluiu.
- Por que você não quer jogar, ? - Eu cerrei os olhos na direção do meu melhor amigo. Queria ver se ele teria coragem de mentir na minha cara.
- Porque… - não sabia o que responder.
- Porque ele não pode beber bebida alcoólica! Aliás, nenhum de vocês pode. - respondeu pelo amigo. Ele estava se esforçando para evitar aquela tragédia.
- É mesmo. - fez careta.
- Nós jogamos com doses de refrigerante! - Eu resolvi rapidamente o problema. Me levantei, fui rapidamente até a cozinha e voltei com uma garrafa de refrigerante e um pacote de copos plásticos nas mãos. Comecei a distribuir um copo para cada um para não perder tempo. - Você vai jogar. - Fiz questão de colocar um copo na frente do . - E você também. - Fiz o mesmo com o . Eu sabia que ele estava tentando acobertar o amigo.
- Faz muito tempo que eu não jogo isso! - Meg estava empolgada.
- Como é que joga mesmo? - perguntou, sem ter certeza das regras.
- Cada pessoa vai falar uma frase relativa a uma atividade, começando sempre com ‘Eu nunca’. O resto do grupo que já fez essa coisa, é obrigado a beber uma dose de refrigerante. Quem nunca fez, não precisa beber. - explicou para todos.
- Não pode mentir! - avisou a todos.
- Quem começa? - perguntou.
- A e ai a ordem segue no sentido horário - foi o único a se manifestar. Ele foi bem esperto, porque com a sua sugestão, eu seria a última a jogar. No momento da sua sugestão, nós trocamos olhares. Ele estava me desafiando.
- Pode ser eu. - concordou. - Encham os copos. - Ela orientou. Fomos passando a garrafa de refrigerante para que cada um enchesse o seu copo.
- Começa, . - Meg a incentivou.
- Ok! - disse, pensativa. - Eu nunca… me apaixonei à primeira vista. - Ela disse, sem beber o seu copo. Meg, e foram os únicos a beber. O fato de o ter bebido realmente não me comoveu nem um pouco.
- Que fofo. - sorriu toda desconcertada para o namorado e ele mandou um beijo pra ela.
- Argh. - fez cara de nojo. - Minha vez, né? - Ele quis acabar com o momento de melação.
- Manda! - deixou que o amigo falasse.
- Eu nunca fiz sexo com duas pessoas diferentes até hoje. - disse, ansioso pelas respostas. Meg foi a primeira a beber. Mesmo estando em dúvida sobre o que fazer, acabou virando o copo. As duas pessoas eram eu e a Amber.
- Sempre me surpreendendo, Jonas. - mostrou-se impressionado. Mais uma vez, ele não desconfiou de nada. Confesso que o recuperou um pouquinho do respeito que eu tinha por ele, quando virou aquele copo.
- E você, Meg. - olhou para a amiga com um sorriso safado.
- Eu não me orgulho disso. Acreditem. - Meg referia-se ao se ex-namorado babaca. - Ok. Sou eu agora. - Ela pensou por poucos segundos. - Eu… nunca beijei alguém do mesmo sexo que o meu. - Meg surpreendeu todos. Ninguém bebeu seu copo.
- Bebe aí, . Todo mundo já sabe. - brincou, fazendo com que a maioria risse.
- Que original. - rolou os olhos e negou com a cabeça.
- Tadinho. - Eu defendi o meu melhor amigo. - Sua vez vai chegar. - Pisquei para ele e ele piscou de volta.
- Você, amor. - olhou para a namorada. Era a vez dela.
- Ok. Eu nunca… beijei uma líder de torcida. - A pergunta de foi totalmente direcionada aos garotos. Ela sempre teve essa curiosidade. , e foram os primeiros a virar suas doses.
- Desculpa, amor. - bebeu por último.
- Ah, não! - Meg fez careta.
- E não surpreende ninguém. - Eu disse em meio a uma careta.
- Eles são tão tapados, que é bem capaz que todos estejam falando da mesma líder de torcida. - disse, fazendo com que eu e as garotas gargalhássemos.
- Considerando que o foi o único corajoso a ficar com a Jessie, não pode ser a mesma pessoa. - sacaneou o amigo.
- Que gracinha. - cerrou os olhos na direção do amigo. - Posso falar? - Ele perguntou, olhando com cara de tédio para os amigos, que ainda riam.
- Vai em frente! Sua vez. - disse, tentando conter o riso.
- Certo. - disse, tentando pensar na melhor frase a ser dita. Ele tinha um plano. - Eu nunca dancei sensualmente para provocar alguém. - Ele disse, me olhando com um sorriso idiota no rosto. Ele estava mesmo me provocando? Virei o copo de uma vez para mostrar a ele que eu não estava me sentindo nem um pouco intimidada por ele. Meg também bebeu.
- Você fez isso? - perguntou, me olhando sério.
- Fiz. Mais de uma vez, aliás. - Eu disse com prazer. Eu queria enfrentar o de todas as maneiras. A estratégia dele de tentar causar um mal estar entre eu e o , achando que isso me faria recuar e não contar a verdade não funcionou.
- ! - resmungou, surpreso.
- Vê se cresce, . Eu não tenho mais 15 anos. - Eu disse sem um pingo de paciência. Meu irmão ficou tão indignado com a minha atitude, que não conseguiu responder. - Sua vez, . - Eu mudei completamente o foco da conversa.
- Eu nunca… fiz sexo na cama ou na casa de um amigo. - sorriu malandramente para o meu irmão.
- Acho que isso foi pra mim, né? - reconheceu, antes de beber mais uma dose de refrigerante. foi obrigada a fazer o mesmo. Para a surpresa de todos, e Meg também viraram os seus respectivos copos.
- Mentira! - abriu a boca, surpresa.
- Espera. Foi na minha casa? - Eu me lembrei que eles dormiram no mesmo quarto da última vez que o foi pra Nova York.
- Foi mal. - Meg forçou um sorriso.
- Não teve como evitar. - ergueu os ombros.
- Meu Deus. - não conseguia parar de rir.
- Não teve como evitar? Cara, você precisa parar de ficar perto do . - também estava rindo.
- O que você fez com o nosso garoto prodígio, Meg? - brincou com a Meg.
- Eu até poderia te ensinar, mas acho que você já sabe. - Meg respondeu em um tom mais baixo. cerrou os olhos na direção dela, enquanto fazia careta.
- Depois dessa, vou até pegar mais leve. - referia-se ao jogo. Ele pensou por alguns momentos. - Eu nunca disse ‘eu te amo’ sem realmente amar. - Ele disse segundos antes de virar o seu próprio copo. Eu, Meg, e também viramos os nossos copos. - Não estou falando de você, Meg. - avisou a namorada.
- Eu também não, . - sorriu carinhosamente para o namorado. e eu não dissemos nada, mas sabíamos que não estávamos falando um do outro. Amor nunca foi problema para nós dois.
- Agora, é a vez da . Ela é a última. - disse. Todos passaram a me olhar.
- Minha vez. - Eu disse com um sorriso discreto. Fiz questão de olhar pro para ter certeza de que ele estava apavorado.
- Manda uma boa. - Meg pediu, esperando que eu dissesse alguma coisa.
- Eu tenho uma ótima pra vocês. - Eu mordi o meu lábio inferior, tentando evitar o sorriso.
- Por que não jogamos poker agora? Essa brincadeira já deu, né? - tentou evitar a catástrofe.
- Deixa ela falar! - me conhecia bem e sabia que algo estava por vir. Ela estava curiosa para saber o que era.
- Posso falar? - Eu estava em êxtase com aquilo. Não que eu desejasse a desgraça alheia, mas eu esperei muito por aquele momento e o merecia muito tudo o que estava prestes a acontecer com ele.
- Fala logo! - me incentivou a falar.
- Eu… - Eu respirei fundo antes de terminar a frase. - Eu nunca fiz sexo com alguém daqui. - Assim que eu terminei a frase, todo mundo começou a tomar os seus copos de refrigerante. Olhei para o de longe e o vi fechar os olhos por poucos segundos em meio a uma expressão de lamentação. Aquilo só fez com que eu me sentisse mais motivada a pegar o meu copo nas mãos e bebê-lo sem qualquer remorso. acompanhou todos os meus movimentos e ao me ver virar o copo, a expressão no rosto dele mudou.
- , deixa de ser lerda. Você ainda não entendeu como o jogo funciona? - achou que eu tivesse me confundido. - Você só bebe se você já fez o que você ou outra pessoa diz nunca ter feito. - Ele me deu uma bronca. continuava sentado, mas sua vontade era de sair correndo. Todas as outras pessoas que estavam no jogo começaram a perceber o que tudo aquilo significava. Todo mundo estava paralisado, esperando a bomba explodir.
- Eu sei disso. Eu sei jogar esse jogo. - Eu não achei que estaria tão tranquila quanto eu estava. Meu irmão demorou poucos segundos para processar a informação.
- Você está dizendo que você já… - mal conseguiu terminar a frase, quando me viu afirmando com a cabeça. Todos permanecerem em silêncio. Sem uma brincadeira, risada ou deboche. A primeira coisa que o fez foi olhar para o . Seus olhos foram direto para o copo de refrigerante do melhor amigo, que continuava cheio. não tinha tido coragem de tomar. - Você não está falando sério. - Meu irmão voltou a me olhar. Ele disse em meio a um sorriso nervoso. aproveitou para olhar para o .
- Você vai morrer. - disse, sem emitir qualquer som. Ele estava em pânico.
- O que eu faço? - arregalou os olhos, desesperado.
- Seja homem! Beba isso! - Meg apontou para o seu copo. Todos estavam falando com o sem emitir som.
- Corre! - aconselhou.
- Me desculpa, , mas eu estou falando sério. - Eu ergui os ombros. Não havia nada que eu pudesse fazer a respeito.
- Não! Você não está! Você não pode estar! - já estava surtando. Ele estava em fase de negação. Deixou de me olhar e encarou cuidadosamente cada um de seus amigos. Para ele, poderia ser qualquer um deles. foi o último a ser encarado. Ele era o único que não tinha bebido o refrigerante, mas ele estava nervoso demais para ser inocente. A expressão no rosto dele o entregava completamente. - … - Ele chamou o amigo, que nem conseguia olhar para ele.
- Amor, calma. - tentou intervir na situação. mal olhou para ela.
- Olhe pra mim, . - pediu em tom de ordem. atendeu o seu pedido, mas manteve-se em silêncio. - Você sabe alguma coisa sobre isso? - O tom de voz do meu irmão estava me assustando.
- . - também tentou contornar a situação.
- Fica fora disso! - aumentou o tom de voz, apontando um dos dedos na direção do . - - Eu estou falando com você, Jonas! - Ele manteve o tom de voz quando voltou a encarar o . - Você sabe alguma coisa sobre isso!? - Meu irmão perguntou novamente, mas dessa vez sua frase soou como uma ameaça.
- Jonas, se você não vai beber a porcaria do refrigerante, me dá aqui que eu bebo por você. - Meg cometeu a gafe, mas não dava para dizer que tinha sido sem querer. cutucou a namorada. Ela só fez o meu irmão ficar mais furioso. Ela também me arrancou boas risadas, que eu tive que abafar para não serem ouvidas.
- FALA, PORRA! - gritou na direção do .
- Calma. - disse, depois de me olhar por poucos segundos. - Vamos conversar. - Ele mediu as palavras, que soaram como uma confissão para o . Meu irmão fuzilou ele com os olhos e negou incessantemente com a cabeça.
- FILHO DA PUTA! - levantou do chão com sangue nos olhos. saltou do chão feito um ninja e correu imediatamente para trás da mesa de jantar, que acabou ficando entre os dois.
- , vamos conversar. - pediu, ofegante.
- VOCÊ QUER CONVERSAR? SOBRE O QUE? SOBRE COMO VOCÊ ME FEZ DE IDIOTA? SOBRE COMO VOCÊ TIROU A VIRGINDADE DA MINHA IRMÃ? - terminou a frase e tentou alcançá-lo, correndo para um dos lados da mesa. correu para o lado inverso.
- NÃO FOI ASSIM! - tentou se explicar. - EU FUI RESPEITOSO. EU SEMPRE FUI MUITO RESPEITOSO COM A SUA IRMÃ. - Ele queria explicar que não tinha sido uma coisa só por prazer. Tinha muito amor envolvido também.
- Você foi respeitoso? - fingiu ter ficado contente. - Que fofo! Agora, eu estou tão mais tranquilo e feliz por você ter TIRADO A VIRGINDADE DA MINHA IRMÃ, SEU IMBECIL! - Ele deu um soco na mesa.
- O que você foi fazer? - se aproximou de mim, me dando uma bronca.
- Já estava na hora, você não acha? - Eu respondi, sem qualquer culpa.
- QUANTAS VEZES? - perguntou, tentando ficar mais calmo.
- UMA VEZ! - diria qualquer coisa que o favorecesse. cerrou os olhos, pressionando-o. - DUAS VEZES! FORAM SÓ DUAS VEZES. - Ele corrigiu, imediatamente.
- Se eu descobrir que você está mentindo… - ameaçou. A mesa de jantar ainda estava entre eles.
- FORAM TRÊS, QUATRO… CINCO VEZES. EU NÃO LEMBRO, CARALHO. EU NÃO LEMBRO. - nunca tinha se sentido tão pressionado na vida. Ele estava em pânico. Ele nunca tinha visto o daquele jeito. Quando ele terminou a frase, meu irmão apoiou as mãos na mesa, como se precisasse de poucos segundos para respirar e digerir aquela informação.
- Você não deveria ter feito isso, . - negou com a cabeça e manteve os olhos fechados por poucos segundos. - Eu vou acabar com você. - Ele fez outra ameaça. - EU VOU MATAR VOCÊ! - tentou alcançar o novamente, correndo para um dos lados da mesa. correu para o outro lado. - PARA DE FUGIR! - Ele gritou, furioso. - VOCÊ É HOMEM PRA COMER A MINHA IRMÃ, MAS NÃO É HOMEM PRA ME ENFRENTAR? - cuspiu as palavras.
- ! - e se aproximaram para tentar segurar o meu irmão.
- SE ALGUÉM ENCOSTAR EM MIM, VAI MORRER JUNTO COM ELE. - ameaçou e , que pararam de se aproximar na mesma hora.
- NÃO É ASSIM! NUNCA FOI ASSIM! - tentaria se explicar novamente. - EU GOSTO DELA. EU SEMPRE FUI APAIXONADO POR ELA. NÃO FOI DO JEITO QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO. - Ele estava desesperado.
- E COMO FOI? NO BANHEIRO DO METRÔ? NA PORRA DO SEU CARRO? OU FOI EM UM MOTEL? - não esperou a resposta. Tentou outra vez alcançar o e quando o viu correr para o lado contrário, decidiu resolver aquilo de uma vez, subindo na mesa de jantar. não teve outra alternativa, se não correr. Ele foi na direção do quintal da casa e meu irmão foi atrás dele. parou em um dos lados da piscina e parou do outro lado. A piscina estava entre eles.
- Você vai me ouvir! - afirmou, irritado. Ele tinha que ter o direito de se justificar.
- Você me traiu da pior maneira possível! - esbravejou. - Eu confiei em você! Eu confiei a minha irmã a você! - Ele completou, indignado.
- EU NÃO QUERIA ISSO! - gritou.
- NÃO QUERIA ISSO? ELA TE OBRIGOU, ENTÃO? VOCÊ ESTÁ DE BRINCADEIRA COMIGO! - ficou ainda mais indignado. - VOCÊ ACABOU DE ASSUMIR QUE ISSO ACONTECEU MAIS DE 4 VEZES. VOCÊ ACHA QUE EU SOU IDIOTA? - Ele foi para um dos lados da piscina e correu para o outro.
- EU NÃO QUERIA TE DECEPCIONAR. EU NÃO QUERIA QUEBRAR A SUA CONFIANÇA. - explicou-se melhor. - Eu nunca quis que você se sentisse assim. - Ele falou de maneira mais calma. - Mas… aconteceu. - ergueu os ombros. - Nós estávamos namorando e estávamos apaixonados e… aconteceu. - Ele não conseguia ser mais honesto do que aquilo.
- POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU? - não se sentiu nem um pouco melhor com as justificativas do amigo.
- Pra quê? Pra você me dar outro soco? Pra você me mandar ficar longe dela? - perguntou retoricamente. Todos acompanhavam a briga.
- NÃO INTERESSA! NÓS ÉRAMOS AMIGOS! VOCÊ ME DEVIA ISSO. - não cedia de jeito algum.
- … - não sabia mais o que dizer. - Você sabe tudo o que eu já fiz por ela. Você sabe como eu me sinto em relação a ela. - Ele fez uma breve pausa. - Uma vez, você me disse que estava feliz por ela estar com um cara como eu. Você disse que não poderia imaginar ninguém melhor pra ela. - relembrou. - Nós somos melhores amigos, cara. Você me conhece. Você sabe das minhas intenções. Você sabe o respeito que eu sempre tive por ela e por você. - Ele tentou ser o mais sincero possível.
- E é exatamente por isso que eu não esperava isso de você. Eu esperava de qualquer pessoa. Qualquer pessoa, . - demonstrou sua enorme decepção. - Menos você. - Ele negou com a cabeça. Infelizmente a conversa deles começou a me fazer sentir um pouco de remorso. Não era nem por pena do . Era questão de ser justa. A conversa também dizia respeito a mim e eu sabia que o estava sendo sincero.
- … - Eu me aproximei do meu irmão.
- Eu não quero falar com você. - Ele respondeu, decepcionado.
- Eu sei que você se sente traído. Eu sei que você sempre sentiu a obrigação de cuidar de mim. - Eu tentei dizer as palavras certas. - Eu respeito e amo você por isso, mas… você não vai poder me proteger para sempre. Você não vai poder impedir que o meu coração seja quebrado milhões de vezes. Você não vai poder me impedir de tomar as minhas decisões erradas. Você não vai poder impedir que eu viva todas as experiências que qualquer garota vive. - Minhas palavras fizeram com que o me olhasse. - Eu reconheço que o foi um idiota por não ter te contado tudo isso antes, mas… você precisa saber que ele sempre me respeitou muito e nunca forçou nada ou se aproveitou das inúmeras vezes que eu estive vulnerável. - estava impressionado com a minha atitude. - Desculpa se eu te decepcionei e se eu não sou tudo o que você esperava que eu fosse, mas tudo o que aconteceu entre eu e o aconteceu exatamente da maneira que eu queria e com o meu total consentimento. Ele não fez nada sozinho. - Eu finalizei. Meu irmão passou uma de suas mãos pelo seu rosto. Minhas palavras só serviam para deixá-lo mais nervoso e angustiado com a notícia.
- Vocês me dizem essas porcarias como se elas mudassem o fato de que vocês tem feito sexo há meses. Pelas minhas costas! - voltou a olhar para o .
- Me desculpa, cara. Eu não sei o que mais eu posso te dizer. - abriu os braços.
- Que tal se você calasse a boca? - encarou o amigo pela última vez, antes de se afastar em silêncio e entrar na casa. e foram atrás do amigo.

nunca tinha visto o tão decepcionado e isso fazia com que ele se sentisse muito mal. Ele estava sentindo uma mistura de culpa e raiva. preferia mil vezes ter levado alguns socos, ao invés ouvir do amigo as palavras que ele tinha ouvido. Ele se sentia o pior amigo e a pior pessoa do mundo e tudo isso, graças a mim! Mesmo estando em lados opostos na piscina, levantou o seu rosto e me encarou.

- Valeu mesmo! Está feliz? - ironizou, retirando-se da área da piscina antes mesmo que eu conseguisse responder.
- Idiota! - Eu gritei na direção em que ele tinha ido.
- Não se importe com isso. Você sabe que ele está nervoso. - tentou me acalmar.
- Agora, ele está fazendo parecer que a culpa é minha! - Eu estava muito brava.
- É exatamente isso o que ele quer! Desencana disso. - Meg me apoiou.
- Deixa isso pra lá. - me abraçou.
- Vocês também acham que eu fiz mal em contar tudo? - Eu quis a opinião delas.
- Eu acho até que foi pouco! - Meg foi a primeira a se manifestar.
- Olha, não vou negar que eu fiquei um pouco em choque com a maneira que tudo aconteceu. - foi sincera.
- Mas se era algo que você precisava falar e que estava te fazendo mal, você fez bem em contar. - foi extremamente compreensiva.
- Eu entendo os motivos dele e sabia que isso poderia abalar a amizade dele com o , mas aconteceu! O que ele queria? Que vivêssemos a vida toda fingindo que nada aconteceu? - Eu tentei me explicar.
- Só o mesmo para te pedir um absurdo desses. - Meg rolou os olhos. - Tudo bem que ele tem uma pegada memorável, mas isso não dá o direito de ele fazer o que quiser. - Ela completou.
- Pegada? Como você sabe da pegada dele? - estranhou.
- Eu tenho flagrado muita coisa nesses últimos meses. - Meg forçou um sorriso. Seu comentário me arrancou um sorriso sincero. - Eu não vou muito com a cara do . Vocês sabem! Mas… eu tenho que reconhecer que quando esses dois se juntam, não há extintor no mundo que separe. - Ela completou, fazendo as meninas rirem.
- Para com isso, Meg. - Eu rolei os olhos.
- Jura!? - estava impactada com a notícia.
- Eu sempre vi o sendo tão romântico. Eu nunca imaginei esse lado dele. - mostrou interesse no assunto.
- Só de falar no assunto, eu já sinto vontade de pular nessa piscina. - Meg apontou na direção da piscina.
- Vocês não estão falando sério! Uma guerra acontecendo lá fora e vocês falando besteira? - Eu rolei os olhos.
- Você está certa. Vamos lá. - se conscientizou e foi indo na direção da casa. Fomos atrás dela.
- Depois você vai me contar tudo! - sussurrou aos risos. Eu apenas neguei com a cabeça e olhei feio para a Meg. Por que ela foi contar?

Depois de ter deixado o quintal, foi direto para o lado de fora da casa. Ele notou que as vozes de seus amigos vinham de lá. Ao chegar na porta, avistou o , que estava sentado em uma pedra enorme que tinha na frente da casa, enquanto e estavam de pé na frente dele e tentavam acalmá-lo. Jou passou pela varanda e percorreu metade do caminho sem qualquer medo de levar uma surra.

- Deem o fora. Eu quero conversar com ele. - foi direto ao ponto. Ele queria resolver o assunto de uma vez.
- Deixa pra amanhã, . - aconselhou, ficando entre os amigos.
- Agora. - insistiu. se levantou e olhou para o amigo.
- Deixem ele falar. - pediu. e continuavam na frente dele.
- Não. - não gostou da ideia.
- Ele disse que quer conversar e eu vou ouvi-lo. Só isso. - tentou demonstrar que estava calmo.
- Até parece. - negou com a cabeça.
- Está tudo bem. - tranquilizou os amigos. - Qual é! - Ele insistiu para que eles saíssem.
- Eu já me acalmei! Vão de uma vez. - os apressou. Mesmo contrariados, e se afastaram e voltaram para a varanda, onde eu e as garotas também observávamos a cena de longe.

Quando e os deixou sozinhos, e se olharem. Eram olhares completamente diferentes. se sentia traído, enquanto o se sentia culpado. Meu irmão não se moveu e, por isso, o teve que se aproximar. Ele estava ciente de que não sairia daquela conversa sem ao menos levar um soco do melhor amigo.

- Eu não vou mais fugir. - disse para que o amigo soubesse que ele estava cedendo. - Você está bravo comigo e tem todo o direito de estar. Eu sei o que eu fiz e, apesar de não me arrepender, eu sei que esconder isso de você foi errado. - Ele reconheceu. - E, por isso, eu peço desculpas. - finalmente se desculpou. Achou que a sua sinceridade faria com que o meu irmão visse a situação de uma outra maneira, mas ele estava errado. respondeu, dando um forte soco no rosto do . Aquele soco era questão de necessidade para ele. Era o jeito que ele tinha de extravasar a sua raiva.
- Você jogou toda a confiança que eu tinha em você no lixo, Jonas. - falou para ele, que ainda estava com a cabeça baixa por causa do soco. Quando o conseguiu levantar a cabeça para encará-lo novamente, ele foi surpreendido com um segundo soco. - Eu não quero as suas desculpas. Eu mal consigo olhar pra você. - Com a cabeça novamente baixa, cuspiu todo o sangue que acumulou-se em sua boca. - Você deveria ter me contado. - Meu irmão o encarou com decepção. - Como você pode perceber, você estava certo. Eu quebraria a sua cara de qualquer jeito, mas diferente do que você imaginou, eu não vou pedir que você se afaste dela. Eu vou te pedir pra você se afastar de mim. - disse, dando poucos passos para trás.
- Espera. - ainda achava que pudesse consertar as coisas.
- É o melhor pra você. Eu não sei até quando eu vou aguentar essa vontade de quebrar cada osso do seu corpo. - ameaçou, afastando-se de vez.

Todos observaram a cena com uma expressão de dor. Os socos foram realmente muito fortes. Meu irmão passou por todos nós e nem ao menos nos olhou. foi atrás dele. O continuava lá parado e parecia estar tentando lidar com seus próprios ferimentos. Estávamos com tanta pena dele, que demoramos para cogitar a possibilidade de nos aproximarmos dele.

- Eu vou lá. - foi o primeiro a se manifestar.
- Deixa que eu vou. - Eu disse logo em seguida. Eu me sentia na obrigação de ir até lá. Não que eu me sentisse culpada, mas fui eu que acabei causando tudo isso, não é?
- Não piore as coisas, está bem? - me aconselhou. Eu entendi o que ele quis dizer.

não parava de cuspir sangue e um dos lados de seu rosto ardia e doía bastante. Ele estava de costas e, por isso, não viu que eu me aproximava. Não disse nada até me colocar de frente para ele. Se ele percebesse que eu estava indo falar com ele, ele poderia se afastar. Quando percebeu que tinha alguém em sua frente, levantou a sua cabeça. Confesso que fiquei bastante sensibilizada ao ver o rosto dele todo machucado. A boca dele estava vermelha por causa do sangue e havia um pequeno corte embaixo de um dos olhos dele, que não estava sangrando, mas estava bastante inchado.

- E ai? Foi tudo do jeito que você sempre sonhou? - perguntou, me olhando com frieza.
- Eu não vim pra brigar. - Eu me esforcei para ignorar sua ironia. - Me deixa dar uma olhada nisso. - Eu me referia aos ferimentos. Tentei me aproximar, mas ele se afastou.
- Não precisa. - recusou.
- Deixa de ser teimoso. - Eu tentei me aproximar novamente, mas ele se esquivou.
- Eu já disse que não precisa! - reafirmou, irritado. - Qual o problema? Está com remorso agora? - Ele me provocou.
- Eu não estou com remorso, porque eu não tenho motivos para sentir remorso. - Eu estava tentando muito me manter calma.
- Que tal os dois socos que eu acabei de levar? - As insinuações e as ironias começaram a me irritar bastante.
- Não vem com essa. Você sabe que a culpa é só sua! - Eu respondi de forma mais ríspida. - Eu pedi milhões de vezes para você contar pra ele! Eu te dei muito tempo pra isso. Eu te avisei que se você não contasse, eu contaria! - Eu jamais admitiria que ele jogasse a culpa em mim.
- E você escolheu o melhor momento para fazer isso, certo? No meio da droga de um jogo! - disse, passando reto por mim. - Você queria que ele soubesse? Você queria acabar com a nossa amizade? Meus parabéns! Você conseguiu. - Ele disse, antes de cuspir sangue novamente. Eu quis gritar com ele e xingá-lo, mas eu achei melhor manter a discussão ao invés da briga.
- Você não é homem nem para assumir a sua culpa, não é? É tão mais fácil jogá-la pra cima de mim. - Ao terminar a frase, eu estava pronta para me afastar dele. Era impossível conversar com ele.
- Não sou um homem? Você tem certeza?- A resposta dele me fez ficar. Ele estava furioso e não engoliria aquilo calado. - Porque eu me lembro de ter sido um homem todas as vezes que você precisou! Eu fui homem pra te esperar por malditos 6 anos! Eu fui homem pra salvar você mais vezes do que eu posso contar. Eu fui homem pra deixar de viver o meu sonho para que você vivesse o seu! Eu fui homem pra levar uma bala por você! - cuspiu as palavras na minha cara. - Esse é o tipo de homem que eu sou. - Ele bateu em seu peito. - Eu tive uma única fraqueza e ela não me define. Você deveria saber. - Ele finalizou de maneira estúpida.
- O homem que costumava dizer que faria qualquer coisa por mim. O homem que disse que jamais me decepcionaria de novo. O homem que eu escolhi para perder a minha virgindade. - Eu mantive o meu tom de voz, mas a expressão em meu rosto era de decepção. - Isso também soa familiar pra você? - Eu perguntei retoricamente. - Esse homem que você mencionou e o homem que eu mencionei são as mesmas pessoas, mas, por algum motivo, eles não se parecem nada com o homem que você está sendo hoje. - Eu disse, antes de me virar de costas e deixá-lo falando sozinho. Já no meio do caminho, eu parei e me virei novamente para olhá-lo, porque eu precisava falar mais uma coisa. - E da próxima vez que você pensar em fazer alguma coisa por mim com a intenção de jogá-la na minha cara em algum momento, não faça! Eu não preciso desse tipo de homem. - Me virei e voltei a me afastar para evitar que ele dissesse mais alguma coisa.
- Eu não fico mais um minuto perto desse babaca. - Eu disse para os meus amigos ao passar por eles e entrar na casa. Eu voltaria para Nova York ainda naquela noite.

Ouvir o se gabando por coisas que, até então, eu pensava que ele teria feito por mim sem qualquer intenção de receber algo em troca, sem qualquer interesse ou maldade foi um chute e tanto no meu estômago. Uma das coisas que eu mais admirava no era a maneira que ele fazia certas coisas por mim sem nem perceber e sem qualquer intenção de ser reconhecido por isso. Sempre foi uma coisa tão natural, pura e involuntária entre nós dois. Agora, tudo parecia uma grande farsa pra mim. Eu sabia muito bem que o estava irritado e machucado, mas isso não dava a ele o direito de ficar jogando essas coisas na minha cara. Aquilo havia me deixado bastante chateada.

- Não faz isso. - tentou interferir na minha decisão de ir embora.
- Eu não faria se realmente não fosse necessário. - Eu continuei jogando tudo o que era meu dentro da minha mala.
- Foi só uma briga. - Ela argumentou.
- Não foi só uma briga. Foi mais uma briga! Eu não tenho mais paciência pra esse tipo de coisa. Eu não tenho paciência pra esse idiota, que ainda não percebeu que ele não está mais no ensino médio! - Eu desabafei e descontei tudo nas minhas roupas, que eu continuava enfiando dentro da minha mala.
- Espera pelo menos até amanhã de manhã! Já está um pouco tarde. - estava muito preocupada.
- . - Eu parei o que estava fazendo e dediquei toda a minha atenção a ela. - Você sabe que eu te amo e que você é a melhor amiga que eu poderia ter, não sabe? - Eu perguntei e a vi afirmar com a cabeça. - Você sabe que se eu realmente não precisasse ir, eu ficaria aqui com vocês, certo? - Eu queria que ela entendesse que, apesar de eu querer muito passar mais algum tempo com os meus amigos, ficar na mesma casa que o estava me sufocando.
- Eu queria muito que você ficasse, mas eu entendo e apoio a sua decisão. - tentou sorrir, apesar do bico.
- Você é maravilhosa. - Eu a abracei carinhosamente.
- Eu sei. - disse, me fazendo rir. - Eu te ajudo com as suas coisas. - Ela sorriu assim que terminou o abraço.
- Obrigada. - Eu olhei para ela, extremamente agradecida.

Eu não levei mais de 15 minutos para arrumar todas as minhas coisas e conseguir enfiá-las dentro da minha mala. Da janela do quarto, eu consegui ver que o e o estavam conversando com o . Eu não me importava mais. Eu só queria ir embora. Eu estava pronta para ir embora, mas eu tinha mais uma coisa para fazer antes de ir: eu precisava falar com o . Eu não podia ir embora e deixar as coisas do jeito que elas estavam. Deixei a minha mala e a minha bolsa no corredor e fui até o quarto do meu irmão. Bati na porta duas vezes seguidas e ninguém respondeu. Eu sabia que ele estava lá dentro e, por isso, entrei de qualquer jeito.

- Nós podemos conversar, por favor? - Eu perguntei ao ver que ele estava deitado na cama. estava ao seu lado.
- É realmente necessário? - perguntou, sem me olhar.
- Muito. - Eu afirmei. se levantou, sorriu pra mim e afirmou com a cabeça como se dissesse: ‘Que bom que você veio.’. Ela saiu do quarto sem que ninguém pedisse. Ela sabia que precisávamos conversar a sós.

continuou na cama. Ele nem se moveu. Ele olhava para o teto e demonstrava estar pensativo, mas a verdade é que ele não queria olhar pra mim. Eu o conhecia muito bem e sabia que, naquele momento, ele estava mais decepcionado do que com raiva. Com isso, achei que poderia me aproximar. Me deitei ao seu lado, sem dizer uma só palavra e passei a encarar o teto também. Eu não sabia nem por onde começar.

- Lembra quando costumávamos a passar as férias inteira pulando nessa cama? - Eu me lembrei com um fraco sorriso no rosto. - Nossos pais odiavam que fizéssemos isso. - Eu neguei com a cabeça.
- E a tia Janice sempre nos defendia. - finalmente disse. Aquela também era uma boa lembrança para ele.
- É. Essa é uma boa memória pra mim. - Eu mantive o sorriso nostálgico em meu rosto. - Você sabe que eu ainda sou aquela garotinha, certo? Nada mudou e nunca vai mudar. - Eu queria que ele soubesse. manteve-se em silêncio por algum tempo.
- Eu sempre quis te proteger de tudo e agora eu sinto como se eu tivesse falhado. - tentou se explicar.
- Você não falhou! Você nunca falhou. - Eu respondi na mesma hora. - Você sempre foi incrível. Você sempre foi o melhor de todos. - Eu completei.
- Eu queria que você tivesse me contado. - estava visivelmente chateado.
- Eu quis te contar tantas vezes, mas o receio que eu tinha da sua reação sempre me fazia desistir. - Eu neguei com a cabeça. - Com o tempo, eu fui amadurecendo esse pensamento e me dei conta de que eu precisava te contar. - Eu expliquei.
- É estranho pra mim, sabe? Te olhar como uma mulher adulta e independente e não mais como uma garotinha chata que precisava de mim pra tudo. - Ele finalmente me olhou.
- Talvez, eu já não precise de você para tudo, mas quem disse que eu não preciso de você? - Eu perguntei, olhando pra ele. - , eu ainda sou a sua irmã mais nova. Eu ainda preciso das suas broncas, dos seus cuidados, da sua proteção e especialmente das suas implicâncias. Eu não sei viver sem elas. - Eu disse, conseguindo arrancar um sorriso dele.
- Para com isso. Eu estou tentando ficar com raiva de você. - deixou de me olhar novamente, tentando disfarçar o sorriso.
- Olhe, você deveria ficar feliz por mim. - Eu continuei olhando pra ele.
- Por você ter feito sexo com o meu melhor amigo? - arqueou uma das sobrancelhas.
- Poderia ser bem pior, sabia? - Eu quis mostrar um outro lado pra ele.
- Poderia mesmo. Era só você ter feito sexo com o e o também. - disse, me fazendo rir.
- Poderia ter sido com o Peter! - Eu demonstrei o meu ponto de vista. - Poderia ser com um cara qualquer que eu conheci em uma balada. Poderia ser com alguém que eu não amava. - Eu completei.
- Você está tentando me deixar mais bravo? - fez careta.
- Não! Eu estou tentando te mostrar que isso foi uma coisa boa pra mim. Eu estava apaixonada, estava feliz e queria que acontecesse. - Eu expliquei. - Você sabe exatamente o que eu estou querendo dizer. Você já passou por tudo isso com a . - Eu queria que ele se colocasse no meu lugar.
- Mas isso não muda o fato de vocês terem me escondido tudo isso. - se sentou repentinamente. - Aliás, não é a primeira vez, né? - Ele relembrou, contrariado. Ele referia-se ao início do meu envolvimento com o . Não contamos pra ele e acabou muito mal.
- Você está totalmente certo! Eu sei que eu errei e tenho certeza que o também sabe. - Eu também me sentei na cama. - Eu sinto muito, mas você vai ter que me desculpar por isso. - Eu ergui os ombros. - Eu estava pronta para voltar para Nova York ainda essa noite, mas eu não conseguiria ir sem saber que está tudo bem entre nós. - Eu disse com um fraco sorriso.
- Não precisa ir embora. - negou com a cabeça. Ele achava que eu estava indo por causa dele.
- Eu preciso sim. Algumas coisas aconteceram e eu não quero continuar aqui. - Eu não dei muitos detalhes. Não queria que ele se preocupasse.
- Se você diz. - ergueu os ombros. Ele confiava em mim.
- Isso quer dizer que você me desculpa? - Eu forcei um sorriso, que chegou a fazê-lo rir.
- É… ok! - rolou os olhos. - Eu desculpo, mas… você vai ter que ter um pouco de paciência comigo. Eu vou demorar um bom tempo para digerir toda essa história. - Ele estava um pouco contrariado, mas acabou cedendo.
- Jura!? - Eu fiquei muito feliz. - Obrigada! - Eu o abracei imediatamente. - Obrigada por entender… um pouco. - Eu fiz careta ao terminar a frase. - Eu amo você. - Olhei para ele com carinho e dei um beijo estalado em seu rosto.
- Vai de uma vez. - Como sempre, tentou evitar mais beijos.
- Você é o melhor! - Eu me levantei da cama, empolgada e aliviada. Ele me viu sair do quarto com um sorriso no rosto. No final das contas, ele estava orgulhosa da pessoa que eu havia me tornado.

Saí daquele quarto com 20kg a menos nas costas. me esperava no corredor e segurava a minha mala. Ela soube que tudo tinha ocorrido muito bem por causa do sorriso aliviado no meu rosto. Contei a ela brevemente o que aconteceu e confirmei que realmente iria embora. Ela até tentou me convencer a ficar mais uma vez, mas não conseguiu. Eu estava decidida. Encontrei a no meio do caminho e me despedi dela. Ao chegar na porta da casa, ouvi as vozes do lado de fora. ainda estava lá.

- Você quer que eu cuide disso ou não, Jonas? - Meg perguntou, impaciente. Ela sabia que alguém precisava cuidar dos ferimentos dele e se eu não o faria, ela teria que fazer.
- E eu tenho opção? - suspirou longamente.
- É claro que tem! A ! - Meg disse como se fosse óbvio.
- Nós brigamos! E sabe o que isso quer dizer? Isso mesmo. Ela está querendo me matar. - forçou um sorriso. - Além disso, eu não vou pedir nada pra ela. - Ele completou.
- Deixa de ser idiota. - Meg rolou os olhos.
- Você também não é a minha maior fã, mas entre você e ela, eu prefiro que você faça isso. - era orgulhoso demais para se rebaixar e pedir a minha ajuda. - Mas, por favor, seja cuidado… - Ele ia dizendo, quando Meg o interrompeu.
- Fica quieto. - Meg pediu, aproximando-se dele. Ela segurou o seu rosto, o analisou de mais perto e constatou que não tinha sido nada mais grave, somente um pequeno corte no interior da boca e o inchaço causado pelo segundo soco. Nada que preocupasse. - Não é nada demais. - Ela concluiu.
- Como assim não é nada demais? Eu levei dois socos e está doendo pra caralho. - reclamou, fazendo careta.
- Deixa de ser dramático. - Meg rolou os olhos.
- Então, eu devo ficar aqui parado e vai melhorar sozinho? - cruzou os braços.
- Espera um pouco. - Meg afastou-se e foi em direção a porta da casa. Ao entrar, deparou-se comigo e com a . - O que vocês estão fazendo aqui? - Ela estranhou. - E por que essas malas? - Meg perguntou.
- Eu vou embora. - Eu expliquei na mesma hora.
- Por quê? - Meg arqueou uma das sobrancelhas.
- Porque eu não quero ser a segunda pessoa a socar a cara do hoje. - Eu fui sincera. - Por que não quer? Eu apoio totalmente! - Meg ficou empolgada, fazendo com que a risse.
- Ele merecia mesmo, mas eu não quero mais perder o meu tempo. - Eu sorri.
- Mas você vai agora? - Meg estranhou por causa do horário.
- Nova York fica perto daqui. - Eu argumentei. - Além disso, não está tão tarde assim. - Eu olhei no relógio, que marcava 9 horas da noite. - Ele ainda está lá fora, né? - Eu fiz careta.
- Eu estava dando uma olhada nos ferimentos dele. - Meg rolou os olhos.
- E ele vai sobreviver? - Eu brinquei aos risos.
- Ele acha que não. - Meg também riu. - Eu vou pegar um pouco de gelo. - Ela apontou na direção da cozinha.
- Eu pego. - tentou ajudar de alguma forma.
- E o seu irmão? Está chorando no quarto? - Meg perguntou, rindo.
- Eu conversei com ele. Estamos bem, mas… ele continua furioso com o . - Eu disse.
- Drama. - Meg fez careta.
- Aqui está. - voltou e entregou um saquinho com gelo nas mãos dela.
- Obrigada. - Meg piscou para a amiga. - Eu vou lá, antes que ele chame uma ambulância. - Ela debochou.
- Hey! - Eu a chamei, antes que ela se afastasse. - Vou aproveitar que você está cuidando dele e vou sair e ir pro meu carro. Depois, diga ao e ao que eu mandei um beijo para eles. - Eu queria evitar o de qualquer jeito.
- Eu falo. - Meg afirmou com a cabeça. - Nos vemos em Nova York. - Ela aproximou e me abraçou, despedindo-se.
- Obrigada por cuidar dele. - Eu agradeci, terminando o abraço.
- Tudo bem. - Ela negou com a cabeça. - Nos avise quando chegar em casa. - Meg pediu segundos antes de sair pela porta.
- Vou aproveitar que ela está cuidando dele e vou sair. - Eu disse para a .
- Eu te ajudo com a mala. - sorriu.
- Obrigada por tudo. - Eu a abracei antes que seguíssemos com o plano.
- Espero te ver em breve. - beijou carinhosamente o meu rosto.
- Eu também. - Eu devolvi o beijo, olhando para ela com carinho.
- Eu pego isso. - pegou uma das malas. Eu peguei a minha bolsa e algumas outras sacolas. A chave do carro já estava na minha mão. Ao sair para o lado de fora da casa, eu fui andando rapidamente em direção ao carro. Eu nem sequer olhei para a direção em que o estava.
- Devagar, garota! Está maluca? - reclamou da agressividade da Meg ao colocar o gelo em seu rosto.
- Para de choramingar! - Meg disse, sem paciência. - Segura esse gelo ai! Depois, vai ao banheiro e passa uma água nessa boca. - Ela disse.

Ouvi as reclamações dele, mas mesmo assim continuei ignorando-o completamente. Destravei o carro e abri o porta-malas, colocando todas as minhas coisas lá dentro. O barulho do alarme chamou a atenção do , do e, infelizmente, a do . Eles se viraram e olharam para a minha direção. e ficaram extremamente confusos. Eles não entendiam porque eu estava indo embora. me acompanhava com o olhar.

- O que ela está fazendo? - perguntou, perplexo.
- Voltando pra casa. - Meg respondeu a verdade.
- Fugindo, como sempre! Não me surpreende nem um pouco. - negou com a cabeça, visivelmente irritado.
- Obrigada de novo, . - Eu agradeci mais uma vez ao fechar o porta-malas. - Explica para eles depois. - Eu pedi mais uma vez. Eu me referia ao e ao .
- Pode deixar. - afirmou com a cabeça. Olhei a casa pela última vez e fui em direção à porta do carro.
- Segura isso. - entregou o saquinho de gelo nas mãos do e saiu, andando na direção do meu carro.
- ! - não aguentava mais confusão.
- Você está realmente fugindo? - gritou na minha direção. Eu ignorei completamente e abri a porta do carro. - Você é inacreditável! - Ele disse, me olhando através da janela do carro. - Qual o motivo da fuga desta vez? Medo de enfrentar os seus problemas ou está só querendo que eu vá atrás de você como eu fiz da última vez? - Continuei ignorando, enquanto colocava o cinto de segurança. - Cuidado com a estrada dessa vez! Eu não vou estar perto para te salvar de novo, mas você pode me ligar, se você precisar. - Ela referia-se ao meu segundo acidente, que aconteceu no mesmo dia em que o descobriu que estávamos juntos. Eu liguei o carro.
- Você é a última pessoa para quem eu ligaria. - Eu fiz questão de olhar na cara dele ao dizer aquilo. Saí com o carro antes que ele pudesse responder qualquer coisa.
- Garota mimada! - esbravejou, reaproximando-se dos amigos e pegando o gelo da mão de .
- Falou o que não devia… - Meg provocou.
- Dá um tempo! - respondeu, irritado. - Por que você ainda está aqui? Você já viu os meus ferimentos. Já pode parar de fingir que se importa. - Ele disse, impaciente.
- Cansei de fingir mesmo. - Meg aproximou-se repentinamente, tirou o saquinho de gelo da mão do e o jogou na direção das árvores. - O gelo também fazia parte do meu fingimento. - Ela afastou-se com um sorriso sarcástico. a fuzilou com os olhos.
- Como você aguenta, ? - olhou para o amigo, incrédulo.
- Ela não é assim. Você tem o dom de despertar esse lado maligno dela. - tentou segurar o riso.
- Quem deveria ter ido embora sou eu. - estava muito estressado com tudo o que tinha acontecido. Ele afastou-se dos amigos e foi em direção a casa. Ele precisava pegar mais gelo e precisava ficar sozinho.

Eu realmente não estava arrependida por ter voltado para casa. Eu sei que tomei a melhor decisão, mas isso não fazia com que eu me sentisse menos frustrada com o que aquele feriado tinha se tornado. Eu só não estava arrependida por ter ido até a casa do lago, pois eu tinha tido muitos momentos bons com os meus amigos. Por eles, o feriado prolongado valeu muito à pena. realmente tinha estragado o que poderia ser o final de semana perfeito. Eu ficava muito aborrecida só de pensar no nome dele.

Dirigi tranquilamente até Nova York. Enquanto eu estacionava o meu carro na garagem da minha casa, meus olhos curiosos tentavam adivinhar se o Mark estava em casa. A luz acesa da casa respondeu o que eu tanto queria saber. Desliguei o carro e nem sequer tirei a mala de dentro do porta-malas. Eu comecei a andar na direção da casa dele de forma extremamente espontânea. Eu não premeditei nada.

Até então, o meu plano era chegar em casa, comer qualquer coisa e dormir, mas alguma coisa dentro de mim falou mais forte quando eu botei os meus olhos na casa do Mark. Era como se eu precisasse vê-lo. Bati na porta duas vezes seguida e ninguém atendeu. Eu estava prestes a bater na porta pela terceira vez, quando ela foi repentinamente aberta. Mark estava em minha frente e seus olhos demonstraram surpresa ao me ver, mas os lábios sorriram espontaneamente. Não deixei que ele dissesse nada e simplesmente me aproximei e coloquei os meus braços em volta dele. Agora, eu sabia que era atrás do abraço dele que eu tinha vindo. Mesmo sem entender nada, ele me acolheu e me apertou. O abraço foi longo, mas mantivemos o silêncio enquanto ele durou.

- Está tudo bem? - Mark me olhou, preocupado.
- Agora está. - Eu respondi ao sorrir fraco.
- Entra. - Ele deu passagem para que eu entrasse e eu não pensei duas vezes.
- Desculpa ter vindo tão tarde. - Eu me sentia um pouco mal pelo horário.
- Nunca é tarde pra você! Você sabe. - Mark negou com a cabeça. - Eu estou feliz que você esteja aqui, mas… você não deveria estar viajando? - Ele me olhou, confuso.
- Eu deveria, mas… algumas coisas aconteceram e eu preferi voltar pra casa. - Eu me sentei no sofá e ele sentou-se na mesinha de centro da sala, ficando de frente pra mim.
- O que aconteceu? - Mark queria entender.
- Eu briguei com o . - Eu rolei os olhos ao falar o nome dele.
- Não me diga. - Mark ironizou, me arrancando um sorriso.
- Para. - Eu tentei não rir.
- Sobre o que foi dessa vez? - Mark manteve o sorriso de deboche.
- Sobre ele bancando um adolescente de 15 anos. - Eu fiz careta.
- Achei que ele só fizesse isso comigo. - Mark fingiu estar surpreso. - Eu tenho bastante experiência nesse assunto. - Ele me fez rir novamente.
- Então, por favor, me esclarece uma dúvida: É normal sentir vontade de matar ele todas as vezes? - Eu perguntei.
- É super normal! Não se preocupa. - Mark manteve o tom de brincadeira. - Dar um soco as vezes mata um pouco dessa vontade, mas eu não faço isso com tanta frequência. - Ele completou.
- O soco ele levou, mas infelizmente não foi de mim. - Eu lamentei.
- Você disse que o levou um soco? - Mark achou que não tivesse escutado bem.
- Dois socos, na realidade. - Eu o corrigi.
- Quem foi o sortudo? - Mark ficou curioso e eu voltei a rir.
- Não dá pra falar sério com você! - Eu tentei me manter séria.
- Eu só estou brincando. - Mark negou com a cabeça, enquanto sorria. Ele adorava me fazer rir. - Me conta. Que história é essa de dois socos? - Ele perguntou mais sério.
- Foi o . - Eu fiz careta.
- O seu irmão deu dois socos no meu irmão? - Mark queria ter certeza que tinha escutado direito.
- Deu. - Eu confirmei. - O descobriu tudo. - Eu não dei detalhes, pois achei que ele entenderia do que eu estava falando.
- Tudo? - Mark não tinha entendido.
- Tudo! - Eu afirmei, arqueando ambas as sobrancelhas.
- Ah… não. - Mark fez cara de dor. - Como ele descobriu? - Ele perguntou.
- Eu… contei. - Eu disse com um sorriso forçado.
- Então, você e o brigaram e você dedurou ele. - Mark deduziu.
- Você falando faz tudo soar muito mais vingativo do que realmente é. - Eu mordi o lábio inferior, tentando evitar o sorriso.
- E não foi por vingança? - Mark perguntou com desconfiança.
- Vingança foi um dos meus motivos, mas não foi o principal. - Eu expliquei. - O motivo principal foi o meu cansaço de sustentar essa mentira e de bancar a boba e inocente pra todo mundo. - Eu complementei.
- Eu entendo o que você está dizendo. - Mark, como sempre, foi compreensivo.
- Você entende? - Eu fiquei até um pouco surpresa. - O sempre morreu de medo que o acabasse descobrindo tudo. Ele já me fez passar por várias situações ridículas por causa disso. - Eu revirei os olhos, irritada só de lembrar. - Como vocês podem ser tão diferentes? Como vocês podem ter níveis de maturidade tão diferentes? - Eu perguntei.
- Por causa de toda a situação com a minha mãe adotiva e… a falta de um pai, eu fui obrigado a amadurecer mais cedo do que a maioria dos outros caras. Não foi por opção minha, mas aconteceu. - Mark ergueu os ombros, enquanto explicava, todo sério.
- Eu admiro muito você por isso. - Eu disse com um olhar de admiração.
- Você sempre diz isso. - Mark sorriu, sem jeito.
- Eu não sei porque, mas todas as vezes que eu passo algum tempo com o , eu acabo percebendo que te admiro muito mais do que eu imaginava. - Eu mantive o olhar de admiração. - Pode até soar um pouco estranho, mas… em cada briga ou em cada estupidez que o faz, independentemente da situação ou de onde eu esteja, por um milésimo de segundo, eu penso: ‘Se fosse o Mark, não estaríamos brigando. Se fosse o Mark, eu não estaria passando por isso.’ - Eu fui completamente honesta.
- Nós somos irmãos, mas somos muito diferentes. Nós pensamos diferente. Nós agimos diferente. - Mark explicou-se, tentando não demonstrar tanta empolgação com o que ele tinha ouvido de mim.
- Eu sei. - Eu concordei. - E essa é a melhor parte. Acredite. - Pisquei um dos olhos para ele antes de me aproximar e abraçá-lo pela segunda vez. Dessa vez, eu estava me despedindo. - Obrigada por sempre estar aqui, me esperando de braços abertos. - Beijei carinhosamente o seu rosto. - Saber que eu tenho alguém sempre pronto para me resgatar do pior é a melhor sensação do mundo. - Trocamos olhares por alguns momentos. Tive a impressão de que ele estava querendo me dizer alguma coisa e ele realmente estava. Mark adoraria me olhar nos olhos naquele momento e dizer que estava mais apaixonado do que nunca, mas ele não podia. Ele não podia por inúmeros motivos, sendo que o principal deles exigia uma grande decisão de sua parte.
- Boa noite. - Mark sorriu fraco, deixando claro que não tinha mais nada a dizer. Confesso que fiquei um pouco desapontada. Eu não me lembro de ter desejado tanto que ele se declarasse quanto eu desejei naqueles últimos segundos. A nossa relação mudou muito nos últimos tempos e eu tinha certeza de que eu nunca tinha sentido algo tão forte por ele.
- Boa noite. - Eu tentei sorrir para não demonstrar a minha decepção.

Caminhei de volta para casa sentindo um enorme conflito em meu peito. Mark e eu já tivemos sim os nossos momentos, mas as coisas nunca estiveram tão claras pra mim quanto estavam agora. Houve momentos em que eu me senti mal por não corresponder com a mesma intensidade os sentimentos que ele tinha por mim. Agora, eu me sentia mal por não saber lidar com a magnitude desses sentimentos, que acabaram me pegando de surpresa. Eu não sabia que podia sentir algo tão forte por ele.

O conflito interno do Mark era muito maior do que o meu. Além de seus sentimentos, ele tinha muitas decisões para tomar. Optar por uma coisa tão significava pra ele e ter que desistir de outra que era tão importante era extremamente difícil para ele. Mark realmente não sabia o que fazer.

A vida do também não estava nada fácil. Depois dos socos que havia levado do seu melhor amigo, de ter perdido sua garota e ter o seu final de semana arruinado, ele não via outra alternativa senão ir embora. não queria estragar o resto do feriado de todos os seus amigos e decidiu que a melhor coisa a ser feita era ir embora. Mesmo estando tarde, ele arrumou as suas coisas e as colocou em seu carro. e até tentaram fazê-lo ficar, mas foi inútil. estava pronto para ir embora, mas decidiu conversar pela última vez com o seu melhor amigo. Foi até o quarto do , bateu algumas vezes na porta e não foi atendido, mas isso não o impediu de dizer o que ele tanto queria dizer.

- Eu sei que você está me ouvindo, , e, por isso, eu vou te dizer o que eu tenho pra te falar daqui mesmo. - gritou, encarando a porta do quarto. também encarava a porta do outro lado, mas manteve-se deitado em sua cama. - Foram mais de 8 anos de amizade e eu tenho certeza que você me conhece o suficiente para saber que eu jamais faria nada que pudesse te decepcionar ou que pudesse prejudicar a nossa amizade. - Ele fez uma breve pausa. - Só você e eu sabemos tudo o que passamos juntos e tudo o que já fizemos um pelo outro. Todas as brigas, os trabalhos, as suspensões na escola e o nosso primeiro jogo no time da escola. - parecia estar sendo tocado pelas palavras do amigo. Ele levantou-se da cama e continuou encarando a porta de braços cruzados. - Se mesmo sabendo de tudo isso, você deixar que a nossa amizade acabe desse jeito, eu vou entender. - suspirou. - Mas eu confesso que vou ficar bastante decepcionado. Não decepcionado com você porque, como eu já disse, eu sei que eu errei e já nem sei mas como me desculpar por isso, mas sim decepcionado com toda essa situação. Nossa amizade sempre foi o tipo de coisa que eu sabia que jamais perderia. Sempre foi algo muito certo na minha vida. Eu esperava que mesmo depois de tudo, nos esforçaríamos um pouco mais para mantê-la. - Ele não sabia qual estava sendo a reação do , mas ele estava feliz por ter conseguido dizer aquelas palavras. - Eu realmente espero que essa não tenha sido a nossa última conversa. - finalizou. Esperou poucos segundos para ver se a porta seria aberta, mas foi em vão. Com isso, ele desistiu e deu poucos passos para longe da porta, que acabou sendo abruptamente aberta segundos depois.
- Presta bem a atenção, porque eu não vou te dar outra chance dessa. - gritou no meio do corredor. - Nunca, jamais… faça nenhum comentário sobre sexo na minha frente, especialmente se for sobre a minha irmã. - Ele decretou. - E se um dia eu flagrar alguma coisa, qualquer coisa, é melhor você mudar de país porque eu não vou sossegar até ter certeza de que você nunca mais fará sexo na sua vida. - disse com tanta ira, que chegou a deixar o perplexo.
- Mas… - bem que tentou argumentar.
- Não! Não fale. - apontou o dedo na direção do amigo. - Isso, meu amigo, sou eu lutando MUITO pela nossa amizade. - Ele cerrou os olhos. - Isso é, de longe, a melhor e maior coisa que eu já fiz por você. - suspirou. - Agora, dá logo o fora daqui, que eu já to com vontade de te dar outro soco. - Ele fez careta.
- Valeu mesmo, cara. - sorriu, feliz com a atitude do amigo. - Eu te amo! - Ele disse apenas para debochar do amigo.
- 10 segundos pra sair. - fechou os olhos, tentando manter a paciência.
- Estou indo! - riu, afastando-se do amigo e saindo do seu campo de visão.

Mesmo sabendo que o estava muito bravo e que demoraria algum tempo para superar quele trauma, estava muito mais aliviado por saber que a amizade deles continuava intacta. Ele despediu-se de todos os outros amigos, entrou em seu carro e seguiu o seu caminho para Nova York. Mark não estava esperando pela volta dele, mas certamente estaria acordado. Pelo menos, era isso o que ele achava.

- O que aconteceu com esse cara? - estranhou o fato da casa do irmão estar com as luzes apagadas.

estacionou o carro e dirigiu-se até a porta de entrada. Pensou em bater, mas preferiu não acordar o irmão. Usou a sua própria chave para abrir a porta e entrou. O silêncio da casa demonstrava que o Mark realmente estava dormindo, mas isso não o impediu de tirar as suas malas de dentro do carro e levá-las para dentro da casa. Mesmo sendo cuidadoso para não fazer barulho, acabou acordando o Mark, que pulou da cama, imaginando que a casa estava sendo assaltada ou qualquer coisa do tipo. Pegou uma de suas armas escondidas no quarto e a levou com ele para fora do quarto. Habilidoso como sempre, Mark fez todo o trajeto até a sala sem ser notado. Ao chegar lá, ele teve certeza que havia alguém na casa. O barulho vinha da cozinha. Com a arma já destravada e apontada para frente, ele seguiu em direção a cozinha e deparou-se com a porta da geladeira aberta. De onde ele estava, Mark não conseguia ver quem estava atrás da porta e esperou até o momento que a porta foi fechada para atacar. Quando o fechou a geladeira, deparou-se com a arma e com o seu irmão.

- Ei! Ei! - ergueu as mãos, tentando acalmar o irmão mais velho.
- Meu Deus, ! - Mark abaixou a arma na mesma hora, contrariado. - Você estava a 3 segundos de morrer. - Ele negou com a cabeça, ainda tenso.
- Eu só estava procurando alguma coisa pra comer. - se justificou.
- Mas o que você está fazendo aqui? Você não ia voltar amanha? - Mark perguntou, irritado.
- Eu ia, mas aconteceram uns problemas e eu acabei levando uns socos. - rolou os olhos.
- É… eu fiquei sabendo. - Mark afirmou.
- Ela já veio aqui contar pra você? Aposto que ficou falando mal de mim! - falou, irritado.
- Você dormiu com a irmã dele. O que você esperava? - Mark não lamentou nem um pouco.
- Não é tão simples assim. - fez careta. - Você é o meu irmão e a também fez sexo comigo. Por que não vai tirar satisfações com ela também? - Ele argumentou mesmo sabendo que as situações eram bem diferentes. Ele só queria ter um argumento.
- Não acredito que você me acordou para que eu ouvisse uma coisa ridícula dessa. - Mark suspirou, impaciente.
- Eu não vou conversar com você sobre esse assunto, porque você vai querer ficar defendendo a e nós vamos brigar. - negou com a cabeça. - Me fala ai o que você fez nesse feriado. E a sua reunião tão importante no trabalho? - Ele perguntou, enquanto comia um pacote de biscoito que havia encontrado no armário.
- O que tem a reunião? - Mark arqueou a sobrancelha.
- Sobre o que era? - perguntou, curioso.
- E porque você acha que eu te contararia? - Mark cruzou os braços.
- É sigiloso, né? - sorriu, desconfiado. - Ainda não acredito que eu tenho um James Bond dentro de casa. - Ele brincou.
- Eu posso voltar a dormir, né? - Mark fez careta.
- Sinta-se em casa. - ironizou. Mark rolou os olhos.
- Tente não destruir a cozinha. - Mark disse, virando-se de costas. - Lembre-se de que os móveis e a geladeira não são comestíveis. - Ele gritou da sala.
- Boa noite, Markey! - respondeu, tentando retribuir o deboche.

Naquele domingo, eu finalmente tive a oportunidade que eu tanto esperei para dormir. Eu nunca tinha dormido tanto na minha vida. Foi tão maravilhoso, que eu mal tive tempo de ficar remoendo a raiva que eu estava sentindo do e nem para me preocupar com os sentimentos que eu comecei a sentir pelo Mark. Foi o tempo que eu precisei para colocar a minha cabeça em ordem novamente, porém a minha vida continuava uma bagunça.

A raiva era uma das coisas que mais ajudavam o a não pensar em mim. Mark passou o dia todo fora por conta do seu trabalho e o acabou ficando sozinho, mas ele não teve um só momento de fraqueza. Mesmo estando tão próximo, ele não se lembrou de mim em nenhum momento daquele domingo. Pelo menos, não por enquanto.

O final do domingo se aproximava e o estava na frente da TV assistindo ao jogo do Yankees, como de costume. Ele esperava que fosse assistir ao jogo com o Mark, mas se contentou em assistir sozinho, depois que o irmão mais velho ligou avisando que chegaria em casa um pouco mais tarde do que o normal. O jogo já estava no fim e o Yankees estava perdendo. Tinha como aquela noite piorar? É claro que tinha! O celular dele tocou e foi só ver o nome do Steven no visor para que o seu domingo terminasse de vez. Ele hesitou bastante em atender, mas cedeu quando Steven ligou pela segunda vez seguida.

- O que você quer, Steven? - atendeu grosseiramente o celular.
- Ajuda… - A voz do pai estava tão fraca, que por pouco ele não tinha escutado. - Eu preciso… de… ajuda. - Ele disse com muita dificuldade. O tom de voz de Steven realmente preocupou o , que não esperava ficar tão nervoso, já que tratava-se do Steven.
- O que… - ficou tão em choque, que ele demorou poucos segundos para conseguir terminar a frase. - O que está acontecendo? - Ele perguntou momentos antes da ligação cair. - Steven! - gritou, angustiado. - Droga! - Ele esbravejou, sentindo-se na obrigação de fazer alguma coisa. Ele tinha recebido um pedido de ajuda. Como poderia ignorar?

não pensou duas vezes antes de vestir um casaco, pegar a chave de seu carro e ir às pressas até a casa do Steven. A reação do não o agradou, mas era algo mais forte do que ele. Algo que ele não conseguia controlar. Steven poderia ser a pior pessoa de todas, mas ele ainda era o seu pai. E se mesmo depois de tudo, aquele pedido de ajuda não passasse de uma brincadeira idiota, não responderia pelos seus atos.

Após dirigir o mais rápido que conseguiu, estacionou o seu carro em frente a casa do Steven e saiu rapidamente do carro, indo até a porta. As batidas na porta mais pareciam chutes de tão fortes que eram. Sem obter qualquer resposta, resolveu entrar na casa. Assim que entrou, avistou o seu pai caído no chão da sala. O coração dele quase saiu pela boca. Correu até o pai e ajoelhou-se no chão.

- Steven. - chamou por ele. - Steven! - Ele balançou o corpo do pai, fazendo com que ele abrisse os olhos repentinamente. Foi possível ouvir o seu suspiro de alívio.
- Eu… - Steven começou a dizer. - Não… - Ele tossiu com os olhos fechados. - Respirar. - Steven levou uma das mãos ao pescoço. Ele estava tentando dizer ao filho que estava com dificuldades para respirar.
- Eu vou chamar uma ambulância. - tirou o seu celular do bolso e começou a discar os números, mas Steven tirou o celular de suas mãos.
- Não. - Foi a palavra que o Steven conseguiu dizer em um tom de voz mais alto até o momento. - Eles não… podem saber… sobre mim. - Ele disse com dificuldade. - Ninguém pode saber. - Ele completou, fechando os olhos e tentando respirar com calma.

estava desesperado e não sabia o que fazer. O estado em que o Steven se encontrava deixava claro que ele não havia mentido sobre a doença nos pulmões. Mesmo sem entender absolutamente nada sobre medicina, sabia que o pai estava muito mal. Era desesperador ver alguém agonizando na sua frente sem poder fazer nada para ajudar. A ambulância não poderia ser chamada, pois Steven acabaria tendo que revelar seus dados pessoais e, com isso, descobririam a sua verdadeira identidade e saberiam que ele não tinha morrido. A situação era muto delicada.
- O que faço, então? - perguntou, nervoso.
- Nada. - Steven negou com a cabeça. - Eu só queria que você estivesse aqui quando… acontecesse. - Ele sorriu, olhando para o filho. A frase do pai só serviu para deixar o mais agoniado. - Eu tentei… ligar para o… seu irmão, mas ele não… - Steven negou com a cabeça. sabia exatamente o que o pai estava querendo dizer e um nó acabou se formando em sua garganta.
- Você me chamou até aqui para… te ver morrer? - A voz do ficou embargada no final da frase. Steven não conseguiu responder, pois teve uma nova crise respiratória, que acabou sendo muito pior do que a primeira.

foi obrigado a ver o pai se contorcer no chão. O corpo do Steven tremia e suas roupas estavam encharcadas de suor. Os olhos de se encheram involuntariamente de lágrimas, enquanto ele via a cena sem conseguir fazer nada para ajudá-lo. Lembrou-se de todos os anos em que ele desejou estar presente no que ele pensava ser os últimos segundos de vida do pai, quando aquele acidente aconteceu. Os últimos segundos eram reais dessa vez e o estava presente. O coração dele estava apertado e as mãos dele tremiam. Uma confusão de sentimentos e memórias levaram mais lágrimas até os seus olhos e o motivaram a tomar uma atitude. Apesar de toda a dor que o Steven já havia causado, não deixaria que o pai morresse. Não daquela maneira.

- Eu volto já. - olhou nos olhos do pai. - Aguenta, pai. - Ele pediu com tristeza. Era a primeira vez em meses que o o chamava de pai.

Steven ficou no chão, enquanto o levantava-se e saía da casa às pressas. Quando entrou no carro, segurou o volante e só então percebeu o quão nervoso e trêmulo ele estava. O nervosismo não o fez desistir. Ele precisava ajudar o seu pai, mas ele não conseguiria fazer isso sem ajuda médica. Ele precisava ir imediatamente para um hospital. Ele precisava de um médico e precisava de uma infraestrutura que só um hospital poderia fornecer a ele. Como o poderia mandá-lo para um hospital, sem que ninguém descobrisse a sua verdadeira identidade? Sem que todos, inclusive a sua mãe, soubessem que ele não havia morrido naquele acidente? não tinha as respostas destas perguntas, mas sabia exatamente para quem pedir ajuda.

Ao estacionar o carro em frente a minha casa, as luzes da casa demonstraram a ele que eu já estava dormindo, mas isso não o impediu de seguir em frente. As lágrimas ainda estavam presas nos olhos dele no momento em que ele bateu seguidas vezes na porta da minha casa. sabia que estávamos brigados, mas isso não fez a menor diferença para ele. Naquele momento de desespero, não existia amor próprio ou orgulho. só precisava ajudar o pai.

- ! - gritou da varanda da minha casa. Ele olhava na direção da minha janela, esperando que a luz do quarto se acendesse. - ! - Ele gritou novamente.
- Mas o que… - Eu me levantei da cama e deixei de lado o livro que eu estava lendo. Assustada, corri até a janela e ao abrir a cortina, vi o lá embaixo. Pensei mais de duas vezes se deveria descer ou não para abrir a porta. As batidas na porta demonstravam tanto desespero, que eu tive que descer. Alguma coisa muito ruim havia acontecido.

Antes de descer as escadas, vesti um longo casaco por cima do meu pijama. As batidas na porta continuavam e os gritos pelo meu nome também. Eu estava muito preocupada com o que poderia ser. e eu estávamos brigados. Ele não apareceria na minha casa daquela maneira se não fosse algo realmente urgente. As batidas na porta diminuíram, quando eu acendi a luz da sala. Eu abri a porta rapidamente e me deparei com um visivelmente angustiado e com olhos cheios de lágrimas. A breve troca de olhares que tivemos me fez ter certeza que algo muito ruim havia acontecido.

- Eu preciso da sua ajuda. - pediu com a voz embargada. - Por favor. - Ele me olhou com tristeza. - Me ajuda. - implorou, enquanto uma lágrima solitária escorria de um de suas olhos.









CONTINUA...







Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


3 comentários:

  1. Meu Deus do céu
    Esse é o penúltimo mesmo? Sem palavras...
    Eles deviam se acertar de vez pq fazer a protagonista se apaixonar pelo outro é sacanagem.

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