Capítulo 46



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




- Eu encontrei aquelas fotos na sua caixa de correio. Eu fiquei com elas porque eu não queria que você as visse! Eu sabia como você ia ficar quando visse essas fotos e eu... – Mark negou com a cabeça. – Eu não podia permitir. – Ele engoliu seco. Mark disse tudo com tanta intensidade que eu rapidamente soube que era verdade.
- Não era sua escolha! – Eu retruquei, tentando engolir o choro.
- O que? – Ele me olhou com indignação. – Não era a minha escolha? – Mark repetiu a minha afirmação. – Como poderia não ser a minha escolha? Estava nas minhas mãos! Aquelas malditas fotos estavam nas minhas mãos! Eu tinha a opção de evitar todas essas lágrimas e todo esse sofrimento. Acha que eu não faria isso por você? Acha que eu tinha a opção de deixar aquelas fotos lá, sabendo que você as veria? Eu não podia! Então eu decidi! E eu faria de novo! – Ele me enfrentou. – Agora me responda! Acha mesmo que eu teria a coragem de ir até Atlantic City para tirar aquelas fotos? A preço de que? Tirar o idiota do caminho? Bancar o herói? – Ele perguntou de forma retorica.
- Será que foi ele? – Aquela hipótese me destruía. Eu estava me referindo ao .
- Eu acho que não. – Mark negou com a cabeça. – Ele não parece saber que está sendo fotografado. Ela também não. – Ele completou.
- Então quem foi? – Eu perguntei, tentando não deixar as lágrimas interferirem dessa vez. – Quem faria uma coisa dessas comigo? – Eu perguntei, sentindo uma lágrima escorrer do canto dos meus olhos.
Tem alguém tentando me derrubar. Alguém que sabe o que eu estou passando e sabe exatamente quais armas usar contra mim. Eu vou descobrir quem é!





Capítulo 46 – Estranho



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:



- Eu não entendo! Porque alguém me mandaria essas fotos? Quer dizer, qual é o objetivo? – Eu passei os dedos pelo meu rosto para enxugar as lágrimas que haviam escorrido. Eu dei alguns passos, enquanto tentava achar algum culpado por tudo aquilo.
- Alguém não quer vocês dois juntos. – Mark achou que estava dizendo o óbvio.
- Mas nós não estamos juntos! – Eu voltei a olhá-lo, irritada. – Droga! Eu já terminei com ele! O que mais estão querendo? – Eu suspirei longamente. Nada fazia sentido.
- , você sabe que não acabou. – Mark negou com a cabeça. Sabia que odiaria ouvir aquilo.
- O que? – Eu abri os braços, perplexa. – É claro que acabou! – Eu completei.
- Talvez pra ele, mas não pra você. – Mark me olhou, sério. Eu cerrei os olhos pra ele e o observei por um tempo.
- Do que é que você está falando? – Eu dei alguns passos na direção dele. Mark percebeu o quão brava eu estava por ele estar me contrariando daquele jeito.
- Esquece! – Mark rolou os olhos. Era melhor deixar pra lá.
- Não, não! – Eu neguei com a cabeça. – Fala! – Eu o encarei. – Fala de uma vez o que você está tanto querendo me dizer! – Eu esperei ele se manifestar. Ele manteve-se em silêncio. – Fala, Mark! – Eu aumentei o tom de voz. Eu me irritava cada vez mais.
- Não acabou pra você! Você ainda tem esperanças, você ainda o quer de volta! – Mark pareceu um pouco irritado também.
- Como pode ter tanta certeza? – Eu fiquei um pouco mais mansa. O jeito com que Mark havia falado me fez baixar um pouco a bola.
- Porque eu vejo como você fica cada vez que o telefone toca! Porque eu percebo a sua ansiedade cada vez que a campainha da sua casa toca! Porque eu vejo você ir a sua caixa de correio todas as manhãs esperando encontrar uma resposta dele! – A cada coisa que Mark citava eu me sentia mais idiota, porque ele sabia de tudo o que eu tenho tentado esconder todo esse tempo até de mim mesma.
- Você anda me espionando? – Eu tenho certeza que demonstrei o quão incomodada aquilo me deixou. Todas aquelas fraquezas sendo jogadas na minha cara. Eu precisava reverter aquela situação.
- Eu conheço você! – Mark voltou a me desarmar. – Eu sei que você está mal e não é só por causa do término. Também é porque ele não veio atrás de você. – O tom de voz dele mudou. Minha raiva havia desaparecido, porque ele novamente jogou na minha cara a verdade que eu nunca quis assumir. – Você está esperando ele vir atrás de você como ele sempre fez, não é? – Ele me olhou nos olhos e viu algumas lágrimas neles.
- Eu deveria saber que ele não viria, né? – Eu forcei um sorriso para não parecer tão fraca.
- Eu também sei o que é esperar por alguém que nunca vem. – Mark me olhou com carinho. – E eu sei! Eu sei o quanto isso é doloroso. – Ele negou rapidamente com a cabeça. – Eu faria qualquer coisa! Qualquer coisa para que você não precisasse se sentir desse jeito. Foi por isso que eu peguei aquele envelope. – Mark aproximou uma de suas mãos de meu rosto e secou a lágrima que havia escorrido dos meus olhos.
- Eu me sinto uma idiota agora. – Eu sorri e rolei os olhos. – Eu achando que estava enganando todo mundo com os meus sorrisos, minhas brincadeiras e notas excelentes na faculdade. – Eu respirei fundo, tentando me recompor.
- Não, você foi bem! Tenho quase certeza que fui só eu que notei. – Mark disse, me fazendo sorrir fraco.
- E como você soube? Foi a minha ida até a caixa de correio todos os dias ou está escrito na minha testa mesmo? – Eu fiz graça da minha própria desgraça.
- Foi... o seu olhar. – Mark me olhou direto nos olhos novamente. Ele rapidamente percebeu o quão intenso aquilo havia sido. – Quer dizer, ele nunca mais foi o mesmo depois que você voltou de Atlantic City naquela noite. – Ele tentou consertar.
- O que tem no meu olhar? – Eu quis entender.
- Tristeza. – Mark voltou a olhar nos meus olhos. – Tem tristeza, . – Ele repetiu. – E pra ser sincero, eu não aguento mais te ver assim. – Mark sorriu sem mostrar os dentes. Estava sem graça.

Mark tinha um jeito único de me dizer as coisas. Ele nunca dizia só com palavras. Ele também dizia com o olhar. Seu olhar acompanhava cada palavra que saia da sua boca e isso era fascinante pra mim. O jeito com que ele falou, o jeito com que ele descreveu toda a minha tristeza e todo o seu desconforto por causa de mim e do que eu sentia, me fez querer superar tudo aquilo em um segundo só para que eu não precisasse vê-lo tão sentido com o que eu sentia.

- O que eu devo fazer? – Eu perguntei, como se estivesse implorando uma solução.
- Você precisa deixá-lo ir, . – Mark deu a não tão simples solução.
- Como? Tem algum botão pra eu apertar? Tem algum papel pra eu assinar? Me diz, porque eu não sei como fazer isso! – Eu ergui os ombros. Todos sempre me dizem isso, mas porque nunca ninguém me ensina a fazer isso?
- Comece querendo fazer isso. Você não pode tirá-lo da sua vida sem que você queira realmente que ele saia dela. – Mark explicou.
- Então o que eu devo fazer primeiro? Queimar nossas coisas? Me apaixonar por outro cara? Ou talvez sofrer um novo acidente. Quem sabe eu me esqueça dele de novo? – Eu ironizei.
- Pare de esperá-lo. É melhor não esperar e ser surpreendida do que esperar e ser decepcionada. – A solução pareceu um pouco melhor dessa vez. Observei ele por um tempo e aproveitei para passar minhas mãos pelos meus olhos para secar qualquer lágrima que ainda estivesse ali.
- Você está certo. Isso já foi longe demais. – Eu afirmei com a cabeça. – Já se passou um mês! Quem eu estou querendo enganar? Se ele viesse, já teria vindo! Ele superou e até já encontrou outra pessoa. Não há motivos pra continuar esperando, pra continuar tendo esperanças sobre isso. – Aquela era a primeira vez que eu estava levando aquelas palavras a sério.
- Que bom... – Mark forçou um sorriso. – Eu fico até sem jeito em falar esse tipo de coisa pra você. Parece que... – Ele não achou as palavras certas para continuar. – Eu não sei. Você sabe que eu e o nunca nos demos bem. Eu não quero que ache que eu esteja falando tudo isso porque eu não gosto dele. – Ele disse todo sem jeito.
- Está tudo bem, Mark. Isso nem passou pela minha cabeça. – Eu sorri e neguei com a cabeça. – Eu vou fazer isso por mim. – Eu afirmei. – Eu não sei quem está mandando essas fotos, mas se estava querendo acabar comigo não conseguiu. Isso só me ajudou a ver exatamente o que eu tenho que fazer. Essas fotos só me fizeram ter certeza de que dessa vez realmente acabou. É doloroso e acho que vai continuar sendo por mais alguns dias, mas está me fazendo enxergar. Eu não vou ignorar ou me fazer de boba dessa vez. – Eu estava sendo tão compreensiva comigo mesma e com os meus sentimentos que eu cheguei a me surpreender.
- Então, eu estou orgulhoso de você. – Mark sorriu pra mim e eu devolvi o sorriso. Nos olhamos por um tempo e ele negou com a cabeça. – Não faz mais isso. – Ele cerrou um pouco os olhos.
- O que? Fazer o que? – Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Brigar comigo! – Mark disse como se fosse óbvio. – Não faz isso. – Ele negou com a cabeça entre sorrisos.
- Combinado! – Eu estendi uma das minhas mãos. – Sem brigas, parceiro. – Esperei que ele apertasse a minha mão.
- Ótimo. – Mark quase riu ao estender a sua mão e apertar a minha. Aproveitou para me puxar para mais perto e me abraçar. Eu não me incomodei nem um pouco. Pelo contrário! Apertei o corpo dele contra o meu e coloquei o meu queixo em cima de um de seus ombros. Eu nunca havia notado que o perfume dele era tão bom... ou será que tinha?
- Obrigada por cuidar de mim. – Eu sorri fraco e mantive meus braços em torno dele.
- Sempre que precisar, eu vou estar aqui por você. – Mark estava gostando do jeito com que eu estava apertando o seu corpo. Era o melhor abraço de todos.
- Você não devia ter dito isso. – Eu terminei o abraço só para poder olhar no rosto dele.
- Espera, eu ainda posso voltar atrás. – Mark brincou, me fazendo rir.
- Tarde demais! – Eu fiz careta e ele riu.
- Droga! – Mark também forçou uma careta.
- Eu vou precisar de você hoje a noite. – Eu mordi o lábio inferior. Eu estava sendo inconveniente e sabia disso.
- Pra que? – Mark se interessou.
- Eu ainda não vou dizer. – Eu fiz mistério. Se eu dissesse, ele não aceitaria. – Vai ser fácil convencer a Meg a ir com a gente. – Eu continuei sem dar dicas sobre o que faríamos naquela noite.
- Fácil? Agora sim eu estou preocupado. – Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Ninguém mandou dizer que sempre estaria aqui por mim! – Eu fiz careta e ele riu.
- Tudo bem! Eu estou dentro! – Mark abriu os braços. Não tinha como negar.

Eu tentei fugir, eu tentei adiar o máximo, mas agora não tem como fugir. Agora não tem mais motivos ou desculpas para ter esperanças. O que eu e tínhamos acabou e está mais do que na hora de eu superar isso. Uma mês já se passou e a única coisa que consegui foram fotos dele beijando a garota mais desprezível do mundo. A única coisa que eu consegui foi provas da superação dele. Eu senti inveja por algum tempo. Eu também queria ter superado tão rápido. Eu queria já estar em outra e queria que ele se sentisse do mesmo jeito que estou me sentindo agora.

As fotos de e Amber juntos mudou sim alguma coisa em mim. Foi como a gota d’ água da nossa relação. Foi como se aquelas fotos estivessem gritando pra mim que era hora de seguir em frente. Ele não vai voltar. Ele não virá atrás de mim. Ele não tentará consertar as coisas. Ele não se importa mais. Esse, talvez, seja o maior incentivo de todos para eu fazer o mesmo.

Não vou ser hipócrita e fingir que a minha reação foi tão racional assim. Na verdade, eu acho que eu venho me preparando para isso durante cada dia desse último mês, mas eu nunca vou estar pronta o bastante para ver ele com outra garota. Eu nunca vou estar pronta para vê-lo jogar na minha cara que não me ama mais.

O pior já foi feito! Eu finalmente tomei a consciência de que acabou e que eu tenho que superar. E agora? Agora eu tenho que fazer o que todos fazem para superar o fim de um namoro. Agora eu preciso sair e me obrigar a esquecer tudo isso. Eu só preciso de uma noite pra extravasar e talvez ficar um pouco louca. Eu preciso apertar esse botão que deleta o da minha vida e reinicia a minha vida de solteira. É hora de me libertar disso. Estou devendo isso a mim mesma.

Eu não precisei nem insistir. Meg aceitou sem hesitar! Porque será? Desde quando Meg rejeita uma balada? Isso é o que eu mais gosto na Meg. Ela nunca está mal e está sempre pronta pra tudo. Se eu precisar de companhia pra fazer a coisa mais louca da minha vida, eu sei que é ela quem eu devo chamar. Ela topa tudo! Mas o Mark? O Mark não. O Mark é o responsável. É o cabeça do grupo. Ele pensa nas consequências. Ele está sempre pensando nos problemas antes deles acontecerem. Ele está sempre nos policiando. É por isso que ele ainda não sabe de nada.

- Não acredito que estamos mesmo fazendo isso. – Meg riu, enquanto maquiava-se em frente ao espelho.
- Essa é a hora, Meg! – Eu afirmei, empolgada. A campainha tocou e eu sabia que era o Mark. Era exatamente 20hrs. – É o Mark. – Eu afirmei, conferindo o espelho pela última vez.
- Estou pronta. – Meg fechou rapidamente o seu estojo de maquiagem.
- Eu também. – Eu afirmei, andando em direção a porta do meu quarto. Meg me acompanhou.
- Ele não sabe, né? – Meg confirmou. Não queria ‘soltar foras’.
- Não! Não vai falar nada, hein. – Eu sorri, enquanto descia as escadas.
- Ele vai odiar isso. – Meg riu, imaginando a reação de Mark.
- Eu preciso disso, ok? – Pra mim aquele era um ótimo motivo.
- É, eu sei bem que precisa. – Meg ironizou, arrancando de mim um novo sorriso. Chegamos na porta juntas e eu abri a porta. Mark estava mexendo em alguma coisa em seu celular e demorou alguns segundos para olhar para mim e para Meg.
- Oi, eu... – Mark ia dizendo alguma coisa quando nos olhou. Estávamos mais produzidas do que ele imaginava. (VEJA A ROUPA AQUI) – O que vocês... – Mark ficou sério. – Espera! Onde nós vamos? – Ele perguntou mais uma vez. Estávamos arrumadas demais para uma simples ‘voltinha por ai’.
- Você ainda não vai saber. – Eu pisquei um dos olhos pra ele e dei alguns passos pra fora da casa.- Tranca a porta, Meg. – Eu olhei pra ela.
- Como é que eu vou levar vocês até lá se eu não sei onde é? – Mark foi atrás de mim. Ele não sossegaria enquanto não soubesse onde iriamos.
- É por isso que eu vou dirigindo. – Eu mostrei as chaves do meu carro.
- Meg, me fala! Onde nós vamos? – Mark recorreu a Meg.
- Desculpa, bonitinho. Eu não posso falar nada. – Meg fez careta e afastou-se da porta, que havia acabado de trancar.
- Vamos logo! – Eu gritei, prestes a entrar no carro.
- Vem! – Meg segurou no braço do Mark e começou a puxá-lo em direção ao meu carro. – Desencana, vai! – Ela pediu e ele parecia ter cedido.



Eu estava muito empolgada para fazer aquilo. Eu estava louca para ser, pela primeira vez, a garota do interior que veio estudar na cidade grande. Eu e Meg percebemos o silêncio e a inquietação de Mark durante todo o caminho. Nós trocávamos olhares através do retrovisor e sorriamos secretamente uma pra outra. O local ficava há uns 15 minutos da minha casa. Quando chegamos em frente daquele local que tinha uma música extremamente alta e que estava completamente lotado, Mark soube.

- Ah.. não. – Mark rolou os olhos e me olhou. – Sério? – Ele desacreditou.
- Wow! Vamos festejar! – Meg fez uma rápida comemoração. Eu nem respondi o Mark e tratei logo de procurar um lugar para estacionar o carro. Felizmente, o local tinha um estacionamento, que era bem caro por sinal. Não foi difícil achar um lugar para estacionar ali. Paramos o carro e eu o desliguei. Eu e Meg saímos rapidamente do carro, tentando evitar a bronca de Mark. Isso não foi um problema pra ele. Ele também desceu do carro para fazer o que tinha que fazer.
- Vamos voltar pra casa, ok? – Mark me olhou, sério.
- Nós já viemos até aqui! Vamos entrar! – Eu apontei em direção ao local da balada que ficava logo ao lado. Era só a melhor balada da cidade.
- Eu sei o que está tentando fazer. Não vai acontecer. – Mark manteve aquela expressão séria.
- Qual o problema? – Eu abri os braços e sorri pra ele.
- Essa é a sua ideia de superação? – Mark arqueou a sobrancelha.
- Na verdade, estou tentando descobrir a minha ideia de superação. Porque não? – Eu ergui os ombros.
- Não, . Não vou colaborar pra isso. – Mark negou com a cabeça.
- Qual é, Mark! – Meg fez careta.
- Não vou entrar lá. – Mark cruzou os braços.
- Vai nos deixar ir até lá sozinhas? – Eu tinha quase certeza de que aquele argumento funcionaria.
- Pode ir parando, ok? Não vai funcionar. – Mark continuou sendo duro comigo.
- Legal! Então pega um taxi e volta pra casa. Eu volto dirigindo mais tarde. – Eu arrumei uma rápida solução.
- Porque você é tão... – Mark hesitou dizer. Olhei pra ele e cerrei os olhos, esperando ele terminar a sua frase. Ele suspirou longamente e segurou-se para não sorrir. – Teimosa! – Ele sorriu dessa vez. O sorriso dele demonstrou que não estava longe dele ceder. Me aproximei dele e parei em sua frente.
- Você disse que sempre estaria aqui por mim. – Eu disse com jeitinho. – Vai me deixar logo agora? – Eu sorri sem mostrar os dentes.
- Essa não é a melhor opção. – Mark voltou a negar com a cabeça. Ele não estava tão sério quanto antes. – Estou tentando cuidar de você. – Ele sorriu desajeitadamente.
- Eu sei que está, mas... – Eu respirei fundo. – Eu preciso disso, ok? Você sabe que eu preciso disso. Eu preciso tirar isso de dentro de mim. Eu preciso esquecer. – Eu expliquei. – Vamos? – Eu apontei a cabeça em direção ao estabelecimento. – Se divirta comigo. – Eu mordi o lábio inferior.
- Vamos, Mark! – Meg deu o seu melhor sorriso.
- Ok! – Mark encarou o céu por poucos segundos. – Eu vou me arrepender disso. – Ele rolou os olhos.
- Qual o problema em se divertir? – Eu perguntei, abrindo os braços.

Mark estava tão preocupado com aquela noite, que até esqueceu de notar o quanto eu estava bonita naquela noite. Ele me analisou daquele seu jeito tímido e discreto por alguns segundos. Ele adorava a ideia de que eu não precisava usar tão pouca roupa para parecer sexy. Ele adorava o jeito que eu me vestia e o jeito que eu me maquiava. Ele me achava bonita mesmo sem maquiagem, mas quando eu me maquiava alguma coisa ficava diferente. Tudo em mim se realçava. Os olhos, os lábios e as bochechas pouco rosadas.

- Vamos! Vamos! – Meg nos apressou.
- Ok! Vamos. – Mark fez careta em meio a um sorriso.

A minha empolgação era mesmo real, mas eu não sei se era pelos motivos certos. Eu não estava empolgada para dançar e me divertir. Eu estava empolgada para esquecer essa dor que me sufoca há um mês. Eu estava muito empolgada para tirar isso de dentro de mim de um jeito ou de outro. Eu preciso desesperadamente voltar a viver a minha vida.

Compramos as entradas na bilheteria do local e entramos naquele lugar que tinha música alta e luzes que piscavam no ritmo da música. Era sexta-feira a noite e todos pareciam empolgados. As maiorias das pessoas estavam com copos de bebida nas mãos e uma grande parte deles dançava. A empolgação deles me fez sorrir.

Meg nos guiava para o melhor lugar da balada. Ela era uma veterana ali. Eu não tirava os olhos dela, pois não queria perdê-la de vista. Mark estava atrás de mim. Eu também não queria que ele se perdesse de nós, então eu segurei uma de suas mãos e comecei a puxá-lo. A reação dele quando eu segurei sua mão foi cômica. Ele olhou pra mim e depois para as nossas mãos. O sorriso desajeitado que não deixava de ser muito bonito. Já disse que adoro o sorriso dele?

A minha sexta-feira está prometendo ser boa, mas e a do ? Bem, a do nem tanto. Ele havia viajado para duas cidades naquele dia. Ele tinha uma reunião em cada uma delas e o seu trabalho era convencer o cliente a trabalhar com sua empresa. Seu trabalho era expor ideias de propagandas que podiam chamar a atenção do cliente. Acontece que é muito bom no que faz. Trouxe os dois contratos assinados para casa. Ele estava começando a se destacar no ramo de esportes e isso estava sendo muito bom para sua empresa. Junto com o sucesso, vem o cansaço. Sair naquela noite de sexta-feira estava fora de cogitação. até tentou e o convidou para uma festa, mas rejeitou. A única coisa que ele faria naquela noite era dormir.

chegou em casa e seguiu a rotina de todos os dias. Deu um pouco de atenção para Buddy e foi tomar o seu banho. Todos os dias ele se olhava no espelho e a primeira coisa que pensava era se sua aparência estava melhor que a do dia anterior. Não, não tem nada relacionado ao seu ego. Está relacionado com o seu esforço para não deixar as lembranças lhe abater novamente. Já havia passado um pouco mais de um mês e ele ainda tinha que monitorar a si mesmo para não pensar em quem não deveria. Todos os dias ele ainda se pegava pensando no que eu estaria fazendo naquele exato segundo. Ele ainda sentia vontade de me ligar para ouvir a minha gargalhada, que eu costumava dar todas as vezes que ele dizia que largaria tudo e correria para Nova York apenas para matar aquela saudade louca que ele tinha dos meus beijos. Ele sentia falta de me ouvir contando de um jeito malandro a besteira que eu havia feito no trânsito naquele dia. Ele até sentia falta de me ouvir dizer que eu o amava daquele jeito sem graça, que não desapareceu nem depois que começamos a namorar.



No espelho, ele via um cara que, apesar de um pouco abatido, já esteve pior. Um cara que parecia bem melhor depois de tudo o que passou. Um cara bem diferente e eu não estou falando sobre personalidade. Suas idas até a academia deixaram o seu corpo um pouco mais definido e o cabelo estranhamente ajeitado. Ele também havia deixado uma rala barba crescer em seu rosto, o que o deixava com mais cara de adulto. Uma coisa era certa: ele não era mais aquele garoto do ensino médio.

Depois de tomar banho, ele sentava-se no sofá geralmente com uma pequena garrafa de cerveja nas mãos e assistia o seu canal favorito de esportes. Buddy era um companheiro para todas as horas. Ele sentava-se ao lado de no sofá e parecia entender tudo o que via na TV. Depois de algum tempo, ele prepararia algo para comer. Geralmente algo prático como macarrão. Após jantar, ele enrolava mais um pouco e brincava um pouco com o Buddy.

Não tinha como evitar. Não tinha como não pensar o que teria acontecido se eu não tivesse ido para Nova York. As vezes gostava de idealizar alguns momentos que nunca vivemos. Eu provavelmente estaria sentada naquele sofá com ele e ele iria morrer de ciúmes em me ver dando atenção ao Buddy. As vezes, ele queria saber como seria sair do seu trabalho sabendo que me veria e que eu o faria sorrir apesar do cansaço. Não seria uma sexta-feira tão entediante, não é? Foi dormir quando o relógio marcava um pouco mais de meia noite.

Meg e eu não parávamos de rir de um cara que dançava ali perto de nós. Ele estava visivelmente bêbado e não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Acho que ele estava tentando ser sexy, mas não estava dando certo. Mark acabou entrando na brincadeira, quando por alguns segundos tentou imitar a dança engraçada do cara bêbado. Eu e Meg estávamos chorando de rir e Mark também parecia se divertir, mas daquele jeito mais discreto dele.

- E ae? Vamos dançar ou não? – Meg me olhou. Estávamos ali há uma hora e a única coisa que havíamos feito foi zoar um cara bêbado.
- Pode ir, se quiser. Eu vou daqui a pouco. – Eu desconversei pela 3° vez naquela noite. Eu estava travada. Isso aconteceu da última vez, mas agora não tem a ver com o . Eu já não estou tão acostumada com essa vida de solteira. Não estou acostumada a essas batidas loucas dessas músicas eletrônicas.



TROQUE A MÚSICA:



15 minutos se passaram e eu ainda estava lá parada. Droga, como é que se faz isso mesmo? Como é que eu me divirto e danço do jeito que eu fazia antes? Como é estar em uma balada sobre os olhares de vários caras? É normal ficar tão incomodada com esses casais se pegando no meio da pista? É tão ridículo sentir inveja de todas essas garotas sendo beijadas em volta de mim? Em poucos segundos, fiz as contas mentalmente da última vez que havia beijado alguém. CARAMBA! Mais de dois meses? Ok, declarando estado de emergência. Eu preciso mesmo me soltar. Como? Que pergunta mais idiota. A resposta é mais do que óbvia.

- Vamos beber alguma coisa? – Eu olhei pro Mark e pra Meg e eles pareceram consentir. Eu olhei para o balcão de bebidas que havia ali perto. Mostrei para Mark e para Meg onde eu queria ir e eles afirmaram com a cabeça. Fui em direção ao balcão e eles me seguiram.
- O que vai querer? – O bartender me encarou. Não hesitei um só segundo em responder.
- 3 doses de vodka. – Eu disse e senti Mark e Meg me olharem. Não dei atenção. O bartender colocou 3 copos minúsculos na minha frente, que foram enchidos todos de uma só vez.
- Ei, eu não quero vodka. – Meg reclamou, fazendo careta pra mim.



- E quem disse que é pra você? – Eu olhei pra ela e sorri. Meg me olhou sem entender. Bem, ela entendeu quando me viu virar um copo após o outro. Eu rapidamente senti o olhar de desaprovação de Mark e por isso nem olhei pra ele. Ele olhou pra Meg, que arqueou as sobrancelhas, demonstrando surpresa. Mark negou levemente com a cabeça.
- Vai com calma, garota. – Meg disse de um jeito descontraído. Não queria que soasse como uma bronca.
- Eu estou bem calma e estou apenas começando. – Eu também disse de forma descontraída e Meg sorriu pra mim desajeitadamente.
- ... – Mark ia interferir, mas eu o impedi.
- Vamos dançar! – Eu olhei pra ele e depois pra Meg.
- Vamos... – Meg rolou os olhos apesar do sorriso.
- Eu... vou ficar aqui. – Mark ergueu os ombros. Não tinha nada que ele pudesse fazer.
- Surpreendente! – Eu fiz careta pra ele e sai, puxando a Meg em direção a pista de dança. Mark ficou encostado do balcão das bebidas.

Meg e eu estávamos no divertindo muito dançando. Meg sabia dançar muito bem e ela tentou me ensinar alguns passos, mas eu não sou uma boa aluna. Nós riamos a cada passo desajeitado que eu dava. Alguns caras se intrometiam e também tentavam aprender os passos, mas eles estavam bêbados demais para isso. Mark nos observava de longe. Ele não tirava os olhos de nós nem por um minuto.

- Mais uma vodka! – Eu voltei ao balcão. Eu estava novamente ao lado do Mark. Aquela devia ser a 4° vez que eu abandonava a pista de dança para ir até o balcão e pedir mais uma bebida. Ele me julgava com olhares a cada vez que eu vinha até o balcão.
- , é melhor você parar com as vodka’s. – Mark finalmente disse. Estava demorando.
- Por quê? Eu estou ótima! – Eu ergui os ombros e sorri pra ele. O bartender colocou o pequeno copo na minha frente e o encheu de vodka. Assim como os outros, eu o virei de uma vez só.
- Surpreendente, mas acho que dá pra fazer melhor. – Um cara ao meu lado falou. Olhei pra ele, sem entender.
- Está falando comigo? – Eu apontei pra mim mesma e ele riu.
- Você virando a vodka... – O cara me olhou. – Surpreendente, mas já vi melhores. – Ele arqueou a sobrancelha. Mark curvou-se para olhá-lo. Quem era aquele infeliz?
- É mesmo? – Eu cerrei os olhos e mantive um sorriso no rosto. – Ei! – Eu chamei o bartender novamente. – Mais 3 vodka’s! – Eu pedi e dei um tapa no balcão.
- O que!? – Mark me olhou, surpreso. – Nem pensar. – Ele me olhou, sério.
- Eu já disse que estou bem! – Eu reafirmei, irritada.
- Não quero saber! – Mark me enfrentou.
- Quem é esse cara? – O cara ao meu lado perguntou, olhando de forma desprezível pro Mark.
- Eu sou o cara que vai te arrebentar se você fizer ela tomar mais um copo de bebida. – Mark olhou de forma ameaçadora para o cara.
- Ele não está me fazendo fazer nada! – Eu retruquei em defesa do cara desconhecido. – Eu vou fazer porque eu quero. – Eu odiava receber ordens.
- Eu estou te pedindo. Não bebe. – Mark tentou pedir com mais jeito. Olhei para o balcão e os 3 copos já estavam na minha frente. Peguei o primeiro copo e virei de uma só vez.
- Não... – Mark ia dizer qualquer coisa para me impedir, mas eu virei os outros dois copos tão rápido que ele nem teve tempo de dizer. – Ótimo! – Ele suspirou, olhando para qualquer outro lugar e balançando negativamente a cabeça.
- Uau! – O cara ao meu lado sorriu, impressionado.
- Bom o suficiente pra você? – Eu arqueei a sobrancelha e ele afirmou com a cabeça, descendo os olhos discretamente pelo meu corpo. Mark novamente curvou-se para nos olhar.
- Como eu disse, surpreendente! Só falta dançar comigo. – O desconhecido me chamou discretamente pra dançar.
- Oh, qual é! – Mark rolou os olhos.
- Bem, minha amiga está me esperando ali. Se quiser se juntar a nós. – Eu ergui os ombros e sai em direção a Meg. Ele levantou-se com a intenção de me seguir, mas Mark foi mais rápido e o segurou pelo braço.
- Presta bem atenção! – Mark encarou o cara, que aparentava ter bebido alguns drink’s. – Se você está pensando que se deixá-la bêbada vai conseguir alguma coisa com ela, você está enganado. Um movimento... – Ele cerrou os olhos ameaçadoramente. – Só um movimento errado e eu acabo com você. Fui claro? – Mark apertou ainda mais o braço do cara.
- Muito claro. – O cara forçou um sorriso, que soou mais como desespero.
- Legal. – Mark soltou o braço dele e deu alguns tapinhas em seu ombro. – Divirta-se. – Ele forçou um agradável sorriso. O cara começou a se afastar lentamente e foi até mim. Meg também estava lá.



Se Mark já estava atento antes, agora ele estava o dobro. Era a primeira vez em meses que eu estava me divertindo de verdade. Meg e eu dançávamos desastrosamente e aquele cara desconhecido nos acompanhava. A embriaguez dele o tornou totalmente inofensivo. Ele estava mais para palhaço do que para qualquer outra coisa. Depois de todas aquelas doses de vodka, elas pareciam estar fazendo efeito. A cada segundo que passava eu ficava mais fora de mim e mais tonta. Eu não estava percebendo a minha mudança de comportamento, mas Meg estava.

- , vamos sentar um pouco? Esse salto está me matando! – Meg inventou qualquer desculpa para me tirar dali e me levar até o Mark. Abaixei a cabeça para olhar para os pés dela.
- Porque você não tira? – Eu achei uma rápida solução.
- E ficar descalça? – Meg fez careta.
- Compra um chinelo. – Eu ergui os ombros. – Será que eles vendem chinelo aqui? – Eu perguntei, séria. Meg segurou o riso, enquanto eu olhava em volta. – ALGUÉM TEM UM CHINELO PRA VENDER? MINHA AMIGA PRECISA DE UM CHINELO! – Eu gritei no meio da pista de dança. Sim, efeitos da bebida.
- ! – O riso de Meg desapareceu. Ela ficou com vergonha do meu escândalo e agarrou a minha mão. – Vamos só sentar um pouco. – Ela começou a me puxar em direção ao Mark.
- Não! Eu quero dançar! – Eu puxei minha mão e dei alguns passos para trás, voltando para onde eu estava. Meg olhou pra trás e rolou os olhos. Ela olhou pro Mark, que de longe parecia não entender o que estava acontecendo. Mark abriu os braços, mas continuou onde estava. Meg suspirou longamente e voltou a andar até mim.
- , é só por um segundo! – Meg queria me tirar dali a qualquer custo. Ela sabia que eu já estava bem alterada. – O Mark quer falar com você. – Ela inventou qualquer desculpa.
- Então mande ele vir até aqui. – Eu sorri pra ela, enquanto começava a voltar a dançar. Meg percebeu que eu não estava nem dando atenção pra ela.
- Eu tentei... – Meg suspirou, virando-se de costas e indo em direção ao Mark.
- Qual o problema? – Mark perguntou, assim que Meg chegou até ele.
- Olhe pra ela. – Meg virou-se para me olhar. Eu estava dançando loucamente no meio da pista de dança. – Sim, ela está bêbada. – Meg forçou um sorriso.
- Bêbada? – Mark não havia percebido que a situação estava tão critica assim. Eu passei a maior parte do tempo dançando e longe dele. – Bêbada quanto? – Ele quis saber.
- Bêbada no nível que vai fazê-la agarrar o primeiro cara que se aproximar dela. – Meg riu sem emitir som.
- E você deixou ela lá sozinha? – Mark fez cara feia pra Meg.
- Eu tentei tirar ela de lá, ok? Ela não quis vir. – Meg explicou-se. – Ela disse que é pra você ir até lá. – Ela deu o recado.
- Eu? – Mark apontou pra si mesmo. – Nem ferrando! – Ele sorriu, negando com a cabeça. Mark estava lá da última vez que eu fiquei bêbada e se lembra muito bem do que eu fiz com o . Hoho.
- Por quê? Qual o problema? – Meg não entendeu o porquê dele ter falado daquele jeito.
- O problema é que eu não posso chegar perto dela assim. – Mark voltou a me olhar na pista de dança e me viu dançando sensualmente. – Não dá. – Ele reafirmou, voltando a olhar pra Meg.
- Ok, isso foi estranho. – Meg riu, olhando desconfiada pro Mark.
- Você não está entendendo. Não dá mesmo. – Mark riu de sua própria desgraça.
- Ela não vai te morder. – Meg rolou os olhos, rindo. – Só se você quiser. – Ela completou.
- Eu já vi essa cena antes. – Mark suspirou, lembrando-se do que havia acontecido da outra vez. Ele tinha que assumir: foi muito forte naquele dia.
- Como assim? – Meg quis saber. Sabia que estava perdendo alguma coisa.
- Eu já vi ela bêbada desse jeito, só que da outra vez ela estava com o . – Mark deixou de olhar pra Meg e voltou a me olhar na pista de dança. Eu continuava dançando sozinha e começava a atrair olhares de outros caras.
- O que ela fez? – Meg ficou ainda mais curiosa.
- Ela torturou ele de jeitos inimagináveis. Odeio assumir, mas ele foi bem forte. Resistiu bem mais do que eu teria resistido. – Mark não tirava os olhos de mim.
- E quem disse que você tem que resistir? – Meg questionou.
- Ela está bêbada! – Mark olhou pra Meg com indignação. – Amanhã de manhã ela não vai se lembrar de nada. Não vou me aproveitar disso. – Ele explicou, frustrado.
- Oh, céus... – Meg olhou pra cima, demonstrando impaciência. – Porque é que você tem que ser tão certinho? – Ele suspirou longamente.
- Meg, você não está ajudando. – Mark finalmente olhou pra Meg.
- Então tudo bem! Você vai deixar ela lá? Porque você sabe que os outros caras vão ter a coragem que você não tem de ir até lá, não é? – Meg estava indiretamente tentando convencer Mark a ir até lá.
- Para! Eu sei o que está tentando fazer! – Mark cerrou os olhos pra Meg.
- Sabe? Ótimo, então vai lá logo. Amanhã você me agradece. – Meg piscou um dos olhos para o melhor amigo.
- É sério, Meg... – Mark me olhou novamente. A tentação parecia ficar cada vez pior mesmo de longe. – Eu não... – Ele negou com a cabeça.
- Vai logo! – Meg empurrou Mark em direção a pista de dança. Ele me olhou antes de dar qualquer passo em minha direção. Virou-se para Meg e a fuzilou com o olhar.
- Vai! – Meg fez um sinal com as mãos, incentivando ele a ir de uma vez. Mark voltou a me olhar e respirou fundo.

A aquela altura, eu já nem sabia mais o que estava fazendo. Eu só queria dançar até não sentir mais os meus pés. Eu estava totalmente fora de mim. As batidas da música me faziam colocar todo o qualquer passo de dança em ação ou eu podia apenas rebolar e deslizar até o chão. Eu nem mesmo vi o Mark se aproximando. Não entenda mal. Mark não era tão covarde quanto vocês pensam. Na verdade, de covarde ele não tinha nada. Acontece que se tratava de uma coisa física. Se tratava da garota pela qual ele é maluco. Se tratava de uma coisa que ele queria, mas não podia ter. Quando Mark chegou até mim, ele pausou. Eu estava de costas pra ele e rebolava lentamente até o chão no ritmo da música que estava tocando. Ele me observou, quase sem conseguir respirar.

- Vamos.. – Mark suspirou, incentivando a si mesmo. Esperou que eu me levantasse para fazer o que tinha ido fazer ali. – ? – Mark chamou o meu nome, mas a música alta não me permitiu ouvir. Eu continuei dançando sensualmente de costas pra ele sem saber que ele estava atrás de mim. Mark me observava, sem reação. Ele não sabia se acompanhava o meu quadril ou as minhas mãos que deslizavam pelo meu corpo e que horas estavam em minha cintura e horas estavam entrelaçadas em meu cabelo. Em meio a sua fraca respiração, ele tomou uma decisão. Ele tinha que sair dali o mais rápido possível. Virou-se de costas e deu alguns passos, afastando-se de mim. Acontece que a vida não está fácil pra ninguém! Mark deu o azar (ou a sorte) de se afastar tarde demais. Eu me virei no instante em que ele dava seus primeiros passos para longe de mim. Eu não pude evitar. Eu até poderia, mas estava louca demais pra isso.
- Mark! – Eu gritei por ele e ele parou de andar.
- Não, não... – Mark suspirou, pensando se deveria ignorar ou continuar andando.
- Mark! – Eu gritei novamente, achando que ele não tinha escutado da primeira vez.
- Deus me ajude.. – Mark engoliu seco e virou-se pra mim. Surpreendeu-se com a minha proximidade. Ele não esperava que eu estivesse tão perto.
- Você aqui? – Eu o olhei de cima abaixo. Não era comum ver o Mark em uma pista de dança.
- Pois é, eu também não sei o que estou fazendo aqui. – Mark forçou um sorriso. Ele mal respirava direito.
- Como assim? – Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Esquece.. – Mark riu sem emitir som.
- A Meg disse que você queria falar comigo. – Eu dei mais alguns passos em direção a ele.
- Queria? – Mark até perdeu o rumo de tudo.
- Não queria? – Eu perguntei, sem entender.
- É, eu queria. Eu queria. – Mark voltou a rir de si mesmo. O que estava acontecendo com ele? – Eu acho que devíamos ir embora. – Ele foi breve.
- Embora? Já? – Eu abri os braços.
- Você não está bem! Olhe pra você! – Mark precisava me convencer.
- Eu? Qual o problema comigo? – Eu abri os braços e olhei para o meu corpo. Mark fez o mesmo e rapidamente se arrependeu.
- Você... você... – Mark começou a gaguejar. – Você... está bonita e...bonita. – Mark enrolou em suas próprias palavras. Parecia até que era ele que estava bêbado. – Mas você bebeu e está bêbada. – Ele consertou.
- Como sabe que eu estou bêbada? Estava longe de mim todo esse tempo. – Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Eu... estava te olhando. – Mark explicou-se.
- Estava me olhando? – Eu sorri de um jeito malandro.
- Não! Quer dizer, eu estava, mas... – Mark se perdeu novamente. – Isso não vem ao caso. Nós não podemos só ir embora? – Ele apontou em direção a saída.
- Porque você nunca dança? – Eu não queria saber de ir embora. Fui direto pro assunto que me interessava.
- O que? – Mark sorriu, nervoso.
- Você tem medo de mim? – Eu dei um passo na direção dele e ele deu outro para trás.
- Eu deveria? – Mark engoliu seco. Não estava gostando do rumo que a conversa estava tomando.
- Depende! Você vai dançar comigo? – Eu perguntei, dando mais um passo em sua direção, mas dessa vez ele não se esquivou.
- Dançar, né? – Mark ironizou.
- Dá pra você ser mais claro? Eu estou meio... – Eu fiz careta. A palavra era ‘bêbada’.
- Você não quer isso, ok? Acredite em mim. – Mark sabia quantos foras eu já tinha dado nele. Não fazia sentido ele ignorar isso só porque eu estava bêbada.
- Acha que pode me dizer o que eu quero ou não só porque eu estou... bêbada? – Eu olhei os detalhes de seu rosto. Nossos rostos estavam a dois palmos de distância.
- Não, eu posso dizer por que foi isso que tem acontecido nos últimos meses. – Mark arqueou ambas as sobrancelhas.
- Escuta, você não pode simplesmente calar a boca e acabar logo com isso? – Eu perdi a paciência.
- O que? – Mark ficou surpreso com a minha mudança rápida de humor.
- Acontece que eu estou SUPER CARENTE e você está tentando dar lição de moral! – Eu rolei os olhos.
- Por 1 minuto, eu esqueci que você estava bêbada. – Mark sorriu, frustrado.
- Olha só, o último cara que eu beijei foi o meu ex e faz meses! Eu estou enlouquecendo! – Eu comecei a me exaltar.
- É, somos dois. – Mark rolou os olhos.
- Eu nem me lembro mais como é beijar alguém! – Eu não sabia se estava irritada ou frustrada. Eu dei mais um passo na direção dele e apoiei um dos meus braços em seu ombro. – Acha que eu posso ter esquecido? – Eu perguntei, olhando seu rosto de ainda mais perto.
- Eu... – Mark deixou de olhar em meus olhos por alguns segundos para olhar meus lábios. – Eu duvido. – Ele completou.
- Porque não me ajuda a descobrir? – Eu perguntei como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mordi o meu lábio inferior em meio a um sorriso.
- Porque não me pergunta de novo amanhã de manhã? – Mark propôs. Se eu não estivesse bêbada, a resposta seria outra.
- Sério? – Eu cerrei os olhos, desapoiando o meu braço de seu ombro e dando alguns passos para trás. – Eu estou me jogando nos seus braços e é isso que tem pra me dizer? – Eu estava furiosa. – ‘Porque não me pergunta de novo amanhã de manhã?’ – Eu tentei imitar a voz dele. – Dá um tempo! – Eu sai andando, deixando ele sozinho ali no meio da pista.

Mesmo de longe, Meg parecia saber de cada detalhe da conversa só pelas nossas expressões e gestos. Quando ela me viu sair furiosa daquele jeito, ela também soube que a minha embriaguez havia atrapalhado tudo. Eu sai esbarrando em todo mundo e fui em direção a saída. Meg viu para onde eu fui e depois olhou pro Mark, que vinha em sua direção.

- Viu? Eu te disse! – Mark suspirou, irritado.
- Ela foi lá pra fora. – Meg apontou e Mark olhou em direção a saída.
- Vamos dar logo o fora daqui. – Mark começou a ir em direção a saída e Meg o acompanhou.

Ao sair do lado de fora da balada, eu não sabia muito bem para onde ir. Eu só sabia que eu tinha que ser rápida, pois Mark ou Meg viriam atrás de mim. Eu não queria falar com eles. No estado em que eu estou, eu não queria alguém me controlando e dizendo o que fazer ou não. Parei por dois segundos para pensar no que fazer, mas na verdade acabei não pensando em nada. Minha atenção ficou totalmente presa a um casal que estava há alguns passos de mim. Eles se beijavam calorosamente.

- Ei! – Eu gritei em direção a eles. Isso era algum tipo de provocação? – O que acham que estão fazendo? – Eu estava furiosa. O casal parou de se beijar e ambos me olharam como se eu fosse louca. – EU TENHO CARA DE PALHAÇA POR ACASO? – Eu comecei a surtar.
- Quem é essa maluca? – A garota perguntou, olhando pro namorado.
- SÓ PORQUE VOCÊS ESTÃO JUNTOS ACHAM QUE PODEM SAIR SE ESFREGANDO PELOS CANTOS? – Eu cerrei os olhos na direção deles. Algumas outras pessoas que estavam do lado de fora começaram a me olhar. Inveja e carência é uma péssima combinação.
- O que ela está fazendo? – Meg perguntou ao Mark, quando eles chegaram na porta do local.
- E QUER SABER? VOCÊS NEM SÃO UM CASAL BONITO! – Eu fiz careta para o casal.
- Quem é você, garota? – O garoto se aproximou com cara feia.
- GAROTA? GAROTA É SUA MÃE! – Eu retruquei, dando mais alguns passos na sua direção. Foi ai que o Mark apareceu do nada na minha frente.
- O que você está fazendo? – Mark arqueou uma das sobrancelhas e negou com a cabeça.
- Essa garota é maluca! – O cara com quem eu estava quase brigando gritou.
- Me desculpem! – Mark olhou para o casal com aquele sorriso de bom moço que só ele tinha. – Ela está bêbada. – Ele rolou os olhos. – Desculpem mesmo. – Mark reafirmou e voltou a me olhar.
- O que eu faço com você, hein? – Mark negou com a cabeça, enquanto me olhava. Deu alguns passos na minha direção
- Boa pergunta! – Eu sorri pra ele do jeito mais sensual que eu consegui. – O que é que você vai fazer comigo? – Eu levei uma das minhas mãos até o peitoral dele e comecei a brincar com um dos botões da sua camisa.
- Para com isso. – Mark sorriu, nervoso. Saiu da minha frente e se afastou. Eu novamente fiquei a ver navios. Voltei a me virar pra ele e vi ele andando em direção ao estacionamento. Meg estava me esperando. Eu fuzilei ele com os olhos mesmo ele estando de costas e comecei a andar em direção a ele. Apressei meus passos para alcançá-lo e quando cheguei até ele usei toda a minha força para empurrá-lo.
- QUAL É O SEU PROBLEMA? – Eu gritei e ele rapidamente virou-se de frente pra mim.
- Se acalma, ok? – Mark pediu pacientemente.
- SE ACALMAR É O CARALHO! – Eu cerrei os olhos na direção a ele. – Você, o ... são todos iguais! – Eu esbravejei.
- Vamos pra casa! Depois nós conversamos. – Mark não queria dar ouvidos a mim. Era a bebida falando, não eu.
- PARA DE FALAR DESSE JEITO! PARA DE AGIR COMO SE FOSSE UM SANTO! – Eu estava usando todos os meus artifícios e ele continuava agindo civilizadamente. Que droga! – TODOS SABEM QUE VOCÊ SEMPRE FOI AFIM DE MIM. BEM, EU ESTOU AQUI. – Eu abri os braços. – E O QUE VOCÊ FAZ? ME IGNORA! – Eu continuava gritando.
- Escuta, nós não vamos discutir esse assunto com você nesse estado. – Mark me olhou, sério. Aquele assunto era um pouco delicado demais.
- AH, CALA A BOCA! – Eu gritei, dando mais alguns passos na direção dele. – EU DECIDO O QUE NÓS VAMOS DISCUTIR AQUI! – Eu o encarei. – SE EU QUISER DISCUTIR SOBRE NÓS, EU DISCUTO! SE EU QUISER DISCUTIR SOBRE O QUANTO EU ESTOU A FIM DE TE BEIJAR, EU DISCUTO! SE EU QUISER DISCUTIR SOBRE O QUANTO VOCÊ É GOSTOSO, adivinha? – Eu fui andando na direção dele e parei em frente dele. – EU DIS... CUTO! – Eu não fazia a menor ideia do que eu estava falando. Mark são sabia se sorria ou se surtava com aquelas afirmações.
- E agora? Levamos ela pra casa ou para um manicômio? – Meg riu, olhando pro Mark. Me virei para olhá-la e a fuzilei com os olhos.
- Eu é que vou te levar pro meio da rua e esfregar a sua cara no asfalto se você se intrometer mais uma vez! – Eu fui em direção a Meg, que estava se segurando para não rir. Eu a observei por um tempo e depois de um longo tempo sem dizer nada, eu me manifestei novamente. – Eu gostei dos seus brincos. Dá eles pra mim? – Eu mudei repentinamente o assunto e também a expressão em meu rosto.
- Nem morta! – Meg gargalhou na minha cara.
- Então vai se ferrar, vadia! – Eu rolei os olhos, me afastando dela novamente. Olhei pro Mark, que estava parado no mesmo lugar de antes.
- Podemos ir? – Mark apontou em direção ao estacionamento.
- Ir onde? – Eu acho que nem sabia onde eu estava.
- Ajuda ela, Meg. – Mark sorriu pra amiga, que concordou com a cabeça.
- Vamos! Nós vamos pra um lugar bem legal. – Meg sorriu pra mim e eu devolvi o sorriso.
- Então ta! – Eu ergui os ombros, demonstrando indiferença.

Mark foi na frente e eu e Meg fomos atrás. Estávamos indo em direção ao carro, mas eu não sabia. Durante o caminho, Meg olhava para mim e me pegava sorrindo igual a uma boba alegre. Ela negava com a cabeça, inconformada. Ela nunca viu ninguém ficar tão ruim com alguns copos de vodka como eu. Entramos no estacionamento, que era um enorme gramado. Não seria nada fácil andar ali com o meu salto, muito menos estando bêbada. Comecei a andar com mais dificuldade.

- Hey! Uma ajudinha aqui? – Eu gritei, me referindo a minha dificuldade para andar. Mark me olhou e riu ao me ver andando toda desengonçada.
- Vai lá, Superman! – Meg sorriu, olhando pro Mark. Estava na cara que era a ajuda dele que eu queria. Meg parou logo a frente e Mark voltou para me ajudar. Ele chegou até mim e parou na minha frente.
- Me dá sua mão. – Mark estendeu a mão, esperando que eu a segurasse. Olhei para a sua mão e depois voltei a olhar pra ele. Levei uma das minhas mãos até a dele e ele a segurou firme. – Vamos.. – Ele apontou com a cabeça em direção ao carro.
- Mark, espera... – Eu pedi e puxei a mão que ele segurava. Ele voltou a me olhar e eu me aproximei ainda mais dele. – Eu quero te falar uma coisa. – Eu me aproximei ainda mais, fazendo com que o meu rosto ficasse apenas um palmo de distância do dele.


- O que? – Mark sabia que se arrependeria daquilo.
- Eu fico pensando no que teria acontecido se eu e o não tivéssemos ficado juntos. Se eu tivesse te escolhido quando eu tive a chance. – Eu sorri fraco.
- É sério, esquece isso. – Mark não conseguiu disfarçar o quanto aquilo o deixava nervoso.
- É só nisso que eu consigo pensar toda vez que eu olho pra você. – Eu olhei para os lábios dele e depois voltei a olhar em seus olhos. – Você não pensa nisso também? Você não quer mais isso? – Eu olhei os detalhes do seu rosto, enquanto mordia o lábio inferior. Mark fazia o mesmo e ficava cada vez mais nervoso, porque se ele pudesse me agarraria ali mesmo, mas ele não podia.
- Eu só quero te levar pra casa e tentar esquecer todas essas coisas que você está me falando. – Mark sorriu, mas parecia decepcionado.
- Eu não entendo! Por quê? – Eu abri os braços. Não entrava na minha cabeça o fato de que ele estava me negando algo que eu queria tanto.
- Porque você está bêbada! – Ele repetiu novamente. – Amanhã você não vai se lembrar disso. – Mark parecia impaciente.
- Amanhã? Quem se importa com o amanhã? – Eu também comecei a me irritar.
- Eu me importo! – Mark apontou pra si mesmo. – Eu me importo porque amanhã eu vou continuar querendo isso, mas você não! – Ele me olhou, sério. O jeito com que ele estava falando comigo me deixou ainda pior. – Mais alguma pergunta? Mais alguma provocação?– Ele abriu os braços. – Não? Então podemos ir? – Mark apontou em direção ao carro. Olhando na direção na qual ele apontou, eu já consegui ver o meu carro. Meg pareceu surpresa com a reação de Mark. Ele não costumava se irritar desse jeito.

Realmente, Mark não é um desses caras mal-humorados que fazem uma tempestade em copo d’agua por nada. Ele não é tirado do sério tão fácil. Pelo menos, é o que ele demonstra. Me ver desafiando ele daquele jeito deixava ele maluco. Ele ficava transtornado porque ele queria tanto aquilo. Ele queria tanto que um dia eu desse uma chance para nós dois, mas ele havia descartado essa possibilidade desde que nos tornamos amigos. Toda vez que ele começava a se conformar que nada aconteceria entre nós, algo fazia ele voltar atrás. Algo fazia ele mudar de ideia e sentir tudo aquilo de novo. O meu surto de embriaguez estava sendo mais uma dessas coisas que o fazia mudar de ideia. Era devastador pra ele ter que me ouvir dizer todas aquelas palavras que ele sempre sonhou em ouvir de mim e ainda se convencer de que tudo não passava de mentira. Não era justo com ele.

Pra mim, tudo aquilo não passavam de palavras e uma carência maluca. havia sido o último cara que eu havia beijado e isso já fazia meses. Eu não queria saber se estava ferindo os sentimentos de alguém, eu só queria saciar a minha vontade. Eu só queria ter o que eu tanto queria. Eu também não queria saber se era real pra mim ou não. Eu estava tão fora de mim que seria capaz de dizer que amo o primeiro cara que eu encontrar pela frente só para ter o que eu quero, só para ter o que o tem tido todos esses meses. Agora imagina... Se já é difícil receber um fora sóbria, imagina bêbada? Inaceitável! Eu não vou admitir isso.

De longe, vi o Mark indo em direção ao carro e senti vontade de dar uma voadora nele. Ameacei ir atrás dele, mas quando fui levantar o pé percebi que o meu salto havia ficado preso no gramado. Foi o que precisou para eu descer do salto e colocar meus pés descalços na grama. Peguei meus sapatos nas mãos e comecei a andar rapidamente atrás dele.

- E lá vamos nós... – Meg riu silenciosamente. Ela estava um pouco atrás de mim e não pretendia interferir.
- SABE O QUE MAIS ME IRRITA? – Eu gritei, indo em direção ao Mark. Ele parou de andar, olhou para cima e respirou fundo. Ele virou-se para me olhar e fez isso na hora certa! Eu atirei um dos meus sapatos em direção a ele e ele conseguiu esquivar-se a tempo. Mark voltou a me olhar com os olhos esbugalhados e eu até consegui vê-los me chamarem de maluca. – CARAS FROUXOS! – Eu completei com um falso sorriso no rosto. – Não! Não! Sabe o que me irrita mesmo? – Eu cerrei os olhos em direção a ele e ataquei o meu outro sapato. Ele abaixou-se e conseguiu esquivar-se novamente. – O fato de eu sempre escolher o cara errado! – Eu já não estava gritando tão alto, porque eu já estava mais próxima dele e eu continuava me aproximando. – Me irrita esse meu dedo podre para escolher sempre o idiota que sempre me deixa na mão. – Mark que antes me olhava com cara de tédio, agora me olhava com mais intensidade. – Me irrita ainda mais esses caras que dizem que sempre vão estar aqui por mim e quando eu preciso deles, eles fogem igual uma garotinha assustada! – Eu continuava dizendo aquilo com toda a minha raiva e também continuava me aproximando dele. Eu já estava há uns 4 passos dele. – Me irrita o poder que vocês, idiotas, têm de entrar na minha vida e fazerem de tudo pra me deixar louca por vocês só pra depois vocês me rejeitarem e me trocarem por uma vadia qualquer! – Eu já nem sabia se estava falando dele ou do . Talvez dos dois! Eu finalmente cheguei na frente do Mark e o olhei nos olhos. – Mas nada, NADA me irrita mais do que ver um imbecil como você brigando por mim e depois ver você bancando o meu melhor amigo gay! – Voltei a sorrir do jeito mais sexy que eu consegui.
- Essa foi boa... – Meg mostrou-se impressionada. Ela continuava logo atrás de mim.
- Então é isso? Já que o não está aqui, você quer que eu faça o trabalho dele? – Mark riu, irônico.
- Não! Eu quero isso porque você é bonito, é super gostoso e está me comendo com os olhos há minutos. – Eu arqueei a sobrancelha e ele negou com a cabeça, me provocando com o olhar.
- Me dá a chave do carro. - Mark estendeu a mão.
- No carro? Eu prefiro que seja na minha casa. – Eu cruzei os braços e Mark me olhou com cara de ‘WTF?’.
- A chave do seu carro... – Mark apontou para o meu carro que estava logo atrás dele. – Está com você! Eu preciso que você me dê para que eu possa te levar pra casa. – Ele explicou como se estivesse falando com uma criança de 5 anos. Suspirei, impaciente e coloquei as mãos nos bolsos do meu shorts. A chave deveria estar aqui.
- Vai me dizer que perdeu a chave! – Mark abriu os braços.
- Essa chave? – Eu puxei do meu bolso a única coisa que havia encontrado lá.
- Essa mesmo. – Mark respirou, aliviado. – Me dá. – Ele se aproximou para pegar a chave, mas eu levei a minha mão que segurava a chave para trás.
- Você quer a chave? – Eu dei um passo pra trás e mantive aquele olhar provocante. – Porque não me convence a entregá-la pra você? – Eu sorri do jeito mais safado que consegui.
- Isso não é engraçado. – Mark odiava quando eu o olhava daquele jeito. Era quase... fatal. – Me dá a chave! – Ele tentou pegá-la novamente, mas novamente afastei meu braço. Meu sorriso e olhar continuavam os mesmos. Mark não aguentaria por tanto tempo.
- Meg, pede pra ela me dar a chave? – Mark recorreu a sua amiga, que observava tudo de um pouco mais longe.
- Não me envolve nessa! – Meg sorriu, negando com a cabeça.
- Não consegue resolver os seus problemas sozinho? – Eu voltei a provocá-lo.
- Valeu, ‘amiga’! – Mark olhou com cara feia pra Meg. Voltou a me olhar, pensando no que fazer.
- É sério, . – Mark respirou fundo. – Me dá a chave. – Ele tentou tirar a chave de mim mais uma vez. Sem sucesso.
- Você não está me convencendo.. – Eu coloquei uma das minhas mãos na minha cintura, pois sabia que aquilo demoraria.
- Eu não estou brincando! – Mark negou com a cabeça. Eu percebia que de segundo em segundo os olhos dele percorriam o meu corpo e aquilo o fazia respirar de forma mais pesada. Me arrisquei e me aproximei um pouco mais dele. Ele ficou parado e deixou que eu me aproximasse. Parei em sua frente e encarei o seu rosto de frente. Os olhos dele foram direto para os meus lábios e isso me deixou ainda mais empolgada. Levei novamente uma das minhas até os botões da camisa dele e fui deslizando os meus dedos. Aproximei ainda mais o meu rosto do dele. Nossos lábios estavam a menos de um palmo de distância.
- Eu também não estou brincando. – Eu disse em um quase sussurro. Mark até conseguiu sentir a minha respiração em seus lábios.

Mark descobriu uma força sobrenatural em si mesmo. Uma força que ele nunca imaginou que existisse. Ele nunca esteve tão próximo de mim e nunca foi tão torturado em toda a sua vida. Ele estava lutando contra cada parte do seu corpo que dizia pra ele me agarrar de vez. Mark olhava para os meus olhos e depois para o meus lábios e parecia ver ali tudo o que sempre quis. O jeito com que eu o olhava só piorava tudo e os toques dos meus dedos em seu peitoral era torturante.

- Me dá logo a chave.. – Mark tentou uma última vez pegar a chave, mas a sua voz não foi tão intimidante dessa vez. Ele se aproximou ainda mais para pegar a chave que eu novamente levei para trás com uma das minhas mãos. O jeito com que ele se aproximou fez com que os lábios dele quase encostassem nos meus. As pontas dos nossos narizes chegaram a se tocar e ele não ousou a se mexer. O meu sorriso aumentou e meus olhos ficaram fixos em seus lábios. Aproveitei a distração dele para colocar a chave do carro discretamente de volta no meu bolso.

Mark chegou em seu limite. Ele precisava fazer alguma coisa ou acabaria cedendo a todas aquelas provocações. O batom vermelho nos meus lábios apenas tornava a sua situação pior e apenas o fazia querer me beijar ainda mais. Todos os sentidos do seu corpo gritavam por contato e ele foi obrigado a fazê-lo. Quando senti a mão dele na minha cintura eu sabia que havia vencido aquela guerra. A minha vontade de beijá-lo era enlouquecedora, mas eu queria que ele tomasse a atitude. Eu queria ter um cara apalpando o meu corpo novamente e me beijando sem hesitar. A mão de Mark manteve-se em minha cintura e ele colou as nossas cinturas. Eu nem tive tempo de ter qualquer reação. Ele foi rápido ao segurar forte na minha cintura, me empurrar para trás e colar o meu corpo contra o meu carro. Aquilo apenas aumentou a minha adrenalina e me fez perder ainda mais o fôlego. Que pegada!

- É disso que eu estou falando... – Eu disse em um suspiro e logo em seguida levei uma das minhas mãos até o seu rosto. Os olhos dele não desgrudavam dos meus lábios ainda mais depois de eu começar a morder o meu lábio inferior em meio a um sorriso. Os olhos verdes dele me enfeitiçavam de um jeito inexplicável e ele soube se aproveitar disso.

Mesmo com um turbilhão de sensações e sentimentos, Mark não deixava de ser esperto. Enquanto ele me enlouquecia com as nossas trocas de olhares, as mãos dele acariciavam e apertavam ao mesmo tempo a minha cintura. Como se eu não pudesse ficar mais louca, ele decidiu sorrir. O sorriso dele era devastador. As mãos dele começaram a descer da minha cintura e de uma hora pra outra chegaram no inicio do meu quadril. Eu já nem me lembrava mais de chave alguma, quando senti os dedos dele entrarem dentro do meu bolso e tiraram a chave de lá.

- Desculpa, mas eu não sou bom em convencer as pessoas a fazerem o que elas não querem fazer. – Mark disse com o seu sorriso provocante. No segundo seguinte, eu já não sentia suas mãos no meu corpo e ele afastou-se abruptamente. Eu o olhei, sem entender. Mark levantou uma das mãos e mostrou a chave do carro.
- Oh não... – Eu rolei os olhos e suspirei longamente.
- Acho que vamos pra casa. – Mark deu a volta no carro, indo em direção a porta do motorista.
- E eu acho que você devia ir se ferrar! – Eu retruquei, furiosa. Ele havia me feito de idiota! Como eu não percebi?
- Mark! – Meg ficou surpresa depois de ver toda aquela cena e foi até o amigo. – Eu posso ir pra casa de taxi se você quiser. – Ela sorriu de um jeito engraçado pro Mark.
- Não! – Mark riu e negou com a cabeça. – Não me deixa sozinha com essa garota. – Ele implorou com um certo desespero.
- Mas que pegada, hein. – Meg brincou, antes de abrir a porta detrás do carro.
- Fica quieta... – Mark sorriu e rolou os olhos.

Não havia mais saída. Eu já havia tentado de tudo! Só me restou entrar no carro. Me sentei no banco do passageiro, coloquei o sinto e cruzei os braços. Eu estava furiosa com aquele trapaceiro do Mark. Ele também não havia se recuperado do que havia acabado de acontecer, mas ele até que estava conseguindo disfarçar bem. Ele provavelmente não dormiria durante a noite.

- Eu estou com fome. – Eu disse, quando estávamos saindo do estacionamento.
- Eu também estou com fome. – Meg concordou.
- Sério? – Mark pareceu insatisfeito.
- EU NÃO POSSO SENTIR FOME AGORA? – Eu fiz questão de ser ignorante.
- Ta bom! Ta bom! Nós paramos em alguma lanchonete. – Mark não quis brigar. Já havíamos feito muito isso durante toda a noite.

Mesmo não querendo, Mark nos levou até uma lanchonete que ficava próxima da minha casa. Ele queria me levar logo pra casa. O único lugar onde eu não causaria mais confusão. Descemos do carro, depois de deixá-lo no estacionamento. Entramos na lanchonete e fomos direto para uma das mesas vazias.

- O que vocês vão querer? – A garçonete chegou com o caderninho nas mãos.
- Eu vou querer um X-Burguer completo e uma Coca-Cola. – Meg foi a primeira a fazer um pedido.
- Eu quero um... – Mark olhou para o cardápio. – Eu quero um X-Salada e também quero uma Coca-Cola. – Ele sorriu pra garçonete. A garçonete então me olhou e fez careta ao me ver brincando com o saleiro, que estava sobre a mesa. Mark e Meg também me olharam e não faziam ideia do que eu estava fazendo. Meg começou a rir.
- ... – Mark me chamou e eu deixei de olhar para o saleiro para olhá-lo.
- Moça, o que você vai querer? – A garçonete perguntou novamente. Eu olhei pra ela e pensei durante um tempo.
- Eu quero um homem. Tem algum pra me apresentar? – Eu dei o meu melhor sorriso.
- O que? – A garçonete arqueou a sobrancelha.
- ! – Mark me deu uma bronca. – Desculpa, moça. – Ele sorriu, sem graça.
- Pelo menos ela foi sincera. – Meg estava se segurando para não voltar a rir, ainda mais depois de Mark fuzilá-la com os olhos.
- Eu tentei ele, mas ele não me quis. – Eu apontei a cabeça pro Mark. – Ele é... gay. – Eu disse para a garçonete, sem emitir som.
- Moça, trás um X-Burguer pra ela também, ok? – Mark perdeu a paciência.
- Ta legal. – A garçonete fez cara feia e saiu.
- Quer parar de falar besteira? – Mark me olhou, irritado.
- Eu disse alguma mentira? – Eu olhei pra ele com desprezo.
- Não é porque eu não fiquei com você que eu sou gay! – Mark defendeu-se.
- Você é gay por outros motivos? – Eu olhei pra ele, rindo.
- Eu não sou gay! – Mark fez cara feia, negando com a cabeça.
- Não discute com ela, Mark. É melhor. – Meg aconselhou o amigo. Eu estava bêbada. Do que adiantava?
- Eu quero dançar. Onde está a música desse lugar? – Eu suspirei, enfurecida.
- Chega de dançar por hoje. – Meg sorriu pra mim.
- Você está me dando ordens? – Eu arqueei uma das sobrancelhas pra ela.
- Não, eu... – Meg ia se explicar, mas eu não deixei.
- VOCÊ ESTÁ MESMO ME DANDO ORDENS? – Eu disse em um tom mais alto.
- Porque você está gritando? – Meg fez cara feia, vendo que todos a nossa volta estavam nos olhando.
- Eu grito se eu quiser! – Eu cerrei os olhos. – Eu até danço se eu quiser. – Eu ergui os ombros e demonstrei que levantaria da cadeira.
- Espera, você não vai... – Meg ia me impedir, mas não achou que eu teria coragem. Bem, eu tive. Eu subi na cadeira em que estava sentada e comecei a dançar ali em cima mesmo. Não havia música, mas eu jurava que estava dançando no ritmo de alguma batida. Meg e Mark se olharam, sem tomar atitude nenhuma.
- É, sério! Faz alguma coisa! – Meg pediu ao Mark. Ele suspirou longamente e olhou para mim, que ainda dançava igual uma retardada.
- .. – Mark tentou me interromper, mas eu não dei atenção. – Ei! – Mark levantou-se de seu lugar para ficar mais perto do meu rosto. Ele não queria ter que gritar. Eu não dei atenção. – ! Para com isso! - Ele segurou o meu braço, me fazendo parar de dançar.
- Você só faz o que quer. Eu já entendi! Agora senta! – Meg me olhou mais séria.
- Eu já cansei mesmo. – Eu suspirei longamente e com a ajuda de Mark, eu desci da cadeira e voltei a me sentar nela.
- Eu fico ruim quando fico bêbada, mas você... – Meg riu, surpresa.
- Eu só estou um...pouquinhooooooo... – Eu mostrei com uma das mãos. – Bêbada. – Eu completei com um enorme sorriso. – Devia ter visto da outra vez que eu fiquei bêbada. – Eu comecei a rir compulsivamente. – Eu só ficava falando coisas estúpidas e... fiquei extremamente tarada. – Eu passei uma das mãos pelo meu rosto, enquanto eu ria.
- Jura? – Meg ironizou. - Da outra vez o também não quis nada comigo. – Eu fui parando de rir. – Idiota... – Eu suspirei.
- Aqui estão os pedidos. – A garçonete nos surpreendeu. Ela colocou nossos pratos e bebidas sobre a mesa e saiu.

Mark e Meg começaram a devorar os seus lanches, enquanto eu os observava. Eu estava pensativa e quase nem me movi. Mark e Meg perceberam o meu estranho silêncio, mas preferiram aproveitar um pouco aquele momento de tranquilidade. O meu lanche continuava intacto na minha frente. Eles terminaram de comer os seus lanches e eu nem sequer toquei no meu. O meu intrigante silêncio já os incomodava.

- , você não vai comer? – Mark perguntou, olhando pra mim.
- Por quê? Está oferecendo? – Eu perguntei, séria. Meg quase se engasgou com o seu refrigerante.
- Estou falando da comida. – Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Não quero essa porcaria. – Eu empurrei o meu lanche para o outro lado da mesa. Eu disse um pouco mais alto do que deveria, pois percebi que algumas pessoas me olharam.
- Você não disse que estava com fome? – Meg questionou.
- Acha que o problema pode ser eu? – Eu olhei seriamente pra Meg.
- O que? – Meg fez careta. Do que eu estava falando? Eu mudava de assunto tão rápido que não dava pra acompanhar.
- me rejeitou da outra vez e agora esse otário também me rejeitou. Acha que pode ser eu? – Eu parecia realmente preocupada com aquele assunto, que foi o motivo do meu longo silêncio. Mark voltou a se irritar só por me ouvir dizer o nome do de novo.
- Não. É claro que não. – Meg não queria que eu pensasse nisso agora. – Esquece isso. Esquece essa cara. – Ela aconselhou.
- Eu vou esquecer, mas eu só queria uma explicação. – Mesmo estando bêbada, aquele assunto continuava a me incomodar. – Eu achei que o problema era ele, mas agora acho que sou eu. – Eu parecia confusa.
- Vamos embora. – Mark não aguentava me ouvir falar daquele jeito. – Fiquem aqui que eu vou pagar a conta. – Ele se levantou e foi até o caixa.
- Você não é o problema. – Meg me olhou, séria. Ela se levantou, pois percebeu que Mark já estava voltando. Eu também me levantei.
- Vamos. – Mark disse, assim que chegou até nós.
- Sabe, uma vez o me disse que eu nunca conseguiria encontrar um cara que me suportasse. – Eu disse a caminho do estacionamento.
- Ele não estava falando sério. – Meg estava tentando tirar aquelas coisas da minha cabeça.
- O Peter me deu um fora, o me traiu e o Mark não quis nada comigo. – Eu consegui concluir. – É claro que o problema sou eu. – Eu disse, negando com a cabeça.
- Você não pode se julgar pelas atitudes do idiota do . – Mark se intrometeu, mas nem me olhou.
- E pelas suas? – Eu perguntei e ele me olhou.
- Também não. Eu só sou o seu amigo. – Mark afirmou.
- Já que você é meu amigo, seja honesto comigo. – Eu parei de andar. Já estávamos próximos do carro. – Porque eles preferiram as outras ao invés de mim? Porque elas são melhores do que eu? Porque todos eles me abandonaram? Porque eles não me quiseram mais? – Eu abri os braços, esperando alguma explicação. Foi um momento dramático meu que nunca aconteceria se eu estivesse sóbria. Mark virou-se para me olhar e me observou por um tempo.

Mark me conhecia bem. Ele percebeu que aquele não era mais um surto por conta da minha embriaguez. Era real! Eram assuntos que realmente me incomodavam e que eu nunca havia falado com mais ninguém. Então ele se aproximou também e me olhou de mais perto. Havia uma certa tristeza nos meus olhos que o obrigaria a ser sincero.

- Você não é o problema! Você é linda e é perfeita para qualquer cara que te mereça. – Mark sorriu fraco. – Você não tem culpa se eles são uns idiotas. Você não tem culpa se eles não puderam ver o quão incrível você é. – Ele pausou novamente. – Você não era boa o suficiente para eles. Você era melhor! Você só precisa achar o melhor pra você. – Ele finalizou com aquele belo sorriso de sempre.

Eu estava bêbada e era totalmente normal que eu não levasse nada a sério, mas aquelas palavras foram diferentes. O jeito com que ele me olhou, o jeito que ele sorriu me convenceu de que ele estava totalmente certo. Me convenceu de que eu podia confiar nele. Um sorriso espontâneo surgiu em meu rosto que até surpreendeu Mark. Foi o meu momento de mais sanidade daquela noite.

- Agora vamos. – Mark apontou com a cabeça em direção ao carro, que estava logo atrás dele.



TROQUE A MÚSICA:


As palavras dele martelavam na minha cabeça. Se eu já estava com raiva do antes, agora a minha raiva havia se triplicado. Nós entramos no carro e seguimos a caminho da minha casa. Eu comecei a pensar no quanto o merecia ouvir algumas verdades que eu não havia tido coragem de dizer antes. Eu pensei no quanto seria bom dizer a ele que eu finalmente me dei conta de que o problema foi ele o tempo o todo. Eu queria sentir o prazer de dizer a ele que finalmente eu procuraria o melhor pra mim. Meg e Mark conversavam sobre um assunto qualquer e eu não hesitei em interrompê-los assim que vi que o meu celular estava no carro.

- Eu vou ligar pra ele. – Eu dei um sorriso confiante. Mark e Meg pararam de conversar e me olharam. Eles não haviam entendido o que eu havia dito, mas achavam que era mais uma insanidade.
- O que você disse? – Mark perguntou, querendo que eu repetisse.
- Eu vou ligar pro . – Eu me estiquei para pegar o meu celular.
- Você vai o que!? – Meg arregalou os olhos.
- Está maluca? – Mark percebeu que o celular estava em minhas mãos e eu que estava falando sério.
- Eu preciso dizer algumas coisas pra ele. – Eu olhei para o visor do meu celular e comecei a digitar o número que eu ainda sabia decor.
- Espera, espera... – Meg arrancou o celular das minhas mãos. – Você não vai fazer nada. – Ela decretou.
- Por quê? Por que não? – Eu não via o porquê de não fazer aquilo.
- Você não vai querer fazer isso. Acredite em mim. – Mark afirmou.
- Eu quero fazer isso! – Eu argumentei.
- Se você quiser fazer isso amanhã, tudo bem, mas hoje? Nesse estado? – Meg negou com a cabeça.
- Mas que droga! Vocês não me deixam fazer nada que eu quero. Isso não é problema de vocês! – Eu respirei fundo, irritada. Encostei minha cabeça no banco.
- Amanhã você me agradecerá por isso. – Meg disse, colocando o meu celular em seu bolso.

Meg sabia que eu jamais ligaria para o . Ela sabia que eu não tinha coragem para passar por isso e nem para superar isso depois. Era melhor que eu ficasse longe do celular e evitasse qualquer coisa que faria com que eu me arrependesse ainda mais de ter tomado aquele porre. É claro que eu não estava pensando assim naquele momento, mas todos ali sabiam que era o melhor a ser feito. Mesmo com os meus amigos tentando me ajudar, eu não queria saber de ajuda alguma. Eu estava furiosa porque eles ficavam me controlando e ficavam me impedindo de fazer o que eu quero fazer. Aquele assunto nem diz respeito a eles. Porque eles se intrometem?

Eu demorei para tomar coragem para fazer aquela ligação e agora eu que eu finalmente quero fazer isso alguém tenta me impedir? Nada me tiraria aquilo da cabeça. Nada me faria desistir de fazer aquilo de uma vez por todas. Essa seria o ponto final da nossa relação. Esse seria a última coisa que eu faria que teria relação com ele. Eu só preciso de mais isso. Eu só preciso colocar algumas verdades para fora para seguir em frente de uma vez por todas. Eu vou fazer isso!

- Querem descer? Eu vou estacionar o carro. – Mark perguntou, olhando pra mim e depois pra Meg. Já havíamos chegado em casa e eu não hesitei em descer do carro.
- Eu vou entrar com ela. – Meg fez careta. – Vê se não foge, ok? Você tem que me ajudar a cuidar da mais nova rebelde do pedaço. – Ela saiu do carro, logo atrás de mim. Mark riu com as palavras da Meg. – Espera! – Meg apressou-se para me alcançar.
- É agora que vocês vão bancar as babás? – Eu perguntei, enquanto ela abria a porta da minha casa.
- Não reclama, gata. Eu também não estou nada contente. – Meg fez careta e entrou na casa.
- Sei... – Eu rolei os olhos e entrei na casa logo atrás dela. Quando vi ela de costas na minha frente, eu vi o meu celular em seu bolso. Estava bem na minha frente. Eu só precisava ser pegar e ser rápida.

Não sei se vocês já perceberam, mas teimosia é uma das minhas melhores características. Olhei para trás e vi que Mark ainda estava dentro do carro. Era a minha única chance e eu não vou desperdiçá-la. Meg ainda estava de costas e eu sabia o que fazer. Olhei para as escadas para confirmar que o caminho estava livre. Me aproximei de Meg e puxei o meu celular de seu bolso com a maior rapidez do mundo. Fui em direção a escada feito um furação e comecei a subir subi-las o mais rápido que eu consegui.

- NÃO! – Meg colocou as mãos no bolso e se deu conta do que eu havia pego. – ! Volta aqui! – Ela gritou, indo em direção as escadas. Quando ela começou a subir as escadas, eu já estava no último degrau. Corri loucamente até o meu quarto e quando estava entrando nele, vi Meg no inicio do corredor. – Não! Espera! , espera! – Meg gritou ao me ver bater a porta. Tive um pouco de dificuldade para trancar a porta, mas consegui fazer isso antes de Meg alcançar a porta. Apoiei minhas costas na porta e respirei fundo, tentando me recuperar daquela maratona que eu havia acabado de correr. – ! – Meg gritou em frente a porta do meu quarto, enquanto ela tentou abrir a maçaneta, mas não teve sucesso. – ! – Ela bateu uma das mãos na porta.

Chegou a hora. Estava nas minhas mãos a cartada final para seguir em frente e voltar a viver a minha vida. Eu tinha tanta coisa pra falar, que até tentei montar um discurso de última hora. Não deu certo. Eu estava um pouco bêbada pra isso. Em meio a gritos da Meg, eu me afastei da porta e sorri ao encarar o visor do meu celular. Caminhei até a minha cama e me sentei em sua beirada. Meg continuava gritando, mas eu nem estava dando mais atenção. Eu nem sequer estava ouvindo, mas Mark ouviu. Ao entrar na casa, ouviu Meg gritar o meu nome inúmeras vezes no andar de cima. Não deu nem tempo dele criar teorias para o que estava acontecendo. Ele bateu a porta e subiu correndo as escadas.

- Meg! – Mark abriu os braços ao ver a melhor amiga esmurrando a porta do meu quarto. – O que foi? O que aconteceu? – Ele estava sério e preocupado.
- Ela pegou o celular! Ela vai ligar pra ele! – Meg explicou rapidamente.
O que? – Mark negou com a cabeça, tentando processar a informação.
- Tenta falar com ela! – Meg pediu ao Mark. Ele não achou que funcionaria, mas não custava tentar.
- ! – Mark gritou, encarando a porta. – Não faz isso! – Ele pediu. A voz dele do outro lado da porta me chamou atenção. – Você não quer fazer isso! Por favor! – Mark não estava gritando como Meg. A voz de serenidade dele me fez até ficar em dúvida sobre o que eu iria fazer, mas a dúvida durou pouco.

Ainda sentada na cama, eu me curvei para abri uma das gavetas do criado-mudo. Tirei de lá aquele porta-retrato que eu havia prometido que jamais veria de novo. Aquela minha foto com o me deu uma estranha força e raiva o suficiente para fazer aquilo. Depois de tudo o que aconteceu, era a primeira vez que eu via aquele porta-retrato sem ter lágrimas em meus olhos. Cerrei os olhos ao olhar para aquela foto e depois a joguei sobre a cama. Encarei mais uma vez o visor do celular e dessa vez eu fui direto digitando o número do celular dele.

- Mark, ela não pode ligar pra ele! Você sabe! – Meg queria que Mark fizesse alguma coisa. – Ele acha que ela traiu ele! Tem noção das coisas que ele vai falar pra ela? Ele vai acabar com ela! – Ela explicava as suas preocupações.
- Se ele fizer isso, quem vai acabar com ele sou eu. – Mark suspirou, sério. Ele estava pensando no que fazer.
- Ela não vai abrir a porta! – Meg concluiu.
- Eu vou tentar a janela! Eu não sei se está aberta, mas eu vou tentar. – Mark saiu rapidamente de perto de Meg e foi até o quarto ao lado. Ele tentaria dar um jeito de pular de uma janela pra outra.

Eu digitei aqueles números com toda a confiança do mundo. Foi até estranho vê-los novamente no visor do meu celular. Terminei de digitar os números e apertei o botão que faria a ligação. Coloquei o celular no meu ouvido e enquanto os números eram discados, eu observava mais uma vez aquela foto. Olhar aquela foto em que parecíamos mais felizes do que nunca e me lembrar daquelas malditas fotos dele com a Amber apenas aumentava o meu ódio e me faziam querer gritar todos os palavrões que eu conhecia. A ligação começou a chamar.

já devia estar no 15° sono, já que o seu cansaço não era pouco. O seu celular costumava ficar sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. Não foi difícil que o toque de seu celular atrapalhasse o seu sono. Ele abriu os olhos, sem saber muito bem o que estava acontecendo. Demorou para que ele se desse conta de que aquele barulho vinha do seu celular. Passou os dedos pelos seus olhos para ver se conseguia abri-los. esticou o seu braço e pegou o seu celular e o trouxe para perto de seu rosto para que ele pudesse enxergar o número que estava no visor. A claridade trazida pelo visor fez seus olhos se fecharem um pouco, mas mesmo assim ele conseguiu enxergar o número, ou melhor, o nome de quem estava ligando. Ao ler o meu nome, os olhos sonolentos se arregalaram. O coração dele parou instantaneamente. Ainda com o celular nas mãos, ele se sentou na cama, enquanto um turbilhão de sentimentos rondavam seu coração e outros milhões de pensamentos rondavam sua cabeça. encarava o celular, sem saber o que fazer, sem saber como reagir, enquanto eu continuava ouvindo o celular chamar seguidas vezes sem resposta.

- Atende, seu desgraçado... – Eu disse em meio a um suspiro. Eu tinha que fazer aquilo, mas não dava pra fazer nada disso se ele não atendesse a porcaria do celular. Meg estava aflita do lado de fora. Aproximou o seu ouvido da porta para tentar ouvir se eu realmente estava cometendo aquela loucura.

não sabia o que pensar sobre aquela ligação. Ele estava muito confuso, pois toda a raiva da qual ele havia se cercado todo esse tempo de repente desapareceu. Fazia tempos que ele não se sentia daquele jeito. Parecia até que ele estava parado no pátio da sua antiga escola, enquanto me via entrar por aquele portão. Era a mesma sensação. Os mesmos sentimentos que ele sentia todas as vezes que ele se convencia de que me superaria e mudava de ideia quando me via. não conseguiu sentir nada além de seu coração disparado, o nervosismo e as borboletas no estômago. Era extremamente estranho sentir tudo aquilo de uma só vez de novo. Ele respirou fundo e engoliu seco pela última vez antes de atender aquele telefonema.

- Alô? – disse daquele jeito doce que ele sempre usava quando me ligava ou atendia os meus telefonemas. Ouvir a voz dele de novo foi como um impacto, um tiro que me fez até esquecer do que tinha pra falar pra ele. A minha reação foi devastadora e surpreendente até pra mim. Eu não esperava que eu fosse reagir daquele jeito diante de toda a raiva. – Alô? – perguntou novamente, pois meu silêncio o fez pensar que a ligação poderia ter caído. Eu estava confusa de novo. Meus lábios estavam abertos para falar o que eu queria, mas a voz não saia. Foi ai que eu voltei a olhar para aquele porta-retrato. Me lembrei do que nós costumávamos ser. Me lembrei de todas as promessas que ele havia me feito e não havia cumprido. Me lembrei de ter ido até Atlantic City atrás dele e ter recebido a notícia que fez daquele o meu pior aniversário. Me lembrei que enquanto eu passava pelo inferno, Amber ajudava ele a espantar a solidão que ele tanto sentia. Me lembrei das fotos deles juntos que haviam me causado dor e desespero depois de tanto tempo. Me lembrei que ele havia superado e eu não. – ? – disse o nome que não dizia há tempos e eu tive que ouvir ele chamar pelo meu nome mais uma vez. Olhei o porta-retrato pela última vez antes de empurrá-lo da cama e jogá-lo chão. Eu me levantei da cama com a raiva e o ódio de antes.
- Oh, você se lembra de mim? Se lembra de quem eu sou? – Eu usei o meu tom mais irônico. – Está com a sua lista por perto, né? Qual o número que eu sou mesmo? Quantas vadias vieram antes de mim? – Eu perguntei com a mesma ironia, que mais parecia raiva agora. – Ou você quer falar sobre quantas vadias vieram depois de mim? – Eu voltei a perguntar. Todas aquelas perguntas e toda aquela ironia fizeram com que aquela velha esperança de fosse desaparecendo aos poucos. Não se tratava de uma ligação de arrependimento.
- Escuta, eu... – tentava evitar uma discussão que parecia ser óbvia, mas eu não dei essa chance a ele.
- CALA A PORCARIA DA BOCA! – Eu gritei com todo o ódio do mundo. Eu não queria explicação. Eu não liguei pra isso. fechou os olhos ao me ouvir gritar com toda aquela fúria. – VOCÊ É QUEM VAI ESCUTAR! – Eu respirei fundo. – Depois de tantas palavras, tantas mentiras, tantas promessas ridículas, é VOCÊ quem vai ouvir o que eu tenho pra te dizer! – O meu tom ainda era alto, mas não tanto quanto antes.
não se manifestou em nenhum momento. Ele apenas me deixou fazer o que eu queria fazer. Quem sabe aquilo o encorajaria a tomar a mesma atitude? Quem sabe ele não conseguiria me tratar com a mesma raiva e me dizer as mesmas grosserias? ainda estava sentado em sua cama e olhava para qualquer lugar do seu quarto, enquanto me ouvir falar.

- QUEM VOCÊ ACHA QUE É!? – Eu deixei de vez a ironia de lado e usei toda a minha raiva a meu favor. – Quem você acha que é pra fazer da minha vida um inferno? Quem te deu esse direito!? – Eu perguntei retoricamente. – Você não é nada! Você é só um... idiota que eu tive a infelicidade de conhecer! – As minhas próprias palavras me davam forças para continuar. – Se você soubesse o quanto eu me arrependo de ter me permitido cair na sua lábia! Nesse seu papinho ridículo de amor! – Eu sorri com sarcasmo. – Amor... – Eu ironizei a palavra. – Essa maldita palavra que você enchia a boca pra falar! Essa palavra que nem mesmo você sabe o significado! Essa palavra que você tentou me convencer que era real! – Eu continuei a ironizar. As minhas palavras começavam a atingir de um jeito que ele não esperava. Ele negou com a cabeça, demonstrando discordância com tudo o que eu dizia. – Eu só queria entender o por que! Droga, você teve duas chances pra desistir de me fazer de idiota! Duas chances de fazer uma única coisa boa por mim! Duas chances pra me deixar esquecer de você! PORQUE VOCÊ NÃO O FEZ? – Eu pausei para poder me acalmar. Eu não queria ter que ficar gritando. – Eu era uma presa fácil? Eu era boba e fácil demais para ser enganada pelo babaca cretino que se achava o rei da escola? – Eu cerrei os olhos. Eu andava descontroladamente de um lado para o outro no quarto.

- Você não sabe do que está falando. – engoliu o nó que havia se formado em sua garganta.
- EU SEI SIM! – Eu respondi de prontidão e com tanta agressividade que fez com que ele perdesse a coragem de me enfrentar. – Eu sei, porque fui eu que ouvi todas aquelas mentiras! Fui eu que vi você não cumprir cada uma das suas malditas promessas! FUI EU! Eu que tive que lidar com tudo isso, enquanto você dava uns pegas na vadia da sua melhor amiga! – Eu surtei ainda mais por ele ter tentado se defender. – Ela conseguiu suprir a minha falta? Ela é tão idiota quanto eu? – Eu voltei a fazer perguntas retóricas. – Eu duvido! Eu é que sou o seu brinquedinho favorito, não é? Aposto que sente falta de mim quando você tenta enganá-la com aquele seu sorriso estúpido e aquele seu papo furado! Aposto que você pensa em mim cada vez que você toca nela, não é? – Eu sorri com sarcasmo.

Agora sim eu estava usando as armas certas. Agora sim ele estava realmente abalado com as minhas palavras. Ele ficou surpreso ao saber que eu já sabia sobre ele e a Amber, mas a dor que ele estava sentindo ao me ouvir falar com tanto desprezo sobre o que vivemos e sobre o que ele sentiu e ainda sente era inaceitável pra ele. Era como se a cada palavra eu pisasse ainda mais nele e a sua recuperação era praticamente impossível. As poucas lágrimas que surgiram nos olhos dele apareceram sem que ele nem percebesse.

- Mas sabe o que é melhor em tudo isso? – Eu sentia como se um peso enorme saísse dos meus ombros a cada palavra dita. – Apesar de estar sozinha em Nova York, sem amigos e sem família, é de você que eu sinto pena. Pela primeira vez em toda a minha vida, eu não estou sentindo pena de mim mesma por um dia ter me apaixonado por você ou por quem você dizia ser. A minha pena é única e somente sua, . – Eu dei um sorriso de alivio ao dizer aquilo. – Aproveita, porque esse é o único sentimento meu que vai estar relacionado a você a partir de hoje! Porque você não vale nem o meu ódio! – Eu neguei com a cabeça.



Os olhos de se enchiam de lágrimas. Ele não se importava em segurá-las ou não. Eu não as veria de qualquer jeito. Ele abaixou a cabeça e encarou uma das cobertas que cobria a parte debaixo do seu corpo. As borboletas no estômago haviam desaparecido e todo o nervosismo havia se tornado tristeza. Tristeza sim, porque pela primeira vez ele tinha certeza de que estava tudo acabado. finalmente se deu conta que eu não havia ligado pra pedir desculpas e sim para por um ponto final na nossa história.

- Mas no meio de tudo isso, eu ainda encontrei algo que me deixa feliz. A única coisa que me faz ficar bem com tudo isso é saber que você não vai conseguir ser feliz. Seja com essa vadia que você anda beijando ou seja com outra. Nenhuma vai te fazer feliz, ! Eu tenho esperanças de que alguma delas, qualquer uma delas te faça passar pelo que você me fez passar. – Eu já não disse com toda a raiva de antes. De repente, as minhas próprias palavras começaram a doer em mim mesma.

Mark ainda estava no quarto ao lado e tentava arrumar um jeito de ir até o meu quarto. A janela do meu quarto estava aberta, então era bem mais fácil conseguir o que precisava. Ele subiu na janela e com muita dificuldade deslizou até a minha janela com a ajuda de alguns tijolos que tinham em torno de toda a casa, inclusive na parede que ficava entre as janelas. Mark tinha uma certa habilidade para aquele tipo de coisa. Não foi uma tarefa tão difícil pra ele.

- Um dia você vai amar uma garota e quando isso acontecer, você vai se lembrar disso. Todas as vezes que ela sair de casa, você vai se perguntar se ela não está indo se encontrar com outro homem. Você vai se perguntar se ela não arrumou alguém melhor que você. – Eu sorri, mas não com tanta verdade. Eu estava tão focada em não me deixar abalar, que eu nem me assustei quando vi o Mark aparecer na janela do meu quarto. – E ai você vai se lembrar de mim. Você vai se lembrar que eu também encontrei alguém melhor do que você. – Eu fiz uma breve pausa e olhei pro Mark. De longe, ele viu as poucas lágrimas que já se acumulavam em meus olhos. manteve-se calado. A lágrima que escorreu de seu rosto falou tudo o que ele tinha a dizer. - Você vai se lembrar do quanto eu sou grata por você ter sido a maior decepção da minha vida, porque assim você me deu a chance de encontrar alguém melhor que você. – Eu continuei olhando pro Mark ao terminar a minha frase. Ele já estava dentro do meu quarto e me olhou com aquele olhar que me passava segurança, que de longe me dizia que estava pronto para me segurar. Eu estava pronta para colocar um ponto final naquilo. – Vai pro inferno, . – Eu disse em tom de desabafo. – Vai pro inferno com todos esses seus falsos sentimentos. Vai pro inferno com as porcarias das suas mentiras. Vai pro inferno com a sua droga de amor! – Eu senti o meu coração se apertar e o meu desespero também. – VAI PRO INFERNO! – Eu esbravejei pela última vez. Um grito de puro desabafo e recheado de lágrimas. – A partir de hoje você é só uma página inútil da minha história que eu fiz questão de arrancar. Não existe memórias pra esquecer. Não existe sentimentos pra superar. Não existe você. – Eu dei o meu último suspiro antes de dizer aquelas palavras, que eu nunca esperei dizer. – Adeus, . – Eu fechei meus olhos por poucos segundos e tirei o celular da minha orelha. Desliguei a ligação e fiquei alguns segundos sem me mover. Apenas superando o que eu havia acabado de dizer e fazer. Dei mais um longo suspiro. Acabou!

Mark não se moveu, apenas ficou me olhando. Eu fiquei um bom tempo sem reação, enquanto meus olhos enchiam-se ainda mais de lágrimas. Olhei o meu celular e nele despejei toda a raiva e alivio que eu sentia. Raiva por estar abalada com o que havia acabado de acontecer e por estar me permitindo sofrer pela última vez. Alívio porque tudo aquilo havia sido uma virada de página. Estou pronta para escrever uma nova história. O celular que estava na minha mão foi jogado para o outro lado do quarto. Levei minhas mãos a cabeça e entrelacei meus dedos em meu cabelo. Foi nesse exato segundo que os braços do Mark acolheram o meu corpo e me segurou como ele sempre fazia, como ele havia ‘dito’ que ia fazer.

Desde que havia tirado o celular do ouvido, continuava olhando para ele. Esperando que eu ligasse de volta para dizer que tudo aquilo não passava de mentira. Nada e nem ninguém havia causado mais dor do que aquelas palavras que eu praticamente cuspi em sua cara. Nós já brigamos várias vezes e já dissemos coisas horríveis um para outro, mas as palavras ditas hoje foram as mais cruéis, intensas e significativas já ditas para ele. Mesmo a traição e o termino terem sido da minha autoria, ele se sentia culpado por algo que ele sem sabia o que era. Ele se sentia culpado só pela mágoa verdadeira que ele havia percebido em minha voz. levou uma das mãos até o seu rosto, passou os dedos pelos seus olhos e depois pelo seu rosto para secar aquelas poucas lágrimas que haviam escorrido por ele. Desistiu de olhar para o celular e o jogou de qualquer jeito sobre o criado-mudo, voltando a colocar sua cabeça sobre o seu travesseiro. As minhas palavras ainda ecoavam em sua cabeça. Nada nunca o machucaria tanto quanto aquelas palavras que ele certamente jamais esqueceria, mas o término havia ensinado a ele uma coisa muito importante: ser forte. Ele precisou ser tão forte no dia do término, que agora ele conseguia usar aquela força para qualquer outra coisa que tentasse abalá-lo. As lágrimas que escorreram dos olhos dele naquele dia foram só um descuido. Já fazia tempos que ele não chorava e ele não deixaria que se repetisse.

- Ei, está tudo bem. – Mark sussurrou, enquanto acariciava a minha cabeça com uma de suas mãos.
- Eu não vou voltar atrás dessa vez. Não vou... – Eu apertei o corpo dele contra o meu.
- Eu sei que não. – Mark afastou o seu corpo do meu para poder olhar o meu rosto. – Você foi bem. – Ele me olhou de um jeito tão intenso e tão sincero, que conseguiu até me arrancar um singelo sorriso, mesmo com aquelas lágrimas presas em meus olhos. – Você foi muito corajosa.. e forte. – Ele acariciou o meu rosto com uma de suas mãos e secou algumas lágrimas que já haviam escorrido dos meus olhos. – Você não precisava fazer isso, mas você fez. Já passou... – Mark como sempre era tão otimista com tudo, que chegava a ser contagiante. – Você está bem agora e eu estou orgulhoso de você. – Eu conseguia ver nos olhos dele o seu esforço para me ajudar a ficar bem. Ele se importava e deixava isso transparecer em cada gesto, em cada palavra e em cada sorriso. Eu não sei o que foi que ele fez, mas me acalmou e fez toda a raiva ir embora.
- Eu estou feliz que esteja aqui. – Eu disse com a voz um pouco falha e com um fraco sorriso no rosto. Voltei a abraçá-lo, apenas porque eu me sentia bem ali nos braços dele. – Eu não conseguiria passar por tudo isso sem você. – Eu estava realmente grata. Mark tem sido uma peça importante desde o começo em toda essa minha superação e eu jamais ignoraria isso.
- Você tem alguma dúvida disso? – Mark apenas queria descontrair aquele momento. Ele sempre dava um jeito de fazer isso.
- O que? – Eu terminei o abraço para olhar pra ele. Cerrei os meus olhos e ri.
- Eu to brincando! – Mark fez careta, me fazendo dar um leve tapa no braço dele, enquanto eu ria.
- Se eu não estivesse tão... – Eu procurei pela palavra certa.
- Bêbada? – Mark deduziu, me fazendo olhá-lo de uma forma engraçada.
- Bêbada! Isso. – Eu afirmei. – Se eu não estivesse tão bêbada, eu ia te fazer pagar por isso. – Eu ameacei só de brincadeira e ele riu. – Não, é sério! Obrigada mesmo por tudo. – Eu engoli o riso para que ele soubesse que eu estava falando sério.
- Você precisa parar de ficar me agradecendo a cada vez que eu ajo como um amigo. – Mark negou levemente com a cabeça. Ouvir ele dizer a palavra ‘amigo’ me quebrou um pouco, mas eu não deixei transparecer.
- Você não é um simples amigo e você sabe disso. – Eu retruquei, enquanto colocava uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

De todas as minhas investidas da noite, aquelas minhas palavras foram as que mais haviam deixado Mark conturbado. Por que eu não parecia tão embriagada ao dizê-las. Por um segundo, ele chegou a pensar que aquelas palavras não haviam sido da boca pra fora. O meu olhar apenas havia feito das minhas palavras mais verdadeiras e reais. Os olhos verdes dele fizeram um tour pelo meu rosto e pararam brevemente em meus lábios.

- ? – Meg gritou do outro da porta e nos acordou de um transe que estávamos. Mark virou o seu rosto e olhou para porta.
- Ela.. está preocupada com você. – Mark sorriu e parecia estar sem jeito com o que havia acabado de acontecer. – Eu posso deixar ela entrar? – Ele pediu autorização.
- Claro! – Eu consenti, depois de sorriso e suspiro de frustração. Mark então foi até a porta, a destrancou e em seguida, a abriu.
- Oh, ainda bem! – Meg pareceu aliviada ao ver o Mark ali.
- Está tudo bem. Eu to bem. – Eu fui rápida ao tranquilizá-la.
- Você não devia ter feito isso! – Meg me olhou com desaprovação.
- Eu precisava fazer isso e quer saber? Eu me sinto bem melhor agora. – Eu suspirei longamente. Meg olhou em volta e viu o celular jogado de um lado e o porta-retrato jogado de outro.
- Está mesmo? – Meg voltou a me olhar, depois de ver o que eu havia jogado no chão. Eu também olhei para o porta-retrato e me aproximei dele, pegando ele em minhas mãos novamente.
- Vou ficar assim que me livrar disso. – Eu estendi o porta-retrato em direção a ela. – Joga isso no lixo pra mim? – Eu perguntei, esperando que ela pegasse aquele porta-retrato que eu costumava olhar secretamente todos os dias.
- Você... – Meg olhou para o objeto nas minhas mãos. – Tem certeza? – Ela ficou surpresa com o meu pedido. – Eu posso guardar ou... – Ela quis arrumar outra alternativa para a minha decisão radical.
- Não. Eu quero que você jogue no lixo. – Eu me mantive firme. – Eu não quero mais ter que olhar pra isso. – Eu completei.
- Então.. tudo bem. – Meg sorriu, orgulhosa com a minha atitude.
- Obrigada. – Eu sorri, sem mostrar os dentes. Me afastei e fui até a minha cama, me jogando nela em seguida. Meg aproveitou para olhar para o Mark para saber o que é que tinha acontecido, ele ergueu os ombros como se quisesse dizer que também não sabia de nada.
- Certo, então já chega de loucuras por hoje, né? – Meg foi até mim, depois de entregar o porta-retrato nas mãos de Mark.
- Minha cabeça está começando a doer. – Ressaca? Já? Eu duvido.
- Acho que o efeito da bebida está começando a passar. – Meg diagnosticou. Ela já esteve naquela situação por diversas vezes.
- Que horas são? – Eu perguntei, já que não fazia a menor noção do horário.
- São 3 horas da madrugada. – Meg fez careta ao dizer, pois sabia que eu me surpreenderia.
- 3 horas? – Levei uma das minhas mãos até o meu rosto. – Não acredito que liguei para o meu ex ás 3 da manhã. – Eu neguei com a cabeça. Eu já começava a me arrepender.
- Acredite! – Mark sorriu mesmo de longe.
- O que vocês ainda estão fazendo aqui? Podem ir pra casa. – Eu não queria continuar dando trabalho para eles.
- Nem pensar. Eu ainda tenho que cuidar da minha amiga bêbada. – Meg aproximou-se ainda mais de mim, puxou um dos meus braços e voltou a me colocar sentada na cama.
- Eu só dou trabalho pra vocês. – Eu rolei os olhos.
- Não é trabalho algum. – Meg me puxou mais uma vez, mas dessa vez foi para me levantar da cama. – Vem, vamos lavar esse rosto e tirar essa maquiagem. – Ela disse, me levando em direção a porta do quarto.
- Está bem... – Eu fiz careta, levando uma das minhas mãos a cabeça, que continuava doendo.
Meg foi a amiga que sempre havia prometido ser. Ela cuidou de mim como se eu fosse uma garotinha de 5 anos. Me ajudou a lavar o meu rosto, tirar a minha maquiagem e até a trocar de roupa. Mark nos esperou no quarto. Ele não iria embora até ter certeza de que estava tudo bem. O porta-retrato que havia ficado em suas mãos despertou a curiosidade dele, quando ele se viu sozinho no quarto. Olhou para aquela foto e se perguntou se fazia ideia do quão estúpido ele era por ter deixado aquilo que nós tínhamos desaparecer. Mark jamais entenderia o que havia acontecido para que trocasse o invejável amor que eu sentia por ele por outra garota. Não era nem mais raiva o que Mark sentia por ele e sim, pena. Aproveitou que eu e Meg estávamos no banheiro e desceu para o andar debaixo da casa. Saiu pela porta da frente e foi até um latão de lixo que havia entre a calçada da minha casa e a da dele. Mark fez exatamente o que eu havia pedido. Tentou imaginar como estava se sentindo agora depois de todas aquelas palavras que havia sido obrigado a ouvir de mim.

estava tão mal quanto se esperava, mas ele não se deixaria sofrer mais por isso. Sofrer foi o que ele tem feito durante cada dia desse último mês. Ele beijou sim várias outras garotas, mas sofreu a cada vez que procurou qualquer vestígio meu nelas e não encontrou. dormiu sim com a Amber, mas também sofreu por não ser eu no lugar dela. Sofreu com cada vez que foi ao cinema com uma garota, que não viu a menor graça na sua brincadeira de roubar pipoca. Sofreu quando levou uma garota até a sorveteria e teve que vê-la tomando um sorvete de chiclete sem fazer aquela bagunça que eu costumava fazer. Sofreu quando se deu conta de que não teria mais ninguém para chamar de .

- Isso não vai te ajudar a evitar a ressaca de amanhã, mas vai te ajudar a dormir melhor. – Meg estendeu um copo com água e um comprimido.
- Valeu. – Eu fiz careta e sorri, pegando o remédio. Tomei o remédio e devolvi o copo para ela.
- E ae? Está arrependida por ter ligado? – Meg perguntou, já que isso estava intrigando-a.
- De verdade? Não. – Eu afirmei, sem hesitar. – Eu teria feito isso antes se soubesse que eu me sentiria tão... – Eu pensei na palavra certa para dizer. – Aliviada. – Eu completei.
- Aliviada? – Meg gostou da palavra que eu havia usado.
- É sabe... – Eu sorri, pois achei graça do jeito que ela havia exaltado a palavra que eu havia usado. – Foi como se eu tirasse um peso das minhas costas. Foi como se eu tirasse esse sentimento ruim.. de dentro de mim. Eu me sento menos idiota, menos boba e mais.. livre. Eu não sei explicar, mas me fez bem. – Eu ri, pois me enrolei nas palavras.
- Sabe que vai se arrepender disso amanhã, né? – Meg fez careta.
- Então deixa pra amanhã.. – Eu não quis nem pensar nisso agora.
- Melhor mesmo. – Meg riu. – Está tarde! Vamos arrumar a sua cama.. – Ela apontou com a cabeça em direção a cama. Começamos a preparar a minha cama, quando eu vi Mark entrar em meu quarto.
- Achei que tivesse ido embora. – Eu sorri para Mark.
- Sem me despedir? – Mark sorriu, cruzando os braços e encostando-se em uma das laterais da porta.
- Jamais.. – Meg fez careta. Adorava zoar Mark pelas suas ‘caretices’.
- Você não devia me tratar assim, já que sou eu que vou te levar pra casa. – Mark fuzilou Meg com os olhos em meio a um sorriso.
- Isso não é justo... – Meg riu ao olhar pro Mark.
- Você não precisa ir embora. – Eu me intrometi no meio das brincadeiras deles.
- Está me convidando pra ficar aqui? – Meg deduziu. Eu fazia isso com frequência.
- Estou! – Eu afirmei.
- Achei que não me convidaria! – Meg segurou o riso, pois sabia que estava sendo cara de pau.
- Ai... Meg... – Mark riu, negando com a cabeça.
- Não tem problema! Ela sabe que eu não me importo e que sempre gosto quando ela dorme aqui. – Eu também ri da Meg.
- São 3 da madrugada! Avisei minha mãe que se não chegasse até meia-noite eu dormiria aqui. – Meg fez careta.
- Se eu não tivesse bebido tanto, ela estaria em casa meia-noite! Acho justo ela ficar aqui. – Eu fui a favor de Meg.
- Viu só? – Meg mostrou a língua pro Mark.
- Então ta! – Mark fez careta e ergueu os ombros. – Eu até fico mais aliviado sabendo que você vai ficar aqui com ela. – Ele, como sempre, estava preocupado comigo.
- Legal, então enquanto você fica com ela, eu vou me trocar. – Meg apontou em direção a porta do quarto.
- Pode pegar um pijama meu emprestado. Ele está até lá no quarto que você costuma dormir. Eu não tirei ele de lá desde a última vez. – Eu disse, me sentando na minha cama.
- Beleza! Eu volto daqui a pouco. – Meg piscou um dos olhos pra mim e antes de passar pela porta, deu um fraco soco no braço do Mark. – Faça o esforço de ficar de olho nela. – Ela sussurrou para o amigo, que revidou com algumas cócegas em sua barriga. Meg saiu, rindo das brincadeiras de Mark.
- É, sério! Não precisa ficar regulando ela. Não tem problema ela ficar aqui. – Eu disse, quando percebi que estávamos sozinhos.
- Ela nem percebe o quanto ela é inconveniente às vezes e se quer saber, é isso é o que eu mais gosto nela. – Mark sorriu, aproximando-se da minha cama.
- Eu gosto do jeito que você sempre consegue ver o lado de bom de tudo e de todos. – Eu sorri fraco.
- Quem vê as coisas ruins, acaba não vendo as boas. – Mark ergueu os ombros, enquanto continuava se aproximando.
- Bem, você viu algo ruim em mim hoje. – Eu arqueei uma das sobrancelhas e vi ele se sentar em minha frente na cama.
- A sua dança na lanchonete? – Mark sabia que não era disso que eu estava falando, mas só disse para descontrair. – Melhor esquecermos disso. – Ele fez careta.
- Não é sobre a minha dança ridícula na lanchonete! – Eu segurei o riso. – É sobre tudo! É sobre eu beber e ser uma péssima bêbada! – Eu expliquei do que eu estava falando.
- Eu acho que não tem como ser uma boa bêbada. – Mark sorriu ao me ver rir da sua afirmação. – Além do mais, eu sei exatamente quem você é. Eu sei que se estivesse sóbria, não faria metade daquilo. Não posso e nem vou julgar as suas atitudes quando você está bêbada. – Ele novamente estava vendo o lado bom da coisa.
- Sabe que as vezes eu queria ser essa garota? Eu quero dizer, essa garota que eu sou quando fico bêbada. – Eu expliquei sem saber muito bem se aquilo era uma boa coisa a se dizer. – Ela é muito mais divertida de quem... eu realmente sou. Eu faço o que quero fazer, sem pensar nas consequências. Eu danço, eu grito e dou risada sozinha. Isso é legal em uma garota, não é? – Eu perguntei, inocente. Eu não tinha intenção alguma com aquela pergunta. Mark pareceu não querer concordar ou discordar. Ele fez uma cara de ‘não sei’.

Meg colocou o pijama e arrumou a sua cama. Depois de tirar toda a maquiagem, foi em direção ao meu quarto, onde pretendia ficar até eu dormir. Quando chegou próxima da porta do meu quarto, ela pausou, pois percebeu que eu e Mark estávamos tendo uma daquelas conversas honestas, que eram tão raras de acontecer. Ela não quis atrapalhar e voltou para o seu quarto. Voltaria depois que a conversa tivesse acabado.

- Sabe o que também é legal em uma garota? É legal quando ela é a pessoa mais responsável do mundo quando se trata dos outros, mas é totalmente irresponsável quando se trata dela. É legal quando ela me obriga assistir ‘Um Amor Para Recordar’ 3 vezes seguidas só porque ela está de tpm. É legal quando ela mente pra mim, dizendo que eu sou um bom cozinheiro só para não me decepcionar. É legal quando ela me ajuda assustar a Meg, quando eu brinco que vou jogá-la na piscina. – Mark disse, enquanto percebia os sorrisos que me arrancava. – Você é legal de todos os jeitos. Como pode ser tão egoísta? – Ele brincou, cerrando os olhos.
- Viu? Acabou de descobrir outro lado ruim. – Eu abri os braços.
- Você tem razão! Você é uma pessoa odiável! – Mark negou com a cabeça.
- Eu ainda estou bêbada, sabia? Não devia estar brigando comigo! Isso pode não acabar bem. – Eu também brinquei, usando um tom de ameaça.
- É verdade! Você fica super impaciente quando está bêbada! Eu não vou te provocar. – Mark levantou as mãos, demonstrando inocência.
- É, eu sei. – Eu levei uma das minhas mãos até o meu rosto, já que estava um pouco envergonhada. – Eu te causei muitos problemas hoje, né? – Eu mordi o lábio inferior. – Eu... – Eu nem sabia o que dizer.
- Está tudo bem! – Mark negou com a cabeça, demonstrando que não havia se importado.
- Não! Eu te devo desculpas! – Eu olhei pra ele, sem graça. – Eu não devia ter feito ou dito nada daquilo. Eu estava ou ainda estou, não sei, bêbada! Eu... – Eu ainda estava fora de mim, mas não tanto quanto antes. – Me desculpa! – Eu mordi o lábio inferior.
- Vou pensar se vou te desculpar e depois eu te falo, ok? – Mark se fez de difícil, apenas porque ele sabia que eu já sabia que estava desculpada. Ele sempre me desculpa por tudo.
- Tudo bem! – Eu afirmei, passando as minhas mãos por um dos olhos. O meu sono começava a se manifestar.
- A Meg está demorando, não acha? – Mark disse quando percebeu que eu já estava com sono.
- Está mesmo. – Eu estranhei, olhando para a porta.
- Eu vou chamá-la e já volto. – Mark se levantou, indo em direção a porta. Passou pelo corredor e foi até o quarto que Meg costumava ficar. Abriu a porta e se deparou com Meg dormindo na cama. – Oh, qual é, Meg... – Mark riu sozinho, entrando no quarto.

Mark se aproximou e viu que Meg estava em um sono profundo. Não seria fácil e nem justo acordá-la. Já que ela estava dormindo, ele não podia fazer mais nada além de cobri-la com um cobertor que estava dobrado sobre a cama. Cobriu todo o seu corpo e ajeitou a sua cabeça, que estava deslocada sobre o travesseiro. Apagou a luz do abajur, que ainda estava acesa e saiu lentamente do quarto. Voltou a andar em direção ao meu.

- Você não vai acreditar. – Mark riu, enquanto entrava no meu quarto.
- O que foi? – Eu ainda estava sentada na cama.
- A Meg dormiu! – Mark riu sem emitir som algum.
- Não brinca! – Eu passei uma das mãos pelo meu rosto, enquanto ria.
- Eu deveria saber. Ela bebeu alguns copos também. – Mark riu, sentando-se novamente na minha cama.
- Acho que cuidar de mim foi um pouco exaustivo. – Eu sorri, negando com a cabeça.
- Acho que como babá, ela é uma ótima médica. – Mark brincou, me fazendo rir novamente.
- Coitada! Ela fez muita coisa por mim hoje. – Eu disse, enquanto parava de rir.
- Você tem razão. Ela foi ótima... – Mark não era tão injusto.
- E você também foi. – Eu completei e vi o sorriso dele se tornar mais tímido.
- Até agora, né? E agora? O que eu faço? – Mark desconversou. Meg estava dormindo. Quem ficaria comigo?
- Agora você pode ficar no lugar dela. – Eu achei uma rápida solução.
- Eu? – Mark sorriu, achando que eu não estava falando sério.
- É! Você disse que ia ficar mais aliviado sabendo que Meg ia estar aqui cuidando de mim. A Meg dormiu. Alguém tem que ficar no lugar dela, certo? – Eu sorri fraco, mesmo sabendo que estava sendo cara de pau.
- É mesmo? – Mark cerrou os olhos, enquanto ria.
- É! Ah não ser que você decida me abandonar justo agora, o que não é do seu feitio. – Eu estava jogando sujo agora, mas eu não tinha má intenção.
- Eu não vou te abandonar agora. Você sabe que não. – Mark sorriu, sem mostrar os dentes.
- Então qual é o problema em você ficar aqui comigo? – Eu perguntei. – Eu sou tão chata assim, que você não pode me aguentar até eu dormir? – Eu fiz drama só para convencê-lo.
- Isso não é um problema. Se fosse, era só eu usar um fone de ouvido e pronto. – Mark voltou a brincar.
- Legal, espertinho. Então qual é o problema? – Eu insisti até saber o motivo. – Sua mãe está te esperando? É isso? – Eu perguntei.
- Não, não é isso também. Minha mãe não está em casa. Está viajando... – Mark desconversou.
- Então qual é o problema? – Eu perguntei, sem entender. – Oh, não! Espera! Eu já sei! – Eu ri rapidamente. – Está com medo que eu te agarre de novo? – Eu deveria saber.
- ... – Mark não quis se comprometer.
- Olha só, eu prometo que não vou tentar te agarrar de novo! – Eu disse de forma mais séria para que ele acreditasse. – Prometo que você ficar não é parte de um plano de te agarrar e te amarrar na cama ou qualquer coisa assim. – Eu não aguentei e ri. – Eu juro que o motivo de eu pedir pra você ficar é totalmente inocente! Eu só quero a sua companhia. Eu só quero que você cuide de mim até eu dormir. – Eu estendi a minha mão e toquei a dele. Ele olhou para as nossas mãos e depois me olhou daquele jeito doce. – Por favor, fica comigo. – Eu pedi, enquanto voltava a usar o meu fraco sorriso.



- Está bem... – Mark sorriu e rolou os olhos. Ele simplesmente não conseguia dizer não.
- Legal! – Eu sorri, empolgada. Me mexi na cama para puxar o lençol em que eu estava sentada em cima e Mark se levantou pelo mesmo motivo. Puxei o lençol e coloquei por cima das minhas pernas.
- Já que você está de pé, me passa esse copo de água? – Eu apontei em direção ao copo, que estava sobre o criado-mudo. Meg havia deixado ali depois de ter me dado aquele comprimido.
- Espera ai.. – Mark foi até o criado-mudo e pegou o copo, estendendo em minha direção.
- Obrigada. – Eu peguei o copo, que ainda estava cheio. Bebi apenas um pouco de água e voltei a estender o copo para que ele pegasse. Quando estendi o copo, virei o meu rosto e a minha outra mão para ajeitar o travesseiro atrás de mim. Mark demorou para pegar o copo e eu estendi o copo ainda mais. Eu não estava olhando para o copo e não vi que Mark estava mais perto do que eu imaginei. Eu bati o copo sem querer no peito dele e metade da água que havia no copo caiu toda na camisa dele. – Ai, droga! – Eu fiz careta ao ver a bagunça que eu havia feito.
- Tudo bem! Não foi nada.. – Mark pegou o copo da minha mão e voltou a colocá-lo sobre o criado-mudo. Olhou para a sua camisa e viu o quanto ela estava molhada.
- Me desculpa! – Eu mordi o lábio inferior. – Eu sou muito desastrada... – Eu revirei meus olhos, me xingando mentalmente.
- Calma! Tudo bem. Só molhou um pouco.. – Mark riu do meu desespero.
- Você quer que eu pegue um pano ou... – Eu já ia me levantando da cama, mas ele entrou na minha frente e me impediu.
- Ei... – Mark voltou a achar graça do quanto eu estava me punindo por um simples copo de água. – Eu vou sobreviver, ok? É só água! – Ele negou com a cabeça. O jeito com que ele me olhou, me fez rir de mim mesma. Voltei a me sentar na cama e levei uma das minhas mãos até o meu rosto, pois estava sem graça por ser tão desastrada e tão neurótica.
- Tudo bem, eu vou parar de surtar agora. – Eu me senti uma boba. – Acho que eu não vou parar de fazer besteiras, enquanto eu não dormir. – Eu voltei a me cobrir com o lençol e dessa vez eu me deitei, colocando a minha cabeça em meu travesseiro. Afastei um pouco o meu corpo da beirada da cama, onde Mark estava sentado. Eu achei que ele fosse se deitar ao meu lado.
- Eu vou te esperar dormir. – Mark sorriu fraco, me observando de onde ele estava. Ainda deitada, virei o meu corpo de lado para que eu pudesse olhá-lo. Ficamos algum tempo trocando olhares. Eu não acreditei que ele iria ficar ali sentado. Entre a nossa troca de olhares, um sorriso espontâneo surgiu em meu rosto e chamou a atenção dele. – O que foi? – Mark também sorriu, sem entender.
- Isso é estranho. – Eu ri, sem emitir som. – Não vou conseguir dormir com você ai sentado, me olhando. – Eu completei, segurando o riso. Não queria que ele entendesse de forma errada.
- Não tem como eu cuidar de você com os olhos fechados. – Mark brincou, apenas para se defender.
- Eu sei, mas é que... – Eu hesitei dizer. – São 3 da manhã! Eu sei que você está super cansado também e ai você tem que ficar ai sentado esperando eu dormir? – Eu olhei para ele e disse com aquele jeitinho de sempre.
- Não tem problema.. – Mark negou com a cabeça.
- Eu não sou tão egoísta, ok? Se você quer fazer algo por mim, vai ter que deixar eu fazer algo por você também. – Eu usei mais alguns bons argumentos. – Vai, deita aqui comigo. – Eu olhei rapidamente para travesseiro que eu havia colocado ao lado do meu.
- Não, não precisa... – Mark nem sequer havia cogitado essa possibilidade.
- Olha só, eu até vou emprestar o meu segundo travesseiro pra você. Ninguém mais teve esse privilégio. Você não vai poder recusar. – Eu sorri, quando vi ele rir.
- Porque você é tão... teimosa? – Mark riu, sabendo que eu não desistiria até conseguir.
- Você não vai me fazer mudar de ideia! – Eu fiz careta e ele continuou a me olhar. Parecia estar pensando se deveria ou não fazer aquilo. – Deita logo? – Eu voltei a pedir.
- Está bem, está bem... – Mark demonstrou que estava fazendo aquilo apenas porque eu insisti. Ele levantou-se da cama e foi até uma das cadeiras que havia em meu quarto.

Meus olhos seguiram ele e viram ele tirar os tênis. A minha curiosidade na cena aumentou, quando vi ele começar a desabotoar a sua camisa molhada. Era uma daquelas camisas xadrez de botões. Confesso que fiquei extremamente decepcionada e impressionada com o que vi quando ele tirou a camisa. Decepcionada porque debaixo da camisa que ele havia tirado, ele ainda vestia uma regata branca. Impressionada até demais com os braços fortes e ombros largos que eu não tinha muita noção que existiam. Não que eu já não tivesse percebido isso antes, mas o Mark é muito, mas muito atraente mesmo. Em que mundo um moreno de olhos verdes, sorriso bonito e corpo definido está solteiro? Onde estão as mulheres de Nova York? Azar delas! Sorte minha.

Eu confesso que fiquei sem graça e que senti minhas bochechas corarem, quando ele me flagrou analisando-o com uma certa intensidade. Mark colocou a sua camisa sobre a cadeira e começou a andar em minha direção. O que diabos é isso no meu estômago? Borboletas? Jura? Depois de tanto tempo? Não, eu não consigo acreditar. Me esforcei para dar um fraco sorriso para que ele também não ficasse sem graça com aquela situação, que eu insisti tanto para que acontecesse. Minha intenção não era essa. Eu nem sequer sabia que a minha reação seria tão fora do normal. Fiquei um pouco nervosa, quando ele se aproximou da minha cama. Tirei os olhos dele por alguns segundos, para tentar disfarçar aqueles sentimentos que me pegaram de surpresa. Eu ainda estava deitada de lado, então eu aproveitei para colocar um dos meus braços embaixo do meu travesseiro.

As sensações e sentimentos de Mark eram bem parecidos com os meus. Ele não pretendia se aproximar tanto, mas ele percebeu que eu já não estava tão alterada. Ele percebeu que o meu simples pedido para que ele ficasse e cuidasse de mim era real e totalmente inocente. A sua vontade de se deitar ao meu lado e ficar mais perto de mim também era grande, mas ele não ousaria tanto assim se eu não tivesse insistindo tanto. Mark não costumava ser tão cauteloso assim com as outras garotas que conheceu. Ele mesmo não se reconhecia quando agia como um patético sem atitude. Ele não reconhecia todo aquele cuidado e medo de se aproximar, mesmo em uma situação tão inocente.

A inocência do momento não fez de Mark tão bobo assim. Ele notou sim o jeito com que eu havia olhado pra ele, mas ele preferiu se convencer de que havia entendido de um jeito errado. Para ele, a probabilidade de eu realmente estar ficando a fim dele depois de tantos foras, depois de tanto esforço e depois de ver o quão forte era a minha relação com o era mínima. Os meus pedidos doces, o jeito com que eu tenho olhado e sorrido pra ele ultimamente só o deixava ainda mais balançado com os sentimentos que ele tanto se esforçava para superar, mas quando estava perto de mim ele se esquecia de todo o resto ou qualquer outro esforço para não sentir nada. Mark chegou até a cama e levantou o lençol que cobria parte do meu corpo, que também passaria a cobri-lo. Ele finalmente se deitou ao meu lado, colocou a cabeça em meu travesseiro e também cobriu parte de seu corpo. Eu não me movi e mantive o meu corpo de lado, virado para ele. Mark deitou-se de barriga pra cima, mas virou o seu rosto em minha direção.

- Foi tão ruim assim? – Eu perguntei em um tom baixinho. Mark sorriu de um jeito encantador, enquanto respondia com uma simples negação com a cabeça. A resposta dele me arrancou um fraco sorriso, enquanto eu continuava a observá-lo. Nós nem sempre tínhamos a chance de estarmos tão próximos um do outro. Eu adoro quando eu posso olhá-lo de mais perto. Adoro o jeito que ele me analisa com aqueles belos olhos verdes. – Quer saber um segredo? – Eu perguntei, depois de um tempo de troca de olhares.
- Quero. – Mark ficou sério, pois achou que se tratava de algo sério.
- Eu gosto dos seus olhos... – Eu continuei a olhar nos olhos dele, mas o sorriso que ele deu ao ouvir a minha frase também me chamou atenção.
- Quer saber de um segredo? – Mark repetiu a minha pergunta. Afirmei com a cabeça, curiosa. - Também gosto dos meus olhos. – Ele disse, arrancando um sorriso de mim. – Graças a eles, eu não sou só um idiota que fica te encarando sem motivo algum. Graças a eles, você sempre aceita trocar olhares comigo sem fazer perguntas. – Mark disse, diminuindo o sorriso.
- Gosto de ficar perto de você. – Eu comecei a piscar mais lentamente por causa do sono. – Faz com que eu me sinta especial. – Eu mantive uma das minhas mãos embaixo do meu travesseiro e levei a outra até o peitoral dele.
- Você é... – Mark levou uma de suas mãos até a minha mão e a acariciou, enquanto mantinha um fraco sorriso no rosto que nem sequer deixou seus dentes a mostra. – Você é muito especial pra mim. – O dedão dele subia e descia, acariciando minha mão que continuava sobre o peito dele.



- Você também é especial pra mim. – Eu ficava cada vez mais sonolenta. – Desculpa ter demorado tanto pra corresponder a isso. – Eu disse, aumentando o meu sorriso. Os meus olhos se fecharam por poucos segundos. A palavra ‘corresponder’ tinha diversos significados e todos eles fizeram o coração de Mark disparar. Ele aproveitou que meus olhos ainda estavam fechados para me observar de um jeito ainda mais intenso.
- Eu queria tanto que não você não se esquecesse disso amanhã. – Mark sussurrou, me fazendo abrir os olhos novamente.
- Eu não vou, mas se por acaso eu esquecer, é porque eu quero que você me lembre. – Eu disse, vendo ele me olhar docemente, mas ao mesmo tempo tão sério. Ele simplesmente não conseguia se controlar quando eu dizia aquelas coisas, que o enchiam de esperança.

A paz que eu estava sentindo naquele instante era inexplicável. Fechar os meus olhos e depois reabri-los e vê-lo tão perto, me fazia esquecer de qualquer problema que eu tivesse. Me fazia esquecer tudo o que havia acontecido naquela noite. Me fazia esquecer que eu havia sido machucada e me fazia ter certeza de que aquilo jamais se repetiria, porque ele não deixaria. A voz dele me acalmava.

- Não conte pra Meg, mas... – Eu hesitei dizer. – Eu estou feliz por ela ter dormido. – Eu completei, trazendo de volta o sorriso pro rosto dele.
- Só se você não contar que eu também estou. – Mark sussurrou, enquanto continuava acariciando minha mão.
- Seu segredo está a salvo comigo. – Eu disse, depois de já ter fechado os olhos pela última vez e ter sorrido sem nem ter mostrado os meus dentes.

Mark percebeu que aquele havia sido o final da nossa conversa. Eu havia dormido de vez, mas isso não o chateou nem um pouco. Agora ele podia me olhar o quanto quisesse. Ele podia sentir a minha fraca respiração em um de seus ombros. Continuou a fazer carinho na minha mão e não tirou os olhos de mim. Ele poderia ficar ali por horas. Até perdeu a noção de quanto tempo ficou ali fazendo a mesma coisa. Parou de acariciar a minha mão e levou a sua mão para perto do meu rosto, onde ele acariciou delicadamente uma das minhas bochechas por um tempo e depois pegou uma mexa do meu cabelo , que estava prestes a cair em meu rosto e a colocou atrás da orelha. Aquele momento foi tudo o que ele mais sonhou nos últimos meses.

- Eu não posso estar me apaixonando por você. – Mark suspirou, sentindo o seu coração estremecer. Depois de ficar mais um tempo me olhando sem dizer nada, sem pensar em nada e sem se mover, ele decidiu que era hora de ir embora. Eu já estava segura e bem. Mark começou a se mover lentamente para não me acordar. Ele estava saindo da cama, quando a minha mão, que ainda estava sobre o seu peitoral agarrou a sua camiseta e o puxou pra perto de mim novamente.
- Fica... – Eu sussurrei com a minha voz de sono, sem nem abrir os olhos. Depois de trazer o corpo dele para o mesmo lugar de antes, me aproximei ainda mais, tirando a minha cabeça do meu travesseiro e a colocando sobre o peitoral dele.

Mark ficou extremamente surpreso com a minha atitude. Ele ficou sem reação por um tempo. Aos poucos, um bobo sorriso foi surgindo em seu rosto e uma de suas mãos se aproximou do meu braço e subiu por ele até chegar em meu ombro. A mão dele foi até a minha cabeça, onde ele começou a acariciar o meu cabelo. Ele nunca pensou que eu poderia fazer ele sentir a melhor coisa que ele já sentiu mesmo sem querer. Ele se sentiu o cara mais sortudo do mundo, só por me ter ali, abraçando o seu corpo e dormindo em seus braços. Beijar o topo da minha cabeça foi a última coisa que ele fez, antes de adormecer comigo em seus braços.


- Mas que merda! – resmungou ao ouvir o seu celular tocar pela 4° vez seguida. Ele ainda estava deitado e não pretendia levantar tão cedo, já que era sábado. Esticou o seu braço e pegou o seu celular. Olhou no visor e viu o nome de . – Fala, . – Ele atendeu já demonstrando o seu mal humor.
- Achei que tivesse morrido! – sorriu para , que riu de sua afirmação.
- Que horas são? – não respondeu a afirmação do amigo, mas ficou preocupado com o horário. Era tão tarde assim?
- São 11 horas, eu acho. – não estava com relógio, mas tentou se lembrar da última vez que olhou para um.
- 11 horas? Ah, vai se ferrar! – ficou furioso. Era cedo demais para ele e principalmente para um sábado.
- Tudo bem, boneca! Deixa o seu surto pra depois. Estou ligando pra te convidar pra vir aqui em casa. A também está aqui. – disse, ouvindo a campainha tocar. Devia ser um de seus amigos.
- Não acha que está cedo demais pra uma suruba? – disse apenas para revidar as palavras de .
- Não acha que está cedo demais pra me fazer ir ai acabar com você? – disse de um jeito um pouco mais descontraído. Ele foi em direção a porta para abri-la.
- Escuta, são 11 da manhã e você me liga pra fazer essas propostas indecentes? Devia ter ligado pro . – rolou os olhos.
- Eu já liguei e ele acabou de chegar. – disse, abrindo a porta e fazendo um sinal com a cabeça para que entrasse.
- Bom dia, Jonas! – gritou perto do celular de ao passar por ele. fez careta e encarou o celular por alguns segundos. estava mesmo lá?
- Vocês são doentes... – voltou a colocar o celular no ouvido. gargalhou com a afirmação do amigo.
- Meus pais foram viajar para a casa de uns tios da minha mãe. A casa está liberada! Já chamei os caras, as garotas e agora estou te ligando. – explicou, vendo se jogar no sofá.
- Então todos vão estar ai? – perguntou, vendo ali uma possibilidade de esclarecer algumas coisas.
- Vão.. – afirmou. – Anda logo. – Ele o apressou.
- Está bem... – passou uma das mãos pelo seu rosto para que pudesse acordar de vez. – Daqui a pouco eu chego ai. – Ele combinou.
- Beleza! Até depois, cara. – sorriu, satisfeito e desligou o telefonema.

Do telefonema da noite passada, várias coisas ainda o incomodavam e outras ele ainda não havia conseguido superar. Uma coisa que não deixou passar foi o fato de eu saber sobre ele e a Amber. Como eu sabia? Quem contou, já que todos os seus amigos prometeram não trocar informações entre nós? Alguém havia quebrado aquela promessa que era tão importante pra ele. Uma promessa que lhe custou aquela maldita ligação e aquelas malditas palavras que ele foi obrigado a ouvir. Ele não deixaria barato.

Se ainda se lembrava de cada vírgula que eu havia falado pra ele, eu não tinha a mesma sorte. A luz do sol entrava pela janela do meu quarto e refletia direto em meus olhos ainda fechados. Mesmo com os olhos fechados, eu já sentia a minha cabeça pesada. Eu abri os olhos lentamente, pois não queria ter que encarar a luz de sol tão rapidamente. Um perfume delicioso entrava pelo nariz e eu não fazia ideia de onde ele vinha. Ao abrir meus olhos lentamente, percebi que eu não era a única deitada naquela cama. Depois eu percebi que eu estava com a cabeça apoiada nessa tal pessoa. Levantei o meu rosto lentamente e vi o rosto de Mark. Os olhos dele ainda estavam fechados e seu rosto tinha uma expressão tão tranquila, que até me arrancou um sorriso. Aproximei o meu rosto do pescoço dele e logo percebi que aquele maravilhoso perfume vinha dele. Aproveitei que estava mais próxima do seu rosto e o encarei de mais perto. Ele ficava maravilhoso até quando não deixava aqueles belos olhos a mostra. Eu também não pude deixar de notar a regata que ele vestia. Depois de apreciá-lo por um tempo em silêncio eu comecei a me perguntar como ele veio parar ali. Como eu vim parar aqui? Olhei em volta e vi a camisa dele jogada sobre a cadeira. Quando eu pensei no que poderia ter acontecido na noite passada, eu tive um silencioso surto.

- Esteja vestida, esteja vestida, esteja vestida... – Eu comecei a sussurrar para mim mesma. Levantei o lençol e vi que eu estava de pijama. Que alivio!

Eu ainda não sabia como eu havia chegado ali. Me sentei na cama e me espreguicei. Fiquei algum tempo ali sentada, tentando me lembrar da noite passada. Tudo parecia um borrão pra mim. Eu me levantei cuidadosamente da cama para não acordar o Mark e peguei a primeira coisa que encontrei para fazer um rabo no meu cabelo. Caminhei até a porta, sentindo a minha cabeça doer. Sai do quarto e encostei a porta para evitar que qualquer barulho acordasse Mark. Passei pelo corredor e ao passar por um dos quartos, vi uma cama desfeita. Alguém havia dormido ali. Eu rapidamente me dei conta de que era Meg. Ela sempre dormia naquele quarto. Passei pelo banheiro e aproveitei para fazer a minha higiene matinal. Depois de sair do banheiro, eu quis achar Meg. Deduzi que ela estivesse no andar debaixo. Desci aquelas escadas lentamente. Eu não estava tão bem quanto deveria. Cheguei na sala e olhei para ela totalmente vazia.

- Boa tarde, dorminhoca! – Eu ouvi a voz de Meg atrás de mim e me virei para olhá-la.
- Que bom que te achei! – Eu sorri, aliviada. – Eu estou meio que.. perdida. – Eu comecei a andar em direção a ela.
- Na verdade, você está de ressaca. – Meg corrigiu e eu já soube o problema que havia causado na noite passada.
- Não me diga que eu bebi. – Eu fiz careta, indo até a mesa de jantar. Meg aparentemente tinha preparado uma bela mesa de café da manhã.
- Pra ser bem sincera, me lembro de ter visto você beber umas 5 doses de vodka. – Meg deixou explicita a minha situação da noite passada.
- Ai, não... – Eu suspirei, abaixando a minha cabeça e colando a minha testa na mesa. – O que foi que eu fiz? Que droga... – Eu suspirei, levantando a minha cabeça para olhá-la.
- Você não acreditaria se eu dissesse. – Meg segurou o riso.
- Acreditaria sim, porque essa não foi a primeira vez que aconteceu. – Eu me lembro do que me contaram da última vez. – Quem foi que eu agarrei dessa vez? – Eu perguntei sem dar tanta importância.
- Adivinha? – Meg manteve um sorriso engraçado no rosto.
- Eu não sei, eu... – Eu ia dizendo, quando me lembrei de ter acordado ao lado do Mark naquela manhã. – NÃO! – Eu abri a boca, incrédula.
- Pobre Mark... – Meg já não aguentava mais segurar o riso.
- Eu... – Eu não conseguia nem dizer isso em voz alta. – Eu fiquei com o Mark? – Eu arregalei os olhos.
- Infelizmente não. – Meg fez bico. – Mas não foi por falta de insistência. – Ela completou.
- Droga... – Eu não conseguia acreditar. – O que aconteceu? – Eu quis saber detalhes.
- Resumindo: você começou a beber e quando nós percebemos você já estava agindo como a Britney Spears. – Meg e suas referências. – Você começou a dançar e a rebolar até o chão e quando o Mark foi te resgatar, foi você que tentou resgatar ele. – Ela não entrou em tantos detalhes.
- Eu agarrei ele? – Eu fiz careta, esperando pela resposta.
- Agarrar? – Meg repetiu o verbo que eu havia usado. – Você não só agarrou, mas também chamou ele de gay, frouxo e se eu não estou enganada, você também chamou ele de gostoso pra caralho. – Ela resumiu.
- Maravilha! Rolou um strip-tease também? – Eu ironizei.
- Claro! Suruba sem strip-tease não é suruba, né? – Meg apenas quis me assustar.
- Você está zuando... – Eu paralisei.
- Estou. – Meg gargalhou, quando viu a minha cara de alívio. – Mas você teria feito um strip-tease se o Mark permitisse. – Ela arrumou.
- Como assim? – Eu não havia entendido.
- A sua sorte é que o Mark é um garoto de ouro! Aguentou você se esfregando nele e não cedeu a suas provocações. – Meg explicou, enquanto passava manteiga na torrada que havia preparado.
- Ele não quis ficar comigo? – Eu perguntei, surpresa e incomodada.
- Preferia que ele tivesse ficado? – Meg estranhou a minha pergunta.
- Não, eu... – Eu não sabia como explicar. – Como ele veio parar na minha cama? – Eu desconversei.
- Você estava mal e eu fiquei aqui pra cuidar de você, mas acabei dormindo. Aliás, desculpe por isso. – Meg forçou um exagerado sorriso, que me fez rir. – Eu acho que ele teve que ficar cuidando de você no meu lugar. – Ela explicou.
- Ele.. – Eu tentei esconder o espontâneo sorriso que sem querer surgiu no meu rosto. – Cuidou de mim? – Não consegui segurar o sorriso até o final da frase.
- Sim, ele fez esse esforço. – Meg ironizou, me fazendo rir e rolar os olhos.
- Nem me chamaram pro café? – Mark disse, enquanto descia as escadas. Eu e Meg olhamos para ele. Meg achou graça da cara de sono dele, enquanto eu achei ele todo uma graça. Ele ainda vestia aquela regata branca. Eu não sabia que ele era tão forte. Minha nossa! O que está acontecendo comigo hoje?
- Eu nem estou tomando café. Eu não estou muito bem... – Eu fiz careta e Mark sorriu, pois já sabia ao que eu me referia. Ressaca!
- Eu estava aqui contando pra ela sobre o quão divertida foi a noite passada. – Meg riu e Mark fez o mesmo.
- Oh, é! Noite passada.. – Mark afirmou com a cabeça, sentando-se na mesa junto comigo e com a Meg.
- Não se preocupe, você chegou a tempo para me ajudar a contar o pior da noite. – Meg e Mark trocaram olhares.
- Tem mais? – Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Infelizmente. – Meg e Mark voltaram a trocar olhares. Aquela notícia seria trágica pra mim.
- O que foi que eu fiz? – Eu respirei fundo. – Não pode ser tão ruim.. – Eu sorri de lado.
- Pode sim! – Meg afirmou com convicção. Eu olhei pro Mark para ter certeza de que ela estava falando sério e ele confirmou com a cabeça.
- Fala logo! – Eu fiquei mais preocupada.
- Ok, como eu posso te dizer isso... – Meg coçou a cabeça, pensativa. Mark não quis se manifestar.
- O que foi que eu fiz? – Eu repeti a pergunta ainda mais preocupada.
- Você... – Meg hesitou continuar. Talvez houvesse uma forma melhor de dizer aquilo. Não? Não. – , você... ligou pro . – Ela finalmente disse.
- Eu o que? – Eu estremeci por dentro. Que merda eu havia feito? - Eu.. liguei pra ele? – Eu repeti, já que a minha ficha pareceu não ter caído totalmente.
- Eu e a Meg tentamos impedir, mas você se trancou no quarto e... – Mark não achava que precisasse continuar.
- Eu... – Eu não sabia o que dizer. – Liguei? Ai que droga... – Eu estava me odiando. Levei uma das mãos até o meu rosto e passei por ele, sem saber o que fazer. – O que eu disse? – Eu tinha medo do que eu ia escutar.
- Você se trancou no quarto. Não deu pra ouvir. – Meg não ficou feliz em me dar aquela notícia. – Teve uma hora que eu ouvi você mandando ele calar a boca. – Ela assumiu.
- Só isso? – Eu precisava saber mais. – Eu contei toda a verdade será? Eu assumi que terminei com ele por que eu descobri sobre ele e a Amber? Será que eu disse pra ele que eu fui até lá no dia do meu aniversário? – Eu tinha tantas perguntas, que não cabia em mim. Eu estava desesperada, pois achei que tivesse fraquejado e dado o braço a torcer. Achei que eu tivesse dito o que eu tenho sofrido durante esse mês. – Eu não posso ter falado isso pra ele. Eu... – Eu comecei a ficar nervosa. – Ele não pode saber que ele me fez de idiota ou que eu sofri por tudo isso. Ele não... – Eu estava aflita, mas Mark me interrompeu para me tranquilizar.
- Você não disse... – Mark me olhou calmamente. Quando ouvi ele dizer aquilo, eu até senti um certo alívio. – Eu... – Ele sorriu, debochando de si mesmo. – Eu pulei a janela pra ir te ajudar. Eu ouvi você dizendo pra ele que a única coisa que te deixava feliz era a sua esperança de que um dia aguém faria ele passar pelo que você passou. – Mark disse mais sério. Eu me sentia melhor a cada palavra dita por ele. – Você disse que ele nunca deveria se esquecer de você conseguiu um cara melhor que ele. Você disse que agradecia por ele ter dado a chance de você conhecer alguém melhor... que ele. – Ele ficou meio sem jeito por estar me contando aquilo. Não queria que eu achasse que ele pensava que o ‘cara melhor’ era ele.
- Eu disse isso? – Eu sorri, sem mostrar os dentes.
- Ainda bem... – Meg também pareceu aliviada.
- E depois? – Eu queria que Mark me contasse mais.
- Depois... – Mark sorriu fraco. – Depois você desligou e começou a chorar. – Ele lamentou ter que me dizer aquilo.
- É claro! – Eu rolei os olhos e neguei com a cabeça. – Não podia faltar. – Eu ironizei.
- As lágrimas não tiram a sua glória, gata. Você acabou com ele! – Meg quis me animar. – Não era isso que você queria? Dizer umas verdades pra ele? – Ela questionou.
- Era, mas eu queria ao menos me lembrar como eu fiz isso. – Eu ri da minha própria desgraça.
- É bom que você não se lembre. Ele pode ter dito alguma coisa! Você não vai ter que viver com as palavras dele ou com o que você sentiu na hora, mas ele vai. – Meg estava tentando me fazer ver o lado bom daquilo.
- É, eu acho que você está certa. É melhor que eu não me lembre como foi... – Eu afirmei com a cabeça com um fraco sorriso. – Se quer saber, mesmo sem saber o que eu disse, o que ele disse ou o que eu senti, eu estou me sentindo estranhamente melhor hoje. Tirando a minha ressaca, é claro! – Eu disse, arrancando sorrisos do Mark e da Meg. – Não é que eu me sinta melhor, mas... – Eu não sabia explicar. – Não existe mais aquela angústia aqui dentro e nem aquelas palavras que estavam entaladas aqui na minha garganta. Eu sinto como se meu coração estivesse mais leve ou menos machucado. Eu não sei.. – Eu ri, pois estava me enrolando nas minhas palavras. – Eu acho que eu me sinto... livre de novo. – Eu olhei pro Mark e vi ele sorriu de lado.
- Você não se lembra mesmo de nada de ontem a noite? – Mark queria tanto que eu me lembrasse de alguma coisa que eu tinha dito a ele. Qualquer coisa!
- Eu me lembro de chegar na festa e começar a beber. Depois eu me lembro de estar dançando, me lembro de estar gritando com vocês e depois me lembro de estarmos em algum outro lugar... – Eu não me lembrava bem.
- Nós paramos em uma lanchonete. – Meg relembrou.
- É, eu acho que é isso. – Eu não consegui lembrar mesmo. – Depois nós estávamos aqui em casa. Você me deu um remédio. – Eu sorri pra Meg.
- É, eu dei. Isso foi antes de eu dormir. – Meg riu sobre olhares condenadores de Mark.
- Eu me lembro de estar sentada, conversando com o Mark sobre alguma coisa que eu não me lembro. Me lembro de conversar com ele e depois eu acordei hoje de manhã. – Eu expliquei. Mark parecia um pouco mais decepcionado do que queria parecer. – Inclusive, Mark... – Eu fiquei super sem graça. – Eu queria me desculpar pelas coisas que eu te disse na noite passada. Eu sinceramente não me lembro de nada, mas a Meg me disse que foi péssimo. – Eu estava mesmo envergonhada por aquilo.
- Eu... não levei nada a sério. Eu sabia que você estava... fora de si. – Mark negou com a cabeça.
- Eu não costumo ser nem um pouco educada e gentil quando eu fico bêbada. – Eu mordi o meu lábio inferior.
- Você foi... em alguns momentos. – Mark sorriu, sem mostrar os dentes.
- Bem, independentemente do que eu disse... – Eu me levantei e fui até a Meg. – Eu queria te agradecer. Apesar de ter dormido, eu tenho certeza que você me ajudou muito. – Eu abracei Meg por trás, passando meus braços em torno de seu pescoço e beijando uma de suas bochechas.
- Agradecer nada! Qualquer dia eu vou precisar que você faça o mesmo. – Meg riu escandalosamente.
- Pode contar comigo. – Eu pisquei pra ela, enquanto me afastava e ia em direção ao Mark. Quando cheguei até o Mark, eu me virei pra ele e ele continuou sentado. – E você também. – Eu me atrevi a me sentar de lado no colo de Mark, passando um dos meus braços por detrás do pescoço dele. Ele virou o seu rosto para me olhar e senti uma de suas mãos tocar as minhas costas apenas para que eu não caísse do outro lado. – Eu não me lembro se eu já te agradeci e nem me lembro muito bem de tudo o que você fez por mim, mas eu sinto que eu tenho que te agradecer. – Eu olhei pra ele de perto.
- Não precisa... - Ele sorriu, negando com a cabeça. Ele não achava que fosse necessário.
- Me deixe fazer isso, ok? – Eu dei uma bronca e ele sorriu ainda mais. Segurei o seu rosto e beijei uma de suas bochechas. Logo em seguida eu o abracei forte. Eu não sei mesmo o que havia acontecido na noite passada, mas Mark parecia diferente pra mim naquele dia. Ele passou seus braços em torno do meu corpo e quando ele olhou pra Meg, viu ela lhe lançar olhares e sorrisos maldosos. Ele revirou os olhos e sorriu, mas na realidade não era essa a reação que ele estava tendo por dentro.
Ficamos mais algum tempo ali. Meg passou a maior parte do tempo rindo e imitando as minhas danças da noite passada. Eu não me lembrava de nada, mas cheguei a reconhecer alguns passos que ela reencenou da noite passada. Apesar de ser o centro da zuação, eu não levei nada a sério e até entrei na brincadeira. Nós riamos como 3 idiotas, enquanto Meg e Mark tomavam o café da manhã.

- Ok! Já entendi, ok? Minhas danças não são tão boas quando estou bêbada. – Eu segurei o riso. – Chega de me zoar! Eu tenho que subir e ir tomar um banho. – Eu me levantei do colo de Mark. – Eu sinto que ainda estou cheirando a vodka. – Eu cheirei a mim mesma e fiz cara feia.
- Eu já vou pra casa também. Tenho alguns trabalhos pra fazer. – Mark apontou em direção a porta da casa.
- Eu também preciso ir pra casa antes que a minha mãe coloque a polícia atrás de mim. – Meg disse, fazendo com que eu e Mark gargalhássemos.
- Eu te levo, então. – Mark levantou-se da mesa.
- Eu vou aproveitar pra dormir um pouco pra ver se essa dor de cabeça passa. – Eu fiz careta.
- Eu deixei um comprimido do lado da sua cama. Tome ele antes de dormir. Você vai acordar melhor. – Meg receitou.
- Pode deixar, doutora. – Eu afirmei com a cabeça e ela rolou os olhos, enquanto ria.
- Vamos então. – Meg olhou pro Mark, que confirmou com a cabeça. Ela veio até mim. – Vê se melhora, ok? Hoje é sábado e temos outro porre pra tomar. – Meg beijou o meu rosto e em seguida olhou pro Mark, pois sabia que ele odiaria o seu comentário.
- Muito engraçado. – Mark fez careta. Ele sabia que era brincadeira. Veio em minha direção. – Se cuida, ta? Qualquer coisa você pode me ligar. – Mark também beijou o meu rosto.
- Pode deixar. – Eu respondi um pouco baixo. Estava sem graça por causa do beijo.
- Vejo você depois! – Meg gritou, indo em direção a porta.
- Obrigada por tudo! – Eu agradeci novamente, vendo eles saírem da casa.

Ninguém está olhando, né? Já posso sorrir culposamente pelo beijo que o Mark me deu? Já posso demonstrar os efeitos que ele me causou? Eu já tenho sentido isso nos últimos dias, mas hoje está algo fora do normal. O que aconteceu na noite passada? Será que ele me disse alguma coisa especial? Alguma coisa que mexeu comigo? Droga! Porque eu não consigo me lembrar? Seja o que for, o meu coração ainda se lembra.

- Me deixe adivinhar.. – Meg fez cara de quem estava refletindo sobre alguma coisa. Mark e ela estavam a caminho de sua casa. – O motivo desse belo sorriso tem a ver com a noite passada? – Ela continuou olhando para o amigo, que deixou de olhar para o trânsito para olhá-la com um sorriso bobo.
- Do que você está falando? – Mark desconversou.
- Você está muito a fim dela, né? – Meg não fez rodeios.
- O que? – Mark continuou a se fazer de bobo.
- Não vem com essa! Eu não sou boba. – Meg negou com a cabeça.
- Está falando da ? – Mark estava pensando em uma boa desculpa para dar.
- É claro que eu estou falando da ! Olha pra você! Parece até um idiota. – Meg gargalhou, recebendo olhares intimidadores de Mark.
- Ela é só... uma amiga. – Mark ergueu os ombros.
- Nenhuma amiga merece tanto cuidado, tanto carinho e tantos olhares e sorrisos bobos que você vive dando pra ela. Quer enganar quem? – Meg insistiu. – Eu vi o jeito que você ficou ontem quando ela disse aquelas coisas sobre você. Eu vi o jeito que você ficou quando ela estava se esfregando em você. Qual é! – Ela rolou os olhos.
- Aquilo não foi nada demais. – Mark sorriu, deixando de olhar pra Meg para voltar a olhar para o trânsito. – Mas se fosse... – Ele estava sorrindo daquele jeito sem graça agora. – Acha que alguma coisa daquilo pode ser verdade? Acha que... – Mark hesitou terminar a pergunta. – Acha que tem alguma chance dela ter falado sério? – Ela quis saber.
- Sinceramente? – Meg perguntou retoricamente. – Antes eu não achava. Teve uma época que eu pensei que você podia fazê-la esquecer do , mas depois eu vi que ninguém poderia fazer isso. – Ela estava um pouco mais séria agora. – Mas agora? Agora eu acho que você tem todas as chances. O é carta fora do baralho e ela está aberta a novas experiências. Eu não vejo ninguém que esteja mais perto de conseguir isso do que você. – Meg foi honesta. Ela sempre era honesta.
- Está brincando? Eu sou o único amigo que ela tem aqui. Não tem concorrência! – Mark riu das palavras mal ditas de Meg.
- E você vai esperar ter concorrência pra fazer alguma coisa? – Meg deixou de lado o deboche e focou no principal.
- Não é tão fácil como você faz parecer, ok? Nós somos amigos. Eu não posso simplesmente chegar nela. O que ela vai pensar? Que todo esse tempo que eu a consolei e a ajudei foi só uma preparação para a hora que eu quisesse dar o bote? – Mark realmente pensava em tudo.
- Você pensa muito e faz pouco, Mark. – Meg suspirou tediosamente. – Você gosta dela ou não gosta? – Ela questionou. – Estamos falando de sentimentos! Não precisa ser tão racional. – Meg aconselhou.
- Você não entende. – Mark negou com a cabeça. – Não dá! Eu não posso fazer isso. – Ele completou, fazendo Meg desistir de convencê-lo.

Algo impedia Mark de fazer o que ele tanto queria fazer. Algo muito maior do que parecia e do que todos sabiam. Os sentimentos que ele tinha por mim eram sim verdadeiros, mas havia outras coisas que ele deveria pensar antes de tomar qualquer atitude idiota. Ele foi fraco algumas várias vezes. Ele se declarou anteriormente e às vezes acaba cedendo aos meus pedidos tão difíceis de cumprir, como o da noite passada. Ele tinha que se controlar. Ele precisava parar de deixar os seus sentimentos falarem tão alto. Meg não sabia, mas ultimamente ele tem agido de qualquer forma, menos racionalmente.

- O que tanto você vê nesse celular? – perguntou, quando percebeu que não estava prestando muita atenção no que ele dizia.
- Nada! Eu só estou... – ficou totalmente sem graça. – Estou avisando a minha mãe que vou almoçar aqui. – Ele inventou uma desculpa qualquer. não queria dizer que estava conversando com , que havia acabado de dizer que estava chegando na casa de .
- Sua mãe, né? – riu, olhando desconfiadamente para .
- Você não devia estar ocupado com a sua nova namoradinha? – mudou o assunto.
- Ela não é a minha namorada. – rolou os olhos.
- Qual o nome dela mesmo? – perguntou, curiosa.
- Meg! – sorriu, sem graça.
- Ela deve ser maravilhosa, né? Viu ela só uma vez e está todo apaixonado. – não perderia a oportunidade de zoar o amigo.
- Maravilhosa? – ironizou. – A me mostrou uma foto dela. Ela é super gos... – Meu irmão começou a dizer com toda a empolgação até perceber que o fuzilava com o olhar. Ele coçou a garganta e fez aquela cara de quem tinha aprontado algo. – Eu quero dizer, ela é uma graça. – Ele consertou.



- Foi exatamente isso que eu achei ter escutado. – sorriu, enquanto cerrava os olhos para .
- Sério? Porque eu ouvi ele dizer ‘gostosa’. – foi inconveniente de propósito.
- Eu também, ! – continuava fuzilando com os olhos.
- Filho da mãe... – resmungou, matando com o olhar. A campainha tocou.
- Deixa que eu vou atender! – rapidamente se prontificou a atender a porta. Ele sabia que era .

estava um pouco nervosa, pois sabia que estaria lá. Ela ajeitou o seu curto vestido de verão e resolveu manter o seu ray-ban nos olhos. e parecem estar finalmente se acertando. Eles já ficaram algumas vezes aqui e ali, mas nada sério. Nada que pudesse ser assumido para os amigos. Eles não sabiam de absolutamente nada! e preferiram não contar nada por enquanto, pois eles já passaram por isso outras vezes e nem sempre deu certo. É melhor só assumir quando for algo realmente certo. O que não parecia ser uma vontade tão cogitada pelos dois. Não agora.

- Hey! – sorriu, sem jeito.
- Oi... – ficou surpresa. Não esperava que ele fosse abrir a porta.
- Entra! – apontou para o interior da casa com a cabeça.
- Onde estão todos? – entrou, procurando os amigos na casa que aparentava estar vazia.
- Eu não sei! Que tal se você me ajudasse a procurá-los? – segurou a mão de e foi para o lado oposto de onde estavam os seus amigos. Ela rapidamente soube do que se tratava.
- Ei, espera... – riu, sendo arrastada por para um dos corredores da casa. – O que está fazendo? Eles vão saber! – Ela sussurrou, tirando seu ray-ban dos olhos.
- Saber? – se fez de desentendido. Puxou para mais perto e a encostou em qualquer coisa que estivesse atrás dela. – Saber do que? – disse baixinho, enquanto segurava o rosto de com suas duas mãos. Ela não respondeu, mas o sorriso e a rápida encarada que ela deu nos lábios dele foram um sinal verde para . Ele a beijou sem pensar duas vezes. era alucinada pelos beijos de , que pareciam ser melhores do que qualquer outro que ela já tenha recebido. O beijo não era intensificado, mas eles não pareciam que pretendiam terminá-lo tão cedo. A campainha mudou o plano deles.
- ! Atende pra mim! – gritou do quintal.
- Que droga! Deve ser o . – suspirou, assim que finalizou o beijo. riu por ele estar tão irritado por eles serem incomodados.
- Vai lá! Espera um pouco pra dar tempo de eu chegar lá antes de vocês. – afastou-se de e começou a andar em direção ao final do corredor. Ela iria para o quintal.
- Está bem. – concordou, respirando fundo. Odiava ser interrompido daquela maneira. Correu até a porta, pois não queria que tocasse a campainha pela segunda vez.
- ! – forçou um sorriso assim que abriu a porta. – E ae, cara? – Ele estendeu a mão para que eles fizessem o seu rotineiro toque de mãos.
- Achei que a festa já tinha acabado. – sorriu, tocando a mão do amigo.
- Eu... – pausou para pensar em uma desculpa. – Eu estava no banheiro. – Ele apontou pro interior da casa. – Entra! – deu passagem para que adentrasse na casa. Fechou a porta em seguida.
- Estão no lá no quintal? – perguntou ao disfarçar as rápidas lembranças que teve ao entrar naquela casa novamente. A última vez que esteve ali ele estava comigo.
- Estão. Vamos lá! – e começaram a andar em direção ao quintal da casa. – Faz alguns dias que eu não te vejo. – Ele puxou assunto.
- Eu estive muito ocupado no trabalho nesses últimos dias. Cheguei atrasado na faculdade quase todos os dias. – fez careta.
- É por isso que eu não tenho te visto lá! – concluiu.
- Olha só quem resolveu aparecer! – gritou ao ver passar pela porta que dava acesso ao quintal.
- Por quê? Sentiram a minha falta? – abriu os braços ao sorrir para os amigos. Apesar de ter alguns assuntos para esclarecer, ele não podia negar que sentia falta dos amigos.
- Sentir a sua falta? – ironizou. – Eu tenho mulher e uma vida sexual ativa. Porque eu sentiria a sua falta? – Ele disse com aquela cara de pau. apenas rolou os olhos, enquanto escondia um sorriso.
- Legal te ver, cara. – estendeu a mão para o ex-cunhado, enquanto ria de sua frase anterior.
- Como está indo, Jonas? – e apertaram as mãos em meio a sorrisos.
- Ocupado. – rolou os olhos e afastou-se para ir cumprimentar os outros amigos. – Já sei! Você também tem uma vida sexual ativa, não é? – Ele brincou antes de dizer qualquer coisa.
- E continua um idiota! – sorriu para o amigo e beijou rapidamente o seu rosto.
- ! – foi até o amigo e eles apertaram as mãos.
- Como você está? – sorriu para o amigo.
- Ótimo! – fez questão de dizer aquilo para demonstrar sua força. Se havia alguém contando coisas sobre ele pra mim, essa pessoa não saberia que ele ainda estava uma droga.
- Você parece bem, . – disse ao cumprimentar o amigo.
- Deve ser porque eu estou bem. – tentou parecer amigável.
- Ótimo.. – forçou um sorriso, percebendo que ele estava olhando ela de maneira diferente.
- E então? O que nós vamos comer? – desconversou para que ninguém percebesse o seu estranho comportamento.
- Nós fazemos o churrasco e as garotas cuidam do arroz e da salada. – olhou para as garotas para saber se elas aprovavam.
- Pode ser. – afirmou com a cabeça. – Vamos, . – Ela cutucou a amiga, que se afastou com ela em direção a cozinha da casa.
- Você sabe fazer isso? – perguntou ao referindo-se ao churrasco.
- Eu vi o meu pai fazendo algumas vezes, então... – ergueu os ombros.

pareceu ter aprendido direitinho com o meu pai. Ele conduziu a churrasqueira muito bem. Os garotos faziam companhia, enquanto bebiam alguma coisa. Eles conversavam de assuntos variados. Eles colocavam o assunto em dia lá fora e as garotas colocavam os delas lá dentro.

- Sabe que nessas horas eu sinto falta das garotas? Quando estamos todos juntos assim... – sorriu fraco.
- Pelo menos com a nós falamos, mas a ? – negou com a cabeça.
- Eu tentei falar com elas algumas vezes. Ela nunca está em casa ou atende o celular. – explicou.
- Eu tentei falar com ela algumas vezes também, mas parece que ela está nos evitando. – achava aquela situação muito estranha. Porque estava evitando todo mundo?
- Ela brigou com a , mas não precisava se afastar de todo mundo. – concordou.
- Eu acho que ela está fazendo alguma coisa. Talvez esteja ocupada, não sei. – tentou achar uma justificativa.
- Pode ser.. – não descartou a hipótese. – Mas e a ? Tem falado com ela? – Ela quis saber.
- Falei com ela há uns dois dias. – sorriu. – Ela está bem, sabe? Apesar de tudo. Ela está se recuperando. – Ela explicou.
- Falei com ela na semana passada. Ela estava com o Mark. – disse como se não quisesse nada. Na verdade, ela estava querendo saber se havia algo a mais entre mim e o Mark.
- Eles andam bem próximos agora. Acho que ele está ajudando ela a superar... – demonstrou que não sabia de nada.
- Não deve ter sido fácil terminar com o e depois com esse outro cara que ela conheceu. Ainda bem que o Mark está lá por ela. – sorriu fraco.
- Acha que ela pode dar uma chance pra ele? – quis saber a opinião de .
- Que o não me escute, mas eu acho. Eles sempre se deram bem e ele é bem bonito. – foi honesta.
- Não acho que o esteja se importando tanto. – rolou os olhos.
- Eu acho que ele está com raiva dela. Levar um fora assim não deve ser nada legal. – fez sua análise.
- Com raiva? Depois dizem que as mulheres é que são complicadas. – suspirou, negando com a cabeça. havia beijado umas 10 garotas nos últimos dias. Que moral ele tem pra ter raiva?
- Concordo plenamente! – segurou o riso.

prestava a atenção na conversa dos amigos, mas não deixava de pensar qual deles teria me contado sobre a Amber. e são os meus melhores amigos. Eles têm todos os motivos do mundo pra me contar. ? É o meu irmão. Super suspeito! estava de rolo com a Meg e foi o único que foi até Nova York me visitar. Também tem a , que é a minha cunhada. Qualquer um deles poderia ter me contado sobre ele e a Amber, mas quem?

- E então? O que vocês tem feito? Vocês três solteiros não deve prestar. – quis saber das novidades.
- Comecei a procurar emprego nessa semana. Nem tenho tempo pra pensar nessas coisas. – mentiu na cara dura. Ele não contaria sobre .
- As coisas lá na empresa também estão bem corridas. Um dos sócios da empresa vai se aposentar e está passando todas as funções dele pra mim. Então eu estou mesmo ocupado. – explicou. – Mas sempre dá tempo de ver algumas amigas e convidá-las para ir até a minha casa. – Apesar de ser mentira, ele tinha que dizer aquilo. Já que tem alguém contando tudo o que acontece com ele pra mim, ele quis deixar bem claro que não estava sozinho só para que a notícia chegasse até mim.
- Nossa, mas que dúvida! – negou com a cabeça.
- Eu tenho estudado bastante. Não vou trabalhar ainda, já que a faculdade não me deixa tempo livre. – rolou os olhos.
- É, mas tempo pra ir pra Nova York você teve, né? – olhou pro com malícia.
- Foi só um final de semana! – sorriu, sem jeito. Ele sabia que estava falando sobre Meg.
- Foi o bastante, malandro! – retrucou.
- Por quê? O que aconteceu em Nova York? – se atreveu a perguntar, mesmo sabendo que corria o risco de se arrepender depois.
- Não foi nada... – rolou os olhos.
- O pegou a amiga da minha irmã. – nem foi sutil.
- Quem? – sorriu pro , pensando em quem poderia ser. Logo depois ele se deu conta de que só podia ser uma pessoa. – A Meg? – O sorriso se transformou em uma engraçada careta.
- A própria! – afirmou, rindo.
- Não brinca comigo! – continuou fazendo careta.
- Qual o problema? – não entendeu a indignação do .
- Ela é gostosa. – ergueu os ombros.
- Ela é insuportável! – negou com a cabeça.
- Mas continua sendo gostosa. – sorriu pro .
- Porque não gosta dela? – olhou pro , curioso.
- Ela também não gosta de você. – relembrou do jeito com que Meg sempre falava do .
- não gostando de uma gostosa. Essa é nova! – A zueira nunca acabava para .
- É, você não é mais o mesmo, . – também brincou.
- É, mas todas as gostosas que eu pego não são insuportáveis. – argumentou a seu favor.
- Exceto a Amber, é claro. – adicionou.
- Não! Ela é mais insuportável que a Amber. – afirmou, negando com a cabeça.
- Não existe uma garota mais insuportável que a Amber. – foi honesto, mas manteve o tom de brincadeira.
- A sua irmã é mais insuportável que a Amber. – afirmou um pouco mais sério, mas ainda mantinha um sorriso no rosto.
- O que? – arqueou uma das sobrancelhas para o amigo. Não achou que tivesse escutado direito.
- Qual é! Ela é um porre! – Havia um certo sarcasmo nas palavras do .
- Nossa! Ainda não superou? – já nem ficava tão irritado.
- É isso o que você diz pra ela? – aproveitou para entrar no assunto que tanto queria.
- Eu? Cara, eu não me envolvo mais nos problemas de vocês não. – colocou o corpo fora.
- O churrasco está pronto? Nós terminamos lá dentro. – disse, assim que ela e se aproximaram dos garotos.
- Que ótimo que vocês estão aqui. Eu quero mesmo falar com todos vocês. – sorriu falsamente para cada um dos amigos. – E então, quem foi? – Ele abriu os braços.
- Quem foi o que? – não entendeu o que ele estava perguntando.
- Quem foi que falou pra sobre a Amber? – ficou um pouco mais sério.
- O que!? – fez careta. Do que é que ele estava falando?
- Caralho! – se irritou por todos estarem se fazendo de bobos. – A sabe sobre a Amber! Eu quero saber quem foi que contou pra ela! – refez a pergunta pela terceira vez. Ele começou a ficar irritado.
- E porque você acha que a sabe? – encarou , séria.
- Eu não sei! Talvez seja porque ela me ligou no meio da noite. – foi sarcástico com .
- Ela te ligou? – abriu a boca, surpresa.
- Ligou! – forçou um novo sorriso. – Com direito a gritos, insultos a mim e a Amber. É por isso que eu quero saber: quem foi que contou pra ela sobre a Amber? – Ele voltou a questionar.
- Então é por isso que você está tão estranho hoje? – sorriu, negando com a cabeça. Meu irmão e suas palavras ditas em horas erradas.
- Estranho? – também sorriu com irônia. – Eu to puto! Eu estou furioso porque alguns dos meus amigos ficam contando coisas da minha vida pra minha ex quando eu pedi pra eles não contarem merda alguma! – alterou um pouco o tom de sua voz.
- .. – tentou acalmar , mas ele nem deu a chance.
- Eu quero saber quem foi, caralho! – interrompeu sem hesitar.
- Qual o problema, ? Porque está tão nervoso? Foi só um telefonema. – tentou amenizar a situação.
- Não foi só um telefonema! – olhou pro , irritado. – Ela me traiu! Ela me fez passar o inferno e depois me ligou as 3 da manhã me dizendo absurdos! – Ele explicou.
- Esquece isso! – aconselhou.
- Eu não vou esquecer! – negou com irritação. – Eu nunca vou conseguir esquecer as coisas que ela me disse, mas dane-se como eu me sinto! Eu não quero ouvir palavras de amizade ou abraços! Eu quero saber quem foi que contou pra ela! – Ele não demonstrava nenhum sinal de fraqueza. Havia treinado muito para isso. – O que mais contaram pra ela? A minha promoção no trabalho? A briga no boliche? As garotas que eu peguei na semana passada? A minha primeira vez com a Amber? – abriu os braços.
- Ei, ei, ei, ei... – negou com a cabeça e com um dos dedos. – Espera só um pouco! – Meu irmão o olhou, surpreso.
- Você disse ‘primeira vez com a Amber’ ? – arqueou a sobrancelha.
- Ai não... – fez careta, negando com a cabeça.
- Com a Amber? SÉRIO? – não se conformou.
- Antes com a Amber do que com a minha irmã, né? – ergueu os ombros. Alguém cala a boca do meu irmão?
- Querem contar isso pra ela também? – sorriu de forma sarcástica. – Contem! Podem contar! Aproveitem e falem pra ela que foi ótimo! Falem pra ela que eu estou muito feliz! – Ele respirou antes de dizer a próxima frase. – E, por favor, peçam pra ela para que na próxima vez que ela pensar em me ligar enfiar a porra do celular no cu do filho da puta que ela anda beijando! – disse um pouco mais alterado.
- Se eu não conhecesse a minha irmã e não soubesse os absurdos que ela provavelmente te falou eu já teria te jogado da janela do quarto dela só pra tornar a sua morte mais patética. – disse com todo o seu sarcasmo.
- Vai se ferrar, ! – demonstrou impaciência com as gracinhas de .
- Porque acha que foi nós? – ignorou o papo furado e foi para o que realmente estava lhe intrigando.
- Por quê? – sorriu ironicamente. – Eu não sei! Talvez seja por que as outras duas pessoas na minha lista são a minha mãe e a minha irmã de 8 anos! – Ele começou a frase com um sorriso e terminou sério.
- Ah, é claro! Porque a santa da Amber não poderia ter feito isso, não é? – negou com a cabeça.
- A Amber? – repetiu o nome da amiga em meio a risos. – Acha mesmo que ela faria alguma coisa que poderia me aproximar da ? – Ele abriu os braços. – Já acabou! A minha história com a acabou! Não tem porque alguém querer acabar com o que nós temos, porque não existe mais nada com o que acabar. – afirmou, sério.
- Se você está lidando tão bem com tudo isso, porque você se importa tanto? Porque você não quer nem ouvir o nome dela? Porque se importa se ela te ligou ou não? – foi além.
- Eu não me importo! – afirmou mais uma vez. – Eu não me importo com ela! Eu não me importo se ela está bem ou mal! Eu não ligo se ela está feliz ou triste! Eu não ligo se ela está sozinha ou está beijando 15 em uma só noite! Eu não me importo! – Ele votou a se irritar. – Eu me importo com os meus amigos e com o que eles andam fazendo por mim. Eu me importo se eles respeitam a única coisa que eu pedi pra eles até hoje! Droga! – se exaltou ao explicar seus motivos e também porque não aguentou ver alguém insinuar que ele ainda se importava comigo.
- Eu continuo mantendo a minha palavra. – se antecipou.
- Eu também! Eu estive lá há algumas semanas e nós nem falamos sobre você. – preferiu não dizer que eu havia perguntado dele.
- Estou velha demais pra ficar fazendo fofoca. – rolou os olhos.
- E eu contaria se eu me importasse, mas como eu não me importo. – ergueu os ombros. – Contanto que você não a machuque. – Meu irmão... sempre cuidando de mim.
- ? – olhou para ela. A única que ainda não se manisfestado. não sabia sobre as fotos da Amber e do que haviam chegado até mim, mas ela sabia como eu tinha ficado sabendo sobre os dois. Ela sabia que eu descobri tudo no dia que eu vim até Atlantic City no dia do meu aniversário. O que ela deveria dizer? Ela não podia contar, mesmo querendo muito jogar na cara dele que quem foi que me contou foi ele mesmo e as suas atitudes.
- Não fui eu, ok? Eu não fico falando sobre você. Ela não gosta de falar sobre você! – se explicou, irritada.
- Não foi ninguém, então? – sorriu, irônico. – Ótimo! – Deixou de olhar para os amigos por um momento e negou com a cabeça. – Olha, eu não sei quem foi e nem porque, mas... – Ele hesitou continuar. – Só pare, ok? Quem quer que seja, pare! Vocês são os meus amigos! Eu preciso que vocês me ajudem a me ajudar. – já não disse com toda a raiva de antes.
- Como você quer se ajudar transando com a Amber? – abriu os braços. a olhou e viu o mesmo olhar de julgamento das últimas semanas. Ele não aguentou e precisava falar.
- Qual é o problema, ? – deixou a emoção de lado para finalmente tentar resolver algo que estava o intrigando.
- Que problema? – desconversou.
- O seu problema comigo! Porque está me tratando desse jeito? Porque toda vez que você me olha você parece estar me julgando!? O que foi? – aproximou-se dela. – Sua amiga colocou você contra mim? É isso? Ela me odeia e aposto que vive falando mal de mim pra você. – Ele queria perguntar isso a tempos.
- Você está maluco! – continuou desconversando.
- Eu te conheço desde sempre! Acha que eu não percebo? Achou que eu não notaria o jeito com que você vem agindo comigo? – a pressionou. Todos outros amigos observavam a cena sem se manifestar.
- Não tem problema nenhum, ! Que saco! – negou com a cabeça. Ela não podia dizer a verdade. – É só que... – Ela suspirou sem saber muito o que dizer. – Acho que você tem que parar de ficar procurando um culpado pra tudo e começar a se perguntar se o culpado não é você. – Ela finalmente disse. As palavras dela causaram uma estranha impressão em e fez ele olhar pra ela por um tempo sem dizer absolutamente nada.
- O que você quer dizer com isso? – perguntou, olhando-a com um pouco de desconfiança.
- Eu quis dizer o que eu disse. – voltou a desconversar e até deixou de olhá-lo.

Não tocaram mais naquele assunto, mas aquilo ficou na cabeça dele. Abandonou a ideia de que queria lhe dizer algo com aquela frase e começou a pensar se o que ela havia dito era verdade. Ele havia errado também? Ele tinha alguma culpa no final da nossa história? Não. Não pode ser. Ele estava naquele parque na hora e no dia marcado. Ele esperou por mim todo aquele tempo. O que tem de errado nisso? O que ele poderia ter feito para me fazer querer acabar com tudo ou até mesmo procurar outra pessoa? Será que eu simplesmente encontrei um novo cara ou encontrei um substituto pra ele? Isso acabaria deixando ele louco.

Os amigos fingiam que não percebiam o quão estava abalado com a sua atual situação. O quanto ele estava diferente nos últimos meses desde que nós terminamos. Todos eles notaram um mais impaciente, mais explosivo e sem paciência. surtava por todo e qualquer motivo que estivesse ligado a mim e isso parecia mais um grito de socorro para os amigos. Naquele mesmo churrasco, eles perceberam pensativo, enquanto estava sentado um pouco mais afastado de todos. Todos o conheciam bem demais para não notar. Pensaram que talvez fosse melhor dizer que aquele cara que eu disse existir na carta já não existia mais. Era o que eles sabiam. Eles sabiam que eu havia terminado com o ‘tal cara da faculdade’. Talvez se eles contassem isso pro , ele ficaria menos intolerante e menos chateado com tudo. Talvez se ele soubesse, ele pararia de se manter tão focado nos estudos e no trabalho só para não pensar em seus problemas. Eles não contariam, porque disse que não queria ouvir. também não contaria porque havia prometido pra mim.

Os dias e as semanas passavam e as coisas pareciam ficar estranhamente mais fáceis para ambos. parecia ter deixado todo e qualquer sentimento de lado. O seu comportamento mudava a cada dia mais. Todos em sua volta percebiam que ele dizia tudo o que pensava sem se importar se estava machucando alguém ou não. Ele dizia grosserias e era insensível sem nem ao menos perceber. Ele não se importava mais. Ele não se importava nem um pouco em beijar 3 garotas na mesma noite e adorava expor os seus números e recordes para os amigos. basicamente havia apertado o famoso botão do ‘FODA-SE’. Os amigos entenderam esse novo lado do como uma forma de extravasar os seus sentimentos e vontades. Se agir desse jeito era o jeito dele se sofrer, o que os amigos poderiam fazer? Absolutamente nada. Mesmo sendo um irresponsável com a sua vida pessoal, a vida profissional do continuava melhorando. Ele era um talento dentro de sua empresa, que havia conseguido o dobro de contratos que costumava conseguir em um mês. agora cuidava só dos grandes contatos da empresa e era o publicitário mais requisitado dentro da empresa. Ele viajava quase sempre para negociar com empresas de grandes status do mundo esportivo. Pelo menos toda essa decepção serviu para alguma coisa: revelar o grande talento de .

As mudanças também aconteciam na minha vida, mas de forma totalmente diferente. Eu estava voltando a me encontrar. Não havia mais porta-retratos para me fazer lembrar e sofrer por alguém que não estava mais ali. Havia sim algumas memórias. Eu não posso dizer que apaguei totalmente da minha vida porque eu ainda me pego lembrando dele algumas vezes. Eu ainda sinto curiosidade de saber como ele está e com quem ele está, mas isso já não me machuca tanto. Não dói tanto pensar nele. Não dói tanto o fato de eu estar me esquecendo da voz que tantas vezes cantou pra mim. Eu estava bem depois de tanto tempo e eu não vou ser egoísta em dizer que consegui isso sozinha. Mark estava lá! Ele estava lá todos os dias. Todos os dias em que eu provavelmente estaria lembrando do , eu estava me divertindo com o Mark. Nada explica o quanto nos aproximamos nas últimas semanas. Nós riamos de qualquer idiotice e eu tinha aquela estranha mania de arrumar qualquer pretexto para tocar nele.

Meg não poderia ser ignorada. Ela também é parte dessa minha mudança. Especialmente a mudança física. Ela havia me encorajado a mudar um pouco o meu visual. Mudei um pouco o corte de cabelo, repiquei algumas partes dele e também cheguei a fazer algumas luzes. A nova fase do meu cabelo era reflexo da nova fase da minha vida. Apesar de Mark ter adorado a mudança, a responsabilidade dele sempre foi a da mudança interior. Eu não consigo entender como, mas ele estava conseguindo. A cada dia eu notava a minha ansiedade para vê-lo e também percebia o meu nervosismo perto dele. Eu ficava falando coisas idiotas e dando sorrisos desnecessários. Ele tinha aquela mania de ser tão carinhoso e estar sempre me enchendo de agrados, abraços e beijos no rosto. Ele era o cara mais gentil, educado e carinhoso do mundo. Mark era o tipo de cara que você olhava e pensava: esse é o marido que toda a mulher quer. Apesar de toda a doçura dele, também tinha aqueles olhos e aquele corpo que me deixava totalmente sem palavras. Ele era do tipo perfeito. Perfeito até demais.

Diferente do e do Peter, Mark e eu nunca brigamos. Nós pensávamos igual e tínhamos personalidades parecidas. Nós gostávamos das mesmas coisas e nos entendíamos tão bem que eu tinha até medo de estar confundindo esses estranhos sentimentos com afinidade. Estranhos sentimentos sim, porque eu não conseguia nomeá-los de outra forma. Eu só sabia que eu tinha essa estranha necessidade de ficar perto dele e de ficar fazendo ele sorrir. Eu queria que ele gostasse de mim. Talvez eu quisesse que ele gostasse de mim como antes, quando eu dei aqueles foras nele. Eu sei, é idiotice lembrar disso agora, mas o Mark já gostou de mim e me incomodava saber que eu havia perdido aquele sentimento. Me incomodava muito lembrar que antes eu havia rejeitado algo que agora eu pareço querer tanto.

Mark não estava feliz consigo mesmo. Às vezes ele achava que estava forçando algo, mas em outras vezes ele percebia que estava sendo apenas idiota. A nossa proximidade fez ele pensar que algo diferente pudesse estar acontecendo entre nós, mas ai ele se lembrava que havia prometido anteriormente que seriamos só amigos. Ele não quebraria a sua promessa, mesmo querendo muito quebrá-la! Ele se recusava a pensar que eu finalmente pudesse estar sentindo alguma coisa por ele. Mark insistia em ignorar os meus olhares que tantas vezes ficavam fixos em seus lábios, quando nos aproximávamos tanto. Ele fingia que não percebia os meus agrados e a minha vontade excessiva de estar sempre em seus braços. Mark era ótimo em se fazer de bobo quando eu dizia indiretas que eram quase que jogadas na cara dele.

Um mês havia se passado e continuávamos naquela mesma situação. Nós saiamos juntos para todos os cantos. Eu arrastava ele para o shopping e pedia a sua ajuda para me ajudar a escolher uma roupa nova. Eu adorava quando ele aparecia de surpresa na porta da minha faculdade, dizendo que tinha ido me ver e que queria que fossemos almoçar no nosso restaurante favorito. Ele sempre me levava para ver aqueles filmes cheios de ação no cinema. Mark e eu éramos inseparáveis agora, mas parece que continuaríamos naquela zona de amizade para sempre.

- Não acredito que você quase beijou aquele cara ontem. – Meg gargalhou ao lembrar da noite passada. Fomos a um barzinho do outro lado da cidade e Mark nos acompanhou.
- Ele era bonito, mas era meio babaca. Sabe? Só falava coisas idiotas. – Eu rolei os olhos, fazendo careta.
- Sabe que eu tive a mesma impressão? – Mark se intrometeu na conversa. Estava sentado no sofá ao lado.
- Como teve a mesma impressão? Você nem falou com o cara. – Meg achou uma brecha para infernizar Mark.
- Você viu como ele chegou na ? – Mark fez cara de deboche. – ‘Oi, eu não posso te deixar ir embora antes de falar comigo.’ – Ele imitou a voz do cara da noite passada. – Qual é! – Mark voltou a debochar.
- Eu achei que foi legalzinho. – Eu sorri e ergui os ombros.
- Alguém devia falar para ele parar de ficar usando as cantadas do avô dele. Os anos 60 não estão mais na moda. – Mark aproveitou para zoar o garoto.
- Nossa! – Meg achou graça da frase de Mark.
- Não foi tão ruim assim. – Eu defendi o garoto.
- Qual é! Foi péssima! – Mark sorriu e negou com a cabeça.
- Quem você acha que é pra falar? Eu nunca vi você chegando em nenhuma garota. – Meg o desafiou.
- Eu sou discreto! – Mark se defendeu.
- Discreto? – Eu arqueei a sobrancelha, interessada no assunto.
- E qual a cantada que você usa quando é discreto? – Meg também ficou curiosa.
- Eu não posso dizer! – Mark riu da nossa cara.
- O que? Porque não? – Eu sorri com indignação.
- Aposto que é péssima! – Meg continuava desafiando ele.
- Cantada é uma coisa preciosa pra um cara. Você não pode ficar espalhando ela por ai. Quanto menos mulheres saber, melhor. Elas espalham umas para as outras e deixa de ser original. – Mark argumentou em sua defesa.
- Cantadas são pra ser usadas com as mulheres. Se elas não podem ouvir as cantadas, qual o sentido? – Eu ajudei Meg.
- Elas só podem saber quando forem cantadas. Esse é o sentido! – Mark explicou-se.
- Beleza! Mostre pra mim! – Eu tomei coragem pra dizer. Eu me levantei do sofá e olhei pra ele.
- O que? – Mark riu, achando que eu estivesse brincando.
- Bem, eu estou aqui! Eu aceito ser usada como cobaia. – Fui eu que o desafiei agora.
- Não funciona assim! – Mark riu, enquanto rolava os olhos.
- Funciona sim! Quer ver? – Meg se levantou do sofá e foi até mim. Soltou o meu cabelo e o ajeitou. Eu achei graça quando ela abaixou um pouco mais o meu shorts jeans e deixou um pouco da minha cintura a mostra. – Pronto! – Ela voltou a se sentar.
- Viu só? Sou uma garota, estou te olhando de longe há tempos. O que você vai fazer? – Eu abri os braços e sorri pra ele. Mark me observou de longe e se perdeu no meu sorriso. A minha cintura um pouco a mostra e o meu cabelo estrategicamente jogado para um dos lados e caindo por cima dos meus ombros o deixou desconsertado.
- Mark? – Meg o chamou, pois ele estava me olhando há alguns segundos.
- Eu não vou fazer isso! – Mark voltou a se recusar. Ele estava muito sem graça e não se atreveria a chegar perto de mim.
- Vou te ajudar! – Eu estava bem cara de pau naquele dia mesmo. Andei até ele e agarrei uma de suas mãos. Usei toda a minha forma para levantá-lo daquele sofá e colocá-lo de pé na minha frente. – Está vendo? Já é meio caminho andado. Estou bem na sua frente. – Eu voltei a abrir os braços para demonstrar que estava a sua disposição.
- Quer saber mesmo qual é a melhor cantada de um cara? – Mark me olhou de mais perto e sentiu o coração disparar quando me viu olhar para os seus lábios por poucos segundos.
- Quero! – Eu afirmei com um fraco sorriso. Mark não tirou os olhos de mim, o que me fez ficar um pouco nervosa. Ele estava há uns dois passos de mim e eu já estava me convencendo de que ele se recusaria novamente a continuar com aquilo.
- A melhor cantada de um cara é... – Mark continuou dizendo sem tirar os olhos de mim. Eu ainda esperava pelo final da sua frase, quando ele esticou o seu braço e com a sua mão puxou a minha cintura e rapidamente a colocou na sua. Ele me pegou totalmente desprevenida. Uma das minhas mãos apoiou-se em seu braço e a outra tocou parte do seu rosto. Os belos olhos verdes dele agora estavam em minha frente e eu conseguia vê-los com perfeição. Só deixei de olhá-los, quando ousei a olhar para os lábios dele só para ter certeza de que eles estavam próximos aos meus. – É não ter cantada. – Mark finalmente terminou a sua frase. Quando os olhos dele se abaixaram para olhar os meus lábios, o meu coração pareceu ter parado. – Ele deve chegar e beijar. – Meus olhos continuavam acompanhando os movimentos que os lábios dele faziam, enquanto ele falava. – Ele pode até levar o fora depois, mas conseguiu o que queria, não é? – A respiração dele vinha direto em meus lábios, que estavam há uns dois dedos de distância dos dele. Que vontade de beijá-lo! Que pegada! Que olhos! Que braços! Que lábios! Que homem! Senti vontade de agarrá-lo novamente quando ele olhou para os meus lábios pela última vez e se afastou.
- Wow... – Meg estava chocada. Ela não tinha certeza se tudo aquilo foi só encenação. Eu ainda estava paralisada e tentava me recuperar.
- Viu? – Mark conseguiu se recuperar mais rápido que eu. Ele sorriu pra Meg para disfarçar a cara de bobo.
- É realmente uma pena que você seja como um irmão pra mim. O que acha de ensinar isso pro ? – Meg disse em meio a risadas.
- Eu já disse! Tenho que manter a originalidade. – Mark achou graça do comentário da Meg e a risada dele me fez acordar daquele transe em que eu me encontrei.
- Uau... – Eu sorri, totalmente sem palavras.
- Melhor do que a do cara da outra noite, não é? – Mark sorriu pra mim, que ainda estava na frente dele.
- Se ele tivesse feito metade do que você fez, ele teria conseguido o que queria. – Eu disse em meio a um suspiro e um desajeitado sorriso. Eu me afastei e voltei a me sentar ao lado de Meg.
- Eu disse! – Mark abriu os braços se achando o foda.
- Eu nunca mais te desafio. Eu juro! – Meg continuou a se mostrar surpresa e eu ainda estava meio atordoada.
- Nem eu... – Eu ri, negando com a cabeça. Foi a única coisa que eu consegui dizer.

O que foi essa sensação maluca que eu acabei de sentir? O que foi essa vontade maluca de beijar aquela boca? Não pode ser carência e nem aquela maldita cantada que ele havia demonstrado. Porque eu estava tão decepcionada por nada daquilo ser real? Porque eu desejei tanto para que ele terminasse aquela maldita encenação? Porque diabos eu estou imaginando como é o beijo dele? Droga! O que está acontecendo comigo? Todos aqueles sentimentos; todos aqueles sorrisos; todos aqueles abraços e trocas de carinhos; toda aquela vontade de estar do lado dele; toda aquela necessidade de fazê-lo gostar de mim; toda aquela decepção por não tê-lo novamente nos meus pés pedindo por uma chance. O que tudo isso quer dizer? Eu estou afim dele? Eu estou mesmo afim dele? Droga, eu estou. Eu estou muito afim dele! Fodeu!

- É uma pena que sua vida social seja uma droga. Isso deveria ser colocado em prática mais vezes. – Meg continuou a irritá-lo.
- O que é isso no seu olhar? Pena? – Mark cerrou os olhos em direção a Meg. O sorriso dela aumentou.
- Na verdade, eu acho que é uma ideia. – Meg arqueou uma das sobrancelhas com aquela cara de malandra.
- Oh não... – Mark riu de forma debochada e revirou os olhos. A atitude dele me arrancou um sorriso.
- Certo. Quem pergunta dessa vez? Você ou eu? – Eu olhei pra ele entre sorrisos. Mark fez cara de pensativo.
- Você, porque dá ultima vez já fui eu. – Mark afirmou com a cabeça e apontou pra mim. Meg revirou os olhos. Era sempre a mesma história quando ela dizia que tinha uma ideia.
- Está bem. – Eu suspirei longamente e olhei para a Meg. – Qual a sua ideia, Meg? – Eu tentei me manter séria.
- Isso já está ficando chato! – Meg nos fuzilou com os olhos e eu e Mark trocamos sorrisos confidentes. – A ideia não é tão ruim dessa vez! Eu juro! – Ela não resistiu e sorriu.
- Fala.. – Mark deu a chance para que ela falasse.
- Bem, a sua vida social é uma droga e está mais do que na hora de você reverter essa situação. Foi ai que eu me dei conta de que falta apenas 3 dias para o seu aniversário. – Meg pausou e sorriu com empolgação. – E qual seria a melhor forma de dar uma movimentada na sua vida social se não fazendo uma festa de aniversário? – Ela perguntou retórica.
- Hm, interessante. – Eu demonstrei estar impressionada. As ideias de Meg geralmente são uma porcaria.
- Não. – Mark foi claro e objetivo.
- Ah, qual é! Porque não? – Meg perguntou completamente frustrada.
- Porque não. – Mark apenas ergueu os ombros.
- Espera! A ideia não é tão horrível dessa vez. – Eu fui a favor de Meg. Seria legal, não é?
- Não é horrível, é péssima. – Mark sorriu debochadamente.
- Por quê? – Meg abriu os braços.
- Porque acha que a minha vida social é uma droga? Eu preciso de convidados para fazer uma festa. Uma festa é demais para nós 3, não acha? – Mark foi meio irônico.
- Até parece que você não tem amigos no faculdade! – Meg retrucou.
- E além disso, tudo é festa em uma universidade. Basta entregar os convites na universidade que vai aparecer muito mais gente do que você imagina. – Eu continuei ajudando a Meg.
- Uma festa de aniversário cheia de desconhecidos é tudo o que eu sempre sonhei. Como vocês adivinharam? – Mark voltou a ironizar.
- O que importa é que nós vamos nos divertir! – Meg argumentou.
- Não! Esquece. – Mark continuou a negar.
- Eu gostei da ideia. – Eu ergui os ombros e recebi olhares condenadores de Mark.
- Está bem! Se você não quer, nós vamos fazer uma festa surpresa. – Meg afirmou com um sarcástico sorriso.
- Com certeza eu vou ficar muito surpreso. – Mark gargalhou apenas para debochar da frase anterior de Meg.
- Todo mundo sabe que a única coisa que você odeia mais do que uma festa é uma festa surpresa! – Meg era boa e bem esperta.
- Vocês estão mesmo falando sério? – Mark percebeu que estávamos mesmo levando aquela ideia a sério.
- Sua mãe está viajando e a sua casa vai estar vazia. Qual o problema? Nós vamos cuidar de tudo. – Eu continuei tentando convencê-lo.
- Sim, nós vamos cuidar de tudo! – Meg concordou comigo.
- E o que é que vocês sabem sobre dar festas? – Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Eu já dei algumas festas em casa e se não fosse pela TV e pelo vaso de R$ 5.000,00 da minha mãe elas teriam sido um sucesso. – Meg disse em meio a risos.
- Eu também ajudei a planejar a festa da minha amiga uma vez. Foi ótima! – Eu me recordei da festa da .
- Está bem, só pra eu saber. – Mark nos olhou. – De zero a cem, quais as chances de eu fazer vocês desistirem dessa ideia? – Ele perguntou.
- Zero! – Eu e Meg respondemos juntas.
- Que ótimo... – Mark riu e negou com a cabeça.
- Isso quer dizer que você concorda? – Meg esperou ansiosamente pela resposta de Mark. Ele nos olhos e viu o quanto estávamos empolgadas para fazer aquilo pra ele.
- E eu tenho outra alternativa? – Mark disse depois de muito mistério.
- Wooow! – Meg rapidamente comemorou comigo.
- Mark, prepare-se para o melhor aniversário da sua vida! – Eu afirmei totalmente empolgada e ele apenas sorriu daquele jeito só dele.

3 dias para planejar uma simples festa de aniversário parece muito, mas na verdade é bem pouco. A sorte é que eu e Meg éramos duas. Nós separamos as tarefas. Ela cuidou das bebidas e do que seria servido para os convidados. Eu cuidaria mais da organização, já que eu não era tão boa nesse tipo de coisa quanto ela, mas mesmo assim ela me passou todas as coordenadas para organizar a casa de Mark da melhor forma possível.

A festa de Mark seria em um domingo a noite, o que tornou a nossa empolgação ainda maior. Meg também foi até a faculdade de Mark e entregou diversos convites para pessoas que nem mesmo ele deveria conhecer. Ela também deixou diversos convites na sala de aula dele. Alguns dos amigos dele deveriam comparecer.

- O que acha de nós arrastarmos esse sofá mais pra cá? – Eu perguntei, olhando atentamente para a sala da casa de Mark. – Tem que ter espaço pro pessoal dançar. – Eu analisei. – Não, talvez seja melhor trazer a mesa mais pra cá e... – Eu fui até o sofá e o puxei para um dos cantos da sala. – Trazer o sofá pra cá. – Eu parei de arrastar o sofá e olhei pra ele. – O que você acha? Ficou bom? – Eu perguntei, querendo uma opinião.
- Eu... – Mark me olhou e segurou o riso. – Eu não faço a menor ideia do que você está falando. – Mark gargalhou de vez.
- Para de rir! – Eu também comecei a rir, enquanto ataquei uma almofada em direção a ele. – Dá pra me ajudar? – Eu não estava conseguindo dizer isso de forma tão séria.
- Eu não sei! – Mark abriu os braços.
- Presta a atenção! – Eu pedi um pouco mais séria. – Nós precisamos liberar espaço. O que acha que nós deveríamos mudar de lugar? – Eu perguntei mais lentamente para que ele entendesse.
- Eu... – Mark olhou concentradamente para o sofá e a mesa de jantar. – Eu acho que talvez fosse melhor arrastar a mesa pra lá. – Ele se aproximou da mesa e a puxou para o outro lado da sala de jantar. – Ai eles vão poder dançar ali. – Mark apontou para o espaço que ficou entre o sofá e a mesa. – Quanto mais longe eles estiverem das coisas quebráveis, melhor. – Ele disse, me fazendo rir.
- Está bem! O que mais? – Eu voltei a olhar para o ambiente. – Acha que devemos mudar mais alguma coisa? – Eu questionei um pouco mais séria e concentrada.
- Sabe, eu acho que tem mais uma coisa que podemos mudar de lugar. – Mark disse, chamando a minha atenção. Olhei para ele e vi ele vindo em minha direção. Me perguntei sobre o que é que ele estava falando, quando ele repentinamente me pegou nos braços e me colocou em um de seus ombros.
- Ei! – Eu comecei a rir descontroladamente. – Isso não é engraçado! – Eu ainda estava pendurada do ombro dele, enquanto ele me levava para o outro lado da sala.
- Aqui! – Mark parou de andar e voltou a me colocar no chão. – Pronto! Aqui está melhor. – Ele me olhou com aquele sorriso idiota, que me fez gargalhar por longos segundos.
- Muito engraçado! – Eu empurrei ele em meio a altas risadas de nós dois.
- O que? Estava me incomodando! Eu precisava mudar de lugar. – Mark continuou fazendo graça e a nos fazendo rir.

Terminamos aquele sábado com tudo em ordem. A festa seria no dia seguinte e estava tudo praticamente pronto. Tudo isso porque eu e Meg teríamos que trabalhar no domingo e não teríamos tempo para organizar nada. Nós só teríamos tempo de nos arrumar e correr para a festa. Nós nunca trabalhávamos de domingo e tínhamos que trabalhar logo naquele! A bebida e os aperitivos que seriam servidos já estavam comprados e guardados em seus devidos lugares. As músicas já estavam todas escolhidas e a casa completamente organizada. Apesar de tudo estar organizado, a roupa que eu usaria ainda era uma grande dúvida pra mim. Meg disse que me ajudaria a escolher e eu deixei pra pensar nisso mais tarde.

Não achei que fosse tão empolgante trabalhar em um domingo. Eu e Meg nem vimos a hora passar. Saímos do trabalho aproximadamente ás 17hrs. A festa estava marcada para começar ás 20hrs. Meg já havia combinado de se arrumar na minha casa e sua roupa e suas coisas já estavam todas no meu carro. Saímos correndo do trabalho e voamos até a minha casa. Estávamos tão ocupadas, que nem tínhamos visto Mark naquele dia ainda. Era quase 18hrs e eu ainda não tinha dado sequer um abraço nele. Eu estava me sentindo péssima por isso, mas eu sabia que o veria dali alguns minutos.

- Acha que está boa mesmo essa roupa? – Eu me olhei no espelho pela 10° vez (VEJA A ROUPA AQUI).
- Está linda, ! Você está um arraso! – Meg piscou pra mim, enquanto colocava suas joias. Ela sempre era mais rápida do que eu.
- Eu adorei o seu vestido. – Eu também elogiei a roupa dela. Ela vestia um vestido dourado que era bem curto e colado. – Vamos tirar uma foto e mandar pro . – Eu fingi que ia pegar o celular e ela quase me jogou do outro lado do quarto.
- Está maluca!? – Meg riu, mantendo o meu celular longe de mim.
- É uma pena ele não poder vir, né? – Eu percebi que Meg estava meio chateada por isso.
- Ele disse que está cheio de provas. – Meg sorriu, mas pareceu um pouco decepcionada.
- Sabe que isso é muito legal? Essa coisa entre vocês. – Eu disse, enquanto começava a me maquiar. – Vocês se viram uma vez e já tem uma conexão tão grande. – Eu completei.
- Não é pra tanto. – Meg não gostava de assumir.
- Meg, você nunca mais beijou ninguém depois dele. Isso quer dizer alguma coisa, não é? – Eu olhei pra ela, que respondeu com um simples sorriso.
- E você? Vai beijar alguém hoje a noite? – Meg mudou o foco do assunto.
- Não sei! Ouvi dizer que os engenheiros são bonitos. – Eu disse e ela riu.
- Um bando de nerds dançando! Isso vai ser épico. – Meg continuou rindo.
- Ainda bem que não convidamos só a sala do Mark, mas eu não acho que eles devem ser tão ruins. O Mark, por exemplo! – Eu não queria dar tão na cara. – Ele é bonito e um pouco nerd. O também é. – Eu coloquei o no meio pra disfarçar.
- É, tem algumas exceções. – Meg teve que concordar. – Mas você pretende dar a chance pra alguém hoje? Eu quero dizer, sem nem um copo de bebida? – Ela brincou.
- Eu não sei! – Eu rolei os olhos em meio a um sorriso. – E eu posso beber sim! É só eu não exagerar. – Eu me defendi.
- É bom mesmo! – Meg apoiou as minhas palavras. – Se você estragar essa festa eu te mato. – Ela ameaçou em tom de brincadeira.
- Falando na festa, você... comprou um presente pra ele? – Eu perguntei, preocupada. Eu não tinha comprado nada!
- Eu comprei uma camiseta que ele gostou uma vez que eu arrastei ele pro shopping. – Meg disse e acidentalmente me deixou ainda pior.
- Não acredito... – Eu fiz careta. – Eu não consegui comprar nada! Não deu tempo! – Eu expliquei.
- Tudo bem, explica pra ele. Ele vai entender. – Meg tentou me tranquilizar.
- Todo mundo vai chegar com presentes e eu vou chegar sem nada. Que tipo de amiga eu sou? – Eu me xinguei mentalmente.
- Ele não vai nem perceber que você não levou presente. Até parece que você não conhece ele! – Meg fez careta. – Amanhã ou semana que vem você compra alguma coisa pra ele. – Ela completou.
- Eu falo com ele e me explico, mas mesmo assim, né? – Eu suspirei, punindo a mim mesma.
- O meu cabelo está bom assim? – Meg perguntou, olhando no espelho. Ela nem estava prestando atenção no que eu estava dizendo.
- Está, mas acho que estava melhor do outro jeito. – Eu opinei e ela pareceu ter concordado.
- Eu também acho. – Meg rolou os olhos, pois teria que refazer o penteado.
- Eu vou deixar o meu solto mesmo. – Eu disse mesmo sem ela ter perguntado.

Demoramos mais algum tempo para acabar de nos arrumar. Nós caprichamos naquela noite. A festa não seria chique e nem tão grande, mas fomos nós que organizamos tudo! Temos que estar no mínimo incríveis naquela noite. Além disso, me arrumar nunca era o bastante nas últimas semanas. Eu tenho me preocupado com isso cada vez que sei que vou ver o Mark. Eu sempre quero estar o mais bonita possível e nunca pareço boa o bastante. Eu quero estar bonita para que ele sinta-se orgulhoso quando me apresentar para os seus amigos. Eu quero tentá-lo impressioná-lo de qualquer forma.

Desespero é uma droga, né? Mas eu não acho que eu esteja tão desesperada assim. É tão ruim querer impressionar alguém? É claro que não. Sabe o que é ruim mesmo? Pensar que um dia ele já foi afim de mim e eu ignorei isso. Ruim mesmo é pensar que hoje ele não quer mais nada comigo e a culpa é toda minha. Para mim, Mark não correspondia a nada do que eu sentia. Ele nunca dava uma deixa ou me jogava indiretas. Ele nunca correspondeu a nenhuma das minhas ridículas investidas de aproximação. Para mim, estava mais do que claro que ele não queria nada. Ai está mais um motivo para desencanar de uma vez. Eu não estou apaixonada por ele e nem nada assim. Eu só quero estar perto dele. Eu sinto vontade de beijar ele e de receber os carinhos dele. Mas se ele não quer, porque eu vou ficar esperando ou insistindo? Nós somos amigos e isso já é ótimo pra nós dois. Talvez seja bom não colocar isso em risco. Talvez seja hora de dar a chance para algum outro cara. Porque não?

Mark estava um pouco mais nervoso do que deveria. Ele nunca dava festas e teve pouquíssimas festas de aniversário durante a sua vida. Ele não sabia ao certo o que vestir ou como deveria se comportar com todos aqueles desconhecidos que logo estariam em sua casa. Era um pouco mais de 19:30 quando ele decidiu a roupa que vestiria. Colocou uma camiseta preta que tinha alguns poucos detalhes brancos, uma calça jeans comum e um tênis preto que não usava com tanta frequência. Ajeitou cuidadosamente o cabelo (ainda molhado) com gel e tomou um banho de perfume. O único acessório que decidiu usar foi um relógio em um dos pulsos. Ele estava pronto.

Quando vimos que faltava apenas meia hora para o inicio da festa, eu e Meg nos apressamos ainda mais. Coloquei os últimos acessórios como brincos, pulseira e até um anel. Estávamos oficialmente prontas ás 19:45. Conferimos o espelho pela última vez e vimos que não tinha mais nada a ser feito. Saímos da minha casa e fomos apressadamente até a casa ao lado. Meg estava com seu presente nas mãos e eu estava com as mãos vazias. Que vergonha!

Tocamos a campainha e até estávamos comentando que teríamos que convencer Mark a se trocar novamente, porque ele provavelmente tinha escolhido a roupa mais imprópria pra ocasião. Ajeitei o meu cabelo pela última vez antes dele abrir a porta. Quando ele abriu a porta, os nossos olhos estranhamente se encontraram no mesmo instante. Olhar pro rosto dele nunca foi tão impactante. Ele sorriu de um jeito devastador e os seus olhos pareceram sorrir também. O cabelo estava cuidadosamente ajeitado e o perfume eu conseguia sentir mesmo de longe. Mesmo estando convencida de que ele estava mais bonito do que nunca, eu ainda quis conferir a sua roupa. Meus olhos desceram discretamente por todo o corpo dele e eu até me surpreendi.

- PARABÉEEEEEENS! – Meg escandalizou e rapidamente o abraçou. Mesmo estando abraçando ela, foi pra mim que ele continuou olhando e sorrindo. Eu fiquei tão perdida com aquele sorriso, que nem precisei me esforçar para sorrir. Ele surgiu em meu rosto da forma mais espontânea do mundo. Impressionante a forma como conseguíamos conversar através dos nossos olhares. Os olhos dele desceram discretamente e fizeram um rápido tour pelo meu corpo. Eu queria saber o que ele estava pensando. – Você merece toda a felicidade do mundo, ouviu? – Meg terminou o abraço e olhou para o rosto dele. – E se alguém tirar essa felicidade de você, me chame! Entendeu? – Ela piscou um dos olhos pra ele, que achou graça da ameaça.
- Valeu, Meg. – Mark a abraçou novamente, mas dessa vez de forma mais forte. – Você sabe que isso também vale pra você, não é? – Ele terminou o abraço.
- Jura? Então me lembre de passar o endereço do meu ex pra você depois. – Meg brincou, fazendo Mark rir novamente. – Isso é pra você. – Ela parou de rir para entregar o presente para o melhor amigo.
- Não precisava, Meg. – Mark enrolou antes de pegar o embrulho em suas mãos.
- Não é nada demais... – Meg sorriu, esperando ele abrir o presente.
- Uau... – Mark pareceu ter gostado da camiseta. – É muito bonita. Não é aquela que você me fez experimentar no mês passado? – Ele tentou se recordar.
- É essa mesmo! – Meg não achou que ele fosse lembrar. – Eu disse que ela ficou incrível em você. – Ela relembrou.
- Obrigado, Meg. – Mark agradeceu depois de admirar a camiseta por um tempo. – Eu adorei, mas não precisava se importar. – Ele aproximou-se e beijou o rosto da amiga.
- Imagina! – Meg devolveu o beijou. – Mas e então? Está tudo pronto? – Ela olhou para dentro da casa.
- Não sei. Talvez seja melhor você checar. – Mark ergueu os ombros. Ele não sabia de nada! Ele só era o aniversariante.
- Vamos ver... – Meg entrou na casa e foi rapidamente em direção a cozinha para acertar os últimos detalhes. Isso quer dizer que só sobrou eu e o Mark ali.
- Antes de qualquer coisa eu queria dizer que estou muito envergonhada por não ter tido tempo para comprar o seu presente. – Eu disse, sem jeito.
- Não acredito! – Mark cerrou os olhos e negou com a cabeça. – Sinto muito, mas não vou poder te deixar entrar na festa. – Ele ergueu os ombros, enquanto escondia um doce sorriso.
- Não me tortura. – Eu sabia que ele estava brincando. Dei mais um passo em sua direção e parei em sua frente. – Eu realmente estou me sentindo mal por isso. – Eu voltei a ficar sem graça com a situação. Ele sorriu pra mim daquele jeito lindo, o que fez com que eu me aproximasse ainda mais. Meu rosto ficou bem em frente ao dele. Ele olhou atentamente para o meu rosto e eu fiz o mesmo com o dele. Toquei o ombro dele com uma das minhas mãos e aproximei o resto do meu corpo do dele. Eu passei meus braços em torno do seu pescoço e o abracei.



Era sempre assim. Era só eu tocar nele que eu sentia essas coisas estranhas dentro de mim. Essa estranha felicidade e calma. Mark apertou ainda mais o meu corpo contra o seu e entrelaçou alguns de seus dedos em meu cabelo. Aquele delicioso perfume me deixou meio tonta e me fez até esquecer de que o abraço tinha um propósito.

- Feliz aniversário! – Eu disse um pouco mais baixo, já que meus lábios estavam próximos do ouvido dele. – Apesar de não ter trazido presente, eu trouxe a gratidão e carinho que eu sinto por você. – Eu afastei um pouco o meu corpo do dele para que eu pudesse olhar em seu rosto. Mark voltou a me olhar daquele jeito tão intenso e desejou por um minuto poder me beijar. Um fraco sorriso surgiu em seu rosto para disfarçar a sua frustração. – Você sabe que é especial pra mim, não sabe? – Eu perguntei ao tocar o seu rosto com uma das minhas mãos. Por um segundo ele se lembrou da minha noite de embriaguez em que eu havia dito exatamente a mesma coisa.
- É, eu sei. – Mark afirmou com a cabeça e eu vi o seu sorriso aumentar.
- Você merece o dobro de toda a felicidade que você conseguiu trazer de volta pra minha vida. Você merece tudo o de melhor que há no mundo. – Eu terminei de parabenizá-lo.
- Obrigado. – Mark suspirou antes de se aproximar e beijar carinhosamente uma das minhas bochechas. Eu aproveitei o momento e devolvi o beijo no instante seguinte. – Agora... – Ele segurou a minha mão e fez uma engraçada careta. – Entre! Seja bem vinda a minha festa. – Mark fingiu ser um ótimo anfitrião. Eu entrei na casa entre risos e ele soltou a minha mão para fechar a porta que havia ficado aberta.
- Bem, muito obrigada. – Eu agradeci em tom de brincadeira.
- Vou colocar esses copos aqui em cima. – Meg me olhou, enquanto colocava alguns copos sobre a mesa de jantar.
- É, fica bom ai! – Eu disse apenas para que ela não achasse que eu havia deixado ela falando sozinha. – E então? Está tudo certo? – Eu perguntei, pois não queria ficar de braços cruzados, enquanto ela fazia todo o trabalho.
- Não, agora está tudo certo. – Meg afastou-se da mesa e veio em minha direção com um enorme sorriso.
- Isso quer dizer que estamos prontos para começar a festa? – Eu perguntei guardando a minha empolgação.
- Sim! Estamos prontas pra começar a festa! – Meg fez uma rápida dança e eu a acompanhei. Nós parecíamos bem mais empolgadas que o Mark.



- Vai ficar mesmo com essa cara? – Eu olhei pra ele e fiz um bico.
- Não, eu... – Mark ia dizer alguma coisa, mas a campainha o interrompeu.
- Os convidados chegaram! – Meg quase gritou.
- É hora da festa! – Eu disse, empolgada. A festa vai começar!

Demorou no máximo 20 minutos para que a casa de Mark estivesse completamente cheia. O CD que Meg havia gravado tocava, mas a música não estava tão alta. Estava na altura certa para que as pessoas dançassem e conversassem. Todos que estavam ali eram jovens e eu não conhecia nenhum deles. Meg e eu revezávamos na supervisão da festa. Horas era ela quem ia buscar mais bebida na geladeira e em outras horas era eu que ia buscar mais aperitivos na cozinha.

Mark foi extremamente modesto quando falou sobre a sua vida social. Ele tinha sim muitos amigos. Durante a festa eu vi ele conversando com umas 15 pessoas diferentes. Não posso deixar de assumir que me incomodou vê-lo conversando com outras garotas. Eu acho que nem chegava a ser ciúmes. Eu só queria saber quem eram aquelas garotas que em certos momentos conseguiram até arrancar alguns sorrisos dele.

Acho que o problema sou mesmo eu. Eu devo ser bem antissocial mesmo! Fiquei admirada com a rapidez de Meg para fazer amizades com todas aquelas pessoas desconhecidas, que ela provavelmente não veria mais depois daquela festa. Eu estava sempre no meu canto e de vez em quando Meg vinha para me puxar para dançar ou para comentar sobre algum garoto que tinha jogado aquelas cantadas maravilhosas de pedreiro pra cima dela. Certas vezes eu senti vontade de ir até onde Mark estava com os seus amigos e me apresentar, mas eu sempre acabava desistindo. Se ele quisesse me apresentar para alguém, ele mesmo faria isso.

Apesar de estar um pouco sozinha naquela festa, eu estava me divertindo. A música era boa e as bebidas que Meg havia escolhido eram maravilhosas! Eu só aceitei bebê-las porque ela me assegurou que havia pouquíssimo álcool nelas. Mesmo assim, eu não exagerei. Acabava bebendo um gole ali e outro aqui. Nada que pudesse me deixar bêbada. Quando eu não estava observando as pessoas da festa, eu estava dando broncas em alguns idiotas que insistiam em pegar alguns vasos ou relíquias que deveriam ser da mãe do Mark. Eu achei ótimo quando Meg tomou a decisão de abrir a porta e deixar que a festa também acontecesse no gramado que ficava na frente da casa do Mark.

Eu aproveitei por diversas vezes que estava sozinha para dar uma volta por toda a sala e depois pelo gramado. Eu ficava andando igual a uma barata tonta para que eu não precisasse ficar parada feito um poste. Os meus olhos insistiam em procurar pelo Mark. Eu estava de olho nele e fiquei extremamente feliz quando percebi que ele estava se divertindo com os seus amigos. Eu também estava de olhos atentos na Meg. Estava com medo que ela bebesse demais. Fiquei impressionada com a quantidade de garotos que chegaram nela e fiquei ainda mais surpresa quando vi ela dispensar todos eles. Eu que estou sozinha ninguém quer, não é? Qual o problema? A roupa está feia? Não estou atraente o suficiente para esses idiotas? Devo ter perdido toda a prática mesmo pra fazer isso.

- Olha só quem eu encontrei. – Mark chegou repentinamente do meu lado, enquanto eu já pensava em alguma desculpa para me enturmar.
- Ei, aniversariante. – Eu toquei um dos meus ombros no dele e o empurrei quase que sem força alguma. – Está se divertindo? – Eu perguntei, enquanto cruzava os meus braços e olhava atentamente para ele.
- Estou. – Mark afirmou e olhou em volta. – Está tudo ótimo. Você e a Meg pensaram em tudo mesmo. – Ele deu um enorme sorriso pra mim.
- A Meg pensou em tudo você quer dizer, não é? – Eu fiz careta e ele rapidamente reprovou.
- Não! Foram vocês duas! Se não fossem vocês duas, eu estaria tendo o mesmo aniversário chato de sempre. – Mark reconheceu o nosso esforço.
- Pra quem lutou tanto contra essa festa, você parece super empolgado. – Eu fiz questão de dizer como forma de ‘Eu disse, não disse?’.
- Eu sei que eu fui um chato. – Mark revirou os olhos. – Mas é que eu não estou acostumado a esse tipo de coisa. – Mesmo mantendo um sorriso no rosto, eu percebi que o assunto parecia incomodá-lo de alguma forma. – Eu nunca tive festas nos meus aniversários ou ganhei tantos presentes. Eu nem sabia como reagir ou me comportar com esses convidados. – Ele sorriu, sem jeito. – Os meus aniversários sempre foram uma coisa mais reservada, sabe? Eu não estou acostumado a tudo isso. – Mark terminou de se explicar.
- Sua mãe ligou? – Eu quis saber. Há tempos eu tenho notado o jeito que ele fica quando fala de sua mãe. Quando eu perguntei, ele me olhou com um olhar de dúvida. – Por causa do seu aniversário. Ela te ligou? – Eu completei a pergunta para que ele pudesse entender.
- Ah, sim! Ela ligou sim. – Mark afirmou com rapidez. – O meu pai também. – Ele completou com um largo sorriso.
- Que ótimo! – Eu demonstrei estar feliz por ele. O assunto pareceu ter acabado e eu olhei para qualquer outro lugar na festa apenas para que o clima não ficasse tão constrangedor. – Meg é a grande atração da festa. O vai gostar de saber que ela rejeitou todos esses seus amigos. – Eu disse, enquanto observava Meg conversar com algumas garotas de longe.
- Esses caras não desistem nunca. – Mark riu sem emitir som, enquanto negava com a cabeça. – Estou ficando sem criatividade para inventar motivos para que eles não cheguem em você. – Ele disse de forma totalmente inocente.
- Você... – O meu sorriso impediu que eu continuasse a frase. – Você fez isso? – Eu achei super fofo e tenho certeza que demonstrei o quanto gostei de ouvir aquilo.
- É, eu... – Mark ia se explicar, mas não conseguiu terminar a frase. Eu notei que ele puniu a si mesmo mentalmente, quando ele negou com a cabeça e deixou de me olhar por poucos instantes para encarar o chão. Ele não conseguiu encontrar explicação alguma. Mark voltou a me olhar e apenas arqueou as sobrancelhas como se dissesse ‘Não sei o que dizer.’. O meu sorriso aumentou diante da sequência de ações dele, que me fez ficar extremamente encantada. Eu virei um pouco a minha cabeça para o lado e não parei de olhá-lo.



- Você nunca vai parar de cuidar de mim, não é? – Eu perguntei de forma retórica. Eu não conseguia deixar de olhar para os olhos dele, que pareciam me enfeitiçar. O coração de Mark estava mais do disparado por me ter tão perto novamente e por estar sendo obrigado a manter aquela troca de olhares, aquela troca de sorrisos e de doces palavras que ele simplesmente não conseguia resistir. Ele chegou a abrir os lábios para responder a minha pergunta, mas não deu tempo.
- Mark! – O clima se foi quando alguém o chamou. Mark deixou de me olhar repentinamente e olhou para Meg, que era quem estava chamando. Eu logo percebi que ele recusaria o chamado de Meg, então eu me adiantei.
- Não, tudo bem. Pode ir! – Eu não me importei. Eu não queria ficar atrapalhando ele com essas bobeiras que só tem importância pra mim. – Eu tenho que ir repor a bebida mesmo. É a minha vez. – Eu apontei um dos dedos em direção a cozinha. – Tudo bem. – Eu sorri novamente para ele para confirmar o que eu dizia e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, enquanto eu me virava e me afastava dele. Mark observou eu me afastar e se xingou mentalmente por estar deixando eu me afastar novamente. O seu longo suspiro e sua expressão de desaprovação estavam mais do que explícitos.

Eu sinceramente não esperava mais nada das aproximações que eu e Mark vivíamos tendo. As vezes eu acho que ele pode estar voltando a sentir alguma coisa por mim, mas depois eu me dou conta de que é nisso que eu quero acreditar. É coisa da minha cabeça e não é mais correspondido. Não tem motivos para ficar levando isso adiante e ficar procurando vestígios de algum sentimento que vá além da amizade. É estranho explicar essa minha relação com o Mark. O que eu sinto por ele é totalmente diferente do que eu sentia pelo e até mesmo pelo Peter. Eu nem sei se chega a ser algo tão forte. Eu não consigo medir, porque isso nunca foi colocado a prova. A única coisa que eu posso dizer é que eu fico sim chateada quando estamos tão próximos e só. Não passa daquilo. O que eu posso fazer? Não é algo que eu possa controlar.

Não sei por que estou tão surpresa com o fato das bebidas estarem acabando tão rapidamente. O que esperar de universitários? Tudo bem que a maioria ali eram futuros engenheiros e possivelmente nerds, mas isso não queria dizer nada. Se quer saber, eles são bem bonitos e são poucos os que parecem ser nerds. Eu havia notado vários garotos durante a noite, mas eu não sou dessas garotas de atitude. Comecei a colocar as garrafas e latas de bebida sobre a mesa e depois de algum tempo organizando tudo aquilo, notei alguém se aproximar.

- Então, você é a garota das bebidas? – Um belo rapaz parou ao meu lado. Olhei para ele e só então fui perceber que ele estava falando comigo.
- O que? – Eu parei de mexer nas bebidas para dar atenção a ele.
- Você está cuidando das bebidas. – O garoto apontou com a cabeça em direção a mesa. – Você não deveria estar vestindo um uniforme ou alguma coisa do tipo? – Ele sorriu.
- Deveria se eu fosse a garota das bebidas. – Eu entrei no jogo dele apenas por diversão. Eu estava sozinha mesmo.
- Oh, entendi. – O rapaz de cabelos claros e olhos escuros continuou sorrindo. – Me desculpe, eu não sei o seu nome, então vou ter que continuar te chamando de garota das bebidas. – Ele fingiu lamentar.
- Bem... – Eu olhei para ele um pouco mais séria e estendi uma das minhas mãos. – Eu sou a . – Eu disse e ele sorriu ainda mais ao apertar a minha mão.
- Olá, . – O rapaz foi extremamente educado. – Você não é a garota das bebidas, mas você deve beber alguma coisa, não é? – Ele parecia estar me convidando para beber.
- Eu bebo, mas eu... – Eu tentei recusar, mas o garoto me interrompeu.
- Eu insisto! – O garoto esticou-se e pegou uma garrafa de alguma bebida qualquer. Pegou dois copos e os encheu. – Eu prometo que não é forte e que é delicioso. – Ele estendeu o copo em minha direção.
- Certo, então eu vou aceitar. – Eu cedi e peguei um dos copos da sua mão. O belo garoto estendeu o seu copo e eu entendi que ele queria brindar. Toquei o meu copo no dele em meio a uma troca de olhares interessante.
- É uma delícia mesmo. – Eu concordei, depois de beber um gole da bebida.
- Eu sabia que você gostaria. – O rapaz voltou a sorrir. – Se importa de continuarmos essa conversa lá fora? A música está um pouco alta aqui dentro. – Ele fez careta e apontou para o som.
- É claro! – Eu concordei depois de fazer um rápido draminha. Qual o problema? Lá fora tem tanta gente quanto aqui dentro. Qual é a diferença?

Meg ainda tinha toda a atenção de Mark. Ela estava explicando para ele que talvez fosse melhor eles irem comprar mais bebida. Meg estava com medo de que acabasse e não tivesse mais nada para repor. Ela fez uma rápida conta da quantidade que já havia sido consumida e da quantidade que ainda restava. Já eram um pouco mais de 1 hora da madrugada e a previsão era de mais umas 2 horas de festa. Mark insistiu em dizer que a quantidade que ainda restava era o suficiente e Meg foi obrigada a concordar, mesmo sem querer.

- Nossa! Quem é aquele com a ? – Meg arregalou os olhos e deu um enorme sorriso, quando me viu ir para o lado de fora da casa com um garoto muito bonito.
- Ele... estuda comigo. – Mark ficou imediatamente sério. Ele e Meg também estavam do lado de fora da casa, mas estavam do outro lado do gramado. Eu nem vi que eles estavam ali.
- Caramba! Ele é um gato! – Meg elogiou, impressionada. Mark nem sequer respondeu. Ele ficou parado por um tempo, olhando para mim e para o garoto que conversávamos entre sorrisos.
- Então você é vizinha do Mark? – O garoto olhou para a minha casa.
- Sou. Eu me mudei para cá já faz alguns meses. – Eu resumi rapidamente. – E você? Você é a amigo dele? – Eu deduzi já que, ao contrário de muita gente que estava ali, ele sabia o nome do aniversariante da noite.
- Sim, nós somos amigos. Nós estudamos juntos. – O rapaz explicou.
- É mesmo? – Eu me interessei. – Que legal! Que bom conhecer algum amigo dele. Ele não fala muito sobre os amigos. – Eu expliquei o meu interesse pelo assunto. Eu não sabia tanta coisa sobre a vida do Mark, então quando eu tinha a chance de saber eu ficava muito interessada.
- Ele também não fala sobre as vizinhas. Qual o problema dele? – O garoto me lançou um sorriso sedutor.
- Acho que ele não é muito de falar sobre ele. – Eu achei graça da ousadia do garoto. – Mas você deve saber mais sobre ele do que eu. Vocês estudam juntos e devem fazer muitas coisas juntos. – Eu deduzi, enquanto tomava mais um gole da minha bebida.
- Na verdade, não deu muito tempo de conhecer. – O garoto disse sem dar muita importância.
- Como assim? Porque não deu tempo? – Eu estranhei. Mark passava tanto tempo na faculdade. Porque os amigos não teriam tempo de conhecê-lo?
- Ele trancou a faculdade já faz alguns meses. Ele saiu, antes que nós pudéssemos conhecê-lo melhor. – O garoto disse da forma mais inocente do mundo. O que? Espera! Trancou a faculdade? Nesse instante, eu soube que havia algo muito estranho. Como ele havia trancado a faculdade se ele ia para a faculdade todos os dias?
- Ah, é mesmo! – Eu concordei apenas para que o garoto não notasse o impacto daquela notícia.
- Eu até estranhei quando recebi o convite para a festa. – O garoto continuou sem desconfiar de nada. – Mas ainda bem que eu recebi o convite, não é? – Ele voltou a dar o seu sorriso sedutor.
- É, ainda bem. Caso contrário, eu estaria sozinha. – Eu devolvi o sorriso, pois não queria deixar que aquela estranha notícia atrapalhasse a nossa conversa. Eu resolveria isso depois.
- Mark? – Meg chamou a atenção do melhor amigo pela terceira vez seguida. Mark não tirava os olhos de mim e do seu tal amigo da faculdade.
- Acha que ela gostou dele? – Mark perguntou, sem nem olhar para Meg.
- Eu acho que sim. O cara é bonito e parece ser bem legal. – Meg também virou-se para olhar para mim.
- É, ele é mesmo. – Mark sabia o amigo que tinha e também sabia de suas qualidades. Era exatamente por isso que ele estava odiando vê-lo perto de mim. Meg voltou a olhar pro Mark e não demorou para que ela percebesse o que estava acontecendo ali.
- Isso já está ficando chato! – Meg disse grosseiramente, chamando a atenção de Mark.
- O que foi? – Mark deixou de olhar para mim e para o seu amigo pela primeira vez.
- Você! – Meg apontou para o amigo. – Eu não aguento mais ver esse desespero no seu olhar cada vez que um cara se aproxima dela. – Ela pegaria pesado dessa vez.
- Que desespero? Não tem desespero nenhum! – Mark se fez de desentendido. Que novidade!
- É disso que você quer se convencer? É desse jeito que você vem ignorando os seus sentimentos todo esse tempo? – Meg estava totalmente impaciente.
- Você não sabe do que está falando. – Mark rolou os olhos.
- Não sei do que eu estou falando? Acha que eu não sei que você está louco por ela? Acha que eu não sei que você morre de medo de alguém tomar o lugar que nem mesmo é seu? Acha mesmo que eu não sei que você reprime cada instinto, cada sentimento apenas para não perdê-la de novo? – Meg o encarou e viu a expressão dele mudar. Ele não era tão discreto quando achou que fosse.
- Você não entende, Meg. – Mark quis explicar, mas não podia.
- Eu não entendo mesmo! Eu não consigo entender o que é que você está querendo com tudo isso! Eu não entendo o que pode ser mais importante do que ter a coisa que você mais quer na vida. – Meg olhou para o melhor amigo com desaprovação. – Eu não entendo como é que você pode sentar e assistir de camarote alguém pegar o seu lugar! Eu juro que não entendo como você consegue nem sequer lutar por ela. – Ela negou com a cabeça. – Eu não acredito que vai esperar perdê-la, Mark. – Ela finalizou, esperando por qualquer resposta do amigo, que agora dividia seus olhares entre ela e eu.

As palavras de Meg foram piores do que milhões de pedras sendo atacadas em sua direção. Era tudo o que ele menos queria ouvir, mas ao mesmo tempo era tudo o que ele precisava ouvir. As palavras de Meg não só o desafiou, mas também fez ele ter coragem de enxergar a realidade que estava bem na sua frente. Ele estava apaixonado. Ele sempre esteve apaixonado e isso nunca vai mudar. Então, qual é o plano? Bancar o idiota o resto da vida? Observar eu me apaixonar por alguém novamente? Porque ele tinha sempre que pensar em todos antes dele mesmo? Porque ele não podia pensar nele, só nele primeira vez em sua vida? Quem disse que ele não pode cometer algumas loucuras de vez em quando? Quem disse que ele não pode viver a sua vida do mesmo jeito que todo mundo? Quem disse que ele não pode se apaixonar e roubar o beijo que mais deseja na vida? Ninguém. Ninguém disse! Ninguém poderia impedi-lo de fazer a coisa certa dessa vez.

- Segura o meu copo. – Mark entregou o seu copo para Meg. Os olhos dele permaneceram fixos em mim e em seu amigo, que já estava conseguindo arrancar alguns sorrisos de mim.

Mark não conseguiu ver mais nada além de mim. Depois que Meg pegou o seu copo, ele começou a andar na minha direção. Ele estava mais do que determinado. Ele estava sendo guiado por um sentimento extremamente forte, que ele deixou escondido por meses. Esse sentimento o fez esquecer dos seus medos, dos problemas que seu ato poderia causar e até mesmo da sua razão. Ele ia esbarrando em diversas pessoas, porque ele simplesmente não estava prestando atenção em mais nada. O coração dele parecia que iria saltar pela boca a qualquer segundo, mas isso não o intimidou nem um pouco. Mark continuou esbarrando nas pessoas, enquanto ele continuava indo em minha direção.

O garoto com quem eu conversava estava roubando toda a minha atenção. Eu não estava prestando a atenção se havia alguém se aproximando ou não. Eu simplesmente não me importava. A única coisa que me interessava naquele instante era o garoto em minha frente, que estava me contando uma história muito engraçada sobre a última festa que ele tinha ido. O copo de bebida ainda estava em minhas mãos. Eu ainda pretendia terminar de bebê-lo.

Mark estava há menos de 10 passos de mim e ele ainda não tinha muita certeza do que diria. Algumas pessoas conhecidas tentavam chamar a sua atenção pelo caminho, mas ele passava reto por todos. Ele ignoraria qualquer coisa que não fosse eu naquele momento. A velocidade dos passos dele aumentou um pouco. Ele estava há 3 passos de mim e ainda não sabia o que fazer. Lembra daquela história de que um beijo fala mais que mil palavras? Isso nunca fez tão sentido.

O meu sorriso era todo e completamente para o garoto em minha frente. Eu escutava a sua história em silêncio e aproveitava para analisá-lo. Eu estava prestes a me convencer de que ele era bom o suficiente pra mim, quando eu fui surpreendida. Mark colocou-se repentinamente entre mim e o desconhecido e antes que eu conseguisse ter qualquer reação, suas mãos tocaram cada lado do meu rosto e os lábios dele colaram nos meus. Eu fiquei tão surpresa, que não soube muito bem o que fazer. Mark puxou um dos meus lábios e eu permiti que ele aprofundasse o beijo. O beijo não se tornou intenso e nem se manteve lento. Eu acho que só depois é que me daria conta do quanto eu queria aquilo.

Naquele instante, eu só conseguia pensar em beijá-lo mais e mais. Minhas mãos ainda estavam atadas e eu ainda segurava o meu copo de bebida. Eu não pensei duas vezes em soltá-lo e deixá-lo cair de vez no chão. Minhas mãos estavam livres agora e eu as usaria. Aproximei ainda mais o meu corpo do dele e então toquei o seu rosto com uma das mãos. Uma das mãos dele desceu pelo meu rosto e deslizou pelo meu braço até chegar na minha cintura. O puxão que ele deu me fez colar a minha cintura colasse na sua e me deixou ainda mais empolgada com aquele beijo. A outra mão dele que ainda estava em meu rosto deslizou até o meu cabelo, onde ele entrelaçou os seus dedos. Minha mão escorregou até a sua nuca e também entrelaçou nos curtos fios de cabelo que havia ali.

- Não, não, não! Não acredito! – Meg viu toda a cena de longe e não conseguia se conformar. Não sabia se gritava ou se chorava de felicidade. A melhor parte com certeza foi ver a frustração do garoto, que agora havia perdido o lugar para o Mark. O garoto se afastou de forma totalmente discreta. Nem todos precisariam ver a vergonha que ele havia acabado de passar.

O beijo foi longo e chamou a atenção de algumas pessoas a nossa volta. O beijo durou tempo o suficiente para me fazer lembrar o quanto é bom beijar. O quanto é bom receber um beijo tão inesperado como esse. Foi tão estranha a forma que o nosso beijo se encaixou, que até parecia que havíamos feito isso outras 15 vezes. O ritmo do beijo diminuiu e eu soube que estávamos prestes a descolar os nossos lábios. Desci a minha mão da sua nuca e a coloquei próxima de seu ombro.



Prestes a terminar o beijo, Mark voltou a segurar o meu rosto com suas duas mãos para terminar bem. Quando nossos lábios se desgrudaram, nossos olhos foram abrindo lentamente. Eu fiquei feliz de vê-lo ali. Ambos estávamos tão abobalhados com o que havia acabado de acontecer, que ficamos algum tempo nos olhando. Ele deixou de olhar para os meus olhos para olhar para os meus lábios. Parecia que só agora havia caído a ficha do que ele havia acabado de fazer.

- Eu... – Mark tentou achar palavras para se explicar. Os olhos dele se perdiam em todo o meu rosto. – Me desculpa, mas... eu precisava fazer isso. – Ele afirmou, enquanto analisava os detalhes do meu rosto. Senti suas mãos deixarem de tocar o meu rosto. Eu tentava me recuperar para poder respondê-lo, mas não deu tempo. Ele afastou-se antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa.

Observei ele se afastar e não me movi. Quando ele desapareceu do meu campo de visão, eu olhei para qualquer outra coisa em volta. Eu não consegui tomar qualquer atitude ou dizer qualquer coisa. Eu apenas sorri em meio a um suspiro. Eu sentia tanta coisa naquele momento, que eu não conseguia separar a minha felicidade do meu desejo de fazer aquilo novamente. Eu senti uma coisa tão boa, um alívio e uma vontade de ficar a noite inteira só pensando no quão bom aquele beijo havia sido. Foi incrível me sentir desejada depois de meses. Foi incrível pensar que, apesar do ter encontrado alguém melhor do que eu, ainda havia alguém que me queria. Ainda havia alguém que teve a atitude de vir e me dar aquele beijo que tirou todo o meu fôlego e toda a tristeza que ainda existia em mim. Ainda tinha alguém que correspondia a todas aquelas minhas expectativas.

- O que foi isso? Eu estou sem palavras! – Meg chegou inesperadamente na minha frente e ela tinha um enorme sorriso em seu rosto. Eu olhei pra ela e a única coisa que consegui foi corresponder ao sorriso. – ? – Ela riu, pois percebeu que eu ainda estava atordoada com o que havia acontecido.
- Uau... – Eu suspirei em meio a risos. Levei uma das minhas mãos até a minha cabeça e entrelacei meus dedos em meu cabelo, jogando-os para trás. Eu estava totalmente sem ação.
- Eu estou tão feliz por vocês! – Meg me abraçou calorosamente e eu só consegui rir.
- Eu.. – Eu não sabia como continuar. – Eu nem sei o que dizer. – Eu terminei o abraço e voltei a olhá-la.
- E então? Como você se sente? – Meg quis saber. No fundo ela tinha medo que eu não levasse aquele beijo tão a sério.
- Eu estou... – Eu ia dizer, mas não consegui achar um adjetivo bom. – Uau... – Eu voltei a rir, mas dessa vez de mim mesma. – Ele me beijou! O Mark... me beijou. – Eu repetia para ver se a minha ficha caia.
- Vocês ficaram tão bonitinhos juntos! – Meg estava quase tendo um treco.
- Pra onde ele foi? – Eu quis saber, enquanto olhava em volta.
- Ele saiu e eu nem vi. – Meg ergueu os ombros. – Ele deve estar soltando fogos em algum lugar da cidade. – Meg exagerou, me fazendo rir.
- Eu não sabia que ele... – Eu estava meio confusa. Foi totalmente inesperado. – Você sabia? – Eu quis saber.
- Que ele é afim de você? – Meg debochou. – Quem é que não sabia? – Ela riu.
- Eu não sabia! Eu não esperava nada disso. – Eu voltei a rir. Estava tão na cara assim? – Quer dizer, ele foi afim de mim antes, mas não deu certo. Não foi nada demais. Eu achei que ele tivesse desencanado. – Eu ergui os ombros.
- Até parece, né? O garoto deve dormir com a sua foto embaixo do travesseiro. – Meg disse de forma tão séria, que até me fez rir mais uma vez.
- Olha pra você! Fica rindo igual a uma boba! – Meg começou a rir de mim.
- Você não para de falar besteiras! – Eu tentei me explicar.
- Realmente! Duvido mesmo que tenha a ver com um beijo que não vai te deixar dormir por uma semana. – Meg voltou a debochar.
- Esquece o beijo! – Eu já estava ficando sem graça. – Nós ainda somos as responsáveis pela festa. Será que não está faltando nada? – Eu tentei ficar um pouco mais séria.
- Eu não sei. O pessoal já está indo embora, mas vamos lá ver. – Meg saiu, foi em direção ao interior da casa e eu a acompanhei. Eu estava tentando me controlar.
- Acho que essa bebida dá, não é? – Eu quis saber a opinião dela.
- Eu acho que dá. Já não tem tanta gente quanto antes. – Meg olhou em volta. Algumas pessoas já tinham ido embora, mas ainda tinha bastante gente lá.
- Legal, então vamos parar de nos preocupar. – Eu suspirei, sabendo que não teria mais que ficar pensando naquilo. – Que horas são? – Eu quis saber.
- São... – Meg olhou em seu celular. – 2 horas. – Ela completou.
- Já? – Eu fiz careta. – Eu tenho que ir embora. Eu vou ter que ir para a faculdade amanhã cedo. – Eu suspirei com tristeza.
- Ainda bem que eu já entreguei aquele trabalho e não vou precisar ir. – Meg fez careta pra mim.
- Isso foi totalmente desnecessário, sabia? – Eu mostrei a língua pra ela, que riu.
- Você pode ir se você quiser. Eu fico de olho em tudo. – Meg tentou ajudar.
- Eu... – Eu olhei discretamente em volta. – Eu vou ficar até o Mark reaparecer. Eu tenho que me despedir dele. – Eu completei.
- Se despedir, né? – Meg me olhou com um sorriso malicioso.
- Para, garota! – Eu a empurrei de leve.
- Está doidinha por ele. – Meg continuou me irritando.
- Cuida da sua vida! Porque não dá uma ligada pro ? – Eu também a provoquei.
- Eu já liguei! – Meg voltou a fazer uma engraçada careta.
- Então liga de novo e de novo.. – Eu fui dizendo, enquanto via ela rolando os olhos.

Fiquei na festa por mais aproximadamente meia hora e vi diversas pessoas irem embora, mas não vi o Mark. Ele havia sumido desde que ele havia me beijado. Cheguei a dar uma rápida volta no local onde a festa estava acontecendo e não consegui encontrá-lo. Também fui procurá-lo no banheiro, mas ele também não estava lá. Eu tinha que ir embora, mas eu não podia ir sem me despedir. Eu não queria só me despedir, mas eu queria vê-lo e falar sobre o que havia acontecido. Eu estou super curiosa para saber o que ele tem a me dizer.

- Ainda não achou ele? – Meg perguntou, quando percebeu que eu olhava insistentemente para os lados.
- Não... – Eu neguei com a cabeça.
- O carro dele está na garagem. Ele não pode ter saído daqui. Ele deve estar em algum lugar na casa. – Meg comentou, sem saber a ajuda que ela estava me dando.
- Espera.. – Eu pensei em uma coisa. – Eu acho que sei onde ele está! – Eu sorri espontaneamente. Como eu não tinha pensado nisso antes?
- Onde? – Meg quis saber.
- Eu vou até lá. – Eu não respondi, pois estava com pressa. – Boa noite e vejo você amanhã no trabalho. – Eu me aproximei e beijei o rosto dela. Eu já me despedi, pois pretendia ir embora direto depois de falar com o Mark.
- Então ta... – Meg sorriu, sem saber o que estava acontecendo. – Boa noite. – Ela respondeu, quando me viu sair andando rapidamente em direção as escadas. É claro que ela ficou curiosa, mas ela não se intrometeria. Ela sabia que eu e Mark tínhamos que conversar.

Como eu posso ser tão lerda? É claro que o Mark estava naquele lugar que só eu e ele sabíamos da existência. É claro! Onde mais ele estaria? Onde mais ele iria para ficar sozinho? Andei rapidamente em direção ao quarto dele e estava sempre prestando a atenção para ver se não estava sendo seguida. Era um lugar secreto e eu não pretendia ver o Mark na presença de outra pessoa. Cheguei no quarto dele e vi a janela aberta. Foi a confirmação que eu precisava. Tentei esconder o meu sorriso ao morder o meu lábio inferior e me aproximei da janela. Não sei o que deu em mim, mas eu tive coragem de subir na janela a pular na minúscula sacada que havia ali. Depois que fiquei de pé na sacada, me virei em direção ao telhado e fiquei de costas para toda aquela altura que me faria surtar a qualquer momento. Lá estava ele. Deitado sobre as telhas e olhando para o céu. Tenho quase certeza de que ele não havia percebido a minha presença ali.

- Não deveria ter me mostrado esse lugar, se tinha a intenção de se esconder de mim aqui. – Eu disse e ele me olhou rapidamente. Ele parecia ter levado um susto. Eu segurei o riso e ele pareceu totalmente surpreso.
- Como... – Mark me observou, sério. – Como você sabia que eu estava aqui? – Ele resolveu se sentar para poder me enxergar melhor.
- Ninguém te acharia aqui. – Eu expliquei rapidamente. – Só eu. – Eu completei com um fraco sorriso. O meu sorriso fez ele ficar menos tenso com a situação. Ele temia que eu estivesse brava com ele por causa do beijo.
- É, eu não pensei nisso. – Mark estava muito sem jeito e por isso nem conseguiu sorrir.

Mark se sentia totalmente desconfortável com a situação e principalmente com o que havia feito. Para ele, tinha sido uma atitude estúpida, que foi tomada sem pensar. Ele temia mais do que tudo estragar com o que nós havíamos construído nos últimos meses. Ele não queria perder aquilo por nada. Os foras anteriores sempre o convenceram que eu jamais sentiria nada por ele. Ele sempre teve certeza que nada do que ele sentia seria correspondido da mesma forma por mim. É por isso que ele se sente um idiota por ter me dado aquele beijo. É apenas por isso que aquela foi a melhor, mas também a pior atitude que poderia ter tomado.

- E então? Eu posso ficar aqui com você ou você prefere ficar sozinho? – Eu perguntei, sem querer forçar nada.
- Você quer subir? – Mark estendeu uma de suas mãos.
- Você acha que eu deveria? – Eu abaixei a minha cabeça e segurei as pontas da minha saia. Sem condições de subir ali com aquela saia.
- É, eu não acho que seja uma boa ideia. – Mark deu o seu primeiro sorriso desde que eu havia encontrado ele. – Você veio até aqui sozinha? – Ele perguntou, surpreso por eu ter passado pela janela sozinha.
- Vim. – Eu afirmei e vi ele fazer uma expressão de surpresa. – Eu sabia que você estava aqui e que você não deixaria nada de ruim acontecer. – Eu completei e rapidamente percebi o quanto aquilo mudou totalmente o clima daquela conversa. Ele deixou de me olhar e vi ele voltar a sorrir. Ficamos em silêncio por um tempo e não olhamos um para o outro nem por um segundo. – Isso é estranho. – Eu comentei e percebi que ele olhou pra mim.
- Olha, eu sei que você está esperando uma explicação para o que eu fiz. – Mark estava procurando meios de se explicar.
- Eu não estou. – Eu me adiantei e ele voltou a me olhar. Ele novamente não esperava pela minha resposta.
- Que ótimo, porque eu não tenho uma explicação. Foi exatamente por isso que eu te deixei lá e vim até aqui. – Mark se explicou, enquanto descia do telhado e ficava de pé ao meu lado.
- Eu estava indo embora e não podia ir sem me despedir do aniversariante. É falta de respeito. – Eu disse para o que tinha vindo para evitar explicações desnecessárias.
- Não, escuta... – Mark pareceu nem ter prestado a atenção no que eu tinha dito. – Eu quero falar sobre isso, ok? – Ele me olhou mais sério. – Foi ridículo! Eu não deveria ter feito aquilo. – Mark parecia punir a si mesmo.
- Você se arrepende? – Eu também fiquei mais séria. A possibilidade dele se arrepender me amedrontava.
- Eu... – Mark negou com a cabeça, sem saber o que dizer. – É uma droga ter que dizer isso, mas não. – Ele afirmou, contrariado.
- Então porque está se julgando desse jeito? – Eu questionei.
- Porque eu evitei aquilo por tanto tempo e eu não podia ter cedido logo agora. – Mark não estava tão perto quanto podia.
- Foi pra isso que eu vim até aqui? – Eu não estava gostando do rumo que a conversa estava tomando. – Eu estou aqui a... – Eu olhei pra trás e vi a altura que estávamos do chão. Eu consegui até ver alguns convidados da festa. O meu medo falou mais alto e me fez colar na janela. – Essa altura... – Eu suspirei, tentando não surtar. – Pra ouvir você se lamentando? – Eu completei.
- Você quer sair daqui e conversar em outro lugar... – Mark apontou um dos dedos para dentro do seu quarto.
- Eu quero. – Eu respondi de prontidão. – Eu quero... muito. – Eu repeti, quase sem respirar.
- Está bem. Vamos entrar... – Mark tentou esconder o riso. – Eu vou entrar primeiro e ai eu te ajudo, ok? – Ele explicou e eu apenas afirmei com a cabeça. A minha coragem até que durou, não é? Vi o Mark pular a janela e logo depois virar-se para me olhar. – Me dá a sua mão. – Ele estendeu a sua mão e eu a segurei sem hesitar.

Felizmente a janela não era tão alta, então eu consegui me sentar nela e o Mark me ajudou a virar minhas pernas para o lado do quarto. Ele me puxou cuidadosamente e eu consegui pular da janela para o quarto. Quando eu voltei a pisar em seu quarto, o fato dele ter me ajudado fez com que acabássemos nos aproximando. A nossa troca de olhares só não durou mais por que ele quis assim. Mark soltou as minhas mãos e deixou de me olhar. Estava claro que ele estava evitando qualquer tipo de aproximação.

- Você está falando sério? É assim que vai ser agora? – Eu perguntei sem tirar os olhos dele. Eu achava que aquele beijo significava um passo a frente para nós e não 5 passos para trás. Eu não queria que fosse assim.
- Me desculpa, está bem? – Mark suspirou, condenando a si mesmo. Ele voltou a me olhar, mas continuou distante.
- Pelo que? – Eu o encarei.
- Por ter te beijado. – Mark respondeu de prontidão.
- Bem, então me desculpe também. – Eu ergui levemente os meus ombros. O olhar dele mudou.
- Te desculpar pelo que? – Mark temia a minha resposta.
- Por querer ter sido beijada por você. – Eu disse e todo o julgamento nos olhos dele pareceu ter desaparecido instantaneamente. – Me desculpa por não ter vindo aqui para te dar mais um fora. – Eu notei o quanto as minhas palavras afetaram ele e isso me satisfez. – Me desculpa, Mark, se eu gostei do seu beijo. – Eu completei e vi ele negar levemente com a cabeça.
- Não faz isso. – Mark continuou a negar com a cabeça. – Você não precisa fazer isso só porque não quer que eu continue me sentindo um idiota pelo que eu fiz. – Ele pediu, sério.
- Eu não fiz isso das outras vezes e não estou fazendo isso agora. – Eu disse, me referindo a aquela época que Mark tentou alguma coisa comigo. – Se eu não quisesse, eu não teria vindo até aqui. – Eu argumentei. – Ou talvez eu viesse, mas o meu discurso estaria sendo outro. – Eu completei. Mark me olhava atentamente e se perguntava se aquela notícia era boa ou ruim.
- Eu não... – Mark abriu os braços, demonstrando que não sabia o que fazer.
- Eu não vim aqui pedir explicações ou cobrar atitudes de você. – Eu vi que não adiantava conversar sobre aquilo. Não agora. – Eu só vim pra me despedir e... – Eu hesitei continuar. Eu ia mesmo fazer aquilo? Porque eu estou tão nervosa? – E pra te perguntar se você ainda aceita o meu presente de aniversário, mesmo não sendo mais o seu aniversário. – Eu disse, sabendo que já havia passado da meia noite.
- Presente? – Mark sorriu sem mostrar os dentes, o que me fez ter certeza de que ele não fazia muito ideia do que eu estava falando. – É claro! – Ele afirmou com a cabeça.
- Pra conseguir o seu presente, você vai ter que cumprir algumas tarefas. – Eu dei um fraco sorriso, quando vi ele me olhar com desconfiança.
- O que eu tenho que fazer? – Mark perguntou, disposto a fazer qualquer coisa. Eu mordi o meu lábio inferior, pois estava meio sem graça.
- Primeiro, você tem que dar 4 passos na minha direção. – Eu disse e rapidamente percebi que ele sabia do que se tratava. Eu temia que ele se recusasse a continuar com aquilo, mas quando ele deu o primeiro passo eu tive certeza de que eu estava errada. Mark não tirou os olhos de mim, enquanto dava os outros 3 passos. Ele parou exatamente na minha frente. Quando ficamos frente a frente, nos olhamos de perto. – Agora você vai continuar olhando nos meus olhos exatamente do jeito que está fazendo agora e tudo bem se por um acaso você se esquecer disso e acidentalmente olhar para os meus lábios. – Eu disse, olhando para os lábios dele que se mexeram para formar um fraco sorriso.
- Isso sempre acontece comigo. – Mark disse em um tom baixo, já que estávamos bem próximos.
- Agora você vai pegar a sua mão esquerda e vai colocá-la aqui na lateral do meu pescoço, embaixo do meu cabelo. – Eu fui bem específica e ele não hesitou um só segundo. Mark levantou a sua mão esquerda e a levou até o topo da minha cabeça. Logo depois ele desceu a sua mão pela lateral do meu rosto, enquanto escorregava os seus dedos por uma mecha do meu cabelo. Os olhos dele continuavam fixos nos meus e eu também não conseguia parar de olhá-lo. Cada gesto dele era tão único, que me deixava fascinada. Ao chegar no final daquela mecha de cabelo, ele finalmente fez o que eu havia pedido. A mão quente dele tocou a lateral do meu pescoço e alguns dedos dele chegaram a entrelaçar em alguns fios de cabelo que estavam próximos da minha nuca. Estávamos bem próximos, mas o meu rosto deveria estar há uns dois palmos de distância do dele. Os nossos olhos revezavam entre os lábios e os olhos um do outro.

A verdade é que eu estava louca para beijá-lo de novo. Eu estava louca para receber aquele beijo que conseguia ter uma baita pegada, mas ao mesmo tempo tinha uma doçura imprescindível. Eu estava gostando de voltar a sentir aquele nervosismo por estar perto de alguém e sentir aquela sensação de que tem alguém medindo cada olhar e cada gesto meu. Para o Mark era um pouco mais avassalador, considerando que ele tem esperado por isso há muito mais tempo que eu. Ele não conseguia entender o poder que eu tinha sobre ele, que em uma hora fazia ele querer se afastar e no outro fazia ele querer estar o mais próximo possível de mim. O fato de eu estar praticamente induzindo ele a fazer aquilo o deixava mais tranquilo em relação a tudo. Não tinha aquele medo da minha reação, mas ainda tinha aquele nervosismo maluco e o coração ainda queria sair pela boca.

- E agora? Qual é o próximo passo? – Mark perguntou em um sussurro, que fez até com que eu me arrepiasse. Eu senti a respiração dele em meus lábios e a minha coragem para acabar com aquilo de uma vez finalmente apareceu.
- O próximo passo é meu. – Eu afirmei um segundo antes de levar a minha mão esquerda até o rosto dele e beijá-lo sem qualquer hesitação. Os olhos se fecharam, enquanto o beijo ainda era um simples selinho. Não precisamos nem descolar os nossos lábios para transformar aquele selinho em um beijo de verdade. Minha mão escorregou de seu rosto, pois eu queria que ele tivesse o total controle da situação e do beijo. Eu estava ali nas mãos dele e estava deixando ele explorar cada centímetro da minha boca e de onde mais ele quisesse.



O beijo dele era totalmente viciante e eu não me importaria em ficar ali para sempre. Depois de algum tempo, ele sentiu a necessidade da minha presença naquele beijo. Foi então que ele passou o seu braço em torno do meu corpo e a minha mão voltou para o seu rosto, deslizando no mesmo instante para a sua nuca. Foi nessa hora que eu tomei o controle do beijo. A mão dele continuava na lateral do meu pescoço e ela não deixava que nos afastássemos nem um centímetro. O beijo não se intensificou nem por um segundo e essa talvez tenha sido a minha parte favorita. Não havia malícia ou qualquer outra intenção que não fosse aquele beijo.

O beijo foi bem longo e valeu super a pena ter ido atrás dele e eu nem vou me importar com o sono que eu provavelmente vou sentir pela manhã por ter ficado acordada até tão tarde. Depois de muito adiar, eu tive que finalizar o beijo. Começou com um selinho e acabou com um selinho. Nossos lábios se descolaram lentamente e os olhos demoraram para se abrir. Antes que eu pudesse abrir os olhos, ele selou os meus lábios pela última vez. Nossos narizes ainda se tocavam, quando eu abri os olhos e me vi tão próxima daqueles olhos verdes tão bonitos. Nossos lábios ainda estavam entreabertos e nós ainda nos olhávamos depois de um tempo. Aproveitei que a minha mão ainda estava em seu rosto e acariciei uma das suas bochechas.

- Feliz aniversário, Mark. – Foi a única coisa que eu disse, antes de afastar minha mão de seu rosto e afastar o meu corpo do dele. Mark não conseguiu nem responder. Ele não estava conseguindo nem respirar direito. Eu sorri sem mostrar os dentes, enquanto dava alguns passos para trás. Ele conseguiu corresponder ao meu sorriso, mas continuou sem dizer nada. Me viu sair pela porta e ficou um bom tempo paralisado, processando o que havia acabado de acontecer.

Eu estava radiante, eufórica e provavelmente estava sorrindo igual a uma boba alegre. Eu estava feliz como não ficava há muito tempo. Desci as escadas empolgadamente e vi que a casa estava mais vazia, mas ainda tinha algumas pessoas ali. Vi Meg do outro lado da sala conversando com uma garota e achei melhor nem ir falar com ela. Eu precisava mesmo ir para casa dormir. Saí da casa do Mark e fui para a minha. Entrei na minha casa e ao bater a porta, me encostei nela e fiquei algum tempo ali parada. Lembrando do beijo, lembrando dos toques e do sorriso de Mark. Eu deveria estar tão feliz assim?

Mark tinha todos os motivos do mundo para estar mais do que feliz e ele sabia disso. A ficha foi caindo e ele começou a acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. A garota por quem ele sempre foi apaixonado estava gostando dele e o havia beijado. O que pode ser melhor do que isso? Sozinho em seu quarto, ele começou a sorrir e até chegou a rir da sua bobeira. Era a melhor sensação do mundo! Ele respirou com um certo alívio e foi até a sua cama, jogando-se nela. Encarou o teto de seu quarto e procurou se acalmar de alguma forma, mas nada tiraria o sorriso do seu rosto.

- Sua festa acontecendo lá embaixo e você deitado na sua cama? – Meg disse, encostada em uma das laterais da porta do quarto de Mark. Ele levantou a cabeça para olhá-la e sentou-se na cama.
- Eu... – Mark queria se explicar, mas nem conseguiu. O sorriso dele o atrapalhou. – Eu beijei ela! – Ele afirmou em meio um enorme sorriso.
- Eu vi! – Meg entrou de vez no quarto e riu com toda a empolgação do Mark. – Eu vi ela indo embora e vim ver como você está. – Ela aproximou-se do amigo, que levantou-se de vez da cama.
- Como eu estou? – Mark repetiu com uma certa ironia. – Eu estou... – Ele não soube como continuar a frase. – Eu nem sei como eu estou! Eu nem sei o que é isso que eu estou sentindo. Eu nunca senti isso antes. – Mark riu de si mesmo.
- Eu acho que eu nunca vi você tão feliz. – Meg estava tão empolgada quanto Mark. Ok, não tanto quanto o Mark.
- Ela também sente alguma coisa por mim! – Mark segurou os ombros de Meg. – Ela gosta de mim, Meg! – Ele reafirmou, eufórico.
- Eu te disse, não disse? – Meg gargalhou com tamanha euforia. – Vocês ficam tão lindos juntos! – Ela sorriu feito boba.
- Obrigado por fazer essa festa. – Mark beijou calorosamente o rosto da melhor amiga. – Se não fosse essa festa, talvez nada disso teria acontecido. Foi a melhor festa que eu poderia ter. – Ele deu seguidos beijos no rosto da amiga, que fez com que ela o empurrasse.
- Chega! Chega! Eu já entendi. – Meg voltou a gargalhar.

Mark não dormiria naquela noite e provavelmente não dormiria no dia seguinte também. Ok, greve de sono durante toda a semana. Ele estava eufórico e não conseguia nem disfarçar. Mesmo alguma coisa dentro dele lhe dizendo para não seguir com aquilo, ele ainda sim não via a hora de me ver de novo. Então essa é a sensação? É desse jeito que você se sente quando tem todo o seu amor correspondido por alguém especial? É assim que você se sente quando sabe que é importante pra alguém e cogita por um só segundo que ela está perdendo o seu tempo pensando em você? Mark já havia namorado antes, mas nada se compara a forma com que as coisas estão acontecendo entre nós até agora. Os beijos daquela noite valeram mais do que todo o seu último namoro.

O meu comportamento ainda me fazia rir de mim mesma. Aquela sensação do novo e do flerte era revigorante e me deixava meio abobalhada. Eu provavelmente lembraria daquele beijo durante meses. Foi ali que tudo começou. Tudo? Tudo o que? Não existia nada até agora e eu nem sabia se chegaria a existir. Eu e a minha mania de pegar um simples fato e construir uma grande história sobre ele. Eu não era tão boa nisso. Os últimos planos que eu fiz foram interrompidos por uma traição sem sentido. Eu deveria ainda querer fazê-los? Eu deveria ter planos?

Eu não sei se estou cega ou se apenas quero perder o meu folego com outro beijo daquele, mas eu sinto que os meus planos não correm riscos dessa vez. Mark não é do tipo que decepciona. Ele não me decepcionou até hoje e eu realmente não o vejo fazendo isso. Eu sinto que ele sempre vai fazer de tudo para cuidar de mim e para me fazer feliz. Isso definitivamente faz parte dos meus planos futuros e tudo bem se eu tivesse que envolvê-lo. Tudo bem se eu jogá-lo sem querer na minha vida e nos meus planos sem ao menos pedir a sua autorização. Ele não vai me decepcionar. Ele nunca me decepciona.

Meg conseguiu convencer Mark a voltar para a festa, mas os convidados não duraram tanto quanto nós imaginávamos. A casa estava vazia e também estava bem bagunçada. O local bagunçado e ao mesmo tempo em ordem fez Meg se orgulhar da festa que havia organizado. Nada havia se quebrado e nós nem tivemos problemas como brigas ou qualquer coisa assim.

Mark ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido. Depois de levar Meg para casa, ele ainda ficou algum tempo acordado em sua cama. Ele deve ter ficado uma hora parado, olhando feito bobo para o teto do seu quarto, enquanto se lembrava do que havia acontecido naquela noite. Foi de longe o seu melhor aniversário. Finalmente alguém se importava com ele. Finalmente alguém se importou com o seu aniversário e se importou em fazer daquele dia o melhor de todos. Os presentes eram o de menos, mas o meu com certeza havia sido o melhor da noite, o melhor da vida. Mark tentou imaginar como seria a nossa relação a partir de agora. Estávamos ficando sério ou foi só um presente? Ele só descobriria no dia seguinte.

Era muito estranho pra mim. Era extremamente estranho olhar pra mim agora e ver que todos os meus planos futuros mudaram. É estranho me ver surtando por causa de um beijo que não era dele. É estranho até demais saber que o não está relacionado a nada disso que eu estou sentindo agora. Eu não achei que isso aconteceria novamente. Eu juro que não imaginei que haveria outro cara. Apesar de tudo, eu estava muito feliz. Feliz sim, porque se eu me permiti sentir isso, quer dizer que eu estou mesmo superando as coisas do passado, superando o . Agora eu estou sendo capaz de fazer uma coisa, que antes eu dizia que não poderia fazer. Eu estou afim de outro cara. Eu beijei outro cara! Lembra quando eu dizia que os meus sentimentos pelo durariam para sempre? Eu não menti. Os sentimentos vão sim durar para sempre, mas eles não serão mais únicos. Agora também tem os sentimentos pelo Mark, que eu confesso ser bem diferente dos que eu costumava sentir pelo . Diferente não quer dizer maior ou menor, mas... diferente. Eu estava prestes a dormir, mas eu tinha que olhar no relógio, não é? Eu tinha que ver o relógio marcando 3:35. Eu tinha que lembrar o que aquele horário costumava a significar pra mim e pra ele.

3:35! O horário nem sempre passava despercebido para o . Não passou despercebido naquela noite. Ele não sabia sobre o Mark. Ele não sabia o que havia acontecido comigo naquela noite, mas de alguma forma ele sentiu. Loucura, né? Loucura você acordar no meio da noite lembrando da sua ex, que naquela noite havia dado uma chance pra outro cara e para si mesma. Loucura você sonhar com a sua ex-namorada depois de meses. Foi por isso que o acordou as 3:35 da manhã tão furioso.

- Merda... – suspirou, enquanto tentava ignorar o quão incomodado ele havia ficado com aquele sonho.



No sonho, nós estávamos deitados lado a lado em uma cama. Ele brincava com os dedos de uma das minhas mãos, enquanto eu o observava em silêncio. Depois de muito tempo, ele percebia os meus olhares e também passava a me observar. Nós começamos a trocar sorrisos e ele se aproximava para me beijar. Com o seu corpo sobre o meu, ele encarava o meu rosto, enquanto as pontas dos nossos narizes ainda se tocavam. O meu sorriso fez ele me roubar um selinho. Depois de selar os meus lábios, ele voltava a me encarar de pertinho. Ele olhava fixamente em meus olhos e perguntava com uma voz baixinha se eu ainda o amava. acordou antes de saber a resposta da sua pergunta.

não conseguia entender o motivo daquele sonho. Pra que sonhar com algo que ele está lutando pra esquecer? Pra que sonhar com uma cena que tinha tanto a ver com nós dois? Pra que sonhar com aquela pergunta, que fazia seu coração doer só em imaginar a resposta? Nem enquanto ele dormia ele tinha sossego e isso era horrível pra ele. não queria lembrar de mim. Ele não queria pensar, falar ou sonhar comigo. Porque ele não podia simplesmente esquecer? É tão difícil assim superar o seu primeiro amor? É difícil superar alguém que havia prometido não superar? A resposta é sim! Não há coisa mais difícil do que você lutar contra um sentimento que é maior do que qualquer outra coisa que você já sentiu, mas continuaria fingindo para todos e para si mesmo que estava bem e que ele não pensava em mim antes de dormir.

Quando o despertador tocou naquela segunda-feira, eu não acreditei que teria que levantar. Eu estava um lixo! Eu mal tinha dormido direito e já tinha que acordar. Ir até a faculdade só pra entregar a porcaria de um trabalho. Levantei na marra! Pensei mil vezes antes de decidir que eu não podia mesmo faltar naquele dia. Não tive tanta pressa em me arrumar, pois não tinha problema se eu chegasse um pouco atrasada na aula. Era só entregar o trabalho, então eu não perderia aula. Tomei um demorado banho, que ajudou a me acordar e a me deixar um pouco mais disposta. Encarei o espelho por um tempo e vi uma expressão um pouco melhor no meu rosto. Eu cheguei a sorrir ao olhar para os meus lábios e me lembrar que eles haviam sido beijados pelo Mark na noite anterior. Coloquei uma roupa um pouco descontraída naquele dia, já que eu não teria que ir da faculdade direto pro trabalho daquela vez. Vesti um shorts jeans e uma regata básica. Coloquei uma camiseta de estampa por cima da regata e deixei os seus botões abertos. Coloquei um coturno, que combinava com a cor da minha regata. Nem cheguei a me maquiar. Só passei um batom básico e coloquei um brinco discreto.

Com o sono que eu estou, eu não tenho condições para preparar o meu café da manhã. É por isso que vou a uma lanchonete aqui perto da minha casa. Depois de pegar o meu trabalho, dirigi até a lanchonete e pedi algumas torradas e um café bem forte. Peguei o meu celular e olhei para ele pela primeira vez naquele dia. Eu sorri sem perceber quando vi que Mark havia me mandado uma mensagem.

‘Obrigado pelo melhor presente de todos. :)’ – A mensagem dele me fez sorrir ainda mais. Parecia até que eu estava ouvindo ele me dizer aquelas palavras.

Eu realmente não faço o tipo da garota com atitude. Eu não sei como eu tive coragem de ir atrás dele e beijá-lo daquele jeito. Beijá-lo foi maravilhoso, mas nada se compara ao beijo surpresa que ele me deu. Nada se compara a aquela pegada que ele demonstrou, quando apareceu na minha frente agarrando os meus cabelos com as suas mãos. Foi insano e muito bom. Pra quem não beijava a meses, foi uma volta e tanto, não acha? Apesar de toda a minha euforia, felicidade e empolgação com aquele beijo, algo ainda me deixava intrigada. O garoto que eu quase beijei na noite passada, ou melhor, o amigo do Mark me disse algo muito estranho. Algo que me fez esquecer um pouco daquele beijo.

- Obrigada. – Eu agradeci, depois que a garçonete colocou o meu café sobre a mesa. Enquanto eu comia, eu pensava sobre o que o amigo do Mark havia falado. Porque ele inventaria aquela história de que o Mark havia trancado a faculdade? Qual o sentido? Como ele sabia que eu não sabia? E o Mark? Porque ele mentiria sobre isso? Ele está mentindo? Eu duvido. Não pode ser.

Mesmo com todas aquelas perguntas, eu acabei o meu café da manhã e corri para a faculdade. Como eu previ, não precisei ficar mais de 1 hora na faculdade. Além de entregar o trabalho, a professora inventou de ficar conversando sobre a matéria e sobre o hospital que eu trabalhava. Ela ficou surpresa com o meu trabalho e também ficou feliz com todo o meu empenho. Saí da faculdade um pouco depois das 10hrs da manhã e pensei se deveria ir pra casa ou não.

Eu confesso que sempre achei o Mark muito misterioso e eu não estou falando só sobre a sua faculdade. Ele era misterioso com relação a tudo e isso sempre me deixou um pouco incomodada. Eu não gostava do fato dele saber tudo sobre mim e eu não saber quase nada sobre ele. Eu sei é que ele trabalha com o pai, que aliás, eu nunca conheci. Eu também sei que ele mora com a mãe, que mesmo sendo a minha vizinha eu nunca tive o prazer de conhecer. Eu já estou cansada de saber também sobre a faculdade de engenharia que ele cursa. Ele vai pra faculdade todas as manhãs. Como ele pode ter trancado a faculdade há meses? Isso não é possível. Não pode ser!

Entrei em meu carro, ainda pensando sobre aquilo. Olhei no relógio e vi que faltava alguns minutos para o horário que ele costumava sair da faculdade. Eu decidi ir até a faculdade. Eu não vou ser hipócrita e dizer que o único motivo da minha ida até lá era surpreendê-lo e levá-lo para almoçar no nosso restaurante favorito. Eu também queria confirmar que a história que o amigo dele havia contado era mentira. Não é que eu esteja desconfiando do Mark, mas eu precisava daquilo.

A faculdade dele não ficava tão perto da minha, mas eu iria até lá do mesmo jeito. Eu tinha tempo de sobra até o horário de trabalho. Confesso que me senti mal indo até lá para checar aquela estranha informação que o amigo dele havia me dado. Eu estava me sentindo mal por pensar que eu estava desconfiando dele. Logo ele que fez tanto por mim! Ele não poda estar mentindo. Eu tenho quase certeza de que aquele garoto mentiu e que depois vou me sentir uma idiota por ter acreditado naquela idiotice. Parei o meu carro na frente da faculdade e decidi esperar por ele sentada no capô. Foi isso que eu fiz durante 1 hora e meia. Sim! Eu esperei por ele. Eu vi cada pessoa que saiu de dentro daquela faculdade. Eu vi cada carro que saiu de dentro do estacionamento e ele não estava lá.

- Não, não.... – Eu não conseguia acreditar. Tinha alguma coisa errada. Talvez ele tenha faltado da faculdade naquele dia! Ele ficou até tarde na festa e pode ter decidido faltar, não pode? Foi disso que eu quis me convencer. A única coisa que eu queria era chegar em casa e ir até a dele para ter certeza de que ele estava lá. Ele tinha que estar em casa!

Pensar que o Mark poderia estar mentindo pra mim sobre algo tão importante me deixava decepcionada. Simplesmente porque eu esperava isso de qualquer um, menos dele. Eu queria me decepcionar com qualquer, menos com ele. Não agora que nós finalmente estamos nos acertando e fazendo isso funcionar. Ele não pode estar mentindo pra mim, mas supondo que ele esteja, qual o sentido? Porque mentir sobre estar cursando uma faculdade? Tem alguma coisa por detrás disso?

- Ele está aqui. – Eu sorri em meio a um suspiro. Foi um alívio ver que o carro dele estava na garagem. Foi como tirar um peso do meu coração e dos meus ombros. Eu estacionei o meu carro na garagem da minha casa e fui ansiosamente até a casa dele. Eu queria muito falar com ele sobre ontem, sobre nós. Quem sabe eu até contaria pra ele sobre a idiotice que o amigo dele havia inventado e me contado sobre ele na noite passada?

O meu medo de me decepcionar com outro cara era tão grande, que descobrir que o Mark não estava mentindo foi a melhor notícia da semana. Agora sim eu estava completamente feliz. Não havia mentiras e nós estávamos começando a dar uma chance para nós dois. Eu ainda queria que nós fossemos almoçar juntos e por isso fui até a casa dele para fazer o convite. Toquei a campainha e estava certa de que iria vê-lo abrir a porta com a cara de sono e com suas roupas de dormir. Ele demorou algum tempo para abrir a porta.

- Oi... – Eu sorri, assim que ele abriu a porta. Ele me olhou e rapidamente devolveu o sorriso.
- ! – Mark pareceu surpreso. – Oi... – Ele deu aquele sorriso bobo e me olhou de forma doce.
- Oi... – Eu repeti o cumprimento, pois estava meio abobalhada. Mordi o meu lábio inferior, pois estava sem graça por causa da noite passada. Olhei para ele com mais atenção e vi que não tinha roupas de dormir ou cara de sono. Ele estava arrumado na verdade.
- Que bom que você veio até aqui. – Mark estava tão sem graça quanto eu. – Se tivesse vindo há 10 minutos atrás não teria me encontrado aqui. – Ele disse na maior inocência. Como eu queria que ele não tivesse dito aquilo. O sorriso no meu rosto desapareceu e eu voltei a ficar preocupada com uma suposta mentira.
- Onde... você estava? – Eu perguntei, querendo que a resposta fosse qualquer uma, menos a faculdade.
- Eu estava na faculdade. – Mark sorriu um pouco mais desconfiado. Percebeu a minha mudança de humor. Não! Droga! Isso não pode estar acontecendo. Eu deixei de olhá-lo para encarar rapidamente o chão.
- Na faculdade? – Eu questionei, esperando não ter escutado direito. Eu voltei a olhá-lo um pouco mais séria do que antes.
- É! Qual o problema? – Mark também me olhou mais sério. Não estava entendendo qual era o problema.
- Você está mentindo! – Eu fiquei imediatamente irritada e muito frustrada. Qual o problema comigo? Porque todos eles tem que mentir pra mim!?
- O que? – Mark arqueou uma das sobrancelhas. Ele ficou mais preocupado com tamanha acusação.
- Você não estava na faculdade, porque eu fui até lá! Eu esperei por você lá fora por quase 2 horas e eu tenho toda a certeza do mundo de que você não saiu de lá de dentro. – Eu o coloquei contra a parede e a expressão de preocupação ficava cada vez mais evidente em seu rosto. Ele pareceu surpreso com a minha descoberta.
- Não, eu.... – Mark tentou se explicar, mas eu não deixei.



- Não continue mentindo pra mim, está bem? O seu amigo me disse ontem que você trancou a sua faculdade há meses, sendo que você me diz que vai na faculdade todas as manhãs. Você disse que estava lá hoje, mas você não estava, Mark! – Eu fiquei ainda mais irritada com as mentiras, que ele insistia em me contar. Eu estava me sentindo uma idiota agora por ter sido enganada por outro cara. Porque isso sempre acontece? – Então me diz, porque que você está mentindo pra mim? – Eu cerrei um pouco os olhos. – O que é que você está escondendo? – Eu questionei da forma mais séria que eu consegui. Eu não queria que ele pensasse que podia continuar me enganando e me fazendo de boba, porque ele não podia. Não mais. Seja o que for que ele está escondendo, eu vou descobrir.










CONTINUA...









Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


10 comentários:

  1. Meu deus, cada dia que eu leio um capítulo de ILAHY eu fico com mais vontade do próximo, não posso acreditar que está acabando. Não estou preparada psicologicamente para isso haha! Rah sério parabéns! 3 anos não são fáceis e fico impressionada com a sua garra de escrever e não desistir na primeira oportunidade. Ansiosa pelo próximo capitulo! Beijos

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  2. Eu PRECISO que la fique com o Jonas.......Amei. Continua pfv

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  3. Ela nao pode deixar de amar o jonas, NÃO pode.............eu preciso deles juntos

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  4. se eu não ficar com o Jonas meu Deus Rah, serio eu não posso ficar com o Mark, no final é eu e ele sempre por favor traz meu Jonas de volta!!!

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  5. OK EU DE TES TO O MARK APAGA DELETA ESSE HOMEM

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  6. Rah , Pfvr Continuaaaaaaaaaaaa, Ta muito perfeita , Cada cap eu fico mais apaixonada pela sua fic , Vc arrasa. Continuaaaaaa .. Ah , eu preciso do meu Jonas de Volta ok ? Manda o Mark pastar logo , Não quero mais ele kk , Serio preciso do meu Docinho .. Beijoo :*
    ~Laah

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  7. Mdsss q fic perfeitaa !!! Eu não quero Mark , eu quero o Jonas kkk!! Por favor vê se não demora a postar tanto !!! Eu entendo que é difícil e demorado escrever um capitulo mas ... Eu já to morrendo de curiosidade só pra saber tudo oq vai acontecer no próximo capítulo :D Posta logoo !! Bjos
    : *

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  8. tira TIRA A G O R A, EU NUNCA GOSTEI DO MARK EU SABIA Q ELE TINHA ALGUMA COISA EU SMP SOUBE GNT JURA RAH Q VC VAI FAZER ISSO CMG VC N TEM NOÇÃO DO QUANTO EU SURTEI Q DESEJANDO Q ISSO FOSSE TD UM SONHO OU SEILÁ DELE MSM PQ OLHA MDS EU QUERO O MEU JONAAAAAAASSS" ADORO VC RAH! BJS DE UMA LEITORA ANTIGONA KKKKKKKK ♥♥♥

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  9. sinhour jesuisssssss, amo ilahy !!!!

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  10. JESUISSS DELETA ESSE HOMEM

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