Capítulo 58



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




- Steven. - chamou por ele. - Steven! - Ele balançou o corpo do pai, fazendo com que ele abrisse os olhos repentinamente. Foi possível ouvir o seu suspiro de alívio.
- Eu… - Steven começou a dizer. - Não… - Ele tossiu com os olhos fechados. - Respirar. - Steven levou uma das mãos ao pescoço. Ele estava tentando dizer ao filho que estava com dificuldades para respirar.
- Eu vou chamar uma ambulância. - tirou o seu celular do bolso e começou a discar os números, mas Steven tirou o celular de suas mãos.
- Não. - Foi a palavra que o Steven conseguiu dizer em um tom de voz mais alto até o momento. - Eles não… podem saber… sobre mim. - Ele disse com dificuldade. - Ninguém pode saber. - Ele completou, fechando os olhos e tentando respirar com calma.

estava desesperado e não sabia o que fazer. O estado em que o Steven se encontrava deixava claro que ele não havia mentido sobre a doença nos pulmões. Mesmo sem entender absolutamente nada sobre medicina, sabia que o pai estava muito mal. Era desesperador ver alguém agonizando na sua frente sem poder fazer nada para ajudar. A ambulância não poderia ser chamada, pois Steven acabaria tendo que revelar seus dados pessoais e, com isso, descobririam a sua verdadeira identidade e saberiam que ele não tinha morrido. A situação era muto delicada.
- O que faço, então? - perguntou, nervoso.
- Nada. - Steven negou com a cabeça. - Eu só queria que você estivesse aqui quando… acontecesse. - Ele sorriu, olhando para o filho. A frase do pai só serviu para deixar o mais agoniado. - Eu tentei… ligar para o… seu irmão, mas ele não… - Steven negou com a cabeça. sabia exatamente o que o pai estava querendo dizer e um nó acabou se formando em sua garganta.
- Você me chamou até aqui para… te ver morrer? - A voz do ficou embargada no final da frase. Steven não conseguiu responder, pois teve uma nova crise respiratória, que acabou sendo muito pior do que a primeira.

foi obrigado a ver o pai se contorcer no chão. O corpo do Steven tremia e suas roupas estavam encharcadas de suor. Os olhos de se encheram involuntariamente de lágrimas, enquanto ele via a cena sem conseguir fazer nada para ajudá-lo. Lembrou-se de todos os anos em que ele desejou estar presente no que ele pensava ser os últimos segundos de vida do pai, quando aquele acidente aconteceu. Os últimos segundos eram reais dessa vez e o estava presente. O coração dele estava apertado e as mãos dele tremiam. Uma confusão de sentimentos e memórias levaram mais lágrimas até os seus olhos e o motivaram a tomar uma atitude. Apesar de toda a dor que o Steven já havia causado, não deixaria que o pai morresse. Não daquela maneira.

- Eu volto já. - olhou nos olhos do pai. - Aguenta, pai. - Ele pediu com tristeza. Era a primeira vez em meses que o o chamava de pai.

Steven ficou no chão, enquanto o levantava-se e saía da casa às pressas. Quando entrou no carro, segurou o volante e só então percebeu o quão nervoso e trêmulo ele estava. O nervosismo não o fez desistir. Ele precisava ajudar o seu pai, mas ele não conseguiria fazer isso sem ajuda médica. Ele precisava ir imediatamente para um hospital. Ele precisava de um médico e precisava de uma infraestrutura que só um hospital poderia fornecer a ele. Como o poderia mandá-lo para um hospital, sem que ninguém descobrisse a sua verdadeira identidade? Sem que todos, inclusive a sua mãe, soubessem que ele não havia morrido naquele acidente? não tinha as respostas destas perguntas, mas sabia exatamente para quem pedir ajuda.

Ao estacionar o carro em frente a minha casa, as luzes da casa demonstraram a ele que eu já estava dormindo, mas isso não o impediu de seguir em frente. As lágrimas ainda estavam presas nos olhos dele no momento em que ele bateu seguidas vezes na porta da minha casa. sabia que estávamos brigados, mas isso não fez a menor diferença para ele. Naquele momento de desespero, não existia amor próprio ou orgulho. só precisava ajudar o pai.

- ! - gritou da varanda da minha casa. Ele olhava na direção da minha janela, esperando que a luz do quarto se acendesse. - ! - Ele gritou novamente.
- Mas o que… - Eu me levantei da cama e deixei de lado o livro que eu estava lendo. Assustada, corri até a janela e ao abrir a cortina, vi o lá embaixo. Pensei mais de duas vezes se deveria descer ou não para abrir a porta. As batidas na porta demonstravam tanto desespero, que eu tive que descer. Alguma coisa muito ruim havia acontecido.

Antes de descer as escadas, vesti um longo casaco por cima do meu pijama. As batidas na porta continuavam e os gritos pelo meu nome também. Eu estava muito preocupada com o que poderia ser. e eu estávamos brigados. Ele não apareceria na minha casa daquela maneira se não fosse algo realmente urgente. As batidas na porta diminuíram, quando eu acendi a luz da sala. Eu abri a porta rapidamente e me deparei com um visivelmente angustiado e com olhos cheios de lágrimas. A breve troca de olhares que tivemos me fez ter certeza que algo muito ruim havia acontecido.

- Eu preciso da sua ajuda. - pediu com a voz embargada. - Por favor. - Ele me olhou com tristeza. - Me ajuda. - implorou, enquanto uma lágrima solitária escorria de um de suas olhos.





Capítulo 58 – Adeus



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- O que… - A tristeza nos olhos dele me deixaram tão preocupada, que eu não consegui completar a frase tão rapidamente. A princípio, eu achei que o motivo do desespero e da angústia dele era o Mark. Achei que algo pudesse ter acontecido com ele. - O que foi que aconteceu? - Olhei nos olhos do , sentindo meu coração estremecer.
- Meu pai. - A voz continuava embargada. - Eu acho que ele está morrendo. - Ele completou. Aliviada não seria a palavra certa para me descrever naquele momento. Eu voltei a respirar normalmente e o meu coração se acalmou, porém ter o chorando bem ali na minha frente fez com que a tristeza que eu sentia permanecesse a mesma.
- Como… - No primeiro momento, eu não entendi como eu poderia ajudar. Meus olhos foram imediatamente até o carro do , que estava estacionado em frente a minha casa. Eu imaginei que o Steven estivesse lá. - Onde ele está? - Eu perguntei, voltando a olhá-lo.
- Ele está na casa dele. Ele… não quer ir para um hospital, porque as pessoas vão descobrir a verdade sobre ele. - começou a falar tudo de uma só vez. - Ele me ligou e disse que precisava de ajuda. Eu cheguei e ele estava… - Ele negou com a cabeça. - Ele estava agonizando no chão e eu… eu não soube como ajudá-lo. Eu não sei como… - ergueu os ombros. Os olhos dele continuavam marejados.
- Calma. - Eu o interrompi ao perceber o quão nervoso ele estava. - Ele estava agonizando como? - Eu pedi mais detalhes.
- Ele… não conseguia respirar. - tentou engolir o choro. - Ele me disse há alguns dias que tinha uma doença nos pulmões. Eu… - Ele me olhou, perdido. - Eu achei que ele estava mentindo. Eu não acreditei nele. O Mark não acreditou nele. - negou com a cabeça.
- Hey. - Eu chamei por ele, colocando uma das minhas mãos em seu ombro. - Olha pra mim. - Eu pedi e ele atendeu o meu pedido. Olhei intensamente nos olhos dele e em poucos segundos eu consegui ver algo que eu tinha visto poucas vezes naqueles olhos: medo. Ele estava assustado de uma maneira que eu nunca tinha visto. - Você precisa se acalmar, está bem? - Eu fiz um novo pedido.
- É o meu pai, ). - tentou se justificar. - Ele não é a melhor pessoa do mundo, mas ele ainda é o meu pai e ele está morrendo. - Ele complementou. - Eu já passei por isso uma vez e não tive a chance de fazer nada para tentar ajudá-lo. Eu não quero que isso aconteça de novo. - Eu sabia muito bem o quanto ele se culpava por aquilo e também sabia que, mesmo que indiretamente, eu estava envolvida nesse trauma dele. Ele me salvou naquela noite. - Olha, eu sei que você tem todos os motivos do mundo para não ajudá-lo. Eu sei disso! - enfatizou. - E eu também sei que é pedir muito, especialmente para alguém que sofreu tanto por causa dele, mas… - Ele hesitou por alguns momentos. - Eu não sei se tenho o direito de te pedir isso depois de tudo o que aconteceu, mas se ainda existe alguma boa lembrança de tudo o que nós vivemos, eu peço que faça isso por mim. Não faça por ele. Faça por mim. - Os olhos tristes dele imploravam. - Ajude ele, por favor. - Não importa quantas brigas nós tivermos, vê-lo daquele jeito sempre vai me destruir.
- Eu quero te ajudar. - Olhei nos olhos dele novamente. - Você sabe que eu jamais negaria qualquer tipo de ajuda para alguém, especialmente se essa pessoa for você, mas… - Eu ergui os ombros. - , eu sou só uma estudante de medicina. Eu não sei qual a doença que ele tem e nem saberia como ajudar o seu pai. Eu sinto muito, mas eu não sei como ajudar. - Eu estava me sentindo muito mal por dar aquela notícia a ele. Eu queria muito ajudá-lo.
- O hospital. - me olhou de uma maneira diferente.
- Seria muito bom se ele fosse para o hospital. Os médicos lá são maravilhosos e poderiam tentar ajudá-lo, mas se o Steven se recusa a ir ao hospital. - Eu ergui os ombros.
- Ele só está se recusando a ir ao hospital por causa dos documentos. Se ele apresentar os verdadeiros documentos dele, as pessoas vão saber que, na verdade, ele não morreu. - explicou, sem dizer muito.
- Os documentos são necessários para o preenchimento da ficha do paciente. É um procedimento padrão do hospital. - Eu concordei, sem entender onde ele estava querendo chegar.
- E se os dados colocados na ficha do paciente fossem falsos? - sugeriu, esperando pela minha reação. - Você acha que é possível? - Ele perguntou.
- Você está me pedindo para falsificar os dados da ficha do Steven? - Dizer aquilo em voz alta soou como um enorme absurdo pra mim. Seria extremamente antiético e irresponsável da minha parte. Além disso, se o hospital descobrisse, eu poderia ser punida.
- Não. - negou com a cabeça. - Você tem toda a razão. Isso é… ridículo. É uma péssima ideia. - Ele xingou a si mesmo mentalmente por ter dado aquela ideia tão egoísta. Ele estava desesperado demais para pensar. - Eu… não sei o que fazer. - ergueu os ombros, enquanto negava com a cabeça. - Eu sinceramente não sei o que fazer. - Ele disse, deixando de me olhar e virando-se de costas. Ele sentou-se em um dos degraus da varanda.

Eu não podia ser hipócrita e fingir que eu não me importava. É claro que eu me importava. Era o ! O mesmo cara que eu tenho amado todos esses anos e que já fez inúmeras coisas por mim. Ele já havia me salvado tantas vezes. Ele já havia me ajudado dezenas de vezes sem nem pensar nas consequências. Nós já havíamos passado por tantas coisas juntos. Nós tínhamos uma história. Eu não conseguia lidar com o fato de que eu podia fazer algo por ele e eu não faria.

- … - Eu disse, me sentando ao lado dele. Olhei para ele e vi seus olhos marejados encararem o chão. Ele estava completamente perdido e desesperado. Ele não sabia o que fazer. - Eu… - Eu não sabia o que dizer.
- Está tudo bem. - virou-se para me olhar e ainda tentou sorrir. Eu sabia que ele tinha feito isso apenas para me acalmar. - Eu sinto muito por ter aparecido na sua porta esse horário e ter jogado tudo isso em cima de você. - Ele passou suas mãos pelos olhos, tentando eliminar as lágrimas acumuladas. - Eu acho que fiquei muito nervoso e… vim até a única pessoa no mundo que eu sabia que seria capaz de me acalmar. - Ele tentou se justificar. - Obrigado por ter me recebido. - levou sua mão até a minha e a segurou por segundos, antes de levantar-se.

Eu me sentia uma completa inútil. Eu me sentia impotente. Eu me sentia a garota egoísta, que tantas vezes o disse que eu era. Egoísta sim, pois eu não tinha sido capaz de arriscar o meu trabalho para salvar a vida do pai dele, quando ele havia arriscado a sua própria vida para salvar a vida do meu pai há algumas semanas. Muito egoísta sim por não estender a mão a alguém que eu me importava tanto, mesmo sabendo que eu era a única pessoa que poderia estendê-la. Talvez, aquela seria a melhor decisão a ser tomada, mas se eu a tomasse, não seria eu.

- Espera. - Eu me levantei e o vi parar e virar-se para me olhar. - Eu vou ajudá-lo. - Eu afirmei, parando na frente dele.
- Não. - negou imediatamente. - Você não pode… - Ele tentou me fazer desistir.
- Eu não me importo. - Eu o interrompi. - Não importa o que você diga, eu não vou virar as costas pra você. - Eu estava decidida, mas a expressão no rosto dele demonstrava que ele ainda não concordava com aquilo. - Você já fez isso por mim, lembra? - Poucas lágrimas alcançaram os meus olhos, enquanto eu mencionava o fato de ele já ter salvado a vida do meu pai. - Por favor, me deixe retribuir. - Um fraco sorriso surgiu no canto do meu rosto quando eu terminei a frase. Ele negou incessantemente com a cabeça e a abaixou, deixando de me olhar. Levou uma de suas mãos até a cabeça, bagunçou o seu cabelo e depois a desceu até o seu rosto. Os dedos pressionaram os seus olhos, tentando evitar que novas lágrimas escorressem de seus olhos. Ele não queria ter que aceitar aquela ajuda, mas ele sabia que não tinha outra opção. - Vai ficar tudo bem. - Eu quis consolá-lo. Me aproximei e coloquei meus braços em volta do pescoço dele. Ele relutou algum tempo, antes de ceder ao meu abraço. me abraçou tão forte, que me fez perceber o quanto ele precisava daquele abraço. Os dedos dele se entrelaçaram no meu cabelo. Eu consegui ouvir a respiração trêmula dele. - Ele vai ficar bem. - Eu disse assim que terminei o abraço. Fiz questão de dizer aquilo olhando nos olhos dele. - Você confia em mim? - Toquei o rosto dele, quando percebi que ele ainda mantinha-se muito pessimista.
- Muito. - afirmou com a cabeça com um fraco e emocionado sorriso.
- Certo. - Devolvi o sorriso, tentando mantê-lo calmo. - Me dê um minuto para trocar de roupa. Nós vamos até a casa do Steven e de lá ligamos para a ambulância. É melhor que eu esteja lá quando a ambulância chegar. - Eu disse e o vi apenas afirmar com a cabeça.

Apesar de parecer tão errado e tão estúpido da minha parte, eu estava muito feliz com o que eu estava fazendo. Eu não estava fazendo isso pelo Steven. Eu estava fazendo isso pelo , que não merecia perder o pai novamente. Eu me lembrava muito bem de como ele se culpava por não ter tido a oportunidade de ajudar o Steven no dia que aquele acidente aconteceu. Eu não podia deixar que ele voltasse a se sentir daquela maneira pelo resto da vida dele. Além disso, eu também estava fazendo isso pelo Mark. Apesar de tentar demonstrar a todo o custo o quanto ele não se importa com o pai, eu sabia que ele se importava. Eu sei que, para ele, perder outra pessoa vai ser terrível. Querendo ou não, e Mark tinha o sangue do Steven em suas veias. Eles eram família! E a maioria dos integrantes dessa família significava o mundo pra mim.

Enquanto eu terminava de me arrumar, aproveitou para ligar para o Mark e avisá-lo sobre tudo o que estava acontecendo. Depois de muito insistir, Mark finalmente atendeu o telefone e recebeu a notícia. Não dava para dizer que ele ficou desesperado, mas também não dava para dizer que ele não ficou preocupado. avisou que ele seria levado para o hospital em que eu trabalhava e Mark disse que o encontraria lá.

Já vestida, desci para o primeiro andar da casa e me encontrei com o do lado de fora da casa. Tranquei a porta da casa e seguimos juntos até o seu carro. Ele dirigiu o mais rápido que conseguiu até a casa do pai. Ele estacionou o carro e para a minha surpresa, manteve-se atrás do volante. Fiquei me perguntando se ele não desceria do carro.

- Você não vai descer? - Eu perguntei, virando o meu rosto para olhá-lo.
- E se ele… - não quis terminar a frase, mas eu entendi exatamente o que ele quis dizer. - Eu não quero ver. - Ele negou com a cabeça, encarando o volante.
- Eu vou até lá. - Eu não podia julgá-lo por aquilo. Eu abri e porta e saí do carro. - Liga para o hospital e peça uma ambulância. Fala que é urgente. - Eu pedi, olhando através da janela do carro.
- Eu vou ligar. - pegou rapidamente o seu celular e começou a discar os números.

Eu ainda não era uma médica formada, mas aquele tipo de situação já havia se tornado um pouco comum para mim. Apesar de não exercer a minha tão sonhada profissão, eu já havia presenciado muitas coisas estagiando naquele hospital. Porém, aquele momento em específico me deixou sim um pouco nervosa. Era o pai do e do Mark ali dentro. Ele tinha que estar vivo! Ao chegar na porta da casa, entrei sem hesitar um só segundo. Ele ainda estava caído do chão, mas ele não estava sozinho. Dois de seus capangas o cercavam e pareciam um pouco aflitos com a situação.

- Afastem-se. - Eu pedi para que eu pudesse me aproximar.
- Você? - Um dos capangas perguntou, estranhando a minha presença.
- Ela está estudando para ser médica. Lembra? - O segundo capanga sussurrou para o outro, mas eu consegui ouvir.
- Ele está morto? - Perguntaram, preocupados. Eu me ajoelhei ao lado do Steven e percebi que ele estava desacordado. Chequei o seu pulso na mesma hora e consegui sentir pouquíssimos batimentos cardíacos.
- Ele ainda está vivo. - Eu suspirei em voz alta. Fiquei de pé novamente e troquei olhares com os dois capangas. Eles me assustavam bastante. Eu não queria ficar sozinha com eles e, por isso, foi até a porta e fiz sinais com as mãos para o para que ele soubesse que o seu pai ainda estava vivo. Extremamente aliviado e esperançoso, saiu do carro e andou rapidamente na minha direção.
- Ele ainda está vivo? - perguntou em meio a um sorriso, incrédulo.
- Está. - Eu sorri para ele ao dar a boa notícia.
- Eu nem acredito. - passou por mim e entrou na casa. Aproximou-se de seu pai e parou ao lado dele, ainda de pé.
- A ambulância tem que chegar logo ou ele não vai aguentar por muito tempo. - Eu disse, olhando para o , que estava de costas pra mim.
- Ambulância? - Um dos capangas perguntou, assustado. os olhou pela primeira vez naquela noite. Ele nem tinha notado a presença deles ali.
- O que vocês estão fazendo aqui? - encarou ambos.
- Nós moramos aqui, garoto. - O capanga maior respondeu.
- Vocês chamaram uma ambulância? Ele não pode ir para um hospital. - O outro argumentou, irritado.
- Ele tem que ir para um hospital e ele vai! - afirmou com autoridade. - E se algum dos idiotas tiver algum problema com isso, é só dizer e nós resolvemos. - Ele enfrentou os dois caras que tentaram intimidá-lo.
- . - Eu o puxei pelo braço e o afastei dos dois desconhecidos. O barulho da sirene da ambulância foi o que evitou maiores problemas. Fiquei extremamente aliviada ao ouvi-lo.
- Vamos dar o fora. - Um dos capangas se intimidou com a chegada da ambulância. Eles não queriam ser vistos. O outro capanga hesitou algum tempo antes de desistir de enfrentar o e se afastou.
- É por aqui. - Eu gritei para o motorista da ambulância e seus auxiliares. Eles correram na minha direção e entraram na casa.
- Qual o problema? - Um dos enfermeiros perguntou, enquanto os outros dois colocavam o Steven em uma maca.
- Problemas respiratórios. Os batimentos já estão bem fracos. - Eu resumi o máximo que eu consegui.
- Depressa. - O enfermeiro pediu aos outros ao constatar que o caso realmente era grave. e eu fomos junto com eles até o lado de fora da casa e até a ambulância.
- Eu vou com eles. - Eu disse, olhando para o . Com os olhos, eu tentei dizer a ele que era melhor que eu fosse na ambulância.
- Eu vou logo atrás. - afirmou com a cabeça, demonstrando que havia entendido.

Depois de entrar na ambulância, as portas foram fechadas e ela foi guiada às pressas. De dentro da ambulância, eu consegui perceber que o carro não parou sequer em um semáforo. O enfermeiro sentado a minha frente já tinha feito diversos procedimentos com o Steven, que continuava desacordado. Ele respirava com a ajuda dos aparelhos.

A ambulância chegou no hospital e dirigiu-se imediatamente para a área de emergências. Obviamente, o não pode acompanhar a ambulância e teve que deixar o seu carro no estacionamento do hospital. Eu acompanhei o Steven até a porta de entrada da UTI. Os enfermeiros não me deixaram passar dali. Eu sabia que os médicos teriam muito trabalho com o Steven e, por isso, era fácil concluir que demoraria para termos notícias. Com isso, decidi que o melhor seria procurar o para tentar tranquilizá-lo.

Mesmo se esforçando bastante, Mark não conseguiu chegar ao hospital tão rápido quanto ele gostaria. Ele teve que terminar um de seus treinamentos antes de abandonar o trabalho. Deixou o carro no estacionamento do hospital e dirigiu-se à sala de espera, que era um lugar que ele conhecia muito bem. Mark acabou encontrando o irmão sentado em uma das cadeiras.

- ! - Mark chamou por ele ao se aproximar.
- Oi, Mark. - não tinha notado a sua presença desde então.
- O que aconteceu? - Mark queria saber os detalhes.
- A doença que o Steven falou que tinha... - negou com a cabeça. - Era verdade. - Ele completou.
- Como é que você sabe? Ele… pode estar fingindo tudo isso. - Mark procurou a resposta mais fácil, já que era difícil demais para ele reconhecer que o Steven não tinha mentido e, consequentemente, não tinha se recusado a fazer a doação ao por vontade própria.
- Ele quase morreu nos meus braços. - achou que suas palavras bastariam. - Ele me ligou para pedir ajuda. Eu fui até lá e o encontrei no chão. Ele mal conseguia respirar. - Ele detalhou o ocorrido.
- Encontrei vocês. - Eu me aproximei sorrateiramente de ambos. Eles me olharam.
- Como ele está? - perguntou na mesma hora.
- Eu não sei dizer com certeza. Levaram ele pra UTI e não me deixaram entrar. - Eu ergui os ombros. - Ele está em boas mãos agora. - Eu completei.
- Eu não acredito que, mesmo depois de tudo, você ainda está envolvida nisso tudo. - Mark afirmou, contrariado. Para ele, eu não tinha obrigação nenhuma de ajudar o Steven.
- Eu estou bem com isso. - Eu sorri para o irmão mais velho. - De verdade. - Eu quis tranquilizá-lo.
- Eu até tentei falar pra ela, mas… - ergueu os ombros.
- Eles vão querer os documentos do Steven. Espero que você tenha um bom plano. - Mark disse em um tom mais baixo, olhando para o irmão.
- Nós podemos conversar lá fora, por favor? - Eu tinha receio que alguém do hospital escutasse a conversa. Eu me afastei e fui em direção a saída do hospital e eles me acompanharam. Paramos na entrada do estacionamento.
- Eles te falaram alguma coisa sobre ele? - perguntou, supondo que eu não tinha uma boa notícia.
- Não me falaram nada e, provavelmente, não vão falar nada até amanhã de manhã. - Eu lamentei não poder dar uma boa notícia. - Mais um motivo para não ficarmos aqui no hospital essa noite. - Eu conclui.
- Como assim? Não é pior se o Steven ficar sozinho? - Mark perguntou.
- A ficha dele não pode ser preenchida se não houver nenhum conhecido para fornecer os dados. - Eu expliquei.
- Mas em algum momento a ficha vai ter que ser preenchida, certo? - concluiu, sem entender qual era o plano.
- Eu sei, mas… quando isso acontecer, é melhor que eu esteja no meu horário de trabalho. - Eu sabia que poderia resolver o problema pela manhã.
- Você tem certeza que você quer fazer isso pelo Steven? - Além de discordar da minha atitude, Mark também queria deixar bem claro que não ficaria chateado se eu desistisse de seguir em frente com aquilo.
- Eu não estou fazendo isso por ele. - Eu olhei para o Mark e depois olhei para o . A troca de olhares tornou-se constrangedora e, por isso, eu resolvi mudar o assunto. - Então, vamos pra casa? Não tem mais nada que possamos fazer aqui essa noite. - Eu apontei na direção do carro.
- Você tem razão. - Mark concordou com a cabeça.
- Eu… vou ficar. - disse, fazendo com que eu e o Mark olhássemos para ele.
- Se houver alguma emergência, eles vão me ligar, . - Eu argumentei, tentando convencê-lo.
- Eu sei, mas… eu não conseguiria ir pra casa e deitar a minha cabeça no travesseiro sabendo que ele está aqui sozinho. - se justificou, sabendo que poderia soar dramático. - Vocês podem ir. - Ele sorriu fraco. Conhecendo-o tão bem como eu conhecia, eu tinha certeza que ele queria estar por perto se acontecesse algo pior com o Steven. Diferentemente da outra vez, ele queria ter a chance de se despedir.
- Eu vou ficar com você. - Mark não pensou duas vezes. Ele não deixaria o irmão sozinho. - Você pode ir com o meu carro, . - Ele estendeu a chave na minha direção. A atitude dele só me fez admirá-lo ainda mais.
- Não precisa, Mark. - negou com a cabeça. - Você trabalhou o dia todo. Não é justo se você ficar. - Ele recusou na mesma hora.
- Não tem problema. - Mark parecia decidido.
- Olha, eu sei que você não quer me deixar sozinho. Eu agradeço a sua preocupação e aprecio o seu gesto de verdade, mas eu quero que você vá. - insistiu. - Eu trouxe a até aqui e agora não posso deixar que ela vá embora sozinha nesse horário. Além disso, ficar sozinho vai me fazer bem. - Ele explicou com toda a paciência do mundo.
- Eu posso ir sozinha. - Eu quis deixar claro que não me importava.
- Eu sei que você pode, mas eu não quero que vá. - me olhou, sério. - Por favor! Eu estou pedindo isso a vocês. - Ele queria ficar sozinho.
- Se isso é tão importante pra você, eu vou. - Mark cedeu, pois também havia percebido a necessidade do irmão de ficar sozinho.
- Valeu mesmo, cara. - estendeu uma das mãos e o Mark a apertou, aproximando-se para um breve abraço. - Se souberem de alguma coisa, me liguem. Eu vou dormir no carro. - Ele pediu.
- E se você precisar de qualquer coisa, você pode me ligar também. Eu venho, ok? - Mark colocou-se à disposição.
- Para de me dizer essas coisas. - sorriu e empurrou levemente o irmão, que também riu.
- Eu estou falando sério! - Mark gritou, afastando-se do e indo em direção ao seu carro. Eu achei que não havia mais nada para ser dito e simplesmente me virei de costas para ele com a intenção de acompanhar o Mark.
- Hey. - disse um pouco mais baixo. Tendo em vista que o Mark já estava um pouco distante, ele só poderia estar falando comigo. Na hora, eu me virei. - Obrigado. - Ele agradeceu com um triste sorriso. - Eu nunca vou esquecer o que você está fazendo por ele. - A gratidão estava nas poucas lágrimas presas em seus olhos, que ele tentou disfarçar.
- Mais algumas dessas e, talvez, nós ficaremos quites. - Eu respondi com um fraco sorriso. - Você vai ficar bem? - Eu demonstrei preocupação.
- Eu vou. - confirmou com a cabeça. O discreto sorriso no rosto dele era resultado do seu contentamento ao me ver preocupada com ele.
- Eu volto pela manhã. - Eu afirmei. Eu ainda olhava para ele, enquanto dava pequenos passos para trás.
- Ok. Eu vou esperar por você. Só pra variar. - O sorriso no rosto dele aumentou. Eu não disse nada. Eu apenas continuei olhando para ele por poucos segundos, antes de me virar de costas e me afastar de vez. Me aproximei do carro do Mark e entrei pela porta do passageiro, me sentando ao lado dele.
- Você acha que ele vai ficar bem? - Mark perguntou, dando a partida no carro.
- Eu acho que ele só precisa ficar um pouco sozinho. É difícil para ele aceitar que ainda se importa tanto com o Steven. - Eu fui sincera ao dar a minha opinião.
- É, eu sei. - Mark concordou.
- Sabe o quê? Como ele está se sentindo? - Eu aproveitei a oportunidade de entrar naquele assunto.
- O que você está querendo dizer? Que eu também me importo com aquele cara? - Ele me olhou mais sério.
- Eu sei você que se importa. - Eu não hesitei ao afirmar.
- O que? Não! - Mark negou na mesma hora. - Por que eu me importaria? Esse cara não significa nada pra mim. - Ele argumentou.
- Mark, ele é o seu pai. Eu sei que ele não é o pai que você sempre sonhou, mas isso não muda o fato de que ele é o seu pai. - Eu disse e ele ficou algum tempo em silêncio.
- Eu sei, mas é que... - Mark negou com a cabeça, contrariado. - Soa tão estúpido, sabe? O fato de eu me importar mesmo depois de tudo o que ele fez. - Ele rolou os olhos.
- Não é estúpido. É incrível da sua parte. - Eu o olhei com admiração. - Para ser bem honesta, eu não esperava nada melhor de você. - Minha frase fez com que ele me olhasse. - O que foi? - Eu sorri, sem entender os olhares.
- Eu queria muito ser esse cara que você vê em mim. - Mark disse, deixando um fraco sorriso escapar.
- Você é! - Eu não hesitei um só segundo. - Olha pra mim. - Eu pedi, quando percebi que havíamos parado no semáforo vermelho. Ele virou a cabeça na minha direção e eu levei uma das minhas mãos até o rosto dele. - Você é. - Eu reafirmei e vi o sorriso no rosto dele aumentar. Mark aproximou sua mão da minha e a deslizou pelo seu rosto, levando-a até a sua boca, onde ele depositou um beijo carinhosamente.
- Que bom que você está aqui. - Mark disse, depois de afastar minha mão de seus lábios. Ele me olhou pela última vez e voltou a dar atenção ao trânsito.

Não dava para negar o clima que se estabeleceu dentro daquele carro. Mesmo ambos tentando disfarçar, era impossível não perceber. Estávamos em um momento em que tudo em nós dois parecia falar muito alto. Os olhares, o silêncio, os sorrisos e os gestos, tudo era motivo para nos deixar desconsertados. Aquilo definitivamente era inédito para nós dois.

Ao chegarmos na rua das nossas casas, Mark estacionou o seu carro na garagem de sua casa e nós dois descemos do carro. Sendo a pessoa atenciosa de sempre, ele ofereceu-se para me acompanhar até a porta da minha casa. Era muito difícil recusar uma proposta como essa, sendo que tudo o que eu mais havia desejado nos últimos dias era estar perto dele. Fomos até a porta da minha casa, eu destranquei a porta e fui entrando, pois queria que ele entrasse comigo.

- Você quer beber alguma coisa? - Eu ofereci, me virando para olhá-lo.
- Não. Eu estou bem. Obrigado. - Mark agradeceu. Ele não parecia tão à vontade.
- Qual o problema? - Eu me aproximei, preocupada.
- Você tem certeza que quer mesmo arriscar o seu trabalho por causa do Steven? - Mark demonstrava muita preocupação comigo. - Quer dizer, eu sei que você está fazendo isso pelo . Eu entendo, mas… Eu não sei. Eu posso conversar com o se você quiser. - Ele sugeriu.
- Por que é tão difícil pra você aceitar que eu estou fazendo isso por você também? - O tímido sorriso em meu rosto não deixou que a frase soasse tão agressiva quanto parecia.
- Eu não quero que você se prejudique por causa de mim. - Mark negou com a cabeça.
- Você vale a pena. - Eu tentei tranquilizá-lo. - Eu sei que você provavelmente não vai acreditar, mas eu não tenho dúvida de que você vale a pena. - Mais um sorriso dele e mais uma vez eu não consegui controlar a minha reação a ele. As velhas borboletas voltaram a atormentar estômago.
- Vem aqui. - Mark segurou uma das minhas mãos e me puxou para um abraço. Se ele não fosse tão incrível, eu diria que ele estava fazendo aquilo de propósito e que estava tentando me provocar. Eu adorava o jeito que os dedos dele se entrelaçavam no meu cabelo. - Tanta coisa aconteceu hoje, que eu esqueci de uma coisa. - Ele terminou o abraço para poder olhar em meu rosto. - Você se lembra que dia é hoje? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Hoje é… dia 14, né? - Eu não entendi onde ele estava querendo chegar.
- Não é isso o que eu estou querendo dizer. - Mark riu, sem emitir qualquer som. - Hoje é um dia importante! Você não se lembra? - Ele ficou me olhando, esperando que eu lembrasse.
- Dia 14 de… - Eu comecei a dizer, quando a minha ficha finalmente caiu. - É mesmo! Faz 2 anos que eu me mudei para Nova York! - Eu afirmei, surpresa.
- Yay! - Mark comemorou.
- Meu Deus! Como você lembrou disso? - Eu perguntei, perplexa.
- Bem, foi um dia muito importante pra mim. - Ele ergueu os ombros, me fazendo voltar a sorrir feito boba. - Eu… até tinha planejado escrever um cartão para te agradecer por tudo nesses últimos 2 anos, mas aconteceu tantas coisas hoje, que eu nem tive tempo. - Mark lamentou. - Eu não tenho nada pra você. Quer dizer, eu até tenho, mas… não é o tipo de presente que eu gostaria de te dar. - Ele fez careta.
- Sério? Presente? E… o que é? - Eu fiquei muito curiosa. Não tinha nada nas mãos dele. O que poderia ser?
- É… um convite. É uma coisa do trabalho. - Mark colocou uma das mãos no bolso de sua calça e tirou de lá um papel. - Eu estou no meio de uma investigação e eu preciso muito ir a esse evento. - Ele me entregou o papel. - Eu não deveria estar te contando isso, mas… vai ter um outro agente em um outro lugar fazendo uma coisa muito importante e eu preciso ir nesse evento para ficar de olho em um suspeito em potencial. - Mark tentou me explicar, sem revelar tantos detalhes. - Levar alguém comigo vai ajudar bastante no meu disfarce. - Ele completou.
- Então, você quer que eu te ajude no seu disfarce. - Eu olhei pra ele, deixando de olhar para o convite.
- Não é só isso. - Mark sorriu e rolou os olhos. - Vai ser incrível passar um pouco mais de tempo com você. - Ele esperava pela minha resposta.
- Seus argumentos são bem convincentes. - Eu tentei controlar o sorriso.
- Isso é um sim? - Ele arqueou uma das sobrancelhas.
- É claro que é um sim. - Eu neguei com a cabeça, enquanto deixava um sorriso escapar. Eu jamais recusaria um convite dele. - Você pode contar comigo. - Eu afirmei.
- Sério? - No primeiro momento, ele ficou perplexo com a minha resposta positiva. - Obrigado mesmo! - Ele me olhou de maneira doce. A maneira com que ele me olhou me fez perder as palavras por alguns segundos. Fiquei olhando pra ele com um sorriso desconsertado, enquanto me perguntava como eu pude ter demorado tanto tempo para vê-lo daquela maneira tão intensa e indescritível.
- Eu não pretendia fazer isso agora, mas… eu também tenho um presente pra você. - Eu quebrei o silêncio constrangedor.
- Um presente? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Um presente. - Eu confirmei. - Feche os seus olhos. - Eu pedi.
- Por quê? - Ele ficou desconfiado.
- Você não confia em mim? - Eu abri os braços.
- Você não pode usar esse argumento pra tudo. - Mark fez careta, aos risos.
- É claro que eu posso! - Eu ri, sem emitir qualquer som. - Feche os olhos. - Eu insisti.
- Está bem! - Ele cedeu e fechou os olhos, sem saber o que esperar.
- Espera. - Eu pedi para que ele soubesse que demoraria um pouquinho, já que eu tinha que ir até a minha bolsa buscar o tal presente. Me afastei e me aproximei da bolsa, que estava em cima da mesa de jantar. De dentro da bolsa, tirei um embrulho, que eu havia feito naquele dia mais cedo. Voltei a me aproximar dele com o embrulho nas minhas mãos e parei bem na frente dele.

Segundos antes de colocar o presente nas mãos dele, eu o olhei. Como ele estava de olhos fechados, eu podia aproveitar aquele momento sem me preocupar com as minhas expressões bobas. Era estranho o fato de que todas as vezes que eu o olhava, eu tinha que me perguntar: ‘como ele poderia estar mais bonito do que antes?’. Os olhos fechados escondiam os estonteantes olhos verdes dele, mas o sorriso ainda estava lá e, particularmente, os lábios foram o que mais chamaram a minha atenção naquele momento.

Pensei diversas vezes antes de decidir tomar uma atitude que, apesar de não ser do meu feitio, era incentivada por cada parte do meu corpo. Dei dois passos na direção dele, me certificando de que eu não o tocaria. O rosto dele estava a menos de um palmo do meu, quando eu o encarei pela última vez. Fui aproximando lentamente o meu rosto do dele e fechei os meus olhos milésimos de segundo antes de tocar os meus lábios nos dele. Eu não sabia porque eu havia feito aquilo, eu só sabia que eu precisava fazer.

Mark foi pego de surpresa e mal conseguiu reagir. Ele não acreditou no que estava acontecendo. Não foi necessário que ele correspondesse, já que tratava-se apenas de um selinho inocente. Mesmo assim, o meu coração estava mais do que disparado. Eu me sentia como uma adolescente que estava dando o seu primeiro beijo. Foi surreal a minha reação. Eu jamais achei que um simples selinho causaria tantos efeitos em mim. Eu não imaginei que me sentiria daquela maneira novamente.

Em nenhum momento, tivemos a intenção de transformar aquele simples selinho em um beijo e isso não tinha a ver com o fato de querermos isso ou não. Aconteceu tudo de maneira tão simples, espontânea e mágica, que não conseguimos pensar em mais nada. Nem mesmo as nossas mãos tentaram fazer qualquer movimento. Meu coração que já estava acelerado, ficou ainda mais disparado. O selinho não foi tão longo, mas para nós dois parecia ter durado segundos. Descolei os nossos lábios e fui abrindo os olhos lentamente, enquanto afastava o meu rosto do rosto dele. Mark abriu os olhos a tempo de ver eu me afastar. Ele nunca havia me olhado daquela maneira. Nós nunca havíamos nos olhado daquela maneira.

- Bem… - Mark se atrapalhou ao tentar terminar a frase. - Obrigado pelo presente. - Ele sorriu, nervoso.
- Esse não foi o meu presente. - Eu neguei com a cabeça, tentando evitar que ele notasse o sorriso bobo no canto do meu rosto. Minha afirmação deixou o Mark um pouco confuso, mas da melhor maneira de todas. - Aqui. - Eu estendi o embrulho na direção dele. Ele deixou um sorriso escapar antes de pegá-lo das minhas mãos.
- Não precisava fazer isso. - Mark balançou a cabeça negativamente, enquanto abria o embrulho. Me mantive em silêncio, mas a verdade é que eu estava muito ansiosa para saber o que ele acharia do presente. Ele desembrulhou e finalmente segurou o meu presente nas mãos. Era um porta-retrato com uma das fotos que havíamos tirado na cabine de fotos há alguns dias. - Uau. - Ele me olhou com um enorme sorriso. - Eu adorei. - Mark voltou a olhar para a foto por alguns segundos. - Obrigado por isso. Isso é incrível. - Ele me olhou com carinho.
- Essa noite… foi inesquecível pra mim. Com essa foto, você não vai se esquecer dela também. - Eu tentei me justificar.
- Eu nunca vou me esquecer. Eu prometo. - Mark sorriu fraco, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. A constante troca de olhares acabou resultando em um clima constrangedor.
- Então, para quando é o seu convite? - Eu disse qualquer coisa que deixasse tudo menos constrangedor.
- Para amanhã a noite. - Mark afirmou, fazendo careta. - Eu sei que é meio em cima da hora. - Ele percebeu a expressão em meu rosto.
- Não acredito. - Eu suspirei, decepcionada. - Eu tinha combinado com uma amiga de trabalho de substituí-la no horário do estágio dela amanhã a noite. - Eu realmente estava muito decepcionada por não poder aceitar o convite dele.
- Não tem problema. - Mark quis demonstrar que estava tudo bem. - Eu deveria ter falado antes. - Ele completou.
- Eu sinto muito. - Eu ergui os ombros. - Eu realmente queria ir a essa festa com você. - Eu fiz bico.
- Eu entendo perfeitamente. - Ele negou com a cabeça. - Vamos ter outras oportunidades, certo? - Mark sorriu.
- É claro que sim. - Eu confirmei com a cabeça.
- Legal. - Mark ficou um pouco sem graça. - Então, eu vou indo. Sei que você vai ter que ir pro hospital amanhã cedo e que precisa descansar. - Ele disse em tom de despedida.
- Sim, eu estarei lá amanhã bem cedo. Você também vai, certo? - Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Vou. Eu posso te dar uma carona. - Ele sugeriu.
- Combinado. - Eu concordei na mesma hora.
- Eu passo te buscar às 8 horas. Está bom pra você? - Mark perguntou.
- Perfeito. - Eu afirmei.
- Ok, então! - Mark sorriu, antes de se aproximar e me abraçar carinhosamente. Ele beijou a minha cabeça.
- Se precisar de qualquer coisa, você pode me ligar. - Eu me referia à situação do Steven.
- Só se eu precisar? - Ele deu um sorriso malandro, enquanto se afastava.
- Se não precisar, você também pode me ligar. - Eu ri, sem emitir qualquer som.
- Está bem. - Mark também riu ao abrir a porta. Ele acenou, antes de fechar a porta. Fiquei alguns segundos olhando para a porta e sorrindo igual a uma idiota.

Ao sair para o lado de fora da casa, Mark também paralisou com um sorriso desconsertado em seu rosto. Ele estava de costas para a porta e ainda estava tentando lidar com os seus próprios sentimentos depois daquele selinho inesperado, mas que, ao mesmo tempo, tinha sido tão esperado por ele. Aquele simples gesto da minha parte havia acendido uma esperança dentro dele que já havia se apagado há tempos. Aquele simples gesto deu a ele coragem para tentar retribuir a boa surpresa. Mark tirou o celular de seu bolso e, mesmo estando parado na minha porta, ele discou o meu número. Eu ainda estava na sala da minha casa, quando ouvi meu celular tocar. Fui até a mesa e o segurei nas mãos. Ler o nome de Mark em seu visor, me arrancou um sorriso ainda maior. Não fazia nem 2 minutos que ele tinha saído da minha casa.

- Eu deveria estar esperando por algo assim. - Eu atendi a ligação.
- Você não vai acreditar. Eu estou parado aqui na sua porta e me dei conta de que eu realmente estou precisando de uma coisa. - Mark virou-se de frente para a porta, pois sabia que eu a abriria a qualquer momento.
- Não brinca. - Eu ironizei, olhando para a porta de longe.
- Eu não te ligaria se não fosse tão importante. - Ele argumentou, tentando me convencer. Mesmo sem ter tanta certeza do que eu encontraria atrás daquela porta, eu me aproximei.
- Bem, nesse caso… - Eu abri a porta com o celular ainda no ouvido. - Eu não vou te deixar esperando. - Eu sorri ao olhá-lo. - Do que você precisa? - Eu já havia desligado a ligação. Mark se aproximou sem qualquer receio. Eu estremeci só com a possibilidade de ganhar o tão esperado beijo dele.
- Você realmente não sabe? - Ele perguntou, segundos antes de tocar o meu rosto com suas duas mãos e levar sua boca ao encontro da minha.

Não deu nem tempo de eu me perguntar se aquilo não passaria de um simples selinho. Ele aprofundou o beijo, fazendo com que os nossos corpos se aproximassem ainda mais. Eu estava tão entregue, que deixei que ele conduzisse completamente o beijo, que manteve-se lento até o final. Ao descolar os nossos lábios, ele roubou mais um selinho. Mark abriu logo os olhos, ansioso para ver a minha reação. Eu estava tão impactada com a atitude e com o beijo, que demorei alguns segundos para abrir os meus olhos. Ao abri-los, eu estava visivelmente atordoada. - Boa noite. - Mark retirou suas mãos do meu rosto e se afastou, sem me dar qualquer chance de responder. Acompanhei ele se afastar sem conseguir dizer nada, mas se eu pudesse dizer, eu pediria que ele me beijasse novamente. Eu pediria que ele me beijasse o resto da noite.

Mark voltou para a sua casa e só não estava mais feliz por causa do estado de saúde do seu pai. Ele mal conseguia comemorar direito o que tinha acontecido naquela noite. Deitou-se em sua cama e chegou a tentar dormir, mas não conseguiu. Ele precisou ligar para o antes para ter certeza de que ele estava bem.

Apesar de não me importar com o Steven e ter diversas outras coisas na minha cabeça no momento em que coloquei a minha cabeça no travesseiro, eu não pude deixar de pensar no estado crítico que o Steven se encontrava. A saúde dele interferiria diretamente na felicidade de duas pessoas muito importantes pra mim e, por isso, eu não conseguia deixar de me preocupar com aquele homem cruel e ignorante. Porém, eu não podia mentir e dizer que não tinha pensado no Mark. Eu fiquei sim lembrando daquele beijo. Eu fiquei sim surpresa com a proporção dos sentimentos que passei a ter por ele. Eu fiquei preocupada sim ao me dar conta de que a única pessoa por quem eu já tinha sentido aquilo havia sido o irmão dele.

Na manhã seguinte, eu acordei bem cedo e me vesti antes mesmo que o Mark chegasse. Sinceramente, eu não estava nem um pouco receosa ou preocupada com o que eu iria fazer. Eu ajudaria o Steven de coração totalmente aberto e sabia que, independentemente das consequências, eu não me arrependeria.

Eu já esperava o Mark há alguns minutos, quando ouvi a buzina do carro dele. Peguei a minha bolsa e o meu celular e saí da casa, trancando a porta em seguida. Caminhei até o carro, abri a porta e me sentei no banco do passageiro. Virei o meu rosto para olhá-lo pela primeira vez naquele dia e me deparei com uma cara de sono adorável e um sorriso doce.

- Bom dia. - Eu disse, me aproximando e beijando o rosto dele.
- Bom dia. Como você está? - Mark devolveu o beijo na bochecha.
- Eu estou bem. - Eu respondi, me afastando e colocando o cinto de segurança.
- E ai, já desistiu dessa ideia insana de ajudar o Steven? - Mark perguntou mesmo sabendo que a resposta seria negativa.
- Eu não vou desistir. - Eu neguei com a cabeça.
- Eu sei que não vai. - Mark fez careta. - E… como você vai fazer? Você… não tinha dito que trabalharia no turno da noite hoje? - Ele perguntou.
- Eu vou trabalhar a noite, mas… por causa do Steven, eu vou trabalhar no período da manhã também. - Eu expliquei. - O pessoal do hospital já está acostumado com as minhas horas-extras. Ninguém vai desconfiar de nada. - Eu sorri ao erguer os ombros.
- E a faculdade? - Mark perguntou, sabendo que as minhas aulas eram no período da manhã.
- Eu vou pegar toda a matéria com a Meg depois. Eu já combinei com ela. - Eu já tinha pensado em tudo. Mark não disse mas nada, mas seu olhar de julgamento falou mais do que qualquer coisa. - Por que você está tentando me fazer desistir disso? - Voltei a olhá-lo, depois de um longo silêncio.
- Não é isso. - Mark tentou se redimir.
- É sim! - Eu insisti.
- Ok! - Mark decidiu ceder. - Eu sei o quanto isso pode te prejudicar e pensar que você está fazendo isso por mim também… - Ele fez uma breve pausa. - Faz com que eu me sinta mal. - Ele completou.
- Eu entendo que esteja preocupado, mas saiba que eu sei exatamente as possíveis consequências de tudo isso e eu estou bem com isso. Isso não me desencoraja nem um pouco. - Eu fui completamente honesta. - Você e o já fizeram tanto por mim. Me deixe tentar retribuir. - Eu pedi com jeitinho.
- O que você decidir, eu vou estar do seu lado. - Mark cedeu ao perceber o quanto aquilo era importante pra mim.
- Obrigada. - Olhei para ele e sorri de maneira agradecida.

Apesar de todo o desconforto, dormiu a noite toda no banco detrás do seu carro. Acordou diversas vezes durante a noite com a impressão de ter escutado o seu celular tocar. O medo de receber notícias ruins era real. Ele ainda estava dormindo, quando eu e o Mark chegamos no hospital. Depois de estacionar o carro, Mark e eu fomos até o carro do para chamá-lo. Ele iria querer nos acompanhar.

- Ele está dormindo. - Mark sorriu pra mim, depois de olhar através do vidro do carro.
- Tadinho. - Eu suspirei.
- . - Mark chamou por ele, enquanto deu batidas sutis no vidro do carro. Apesar de ter se mexido, continuou dormindo. - Hey! . - Ele insistiu, batendo um pouco mais forte no vidro. Dessa vez, acordou. Para ser bem específica, ele levantou-se em meio a um pulo. nos olhou e fez careta ao nos ver. - Vamos. - Mark apontou na direção do hospital. espreguiçou-se, passou as mãos pelo cabelo na tentativa de arrumá-lo e pegou o seu casaco. - Bom dia. - O irmão mais velho disse, enquanto o saía do carro.
- Bom dia. - ainda estava com a sua voz rouca. Depois de sair do carro, ele me olhou. Eu acenei pra ele em meio a um fraco sorriso.
- Hey. - tentou retribuir o sorriso. - Alguma notícia? - Ele teve que perguntar.
- Nenhuma. Vou ficar sabendo agora. - Eu disse, triste por não poder dar uma boa notícia a ele. - Vamos lá! - Eu apontei com a cabeça na direção do hospital.
- Vamos. - confirmou com a cabeça.


Seguimos todos juntos até o hospital. Ao entrarmos, eu os acompanhei até a sala de espera e pedi que eles ficassem ali me esperando. Os deixei sentados e bati o meu ponto antes de ir até a sala em que as minhas coisas ficavam. Deixei a minha bolsa e vesti o meu jaleco. Agi como se aquela fosse uma manhã normal de trabalho, porque era exatamente isso o que ela seria.

Como havia outras duas estagiárias trabalhando comigo naquele mesmo período e elas estavam cuidando da área de vacinas e injeções, me ofereci para cuidar do preenchimento das fichas dos pacientes. As outras estagiárias costumavam odiar aquele setor, por isso, não foi nada difícil conseguir aquela função naquela manhã. Não seria a minha primeira vez e nem a minha última.

Felizmente (ou não), haviam muitas fichas acumuladas para serem preenchida. Com isso, seria mais difícil que alguém desconfiasse de alguma coisa. Comecei a preencher as fichas, deixando a do Steven mais pro final. Fui até a sala de espera mais de 5 vezes para falar com os familiares dos pacientes para pedir que eles me acompanhassem com os documentos do respectivo paciente para preencher cada uma das fichas. Quando chegou a vez do Steven, não foi diferente. Fui até a sala de espera e chamei o e o Mark. Eles me acompanharam até o balcão.

- Vocês estão com os documentos ai, certo? - Eu perguntei, tentando manter o mesmo protocolo de sempre.
- Documentos? - arqueou as sobrancelhas. Ele não estava com os documentos do seu pai.
- Eu preciso do documento. - Eu falei de maneira mais enfática. Mark entendeu exatamente o que eu quis dizer e pegou a sua carteira, me dando qualquer um de seus documentos.

Comecei a preencher todo o formulário com informações que eu mesma fui criando, enquanto eu fingia que pegava tais informações do documento que o Mark havia me dado. Eu criei até mesmo um nome novo. e Mark me olhavam, mas ao mesmo tempo demonstravam preocupação com os outros funcionários a nossa volta. O receio de que eu fosse pega por qualquer um deles era enorme.

- Vocês são sobrinhos do paciente, correto? - Eu perguntei, voltando a olhá-los.
- Somos. - confirmou na mesma hora.
- Como nenhum outro parente mais próximo compareceu ao hospital, vocês serão os responsáveis por ele, está bem? - Eu perguntei e vi os dois afirmarem com a cabeça. - Certo. Está tudo certo. O formulário já está preenchido. - Devolvi o documento para o Mark.
- Muito obrigado, . - Mark sorriu, extremamente agradecido.
- Tudo bem. - Eu neguei com a cabeça. - Eu só vou terminar de preencher o resto desses formulários e vou ver se consigo alguma notícia dele pra vocês. - Eu quis acalmá-los, pois percebi que ambos estavam apreensivos com o que eu tinha acabado de fazer.
- Obrigado. - Apesar do agradecimento simples, o olhar do falava mais alto do que qualquer outra coisa.

Eu não estava arrependida e também não estava nem um pouco receosa com o que eu tinha acabado de fazer. Eu fiz aquilo de coração tão aberto, que era impossível sentir qualquer outro sentimento que não fosse paz interior. Eu estava imensamente feliz e leve por ter retribuído só um pouquinho do que o e o Mark já fizeram por mim. Terminei de preencher os formulários e fui até a UTI para tentar cumprir a minha palavra e dar notícias aos irmãos Jonas.

- Bom dia! - Entrei na recepção da UTI e adivinha? - Oi, Knox! - Eu não consegui conter o sorriso. Seria mais fácil do que eu imaginei.
- Bom dia. - Knox sorriu, sem conter a empolgação.
- Eu preciso da sua ajuda. - Eu fiz careta.
- Se eu puder te ajudar. - Knox me deu total atenção.
- É que… um tio dos meus amigos está internado desde ontem à noite na UTI e eles estão desesperados por notícias. Você sabe me dar alguma informação? - Eu pedi com jeitinho.
- É claro! - Knox aceitou na mesma hora. - Você sabe o número dele? - Ele perguntou. Ele referia-se ao número do paciente, que servia de controle interno no hospital.
- Eu acho que é 051516. - Eu fingi estar um pouco em dúvida, mas a verdade é que eu já tinha decorado o número.
- O cara que não para de reclamar? - Knox fez careta.
- Ele mesmo! - Eu sorri, incrédula. Aquilo soava muito como o Steven.
- Ele chegou bem ruim ontem à noite, manteve-se estável durante a madrugada e acordou agora de manhã. Fizeram alguns exames ontem e o médico disse que traria os resultados hoje ou amanhã, mas ainda não apareceu. - Knox deu detalhes. As notícias me deixaram extremamente feliz. Não pelo Steven, é claro, mas sim pelo e pelo Mark.
- Que ótimo! - Eu demonstrei empolgação com a notícia. - Ok, eu preciso te pedir mais uma coisa. - Eu fiquei muito sem jeito em pedir outra coisa a ele depois do que eu tinha feito no nosso encontro.
- O que? - Knox voltou a ser gentil.
- Será que os meus amigos poderiam entrar para fazer uma breve visita? São os únicos parentes que se importam com o cara e estão muito preocupados. - Mesmo sabendo que o Knox não tinha autoridade para tal permissão, eu sabia que ele já havia feito algumas exceções em outras oportunidades.
- Bem… - Knox resistiu por alguns segundos. - São somente dois? - Ele perguntou.
- Só dois. - Eu confirmei.
- Ok, então… - Knox olhou em volta. - Acho que podemos dar um jeito. - Ele sorriu.
- Sério? - Eu perguntei retoricamente. - Obrigada, Knox! De verdade! - Eu quase o abracei por impulso. - Eu posso trazê-los agora? - Eu quis saber.
- Pode. - Knox afirmou com a cabeça.
- Obrigada! - Eu o agradeci mais uma vez, antes de me afastar e ir rapidamente até a sala de espera. Ao chegar lá, Mark e me olharam na mesma hora. Eu acenei com a cabeça para que eles se aproximassem.
- Oi. - Mark se aproximou.
- Hey. - Eu deixei um sorriso escapar.
- Aconteceu alguma coisa? - Mark perguntou.
- É claro que aconteceu. Está na cara dela. - disse, provando que me conhecia extremamente bem.
- Eu tenho notícias. - Eu fiz um certo mistério.
- O que foi? - estava muito ansioso.
- Bom, ele… - Eu hesitei poucos segundos. - Ele está acordado e consciente. - Eu dei a notícia.
- Você está falando sério? - ficou tão feliz, que achou que pudesse ser mentira.
- Estou. - Eu confirmei com um enorme sorriso. Da forma mais espontânea de todas, se aproximou e me abraçou forte. Enquanto o abraçava, olhei para o Mark, que tentava manter-se discreto, mas deixou um fraco sorriso escapar.
- Eu não posso acreditar. - terminou o abraço e olhou em meu rosto. O sorriso dele era enorme e só me deixou ainda mais feliz. Era tão bom colocar aquele sorriso no rosto dele. Eu me sentia tão bem!
- Os resultados dos exames ainda não saíram, mas ele está estável agora. - Eu dei mais alguns detalhes. - E, se vocês quiserem, vocês podem entrar para vê-lo. - Eu disse e vi os dois irmãos voltarem a me olhar.
- Nós podemos entrar? - Mark perguntou, perplexo. Ele e o irmão sabiam que as regras do hospital eram um pouco chatas quando tratavam-se de visitas de pacientes.
- Nós dois? - quis ter certeza.
- Vocês dois. - Eu confirmei, segurando o riso. - Eu conversei com um amigo meu e ele deixou que vocês entrassem. - Eu contei. - Aliás, o pai de vocês já está bem conhecido entre os enfermeiros. Eles o chamam de ‘o cara que não para de reclamar’. Dá pra acreditar? - Eu ironizei.
- O cara que não para de reclamar? Achei até que pegaram leve. - Mark sorriu.
- Parece até que estão descrevendo você. - olhou para o irmão.
- O que? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Você está sempre reclamando! Agora, já sabemos de quem você puxou essa sua mania irritante. - provocou o irmão.
- Eu reclamo? - Mark apontou para si mesmo.
- ‘Você estacionou o carro errado.’; ‘Você não tranca a porta da casa.’; ‘Você não sai do meu sofá.’; ‘Você comeu toda a comida da geladeira.’ . - fez careta, enquanto afinava a voz. - Você quer que eu continue? - Ele cruzou os braços.
- Cala a boca. Eu não falo assim. - Mark o olhou, impaciente.
- Hey! - Eu tentei interromper a discussão. Ambos me olharam. - Vocês vão entrar? - Eu sorri, tentando não rir da discussão boba deles.
- Você tem certeza que isso não vai dar nenhum problema pra você? - Mark perguntou, preocupado.
- Você já está fazendo muito por nós. - concordou com o irmão.
- Está tudo bem. O meu amigo é o responsável pelo setor hoje e ele liberou. Não vai ter problema algum. - Eu neguei com a cabeça.
- É o cara com quem você saiu? - Mark segurou o riso ao perguntar.
- Sim. - Eu neguei com a cabeça, enquanto me esforçava para não rir. - É o Knox. - Eu confirmei. Sem entender do que falávamos, olhou para nós dois.
- Você saiu com um cara chamado Inox? Tipo… o aço? - fez careta. Mark começou a gargalhar na mesma hora.
- Não! - Eu o olhei feio. - É Knox! - Eu rolei os olhos. - Vocês vão entrar ou não? - Eu cruzei os braços.
- Foi ele! Você viu. - Mark ergueu as mãos, alegando inocência.
- Vamos entrar. - esforçou-se para ficar mais sério, enquanto eu o fuzilava com os olhos.
- Me acompanhem. - Deixei de olhá-los e me virei, indo em direção a UTI. Eles me acompanharam. - Lembrem-se que vocês vão visitar o tio de vocês. - Eu disse, antes de entrarmos na ala da UTI. Knox estava anotando alguma coisa em um papel, quando eu me aproximei. - Oi. Eles estão aqui. - Eu disse ao me aproximar do enfermeiro.
- Claro. - Knox sorriu para os irmãos. - Podem entrar. É o terceiro quarto à direita. - Ele indicou.
- Obrigado. - Mark agradeceu, enquanto o apenas sorriu.
- Eu vou esperar aqui. - Eu não fazia a menor questão de ver o Steven e eu sabia que era recíproco.
- Você não vai com eles? - Knox estranhou.
- Não. Eu… - Eu não sabia como justificar. Eu não queria chamar a atenção ou causar qualquer tipo de desconfiança sobre a identidade do Steven.
- Eu precisava mesmo trocar o soro do paciente que eles vão visitar. Se você fosse com eles, já poderia fazer isso pra mim. - Knox sugeriu. - Eu tenho tantas coisas pra fazer e estou sozinho aqui hoje. Você faria isso, por favor? Ajudaria muito. - Ele pediu.
- Bem, eu… - Eu hesitei por alguns segundos. Depois do favor que ele havia me feito, eu não podia recusar ajuda. Olhei para os irmãos Jonas e eles me olhavam como se dissessem: ‘você pode vir. Tudo bem!’.
- Vamos. - Mark sorriu pra mim e apontou com a cabeça na direção do quarto.
- Então, eu vou. - Eu confirmei com um fraco sorriso.
- Muito obrigado! - Knox agradeceu. - Aqui está o soro. É só trocar. Você sabe, né? Já fez isso milhões de vezes. - Ele brincou.
- Claro que sim. Pode deixar. - Eu peguei o soro de suas mãos.
- Obrigado! - Knox agradeceu novamente. Andei ao lado dos garotos pelo corredor e estava nítida a minha apreensão por ter que me aproximar do Steven novamente. Eu simplesmente odiava estar perto dele.
- Você está bem? - Mark perguntou, antes de entrarmos no quarto.
- Eu estou bem. - Eu tentei sorrir para não preocupá-los, mas eu sabia que eles me conheciam o suficiente para ter certeza de que eu estava mentindo.
- Com nós dois por perto, você não tem motivos para se preocupar. - fez questão de me tranquilizar. Não consegui conter o sorriso ao ouvir aquela frase. Olhei para o Mark e ele piscou um dos olhos pra mim. - Vamos. - Ele disse, antes de abrir a porta do quarto. Os dois entraram na minha frente e eu entrei por último, fechando a porta atrás de mim.
- Finalmente, rostos conhecidos! - Steven suspirou ao ver os filhos. Ele ainda não havia me visto.
- Oi, Steven. - Mark respondeu, sem demonstrar qualquer empolgação.
- Como você está se sentindo? - aproximou-se da cama. Foi nesse exato momento que o Steven me viu. Eu ainda estava parada bem próxima a porta. Trocamos olhares tensos por alguns segundo e eu pude perceber a expressão em seu rosto mudar.
- O que essa garota está fazendo aqui? - Steven nem ao menos tentou disfarçar.
- Hey! - Mark estava prestes a condená-lo pela maneira que ele tinha falado comigo, mas eu o repreendi.
- Eu vim trocar o soro. - Eu não deixei que ele me intimidasse. Me aproximei do Steven e comecei a tirar a bolsa de soro vazio para substituí-la pela bolsa cheia. Mesmo estando receosa por estar bem ao lado daquele homem terrível, eu tentei me mostrar calma e focada no que eu estava fazendo.
- O que você está armando? - Steven virou o seu rosto na minha direção e me encarou. Eu o ignorei completamente. - Estou falando com você! - Ele segurou o meu braço e me fez olhá-lo.
- Por que é tão difícil de você aceitar que nem todo mundo é como você? - Eu me manifestei antes mesmo que os garotos reagissem a meu favor. Puxei o meu braço com força, fazendo com que ele me soltasse. Mark e se entreolharam e trocaram sorrisos discretos, enquanto eu continuei fazendo o meu trabalho.
- Eu não quero ficar nesse hospital. Eu não quero ficar perto dessa garota. - Steven reclamou para os filhos.
- ‘Essa garota’ salvou a sua vida. - fez questão de dizer.
- Salvou a minha vida? - Steven ironizou. - E por que ela faria isso? - Ele riu, debochado. A pergunta gerou um certo constrangimento. O Steven já me odiava por causa do meu interesse pelos filhos dele. Responder a pergunta dele dizendo que eu havia feito aquilo pelo e pelo Mark não era o ideal. - Ahh… mas que surpresa! - Ele deduziu a resposta diante do clima estranho que se estabeleceu. - Você fez isso por um deles, não é? Que fofa! - Steven não cansava de ser sarcástico. - Qual dos dois você está fazendo de idiota dessa vez? - Ele sorriu falsamente. O clima só ficava cada vez pior.
- Steven. - Mark chamou a atenção do pai.
- Ou são os dois? - Steven emendou outra pergunta.
- Independentemente dos motivos dela, você deveria agradecer por ela achar que você merecia ser salvo. - Mark não conseguiu se conter.
- Nós podemos falar sobre o que realmente interessa, por favor? - tentou mudar o assunto para evitar mais confusão. Ele também estava fazendo aquilo para tentar me preservar e eu percebi isso.
- Essa é uma ótima ideia, garoto. - Steven olhou para o filho. - O que eu estou fazendo aqui? - Ele ficou mais sério.
- Você está doente e está em um hospital. Qual a surpresa? - foi sarcástico.
- Eu não queria estar aqui. Eu te disse que eu não queria vir. - Steven não se intimidou.
- E o que você esperava? Que eu te deixasse morrer? Foi para isso que você me chamou na noite passada? Pra te ver morrer? De novo? - perguntou com um tom de indignação.
- Eu aprecio o seu gesto, . - Steven demonstrou sensibilidade com a frase do filho. - Aliás, me deixa muito feliz que você se importe. - Ele deixou um sorriso escapar. - Você também, Mark. Eu nunca imaginei ver você entrando nessa sala. - Steven olhou para o filho mais velho.
- Nem eu! Inclusive, já estou arrependido. - Mark tentou demonstrar indiferença. Pai e filho trocaram olhares.
- Vocês me trouxeram para esse hospital e agora vão ter que me ajudar a sair daqui. Eu não posso ficar aqui. - Steven disse, receoso.
- Você pode. - afirmou na mesma hora.
- Eles não podem saber quem eu sou. - Steven falou um pouco mais baixo, pois ficou com receio de ser ouvido.
- Eles não vão saber. - voltou a afirmar. - Graças a , eles não vão saber. - Ele completou ao me olhar por poucos segundos. Eu estava terminando de trocar o soro.
- O que? - Steven achou que tivesse entendido errado.
- Ela trabalha aqui. Ela colocou um outro nome na sua ficha para que eles não saibam quem você realmente é. - O filho mais novo explicou, me dando todos os créditos.
- Você deve estar se sentindo um idiota agora, não é? - Mark comentou ao ver perplexidade no rosto do pai. Mesmo sem querer, acabei olhando para o Steven. Eu já tinha trocado o soro e, por isso, pude me afastar dele. Fiquei entre os irmãos, mas eu estava 2 passos atrás deles. Olhei novamente para o Steven e nós voltamos a trocar olhares.
- Bom, eu tenho que admitir que eu estou surpreso e impressionado. Arriscando o seu trabalho por minha causa? Agora, eu estou me sentindo importante. - Steven voltou a ser sarcástico. Ele sempre usava aquele mesmo tom comigo. O jeito que ele me tratava não deveria me afetar tanto, mas afetava. Eu ficava muito irritada, mas ao mesmo tempo, eu me sentia muito triste por ser tão odiada sem ter feito nada para merecer aquilo. Aquele ódio me fazia muito mal.
- Não sinta. - Eu o encarei com firmeza, mas tive quase certeza de que haviam poucas lágrimas em meus olhos. Lágrimas de ódio? De medo? Não. Eram só resquícios da enorme força e coragem que eu tirava de dentro de mim para enfrentá-lo. - Como você já disse: eu não fiz isso por você. - Eu afirmei. - Mas, se por algum momento eu tivesse pensado que não valesse a pena fazer isso por eles, talvez, eu tivesse feito por você, porque esse é o tipo de garota que eu sou. Eu não te deixaria morrer. - Mesmo mantendo a compostura, eu estava muito feliz por poder finalmente enfrentá-lo daquela maneira.
- Suas palavras, seu jeito de falar… - Steven me olhou com deboche. - Exatamente como a sua mãe. - Ele complementou. - Você pode até enganá-los, mas a mim você não engana. - Steven cerrou os olhos na minha direção.
- Você pode conhecer o meu pai e a minha mãe, mas você não me conhece, Steven. - Eu fiz questão de responder. - Eu entendo o seu passado e os seus motivos para não gostar de mim, mas o seu passado não pode definir o nosso futuro. Não existe nenhuma história se repetindo aqui, porque se tivesse, um desses caras teria que ser como você. - Eu olhei para o e para o Mark. - E, felizmente, eles não são. - Eu estava muito aliviada por finalmente ter dito aquilo para ele. - Eu vejo vocês lá fora. - Eu disse em um tom mais baixo para os garotos, depois de deixar de olhá-lo.

Eu saí do quarto me sentindo até mais leve. Eu tinha buscado tanta coragem dentro de mim para poder encarar aquele homem perverso, que eu já nem sentia mais medo. Já fora do quarto, eu fechei os meus olhos e respirei fundo para tentar acalmar o meu coração. Ficar perto do Steven nunca seria uma coisa normal para mim.

- Como você se sente? - perguntou ao pai.
- Eu já estou ótimo. Já posso até voltar pra casa. - Steven sorriu para ambos.
- Isso quem vai dizer é o médico. - Mark o repreendeu.
- E a crise que você teve ontem a noite? Foi a primeira vez? - quis saber.
- Não. Não foi a primeira. - Steven negou com a cabeça, mais sério.
- E você nunca foi ao médico? - Mark perguntou, indignado.
- Eu não podia ir! Eu já disse. As pessoas não sabem que eu estou vivo. Elas não podem saber. - Steven falou um pouco mais baixo.
- Você deveria ter me falado! Eu teria dado um jeito de conseguir ajuda. - disse em tom de bronca.
- Como você conseguiu a ajuda dela? - Steven referiu-se a mim.
- Dá pra parar!? Essa sua implicância com ela já está passando dos limites. - perdeu a paciência. Mark também reagiu, mas sem dizer nada.
- Eu não quero a ajuda dela. - Steven tentou enfrentá-lo.
- Eu implorei a ajuda dela! - disse, irritado. - Droga! - Ele esbravejou. - Ela não se ofereceu para ajudar. Eu implorei para que ela te ajudasse! - repetiu.
- E agora, vocês dois vão ser gratos a ela eternamente, certo? - Steven voltou a ser sarcástico. - Agora, vocês dois estão ainda mais apaixonados por ela, não é mesmo? - Ele olhou para os filhos. A palavra ‘apaixonados’ deixou o clima um pouco mais pesado no quarto. e Mark se entreolharam, visivelmente incomodados com o comentário do pai. - Me escutem. - Steven chamou a atenção dos filhos. - Eu não quero ser parte disso. Eu não quero ser um pretexto para que vocês fiquem ainda mais próximos dela. Eu não quero ser o motivo que vai fazer vocês deverem algo a ela pelo resto de suas vidas. - Ele finalizou. Mark negou imediatamente com a cabeça e lançou um olhar de reprovação para o pai.
- É mesmo tão difícil pra você agir como um pai normal? - Mark perguntou, olhando seriamente para o pai. - Depois de tudo o que você fez, você está aqui nesse hospital. Nós estamos aqui! E você só sabe só falar dessa vingança ridícula que só existe nessa sua cabeça! - Ele esbravejou. - Honestamente, eu não sei porque não desistimos de você ainda. - Mark demonstrou um pouco mais de decepção. - Espero você lá fora, . - Ele ainda olhava para o pai. Virou-se de costas e saiu pela porta do quarto, deixando o irmão mais novo sozinho com o pai.
- O que aconteceu com você? - também demonstrava decepção ao dirigir-se ao pai. - Você era uma boa pessoa, gentil, engraçado e… bondoso. - Ele negou com a cabeça. - Você já perdeu tantas coisas com essa vingança sem sentido. É uma pena que você só vá se dar conta disso quando você perder de vez o que ainda te resta, pai. - estava visivelmente desapontado com as atitudes do pai. - Eu vou tentar voltar amanhã. - Ele disse, afastando-se da cama. - E vê se para de reclamar de tudo e de todos aqui. Você pode não ter percebido, mas eles só estão tentando te ajudar. - disse, antes de sair do quarto. Ele percebeu que suas últimas frases mexeram com o seu pai, mas ele não sabia o quanto aquilo era bom.
- Hey. - cumprimentou o irmão ao encontrá-lo do lado de fora do quarto.
- Eu tentei, cara. - Mark ergueu os ombros. - Eu não consigo não perder a paciência com ele. Ele não ajuda. - Ele completou.
- Eu sei. - teve que concordar. - Está tudo bem. - Ele sorriu fraco, dando fracos tapinhas em um dos ombros do irmão. - Vamos. - Eles foram na direção da saída da UTI.

Desde que eu tinha saído do quarto, eu estava na recepção da UTI com o Knox. Nós estávamos conversando e, a princípio, ele conseguiu me acalmar e me distrair. Estávamos falando sobre o movimento do turno da manhã, quando e Mark se aproximaram. Só ao olhá-los de longe, eu já percebi que o final da conversa deles com o pai não tinha terminado da melhor maneira. Eu não estava surpresa, já que estávamos falando do Steven.

- Já? - Knox disse, quando e Mark se aproximaram.
- É melhor deixá-lo descansar. - Mark respondeu, olhando discretamente para mim.
- Eu levo vocês até a sala de espera. - Eu me ofereci, enquanto eu dava poucos passos na direção da porta.
- Bom trabalho. Obrigado. - Mark cumprimentou Knox antes de se afastar.
- Valeu mesmo, Inox. - sorriu ao cumprimentá-lo. Notei que ele havia pronunciado o nome errado, mas quando ele passou por mim com aquele sorriso debochado que só ele tinha, eu soube que foi proposital. Saí da UTI atrás dos irmãos Jonas, depois de dar ao Knox o meu sorriso mais sem graça de todos.
- Muito engraçado, Jonas. - Eu ironizei, depois de me esforçar para alcançá-los no corredor.
- Me desculpa. Eu não consegui evitar. - segurou o riso para não me deixar ainda mais irritada.
- Eu sei bem que não. - Eu me esforcei para não deixar um sorriso escapar. - E como foi lá? - Eu perguntei aos dois.
- Exatamente como o esperado. - Mark ironizou. Nós chegamos na sala de espera e paramos ali mesmo. - É impossível lidar com ele. - Ele completou.
- Ele quer ir embora. - rolou os olhos. - Será que existe alguma possibilidade de ele receber alta? - Ele queria saber a minha opinião.
- Eu acho difícil que ele receba alta essa semana. Ele está na UTI, né? - Eu não fiquei feliz por recordar isso. - Mas, vamos esperar a resposta do médico. Os resultados dos exames devem sair no máximo até amanhã e ai vamos ter um parecer. - Eu disse.
- Se você souber de alguma coisa, você pode me ligar? - pediu. Apesar de tudo, ele ainda estava bastante preocupado com o pai. Ele não conseguia evitar.
- É claro que sim. - Eu afirmei, tentando tranquilizá-lo.
- Obrigado mesmo. - me olhou nos olhos ao agradecer. - E desculpa por tudo o que você teve que ouvir dele. Você está nos ajudando tanto e não merecia ouvir nada daquilo. - Ele desculpou-se pelo pai.
- Não se preocupa. - Eu neguei com a cabeça em meio a um fraco sorriso. - Está tudo bem. - Eu completei. Notei que ele ficou mais tranquilo com a minha resposta.
- Bom, eu preciso ir pro trabalho. Eu tenho um dia cheio hoje. - Mark disse em tom de despedida.
- Eu também preciso ir. Tenho uma reunião mais tarde. - disse.
- Você vai para o estacionamento também? - Mark perguntou para o irmão.
- Não. Eu vou passar no banheiro antes. - respondeu. - Eu te vejo mais tarde. - Ele cumprimentou o irmão. - E você, , mais uma vez: muito obrigado. - disse ao me abraçar carinhosamente.
- Não precisa agradecer. - Eu respondi, enquanto ele terminava o abraço.
- Até depois. - despediu-se antes de se afastar de vez.
- E você, tudo pronto para a festa de hoje? - Eu aproveitei para perguntar ao Mark.
- Eu vou passar pegar o smoking agora. - Mark fez careta ao mencionar a roupa.
- Você vai usar smoking? Não acredito que vou perder isso. - Eu brinquei.
- É mesmo uma pena que você não possa ir. - Mark fez bico. - Eu achei que nós finalmente iriamos poder colocar em prática tudo o que aprendemos na nossa aula de dança. - Ele riu, sem emitir som.
- Você só está dizendo isso porque eu não vou à festa! - Eu cerrei os olhos na direção dele. Eu sabia que ele não gostava de dançar.
- Não! Eu juro. - Mark negou na mesma hora. - Eu… realmente estava ansioso para dançar com você essa noite. - Ele ficou um pouco mais sem jeito. - Mas, tudo bem! Eu entendo que você não possa ir. Está tudo bem. - Mark não queria que eu me sentisse mal por não poder acompanhá-lo.
- Vamos combinar alguma coisa qualquer dia desses. - Eu sugeri.
- É claro. - Mark concordou, feliz com a minha sugestão. - Então, eu vou embora. Você precisa voltar para o trabalho. - Ele disse, quando uma equipe de médico passou por nós. Ele ficou com medo de me prejudicar.
- Ok. - Eu concordei, pois sabia que ele também precisava ir trabalhar. - Depois você me conta da festa. - Eu pedi.
- Eu conto. - Mark concordou. Ele se aproximou sorrateiramente e beijou o meu rosto. - Bom trabalho. - Ele sorriu pra mim.
- Bom trabalho. - Eu respondi, me esforçando para não sorrir como uma boba.

Acredite ou não: eu passei o resto do dia desejando ir naquela festa. Não era nem porque eu não queria desapontar o Mark, porque eu tinha toda a certeza do mundo de que ele realmente havia entendido a minha situação. Era porque eu queria estar com ele. Eu queria ser a companhia dele. Eu adoraria que todos me olhassem e me vissem como o par dele. Mesmo sem perceber, eu estava desejando passar todos os segundos do meu dia ao lado dele.

Meg chegou no hospital no início da tarde. Ela me fez perguntas e quis saber o meu motivo de não ir a aula naquela manhã. Felizmente, eu já tinha me preparado para responder aquelas perguntas. Contei para ela a verdade, só omiti o fato de que o homem que foi internado às pressas na noite anterior foi o pai do Mark e do . Ao invés disso, eu menti e disse que a pessoa que havia sido internada era um tio dos dois.

- Tio? - Meg estranhou. - Eu nem sabia que eles tinham um tio. - Ela fez careta.
- É irmão do pai dos garotos. Segundo o , ele não costuma visitar a família com tanta frequência. O Mark, por exemplo, nem o conhecia. - Eu menti novamente. Eu me sentia mal por estar fazendo aquilo, mas era necessário.
- E como ele está? - Meg quis saber.
- Ele chegou no hospital muito mal. Eu estou perplexa por ele estar consciente! - Eu disse.
- O médico não deu nem um parecer? - Meg perguntou.
- Ainda não. Até amanhã ele deve dar alguma notícia. - Eu expliquei a ela.
- E como estão os garotos? - Meg demonstrou preocupação.
- O está bastante preocupado. Ele conviveu mais com o tio, né? - Eu fiquei triste ao me lembrar dele. - E o Mark… - Eu neguei com a cabeça. - Ele finge que não se importa, mas eu sei que ele se importa. Você sabe como ele é. - Eu sorri ao mencioná-lo.
- Que sorriso é esse? - Meg ficou desconfiada na mesma hora. Ela me conhecia.
- Que sorriso? - Eu fiquei séria na mesma hora.
- Eu vi esse sorriso, ! - Meg cerrou os olhos na minha direção.
- Qual o problema com o meu sorriso? - Eu rolei os olhos.
- Você sorriu ao falar do Mark. - Ela continuou me olhando com desconfiança. - Você está me escondendo alguma coisa? - Ela não parava de me olhar, procurando qualquer deslize meu.
- Não estou escondendo nada. - Eu afirmei, me esforçando para ser convincente. - Agora, eu vou trabalhar. - Eu sai de fininho para evitar novas perguntas. Meg teve ainda mais certeza de que alguma coisa estava acontecendo, mas deixaria para me colocar contra a parede mais tarde.

A tarde passou bem rápida para mim. O hospital ficou bastante movimentado e eu não consegui parar um só minuto. Isso me fazia perder totalmente a noção de tempo. Quando eu me dei conta, o céu lá fora já estava escuro, mas diferentemente dos outros dias, eu não podia ir embora. Eu ainda tinha que cumprir com a minha palavra e cobrir o turno da noite de uma das estagiárias. Ao contrário de mim, Meg já estava indo embora.

- Vamos? - Meg entrou na sala em que guardávamos as nossas coisas. Ela começou a tirar o seu jaleco.
- Eu vou ter que ficar. Eu prometi substituir o turno da noite, lembra? - Eu fiz bico.
- Ah, é mesmo! - Meg fez careta. - Eu nem lembrava mais disso. - Ela completou.
- Justo hoje. - Eu suspirei.
- Por quê? Você tinha algum compromisso para hoje? - Meg mostrou-se curiosa.
- Tinha. - Eu disse com desânimo. - O Mark tinha me convidado para acompanhar ele em uma… festa do trabalho. - Eu não podia dar detalhes.
- É mesmo? - Meg sorriu com maldade.
- Não começa, Meg. - Eu revirei os olhos.
- Ok. Eu sei que tem alguma coisa acontecendo. - Meg me pressionou. - Qual é! Eu sou a pessoa que mais torce por vocês dois. Por que você não quer me contar? - Ela disse, me dando uma bronca.
- Por que se eu te contar, vai parecer que está acontecendo alguma coisa séria entre nós e eu… - Eu hesitei continuar. - Eu não sei o que está acontecendo. - Eu completei.
- Isso quer dizer que… vocês se beijaram. - Meg deduziu. Eu sorri para ela e neguei com a cabeça. Eu sabia que ela não desistiria.
- Sim. - Eu confirmei e na mesma hora senti o meu rosto corar.
- Awwwwwn! - Meg ficou toda boba e chegou até a me abraçar. - Não acredito que ele te convidou para ir a uma festa e você está aqui nesse hospital. - Ela me olhou feio.
- Eu sei! - Eu fiz careta. - Mas o que eu podia fazer? Eu tinha prometido para a outra estagiária que eu ficaria no lugar dela hoje. - Eu ergui os ombros.
- E que horas é essa festa? - Meg perguntou.
- Eu acho que começou às 19hrs. - Eu não tinha certeza.
- São… 19:30, certo? - Meg perguntou, olhando em seu relógio. - Se você sair daqui agora, acho que dá tempo de chegar até o final da festa. - Ela deduziu.
- Sair daqui agora? Meg, eu não posso. Eu ainda tenho que ficar aqui mais 3 horas. - Eu a olhei, confusa.
- Eu vou ficar aqui mais 3 horas. Você vai para casa se arrumar e vai para essa festa. - Meg falou com um sorriso.
- O que? - Eu achei que ela estivesse brincando. - Você está falando sério? - Eu arqueei uma das sobrancelhas.
- Estou! - Meg afirmou na mesma hora. - Anda. Pega as suas coisas. - Ela colocou minha bolsa em minhas mãos.
- Você está maluca? - Eu ri, sem acreditar. - Mas eu não tenho nem um vestido para ir. - Eu argumentei.
- , você quer mesmo ir a essa festa? - Meg colocou suas mãos em meus ombros e me olhou nos olhos.
- Eu quero muito. - Eu sorri, sem jeito.
- Então, você vai dar o seu jeito! - Ela respondeu. - Agora, vai! - Meg estava praticamente me expulsando da sala.
- Você não existe, Meg. - Eu a abracei rapidamente e beijei o seu rosto. - Fico te devendo mais essa. - Foi a última coisa que eu disse antes de sair pela porta.



MUDE A MÚSICA:



Saí do hospital feito um furacão e tentei evitar contato com todas as pessoas daquele hospital que poderiam falar comigo. Eu não tinha tempo para conversar. Eu já estava indo na direção do estacionamento, quando me lembrei que não tinha vindo de carro para o trabalho. Me xinguei mentalmente quando me dei conta de que ainda teria que pegar um táxi. Eu estava prestes a discar o número da empresa de táxi, quando vi um táxi deixando um passageiro na frente do hospital. Saí correndo feito uma louca e por pouco consegui chegar no táxi.

- Oi. - Eu entrei no táxi completamente eufórica. - Eu preciso ir pro shopping. Você conhece aquele que fica aqui perto, né? - Eu disse quase atropelando as palavras. O taxista confirmou que conhecia. - Vai o mais rápido que você puder. - Eu pedi a ele.

Eu já tinha um plano para conseguir chegar na festa antes que ela acabasse, mas ele era muito arriscado e tinha grandes chances de dar errado. Ciente de que seria impossível comprar uma roupa tão rápido, pois eu não tinha tempo para provar nada, eu decidi alugar um vestido. A ideia era alugá-lo sem nem sequer experimentá-lo. Como eu disse, era bastante arriscado. Eu poderia alugar o vestido mais bonito da loja, mas ao chegar em casa e experimentá-lo, ele poderia não me servir. Se isso acontecesse, ao menos eu não teria qualquer prejuízo financeiro, pois eu teria que devolvê-lo para a loja no dia seguinte.

Cheguei na loja e já fui logo procurando um vestido. Olhei em todos os cabides e nenhum me parecia bonito o suficiente. Os vestidos razoáveis certamente não me serviriam. Perdi 10 minutos naquela loja e não consegui encontrar nada! Eu já estava bastante chateada e conformada, quando uma vendedora finalmente me abordou.

- Posso ajudá-la? - A vendedora deu o seu melhor sorriso.
- Oi! Acho difícil você conseguir me ajudar. - Eu disse, frustrada. - Está acontecendo uma festa nesse momento e eu estava precisando de um milagre. - Eu sorri ao ver a vendedora rir.
- Essa festa… é chique? - A vendedora me analisou da cabeça aos pés.
- Sim! - Eu afirmei.
- Certo. Eu acho que tenho o seu milagre no meu estoque. Acabou de chegar e eu nem tive tempo de cadastrar e colocar preço. - A vendedora disse, afastando-se e indo até o estoque. O jeito convincente com que ela disse a frase, me deixou extremamente esperançosa. Meus olhos acompanharam ela se reaproximar com o vestido nas mãos. - Aqui. - A vendedora o colocou sobre o balcão e a única coisa que eu conseguir ver foi que o vestido era lilás. - Eu acho que vai servir perfeitamente em você. - Ela disse, enquanto tirava o vestido de dentro do plástico. Não sei se foi porque a minha expectativa estava muito baixa ou se eu estava desesperada para que aquele vestido desse certo, mas ao olhar para ele, meus olhos chegaram a brilhar. O vestido era simplesmente maravilhoso.
- Ele é lindo. - Foi amor a primeira vista. - Será que vai servir? - Eu fiz careta, preocupada.
- Eu tenho quase certeza que sim, mas por que você não experimenta? - A vendedora sugeriu.
- Moça, eu não tenho tempo. - Eu neguei na mesma hora. - Eu vou levar esse. Se não servir, vai arruinar a minha noite, mas vou arriscar. - Eu disse, indo na direção do caixa. - Quando eu devo vir devolver? - Eu perguntei, pegando a minha carteira.
- Pode ser amanhã mesmo. - A vendedora disse.
- Certo. - Eu concordei.

Depois de pagar o aluguel do vestido, agradeci a vendedora, peguei o vestido e sai da loja praticamente correndo. A pressa era tanta, que parecia que eu tinha demorado uma eternidade para chegar até o lado de fora do shopping, onde o táxi ainda me esperava. Entrei no carro às pressas e já fui logo passando o enderenço da minha casa para o motorista, que demorou um pouco mais de 10 minutos para me conduzir até lá.

- Muito obrigada! Pode ficar com o troco. - Eu praticamente joguei o dinheiro no motorista e saltei do carro.

Ao passar pelo lugar que o Big Rob ficava, entranhei o fato de ele não estar lá. Demorei alguns segundos para me lembrar que ele tinha me pedido folga naquela semana. Peguei a chave da porta na bolsa e a abri. Entrei na casa, voltei a trancar a porta e subi correndo a escada. Eu tinha tantas coisas para fazer em tão pouco tempo, que eu nem sabia por onde começar.

Enquanto eu tomava um rápido banho, eu pensava no calçado e nos acessórios que eu usaria. Ao sair do banheiro, fui direto secar o meu cabelo e aproveitei para ir dando uma arrumada nele. Com o cabelo pronto, fui até a minha caixinha de joias e escolhi os brincos, a pulseira e os anéis que eu usaria. Depois, fui fazer a minha maquiagem. Eu não tinha tempo para elaborar tanto, mas eu também não podia passar algo tão simples. Levei quase 20 minutos para terminar a minha maquiagem e logo em seguida fui pegar a sandália que eu havia escolhido usar. Uma hora depois e só faltava a parte mais importante: vestir o vestido. Sim, eu havia deixado a prova do vestido por último, pois o medo que ele não me servisse era maior que tudo.

- Vamos lá. - Eu peguei o vestido nas mãos. - Eu espero que sirva. - Eu disse em meio a um suspiro. Vesti o vestido com muito custo e muito cuidado, pois eu não podia estragar o cabelo ou a minha maquiagem. Mesmo sem olhar no espelho, fiquei feliz pelo vestido ao menos ter servido. Ainda de costas para o espelho, eu coloquei o cinto que tinha vindo como um acessório do vestido e coloquei a sandália que era praticamente da mesma cor do vestido. - Ok. - Eu respirei fundo, antes de conseguir coragem para me virar e encarar o espelho. Todo o meu nervosismo e receio foram recompensados com a sensação maravilhosa que eu senti ao me ver naquele vestido (VEJA AQUI). Tinha ficado perfeito.

Se eu tivesse mais tempo, eu ficaria o resto da noite me arrumando. Eu queria estar perfeita para o Mark, mas infelizmente eu não podia fazer nada a respeito. Eu já estava extremamente atrasada! Liguei para a companhia de táxi para que alguém viesse me buscar para me levar na festa e enquanto o táxi não chegava, eu aproveitei para dar uma melhorada no meu cabelo.

estava na casa do Mark e pretendia ficar lá o resto da noite. Ele tinha alguns projetos do trabalho para aprovar e, por isso, não poderia sequer sair para se distrair ou para beber alguma coisa. estava fazendo isso muito bem até o momento em que o telefone da casa tocou. Na primeira vez que ligaram, ele optou por não atender. Ele também ignorou a segunda ligação seguida, mas ele não fez o mesmo com a terceira.

- Alô? - atendeu a ligação, sem imaginar de quem se tratava.
- Boa noite. - Era a voz de uma moça. - Eu gostaria de falar com o Mark. - Ela completou.
- Ele não está. Posso te ajudar? - colocou-se à disposição.
- Você pode dar um recado para ele, por favor? - A moça gentil pediu.
- Claro. - concordou imediatamente.
- Eu trabalho na agência de viagens AZN e estou entrando em contato para informar ao senhor Mark sobre a promoção de passagem aérea para a Bélgica, na qual ele estava interessado. - A atendente disse da maneira mais natural de todas.
- Você disse… Bélgica? - ficou inevitavelmente surpreso.
- Sim, senhor. - Ela confirmou. ficou tão perplexo, que não conseguiu dizer nada por alguns longos segundos. - Posso deixar o meu telefone para que ele possa me ligar caso ele se interesse na nossa promoção? - A moça perguntou.
- Claro que sim. - respondeu e já foi logo anotando o número de telefone que a atendente foi passando.
- Muito obrigada. Boa noite. - A atendente agradeceu antes de desligar a ligação.

Ainda impactado com a notícia, ficou algum tempo com o telefone no ouvido. Bélgica? O Mark estava pensando em ir para a Bélgica? Por que ele não falou nada sobre o assunto? Quais motivos ele teria para esconder uma notícia daquela magnitude? Ele viajaria a trabalho? Ele viajaria a passeio? tinha muitas perguntas, mas só havia uma pessoa que poderia respondê-las. Seria extremamente difícil para o voltar a trabalhar depois daquele telefonema.

Em menos de 10 minutos, o táxi chegou. Peguei a minha bolsa e o meu celular e sai do quarto. Andei o mais rápido que eu consegui com aquele salto e cheguei no táxi em um tempo razoável. Depois de entrar no carro, peguei o convite da festa que o Mark havia me dado e passei o endereço para o motorista. Durante o caminho, olhei no celular para ver a hora mais de 5 vezes. Já passava das 21:30 e eu não sabia se conseguiria entrar na festa ou se eu ainda encontraria o Mark lá.

- Muito obrigada! - Eu paguei o motorista do táxi assim que ele parou o carro na frente do salão. Ao descer do carro, fiquei alguns segundos observando a decoração extremamente requintada do local. Fiquei com receio de não estar tão bem vestida quanto deveria, mas depois de tudo o que eu tinha feito para chegar até ali, eu entraria naquela festa mesmo se estivesse nua!
- Oi! - Eu sorri para o segurança enorme, que estava na porta do salão. - Eu sou uma convidada. - Eu forcei um sorriso.
- Está um pouco atrasada, não acha? - O segurança me olhou com desconfiança.
- Sim, eu sei. Eu… tive um contratempo e só consegui chegar agora. - Eu me esforcei para ser extremamente simpática. - Aqui. Eu tenho o convite. - Eu peguei o convite da festa na minha bolsa e entreguei para ele. Antes de me liberar, ele ainda hesitou em acreditar em mim.
- Está bem. Eu vou te liberar. - O segurança afirmou com a cabeça, afastou-se e abriu a porta do salão.

Ao entrar no salão, me deparei com dezenas de pessoas desconhecidas, mas que estavam extremamente elegantes. Felizmente, ninguém havia me notado entrar no salão. Considerando o trabalho do Mark e que eu era apenas a acompanhante dele, chamar a atenção poderia não ser bom. Comecei a andar pelo salão e meus olhos procuravam incessantemente uma só pessoa: o Mark. Fui passando por todas as pessoas da festa e não conseguia encontrá-lo. Cheguei a dar a volta toda no salão e nada! Eu já estava me convencendo de que ele já havia ido embora, quando eu o vi perto de uma das portas do salão. Ele falava distraidamente no celular. Foi inevitável não notar o quanto ele estava maravilhoso com aquele smoking.

Mark não fazia a menor ideia que eu estava naquele salão e que estava olhando para ele naquele exato momento. Eu não sabia muito bem como abordá-lo sem chamar a atenção de todos a nossa volta e, além disso, eu queria surpreendê-lo da melhor maneira que eu conseguisse e eu já sabia como fazer isso. Peguei o meu celular e me afastei um pouco de onde ele estava para evitar que ele me visse. Disquei o número do celular dele e continuei a olhá-lo de longe. Vi quando ele tirou o seu celular do bolso do smoking e deixou um sorriso escapar quando viu o meu nome na tela.

- Alô. - Mark atendeu, sem desconfiar de nada.
- Hey. - Eu disse, fazendo um esforço enorme para escutá-lo. A música estava um pouco alta. - Está tudo bem? - Ele logo pensou em seu pai.
- Está tudo bem. - Eu confirmei. Ele também estava com dificuldade para me escutar.
- Espera um segundo. - Mark pediu, enquanto andava na direção de uma das portas do salão. Ele saiu pela porta com a intenção de afastar-se da música e deparou-se com um belo jardim, que ficava nos fundos do salão. - Agora, pode falar. Eu não estava ouvindo. - Ele voltou a falar no celular.
- Como está a festa? - Eu perguntei, me movimentando no salão. Eu tinha visto onde ele tinha ido e estava indo atrás dele.
- Bem, um encontro com o Knox seria mais divertido. - Mark brincou, me fazendo rir.
- Então, eu não perdi nada. - Eu continuei andando no salão.
- Onde você está? - Mark notou a música no fundo da ligação. - Está no hospital? - Ele estranhou. Haviam muitas pessoas conversando e rindo a minha volta.
- Não. Eu acabei conseguindo sair mais cedo. - Eu contei, sem dar muitos detalhes. - E ai, eu resolvi vir para um ‘Happy Hour’ com o pessoal do hospital. - Eu menti, me segurando para não rir.
- Sério? - Mark nem tentou disfarçar a sua decepção. - Aposto que está se divertindo muito mais do que eu. - Ele comentou.
- Você tem razão. - Eu concordei, parando um pouco antes da porta pela qual ele tinha saído. Eu voltei a tê-lo em meu campo de visão. - Eu, inclusive, estou encarando um cara maravilhoso nesse exato momento. - Eu tentei irritá-lo.
- É mesmo? E… - Mark hesitou ao perguntar. - Ele está interessado em você também? - Ele estava muito incomodado.
- Eu não tenho certeza. - Eu fiz careta. - Mesmo depois do beijo, eu não tenho certeza. - Eu não estava mentindo sobre o beijo. Nós realmente havíamos nos beijado na noite passada, mas o contexto era outro.
- Beijo? Vocês… se beijaram? - Mark não conseguia acreditar.
- Sim. Aliás, foi incrível. - Eu continuei sacaneando ele.
- Eu… fico feliz que você esteja se divertindo. - Mark mais uma vez estava tentando disfarçar.
- Eu queria que você estivesse aqui. - Eu disse em meio a um fraco sorriso. - Você ia adorar conhecê-lo. Ele é… gentil, bondoso, engraçado, educado e… muito bonito. - Eu disse e ele ficou em total silêncio. Eu continuava olhando para ele da porta, mas como ele estava de costas, ele ainda não tinha me visto. - Ele… fica muito bem de smoking, sabia? - Eu perguntei de maneira retórica, sabendo que ele entenderia tudo dali alguns segundos. A expressão no rosto dele mudou. - Eu adoraria ir até lá e falar com ele, mas… eu ainda estou parada aqui, esperando ele se virar, me olhar e se dar conta de que eu estou aqui por ele. - Antes mesmo que eu terminasse a frase, Mark percebeu que eu estava falando dele. Ele sorriu na mesma hora, enquanto negava com a cabeça. Ele virou-se na minha direção com aquele mesmo sorriso desconsertante.

Quando nos olhamos pela primeira vez naquela noite, nós ainda segurávamos os nossos celulares no ouvido. Mark não sabia se estava mais feliz por me ver ali ou se estava mais impressionado com o quão bonita eu estava. Ele estava completamente em choque. Desligamos a ligação e eu comecei a andar na direção dele, enquanto trocávamos olhares e sorrisos. Parece besteira, mas aqueles poucos segundos que eu levei para me aproximar dele foram os mais mágicos entre nós dois. Mark sabia que eu estava lá por ele e eu estava muito mais do que realizada por estar ali com ele.

- O que você está fazendo aqui? - Mark perguntou, ainda sem acreditar que eu realmente estava ali.
- Eu vim salvar a sua noite. - Eu disse a mesma frase que ele havia me dito no dia do meu encontro com o Knox. Ele se lembrou disso. - Eu meio que… te devia isso, não é? - Eu completei.
- Você está… - Os olhos dele percorreram rapidamente o meu corpo. - Linda. - Ele completou, me olhando nos olhos.
- Obrigada. - Eu fiquei um pouco sem jeito. - E você definitivamente deveria usar smoking mais vezes. - Eu tentei devolver o elogio.
- Oh, não. Eu odeio isso. - Mark fez careta, olhando para o seu smoking.
- Eu gosto. - Eu levei minhas mãos até a gravata borboleta que ele usava e a ajeitei.
- O seu vestido também é muito bonito. Há quanto tempo você está planejando isso? - Mark me olhou com desconfiança.
- Um pouco mais de 2 horas. - Eu respondi, sabendo que ele ficaria surpreso.
- O que? Como assim? - Mark ficou confuso.
- Eu estava no hospital e não conseguia parar de pensar o quanto eu queria estar aqui com você. - Eu comecei a contar. - Então, a Meg se propôs a ficar no meu lugar e eu tive que correr e me arrumar em menos de 2 horas. Esse vestido, inclusive, foi alugado em 10 minutos. - Eu ri ao me lembrar de toda a correria.
- Não brinca. - Mark não acreditou.
- Juro. - Eu confirmei.
- Isso é loucura! Esse vestido parece ter sido feito pra você. Isso não pode ser verdade. - Mark ainda estava desacreditando.
- Bem, eu agradeço, mas… eu acho que foi sorte. Hoje deve ser o meu dia de sorte, porque não deu nada errado. Se tivesse dado, eu não estaria aqui agora. - Eu disse.
- Eu sinto muito, mas a sua sorte não é maior que a minha. A minha acompanhante é a garota mais linda dessa festa. - Uma frase dele e eu já estava completamente sem jeito novamente. Como sempre, eu fiquei sem palavras. Eu nunca sabia como reagir diante de palavras como aquelas.
- Que bom que eu consegui chegar a tempo. Eu pensei que você já pudesse ter ido embora. - Eu desconversei.
- Para ser honesto, eu realmente já estava indo embora. - Mark forçou um sorriso.
- Sério? - Eu fiz careta. - E o seu suspeito? - Eu disse em tom de voz mais baixo.
- Ele estava limpo. Ele não era o cara que eu estava procurando. - Mark explicou, contrariado.
- Ah, que pena. - Eu lamentei por ele.
- Não, tudo bem. - Mark negou com a cabeça. - Por sorte, você apareceu a tempo de salvar o resto da minha noite. - Ele voltou a sorrir. De onde estávamos, conseguíamos ouvir a música que vinha de dentro do salão. A música havia ficado um pouco lenta nos últimos minutos e era possível ver alguns casais dançando no centro do salão.
- Essa era a minha intenção. - Eu fiquei feliz por ouvi-lo dizer aquilo. - Se eu me lembro bem, você escolhe o que vamos fazer agora. - Eu novamente fiz referência a noite do meu encontro com o Knox. - O que você quer fazer agora? Invadir uma aula particular? Comer um hambúrguer? - Eu brinquei aos risos.
- Fácil! Eu já sei o que eu quero. - Mark respondeu na mesma hora.
- O que? - Eu perguntei, curiosa.
- Eu quero dançar com você. - Mark afirmou com um doce sorriso. Confesso que fui pega de surpresa, mas isso não me fez ficar menos encantada com a maneira que ele havia dito aquela frase.
- Você sabe, eu não gosto muito de dançar, mas… já que é você que está me pedindo. - Eu ironizei, fazendo com que ele risse sem emitir qualquer som. Ele estendeu uma das mãos na minha direção. - Aqui? - Eu estranhei.
- Em qualquer lugar que você quiser. - Ele ergueu os ombros. Eu estava tão absurdamente impactada com tudo aquilo e com aquele clima incrível que acabamos construindo, que eu não me importava onde nós iríamos dançar. Eu só queria dançar com ele. Eu levei a minha mão até a dele e ele me puxou para mais perto na mesma hora.

Começamos a movimentar os nossos corpos de um lado para o outro. Mark ainda segurava uma das minhas mãos e sua outra mão estava em minha cintura. Havia apenas um palmo distanciando o rosto dele do meu. Ele olhava nos meus olhos, todo sério, e eu não conseguia deixar de olhar aqueles olhos verdes que pareciam me hipnotizar. Apesar da proximidade, eu não estava nem um pouco nervosa. O Mark sempre me deixava muito tranquila em relação a tudo. Ele me acalmava só com o seu toque.

- Obrigado por estar aqui. - Mark agradeceu. - Eu sei o quanto você se esforçou para estar aqui hoje. - Ele completou.
- Você realmente quer saber por que eu vim até aqui essa noite? - Os olhos de Mark acompanharam os meus lábios, enquanto eles pronunciavam a frase.
- Por quê? - Mark perguntou, distribuindo olhares por todo o meu rosto.
- Por isso. Essa dança. - Eu deixei um sorriso escapar. - Eu queria dançar com você. - Eu finalmente disse. - Porque a última vez que fizemos isso, foi naquela outra noite. - Ele não deixava de me olhar por um só segundo. - E…. eu me lembro de pensar que, apesar de já ter dançado muitas vezes, aquela parecia a primeira vez pra mim. - Eu o vi sorrir ao final da minha frase. - E depois, eu fiquei pensando nisso por dias… e me dei conta de que não tinha a ver com a dança, tinha a ver com nós. - Eu fiz uma breve pausa, pois tentei ler a expressão no rosto dele. - Nós já vivemos muitas coisas juntos, mas naquele momento, naqueles poucos minutos em que nós dançamos, parecia a primeira vez pra mim. - Depois de terminar a frase, fiquei um pouco nervosa com a demora do Mark de dizer qualquer coisa. Eu tinha medo de estar vendo mais coisas do que realmente existia.
- Eu sei exatamente do que você está falando. - Mark finalmente disse.
- Sabe? - Eu fiquei tão aliviada ao ouvi-lo concordar comigo, que deixei um sorriso escapar.

Ouvir que ele sabia exatamente do que eu estava falando me deixou surpreendentemente feliz. Mais uma vez, os olhos dele desceram até os meus lábios para acompanhar o meu sorriso. Ele afastou-se por um momento, soltou a minha cintura e ergueu sua mão para me girar. Depois do giro, Mark voltou a me puxar para perto, mas ao invés de continuar segurando a minha mão, ele a levou até o seu ombro. Com isso, meus dois braços ficaram em volta de seu pescoço e os braços dele ficaram em volta da minha cintura. Estávamos inevitavelmente mais próximos naquele momento, mas ainda balançávamos lentamente os nossos corpos de um lado para o outro.

- Então, eu não estou ficando maluca. Realmente está acontecendo alguma coisa. - Eu perguntei, distribuindo olhares pelo rosto dele.
- Seria muito mais fácil dizer que tudo isso é coisa da sua cabeça, mas… quem eu estou querendo enganar? - Mark negou sutilmente com a cabeça.
- Eu sei. - Eu sabia que ele referia-se ao irmão. - Eu sei como isso pode soar para algumas pessoas, mas… - Eu hesitei. - O que eu posso fazer? Eu não posso controlar esse tipo de coisa. É o que eu estou sentindo. - Mesmo sabendo que não era necessário, eu quis me justificar. - Eu gosto de você. Eu não queria, mas eu gosto. - Eu finalmente consegui dizer aquilo em voz alta. - Desculpa se tudo isso vai causar algum tipo de problema entre você e o seu irmão. Eu não queria… passar por isso. - Eu rolei os olhos, me considerando a pior pessoa do mundo. Mark continuou me olhando com aquele sorriso fraco e ao mesmo tempo tão desconsertante.
- Desculpa, eu não ouvi mais nada depois de ‘eu gosto de você’. - Mark disse, me arrancando um sorriso.
- Talvez seja melhor eu… - A última frase dele me trouxe de volta para a realidade. Por poucos segundos, eu me arrependi de ter dito aquelas coisas para ele. Não por não me sentir daquele jeito, mas sim por saber que não era certo me sentir daquele jeito. Eu achei melhor me afastar e tentar ignorar que aquilo tinha acontecido, mas o Mark não deixou. Ele segurou a minha mão, evitando que eu me afastasse e voltou a colocar o meu braço em volta de seu pescoço.
- Não. - Mark sussurrou, me olhando de ainda mais perto. - Eu já te perdi tantas vezes. Eu já abri mão de você mais de uma vez. Eu não vou fazer isso de novo. - Ele disse, sem tirar seus olhos dos meus. A frase dele fez meu coração disparar inesperadamente. Eu não consegui dizer nada. Eu só fiquei olhando pra ele, enquanto pensava no quão maravilhoso ele era.

Em meio aos nossos olhares tão sinceros, Mark foi aproximando lentamente o seu rosto do meu. Os olhos dele passaram a revezar entre os meus olhos e os meus lábios. Eu não forcei qualquer aproximação, enquanto ele continuava aproximando o seu rosto do meu. Quando a ponta dos nossos narizes se tocaram, meus olhos se fecharam involuntariamente. Não demorou para que eu sentisse os lábios dele colarem nos meus. O beijo começou com um selinho, mas foi rapidamente aprofundado. Eu correspondi o beijo de todas as maneiras possíveis. Quem eu estava querendo enganar? Eu queria muito aquele beijo. Meu coração estava prestes a explodir por causa daquele turbilhão de sentimentos que eu senti. O coração do Mark já tinha explodido no momento em que ele me viu naquele noite.

Aquele beijo foi de longe o melhor beijo que já havia acontecido entre nós. Diferentemente das outras vezes, o que sentíamos pelo outro não parecia tão desigual dessa vez. Tudo entre nós estava sendo extremamente recíproco. Aquilo era novo para nós, especialmente para mim, que só havia me sentido daquela maneira uma única vez até aquele momento. Quando o beijo foi terminado por mim, ambos demoramos alguns segundos para abrir os olhos, mas quando abrimos encontramos o sorriso um do outro. Selei os lábios dele mais uma vez e ao descolar os nossos lábios, me aproximei ainda mais e o abracei. Com os seus braços ainda em minha cintura, ele apertou o meu corpo contra o dele. Fechei os meus olhos e senti ele depositar um beijo carinhoso em um dos meus ombros.

- Bom, nós já dançamos. O que você quer agora? - Eu disse, assim que terminei o abraço.
- Eu nem sei mais o que pedir. Não tem mais como superar isso. - Mark brincou, me fazendo rir, sem jeito.
- Você realmente já estava indo embora? - Eu perguntei.
- Estava. - Mark confirmou. - Eu não parei um só minuto desde hoje de manhã. Eu estava um pouco cansado e ia aproveitar para ir para casa, já que a minha acompanhante tinha me dado o bolo. - Ele explicou.
- Eu não tinha te dado o bolo! - Eu cerrei os olhos na sua direção. - Mas… eu entendo exatamente o seu cansaço. Eu também trabalhei o dia todo hoje. - Eu fiz careta.
- Eu sei. Eu percebi pela sua cara. - Mark levou uma de suas mãos até o meu rosto e o acariciou. - Você parece cansada também. - Ele completou.
- Nós podemos ir para casa, se você quiser. - Eu sugeri, demonstrando que não me importava.
- Você se esforçou tanto para vir até aqui e agora vamos embora? - Mark não tinha achado a ideia ruim, mas ele estava pensando em mim.
- Não tem problema. - Eu neguei com a cabeça. - Eu já ganhei a noite. - Eu disse e percebi que ele ficou um pouco impactado com a minha frase. Ele ficou alguns segundos me olhando com aquele sorriso bobo, que era extremamente adorável.
- Sério? - Mark não conseguia acreditar que eu realmente estava levando tudo aquilo que estava acontecendo entre nós tão a sério. - Eu quero dizer… tudo isso. É sério mesmo? - Ele perguntou.
- É claro que é sério! - Eu afirmei na mesma hora. - Deixa de ser bobo. - Eu neguei com a cabeça novamente. - Vamos. - Eu levei a minha mão até a dele e comecei a puxá-lo em direção a porta do salão. Mark não conseguiu disfarçar sua reação ao segurar a minha mão. Fazia muito tempo que não fazíamos isso.

Passamos discretamente por todo o salão. Apesar de termos os convites físicos da festa, não podíamos nos considerar convidados. Era uma festa particular e só estávamos ali por causa de um trabalho secreto do Mark. Com isso, precisávamos passar despercebidos e foi exatamente isso o que conseguimos. Depois de pegarmos alguns salgados do coquetel que, por sinal, estava maravilhoso, seguimos em direção ao lado de fora do salão e continuamos inconscientemente de mãos dadas até chegarmos no carro do Mark.

- Obrigada. - Eu sorri de maneira tímida, antes de entrar no carro. Ele havia aberto a porta para que eu entrasse.
- E então, quais os seus planos para amanhã? - Mark perguntou apenas para puxar assunto.
- Eu estava pensando nisso. - Eu respondi na mesma hora. - Como o seu pai já está melhor, eu acho que vou para a faculdade amanhã de manhã e a tarde eu vou para o hospital. - Eu contei.
- Isso é ótimo. Não tem necessidade de você ficar perdendo aula e se prejudicando por causa do Steven. - Mark fez questão de ressaltar.
- E você? O que você vai fazer amanhã? - Eu devolvi a pergunta.
- Eu vou ver se consigo ficar em casa amanhã. Eu tenho algumas coisas para resolver. - Mark fez careta.
- E… eu posso te ajudar nisso ou… - Mesmos em saber do que se tratava, eu ofereci.
- Não. Não precisa. Obrigado. - Mark deixou de prestar a atenção no trânsito por um segundo para me olhar. - São coisas que eu mesmo tenho que resolver. - Ele falou, deixando de me olhar. Conhecendo-o tão bem quanto eu conhecia, eu notei um pouco de preocupação no tom de voz dele.
- Está tudo bem? - Eu só queria ter certeza.
- Sim, está. - Mark afirmou na mesma hora, esforçando-se para me tranquilizar.

Mark tinha sim uma grande decisão para tomar e a preocupação e nervosismo tem feito companhia a ele há alguns dias. Ele não havia pedido a opinião ou sequer desabafado com ninguém. Ninguém sabia as milhares de possibilidades que já haviam passado na sua cabeça naquela última semana. E se as coisas já estavam difíceis para ele, depois daquela noite, as coisas pioraram ainda mais. Independentemente de qual fosse a decisão dele, não seria nada fácil.

Conversamos bastante durante todo o trajeto até a minha casa, aliás, até a “nossa” casa, já que nós éramos vizinhos. Mark poderia ter estacionado o seu carro em sua casa e ter me acompanhado até a minha casa, mas preferiu parar o carro na frente da minha casa e me deixar lá e depois seguir para a casa dele. Ele não queria chamar a atenção do . Ele não queria o que o irmão visse que estávamos juntos.

Mesmo o Mark sendo bastante cuidadoso e esforçar-se para ser discreto, não foi o suficiente. Ao ouvir o barulho do carro, foi até a janela da casa para ver de quem se tratava. Ele não tinha a menor pretensão de me ver ou até mesmo de ver o seu irmão. achou que pudesse ser um dos vizinhos, mas estava enganado. Ao afastar a cortina e olhar para o lado de fora, me viu saindo de dentro do carro do Mark. Estávamos tão distraídos, que mal percebemos que ele nos observou por alguns longos segundos.

Difícil explicar como o se sentiu ao nos ver juntos. Ele não viu um beijo e nem mesmo um abraço mais acalorado. Ele não viu nada demais, mas o que ele viu era mais do que suficiente para ele ter certeza de que alguma coisa estava acontecendo entre eu e o Mark. tem reparado algumas trocas de olhares e alguns gestos entre o irmão mais velho e eu. Ele não era bobo. Talvez, ainda não conhecesse o irmão suficientemente bem para conseguir interpretar um olhar, um sorriso e até mesmo um gesto, mas ele sabia bem como ver tudo isso através de mim. me conhecia muito bem.

Ao fechar novamente a cortina, demorou alguns segundos para conseguir interpretar o que estava sentindo. Era uma mistura de decepção e tristeza, mas, ao mesmo tempo, havia um sentimento de conformismo. Conformismo sim! sempre soube que o irmão era apaixonado por mim e também sabia que eu tinha todo o direito de gostar de uma outra pessoa, considerando as últimas besteiras que o havia feito. A maneira infantil com que ele reagiu a descoberta do sobre a minha virgindade talvez tenha sido a gota d'água pra mim. sabia que estava quase me perdendo de vez ou, talvez, isso já tivesse acontecido.

- Não precisava ter me trazido até a porta. - Eu parei bem em frente a porta da minha casa.
- Como não? - Mark sorriu. - Aliás, cadê o Big Rob? - Ele perguntou ao perceber que o local que o Big Rob costumava ficar estava vazio.
- Eu dei folga pra ele durante essa semana. - Eu expliquei.
- Então, é melhor você ficar um pouco mais atenta na hora de chegar e sair de casa durante essa semana. - Mark aconselhou, preocupado.
- Não precisa se preocupar. - Eu neguei com a cabeça. - Eu tenho um agente do FBI bem ao lado da minha casa. Nada de ruim pode me acontecer. - Eu brinquei em um tom de voz mais baixo.
- Claro! É claro que eu sempre vou estar aqui por você, mas… eu quero que você tome cuidado de qualquer forma. Combinado? - Mark estendeu uma das mãos.
- Combinado. - Eu apertei a mão dele, enquanto trocávamos sorrisos. Era adorável a preocupação dele comigo.
- Eu nem sei como te agradecer por hoje. - Mark ergueu os ombros.
- Eu sei! Amanhã, você me paga um sorvete. - Eu sugeri o mesmo que ele me sugeriu na noite do meu encontro com o Knox.
- Fechado. - Mark riu, sem emitir qualquer som.
- Eu também te agradeço pelo convite e pela noite. Foi bem curta, mas foi incrível. - Eu também ri.
- Nós poderíamos ter ficado mais e… - Mark começou a se lamentar.
- Não. - Eu toquei a mão dele. - Valeu a pena. - Eu afirmei, tranquilizando-o.
- Você não existe. - Mark levantou a sua mão que eu estava tocando e a levou até a sua boca, onde ele depositou um beijo. Logo depois, ele se aproximou e me abraçou. O abraço dele era tão incrível, que meus olhos sempre se fechavam espontaneamente quando ele me abraçava. - Eu te vejo amanhã. - Ele disse ao terminar o abraço e depositar um beijo carinhoso em uma das minhas bochechas.
- Eu vou cobrar o meu sorvete. - Eu disse em tom de brincadeira.
- Pode cobrar! - Mark riu, dando alguns passos para trás. Ele não queria que eu achasse que ele estava esperando qualquer beijo de despedida. Estávamos próximos sim, mas ainda não estávamos próximos o suficiente para trocarmos beijos a qualquer momento.
- Boa noite, Mark. - Eu sussurrei com um sorriso bobo que eu não conseguia conter, quando ele já estava entrando em seu carro. Eu estava caidinha por ele. Acenei uma última vez para ele, antes de destrancar a porta da minha casa e entrar.

Apesar de ter ficado menos de uma hora naquela festa, eu estava muito feliz por ter conseguido chegar até lá a tempo. Ver a expressão no rosto do Mark no momento em que ele viu que eu estava lá por ele foi inexplicável. Estávamos naquela fase em que qualquer coisa que ele fizesse, eu acharia a coisa mais doce e incrível de todas. Meus sentimentos sempre interferiram muito nos meus pensamentos, nas minhas decisões e nas minhas atitudes. Pelo Mark, eu teria ido naquela festa nem que fosse para ficar 5 minutos. Eu procurava todo e qualquer motivo para estar ao lado dele.

Mark chegou em casa com toda a certeza do mundo de que o não tinha visto e nem sabia de nada. Não era como se ele quisesse esconder do irmão, pois não era necessário. Ambos eram adultos e responsáveis por suas atitudes. Porém, Mark se importava muito com o irmão para expor toda a situação que estávamos vivendo de uma maneira tão boba. Mark sabia o que o sentia por mim e respeitava muito esse sentimento e, por isso, achava melhor não contar ao do nosso envolvimento naquele momento em que nem mesmo ele sabia se o que estava acontecendo entre nós realmente iria para frente.

- Hey. - Mark cumprimentou o irmão ao entrar em sua casa. estava sentado no sofá e havia alguns papéis em suas mãos. Depois de nos ver pela janela, ele havia voltado a trabalhar e pretendia agir como se não tivesse visto nada.
- E ai, Markey. - respondeu, sem olhá-lo. Seus olhos continuaram fixos nos papéis em suas mãos.
- O que você está fazendo? - Mark perguntou, aproximando-se do sofá.
- Trabalhando. - finalmente o olhou. - E você? Bancando o James Bond de novo? - Ele referia-se ao smoking.
- Eu estava trabalhando também. - Mark respondeu, fazendo cara feia.
- Sei. - voltou a dar atenção aos papéis.
- Você já comeu? - Mark sentou-se ao lado do irmão no sofá.
- Já comi. - confirmou.
- E você teve alguma notícia do Steven? Alguém ligou pra dar notícias? - Mark não havia percebido o comportamento estranho do seu irmão.
- Não. - negou. - E você, não ficou sabendo de nada? - Ele fez questão de olhá-lo ao perguntar. Já que o Mark estava comigo a noite toda, a chance de ele ter notícias do Steven era maior do que a do .
- Também não. - Mark respondeu. - Se não ligaram é porque ele deve estar bem. - Ele concluiu. - Eu… vou dormir. O dia foi bem cansativo hoje. - Mark levantou-se do sofá, mas não conseguiu dar mais de 4 passos.
- Não ligaram do hospital, mas ligaram da companhia aérea. - até tinha cogitado falar sobre o assunto em um momento mais oportuno, mas ele estava curioso demais para adiar.
- Ligaram? Pra mim? - Mark estremeceu na hora. Ele parou de andar e virou-se para olhar para o irmão.
- Pra você. - confirmou, olhando fixamente para o Mark. - Bélgica, né? - Ele arqueou uma das sobrancelhas.
- É. Talvez, eu tenha que ir pra lá por um tempo por causa do trabalho. - Mark sabia que não tinha outra saída senão contar a verdade, mas sem dar tantos detalhes.
- Quanto tempo? - o pressionou, pois percebeu o seu nervosismo.
- Não sei ainda. - Mark desconversou.
- Meses? - insistiu na pergunta. Mark o olhou, irritado.
- Anos. - Mark finalmente disse. - 3 anos. - Ele complementou em meio a um suspiro.
- 3 anos!? - arqueou ambas as sobrancelhas. - Você vai viajar pra Bélgica por 3 anos e achou que não precisava me contar? - Ele perguntou, surpreso.
- Eu ainda nem sei se eu vou. - Mark rolou os olhos, sem qualquer paciência para discutir o assunto naquele momento.
- Como não vai? É a Bélgica! Por que você não iria? - sorriu, sarcástico. Mark deixou de olhá-lo na mesma hora, enquanto negava com a cabeça. Naquele momento, soube que havia algo errado. - Por que você não iria, Mark? - Ele insistiu na pergunta mesmo com receio do que poderia ouvir.
- Pelo mesmo motivo que você não voltou pra Atlantic City. - Mark acabou de uma vez com todo o mistério. Ele estava falando de mim e o entendeu exatamente o que ele quis dizer. - Era isso o que você queria ouvir, não era? - Ele foi grosseiro antes de sair e deixar o irmão falando sozinho.

Aquela era a primeira vez em semanas que os irmãos Jonas se estranhavam. É claro que houve briguinhas bobas. Eles viviam provocando e irritando um ao outro, mas aquele pequeno atrito que eles tiveram foi muito mais relevante do que uma briga cheia de socos e gritos. A breve troca de olhares e de palavras foi o suficiente para que ambos percebessem o quão decepcionados eles estavam um com o outro. estava chateado porque percebeu que o seu irmão estava realmente apaixonado pela garota que ele sempre amou. Mark estava chateado porque o irmão o havia forçado a falar sobre um assunto que ele não gostaria de falar. Não dava para culpar nenhum deles.

não conseguiu mais trabalhar durante o resto da noite. Ele não queria assumir, mas estava bastante preocupado. Ele estava preocupado com a relação forte que ele sentia que eu e o Mark estávamos construindo. Não tratava-se de ciúmes, pois o sabia muito bem que o Mark não era como os outros caras. Mark era o seu irmão e ele não podia simplesmente insultá-lo e socá-lo na cara. A situação era completamente diferente de todas as outras vezes. sabia que se estivesse mesmo acontecendo algo mais sério entre o seu irmão e a garota que ele amava, ele não poderia fazer nada contra isso.

Mark demorou muito tempo para conseguir dormir. Apesar de estar bem decidido quanto ao que ele realmente queria e sentia em relação a mim, ele também se preocupava com a maneira que o se sentiria. A situação era muito mais fácil quando o Mark não se importava com o que o pensava sobre tudo aquilo. Agora, o Mark se importava e se preocupava muito com os sentimentos do irmão.





VOLTE A OUVIR A MÚSICA:



Na manhã seguinte, acordei bem cedo, pois eu tinha a intenção de voltar a minha rotina: ir a faculdade no período da manhã e ir para o estágio no hospital no período da tarde. Depois de tomar banho e me arrumar, ainda tive tempo de tomar café da manhã antes de sair de casa. Apesar de estar feliz por finalmente ir para a faculdade, eu estava bastante preocupada com as aulas que eu havia perdido nos últimos dias. Eu estava chegando na faculdade, quando o meu celular tocou. No primeiro momento, eu não reconheci o número que estava me ligando, mas decidi atender a ligação de qualquer forma.

- Alô? - Eu atendi, sem saber de quem se tratava.
- ? - Era uma voz feminina, mas eu não consegui reconhecê-la.
- Sim, sou eu. - Eu respondi.
- Oi! Desculpa te ligar a esse horário. - Ela disse o seu nome. - Eu trabalho aqui no hospital. - Ela completou.
- É claro! - Eu me lembrei na mesma hora quem era. Ela era uma das chefes dos enfermeiros do hospital, mas eu não tinha muito contato com ela, pois o plantão dela sempre era durante a noite. - Está tudo bem? - Eu estranhei a ligação.
- Na verdade, não. - A chefe dos enfermeiros não quis adiar ainda mais a notícia. - Você tem um conhecido aqui na UTI, certo? - Ela perguntou.
- Sim! Ele é… tio dos meus amigos. - Eu sabia que eles estavam falando do Steven. Quando eu soube que ela havia me ligado para falar sobre ele, senti meu coração apertar. A notícia não seria boa.
- Então, eu estou te ligando para falar sobre ele. - Ela hesitou por alguns segundos. - Ele teve uma noite muito ruim. - Ela contou. - Eu estava prestes a ligar para um desses telefones que estão aqui na ficha do paciente, mas me informaram aqui no hospital que você o conhecia. Diante das circunstâncias, eu achei melhor avisar você primeiro para que você dê as notícias aos seus amigos. - Diante da gravidade da ligação, parei o carro no primeiro estacionamento que eu encontrei.
- Claro. Sem problemas. Você fez bem. - Eu fiquei muito nervosa na hora.
- Você está ocupada agora? Você pode vir para o hospital? - Ela me perguntou.
- Eu posso! - Eu me prontifiquei a ir até lá na mesma hora.
- Eu estou aqui te aguardando. É melhor conversarmos pessoalmente. - Ela não queria dar qualquer notícia pelo telefone.
- Ok! Eu estou a caminho. - Não pensei duas vezes antes de dar a partida no carro.
- Até já. - Ela disse, antes de desligar a ligação.

A notícia me pegou tão desprevenida, que eu conseguia sentir as minhas mãos tremendo, enquanto seguravam o volante do carro. Não me importava se tratava-se do Steven. Eu não conseguia ser essa pessoa fria que eu queria ser. Com o coração na boca, desisti novamente da minha ida até a faculdade para ir até o hospital. Eu não sabia o que esperar. Eu não sabia se o pior já tinha acontecido.

Depois de estacionar o carro no estacionamento do hospital, me dirigi rapidamente até o balcão de atendimento. Falei com as atendentes que eu já conhecia e elas me informaram onde estava a chefe dos enfermeiros naquele momento e me deixaram entrar para falar com ela. Fui até a sala em que ela estava e bati na porta. Ouvi ela me pedir para entrar na sala e foi exatamente isso o que eu fiz.

- Oi! Pode entrar. - A mulher sorriu ao me ver e apontou na direção da cadeira, me deixando a vontade para sentar.
- Obrigada. - Eu agradeci a gentileza antes de me sentar.
- Que bom que você pode vir. - Ela ficou um pouco mais séria.
- Eu vim o mais rápido que eu pude. - Eu mal conseguia disfarçar o meu nervosismo. - Como ele está? - Eu tive que perguntar.
- Bem, para ser bem sincera, as notícias não são boas. - Ela lamentou. - Foi uma noite muito difícil para todos aqui. O médico acabou de ir embora, pois passou a noite em claro cuidando do paciente. Eu fiquei aqui apenas para te dar as notícias. - Ela contou.
- Ele teve outra crise pulmonar. - Eu deduzi na mesma hora.
- Ele teve a pior crise de todas. - A chefe dos enfermeiros afirmou com tristeza.
- Meu Deus. - Eu neguei com a cabeça. - Como ele está agora? - Eu perguntei com receio da resposta.
- O doutor conseguiu estabilizar um pouco a respiração dele, mas o pulmão está completamente comprometido. - Ela também balançou a cabeça negativamente.
- E ele está consciente? - Eu perguntei.
- No momento está, mas… nós não sabemos até quando. - Ela disse com uma expressão muito triste. Era tudo o que eu não queria ouvir.
- Isso quer dizer que… - Eu não conseguir completar a frase.
- Pode acontecer a qualquer momento, . - A chefe dos enfermeiros me confirmou. - O doutor acha que o pulmão não resiste até amanhã. - Ela completou.
- Oh, não. - Eu levei uma das mãos até o meu rosto, sem acreditar.
- Eu sei que essa é a pior notícia que eu poderia te dar. Eu queria que você soubesse antes dos seus amigos para que você decidisse se você prefere contar a eles você mesma ou se você prefere que eu conte a eles. - Ela colocou aquela difícil decisão em minhas mãos. Eu não soube nem o que dizer. - Eu sei que é uma decisão muito difícil. Tudo bem se você quiser que eu conte. - Ela tentou me tranquilizar.

Em tão pouco tempo, muitas coisas passaram pela minha cabeça. Eu pensei no Mark e em como eu contaria a ele que ele perderia outra pessoa. Eu pensei no e em como eu contaria a ele que ele perderia o pai pela segunda vez. Isso quebrava o meu coração em milhões de pedaços. Eu sabia que ambos sofreriam com a morte do Steven, mas eu também sabia que seria muito mais doloroso para o . Eu era uma das poucas pessoas que realmente sabiam o quanto ele havia sofrido com a primeira perda do pai. Eu só conseguia pensar no quanto ele havia sofrido da primeira vez por não ter conseguido se despedir de seu pai.

- Os meus amigos podem se despedir dele? - Aquela era a minha principal preocupação. Eu não podia deixar que o Steven fosse embora sem se despedir novamente.
- É claro. Eu libero a entrada dos dois. - A chefe dos enfermeiros afirmou na mesma hora.
- Então, eu conto para eles. - Eu decidi. Eu estava pronta para dar aquela notícia triste ao e ao Mark, mas eu queria mesmo era dizer ao que ele iria poder se despedir do pai daquela vez.
- Certo. Eu vou deixar avisado na entrada da UTI a visita dos seus dois amigos. - Ela disse.
- Muito obrigada por ter tido o cuidado de me chamar até aqui para me dar a notícia. Obrigada mesmo. - Eu agradeci por ela ter sido tão atenciosa.
- Sem problemas. - Ela sorriu pra mim. - Eu sinto muito por ter te dado uma notícia tão triste. - Ela lamentou.
- Tudo bem. - Eu neguei com a cabeça ao me levantar da cadeira. - Obrigada novamente. - Eu voltei a agradecer.
- Disponha. - A chefe dos enfermeiros sorriu mais uma vez antes de me ver sair pela porta de sua sala.

Eu estava em pânico. Eu não sabia como fazer aquilo. Eu não sabia como dar uma notícia como aquela. Tinha um nó na minha garganta, que mal me deixava respirar direito. Minhas mãos tremiam, enquanto eu segurava o meu celular. Eu não queria contar nada pelo telefone, por isso, liguei para cada um deles e pedi que eles viessem até o hospital. Ambos deduziram que alguma coisa tinha acontecido por causa do tom da minha voz.

Enquanto esperava os irmãos Jonas chegarem no hospital, cheguei a cogitar a possibilidade de ir até a UTI e ver o Steven pela última vez. Eu senti vontade de dizer a ele que eu o perdoava e também tive vontade de pedir perdão a ele, mesmo sabendo que eu não nunca havia feito nada para ele, mas achei melhor poupá-lo. Eu não queria que ele gastasse o pouco de força que ele ainda tinha para falar comigo. Mark e eram as prioridades.

Devido ao pequeno desentendimento na noite anterior, e Mark não trocaram sequer uma palavra durante todo o caminho até o hospital. Eu tive que segurar o choro quando eu vi os dois entrando lado a lado pela porta do hospital. Eu queria que eles tivessem demorado um pouco mais para chegar. Talvez, eu estivesse mais preparada para dar aquela terrível notícia a eles.

- Oi. - estava visivelmente mais preocupado.
- Oi, . - Eu o olhei, enquanto segurava a minha vontade enorme de chorar. - Mark. - Eu olhei para o irmão mais velho com carinho.
- Oi, . O que aconteceu? - Mark perguntou.
- Uma enfermeira… me ligou e me pediu parar vir aqui. Ela tinha notícias do Steven. - Eu nem sabia por onde começar.
- Boas notícias? - Mark ainda tinha esperanças.
- Más notícias. - respondeu por mim. Ele soube só ao me olhar.
- O pai de vocês… passou muito mal durante a noite. - Eu comecei a contar. Eu não conseguia olhar nos olhos deles. - Os médicos tiveram muito trabalho durante a noite. - Eu estava procurando ar.
- Como ele está agora? - Mark precisava perguntar.
- Agora, ele está consciente, mas… - Deixei de olhá-los para abaixar a minha cabeça e encarar o chão. Eu estava me controlando para não chorar.
- Fala, . - me pressionou. Ele já havia deduzido o que eu estava tentando dizer, mas ele precisava me ouvir dizer.
- O médico disse que o pulmão dele não aguenta até amanhã. - Eu consegui reunir forçar para voltar a olhá-los, mas meus olhos já estavam cheios de lágrimas.

No momento em que eu dei a notícia, foi bem nítida a diferença de reação de cada um deles. Mark parecia ter aceito a notícia e se conformou rapidamente com ela, apesar de demonstrar bastante tristeza. entrou em negação imediatamente. Ele negava com a cabeça e olhava para qualquer lugar daquele corredor, tentando aceitar a realidade daquela notícia. Mark não se moveu, enquanto o se afastou, encostou em uma das paredes do corredor e deslizou lentamente até o chão, onde ele sentou. Mark quis ir até o irmão, mas ele desistiu quando eu tomei a iniciativa de ir até o . Me agachei na frente dele e toquei o seu rosto, fazendo ele olhar para mim.

- Você quer se despedir dele? - Eu perguntei, olhando para os seus olhos cheios de lágrimas.
- Eu posso? - perguntou com a voz embargada.
- Sim, você pode. - Eu sorri, emocionada. - Vem comigo. - Eu segurei a mão dele e esperei ele para que nós levantássemos juntos. Segurei a mão dele durante todo o nosso caminho até a UTI. Mark nos acompanhou, mas não se manifestou em nenhum momento. - Você quer mesmo fazer isso? - Eu perguntei, quando paramos na porta do quarto.
- Eu quero. - afirmou, engolindo o choro.
- Fica calmo, ok? Se você deixá-lo muito nervoso, ele pode ter mais dificuldade de falar. - Eu expliquei.
- Está bem. - concordou, afirmando com a cabeça. Ele passou as mãos nos olhos e engoliu o choro que estava entalado em sua garganta.
- Fica bem. - Eu me aproximei e beijei carinhosamente uma de suas bochechas e depois, a sua testa.

me olhou pela última vez antes de tocar a maçaneta da porta e abri-la. Meu coração estava despedaçado. Na mesma hora, Mark me acolheu em seus braços e nós passamos a consolar um ao outro. entrou no quarto com cuidado e aproximou-se lentamente da cama. Ele só conseguia dizer para si mesmo que conseguia ficar calmo.

- Hey, pai. - disse da maneira mais calma que conseguiu. Ele não queria assustar o seu pai. Steven, que estava com os olhos fechados, abriu lentamente os seus olhos.
- Meu garoto. - Mesmo com a voz extremamente fraca, Steven disse. Ele sorriu ao ver o filho.
- Como você está? - tentou controlar a sua emoção ao ouvir o pai chamá-lo daquela maneira carinhosa. Ele o chamava dessa maneira quando ele era mais novo.
- Eu não sei, mas… eu preciso te dizer algumas coisas. - A voz de Steven continuava fraca, mas ele ainda conseguia falar. - Eu não sei se vou ter a oportunidade de dizer isso depois. - Ele continuou.
- Não. - recusou na mesma hora. - Descanse. - Ele pediu, preocupado.
- Me desculpa, filho. - Steven ignorou o pedido do filho. - Eu sei que eu errei. Eu sei que te decepcionei. - Ele olhou com tristeza para o filho. - Eu abandonei você. Eu abandonei a sua mãe. Eu não podia ter feito isso. - Steven estava querendo se redimir.
- Nós não precisamos falar sobre isso. - tinha ciência do quanto aquele assunto o machucava e, por isso, ele preferia não falar sobre ele. Além disso, ele não queria que o pai se esforçasse.
- Nós precisamos. - Steven insistiu. - Será a nossa última oportunidade de fazer isso. Será a sua última oportunidade de falar sobre isso pra mim. Eu sei que você precisa fazer isso. - Ele tentou incentivar o filho. abaixou a cabeça, deixando de olhá-lo. Ele negou com a cabeça, como se dissesse: ‘Por que você está fazendo isso agora?’. - Eu errei, . Eu não conseguia enxergar isso antes, mas eu consigo enxergar isso agora. - Steven fez uma breve pausa. - Eu deixei você e a sua mãe sozinhos. Eu sei que vocês sofreram muito e eu também sei que eu acabei deixando um fardo muito pesado pra você. - A voz dele continuava muito debilitada.
- Eu era só uma criança. - voltou a olhá-lo. - E, de repente, eu me vi sendo obrigado a ser o homem da casa. Eu tinha que cuidar da minha mãe. Eu tinha que enxugar as lágrimas dela e convencê-la de que tudo ficaria bem. - Ele fez uma breve pausa. - Eu não saia com os meus amigos, porque… eu não queria que ela ficasse sozinha. - Era notável as lágrimas que iam acumulando-se nos olhos dele. - E quando a minha mãe percebeu o quanto isso me afetava, ela se esforçava para parecer mais forte na minha frente. Ela já não chorava mais no meu colo, mas… ela chorava todas as noites antes de dormir. Ela não sabia, mas eu ouvia tudo e… eu só conseguia dormir quando aquele choro parava. - contou, esforçando para deixar as lágrimas escorrerem pelos seus olhos.
- Você não merecia isso. A sua mãe não merecia isso. - Steven ficou visivelmente emocionado.
- Eu não te culpava, pai. Você deveria ter estado lá, mas… não tinha sido culpa sua, certo? Tinha sido um acidente. - ergueu os ombros. - Mesmo desejando muito que você estivesse lá e mesmo tendo passado por tudo aquilo, eu não te culpava por nada. - Ele parou por alguns segundos para tentar se recompor. - Eu não te culpava até descobrir que não tinha sido um acidente. Você escolheu isso. - negou sutilmente com a cabeça. - Você escolheu fazer a minha mãe sofrer. Você escolheu me deixar sem um pai. Você escolheu acabar com o resto da infância que ainda me restava. Você escolheu arruinar cada dia dos pais que eu tive que passar sem você. Você escolheu, pai, colocar cada uma daquelas lágrimas nos olhos da minha mãe. - Cada palavra soava como um desabafo. Steven estava disposto a ouvir tudo aquilo. Ele precisava ouvir tudo aquilo do filho. Ele sabia que merecia.
- Eu sinto muito. Eu achei que estivesse te protegendo. - Steven ouviu cada palavra em lágrimas.
- Eu te odiei, pai. - As lágrimas se acumulavam cada vez mais em seus olhos e escorreriam pelo seu rosto a qualquer momento. - Eu ainda te odeio por tudo isso, mas… - tentou engolir o choro, mas não conseguia. - Eu também te amo. - As lágrimas escorreram de seus olhos ao dizer aquelas palavras. Ele rolou os olhos por um momento e negou com a cabeça antes de continuar. - Eu não consigo evitar. - ergueu os ombros. - Você é o meu pai. - Ele completou. Steven levou sua mão até a mão do filho e a segurou. Ele estava em prantos. - E eu entendo. Apesar de não concordar com tudo o que você fez, eu entendo. - fez questão de olhar nos olhos do pai. - Porque… eu também já fiz muitas besteiras para proteger as pessoas que eu amo. - Ele estava falando de mim, mas não só de mim. - Eu acho que devo ter puxado isso de você. - disse e viu o pai sorrir em meio as lágrimas. Mesmo vendo o pai sorrir, não conseguiu fazer o mesmo, pois o que ele estava prestes a dizer era algo muito significativo. - Eu te perdoou, pai. - Ele disse, sentindo um alívio enorme em seu coração. - Eu perdoou por tudo. - repetiu em meio a mais lágrimas, que dessa vez estavam acompanhadas de um fraco sorriso.
- Obrigado, meu garoto. - Steven também demonstrava estar aliviado. - Eu precisava disso. - Ele voltou a sorrir para o filho.
- Eu precisava disso também. - concordou, passando as mãos pelos seus olhos com a intenção de secar as lágrimas em seu rosto.
- E onde está o seu irmão? - Steven perguntou, tentando se recompor também.
- Ele está lá fora. - respondeu.
- Você acha que você pode trazê-lo aqui? - O pai pediu.
- É claro que sim. - confirmou com a cabeça. - Espere. - Ele saiu do quarto e deparou-se com o irmão mais velho logo na porta. Eu estava ao lado do Mark, que o olhou imediatamente e procurou em seu rosto qualquer vestígio de que o pior havia acontecido.
- E ai? - Mark perguntou, receoso.
- Ele quer falar com você. - respondeu, deixando-o visivelmente surpreso.
- Falar comigo? Por quê? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Eu acho que… - hesitou em terminar a frase. - Ele quer se despedir. - Ele disse visivelmente abalado. Mark não conseguiu disfarçar a tristeza enorme que sentiu em seu peito ao ouvir aquela frase.
- Não. Eu não quero fazer isso. - Mark recusou na mesma hora. Seria muito mais fácil para ele lidar com aquela morte sem que houvesse qualquer conversa de reconciliação ou de perdão.
- Do que você tem medo? De descobrir que você não odeia tanto quanto gostaria? - disse, tentando, de certa forma, incentivar o irmão a entrar naquele quarto. - Entre lá e ao menos o escute. - Ele aconselhou. - Ele precisa disso, irmão. - tocou o ombro do irmão e deu dois leves tapinhas. Mark deixou de olhar para o irmão e encarou aquela porta, que o deixava extramente desconfortável e nervoso.
- Ok. Eu vou. - Mark afirmou com a cabeça ao atender o pedido do irmão.

Mark sabia que havia grandes chances de se arrepender de ter concordado em entrar naquele quarto. Ele sabia que o pai não passaria daquela noite e, por isso, tentaria conseguir o seu perdão de qualquer maneira. Mark não sabia se estava pronto para perdoá-lo e também não sabia se algum dia ele conseguiria fazer isso. Existia muita mágoa envolvida naquele relacionamento e, ao contrário do , Mark nunca tinha visto um lado bom em Steven. Ao entrar naquele quarto, suas expectativas de encontrar um pai que ele admirava eram quase inexistentes, mas, talvez, ele encontrasse um pai que, apesar de todos os seus erros, merecesse ser chamado de pai.

- Mark. - Steven sorriu ao ver o filho mais velho. Mark aproximou-se da cama sem dizer absolutamente nada.
- Como o conseguiu convencê-lo a vir até aqui? - A situação debilitada do pai deixou o filho um pouco assustado, mas ele esforçou-se para não deixar esse sentimento transparecer.
- Ele não conseguiu. Eu vim contra a minha vontade. - Mark foi extremamente frio. - Ele disse que você precisava falar comigo. - Ele foi direto ao ponto.
- Uh… ok. Eu sei que eu mereço toda a sua grosseria e todo o seu desprezo por tudo o que eu te fiz passar. - Steven estava reconhecendo o seu erro.
- É, você merece. - Mark concordou na mesma hora.
- Você me lembra tanto a sua mãe. - Steven sorriu ao mencionar a minha tia Janice. - Quando ela ficava brava, ninguém conseguia fazê-la abaixar a guarda. - Ele contou.
- Por que você está dizendo isso? - Mark ainda estava tentando agir friamente.
- Na última vez que nós conversamos, nós brigamos. Eu disse algumas besteiras para ela e… ela disse que me odiava. - Steven contou. - Ela me afastou de você. - Ele completou.
- E você ficou bem triste com isso, certo? - Mark sorriu de maneira irônica.
- Eu não tive opção. Ela fugiu com você. - Steven contou.
- Ela estava me protegendo de você. - Mark argumentou.
- Eu sei que estava e… eu não a julgo por isso. Eu realmente não era uma boa influência para você naquela época, mas isso não quer dizer que eu não quisesse te ter por perto. - Steven estava sendo extremamente sincero e isso era muito visível.
- Para com isso. - Mark deixou de olhá-lo por alguns segundos. - Eu sei que eu sou uma consequência de uma vingança patética. Todos sabem disso! - Ele disse, irritado.
- Não. - Steven negou com a cabeça. - Olha, eu sei que você tem todos os motivos do mundo para não acreditar em mim, mas eu vou dizer de qualquer forma porque é a verdade. - Ele já apresentava um pouco mais de dificuldade de falar. - A gravidez da Janice não foi uma vingança, foi um acidente. - Steven fez questão de olhar nos olhos do filho ao dizer aquilo. - Mark, eu não vou mentir pra você. Eu não estava apaixonado pela sua mãe, mas eu tinha um carinho enorme por ela. Nós crescemos juntos. - Ele sorriu. - Quando eu descobri que o meu melhor amigo estava namorando a minha garota, a Janice ficou do meu lado. Ela foi a pessoa que mais me deu apoio. Ela cuidou de mim, garoto. - Ele pausou por alguns segundos para tentar recuperar o fôlego. O seu problema no pulmão não permitia que ele falasse tanto, mas ele estava se esforçando muito, pois ele precisava falar. - Acabou acontecendo de ficarmos juntos em uma noite e foi nessa noite em que eu a engravidei. Eu não planejei nada. - Steven finalizou.
- Por que eu deveria acreditar você? - Mark demonstrava um pouco mais de fragilidade diante dos novos fatos.
- Filho, eu estou morrendo. Eu não tenho motivo algum para mentir. - Steven disse com a maior serenidade. - Eu me lembro do dia que a sua mãe me contou que estava grávida. Eu… estava tão assustado, mas… ao mesmo tempo eu estava tão feliz. - Ele disse com um enorme sorriso. - Depois, tudo começou a dar errado. Foi um mal entendido atrás do outro. A Janice ficou sabendo sobre a minha discussão com o irmão dela e todos deduziram que tudo era parte de uma vingança. - Steven contou.
- Sempre a vingança. - Mark negou com a cabeça.
- O medo da vingança nos fez fazer coisas uns contra os outros. - Steven disse. - A Janice ficou com muita raiva quando deduziu que eu só tinha ficado com ela para me vingar da traição do irmão dela. Todo o amor que ela sentia por mim foi transformado em ódio. Ela foi embora sem me dizer para onde ia. - Ele continuou a contar.
- Steven. - Mark o interrompeu. - Eu sei o que está fazendo e sinceramente não sei se consigo acreditar em você, mas a verdade é que nada disso importa mais. Nada disso muda o que aconteceu. Nada disso muda o fato de que eu cresci sem um pai. - Ele resolveu interromper a história, antes que ele começasse a ficar ainda mais emocionalmente envolvido com ela.
- Eu sinto tanto por isso. - Steven ficou visivelmente emocionado ao se desculpar. - Eu sei que isso não muda nada, mas me desculpa, filho. - Ele abaixou a sua cabeça.
- Está tudo bem. - Mark tentou acalmá-lo, mas sem muita intimidade.
- Tem uma pequena parte da história que ninguém nunca te falou, porque ninguém nunca soube. - Steven passou a mão lentamente em seu rosto e secou suas lágrimas. - Você nunca esteve sozinho. - Ele voltou a olhar para o filho.
- Como assim? - Mark não entendeu o que o pai quis dizer.
- Depois que a Janice fugiu com você, eu te procurei por anos. Eu queria te conhecer. Eu queria saber se você se parecia ao menos um pouco comigo. - Steven sorriu, emocionado. - Quando eu finalmente descobri onde você estava, eu quis me aproximar, mas fiquei com medo de que a Janice sumisse com você outra vez. Então, eu… apenas acompanhava a sua vida de longe. - Steven continuou contando, enquanto via a expressão de surpresa e ao mesmo tempo de tristeza no rosto do seu filho mais velho. - Você não sabia, mas… - Ele teve que pausar para mais uma vez recuperar o fôlego. - Eu sempre ia até a sua escola. Eu vi quando você jogou o seu primeiro jogo na escola. Eu estava lá no seu primeiro gol. Eu vi a sua primeira briga e vi a maneira como você enfrentava aqueles garotos. - A cada frase do Steven, os olhos de Mark se enchiam mais de lágrimas. - Eu estava lá quando você deu o seu primeiro beijo naquela garotinha loira na porta da escola. Eu notei todas as vezes que você faltou na escola no dia dos pais. Eu vi você aprendendo a dirigir. Eu estava lá quando você comprou o seu primeiro carro, aliás, você tem um gosto para carros muito melhor que o do . - Ele disse e viu o filho sorrir para ele pela primeira vez. - Eu sei que eu falhei com você. Eu sei que eu deveria ter lutado mais por você. Eu sei que você sentiu muito a minha falta, mas… você nunca esteve sozinho, filho. - Steven começou a ter uma nova crise de falta de ar e começou a respirar com muito mais dificuldade. Com os olhos completamente cheios de lágrima, Mark assustou-se com a situação do pai.
- Pai. - Mark chamou pelo pai, aproximando-se da cama. Mesmo em meio a uma crise, Steven emocionou-se muito ao ouvir o filho mais velho chamando-o de pai pela primeira vez. Uma lágrima escorreu de um de seus olhos, antes que ele fechava os olhos para tentar recuperar o fôlego. - Eu vou chamar um médico. - Mark ia se afastar da cama, mas seu pai segurou a sua mão antes que ele se afastasse.
- Chame o seu irmão aqui. - Steven conseguiu dizer. Mark atendeu o seu pedido prontamente. Foi até a porta do quarto e chamou o irmão para entrar.
- O que aconteceu? - entrou no quarto, assustado. Notou a expressão assustada no rosto do Mark ao chamá-lo.

Os dois filhos de Steven estavam em volta dele naquele momento. Era tudo o que ele mais tinha desejado. Vê-los juntos dava ao Steven a maior paz que ele poderia desejar. Ele tinha recebido o perdão do e Mark já havia conhecido um pouco do seu amor de pai. Steven estava satisfeito, feliz e aliviado por ter conseguido dizer a eles tudo o que precisava dizer, porém, havia algumas últimas palavras que ele gostaria de dizer ao dois juntos. Ele pedia a Deus que lhe desse forças para conseguir dizê-las a eles a tempo.

- Aquela garota… - Steven começou a dizer. Ele referia-se a mim. - Eu sei que vocês dois amam aquela garota. - Os irmãos não trocaram olhares, mas nem foi preciso. - Eu não me importo mais. Ela é uma boa garota. Vocês tem o meu consentimento para serem felizes com que vocês quiserem, mas… - A voz de Steven estava mais fraca do que nunca. Os garotos tinham total consciência de que toda a força que ele estava fazendo para dizer aquelas últimas palavras resultaria em seu último suspiro. - Eu quero que me prometam que vocês não vão brigar. Me prometam que vocês não vão brigar por ela ou por qualquer outra coisa. Me prometam que vocês vão permanecer unidos desse jeito. - O pai fechou os olhos, pois já não estava aguentando.
- Eu prometo, pai. - prometeu ao segurar a mão do pai. Ele estava chorando.
- Eu prometo, pai. - Mark fez a mesma promessa. Os olhos estavam inevitavelmente marejados. Após as duas promessas, foi possível ver um fraco sorriso no rosto do Steven.
- Eu amo vocês, meus garotos. - A voz de Steven mal saiu, mas foi possível ler a frase em seus lábios.

Não demorou mais de 10 segundos para que a máquina que estava bem ao lado do Steven comprovasse que não havia mais batimentos cardíacos. soltou a mão do pai, mas o choro se manteve. Apesar de mais reservado, Mark também estava muito abalado. As lágrimas ainda estavam presas nos olhos dele, quando ele puxou o e o abraçou. Além de consolar o irmão, Mark também precisava daquele abraço.

O abraço durou um bom tempo. Os irmãos choraram nos braços um do outro. Eles estavam apoiando um ao outro. Não houve um momento mais forte entre os irmãos do que aquele. finalmente tinha alguém que entendesse exatamente a sua dor e o Mark não teria que passar novamente pelo triste sentimento da perda sozinho. Naquele momento eles tiveram a dimensão da importância que um tinha para o outro. Eles jamais conseguiriam passar por aquilo sozinhos novamente.

Eu já estava há alguns minutos do lado de fora do quarto. Eu estava esperando o Mark e o saírem para que pudéssemos conversar. Eu ainda não sabia o que tinha acontecido. Ninguém do hospital sabia. Eu não estava com pressa, mas o enfermeiro que estava responsável pela UTI naquele dia já estava começando a me olhar com impaciência. Com isso, eu infelizmente tive que entrar no quarto e pedir para que eles se despedissem de vez. Ao abrir a porta do quarto, eu me deparei com os irmãos abraçados e, no fundo, eu consegui ouvir o barulho do monitor cardíaco zerado. Os irmãos terminaram o abraço e me olharam. Havia lágrimas em ambos os rostos, mas o chorava ainda mais dolorosamente. Eu não hesitei um só segundo em abraçá-lo.

- Eu sinto muito. - Eu sussurrei, enquanto ele me abraçava muito forte. Ele continuou chorando nos meus ombros. Enquanto o abraçava, levei uma de suas mãos até a sua cabeça e acariciei o seu cabelo na tentativa de acalmá-lo. Mark aproveitou para sair do quarto e chamar algum médico ou enfermeiro para informar o que tinha acontecido.
- Eu não acredito que estou passando por tudo isso de novo. - disse aos prantos.
- Eu sei. - Vê-lo sofrer daquele jeito me matava. - Olhe pra mim. - Eu terminei o abraço para poder olhar em seu rosto. - Eu sei que está doendo, mas… ele estava sofrendo. Ele está muito melhor agora, não é? - Eu toquei o rosto dele e sequei as lágrimas que insistiam em escorrer. - E dessa vez, você conseguiu se despedir. - Meus olhos se encheram de lágrimas ao vê-lo chorar daquela maneira, mas sorri ao dizer aquela frase. - Dessa vez, sua mãe não vai sofrer. Você não vai vê-la sofrer. Você não vai ter que lidar com a dor de mais ninguém e eu sei que com a sua você se sair bem, porque você é forte o bastante para isso. - Notei que as minhas palavras ajudaram ele a se acalmar um pouco.

Eu não consegui dizer mais nada. Não deu tempo de fazer mais nada, pois o quarto foi invadido por um médico e por alguns enfermeiros. Na hora, eu não pensei em outra coisa senão tirar o do quarto. Haviam alguns trâmites que seriam realizados pelo médico e por sua equipe que ele não precisava ver. Mark já estava do lado de fora do quarto e ao sair, nós o encontramos. Eu e ele trocamos olhares e, apesar de ele demonstrar estar mais conformado que o , eu me aproximei para abracá-lo.

- Eu sinto muito, Mark. - Eu disse, apertando-o forte. Terminei o abraço e olhei em seu rosto. Ele sorriu de maneira triste. - Eu estou aqui. - Eu beijei o rosto dele com carinho. Ele deixou de me olhar para o irmão mais novo. Mark estava preocupado com ele.

havia se sentado em uma das cadeiras que tinham no corredor do hospital. A cabeça estava baixa, os olhos encaravam o chão e os braços estavam apoiados em suas coxas. Mark manteve-se de pé, mas levou uma das mãos até um dos ombros do irmão. levantou a cabeça e o olhou. Os olhos estavam marejados, mas ele tentou disfarçar, passando suas mãos em seus olhos.

- O que nós vamos fazer? Eu não sei… - referia-se ao corpo do pai. Ele não sabia como proceder, considerando que quem cuidou desses detalhes da outra vez foi sua mãe.
- Deixa que eu cuido de tudo. - Mark tomou a frente de tudo, como era o esperado.
- Eu fico aqui com ele. - Eu disse para o Mark para que ele não se preocupasse.
- Obrigado. - Mark agradeceu, depositando um beijo em minha cabeça.

Ao sair do hospital, Mark conseguiu resolver tudo sem muitos problemas. Levou um pouco mais de 4 horas para que ele providenciasse tudo. Ele tinha optado enterrar o Steven no mesmo lugar de sua mãe adotiva, pois como o terreno no cemitério já era dele, não haveria muita burocracia e não chamaria a atenção de muitas pessoas.

Eu fiquei ao lado do durante todo o tempo. Ele passou a maioria do tempo em silêncio e chorou silenciosamente algumas vezes. Eu segurei a mão dele em vários momentos e era nesses momentos que ele mais se mantinha calmo. O silêncio dele era tão doloroso, que chegava a doer em mim. Mesmo estando ao lado dele, eu sentia que seus pensamentos e que o seu coração estavam longe. Ele não disse nada, mas eu sabia que ele estava revivendo repetidamente cada momento em que ele passou ao lado de seu pai durante a sua infância.

O funeral estava pronto no momento em que o corpo de Steven foi liberado. Quando o Mark voltou para o hospital, ele e o irmão optaram por um funeral rápido e extremamente simples, já que mais ninguém faria questão de ir até o cemitério. A maioria porque achava que o Steven já estava morto e outros porque não perderiam um seu tempo para homenagear alguém como o Steven.

Quando o corpo do Steven saiu do hospital e seguiu para a funerária, onde ficaria por algumas horas, Mark conseguiu convencer o a ir para casa para descansar um pouco antes do enterro do Steven, que tinha sido marcado para o final daquela tarde. Eu mal tive tempo de me despedir deles, pois eles foram embora no exato momento em que a Meg chegou no hospital. Ela ficou sabendo muito rápido tudo o que tinha acontecido e como ela não sabia realmente a proporção daquela dor para os garotos, eu tentei mantê-la longe deles para evitar as perguntas que ela acabaria fazendo.

O silêncio reinou durante todo o caminho dos irmãos Jonas até em casa. Ao mesmo tempo que a situação dos irmãos era extremamente parecida, ela também era completamente oposta. Era óbvio que o Mark estava triste e estava sentindo um peso enorme no peito por ter perdido a última oportunidade da sua vida de ter um pai. A sensação de perda dele era diferente de todas as outras que ele já havia sentido. Era a perda de algo que ele nunca realmente teve.

E o , apesar de já ter chorado bastante, ele estava se segurando bastante quanto aos seus sentimentos. Ele estava revivendo o maior trauma da sua infância, o trauma de sua vida. A morte de Steven mexia em uma cicatriz profunda e dolorida que esteve esquecida e bloqueada dentro dele por anos. A primeira vez que o perdeu o pai era considerado por ele como o pior momento da sua vida. Apesar de já ter vivido muitas coisas, nunca mais tinha sentido a mesma dor e tristeza que ele havia sentido no dia daquele acidente. Agora, aquela antiga e esquecida dor estava voltando lentamente e ele ainda estava tentando contê-la com todas as suas forças, mas até quando ele conseguiria?

Ao chegar em casa, Mark e foram para os seus respectivos quartos. As palavras que o Steven havia dito ainda ecoavam na cabeça do Mark. Em 5 minutos, Steven conseguiu mudar completamente a concepção que seu filho mais velho tinha sobre ele. Bastou apenas 5 minutos e algumas palavras para que Mark se sentisse muito mal com aquela morte e sentisse uma vontade absurda de ter vivido alguns momentos de pai e filho com o Steven.

O teve o prazer de conhecer o Steven que o Mark estava desejando tanto conhecer. Deitado em sua cama, não conseguia dormir e também não conseguia chorar. Era como se ele tivesse bloqueado tudo dentro dele. Ele não queria sentir novamente a dor e o sofrimento que o assombrou durante toda a sua infância e adolescência. Em sua cabeça, as memórias de pai e filho não paravam. Era involuntário e ele não conseguia evitá-las.

Quando a funerária ligou avisando que o corpo estava seguindo para o cemitério, os garotos tiveram que se arrumar para irem até lá e eles não poderiam demorar, pois em menos de uma hora o sol iria se pôr. Mark foi o primeiro a ficar pronto e depois de poucos minutos, o encontrou na sala da casa. Ambos vestiam algo mais social, já que tratava-se de um funeral. Era questão de respeito.

- Pronto? - Mark perguntou para o irmão.
- Vamos. - confirmou com a cabeça.

Mark foi dirigindo durante todo o caminho até o cemitério. manteve-se em silêncio durante todo o tempo. Assim que eles chegaram no cemitério, foi um baque para ambos se depararem com o caixão, que por opção deles, estava fechado. Olhar aquele caixão deixou tudo muito mais triste e pesado para o e para o Mark. É naquele momento em que eles se deram conta de que tudo aquilo realmente estava acontecendo. Era o choque de realidade que ninguém quer receber.

O caixão foi conduzido até o túmulo da mãe adotiva do Mark. Dois funcionários levavam o caixão e o e o Mark foram atrás, acompanhando. Ao chegarem no túmulo, os garotos ficaram ali parados, observando os dois funcionários do cemitério fazerem o seu trabalho. Os olhos de Mark chegaram a se encher de lágrimas mais de uma vez, mas ele as secava antes que elas escorressem pelo seu rosto. O continuava sem expressar qualquer reação. Ele não estava chorando, mas a expressão de tristeza em seu rosto era nítida.

A morte do Steven também havia me abalado bastante. Eu não imaginava que sofreria tanto com a morte de alguém que já havia me feito tão mal. Eu deveria estar aliviada, mas eu não conseguia. Eu não conseguia fica bem sabendo tudo o que o e o Mark estavam passando. Eu me importava demais com eles para simplesmente ignorar o fato de que aquela pessoa horrível que havia morrido era o pai deles. Eu sabia que eles estavam sofrendo. Eu sabia o quanto deveria estar sendo difícil para o passar por tudo aquilo novamente. Não dava para ignorar isso.

Naquela tarde, eu pedi que o hospital me deixasse sair um pouco mais cedo do estágio. Eu pensei no e o Mark durante todo o dia. Eu só conseguia desejar tirar a dor e o sofrimento deles. Fui para a minha casa e ao chegar lá, deduzi que eles não estavam em casa. Eu sabia exatamente onde eles estavam e eu sabia que, apesar de tudo o que o Steven já havia me feito passar, eu precisava ir até lá. Eu precisava estar lá pelo e pelo Mark.

Depois de tomar um rápido banho, troquei a minha roupa branca por um vestido preto simples. Eu sabia onde o Steven seria enterrado, pois ouvi o Mark dizer ao quando eles ainda estavam no hospital. Por livre e espontânea vontade, eu peguei o meu carro e dirigi até lá. No caminho, parei em uma floricultura e comprei apenas uma solitária rosa branca. Talvez o Steven não merecesse, mas ele ainda era o pai dos dois homens mais incríveis que eu já havia conhecido.

Não demorei muito para localizá-los no cemitério que estava praticamente vazio. Reconheci o carro do Mark e, com isso, consegui encontrá-los também. Estacionei o meu carro bem atrás do carro do Mark e a batida da porta do carro chamou a atenção dos dois. e Mark viraram-se para trás e me viram. Mantive contato visual com os dois, enquanto eu me aproximava. Eles não acreditaram que eu estava ali. Steven havia me feito passar pelo inferno. A última pessoa que o e o Mark esperavam que fosse prestar as suas homenagens naquele cemitério era eu.

Ao chegar ao túmulo, parei ao lado dos irmãos. Senti os olhares deles sobre mim, enquanto em me abaixava e deixava a rosa branca sobre o amontoado de terra. Levei alguns minutos para orar pela paz do Steven. Apesar de tudo, eu não desejava mal a ele. Além disso, eu sabia que algum dia ele tinha sido uma boa pessoa. Eu não guardava qualquer mágoa dele.

Mark estava muito surpreso com a minha presença, mas da melhor maneira possível. Ele sabia que eu já tinha feito muito pelo Steven e que não precisava estar ali. Eu não precisava ter saído do meu trabalho para ir até ali prestar uma simples homenagem a pessoa que mais havia me feito mal. A minha presença ali só serviu para acalmar ainda mais o coração dele. Se ele já me admirava antes, agora ele me admirava muito mais. Assim que eu voltei a trocar olhares com ele, eu quis me aproximar. Passei meus braços em volta do corpo dele e ele me acolheu, como sempre. Coloquei a minha cabeça em seu peito e a inclinei para cima para olhar em seu rosto. Com os olhos marejados, Mark beijou a minha testa, me fazendo abraçá-lo ainda mais forte. O fraco e triste sorriso que ele havia me dado segundos antes de ele beijar a minha testa foi a demonstração de gratidão por eu estar ali naquele momento.

Ao contrário do Mark, não estava surpreso com a minha presença. Ele me conhecia o suficiente para saber que eu não desejaria estar em qualquer outro lugar naquele momento que não fosse ali. conhecia muito bem os meus defeitos, mas ele conhecia ainda mais cada uma das minhas qualidades. Independentemente do que o Steven havia feito para mim e para minha família, ele tinha certeza que eu estaria ali ao lado deles. Ele conhecia o meu coração. Ele conhecia a minha compaixão. Ele conhecia o meu amor. Mesmo assim, a minha chegada naquele cemitério foi o início do descontrole de todas os sentimentos e toda a dor que o estava tentando controlar. Eu tinha o poder de deixá-lo instável e desencadear nele qualquer tipo de sentimento. Segundos antes de abraçá-lo, eu olhei nos olhos dele e mesmo sem qualquer vestígio de lágrimas, eu consegui ver o quanto ele estava destruído por dentro e o quanto ele estava se esforçando para continuar de pé. Meu abraço fez com que ele sentisse vontade de parar de controlar tudo o que ele realmente estava sentindo. Com os olhos fechados, ele foi abrindo aos poucos o seu coração para a tristeza, para a dor e para aquele sentimento de perda.

- Estamos nessa juntos, ok? - Eu sussurrei e ele interrompeu o abraço. Ele me olhou, enquanto afirmava com a cabeça. Os olhos dele se encheram rapidamente de lágrimas e elas só escorreram quando ele voltou a olhar para aquele amontoado de terra e aquela singela rosa branca.

Depois de ter segurado os seus reais sentimentos por tanto tempo, começou a senti-los de uma só vez e eles invadiram o coração dele como uma avalanche. Mesmo tentando, ele não conseguiu controlá-los novamente. Estava doendo muito e ele sentiu que precisava sair dali. Quando vi o se afastar, eu soube exatamente o que estava acontecendo. Eu o conhecia como ninguém e sabia da sua necessidade de demonstrar força mesmo nos momentos mais difíceis. Ele fez isso por muitos anos, depois que o Steven havia morrido pela primeira vez. Ele estava tentando fazer isso novamente, mas eu não deixaria. Ele não precisava carregar essa responsabilidade.

Meus olhos acompanharam o se afastar. Eu vi quando ele fez a volta no carro do Mark e abaixou-se para que nós não o víssemos. agachou-se e manteve sua costa apoiada no carro. Com as mãos em seu rosto, ele chorava dolorosamente a perda de seu pai. Eu não pensei duas vezes em ir até lá. Eu não conseguia ver aquela situação e não fazer nada a respeito. Me aproximei do carro e ao vê-lo agachado no chão chorando daquela maneira, eu fui até ele na mesma hora. Eu nunca tinha visto ele chorar daquela maneira. Ele soluçava. Eu me agachei na frente dele e toquei os seus joelhos.

- … - Eu chamei por ele. As lágrimas já haviam invadido os meus olhos ao vê-lo daquela maneira. - Fala comigo. - Eu pedi com a voz embargada.
- Eu perdi ele… de novo. - me olhou. Os olhos estavam vermelhos, o rosto estava coberto de lágrimas e a expressão era de muita tristeza. É impossível explicar a maneira que eu me senti ao vê-lo daquela maneira. - Eu não queria passar por isso de novo. Não é justo. - Ele disse aos prantos.
- Eu sei. Eu sinto tanto por você. Eu não queria que você tivesse que passar por isso. - Eu disse, enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. - Se eu pudesse fazer qualquer coisa para tirar essa dor do seu peito, eu faria. - Eu segurei as mãos dele. - Eu não estava lá por você da primeira vez, mas eu estou aqui agora. - Eu toquei o rosto dele e sequei algumas lágrimas. - Ok? Eu estou aqui. - Eu reafirmei, me aproximando e o abraçando.
- Eu sei que eu só tenho feito besteira ultimamente, mas… - fez uma pausa para tentar se recompor. - Eu preciso de você. Fica comigo. - Ele pediu, chorando.
- Eu fico o tempo que você precisar. - Eu afirmei na mesma hora. Eu e o já havíamos passado por tantas coisas juntos e ele foi a pessoa que mais me ajudou quando eu perdi a tia Janice. Eu sentia necessidade de ajudá-lo.
- Eu sei que você acha o meu pai uma pessoa horrível, mas… - sentiu como se tivesse que me explicar alguma coisa.
- Não. - Eu o interrompi e também interrompi o nosso abraço. - Eu conheci o lado bom do seu pai muito antes de conhecer o lado ruim. Eu me lembro de cada história que você me contou sobre vocês dois. Eu me lembro do brilho dos seus olhos cada vez que você mencionava o nome dele. - Eu olhei nos olhos dele. - Eu estou aqui hoje por esse Steven. - Ele se acalmou um pouco, enquanto me ouvia falar. - Não interessa o que ele fez ou o que deixou de fazer. Ele é o seu pai, . De alguma forma, ele fez de você a pessoa que você é hoje. E… eu amo essa pessoa e sou muito grata ao Steven por ela. - Eu disse e o vi sorrir em meio a tantas lágrimas.
- Muito obrigado por estar aqui. Você não precisava… - começou a agradecer, mas eu o interrompi novamente.
- Eu precisava sim. - Eu afirmei com a cabeça. - Eu estou exatamente onde eu gostaria de estar. - Eu completei. Minha frase fez ele ficar me olhando. Apesar de já não estar chorando como antes, poucas lágrimas escorriam pelo seu rosto.
- Eu não paro de chorar. - disse, passando suas mãos pelo seu rosto.
- Chore o quanto você precisar. Chorar não é sinônimo de fraqueza. Chorar é consequência da sua força. - Eu disse secando novamente algumas de suas lágrimas. Ele continuava me olhando.
- Eu tenho tanta sorte por ter você na minha vida. - tocou a minha mão que ainda secava as lágrimas de seu rosto.
- Então, somos dois sortudos. - Eu respondi, sem jeito. Nós não éramos mais um casal e, por isso, esses momentos me deixavam um pouco constrangida. - Você quer ir para casa? - Eu perguntei, mudando de assunto.
- Eu… acho que é melhor. Eu acho que preciso lidar com algumas coisas antes de conseguir encarar aquele túmulo. - engoliu o choro.
- Certo. Então, espera aqui que eu vou falar com o Mark. - Eu me levantei do chão e me afastei. Fui até o Mark.
- Ele está bem? - Mark perguntou, preocupado.
- Não muito. - Eu disse em tom de lamentação. - Ele… quer ir pra casa. - Eu disse.
- Claro. Já está escurecendo mesmo. - Mark concordou na mesma hora. - Você veio com o seu carro, né? - Ele perguntou, olhando na direção do meu carro.
- Vim. Não tem problema. Eu vou sozinha. Vou seguindo você. - Eu não me importei nem um pouco.
- Está bem. - Mark afirmou. Eu saí e fui na direção do meu carro. Mark veio logo atrás, mas antes ele deu uma última olhada no túmulo do pai.

Quando o Mark chegou em seu carro, já estava de pé ao lado da porta do passageiro esperando que o carro fosse aberto. Assim que o Mark destravou o carro, ele entrou no carro e o fez o mesmo. A princípio, o trajeto foi feito em total silêncio, mas Mark não conseguia evitar a preocupação com o irmão, principalmente depois do que ele tinha visto no cemitério.

- Você está bem? - Mark deixou de dar atenção ao trânsito para olhar para o irmão.
- Eu estou bem. - confirmou, sem olhá-lo. - Eu… não sei o que aconteceu. A chegou e eu simplesmente… desmoronei. - Ele quis se explicar.
- Eu não esperava que ela fosse. - Mark comentou em voz alta.
- Eu esperava. Se não fosse pelo nosso pai, seria por… nós. - o olhou dessa vez.
- Ela tem sido incrível. Se não fosse ela, eu nem sei. - Mark tinha um pouco de receio de falar sobre mim com o irmão.
- Eu sei. - concordou. Ele também demonstrava um pouco de desconforto com o assunto. Na hora, a primeira coisa que veio a sua mente foi uma das últimas frases de seu pai, em que ele disse que os dois me amavam. - E sobre a Bélgica? Você contou para ela? - Ele perguntou.
- Não contei e nem vou contar. Eu não vou. Eu já decidi. - Mark afirmou sem pensar duas vezes. Aquela não foi uma simples resposta para o . Ele sabia muito bem o que significava. Continuou olhando para frente, enquanto conseguia coragem para fazer a pergunta mais óbvia de todas.
- Você realmente a ama, não é? - perguntou, sem conseguir olhá-lo. Mark ficou algum tempo em silêncio, decidindo se deveria responder ou não aquela pergunta.
- Amo. - Mark confirmou, mantendo os olhos na estrada. não ficou surpreso, mas ele precisava ouvir aquilo da boca do próprio irmão. - E segundo o Steven, você também ama. - Ele completou sem qualquer tipo de julgamento.
- Eu sempre amei. - também confirmou. - E então? Como vamos resolver isso? - Ele perguntou depois de algum tempo em silêncio.
- Fácil. - Mark disse, fazendo o irmão olhá-lo. - Ela escolhe. - Ele também olhou para o irmão ao dizer a frase.
- Ela escolhe. - concordou, sem hesitar.

Mark e aparentemente demonstraram tranquilidade ao afirmar que a decisão seria minha, mas, no fundo, eles estavam bastante preocupados e apreensivos com o que poderia acontecer. Mark sabia da história que eu e o tivemos e sabia o quanto ela significava pra mim. sabia o quanto eu e o Mark estávamos próximos ultimamente e sabia que, ao contrário dele, o Mark jamais havia me decepcionado.

Eu não sabia do acordo que os irmãos haviam feito e eu continuaria sem saber. O propósito deles com esse acordo não era me pressionar a escolher um deles, mas sim me deixar a vontade para escolher um deles no momento em que eu achasse melhor. E seria exatamente isso o que eu faria. No momento certo, eu acabaria fazendo a minha escolha. Seria inevitável.

Acompanhei o carro do Mark durante todo o trajeto até a rua da nossa casa. Eu estacionei o meu carro na minha garagem e ele estacionou o carro dele na garagem da casa dele. Eu desci do carro e não pensei duas vezes em me juntar novamente a eles. Eu estava bastante preocupada com os dois e não queria que eles ficassem sozinhos. Se eles precisassem de mim, eu estaria lá por eles.

- Entra. - Mark me convidou para entrar na casa assim que eu cheguei na porta. Eu entrei e fui na direção do sofá, onde o estava sentado. - Eu queria deletar esse dia da minha vida. - Ele suspirou ao sentar-se ao meu lado.
- Seria muito mais fácil. - Eu concordei com o Mark. não se manifestou em nenhum momento, ele apenas manteve-se sentado e me parecia bastante pensativo. - Vocês estão com fome? Eu posso fazer alguma coisa. - Eu tentei chamar a atenção dele, mas ele mal me olhou.
- Eu não estou com fome. Obrigado. - Mark sorriu pra mim, agradecido.
- E você, ? - Eu voltei a olhar para o irmão mais novo. Os olhos estavam fixos na parede da sala e seus pensamentos pareciam distantes. - . - Eu o chamei novamente e toquei uma de suas mãos. Ele despertou e olhou nossas mãos na mesma hora. - Você está com fome? - Eu perguntei novamente.
- Não. Eu estou bem. - disse, enquanto me olhava. - Eu não estou com fome. Eu não estou com sede. Eu… - Ele negou com a cabeça em meio a um fraco sorriso. - Eu não sei nem o que fazer ou… como seguir em frente depois de tudo isso. - desabafou, deixando de me olhar para encarar suas mãos.
- Eu sei que está sendo difícil e que vai ser difícil por um bom tempo, mas vai passar. - Eu só queria dar a ele um pouco de esperança. - Vamos, vem comigo. - Eu me levantei do sofá.
- Pra onde? - perguntou, sem entender.
- Eu vou te obrigar a dormir. Você precisa parar um pouco de pensar em tudo isso ou você vai acabar enlouquecendo. - Eu disse, tentando esconder o sorriso.
- Não. Não precisa. Eu não… - já ia recusando a minha sugestão, mas eu insisti.
- Precisa sim. - Eu afirmei, olhando-o seriamente. Ele me olhou com insatisfação e levantou do sofá, contrariado.

Mark acompanhou tudo em silêncio. Antes de me ausentar da sala ao lado do , lancei olhares para ele que davam a entender que eu voltaria dali alguns minutos. Conduzi o até o quarto de hóspedes, que já havia virado o seu quarto. Ele era teimoso e insistia em recusar qualquer tipo de ajuda que qualquer pessoa tentasse dar a ele. Eu o conhecia bem e sabia que o seria capaz de passar a noite acordado remoendo aquela dor incurável. Eu queria ajudá-lo. Eu queria poupá-lo ou ao menos amenizar um pouco do seu sofrimento.

- Então, agora você vai me colocar pra dormir? - ironizou, quando entramos no quarto. Ele sentou-se na cama e eu o olhei com desaprovação. - Eu estou brincando. - Ele negou com a cabeça. - Eu sei que você só está cuidando de mim. - sorriu fraco. Sua frase me fez baixar a guarda novamente. Eu me aproximei e me sentei ao seu lado na cama.
- Você sabe que vai conseguir superar tudo isso, não sabe? Você já fez isso uma vez. - Eu virei o meu rosto para olhá-lo.
- Foi diferente da primeira vez. Eu só tinha 10 anos e mesmo sentindo a falta dele, eu não entendia completamente o que tinha acontecido. Eu não sabia a magnitude de tudo isso. Não da maneira que eu sei agora. - Ele explicou.
- Se a primeira vez que você perdeu o seu pai não serve para te dar o conforto de que tudo vai ficar bem, então você pode me usar como referência. - Eu virei o meu corpo de frente para o dele. - Você estava lá por mim quando eu perdi a minha tia. Você me convenceu de que tudo ficaria bem e, agora, eu estou aqui para te convencer da mesma coisa. - Eu estava me esforçando.
- É diferente também. Quando você perdeu a sua tia, você não estava sozinha. Havia muitas pessoas a sua volta para cuidar de você e para garantir que você ficaria bem. - argumentou, me olhando atentamente.
- Incluindo você. - Eu fiz questão de ressaltar. - E agora, você tem a mim. - Eu segurei uma das mãos dele entre as minhas.
- Não. Eu não tenho. - deixou de me olhar por alguns segundos para encarar as nossas mãos. - Não mais. - Ele levantou o rosto novamente.
- Não é assim. - Eu sorri, negando com a cabeça. - Nós não estamos mais juntos, mas isso não muda o carinho imenso que eu sinto por você. Não muda a minha necessidade de cuidar de você e de ter certeza de que você está bem. - Ele não deixou transparecer, mas ficou bastante chateado ao me ouvir confirmar que realmente não havia mais anda entre nós. - Eu sei que você tem um péssimo histórico com ex-namoradas, mas eu tenho orgulho em ser a exceção de todas elas. - Eu sorri e consegui arrancar um sorriso dele também.
- Acho que não posso dizer o mesmo sobre mim. - negou sutilmente com a cabeça. - Aliás, eu ainda não consegui me desculpar pelo que aconteceu na casa do lago daquele dia. Eu fui um idiota, para variar. - Ele rolou os olhos.
- É, você é muito bom em ser um idiota e eu sou péssima em odiar você. - Eu ri, sem emitir qualquer som. - Está tudo bem. Eu já esqueci tudo isso. - Eu o tranquilizei.
- Tudo? - perguntou, me olhando um pouco mais sério.

A pergunta do realmente me pegou desprevenida. Eu sabia o que ele estava me perguntando e eu fiquei sem saber o que dizer. Soltei a mão dele por um momento e me levantei da cama para pegar uma caneta, que estava sobre o criado-mudo. Pela expressão em seu rosto, eu pude perceber que ele não estava entendendo o que estava acontecendo ali. Com a caneta nas mãos, eu voltei a me sentar de frente para ele na cama e peguei novamente uma das mãos dele. Com muito cuidado, eu desenhei o já conhecido coração na parte de cima da mão dele. sorriu involuntariamente ao ver do que se tratava.

- Nem tudo. - Eu finalmente respondi a pergunta dele. - Você não está sozinho. Você nunca estará. - Eu reafirmei. - Agora, eu vou deixar você descansar. - Sem qualquer hesitação, eu me aproximei e beijei o rosto dele. - Se você precisar de mim, é só ligar… ou tocar a campainha. - Eu ri, apontando na direção da minha casa.
- Pode deixar. - também riu sem emitir qualquer som. - Obrigado por tudo. - Ele disse em um tom um pouco mais alto, enquanto observava eu me afastar. Eu não respondi, mas sorri para ele antes de sair do quarto e encostar a porta.

Mesmo tendo sentido o seu coração disparar e as borboletas em seu estômago durante aqueles 5 minutos de conversa que tivemos, não conseguiu ignorar todos os indícios que eu dei de que, para mim, nós já não éramos mais um casal. Além de ter afirmado que nós não tínhamos mais nada, ele também havia notado que tinha me autodenominado como sua ex-namorada. Os indícios realmente não eram bons, mas o coração desenhado em sua mão era a única coisa que ainda dava a ele esperança.

Ao sair do quarto do , eu voltei para a sala e, com isso, voltei a me aproximar do Mark. Me sentei ao lado dele no sofá e eu fiz questão de demonstrar a ele o quanto eu estava preocupada com ele por causa da sua mais nova perda. Mark começou a me contar toda a conversa que ele e o seu pai haviam tido momentos antes da sua morte. Com lágrimas discretas nos olhos, ele me contou de um lado do seu pai que ele nunca tinha conhecido. Mesmo aparentando estar triste, dava para perceber o seu alívio e a sua felicidade em poder dizer em voz alta que, um dia, o Steven se importou com ele e que o amou como um pai ama um filho.

Nós conversamos por mais de uma hora! Em determinado momento, Mark deitou-se em meu colo e eu passei a acariciar o seu cabelo. As coisas entre nós iam acontecendo de maneira involuntária. Ele me fazia rir e eu conseguia fazê-lo esquecer do quão triste havia sido aquele dia. Nós nos dávamos muito bem e nunca ficávamos sem assunto. Tínhamos uma sintomia e uma afinidade inexplicável.

Não aconteceu nada demais entre eu e o Mark durante aquela conversa. Não nos beijamos e também não falamos sobre o beijo da noite anterior, mas para o nada disso era necessário. Desde o momento em que eu sai do quarto dele, ele aproximou-se da porta do quarto ainda entreaberta e com a costa apoiada na parede e sentado no chão, sentiu cada pedaço de esperança dentro dele se esvair, enquanto ele ouvia a minha conversa com o Mark. Com os olhos fixos no coração desenhado em sua mão, ouvia cada frase que saia da minha boca e a maneira com que eu pronunciava cada uma delas e tinha certeza que, pela primeira vez, os sentimentos do Mark estavam sendo igualmente retribuídos por mim. Diferentemente das outras vezes, conseguia sentir que aquele coração desenhado em sua mão já não era só dele.

Daquela noite em diante, muita coisa mudou. não cobrou nada de mim e também não cobrou nada do Mark, mas eu consegui notá-lo um pouco mais distante de mim. Ele não estava me tratando mal, aliás, essa nem era a sua intenção. Depois de perceber o meu real interesse no Mark, recuou um pouco. Ele achou que essa era a maneira certa de agir até que eu tomasse uma decisão definitiva entre os dois.

respeitava muito o Mark e também estava disposto a respeitar, pela primeira vez, uma promessa: a promessa que havia feito ao seu pai. Recuar e me dar espaço para tomar a minha decisão era a melhor maneira de evitar brigas com o Mark. Para ele, não era certo me pressionar, usar o nosso passado juntos ou se aproveitar das minhas fraquezas. Eu já conhecia tudo o que eu podia sobre ele. Ele não tinha mais nada para provar. A decisão estava nas minhas mãos.

A relação dos irmãos continuava a mesma. Eles nunca falavam sobre mim e muito menos sobre aquele acordo entre eles sobre me deixar escolher com qual deles eu queria ficar. A cada dia que passava, Mark e eu nos aproximávamos mais. Nós não éramos um casal, mas os climas constrangedores entre nós sempre acabava terminando em um beijo. A minha aproximação com o Mark me deixava muito feliz, mas o meu afastamento do fazia com que eu me sentisse péssima. No fundo, eu sabia que ele estava dando ao Mark a oportunidade de ter momentos e memórias comigo, que ele já havia tido.

Já havia passado quase uma semana do funeral do Steven. Aquela quinta-feira era só mais um dia normal pra mim. Eu estava voltando para casa, depois de sair do estágio no hospital, exatamente como eu fazia todos os dias. Ao estacionar o carro na garagem da minha casa, meus olhos ansiosos foram direto para a casa do meu mais querido vizinho. Notei que o carro do Mark estava na garagem e que o carro do não estava lá. Aquilo soou como um ótimo convite para ir até lá.

Mark e eu não estávamos fazendo nada errado e eu tinha plena consciência disso, mas eu não conseguia não me sentir mal expondo toda aquela proximidade que eu e o Mark construímos para o . Eu sabia como o se sentia sobre mim e eu não conseguia ignorar isso. Eu não conseguia fingir para ele que eu não estava sentindo nada pelo Mark. Isso me fazia muito mal e, por isso, eu preferia evitar essas situações desnecessárias.

Me dirigi até a casa do Mark e estava planejando sugerir qualquer programa para fazermos juntos naquela noite. Bati na porta mais de uma vez e quando ela foi aberta, meu corpo todo estremeceu. era quem estava do outro lado da porta e eu mal consegui disfarçar o meu constrangimento ao vê-lo. Ele percebeu quando o sorriso no meu rosto mudou radicalmente. Eu tive até dificuldade para conseguir falar qualquer coisa.

- Oi. - disse, quando percebeu que eu não ia conseguir dizer nada. - Você… está procurando o Mark? - Ele deduziu. Eu me senti a pior pessoa da face da terra.
- É… eu vi o carro. - Eu gaguejei.
- Ah, o carro dele não pegou hoje de manhã, então eu deixei ele ir trabalhar com o meu. - explicou com um sorriso tenso.
- Entendi. - Eu estava muito sem graça. - E você, está bem? - Eu perguntei para não me sentir tão mal.
- Eu estou bem. - respondeu. - E você? - Ele devolveu a pergunta para ser educado.
- Eu também estou bem. - Ao terminar a frase, nós nos olhamos e o clima ficou ainda pior. - Bem, eu… volto outra hora. Eu não quero te incomodar. - Eu tinha que sair dali o mais rápido possível. - Nos vemos por ai. - Foi a última coisa que eu disse antes de me afastar. Eu praticamente deixei ele falando sozinho. Não foi de propósito. Eu só estava muito nervosa.

Durante todo o caminho até a minha casa, eu fiquei pensando em milhares de maneiras de me matar depois do que tinha acabado de acontecer. Foi horrível! Eu mal consegui falar com o . Qual era o meu problema? Se até então o não se sentia no direito de me cobrar nada, agora ele sentia! O que foi aquilo? Quando foi que nos tornamos aquilo? Ele não gostou nada da maneira que eu o havia tratado. Simplesmente não parecia nós.

Eu entrei na minha casa tão atordoada, que nem ao menos tranquei a porta da casa. Coloquei a minha bolsa sobre a mesa e parei no meio da sala de jantar para tentar entender o que tinha acontecido comigo. Eu e o não tínhamos mais nada. Por que eu sentia como se devesse satisfações a ele? Isso estava me corroendo por dentro. Eu só conseguia pensar o quanto eu desejava não revê-lo tão cedo, mas o que eu não sabia é que ele estava indo até a minha casa naquele exato momento para tirar aquela história a limpo de uma vez por todas! Eu continuava parada próxima a sala de jantar, quando um barulho logo atrás de mim me fez perceber que eu não estava sozinha em casa.

- Shhh. Quietinha. - Uma voz masculina disse. Senti algo tocar a parte de trás da minha cabeça e não demorou muito para que eu deduzisse que tratava-se de uma arma. Minhas mãos começaram a tremer na mesma hora e eu senti o meu corpo todo gelar.

A princípio, eu não consegui identificar quem era, pois ele estava atrás de mim e eu não reconheci a voz. Levei minhas mãos para o alto involuntariamente. O silêncio na casa deixou em evidência o som de passos que vinham da cozinha para a sala de jantar. Naquele momento, eu soube que havia uma terceira pessoa na casa. Meus olhos ficaram fixos na porta da cozinha. Quem quer que fosse, passaria por aquela porta a qualquer momento. Mais alguns passos e aquela figura conhecida surgiu na porta da cozinha. Olhar para ele me fez entrar em desespero. - Casa bonita. - Ele disse com um sorriso nojento. - Não acredito que deixaram você morar sozinha em uma casa grande como essa. - O sujeito se aproximou de mim e parou na minha frente. Apesar de tê-lo visto poucas vezes, eu seria capaz de reconhecer o capanga do Steven em qualquer circunstância. - O que você acha de ser a nossa isca, hoje? - Ele sorriu, acariciando o meu rosto. Além de medo, eu também sentia nojo naquele momento. - Nós vamos fisgar um peixe grande essa noite. - O segundo capanga que mantinha a arma na minha cabeça disse em tom de deboche. - ? - chamou pelo meu nome, depois de encontrar a porta da minha casa entreaberta. Ele havia escolhido o momento errado para tirar as suas satisfações.









CONTINUA...







Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


7 comentários:

  1. A cada dia mais fico ansiosa para o próximo capítulo...

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  2. Confesso que esse lance de dúvida entre Jonas e Mark já tá ficando chato :(

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  3. MEU DEUS DO CEU EU ACABE DE TE ACHAR DE NOVO! AMO DEMAIS ESSA FANFIC <3

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  4. Eu já cansei do meu Jonas, quero é o Mark agora, ele é muito mais interessante... Faz eu ficar com o Mark pfv kkkk
    Eu quero ele agora kkkk
    De verdade
    Mas tbm quero um final bom meu com o Jonas, só não quero mais ficar com ele

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  5. Não desiste de escrever, você tem muito talento

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  6. Por favor mulher não demore tanto pra atualizar se não vou ter um treco! Simplesmente a melhor fic da minha vida!!!

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