Capítulo 50



NO CAPÍTULO ANTERIOR...




- Você não quer que eu conte para os seus pais? – arqueou uma das sobrancelhas.
- Não, eu não quero. – Eu disse como se fosse a coisa mais óbvia de todas.
- Então essa é a minha proposta: eu fico aqui na sua casa durante essas semanas que eu vou ficar em Nova York. Eu vou ficar aqui pra garantir que você está segura e que você está bem. – era teimoso. Ele não ia me deixar em paz, enquanto não soubesse que eu estava segura.
- Você? Morando na minha casa? – Eu disse em tom de deboche.
- Olha só, eu estou hospedado em um hotel 5 estrelas. O mais caro da cidade! Tenho tudo do bom e do melhor. Acha mesmo que eu quero vir morar aqui? – demonstrou impaciência.
- Então, não venha! Eu não quero que você venha morar aqui. – Porque ele estava dizendo como se eu estivesse implorando para que ele viesse morar ali?
- Então é melhor começar a arrumar as suas malas, . – novamente me ameaçou, pegando o seu celular.
- Porque está fazendo isso!? – Eu tentei novamente evitar a ligação e ele esquivou-se.
- Eu estou te protegendo! – gritou, furioso. Ele estava tentando me proteger e eu ainda ficava reclamando?
- Então para de me proteger! – Eu elevei o meu tom de voz. Nós não estávamos mais juntos. Ele não tinha obrigação alguma de cuidar de mim.
- Eu não posso! Eu sei que você está correndo perigo e não vou te deixar ficar sozinha aqui. – diminuiu o seu tom de voz. Nos encaramos e trocamos olhares nada amigáveis por um tempo. – E então, ? Devo ou não ligar para os seus pais? – sorriu, esperando uma resposta minha. Voltar pra Atlantic City ou morar com o por algumas semanas? O que é pior?





Capítulo 50 – Ameaças Reais



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:




- Espera. Deve haver outro jeito. – Eu tentei procurar outra saída, já que nenhuma até agora havia sido boa.
- Não tem outro jeito. – suspirou, demonstrando impaciência.
- Tem o Big Rob! Esse é o trabalho dele, não é? Ficar de olho em mim. Você fala com ele e ele fica de olho em mim. – Eu achei que tivesse achado com uma solução.
- Eu não confio nele! Quem me garante que não é ele? Como alguém entrou aqui sem que ele visse? E se ele for o cumplice? – justificou.
- O Big Rob? – Eu fiz careta. Aquilo era um absurdo pra mim.
- Não quero saber. – Ele rolou os olhos. – Decide logo! Eu fico ou não? – me pressionou para saber a resposta. Eu demorei para chegar em um consenso. Viver com o naquela casa seria insuportável, mas contar toda a verdade para os meus pais seria o fim do meu sonho. O que eu faço?
- Bem... – Eu olhei pra ele e o fuzilei com os olhos. Porque ele estava me fazendo passar por isso? Neguei com a cabeça antes de responder. – Está bem. Você pode ficar. – Eu fechei os meus olhos por poucos segundos, não me conformando com aquilo.
- Ótimo. – não demonstrou tanta empolgação. - Mais tarde eu passo no hotel pra pegar as minhas coisas. – Ele se jogou no sofá, já sentindo-se em casa.
- Ei, ei, ei! Vai com calma. – Eu olhei pra ele, irritada. – Se você vai ficar, eu vou ter que colocar algumas regras. – Eu o avisei.
- Regras? – me olhou tediosamente.
- É claro! Ou você acha que vai poder fazer o que quiser aqui dentro? – Eu fiquei mais irritada com o descaso dele.
- Se você tem regras, eu também tenho. – afirmou, sério. – Esse é o único jeito disso aqui durar mais que um dia. – Ele conhecia muito bem o nosso relacionamento.
- Você não vai impor regra alguma, porque você não manda nada aqui. – Eu respondi em um impulso. me encarou com cara feia. – Está bem. – Eu respirei fundo. – Eu não vou discutir com você. – Eu tinha que me controlar.
- Você começa! – me olhou com atenção.
- Está bem! Primeira regra: sem garotas! Você não pode trazer nenhuma das suas vadias para cá! – Eu disse, séria.
- Como não? – disse apenas para me irritar.
- Isso aqui não é puteiro e nem motel. – Eu tentei manter a calma. Ele estava me zuando, né?
- Eu entendi. – rolou os olhos. – Mas se eu não posso, você também não pode. – Ele completou.
- Como é? – Eu cerrei os olhos em sua direção.
- Essa é a minha primeira regra! Você também não pode trazer nenhum cara pra cá. Eu sou o homem da casa. – afirmou entre risos.
- O homem da casa? – Eu fiz careta diante da sua afirmação.
- O único homem da casa. – Ele me corrigiu. – Nós dois sabemos que você ia usar isso contra mim. Agora não vai mais. – sorriu se achando o espertalhão.
- Está bem. – Eu respirei fundo, tentando me conter.
- Mais alguma regra? – pensou que já tivesse acabado.
- É claro que eu tenho mais regras! – Eu disse, irritada. – Você vai morar na minha casa! Eu tenho milhares de regras! – Eu afirmei.
- Vamos combinar uma coisa? 3 regras pra cada ou isso aqui vai virar ditadura. – tentou negociar.
- 3 regras? Até parece. – Eu neguei imediatamente.
- Quanto mais regras você tiver, mais regras eu vou ter. – abriu os braços. A sua afirmação me fez pensar.
- Ok! 3 regras, Jonas. – Eu engoli seco, aceitando o acordo.
- Legal! Então, você tem só mais duas regras. – fez questão de me dizer. – É melhor você pensar bem. – Ele sorriu, satisfeito com o acordo que havia conseguido. O seu riso de vitória me fez ficar extremamente irritada.
- Eu não preciso pensar. Eu já sei qual será a minha segunda regra. – Eu afirmei com extrema calma. Eu já estou farta do bancando o espertinho pra cima de mim. Porque não fazer o mesmo com ele?
- Eu estou ouvindo. – continuava deitado no sofá com aquele seu sorriso idiota. Cruzei os meus braços e o analisei por um tempo antes de dizer qualquer coisa.
- Sem sexo! – Eu decretei, me segurando para não rir da sua expressão repentina de desespero.
- O QUE? – disse, demonstrando indignação.
- É exatamente isso que você ouviu! – Eu não consegui segurar o riso.
- Ok, espera! Vamos conversar. – tentaria converter a situação.
- Essa é a minha regra, Jonas! – Eu estava irredutível.
- Você está fazendo isso só pra me irritar, né? – cerrou os olhos, irritado.
- Não sei por que você está tão inconformado. Não ia rolar sexo de qualquer jeito. – Eu ergui os ombros e revirou os olhos como se não tivesse acreditado no que eu havia acabado de dizer.
- Se não vai rolar sexo, eu também não sou obrigado a ficar aturando os seus dramas e a sua TPM. Não importa se você está sensível ou se quer um abraço. Eu não me importo! Me deixa fora disso! – foi estupidamente claro e objetivo. – Essa é a minha segunda regra. – Ele completou, sério.
- Uau, ficou nervoso? – Eu segurei o riso. – Sabe que se quiser desistir disso é só ir embora, não é? – Eu sugeri, me aproveitando a irritação dele.
- Desistir? Só por causa de sexo? – sorriu com ironia. – Não se dê tanto valor assim. – Ele fingiu não se abalar.
- Que previsível. – Eu rolei os olhos.
- Confesso que estou com medo da sua última regra. Não vai me obrigar a comer a sua comida, vai? – tirou com a minha cara só para variar.
- É claro que não. – Eu sorri para que ele não soubesse que havia conseguido me irritar.
- Então, qual é a sua última regra? – me olhou com a atenção.
- Você... – Eu estava satisfeita com a minha terceira e última regra. Era a regra mais importante pra mim.
- Fala logo. – me apressou, quando eu demorei mais do que deveria para continuar a frase.
- Você não pode se apaixonar por mim. – Eu afirmei, olhando pra ele.
- O que? – fez careta. – Está maluca? – Ele foi obrigado a rir.
- Essas são as minhas regras. – Eu não respondi as provocações dele.
- Vou entrar na brincadeira, está bem? Você também não pode se apaixonar por mim. Se é que você já não se apaixonou, né? – disse entre risos.
- Vai sonhando, . – Eu ironizei sem demonstrar o meu incomodo com a última regra dele.
- Está bem! Já estabelecemos as regras e agora? Já podemos começar a quebrá-las? – abriu os braços.
- Você não pode quebrá-las! Se você quebrá-las, você vai ter que ir embora. – Eu adicionei uma clausula ao nosso acordo.
- O que é isso? Mais uma regra? – arqueou uma das sobrancelhas.
- Não. Faz parte do acordo. Se existem regras, elas devem ser cumpridas. Se não forem cumpridas, deve haver uma punição. – Eu expliquei com toda a paciência que, aliás, eu não tinha.
- Então, se eu quebrar as suas três regras eu tenho que ir embora? – queria saber se havia entendido bem.
- Exatamente. – Eu afirmei com a cabeça.
- E se você quebrar as minhas regras? – também queria ter uma garantia de que eu não quebraria suas regras.
- Você fica! Não é isso o que você quer? – Eu ergui os ombros, olhando pra ele.
- Está bem. – observou eu me afastar. Eu subi as escadas, pois precisava ficar o mais longe possível dele e também porque eu precisava me trocar para ir trabalhar.

Apesar das regras rigorosas que eu havia imposto, estava feliz. Ele poderá ficar perto de mim de um jeito que nunca havia ficado antes. Secretamente, ele está empolgado por podermos morar juntos por alguns dias. Secretamente sim, porque se eu descobrisse as intenções de eu não permitiria tal reaproximação. Mesmo querendo ficar perto de mim, a prioridade de era cuidar de mim. Não era só uma desculpa para que ele pudesse morar na minha casa por alguns dias. realmente se importava com a minha segurança. Essas ameaças o incomodavam absurdamente. Ele não conseguia evitar.

- Droga... – Eu suspirei ao entrarem meu quarto. Ter o meu ex-namorado morando na minha casa com certeza não estava nos meus planos.

Todas essas ameaças estão realmente começando a me assustar, mas isso não significa que eu estou aliviada por ter o por perto. Pelo contrário! Eu só estou ainda mais tensa, pois vou ter que ficar monitorando os meus olhares e sentimentos dentro da minha própria casa. Nada disso estaria acontecendo se eu tivesse me controlado na noite passada. A pior parte é que ele está fazendo tudo isso de propósito. Ele quer ficar na minha casa só para me irritar e é exatamente isso que eu tenho que me controlar para não dar esse prazer a ele. Eu não posso deixar que ele tenha qualquer controle sobre mim. Além disso, eu passo a maior parte do dia fora. Não vai ser tão ruim assim tê-lo por perto só por algumas horas.

Sentei em minha cama, pensando como é que eu devo agir com ele daqui a frente. As coisas nunca saem como o planejado quando se trata do , mas eu tinha que ter pelo menos em mente o tipo de comportamento que eu devo ter quando eu estiver perto dele. Eu devo ser fria? Mal educada? Indiferente? Ignorante? Nada que eu faça me tirará esse medo de que descubra que essa coisa de ‘atração física’ é uma grande mentira. O meu celular tocou e eu levei um susto. Olhei no visor e vi o nome de ‘Meg’.

- Oi, Meg. – Eu disse assim que atendi a ligação.
- Onde você está, garota? – Meg perguntou, preocupada.
- Eu estava resolvendo uns problemas, mas... na verdade, acabei não resolvendo nada. – Eu fiz careta a falar sobre o assunto.
- Eu deveria entender o que isso significa? – Meg também fez careta.
- Não, esquece. – Eu rolei os olhos, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. – E então, você foi na aula? – Eu mudei o assunto.
- Estou saindo da faculdade agora. Sabe que isso está ficando assustador, não é? Eu achei que eu fosse a rebelde de nós duas e agora você vive faltando nas aulas e eu sou a CDF. – Meg disse de um jeito engraçado, me fazendo rir.
- Eu sei. Eu não devia ter faltado. – Eu respirei fundo, culpando mentalmente.
- Você não perdeu muita coisa. O professor passou alguns vídeos longos e entediantes. Você consegue achá-los na internet depois. – Meg me tranquilizou.
- Que bom! – Eu sorri, aliviada.
- Você vai trabalhar hoje, certo? – Meg quis saber.
- Eu vou. Eu preciso sair de casa o mais rápido possível. – Eu voltei a fazer careta.
- Como assim? – Meg não entendeu.
- Eu te conto depois. – Eu neguei com a cabeça. – Então, você pode passar me buscar? – Eu perguntei sem qualquer restrição.
- Posso! Eu chego ai em 15 minutos. – Meg avisou, aproximando-se de seu carro no estacionamento da faculdade.
- Beleza! Vou me arrumar. – Eu disse, me levantando rapidamente da cama e indo até o meu guarda-roupa.
- Te vejo daqui a pouco. – Meg disse antes de desligar a ligação.

Depois de tomar o banho mais rápido da minha vida, me troquei apressadamente. Coloquei um sapato e roupas brancas, arrumei o meu cabelo, passei perfume e coloquei um brinco bem discreto. O tempo que levei para me arrumar, foi o mesmo tempo que a Meg levou para chegar na minha casa. Ouvi a buzina do carro dela e peguei rapidamente a minha bolsa que estava sobre a cama e fui em direção a porta do meu quarto. Desci as escadas correndo e ao chegar ao final dela dei de cara com o .

- Hey, onde você vai? – me olhou, sério.
- Pode me dar licença? Eu estou atrasada. – Eu o olhei, tentando manter a calma.
- Onde você vai? – insistiu na pergunta.
- Olhe pra mim. – Eu abri os braços, querendo que ele notasse a minha roupa branca. – Onde acha que eu vou? Em um centro de macumba? – Eu ironizei.
- Quem está lá fora? – apontou a cabeça em direção a porta.
- Isso é sério? – Eu o olhei com indignação. Interrogatório agora?
- Se eu vou cuidar de você, eu tenho que saber aonde você vai e com quem você vai. – me olhou com certa impaciência.
- Não, você não tem. Devia ter incluído isso nas suas regras, não acha? – Eu forcei um sorriso pra ele. – Não se preocupa. Eu prometo que não vou falar com estranhos e que vou te ligar avisando que cheguei bem, ok? – Eu pisquei um dos olhos pra ele e fui em direção a porta. ficou tão furioso que nem conseguiu responder. Ele apenas me acompanhou com o olhar e me viu sair com pressa pela porta. Foi até a janela e me viu entrando no carro de Meg.
- Não trancou a porta? – Meg perguntou assim que eu entrei em seu carro. Ela estranhou, pois eu sempre trancava a porta.
- Não preciso mais trancar a porta, já que o Capitão Caverna resolveu se mudar pra minha casa. – Eu expliquei, enquanto colocava o cinto de segurança.
- Como é que é? – Meg não entendeu o que eu quis dizer, mas riu mesmo assim.
- deu um jeito de se enfiar na minha casa. – Eu rolei os olhos.
- Como assim? – Meg teve uma crise de risos.
- Ele botou na cabeça que é perigoso eu ficar sozinha naquela casa enorme e agora quer ficar lá, enquanto ele estiver aqui em Nova York. – Eu não quis contar a versão completa, pois eu não queria contar toda essa história de ameaças.
- Mas você sempre morou lá sozinha e nunca aconteceu nada! – Meg continuava achando graça de tudo.
- Exatamente! Mas ele cismou e ameaçou contar para os meus pais sobre as possíveis ameaças que Nova York pode ter e como eu sei que os meus pais são sistemáticos... – Eu neguei com a cabeça. Eu novamente mudei um pouco a versão da história.
- Ele está te chantageando! – Meg abriu a boca, surpresa.
- Entende o meu ódio, agora? – Eu virei o meu rosto para olhá-la.
- Sinceramente? Não, eu não entendo. – Meg sorriu pra mim. – Vocês se odeiam mais que tudo, mas não conseguem ficar longe um do outro. – Ela descreveu a nossa relação em uma frase.
- Ele não consegue ficar longe de mim você quer dizer, não é? – Eu nunca darei o braço a torcer.
- Bem, eu me lembro de ver vocês na maior pegação ontem no bar e você parecia estar bem... empolgada. – Meg voltou a rir.
- Aquilo... – Eu tentei controlar o riso para argumentar ao meu favor. – Aquilo foi uma fraqueza. Só isso! – Eu afirmei.
- Fraqueza? , eu já fui em inúmeras festas, bares e baladas com você e nunca vi você fraquejar! E quando eu digo nunca, é nunca mesmo. – Meg continuava me colocando contra a parede.
- Eu sei, mas é o , sabe? É como uma droga. Você experimenta uma vez e nas outras vezes você fica mais empolgada com aquilo porque você já sabe como é. – Eu tentei explicar pra ela.
- Você gosta da pegada dele. – Meg traduziu a minha frase anterior.
- Não, eu não disse isso. – Eu voltei a segurar o riso. Ela me olhou com desconfiança. – Ok, eu disse, mas isso não significa nada. – Eu disse, rindo.
- Eu sabia! – Meg riu junto comigo. – Ok, mas o que você vai fazer agora? – Ela queria saber se eu tinha algum plano.
- Nada! A única coisa que eu posso fazer é aturá-lo e torcer para que ele vá embora logo pra Atlantic City. – Eu ergui os ombros.
- E o que a sua família vai achar disso? – Meg quis saber.
- Não vai achar nada, porque eles não vão saber de nada disso. Por isso, não conte nem pro . Ele vai acabar contando pro mesmo que você o faça prometer do contrário, acredite. – Eu pedi a ela.
- Está bem. Eu não conto nada. – Meg afirmou com a cabeça.

Chegamos no hospital e ainda tivemos tempo para comer alguma coisa na lanchonete. O meu dia no trabalho foi muito atarefado, portanto, eu não tive tempo para ficar pensando nos problemas ou no . Isso foi bom. aproveitou a tarde livre para ir até o seu hotel para buscar as suas coisas. A sua conta no hotel foi encerrada e ele levou todas as suas malas para a minha casa. Ele chegou discretamente em minha casa que nem Mark soube da sua mudança. Big Rob foi o único que viu, mas não comentou nada sobre o assunto, pois não achava que fosse de seu interesse. levou suas malas até o quarto de visitas que ele havia dormido da última vez que esteve ali.

- Eu adoraria entrar e assistir isso, mas meus pais estão me esperando para irmos na casa de uma tia. – Meg resmungou, quando estacionou o seu carro em frente a minha casa. Como de costume, ela havia me levado do trabalho pra casa, já que eu estava sem carro.
- Você está achando tudo isso muito engraçado, né? – Eu cerrei os olhos em sua direção.
- Imagina! – Meg ironizou.
- Sei... – Eu neguei com a cabeça, sorrindo sem mostrar os dentes. – Te vejo amanhã. – Eu me aproximei e beijei o seu rosto.
- Boa sorte. – Meg disse, me vendo sair do carro.
- Eu não preciso de sorte. Eu preciso de paciência. – Eu brinquei ao sair do carro.
- Até amanhã! – Meg segurou o riso.

Eu me afastei do carro e fui em direção a casa. Consegui dar um jeito de olhar discretamente para a casa de Mark e o vi sentado na varanda. Ele sempre estava lá quando eu chegava. Antes eu achava que ele ficava lá para ter certeza de que eu chegaria bem, mas agora eu vejo o quanto eu fui idiota. Meg também viu o Mark e parou o carro em frente a sua casa para conversar com ele. Observei ele sair da varanda e ir até o carro dela. Eles começaram a conversar sobre alguma coisa que não me interessava mais. Deixei de olhá-los quando cheguei na porta da minha casa. Eu a encarei e pensei em não entrar. Fechei os olhos por poucos segundos e respirei fundo. Toquei a maçaneta e a virei, entrando na casa em seguida. Foi estranho chegar e ver todas aquelas luzes acesas e ouvir o barulho da TV. Olhei em volta e não vi o . Coloquei as chaves da porta sobre uma mesinha e fui em direção as escadas. Queria saber onde estava, mas não sairia procurando ele pela casa. Comecei a subir as escadas e quase no topo dela me deparei com ele.

- Você chegou! – De início, ele pareceu ter se assustado, mas depois ele sorriu.
- Oi... – Eu logo senti o seu forte perfume e fui obrigada a me controlar. Aparentemente, ele havia acabado de sair do banho. O seu cabelo estava molhado e bagunçado e ele vestia uma camiseta branca básica e um shorts comum.
- Você está bem? – perguntou, querendo saber se havia acontecido alguma coisa estranha no meu dia.
- Sim, tudo certo. – Eu afirmei, sem saber muito bem como reagir.
- Ótimo. – forçou um sorriso e nós trocamos estranhos olhares, que me fez querer sair dali imediatamente. Me espremi discretamente no corrimão da escada para que não precisasse tocá-lo na hora que passasse por ele e eu consegui. Ao passar por ele, fechei momentaneamente os meus olhos. também continuou descendo as escadas, sentindo vontade de dizer qualquer outra coisa para que ele tivesse uma desculpa para poder voltar a olhar pra mim. – Você está com fome? – Ele parou no fim da escada e olhou pra trás. Eu fiz o mesmo.
- O que? – Eu achei que pudesse não ter escutado direito.
- Eu estava pensando em pedir uma pizza. Você está com fome? – repetiu a pergunta.
- Na verdade, estou. Eu só preciso tomar um banho. – Eu afirmei, mantendo um sorriso no canto do rosto.
- Está bem. Eu vou ligar na pizzaria. – afirmou ao dar um rápido sorriso. – O mesmo de sempre, né? – Ele queria ter certeza que o meu gosto para pizzas ainda não havia mudado.
- Sim. – Eu fiquei um pouco sem jeito. Ele ainda lembrava do meu sabor favorito de pizza?
- Ok. – afirmou com a cabeça e me olhou como se estivesse esperando alguma reação minha. A minha única reação foi me virar de costas e ir até o meu quarto.

Mesmo depois de tanto tempo, ainda reconhecia as minhas reações, os meus sorrisos e as minhas manias. A confirmação desse fato só o fez sorrir sozinho, enquanto ele ligava para a pizzaria. Eu estava um pouco tensa, pois a minha reação a tudo o que o fazia ou dizia nunca era a ideal. Eu sempre sentia vontade de voltar no tempo e mudar uma fala, um olhar ou um sorriso meu.

O banho acabou tirando um pouco da minha tensão. Depois do banho demorado, pensei em qual roupa deveria vestir. Depois de tanto pensar, notei o absurdo da situação. Se não estivesse lá eu teria pego o primeiro pijama que visse na frente, mas agora eu me pego pensando em que roupa vestir? Eu tinha que agir naturalmente. Vestir qualquer coisa que não fosse um pijama ás 9 horas da noite de uma quinta-feira a noite seria fora do normal. Então, eu decidi vestir um pijama, mas não um pijama qualquer. Um pijama mais apresentável e comportado. Um pijama comum, sabe? Acabei escolhendo um pijama azul composto por um shorts azul inevitavelmente curto (eu não disse escandaloso, ok?) estampado com estrelas amarelas e uma regatinha também azul. Penteei o meu cabelo e passei pouco perfume. Não passei absolutamente nada de maquiagem. Só calcei uma rasteirinha simples e pronto. Saí do meu quarto e desci as escadas. Cheguei na sala e vi o cortando a pizza na mesa de jantar.

- Mas já? – Eu estranhei o fato da pizza já ter chego.
- Você demorou no banho. – afirmou, tirando os seus olhos da pizza para me olhar. Ele ficou surpreso ao me ver de pijama. Não era uma coisa muito comum. Eu ignorei os olhares dele e me aproximei.
- Eu vou pegar os pratos... – Eu ignorei a leve crítica dele e dei alguns passos em direção a cozinha.
- Não, não precisa. Nós podemos comer na mão... – disse e logo depois percebeu que poderia ter soado um pouco autoritário. – Só se você quiser, é claro. – Ele completou.
- Pode ser. Eu vou só pegar guardanapo, refrigerante e copo. – Eu não me importei. Fui até a cozinha e peguei tudo o que eu havia dito. Ao voltar para a sala de jantar, o avistei sentado no chão. Ele estava de frente para a TV e com as costas apoiadas no sofá. A pizza estava com ele. Levei as coisas até ele e me sentei no chão. A caixa da pizza estava entre nós. Coloquei o refrigerante, os copos e os guardanapos no chão. Os olhos de estavam fixos na TV. Era um canal de esporte, que estava falando sobre os Yankees. Os olhos de só abandonaram a TV, quando ele foi pegar a pizza. Quando ele abriu a caixa, aproveitei para pegar um pedaço também. Ele voltou a dar atenção para a TV e eu tentei fazer o mesmo, mas eu não entendia absolutamente nada o que aqueles jornalistas falavam. Não pude deixar de notar o videogame de que estava bem próximo a TV. Ele já havia até instalado. Estava se sentindo em casa mesmo, né?

Continuamos comendo e mantivemos o silêncio por algum tempo. Confesso que estava sendo um pouco entediante ficar sentada ali, enquanto via um documentário de esportes. Mesmo querendo mudar de canal, eu me controlei para não assumir o controle remoto. Em meio ao comercial da TV, virou o seu rosto para me olhar. Eu notei os seus olhares sobre mim, mas não quis retribuir, por isso, mantive os meus olhos fixos na TV.

- Pijama fofo. – disse e mesmo sem olhá-lo, eu notei que ele sorria debochadamente.
- Não fica chateado, mas acho que vamos ter que conseguir um tamanho maior pra você. – Eu sorri de forma irônica sem nem sequer olhá-lo.
- Oh, é mesmo. Eu esqueci que você não gosta de elogios. – Ele arqueou as sobrancelhas e revirou os olhos.



- Elogio? Acha que zoar o meu pijama é um elogio? – Eu virei o meu rosto para olhá-lo. – Você já foi melhor nisso, sabia? – Eu também sorri de forma debochada.
- Você está se referindo a época em que eu era um idiota apaixonado? – segurou o riso.
- Você não era um idiota naquela época. Você é um idiota agora. – Eu comecei a me irritar com os risos que davam a ele um ar de superioridade.
- Aposto que isso é o que mais te atrai em mim, não é? – sorriu de canto, malandro.
- Quer saber o que mais me atrai em você? – Eu me esforcei para segurar o riso.
- O que? – pareceu curioso e o seu sorriso pareceu até mudar.
- Vem aqui. – Eu fiz sinal com a cabeça para que ele se aproximasse. Ainda sentado, ele curvou-se e aproximou o seu rosto do meu. Eu toquei o seu rosto e aproximei os meus lábios de uma de suas orelhas. – O álcool. – Eu sussurrei em seu ouvido. – Sem ele, você não é nada pra mim. – Eu completei e em seguida afastei o meu rosto do dele. Olhei pra ele e vi os seus olhos me fuzilarem.
- Você disse que queria saber. – Eu pisquei um dos olhos pra ele e ergui os ombros em meio a um sorriso. Deixei de olhá-lo e voltei toda a minha atenção para a TV, mas ele continuou me fuzilando com os olhos por algum tempo.

ficava furioso quando eu o desvalorizava e dizia coisas só para que ele se sentisse inferior a mim. Ele me conhece bem e sabe que e faço isso por pura birra. Eu não dou o braço a torcer e eu também não cedo facilmente. Foi idiotice da parte dele achar que eu faria isso logo no meio de uma discussão. Mesmo querendo dizer poucas e boas pra mim, ele se segurou. não queria demonstrar que aquilo havia quebrado algumas paredes do seu ego. O longo suspiro o fez colocar a cabeça no lugar novamente.

- Porque estamos assistindo isso, afinal? – Eu olhei pra ele, olhando com implicância.
- Eu estou assistindo porque eu gosto de esportes. Agora, você... – riu sem emitir som. – Não sei por que está assistindo, já que você é o fracasso em pessoa quando se trata de esportes. – Ele não mediu os limites de suas palavras.
- Você tem razão. Eu não tenho motivo algum pra assistir essa porcaria. – Eu peguei o controle remoto e mudei de canal sem qualquer hesitação.
- Hey! – me olhou com irritação. Eu continuei olhando para a TV, onde estava passando um episódio novo de uma das minhas séries favoritas. – Você está de brincadeira, né? – Ele disse, depois de olhar para a TV.
- Já ouviu aquela expressão... – Eu fiz cara de pensativa. – Como é mesmo? Os incomodados que se mudem. – Eu forcei um sorriso ao voltar a olhá-lo. – Oh, espere! Eu acho que esse é você, né? – Eu me fiz de boba. – Quer que eu abra a porta pra você? – Eu me levantei do chão com o controle nas mãos e apontei em direção a porta da casa.
- Para de palhaçada, ! Tira logo dessa série adolescente idiota! – fez careta ao olhar para TV, justamente quando o casal que eu ‘shippava’ estava se beijando. – Quando é que você vai crescer, hein? – Ele acha que é quem? A minha mãe?
- Quando eu vou crescer? – Eu repeti a sua pergunta de forma deboche. – Você ainda joga videogame e sou eu que preciso crescer? – Eu apontei em direção ao videogame dele.
- Olha só, deixa o meu videogame fora disso. – pareceu ter se ofendido.
- Agora você ficou sentimental! Que ótimo! – Eu neguei com a cabeça, inconformada.
- Muda logo a porra do canal. – começou a ficar mais irritado.
- Não vou mudar! A TV é minha, a casa é minha e eu assisto o que eu quiser. – Eu disse com autoridade. Impressionante a rapidez com que eu voltava a discutir como uma adolescente quando eu e ele brigávamos. Era ridículo e eu nem conseguia perceber isso.
- Me dá o controle. – fechou os olhos por poucos segundos e estendeu a mão em minha direção.
- Não! – Eu afirmei entre risos. Eu mal terminei de responder e ele colocou-se de pé.
- Não vai me obrigar a fazer isso, vai? – arqueou uma das sobrancelhas. Eu dei um passo pra trás.
- Fica longe de mim. – Eu ordenei, mas ele não atendeu o meu pedido. Aproximou-se e tentou pegar o controle remoto das minhas mãos, mas eu as levei para trás do meu corpo. – Para! – Eu disse seriamente, mas ele não intimidou-se.
- Me dá logo o controle. – resolveu pedir civilizadamente pela última vez.
- Não vou dar! – Eu ri, dando alguns passos para trás. Passei pela mesa de jantar e cheguei na entrada da cozinha. novamente ameaçou pegar o controle, mas eu novamente me esquivei.
- Você vai me obrigar a fazer isso, né? – negou com a cabeça e eu dei mais alguns passos para trás só por segurança. Estávamos no meio da cozinha.
- Você não vai pegar. Esquece. – Eu debochei ao sorrir. avançou repentinamente em minha direção, me forçando a ir pra trás. Meu corpo se chocou contra a porta de vidro, que por um milagre não quebrou. O corpo de veio assim mesmo pra cima de mim, mas eu mantive o controle atrás das costas. A aproximação foi inevitável. O rosto dele ficou bem próximo ao meu e se ele fizesse mais algum esforço para pegar o controle ele acabaria me beijando. Ele não se moveu. Ficou me encarando de perto, esquecendo até mesmo do controle remoto. As pontas dos nossos narizes se tocaram e os olhos dele continuaram fixos nos meus lábios. Confesso que foi um pouco perturbador pra mim também, mas eu não cheguei a perder a consciência. Achei que pudesse ser um truque dele para recuperar o controle. Aproveitei a distração dele para abrir a porta atrás de mim com uma das minhas mãos. – Se afasta de mim. – Eu dei um passo para trás, empurrando o corpo dele para trás.
- Eu não vou pedir de novo! Me-dá-a-porcaria-do-controle! – me encarou, sério. A verdade é que se ele quisesse ele teria pegado o controle, já que ele é muito mais forte que eu, porém, ele não queria me machucar.
- Está bem! – Eu respirei fundo, tentando me recompor. – Você quer o controle? – Eu dei mais um passo para trás. A piscina estava há alguns passos atrás de mim.
- Quero. – afirmou, estendendo uma das mãos em minha direção.
- Então vai pegar. – Eu usei toda a minha força para jogar o controle em direção a piscina e eu acertei em cheio.
- NÃO...- arregalou os olhos, vendo o controle remoto boiando na piscina. estava muito bravo e respirou fundo para não surtar de vez. Eu estava satisfeita! Se eu não posso assistir, ele também não pode. Com a minha missão cumprida, comecei a andar em direção a porta e ele estava no caminho.
- Você pode ficar aqui se quiser, mas essa ainda é a minha casa, minhas regras! Você não manda nada aqui. – Eu disse, depois de parar em sua frente. Eu adorava me mostrar superior a ele. Eu adorava colocá-lo de volta no lugar dele. Ninguém mandou chegar na minha casa se achando o dono do mundo. A fúria dele estava evidente em seus olhos, mas não me assustava nem um pouco. Eu sai da frente dele e não consegui dar nem dois passos em direção a porta da cozinha. Ele segurou o meu braço e me colocou ao lado dele. Aproximou os seus lábios de um dos meus ouvidos.
- Quer mesmo começar essa guerra? – sussurrou em meu ouvido. Eu achei graça de sua ameaça patética.
- Manda ver, . – Eu disse, fazendo questão de olhar em seus olhos. Finalizei com um sorriso e puxei o meu braço, me desvencilhando de sua mão. Fui em direção a casa e entrei pela porta da cozinha.

Querendo ou não aquela briga movimentou a minha noite. Foi divertido sacanear o . Como nos velhos tempos! Passei pela sala e subi as escadas em direção meu quarto. Foi realmente ótimo acabar com toda aquela marra do , mas eu precisava dormir. Entrei no meu quarto e ainda estava rindo sozinha com o que eu havia feito. Passei no banheiro para escovar os dentes e de lá fui direto para a cama. A noite não estava tão quente, mas também não estava fria, por isso, me cobri com um lençol.

- Jonas... – Eu disse em meio a suspiro. – Você vai se arrepender de ter se mudado pra minha casa. – Eu terminei a frase com um grande sorriso.

continuava encarando a piscina, tentando se lembrar qual havia sido a última vez em que ele sentiu aquele tipo de ódio, que se misturava com uma enorme excitação. Com certeza, foi no ensino médio. Nossas brigas colegiais eram constantes e eram cheias de provocações e jogos sujos. Era o tipo de relação que só nós dois tínhamos. Nós costumávamos ter aquelas brigas antes mesmo de tudo acontecer entre nós. Naquela época, o ódio era mais real. Depois que ficamos juntos, nossas brigas eram cheias de sentimentos e coisas entediantes. Agora, os sentimentos não fazem mais parte dessa história. Então, voltemos ao ensino médio, certo?

- Depois não diga que eu não avisei, . – sussurrou. Havia um sorriso maléfico em seu rosto, enquanto ele abandonava o quintal e voltava para dentro da casa. Que os jogos comecem!

O despertador tocou logo cedo. A boa notícia é que é sexta-feira! Acordei até um pouco mais empolgada, achando que o meu dia seria fácil. Quanta inocência! Fui até o meu guarda-roupa e separei uma roupa para ir para a faculdade. Eu geralmente uso uma roupa branca, pois vou para o hospital depois. Separei a roupa branca do dia: calça jeans branca e camisa branca que eu demorei algum tempo para escolher. Fui até o banheiro com a roupa que havia separado e a pendurei em um dos cabides que eu deixava lá para que a roupa não amassasse. Comecei a escovar os dentes, mas um barulho no andar de baixo chamou a minha atenção. De repente, eu me lembrei que havia um intruso na minha casa. Adiei o meu banho por alguns minutos para descer até lá e ver o que estava aprontando. Desci as escadas e não o encontrei na sala. Ouvi um novo barulho vindo da cozinha e não hesitei em ir até lá.

- O que é isso? – Eu arqueei uma das sobrancelhas ao vê-lo em frente ao fogão com uma frigideira nas mãos.
- Panquecas. – respondeu sem me dar muita atenção.
- Desde quando você sabe fazer panquecas? – Eu cruzei os braços, desconfiada.
- Desde sempre. – afirmou, me olhando pela primeira vez. – Acho que não me conhecia tão bem quanto pensava, né? – Ele arqueou ambas as sobrancelhas.
- Ok, qual é a brincadeira? – Eu continuei desconfiada.
- Não é porque você é uma péssima cozinheira que eu também tenho que ser. – tirou a segunda panqueca do fogo e a colocou em um prato.
- Você adora jogar isso na minha cara, não é? Muda o disco. – Eu suspirei longamente.
- Pode comer se quiser. – desligou o fogo e virou-se em minha direção. – Eu fiz pra você. – Ele olhou para um dos pratos que estava com a panqueca.
- Pra mim? – Eu apontei pra mim mesma, me aproximando da bancada onde o prato estava. – O que você colocou aqui? Veneno? – Eu encarei a panqueca com desconfiança.
- Eu não sou tão previsível, . – não se ofendeu com a acusação.
- Laxante! Aposto que colocou laxante aqui! – Eu afirmei, feliz por ter ‘matado a charada’.
- Olha, eu até gostei da ideia. Vou usar na próxima vez. – afirmou calmamente.
- Qual é, Jonas! Você não me engana. – Eu sorri pra ele.
- Olhe pra você! Está com tanto medo do que eu vou fazer, que está duvidando até da minha panqueca. – também sorriu ao negar com a cabeça.
- Medo? De você? Se enxerga, garoto. – Eu rolei os olhos.
- Tanto faz. – ergueu os ombros. – Enquanto você faz uma inspeção detalhada na panqueca, eu vou me arrumar pra te levar na faculdade. – Ele saiu da cozinha como se realmente não tivesse se importando. Eu estava completamente desconfiada.

Depois de encarar a panqueca por um bom tempo, resolvi não comê-la. nunca fez panqueca na vida! Se ele fez hoje, certamente está armando alguma coisa. Aposto que ele acha que eu vou comer essa panqueca, mas ele está muito enganado. Olhei para o lado e vi um pacote de bolacha fechado que eu havia comprado naquela semana. Resolvi comer só algumas, já que estava um pouco atrasada. Levei uma bolacha nas mãos para comer no caminho até o banheiro. Eu precisava tomar banho! Entrei novamente no banheiro e fui direto para o chuveiro. Amarrei o meu cabelo, pois eu não pretendia lavá-lo naquela manhã. Tomei um rápido banho e abandonei o chuveiro. Cheguei a me enxugar e quando fui pegar a minha roupa (que eu havia deixado no cabide do banheiro) eu tive uma surpresa: o cabide estava vazio.

- Desgraçado... – Eu sempre fechava os olhos quando queria me acalmar, mas dessa vez não adiantou. – !!!! – Eu gritei furiosamente de dentro do banheiro. Sentado no sofá da sala, sorriu como nunca ao ouvir aquele sonoro grito. – Eu vou matar esse idiota! – Eu esbravejei, enquanto me enrolava na minha toalha e abria violentamente a porta. Cheguei no corredor e fui direto até o quarto onde ele havia dormido. Quase arrebentei a porta ao abri-la. Ele não estava lá. – VOCÊ ESTÁ FERRADO, JONAS! – Eu o ameacei, enquanto descia as escadas. – Oh, ai está você! – Eu ironizei, vendo ele sentado confortavelmente no sofá.
- Não me diga que vai vestida assim pra faculdade? – cruzou os braços ao me olhar. – Não me leve a mal. Eu até achei sexy, mas acho que está meio fora de moda. – Ele fez careta.
- Você é que vai ficar fora de moda, quando eu... – Eu ia ameaçá-lo, mas percebi que não valia a pena. Fechei os meus olhos, passei uma das mãos pelo meu cabelo e respirei fundo. – Ok, onde estão as minhas roupas? – Eu tentei dizer de forma mais calma.
- Suas roupas? Eu tenho cara de Kim Kardashian por um acaso? – fez-se de sínico. Que vontade de voar no pescoço dele.
- Eu deixei algumas roupas no banheiro. Onde elas estão, Jonas? – Eu estava me esforçando muito para não voltar a gritar.
- Ah, essas roupas... – sorriu, como se tivesse se lembrado de alguma coisa. Revirei os olhos, pensando mentalmente no quão filho da puta ele era.
- Cadê as roupas? – Eu cruzei os meus braços para evitar que a minha mão fosse ‘por acidente’ até a cara dele.
- Eu as encontrei no banheiro e achei que elas estavam um pouco... sujas. – ficou sério ao explicar o acontecimento.
- Como assim ‘sujas’? – Eu disse pausadamente.
- Elas estavam um pouco.... – teve dificuldade para explicar. – Você sabe... sujas. – Ele repetiu.
- Onde elas estão agora!? – Eu já estava muito puta.
- Eu as coloquei para lavar. – foi objetivo.
- Você... – Eu me segurei para não continuar a falar. – Ok, talvez a máquina de lavar ainda não tenha ligado. – Eu abandonei a sala e fui apressadamente até a lavanderia, que ficava no quintal da casa. Cheguei na máquina de lavar e a abri. Ela estava vazia. – Está vazia. – Eu disse, olhando pro , que havia me acompanhado até lá.
- A máquina de lavar pode ser boa pra muitas coisas, mas eu particularmente odeio lavar as roupas nela. Fica tudo meio... amassado, sabe? – fez careta ao explicar aquela palhaçada.
- CADÊ A PORRA DA ROUPA? – Eu cansei da palhaçada.
- Não sei, mas acho que você devia dar uma olhada na piscina. – ergueu os ombros e eu cerrei os olhos em sua direção.
- Não... – Eu neguei com a cabeça e deixei de olhá-lo. – Você não fez isso. – Eu disse, me aproximando da piscina.
- Oh, eu fiz, querida! – sorriu, me vendo de costas. Olhei para a piscina e vi as minhas roupas boiando. Eu não conseguia acreditar que ele realmente havia feito isso.
- VAI-PEGAR! – Eu disse em tom de autoridade, apontando para a piscina.
- Não vai rolar, . – colocou as mãos no bolso de sua calça, demonstrando que não estava se importando com o meu pedido. Sua indiferença me deixou ainda mais possessa e me fez andar em sua direção.
- PEGA LOGO AS MINHAS ROUPAS. – Eu fui até ele e o enfrentei.
- O que foi? Não é você que gosta de jogar as coisas na piscina? – abriu os braços. – Achei que você não fosse se importar. – Ele deu um enorme sorriso pra mim. Eu quis quebrar todos aqueles dentes.
- Agora eu entendi. – Eu neguei com a cabeça, olhando fixamente pra ele. – Como você é patético, não é? Nem original você consegue ser! – Eu achei que tivesse ofendendo ele.
- Pelo jeito, nem precisou. Olhe pra você! – riu sem emitir som. – Está no quintal da sua casa enrolada em uma toalha de banho, gritando igual uma maluca. O que pode ser melhor que isso? – Ele disse com superioridade.
- Eu vou te mostrar! – Eu disse em tom de ameaça. – Me aguarde, Jonas. – Eu finalizei e sai da frente dele, voltando para dentro da casa. Subi as escadas furiosamente e voltei para o meu quarto. estava tendo crises de risos no quintal.
- É só o começo, . – disse entre risos.
- Idiota! – Eu esbravejei ao bater com força a porta do meu quarto. Levei minhas mãos até o meu rosto para tentar me acalmar, mas parecia impossível. Olhei em volta e pensei o que eu deveria fazer. A primeira coisa a ser feita era ligar para a Meg.
- ? – Meg estranhou a minha ligação logo cedo.
- Meg, me diz que você pode vir me buscar. – Eu pedi, enquanto encarava o meu guarda-roupa a procura de outra roupa.
- O que foi que aconteceu? – Meg notou que a minha voz estava alterada.
- Eu preciso sair de perto desse babaca antes que eu cometa uma loucura. – Só ao falar eu já voltei a surtar.
- Você está de brincadeira, né? – Meg riu sozinha.
- Não! Eu estou falando sério! Estou falando muito sério! – Eu disse com um tom ameaçador.
- Droga! Porque me contou isso? Agora eu sou sua cumplice! – Meg fingiu estar irritada.
- É melhor vir me buscar ou vou te levar pra prisão comigo. – Eu disse, enquanto colocava a calça com dificuldade. Não daria nem tempo mais de tomar banho, pois eu já estava atrasada demais.
- Está bem. Eu vou sair de casa daqui uns... – Meg olhou no relógio. – Daqui 10 minutos e passo ai na sua casa. – Ela afirmou.
- Valeu, Meg! Até daqui a pouco. – Eu agradeci e logo desliguei, porque eu precisava terminar de me trocar.

Por ser sexta-feira as minhas opções de roupas eram escassas. Eu não tinha tantas opções de roupas brancas, mas eu tenho o suficiente para usar durante a semana sem precisar repetir nenhuma. Bem, aquela sexta-feira seria uma exceção. Eu vou ter que vestir a mesma calça que usei no dia anterior e vou usar uma regata rosa, que eu vou poder esconder facilmente com o meu jaleco assim que chegar no hospital. Penteei o cabelo e coloquei alguns acessórios e joias. Passei um pouco de perfume e vesti os sapatos. Foi quando ouvi a buzina do carro de Meg.

- Graças a Deus. – Eu agradeci ao olhar para o alto. Meg ia me salvar! Peguei a minha bolsa e sai do quarto. Desci as escadas apressadamente, pois não queria correr o risco de ver o e adivinha só? Lá estava ele.
- Ei! – tentou chamar a minha atenção.
- Vai se ferrar. – Eu respondi sem nem olhá-lo. Parei na mesinha para pegar a chave da casa.
- Não vai comer a panqueca? – quis dar a última sacaneada.
- Porque não joga a sua panqueca na piscina também? – Eu respondi em um tom alto para que ele pudesse ouvir, enquanto eu saia pela porta da frente.

Eu confesso que achei que a nossa convivência não seria tão ruim. Eu tinha esperança de que tivesse crescido e que não usasse os mesmos truques baixos de sempre. Eu tinha esperanças que ele não fosse mais o mesmo do ensino médio, mas ele era. Honestamente, não sei dizer se isso é uma coisa boa ou ruim.

Ao contar resumidamente o ocorrido para Meg, a única reação dela foi rir. Meg não era a pessoa ideal para dar conselhos. Ela está sempre brincando e rindo de tudo e de todos. Os conselhos são o forte da , mas infelizmente ela não pode saber de tudo o que está acontecendo. Falando na , ela me ligou naquela manhã. Foi difícil fingir que estava tudo ótimo e que eu não tenho um ex-namorado babaca morando na minha casa. também ligou pra Meg no caminho para a faculdade e aproveitou para falar comigo. Ele estava junto com na faculdade, que também aproveitou para entrar na conversa. Tivemos uma conversa coletiva pelo telefone e foi bem engraçado. Finalmente algo bom no meu dia, né?

Falar com os meus amigos e com o meu irmão nunca era uma coisa fácil pra mim. Quer dizer, na hora em que estou falando com eles eu fico extremamente empolgada e feliz, mas depois de desligar o telefonema sempre fica um sentimento ruim, que muitos costumam chamar de saudade. Eu estava há meses sem vê-los e não entendo como podemos ficar tanto tempo longe. Tudo bem! Nós nos falamos pelo telefone sempre e nos vemos pelo Skype quando dá tempo, mas não é a mesma coisa que nos encontrarmos pessoalmente. Eu entendo que agora é diferente de antes em que morávamos na mesma cidade e estudávamos na mesma escola. Nós tínhamos os mesmos horários e as mesmas tarefas e provas. Agora, estamos em cidades diferentes e em mundos diferentes. Cada um trabalha em um horário, o outro estuda até mais tarde e tem provas em uma época diferente da minha. Antes era tão mais fácil, mas um dia desses vamos conseguir nos encontrar.

As aulas daquele dia exigiram tanto de mim, que quando sai da sala estava até com um pouco de dor de cabeça. Não eram as minhas matérias favoritas, mas eu tinha que aprendê-las. Meg estava tão cansada quanto eu, já que fizemos o trabalho em dupla. Sair da sala foi como poder respirar de novo. A aula exigente também nos deu muita fome, por isso, resolvemos comer alguma coisa em uma das lanchonetes que tinha dentro da faculdade. Esse seria o nosso almoço. Pedimos alguns lanches naturais e alguns copos de suco.

- O seu irmão parece ser legal. – Meg sorriu, enquanto comentávamos sobre os telefonemas daquela manhã.
- Ele é incrível! Ele é a mistura perfeita do cara mais cafajeste e mais incrível do mundo. – Eu segurei o riso ao falar do meu irmão.
- Isso é possível? – Meg fez careta, confusa com a minha comparação.
- Eu juro! É difícil de explicar e você com certeza não vai acreditar em mim, mas quando você conhecer ele vai saber que é verdade. – Eu disse, depois de uma risada silenciosa.
- E quem mais faz parte dessa ‘gangue’? – Meg quis saber.
- Tem.. o . – Eu senti o meu coração apertar só em falar no nome dele. Que saudades!
- Ele é o namorado da sua melhor amiga, não é? – Meg fez careta. Não sabia se estava deduzindo corretamente.
- Sim, ele é o namorado da . Ele também é o meu melhor amigo. – Eu fiz questão de ressaltar. – Ele é... a melhor pessoa do mundo. – Eu sorri igual a uma boba.
- Ok, pelo que eu entendi... – Meg fez cara de pensativa. – O é o inteligente do grupo, é canalha, é o adorável e o o babaca, certo? – Ela aguardou a minha confirmação.
- Mais ou menos. – Eu fiz careta. – é com certeza o inteligente e o com certeza é o babaca, mas o e o ? Hm.. – Eu não sabia muito bem como descrevê-los. – é o safado da turma, sabe? O garoto parece que nasceu na puberdade. – Eu expliquei e Meg gargalhou. – é o engraçado e também o atrapalhado. Ele faz tudo errado, mas com as intenções certas. Ele é quem sempre solta as pérolas no meio das conversas sérias, entende? – Eu disse, segurando a risada.
- Entendi. – Meg também estava rindo. – E as garotas? – Ela continuava curiosa.
- Nós também éramos 4, mas a ... – Eu ergui os ombros. – Ela foi embora. – Eu não quis dar detalhes.
- É a ex do , né? – Meg parece já ter escutado falar nela.
- Sim, a própria. – Eu afirmei. – Tem a , que é a minha melhor amiga. Ela é um pouco parecida comigo, sabe? Os meninos falam que ela é uma versão mais sensível de mim. Ela se machuca muito mais facilmente do que eu e ela demonstra a dor dela. Ela chora se tiver que chorar e xinga também se for preciso. – Eu expliquei com um enorme sorriso no rosto. – E tem a ! Ela namora o meu irmão agora, mas nós nos tornamos amigas há muito tempo atrás. Ela é a mais vadosa do grupo. Sem dúvidas! Ela é louca por roupas, maquiagens e cabelos! Ela conhece tudo sobre isso. Ela é mais descontraída também. É muito difícil não ver um sorriso no rosto dela. A está sempre de bem com a vida e ela faz questão de deixar todos a sua volta bem também. Ela é boa nisso. – Eu expliquei.
- Uau, os seus amigos são incríveis. – Meg admirava a forma com que eu falava de todos eles.
- Sim, eles são. – Eu afirmei com um fraco sorriso. – Mas agora eu acho que o nosso grupo ganhou uma nova integrante. – O meu sorriso aumentou.
- Acha que eles vão gostar de mim? – Meg fez careta.
- Eu tenho certeza que vão! – Eu afirmei com convicção.
- Espero que sim. – Meg sorriu, sem jeito. – O que é esse barulho? – Ela fez careta ao ouvir novamente um barulho estranho.
- É o meu celular. – Eu disse, olhando no visor do celular e o colocando sobre a mesa. – É o ... de novo! – Eu rolei os olhos.
- Não vai atender? – Meg percebeu que continuava insistindo há algum tempo.
- Não. – Eu não queria nem sequer ouvir falar do , quem dirá ouvir a voz dele. – Nós podemos ir ou você vai comer mais alguma coisa? – Eu voltei a guardar o celular na bolsa.
- Não. Nós podemos ir. – Meg disse, pegando a sua bolsa e levantando-se da mesa. Eu fiz o mesmo.

Como eu disse, a Meg não é de dar conselhos, mas se ela fosse me dar um naquele momento ela me diria para continuar não atendendo as ligações. Considerando o fato de que ela não gosta nem um pouco do , o conselho é um pouco óbvio. Nós duas não sabíamos o que ele queria, mas com certeza era algo insignificante. A verdade é que estava preocupado. Ele sabia que eu sairia da faculdade mais ou menos naquele horário e queria saber se eu iria com a Meg para o trabalho. Ele queria saber se eu tinha carona para ir até o trabalho, pois ir sozinha parecia perigoso demais na atual situação em que eu me encontro. Eu não sabia de sua preocupação e nem das suas boas intenções, por isso, nada que viesse dele seria algo bom. Eu não queria nada dele e ele sabia disso. sabia que eu estava rejeitando as suas ligações de propósito e isso o enfureceu. Para ele, eu não era digna de toda a sua preocupação, mas ele não tinha controle sobre isso. É maior do que ele! É maior do que o seu próprio orgulho.

Meg e eu seguimos para o hospital. Trabalhamos até com um pouco de empolgação, já que era sexta-feira! Nem consigo acreditar que amanhã vou poder dormir até mais tarde e não vou precisar me preocupar com nada. Assim espero, né?

A tarde de foi absurdamente tediosa. Ele terá uma reunião com os empresários dos Yankees no dia seguinte e será quando ele terá muito trabalho a fazer. O trabalho sempre aumenta depois de uma reunião, pois muitos planos e estratégias são mudados e muitas ideias novas surgem. É como se tivesse que refazer todo o seu trabalho após cada reunião, mas enquanto não tivesse reunião ele não teria nada pra fazer. passou a tarde toda jogando o seu videogame e assistindo TV. Toda vez que ele queria mudar de canal, ele tinha que ir até a TV, já que eu havia jogado o controle remoto na piscina.

- Acabaram os seus pacientes de hoje? – Meg perguntou, entrando em ‘minha ‘ sala. Eu havia acabado de conferir a lista e não havia mais nenhuma injeção para dar. Eba!
- Esse foi o meu último. – Eu sorri pra ela, olhando para um senhor que saia da sala.
- Legal, então vamos embora. – Meg piscou um dos olhos pra mim.
- Estou tão feliz por hoje ser sexta-feira. – Eu suspirei longamente.
- Acho que amanhã vou dormir o dia inteiro. – Meg brincou, tirando o seu jaleco e colocando-o em um dos ganchos que havia atrás da porta da minha sala. Fiz o mesmo com o meu. Pegamos nossas bolsas e saímos a sala.
- Eu também. – Eu concordei com ela aos risos, enquanto pegava o celular dentro da minha bolsa. – Nossa! Que saco... – Eu neguei com a cabeça, olhando para o visor do meu celular.
- O que foi? – Meg me olhou, curiosa.
- 20 ligações não atendidas! – Eu olhei pra ela, incrédula.
- Mas que obsessão que esse cara tem com você, né? – Meg novamente riu da situação.
- Ele é um babaca. – Eu neguei com a cabeça, enquanto saíamos do hospital. Demos poucos passos em direção ao estacionamento que ficava logo ali na frente e acabei dando de cara com o . – Ah, que droga. – Eu parei em frente a ele e Meg fez o mesmo ao meu lado.
- Vejo que viu as minhas ligações. – disse com um tremendo sarcasmo ao ver o celular em minhas mãos. Ele estava furioso por eu ter passado o dia ignorando ele.
- Está se referindo ás 20 ligações não atendidas? – Eu exaltei o número para explicar o meu nível de irritação.
- Sim! As 20 ligações não atendidas que não seriam necessárias se você tivesse atendido a primeira ligação. – me olhou, sério.
- Pra um cara que se acha o garanhão de Nova York, 20 ligações é muito, não acha? – Meg interferiu-se na briga com o seu sarcasmo insuperável.
- Sabe o que eu acho? Eu acho que você tem que cuidar da sua vida. – estava sem paciência alguma.
- Você está morando na casa dela, passa o dia ligando pra ela, está no trabalho dela e sou eu quem tenho que cuidar da minha vida? – Meg disse em tom de deboche.
- Deixa, Meg. – Eu não queria que ela perdesse o tempo dela discutindo com ele.
- É... deixa, Meg. – a olhou com desprezo.
- O que você quer, Jonas? – Eu o olhei com impaciência.
- Eu vim te buscar. – foi objetivo.
- Me buscar? – Eu segurei o riso ao repetir o que ele havia dito. – Eu não vou com você. – Eu afirmei.
- Ela vai dormir na minha casa hoje. – Meg adiantou-se, arrumando um ótimo motivo para que eu não fosse com o . Eu senti vontade de abraçá-la por ter tido aquela ideia. Era genial!
- Não, ela não vai. – jamais me deixaria dormir fora de casa, sendo que tem uma pessoa por ai me ameaçando e seguindo os meus passos.
- Ela precisa da sua autorização agora? – Meg cruzou os braços.
- Quer saber? Está bem! – negou com a cabeça e aparentou que cederia. – O que você acha, ? – Ele cruzou os braços ao me olhar daquele jeito sarcástico. – Acha que você pode ir dormir na casa da Meg? – Ele cerrou os olhos, ansioso pela minha resposta. A sua pergunta soou mais como ‘Você acha que pode dormir na casa da Meg, sabendo que tem alguém te ameaçando?’. Ele só não perguntou dessa forma, porque sabia que Meg não sabia de nada sobre as ameaças.
- Na verdade, eu acho que não tem problema ou perigo algum eu dormir na casa dela. – Eu ergui os ombros, demonstrando que isso não me preocupava.
- Resposta errada! – arqueou uma das sobrancelhas e sorriu sem mostrar os dentes. Sem mais nem menos, ele veio na minha direção e eu demorei a entender o motivo da aproximação. Ele parou em minha frente, inclinou-se um pouco para baixo e passou seus braços em torno das minhas coxas, as levantando e deixando todo o peso do meu corpo cair sobre um de seus ombros.
- EI! O QUE ESTÁ FAZENDO? – Eu abri os braços, antes de ser colocada de cabeça para baixo. Meu corpo estava pendurado em seu ombro como um saco de batatas. – ISSO NÃO TEM GRAÇA! – Eu cheguei a pensar que ele estava brincando.
- Isso é sério? – Meg gritou, vendo se afastar comigo em seu ombro. – Hey! – Ela gritou, tentando chamar a atenção de .
- Fala boa noite pra Meg. – disse, andando calmamente até o carro. Eu continuava de ponta cabeça e via Meg se afastar.
- ME SOLTA AGORA, JONAS! – Eu tentei me desvencilhar de seus braços, mas ele estava segurando firme as minhas coxas.
- Esses dois não tem jeito mesmo. – Meg sorriu e negou com a cabeça, enquanto via eu me afastar. Ela não podia fazer nada pra impedir. Na verdade, ela nem sabia se deveria impedir já que conhecia muito bem os meus sentimentos por ele.
- JONAS, SEU OGRO! – Eu comecei a espernear e a bater em suas costas.
- Não adianta me agradar, que eu não vou te soltar. – disse e eu quase consegui ver o sorriso em seu rosto. Desgraçado!
- ACHA ISSO ENGRAÇADO? – Eu continuei esperneando, mas parecia que ele nem sentia.

Eu lutei contra o até chegarmos no carro dele. Nós paramos e eu ouvi ele destravar as portas do carro. abriu a porta do passageiro e se preparou para me colocar lá. Segurou as minhas pernas e puxou o meu corpo para frente. Me segurou em seus braços e me colocou sentada no banco do passageiro como uma criança de 5 anos. Encarei o seu rosto, me segurando para não enchê-lo de socos e tapas. Ele bateu a porta e fez a volta no carro, sentando-se ao meu lado em seguida.

- Que merda você acha que está fazendo? – Eu olhei pra ele, extremamente furiosa.
- A mesma droga de sempre! Tirando você dos problemas! – disse sem nem me olhar. Colocou o cinto de segurança e ligou o carro.
- E precisava de tudo isso? – Eu me referia ao fato dele ter me pego a força. – Não sei se você se lembra, mas nós não estamos mais no ensino médio. – Eu me lembrei de quando ele fez a mesma coisa quando estávamos no ensino médio.
- Eu me lembro e você? Lembra? – virou o seu rosto para me olhar. Ele estava insinuando que eu estava agindo como uma criança.
- Você não pode me obrigar a nada! – Eu argumentei em minha defesa.
- SE É ISSO O QUE EU TENHO QUE FAZER PRA TE PROTEGER, ENTÃO QUE SE DANE! ME ODEIE POR ISSO SE VOCÊ QUISER! – gritou com extrema impaciência e grosseria.
- ME PROTEGER? ME PROTEGER DO QUE? DROGA! – Eu respondi a altura. – NÓS NEM SABEMOS O QUE ESSA PESSOA ESTÁ QUERENDO DE MIM! NÓS NEM SABEMOS SE ISSO É MESMO PRA VALER! – Eu fiz questão de gritar aquilo olhando pra ele, mesmo que ele não estivesse olhando pra mim.
- Eu prefiro não correr o risco. – respondeu em seu tom normal e não se atreveu a me olhar.
- E porque não pergunta o que eu prefiro só pra variar? – Eu respirei fundo, tentando recuperar a minha calma.
- Vai dar uma de mártir agora? Sério? – me olhou com indignação.
- Se a minha outra opção é conviver com você bancando o herói de novo, talvez não seja uma má ideia. – Eu não hesitei em responder.

A minha resposta pareceu ter deixado ele chateado, mas o termo irritado é o mais apropriado pra nós dois no momento. Mantivemos o silêncio até a minha casa. Só conseguíamos enxergar a culpa um no outro e nunca enxergávamos em nós mesmos. Eu não percebia que estava agindo como uma adolescente mimada e não percebia que estava me sufocando demais com a sua proteção.

Fiquei um bom tempo trancada no meu quarto, porque eu não queria vê-lo de jeito algum. Não sei se a minha raiva maior é por ele ou por essa pessoa que anda me fazendo ameaças e que é a responsável pela estadia do na minha casa. também resolveu ficar sozinho naquela noite. Em outras épocas, ele iria atrás de mim e arranjaria um jeito de acertarmos as coisas, mas esse não era mais o caso. Ficar sentado no sofá da sala jogando videogame parecia a melhor opção. Passei por ele, quando desci na cozinha para pegar alguma coisa pra comer, mas nós nem chegamos a olhar um pro outro. Olhar significava baixar a guarda.

Dormimos exatamente do jeito que acordamos naquela manhã: odiando um ao outro. A manhã seguinte também não foi muito diferente. A única coisa que mudou é que ele saiu bem cedo para a reunião com o Yankees e eu dormi até tarde. Confesso que fiquei curiosa quando percebi que ele não estava em casa naquela manhã, porém, eu sei que ele não me deve satisfação alguma.

Só sai do meu quarto naquela manhã para ir ao banheiro e para pegar comida na cozinha. Fiquei o resto da manhã e o inicio da tarde vendo TV, porém, não demorou muito para que tudo aquilo se transformasse em tédio. Pensei em sair e pensei até em ligar pra Meg vir passar a tarde comigo, mas ambas opções trariam problemas com o e eu realmente queria me manter o mais longe dele possível. Resolvi dar uma arrumada no meu quarto, coisa que eu já não fazia há tempos. Liguei uma música alta para não correr o risco de desistir daquela tarefa que eu odiava tanto fazer.

saiu da reunião com a cabeça cheia de ideias inovadoras para o projeto que os gerentes do Yankees tanto idealizavam. Passou rapidamente em um restaurante fast-food e almoçou um lanche qualquer que matasse a sua fome. Seguiu para a minha casa, onde ele pretendia colocar no papel todas as ideias que estavam em sua cabeça para que o projeto fosse montado e depois apresentado aos fundadores do Yankees.

Ouvi quando estacionou o seu carro em frente a minha casa. Me afastei do guarda-roupa e do montante de roupas que eu havia separado para dar para a doação e corri até a janela para confirmar se era ele quem havia chegado. Ele estava vestindo roupas sociais, o que quer dizer que ele só pode ter vindo de uma reunião de trabalho. A música dentro do meu quarto estava tão alta, que eu nem sequer ouvi a porta bater no andar debaixo.

- Mas que merda é essa? – fez careta ao entrar na casa. Ele se referia à música alta que ecoava pela casa toda.

A música não me deixou pensar no fato de que ele estava no andar de baixo. Eu estava feliz porque finalmente estava arrumando o meu quarto e a música não me deixava desanimar um só segundo. O CD que continha somente as minhas músicas favoritas estava tocando há algum tempo. Eu já dancei pelo quarto, já fiz imitações idiotas em frente ao espelho, enquanto experimentava algumas roupas para ter certeza de que elas ainda serviam em mim. Eu estava completamente distraída com o que eu estava fazendo e até me esqueci do problema que eu tinha no andar de baixo.

Sentado na mesa de jantar, encarava o papel há mais de 10 minutos. Ele ainda vestia a sua roupa social, mas alguns botões da sua camisa já haviam sido desabotoados. continuava insistindo, mas as ideias simplesmente não saiam no papel. Suas ideias se misturavam com as letras das músicas que tanto o irritavam e ele continuava se segurando para não voltar a arrumar confusão comigo. Continuou ali por mais 20 minutos. Foi quando começou a tocar ‘You Oughta Know’ da Alanis Morissette. A mesma música que eu havia cantado pra ele com tanto ódio há alguns dias atrás. tinha certeza que se tratava de mais uma provocação minha, por isso, resolveu tentar resolver a situação. Abandonou a mesa e subiu as escadas. A música parecia ficar cada vez mais alta e a careta no rosto dele dizia tudo. Realmente não era o tipo de música que ele curtia. Seguiu pelo corredor e chegou na porta do meu quarto.

- Ei, ! – Apesar da música, eu consegui ouvi-lo do outro lado da porta. Me aproximei da porta para poder ouvi-lo melhor. – ! – Ele bateu com força na porta achando que eu não tivesse escutado da primeira vez.
- O que você quer? – Eu respondi sem abrir a porta.
- Dá pra abaixar essa droga de música!? – estava tão impaciente, que nem se importou em ser educado. Encarei a porta e cerrei os olhos como se estivesse olhando pra ele. Toda a minha distração havia ido por água abaixo. Eu já não tinha nem liberdade dentro da minha própria casa.
- É claro! – Minha resposta o surpreendeu. achou que eu resistiria um pouco mais a seu pedido nada educado. Ele ficou tão surpreso, que não hesitou em acreditar na minha palavra e afastar-se do meu quarto.

Até parece que o não me conhece, né? Ficar me mandando fazer as coisas aos berros não é algo que eu geralmente aceito. Tem horas que ele subestima o meu poder de provocação e o meu prazer em me vingar das babaquices que ele faz. Se ele tivesse pedido com educação e com jeito, eu até abaixaria um pouco a guarda. Já que ele não fez isso, me deixe aproveitar desse ótimo motivo para irritá-lo mais uma vez. Fui até o aparelho de som e aumentei o volume da música ao máximo. O chão até tremia. Entre risos, voltei para a arrumação do meu quarto.

estava no último degrau da escada, quando aquela música absurdamente alta entrou pelos seus ouvidos e fazia tremer o chão em que ele pisava. Ele parou no final da escada, cerrou os olhos e negou com a cabeça. Não deu nem tempo de ele pensar! Virou-se novamente de frente para escada e começou a subir os degraus com uma certa violência. Se a música não tivesse tão alta, eu certamente teria escutado os seus barulhentos passos no corredor. Chegou na frente do meu quarto e nem sequer parou na porta. já chegou esmurrando e empurrando tudo o que estivesse em sua frente. O barulhão que a porta fez quando ele a abriu me assustou e antes mesmo que eu tomasse qualquer atitude, a mão do já estava apertando um dos meus braços e ele já estava em cima de mim. Me empurrou um pouco para trás para que ele pudesse alcançar o botão que regulava o volume da música. Ele abaixou o volume por completo.

- Perdeu a noção do perigo? – disse com uma voz grossa e intimidante. O rosto dele estava bem próximo ao meu e os olhos dele me fuzilavam.
- Perigo? Você? – Eu o enfrentei ao sorrir na cara dele.
- NÃO ME PROVOCA! – apertou ainda mais o meu braço e me olhou com mais irritação.
- O que foi? Não gostou da música? – Eu arqueei uma das sobrancelhas ao encará-lo.
- Eu estou tentando trabalhar! – disse com total impaciência.
- E? – Eu ergui os ombros, demonstrando indiferença.
- Eu não consigo trabalhar com essas suas músicas... irritantes no último volume. – falou com mais impaciência ainda diante do meu pouco caso.
- Olha em volta, Jonas. – Eu deixei as brincadeiras de lado e falei mais sério do que nunca. – Olha bem onde é que você está! – Eu completei. – Esse é o meu quarto. Essa é a minha casa. Você não pode me controlar aqui dentro. VOCÊ... não manda nada aqui. Eu mando! E se eu quiser ouvir música alta, eu vou ouvir! – Eu disse de forma grosseira. – Entendeu ou não? – Observei ele me matar com o olhar.
- Pedir pra você deixar de ser egoísta uma só vez na sua vida é a mesma coisa que falar com uma criança. – negou com a cabeça.
- Eu não pedi pra você vir morar aqui. Você está aqui porque você quer! Se não está satisfeito, pega as suas coisas e vai embora. – Eu disse sem qualquer hesitação. – Se fizer isso, vai evitar muitos problemas pra nós dois. – Eu completei. – Agora, me solta. – Eu tentei me desvencilhar da sua mão.
- É isso o que você quer? – me soltou e me olhou, sério.
- É isso o que eu quero! – Eu falei sem qualquer dúvida.
- Está bem! – afirmou com a cabeça, dando alguns poucos passos para trás. Confesso que fiquei até um pouco surpresa por ter conseguido fazer ele finalmente desistir daquela ideia absurda de morar na minha casa. – Se eu ir embora é o que vai te deixar feliz... – abriu os braços e ergueu levemente os ombros. – Eu vou ficar. – Ele terminou a frase com um sorriso de deboche. Ele havia me feito de idiota mais uma vez!
- Quer saber? Dá o fora! – Eu apontei em direção a porta, me segurando para não voar no pescoço dele.
- Ah! Agora você está irritada? – riu, ao notar a minha irritação por ter sido enganada.
- DÁ O FORA! – Eu elevei o tom da minha voz.
- Não me diga que você está chateada só porque o seu plano de me convencer a ir embora dessa casa deu errado? – fez bico, debochando ainda mais de mim.
- SAI! AGORA! – Eu peguei a primeira coisa que encontrei pela frente e joguei na direção dele. Era uma almofada. – IDIOTA! – Eu dei poucos passos em sua direção e procurei uma nova coisa pra jogar em sua direção. Acabei encontrando um dos pés do meu tênis. – EU MANDEI VOCÊ SAIR! – Eu joguei o tênis em sua direção e antes que o tênis o alcançasse, correu para fora do quarto e bateu a porta. O tênis se chocou contra a porta e caiu no chão. – Meu Deus... – Eu levei as mãos ao meu rosto e depois as subi até a cabeça, entrelaçando os meus dedos em meu cabelo. Encarei a porta, me segurando para não ir atrás dele e socá-lo.



- Eu vou enlouquecer. – Eu virei de costas pra porta e olhei para o meu quarto, procurando algo que pudesse me acalmar. O um celular parecia a solução. É isso! Eu preciso desabafar com alguém. A pergunta é: com quem? Meus amigos não sabem sobre o e se o meu irmão soubesse o estaria morto. Mark não é mais uma opção, então só me resta a Meg.
- Oi, . – Meg não demorou para atender.
- Meg, me ajuda! Me diz o que eu faço pra tirar esse imbecil da minha casa. Eu acho que vou surtar de vez. – Eu me sentei na cama e fui direto ao assunto.
- Calma. – Meg segurou o riso. – O que foi que aconteceu agora? – Ela quis saber.
- Ele está sendo um idiota. – Eu suspirei longamente.
- E qual a novidade mesmo? – Meg brincou.
- A diferença é que a minha paciência está acabando e eu quero ele fora daqui agora. Eu quero pegar as coisas dele e doar pro primeiro mendigo que eu ver na rua. Quero pegar a porcaria daquele videogame dele e pisar em cima até não sobrar nada. – Eu fui desabafando de uma só vez.
- Ta bom! Calma! – Meg me interrompeu. – Sabe o que eu não entendo? Se você quer ele fora da sua casa, porque ele ainda está ai? – Ela questionou.
- Eu te disse. Ele está me ameaçando com aquela história ridícula de que vai falar para os meus pais que Nova York é perigoso e etc. – Eu não podia contar a verdade, mas não estava tão longe dela.
- Essa é a coisa mais absurda que eu já ouvi e ele é um babaca, porque sabe que você quer ele longe e fica te forçando a ter ele na sua casa. – Meg negou com a cabeça, indignada.
- É por isso que eu preciso de uma solução. Eu preciso dar um jeito de ele ir embora. – Eu voltei ao X da questão.
- Certo, ok! Vamos pensar... – Meg pediu, ficando em silêncio por poucos segundos. – O que faria ele ir embora? – Ela perguntou.
- Nada faria ele ir embora. Só se ele desrespeitasse as regras, o que ele jamais vai fazer. – Eu fiz careta.
- Regras? – Meg interessou-se.
- É! Quando ele teve essa ideia de vir morar aqui, eu estabeleci algumas regras e nós combinamos que se ele as desrespeitasse ele teria que ir embora. – Eu expliquei, sem achar que aquilo fosse importante.
- E quais foram as suas regras? – Meg quis saber, já que tinha um plano em mente.
- A primeira regra é que ele não pode trazer mulher pra cá. – Eu tive um pouco de dificuldade de me lembrar das regras.
- Claro. Concorrência dentro da própria casa não dá, né? – Meg debochou.
- Cala boca. – Eu disse, segurando o riso.
- Qual a outra regra? – Meg quis saber.
- A segunda é que ele não pode se apaixonar por mim. – Eu disse, só esperando a Meg me sacanear.
- Nossa, que clichê! – Meg rolou os olhos. – Apostou que inventou essa regra porque você morre de medo de não resistir, né? – Ela voltou a rir.
- Você vai me ajudar ou não? – Eu dei uma bronca nela.
- Eu vou! Tem mais alguma regra? – Meg se recompôs.
- Tem só mais uma. A minha favorita pra falar a verdade. – Eu ri sem emitir som.
- Tenho até medo dela. – Meg ficou um pouco ansiosa. – Aposto que é: sem sexo na piscina. – Ela deduziu.
- O que? Não! Eu tenho vizinhos, sabia? – Eu fiz careta.
- Verdade. Nós não queremos que o Mark corte os pulsos de vez. – Meg disse, pensando na minha última regra. – Espera! Eu já sei! Sem sexo na maquina de lavar. – Ela afirmou com tanta certeza que me surpreendeu.
- Espera! Você disse ‘maquina de lavar’ mesmo? – Eu demorei algum tempo para assimilar.
- O que? Você nunca fez na máquina de lavar? – Meg parecia chocada. Porque ela estava chocada?
- Alguém faz na máquina de lavar? – Eu arregalei os olhos.
- Não é dentro da máquina de lavar, né! É em cima. – Meg me corrigiu. – Olha, não vou dar detalhes, mas eu garanto que a tremedeira continua depois de algumas horas. – Meg ria, enquanto contava.
- Me lembre de nunca usar o liquidificador da sua casa, por favor. – Eu disse e Meg riu ainda mais.
- Fala logo! Qual a outra regra? – Meg questionou novamente.
- Sem sexo. – Eu fui simples e objetiva.
- Só isso? – Meg esperou que houvesse alguma coisa a mais.
- Só isso. – Eu ergui os ombros.
- Sem sexo? Sem... nada? Nem na cama, nem no sofá ou no carro? Sem sexo? – Meg não está acreditando.
- Sem nada! – Eu reafirmei, sem entender porque ela está tão chocada.
- Está me dizendo que tem um cara gostoso morando na sua casa, que por acaso é o seu ex-namorado e você decretou greve de sexo? – Meg repetiu, achando que pudesse ter entendido errado.
- É isso ai! – Eu voltei a confirmar.
- , você tem problemas. – Meg disse, séria.
- O que? – Eu gargalhei do que ela havia dito.
- Você tem problemas. – Meg reafirmou. – Achei que as regras fossem pra prejudicar ele e não... você! – Ela estava continuava pasma.
- Meg, eu não quero ele na minha vida. Você ainda não entendeu? Eu não quero sexo. Eu não quero amor. Eu não quero nada. Eu quero ele fora... agora. – Eu argumentei a meu favor.
- Ok! Vamos ignora essa sua atitude estúpida e vamos pensar em alguma coisa. – Meg resolveu focar no problema principal.
- É complicado, porque mesmo que ele queira... ele nunca vai fazer essas três coisas só para não dar o braço a torcer e ir embora. – Eu expliquei a ela.
- Então, convença ele a fazer. – Meg sugeriu de imediato.
- O que? – Eu não entendi o que ela queria dizer.
- Você disse que ele nunca vai fazer essas três coisas pra não ter que ir embora da sua casa. Então, faça ele fazer! – Meg reafirmou.
- Ok, deixa eu ver se eu entendi. Você está sugerindo que eu traga prostitutas para a minha casa, que eu amordace ele e o faça fazer sexo comigo e reze para que no final do dia ele esteja apaixonado por mim? – Eu disse, achando um absurdo. – Claro! Porque não? Adoro bancar o Christian Grey. – Eu ironizei.
- Olha, até onde eu sei... você fez ele comer na sua mão só dançando sensualmente em um palco, enquanto cantava Alanis Morissette. Aposto que consegue fazê-lo comer de novo na sua mão. – Meg sugeriu.
- Está sugerindo que eu provoque ele, faça ele me agarrar, durma com ele só pra fazer ele quebrar a regra? – Eu disse com um sorriso maquiavélico no canto do rosto.
- Esquece. Você jamais vai fazer isso. – Meg rolou os olhos.
- Não. Eu gostei da ideia. – Eu disse, pensando em como eu poderia fazer isso.
- Não acredito! – Meg se surpreendeu. – Está louca pra tirar uma casquinha também, né? – Ela riu.
- Se for mesmo pra fazer ele ir embora, vale a pena. – Eu não achei uma má ideia. Poderia funcionar.
- Não acredito que concordou com isso. Eu quero te abraçar. – Meg brincou.
- Acho que todo mundo tem um dia de Amber, né? – Eu disse e Meg gargalhou como nunca.
- É por isso que você é a minha amiga, . Você é foda! – Meg continuou rindo.
- Já sei até o que eu vou fazer. – Eu já tinha um plano.
- Máquina de lavar? – Meg voltou a brincar.
- Sem máquina de lavar, Meg. – Eu neguei com a cabeça.
- Acho que você nem vai precisar fazer muita coisa. Do jeito que ele é fraco e é louco por você... é só você estalar os dedos e já era. – Meg aconselhou. – Quando você vai fazer isso? – Ela quis saber.
- Agora. – Eu respondi, empolgada para fazer aquilo.
- Agora? – Meg voltou a se surpreender.
- Aposto que ele está lá embaixo jogando videogame. – Eu disse com certeza.
- E você vai conseguir fazê-lo quebrar as outras duas regras depois? – Meg questionou.
- Eu dou um jeito de conseguir. – Eu sorri ao ter dezenas de ideias. Como eu não pensei nisso antes?
- Está bem. Vou desligar para que você coloque o seu plano em prática. – Meg mostrou-se empolgada.
- Amanhã eu te conto se deu certo. – Eu disse, começando a me despedir. – Obrigada, Meg! – Eu estava até me esquecendo de agradecê-la.
- Estou orgulhosa de você, garota. – Meg afirmou e eu ri. – Aproveita pra tirar o atraso. – Ela completou.
- Cala a boca, Meg. – Eu continuei rindo. – Beijos. – Eu disse antes de desligar.
- Beijos. – Meg respondeu e desligou o telefonema.

Agora tudo fazia sentido pra mim. É claro! Se o quebrar as minhas regras, ele terá que ir embora. Então, é só fazer ele quebrar as regras! A minha empolgação para colocar o plano em prática até fez todo o meu ódio ir embora. Olhei em volta, enquanto pensava exatamente como eu faria aquilo funcionar sem que ele desconfiasse das minhas reais intenções.

Lembra quando eu disse que o desperta coisas inimagináveis em mim? Olhe só para o que eu estou prestes a fazer! Fui até o banheiro para tomar um rápido banho. Ao sair, vesti a minha lingerie preta. Eu sabia que era a favorita dele. Por cima, joguei um hobby preto e transparente que vinha até o meio das minhas coxas. Fui até o espelho e neguei com a cabeça, sem acreditar que estava mesmo fazendo aquilo. Ajeitei o meu cabelo, deixando-o solto. Passei perfume até dizer chega, mas tive que deixar a maquiagem de lado. Tinha que ser tudo meio natural. Eu não posso me maquiar pra uma coisa que deve ser casual. Mesmo assim, passei um pouco de blush e um batom tão claro que nem sequer parecia que eu havia passado ele. Não dava para usar salto também, mas chinelo me pareceu meio brochante. Resolvi ficar descalço mesmo. Voltei a encarar o espelho, tentando me soltar um pouco mais. Esse é o típico momento em que não dá pra ficar tímida.

Abandonei o meu quarto e fui andando lentamente até o quarto de . Depois de ouvi-lo no andar de baixo, entrei em seu quarto com mais tranquilidade. Me aproximei do criado-mudo que ficava ao lado de sua cama e abri lentamente a gaveta. Homens são tão previsíveis! Guardar preservativo no criado-mudo? Muito criativo. Escondi o preservativo em qualquer lugar da minha roupa e sai apressadamente de seu quarto. Já no corredor, consegui ver a escada logo a frente. Respirei fundo e me concentrei para o que eu ia fazer. Desamarrei o simples laço que havia feito em meu hobby e o deixei propositalmente aberto. Me esforcei para tirar aquele sorriso no canto do meu rosto e fui em frente.

estava fazendo a mesma coisa que as outras noites: jogando videogame. O sofá e a TV ficavam ao lado da escada, mas TV ficava de costas pra escada e o sofá ficava de frente. terminava de passar outra fase de um de seus jogos de ação, quando notou que alguém descia as escadas. A princípio, seus olhos nem me deram muita atenção. Ele nem sequer me olhou, pois o jogo estava extremamente tenso naquele momento. Quando ele finalmente me olhou, foi daquele jeito rasteiro e bem rápido. Os olhos dele pareciam nem acreditar no que haviam acabado de ver e voltaram a me olhar para conferir. Eu não olhava pra ele um só segundo, mas eu sentia os olhares dele sobre mim. paralisou por um bom tempo. Ele só movia o seu rosto para não me perder de vista. Ele nem piscava e os lábios se entreabriram sem que ele percebesse. Desci o último degrau e me dirigi em direção a cozinha, que ficava do lado oposto de onde o estava. Ele aproveitou que eu estava de costas e inclinou-se para dar uma rápida checada no meu quadril.

- Ele já era. – Eu sussurrei, enquanto pegava apressadamente o preservativo que eu havia escondido e o guardei em uma das gavetas do bancada, que havia no centro da cozinha. Engraçado como só o olhar dele já me incendiava.
- Mas.. que droga é essa? – suspirou, sem conseguir parar de olhar para a entrada da cozinha. Perguntou-se o que é que eu estava fazendo, esperando que eu saísse de lá a qualquer momento para que ele pudesse me ver daquele jeito de novo. – Ok, relaxa! – Ele respirou fundo, colocando o controle do videogame sobre a mesa de centro. – Eu... posso me controlar. – mexeu os ombros, tentando tirar a tensão sobre eles. – Não, eu não posso. – Ele desistiu, imediatamente. Encarou a TV em sua frente, esperando que ela o incentivasse a ir até lá.

O videogame havia se tornado a segunda opção. Na verdade, nem se lembrava de jogo algum naquele momento. Ele olhava de segundo em segundo em direção a cozinha, implorando para que eu saísse de lá. Eu não sairia. Não enquanto ele não fosse até lá. O meu plano todo dependia disso. Aguardei algum tempo na cozinha. Eu nem sequer acendi a luz, mas a cozinha não estava tão escura por causa dos postes de luz que havia no quintal e que chegavam a iluminar um pouco a cozinha.

- Eu não vou lá. – negou com a cabeça, voltando a encarar a TV. Chegou a pegar o controle do videogame nas mãos, disposto a voltar a jogar. – Dane-se. – Ele jogou o controle novamente sobre a mesa e se levantou, indo em direção a cozinha. Eu consegui ouvir ele se aproximar e corri até a fruteira para pegar uma maçã. entrou na cozinha e se deparou comigo. Eu estava apoiada na bancada, enquanto dava uma mordida na maça. Ele esforçou-se para olhar somente para o meu rosto. – Você é sonambula agora? – perguntou, engolindo seco.
- Não. Só estou com fome mesmo. – Eu respondi, olhando pra ele com toda a tranquilidade. A tensão estava estampada no rosto dele e a esse ponto eu já tinha certeza que o meu plano daria certo.
- Porque você está vestida assim? – não deixava de olhar o meu rosto por nada. Ele não tinha coragem de voltar a olhar para o meu corpo.
- Assim como? – Eu abri os braços e olhei para baixo, procurando alguma coisa errada com a minha roupa. – Qual o problema? – Eu desencostei da bancada e dei um rápido giro para que ele tivesse a chance de ver tudo. Os olhos dele foram obrigados a observar o meu corpo e a sua reação instantânea foi virar de costas.
- Meu Deus... – suspirou, sentindo um calor absurdo. Eu novamente tive que controlar o riso.
- O que está acontecendo? – Eu me aproximei dele e toquei a suas costas. Ele deu um pulo, esquivando-se.
- Não.. toca... – negou com a cabeça, voltando a me olhar.
- O que foi? Está com medo de mim agora? – Eu abri os braços, fingindo que não estava entendendo o que estava acontecendo.
- Você precisa mesmo usar essa roupa? – perguntou, irritado.
- Mas que obsessão com a minha roupa! – Eu neguei com a cabeça, dando mais uma mordida na maçã em minhas mãos.
- É que você nunca se veste assim na minha frente. – justificou incomodo com a minha roupa.
- , não sei se você lembra, mas você já me viu usando muito menos do que isso. – Eu disse, jogando a maçã em sua direção. Ele a pegou.
- Obrigado por lembrar disso AGORA. – forçou um sorriso e eu fingi que não entendi a ironia.
- Eu não sabia que você ia se importar com a minha roupa. Eu posso... – Eu não consegui terminar a minha frase, pois ele me interrompeu.
- Não. Não, tudo bem. Está bom assim. Está... muito bom mesmo. – negou com as mãos, olhando discretamente para o meu corpo.
- Você... não quer comer? – Eu perguntei, mantendo um sorriso no canto do rosto.
- Como é? – arqueou as sobrancelhas.
- Eu quis dizer... comida. Você não está com fome? – Eu dei uma discreta risada e ele ficou imediatamente sem graça.
- Eu sabia.. disso. – riu de si mesmo. – Eu não quero. Pelo menos, não por enquanto. – Ele completou.
- Será que tem alguma coisa aqui na geladeira? – Eu me afastei dele, indo até a geladeira. novamente aproveitou a oportunidade e a cara de pau para olhar no meu quadril. – Tinha uma calda de chocolate aqui em algum lugar... – Eu disse, me abaixando propositalmente em frente a geladeira. estava atrás de mim e foi obrigado a ver o meu quadril empinado bem na sua frente.
- Deus... me ajuda. – sussurrou, olhando para o teto. Ele estava surtando com aquele meu comportamento e com aquela minha ‘quase roupa’.
- O que você disse? – Eu me virei para olhá-lo.
- Eu perguntei... se você precisa de ajuda... pra... procurar o chocolate. – engoliu seco.
- Eu já achei. – Eu fechei a porta da geladeira, enquanto segurava um pequeno pote com a outra mão. Eu o coloquei sobre a pia e o abri. – Você quer um pouco? – Eu perguntei, passando o meu dedo pela calda de chocolate e levando-o até a minha boca, enquanto eu olhava pro .
- Não, eu não... – disse em meio a um suspiro e antes que ele terminasse a frase, uma gota de calda de chocolate escorreu do meu dedo e acabou pingando próximo ao meu pescoço e foi descendo em direção aos meus seios. Juro que foi sem querer, mas veio a calhar.
- Ops. – Eu disse, abaixando o meu rosto para ver onde havia sujado. viu o ocorrido e fechou os olhos, passando uma das mãos pelo seu rosto e depois pelo seu cabelo. Ele estava ficando maluco. Passei o dedo e limpei onde eu havia sujado.
- Você está bem? – Eu segurei o riso, vendo ele se torturar.
- Porque está fazendo isso? – voltou a me olhar, parecendo um pouco mais impaciente.
- Fazendo o que? – Eu abri os braços, me fazendo de inocente.
- Seja o que for que você esteja armando, para agora com isso. – ordenou todo sério.
- Eu não estou fazendo absolutamente nada. – Eu ergui os ombros. – Você é que está fazendo. – Eu apontei pra ele, encostando o meu dedo indicador no centro do seu peitoral. – Não sei se você percebeu, mas eu só desci pra comer alguma coisa. Eu não te chamei, você veio até aqui. – Eu deslizei o meu dedo pelo seu corpo e o parei próximo de sua cintura. Agarrei a sua camiseta e comecei a puxá-lo na minha direção, enquanto eu dava alguns passos pra trás. – Se você veio, aposto que você tinha algo em mente. – não sabia se olhava para os meus lábios, para os meus peitos ou para os meus olhos. Grande dilema. – E eu adoraria saber o que é. – Eu disse um pouco mais baixo, depois que senti as minhas costas tocarem em uma das laterais da bancada.
- Você não ia gostar. – sorriu ao negar com a cabeça. As mãos dele estavam apoiadas na bancada atrás de mim e eu estava entre os seus braços.
- É tão ruim assim? – Eu perguntei, encarando o seu rosto de bem perto. Eu mordi o meu lábio inferior em meio a um sorriso provocante, que fez com que olhasse novamente para os meus lábios. A situação também estava complicada pra mim. Eu já nem me lembrava o real motivo de estar ali.
- Primeiro eu pegaria aquela calda de chocolate. – disse, apontando a cabeça em direção ao pote de calda de chocolate.
- É mesmo? – Eu dei um sorriso maior, já sabendo do que se tratava.
- Depois eu a passaria por cada centímetro do seu corpo. – Enquanto ele dizia, uma de suas mãos deslizava pelo meu corpo sob a vigilância cautelosa de seus olhos.
- Interessante. – Eu estava tentando não me deixar seduzir por aquela mão, que explorava cada parte do meu corpo e que começava a fazer com que a minha respiração ficasse mais acelerada. – E depois? – Eu perguntei e ele voltou a me olhar.
- Depois eu.... – levou suas mãos até as pontas do meu hobby e começou a empurrá-lo lentamente para trás. – Eu limparia toda a sujeira. – Ele se aproximou ainda mais, trazendo o seu rosto ao encontro do meu pescoço. Seus lábios tocaram na minha pele e eu me arrepiei da cabeça aos pés. Meus olhos se fecharam, quando ele começou a depositar beijos mais calorosos em uma das laterais do meu pescoço. As mãos dele soltaram o hobby e ele foi direto pro chão. Os beijos começaram a subir, vindo em direção ao meu queixo. Posicionou novamente o seu rosto em frente ao meu. Eu demorei alguns segundos para conseguir abrir os meus olhos. – Com a minha língua. – sussurrou tão perto de meu rosto, que eu senti os lábios dele tocarem os meus, enquanto ele falava. As mãos dele subiram até o meu rosto, entrelaçando-se em meu cabelo e afastando alguns fios do meu rosto. Foi então que ele finalmente me beijou.

Depois do beijo, não teve mais jeito. A intensidade do beijo só aumentava a cada segundo que passava e estávamos cada vez ensandecidos. Minha primeira atitude foi tirar a camiseta dele o mais rápido que eu consegui. Quando tivemos que interromper o beijo para que a camiseta dele passasse pelo seu pescoço, aproveitou a deixa para levar suas mãos até as minhas coxas e segurá-las para me colocar sobre a bancada que estava logo atrás de mim. O beijo voltou logo em seguida e parecia mais intenso do que antes. As mãos dele subiam em desciam as minhas coxas e eu usei as minhas para desabotoar rapidamente os botões de sua calça. O beijo continuou, enquanto eu me livrava da calça dele. Eu não conseguia parar de beijá-lo.

estava mais do que excitado e a pressa que eu tinha parecia ser a mesma que a dele. Os lábios dele abandonaram os meus e desceram pelo meu pescoço, enquanto uma de suas mãos entrelaçava seus dedos em meu cabelo. A outra mão dele explorava outras partes do meu corpo. Minhas mãos revezavam a entre a sua nuca e as suas costas. A respiração dele ficava cada vez mais acelerada, mas não se comparava a minha. A pressa me fez interromper todos aqueles beijos intensos que ele dava no meu pescoço. Eu comecei a deslizar o meu corpo para trás, empurrando e jogando no chão panelas e potes que estavam ali em cima. entendeu exatamente o que eu queria e não hesitou em fazê-lo. Ele subiu na bancada também e foi trazendo o seu corpo pra cima do meu. Quando teve a chance, segurou o meu rosto e voltou a me beijar. Eu me deitei na bancada, deixando que ele jogasse o seu corpo por cima do meu. Minhas unhas arranhavam as suas costas.



Comecei a empurrá-lo pra trás, enquanto eu ia me sentando. se sentou de frente pra mim e puxou uma das minhas coxas e a colocou por cima de sua perna. Ainda nos beijávamos, enquanto a mão dele descia pela minha coxa. Eu interrompi o beijo e notei o seu olhar de julgamento pra cima de mim. Eu me estiquei para abrir a gaveta e pegar o preservativo que eu havia colocado ali.

- Aqui. – Eu entreguei pra ele. pareceu surpreso com a minha rapidez em fazer tudo. Não que fosse uma coisa ruim, na verdade, ele estava adorando. Ele sorriu, achando graça e eu puxei o seu rosto para mais um beijo. Minha mão deslizou até a sua nuca e ele tirou as mãos da minha coxa e as usou para abrir o fecho do meu sutiã. Eu não o impedi. se livrou do meu sutiã e a sua mão, que de boba não tinha nada se aproveitou. Eu comecei a jogar o meu corpo pra cima do dele, fazendo-o deitar na bancada. Meu corpo veio por cima, enquanto continuávamos a nos beijar empolgadamente. Abandonei os lábios dele e desci os meus em direção do seu pescoço. Os dedos dele se entrelaçaram no meu cabelo e os olhos se fecharam, enquanto eu beijava calorosamente o seu pescoço. Meus beijos continuaram descendo e passaram por todo o seu peitoral e tiveram que parar no inicio da sua cueca. me ajudou a me livrar dela também e em seguida fizemos o mesmo com última peça de roupa que ainda havia no meu corpo.

Confesso que não imaginei que fosse tão bom quebrar a minha própria regra. Foi o melhor plano que eu já tive na vida, mas eu também confesso que esqueci que estava executando ele durante um tempo. Ou eu sou uma ótima atriz, ou eu estava mesmo me aproveitando do momento para fazer algo que eu desejava tanto mesmo sem assumir. Foi tudo muito louco e intenso, que não deu tempo nem de pensar. Não deu tempo nem de pensar na possibilidade de aquilo poderia ser um plano para fazê-lo ir embora da minha casa. Se o era forte, eu com certeza era a sua fraqueza. Em todos os sentidos! Compartilhávamos sempre dos mesmos desejos e das mesmas vontades. Nossos corpos se conversavam e resolviam qualquer briga em segundos. Incrível como nada que ele faça me faça odiá-lo a ponto de recusar os beijos e o corpo dele.

nos conhecia muito bem e sabia que nós sempre tínhamos aqueles momentos de fraqueza. Pra ele, foi só mais um momento de fraqueza e não um plano. Não era incomum entre nós, sabe? Quantas vezes brigamos e acabamos resolvendo na cama? O que ele não sabia é que nada seria resolvido dessa vez. Mesmo me aproveitando do momento e gostando tanto de estar ali com ele, eu não abriria a mão do meu principal objetivo: fazê-lo dar o fora da minha casa.

- Mais uma vez... – pediu, entre um beijo e outro. Eu ainda me recuperava e tentava recuperar a minha consciência também.
- Não. – Eu neguei com a cabeça. – Já foi suficiente. – Eu sorri, empolgada por ter conseguido o que eu queria.
- Não foi suficiente pra mim. – também sorriu, achando que poderia me convencer.
- Vai ter que se contentar com isso. – Eu roubei um último selinho dele e empurrei o seu corpo, afastando-o de mim. – Pensa pelo lado bom: se você tivesse seguido a minha regra, nem teria tido sexo. Uma vez é melhor que nada, não é? – Eu pisquei um dos meus olhos pra ele, enquanto voltava a vestir a minha lingerie.
- Ohhhh... – disse, negando com a cabeça e me olhando com os seus olhos cerrados. – Agora eu entendi. – Ele sorriu, se achando um idiota.
- Entendeu, né? – Eu também sorri pra ele e abri os braços.
- Você me fez quebrar a sua regra. – afirmou, lamentando-se por não ter percebido antes.
- Quantas regras faltam agora? – Eu desci da bancada e o deixei sentado sozinho lá. Eu fiz o número dois com uma das mãos
- Você é boa. – foi obrigado a reconhecer.
- Eu não sou tão boa. É você que é muito fácil. – Eu disse em meio a risos.
- Pode rir! Você foi muito bem. Eu tenho que reconhecer. – continuou a reconhecer o meu plano.
- Obrigada. – Eu agradeci, enquanto pegava o meu hobby do chão e voltava a vesti-lo. – Espero que tenha aproveitado, porque não vai acontecer de novo. – Eu forcei um novo sorriso pra ele. Virei de costas e fui saindo da cozinha, enquanto me observava, inconformado. Ele foi mesmo muito otário. – E pode comer a calda de chocolate se você quiser. É toda sua. – Eu disse, me virando rapidamente para olhá-lo. Ele negava com a cabeça, me fuzilando com os olhos. Eu segurei o riso e sai da cozinha.

Com a minha missão cumprida, eu voltei para o meu quarto para dormir. Eu fiquei algum tempo rindo e lembrando do que tínhamos acabado de fazer. Pra ser sincera, não foi tão ruim assim. Eu até que curti. Porém, isso não faz a menor diferença agora. Gostando ou não, não vai mais acontecer e ele vai ter que ir embora da minha casa.

não estava me odiando ou algo do tipo. Era o tipo de arma que eu poderia usar ao meu favor e eu acabei usando. Ele estava era com raiva dele mesmo por não ter percebido o que eu planejava antes. Desceu da bancada e voltou a vestir as suas roupas. Fez questão de jogar toda a calda de chocolate no lixo antes de sair da cozinha. Foi para o seu quarto inconformado com o nível de sua estupidez. Como era possível eu ter tanto controle sobre ele? Como eu conseguia fazê-lo esquecer de tudo quando estava comigo?

Eu acordei no outro dia bem tarde, já que era domingo. acordou um pouco mais cedo do que eu. Quando eu acordei era quase a hora do almoço, então eu desci na cozinha e fiz qualquer coisa que fosse rápida. Encontrei ele na sala, mas nós não nos falamos. Não sabia se ele estava bravo comigo, mas também eu não me importava. Voltei para o meu quarto com a comida e permaneci lá durante o resto da tarde também. Tudo isso para não ter contato com o . Era melhor assim.

Era um pouco mais que 6 horas da tarde e eu já não aguentava ficar trancada em casa. Ainda mais com o no andar de baixo. Eu não podia nem ir para algum outro cômodo da casa. Se eu saísse do meu quarto seria obrigada a aturá-lo. Sem condições. Eu precisava sair daquela casa. Depois da arrumação que fiz no meu quarto ontem, separei diversas roupas para dar para a adoção, com isso, eu coloquei na cabeça que precisava comprar roupas novas. Era isso! Eu vou ao shopping. Peguei o meu celular e disquei o número da Meg. Eu precisava de companhia. Sai do meu quarto e desci rapidamente até a cozinha para pegar qualquer para beber e comer. Passei pelo na sala e nem sequer olhei para ele para não ter problemas.

- Oi, Meg. - Eu fiquei feliz por ela ter atendido.
- Fala, gata. - Meg atendeu de forma descontraída.
- Estou querendo ir ao shopping. Vamos comigo? - Eu a convidei de prontidão. estava conseguindo ouvir a conversa da sala e prestava atenção.
- Agora? - Meg fez careta.
- Agora. - Eu afirmei, enquanto pegava alguns frios na geladeira para fazer um lanche.
- Não vai dar. Minha casa está cheia de visitas e parece que eles vão ficar pra jantar. - Meg disse, demonstrando desanimo em sua voz. Eu sabia o quanto ela odiava as visitas, que eram constantes em sua casa.
- Não acredito, Meg. - Eu fiz bico. Da sala, não conseguiu evitar o sorriso ao perceber que Meg havia recusado o meu convite.
- Acredite, eu daria qualquer coisa pra sair daqui, mas os meus pais vão me matar se eu fizer isso. - Meg suspirou longamente. Ela estava falando meio baixo para que ninguém a ouvisse. - Espera. Você nem me contou como foi ontem! - Ela lembrou-se de perguntar.
- Deu certo. Não dá pra falar agora. Eu te conto amanhã. - Eu desconversei, pois sabia que poderia ouvir.
- Eu sabia que ia dar certo! - Meg comemorou. - Amanhã quero saber tudo. - Ela afirmou.
- Está bem. - Eu sorri ao notar a empolgação dela. - Te vejo amanhã. Boa sorte ai. Beijos. - Eu disse em tom de despedida.
- Valeu. Beijos. - Meg finalizou a ligação.

Confesso que fiquei um pouco chateada por Meg não poder ir comigo ao shopping, mas isso não me fez desistir de ir até lá. Eu precisava muito sair de casa. Terminei de fazer o meu lanche e o levei até a mesa de jantar. Me sentei na mesa, voltando a ficar sobre a vista de . Ele me olhou, sem me dar muito atenção. Eu nem sequer olhei pra ele, mesmo sabendo que em algum momento ele iria se manifestar. Ele não aguenta.

- Você vai sair? - perguntou, sem tirar os olhos da TV. Estava passando mais um daqueles programas de esportes tediosos que ele adorava.
- Vou. - Eu respondi friamente sem dar tanta trela.
- Você vai sozinha? - finalmente me olhou.
- A Meg vai comigo. - Eu menti, porque sabia que ele implicaria com o fato de ir ao shopping sozinha.
- Mentira. - afirmou, me olhando com aquele sorriso no canto do rosto.
- Se você sabe, porque pergunta? - Eu disse, antes de dar a última mordida no meu lanche.
- Queria ver se você iria ter coragem de mentir. - afirmou, voltando a olhar pra TV.
- Então ta! Eu vou sozinha! Tudo bem pra você? - Eu fui sincera, já que era o que ele queria.
- Não vai mais. Eu vou com você. - me olhou para ver a minha reação.
- Vai sonhando! - Eu ri da cara dele, subindo as escadas e indo em direção ao meu quarto.

Até parece que eu vou arrastar esse insuportável pro shopping comigo. Já basta tê-lo que aturá-lo aqui, tenho que aturá-lo no shopping também? Até parece! Eu nem sequer estava cogitando aquela possibilidade. Eu ia pegar o meu carro e ia sair, já que eu sou adulta e não preciso do consentimento de ninguém para sair. Cheguei no meu quarto e fui direto trocar de roupa. Coloquei um jeans, uma blusinha básica e uma sandália de salto. Arrumei o meu cabelo, deixando-o solto e fiz uma simples maquiagem. Separei a minha bolsa e dentro dela coloquei a minha carteira e o meu celular. Peguei o meu óculos de sol e o coloquei na cabeça, preso ao meu cabelo. Não demorei mais do que 25 minutos para me arrumar. Saí do meu quarto, sabendo que enfrentaria uma briga lá embaixo, por isso, eu queria sair bem rápido e sem fazer alardes. Desci as escadas rapidamente e passei na mesinha próxima a porta para pegar a chave do meu carro. Eu percebi que o ainda estava na sala, mas eu nem tive tempo de olhá-lo. Fui até a porta, toquei na maçaneta e a girei. A porta não abriu. Tentei novamente e percebi que ela estava trancada. A chave não estava na porta, então resolvi procurá-la na mesinha, onde costumávamos deixar as chaves.

- Perdeu alguma coisa? - aproximou-se de mim por trás.
- Eu não estou achando a chave da porta. - Eu disse, dando mais uma olhada na mesinha próxima a porta.
- Qual chave? Essa? - tirou uma das mãos do bolso e exibiu a chave, que eu rapidamente reconheci.
- Muito engraçado. - Eu forcei um sorriso. - Me dá. - Eu estendi a mão em sua direção. Notei que ele havia trocado de roupa também.
- Pra quê? Pra você ir ao shopping sozinha? - não tirava aquele sorriso idiota do rosto. - Acho que não. - Ele completou.
- Você está de brincadeira, né? Me diz que você está de brincadeira, Jonas! - Eu o olhei, impaciente.
- Você não vai sozinha. - reafirmou, me enfrentando.
- Você não toma as decisões aqui. - Eu também o enfrentei.
- Acho que eu tomo sim. - mostrou as chaves novamente.
- Dá logo a chave! - Eu tentei pegá-la de sua mão, mas ele esquivou-se.
- Vamos pular a parte do escândalo, ok? Eu não vou te dar a chave e você também não vai conseguir pegá-la de mim. Se quiser ir ao shopping, eu vou ter que ir junto. - estabeleceu as regras.
- Porque você quer ir ao shopping? - Eu abri os braços. Ele nunca gostou de ir ao shopping.
- Querida, olha bem pra minha cara. Acha mesmo que eu gosto de perder a minha tarde de domingo passeando no shopping com uma mimadinha igual a você? - rolou os olhos.
- Eu já mandei você parar de me chamar assim. - Eu cerrei os olhos em sua direção.
- Dane-se! Eu não ligo pro jeito que você não gosta que eu te chame. Eu não ligo se você não quer que eu vá ao shopping com você. Eu.. não ligo! - afirmou, demonstrando total indiferença.
- Quer saber? Chega! Eu já estou de saco cheio dessa droga. - Eu estava no meu limite. Abri a minha bolsa e peguei o meu celular.
- O que foi? Resolveu contar pro papai? - achou que eu estivesse blefando.
- Não. Vou ligar pro e falar pra ele que o melhor amigo dele está morando na minha casa. De repente eu conto até sobre a noite passada. - Eu vi o sorriso no rosto dele desaparecer, quando ele ouviu o nome do meu irmão. - Quanto tempo você acha que ele demora pra chegar aqui? - Eu forcei um sorriso pra ele.
- Você não vai fazer isso. - me desafiou, negando com a cabeça. - Se contar, você também vai se expor e ele vai ficar furioso com você também. - Ele não estava botando fé na minha ameaça.
- Jonas, você tem alguma noção de quantas vezes o meu irmão ficou furioso comigo? - Eu perguntei, retoricamente. - Essa é a diferença entre nós. Ele é a minha família e você é só um amigo. Ele não vai poder deixar de ser o meu irmão, mas ele com certeza vai deixar de ser o seu amigo. Tirando a surra que ele vai te dar, é claro! - Eu disse, me achando a mais poderosa no mundo. Quando vi que o estava sem resposta, voltei a olhar pro visor do meu celular e comecei a digitar alguns números aleatórios, porque eu sabia que ia intervir.
- Está bem! Está bem! - cedeu como eu havia previsto. Eu deixei de olhar o celular para olhá-lo. – Vamos fazer um acordo, ok? Eu vou ao shopping com você, mas eu fico longe. Você não precisa nem me ver lá. Eu só vou ficar de olho. – Ele sugeriu, parecendo um pouco aflito.
- Isso é mesmo necessário? – Eu suspirei, enquanto rolava os olhos.
- Você sabe que é. Não é porque as ameaças pararam que nós temos que fingir que você não corre mais perigo algum. – voltou a falar sério comigo. Sem aquelas brincadeiras de antes. Viu, só? Foi só falar no , que o muda.
- Olha, você vai ficar bem longe de mim. Eu não quero lembrar que você está lá, ok? – Eu disse, cedendo a sua sugestão.
- Certo. – concordou. – Eu dirijo. – Ele jogou a chave da casa em minha direção e eu já senti que começaria a me arrepender da minha decisão a qualquer momento. pegou a chave do seu carro e saímos juntos da casa.

Chegamos no shopping e não trocamos uma só palavra. Eu fui na frente e ele veio logo atrás, sempre olhando para os lados, procurando qualquer sinal de perigo. Apesar de ter insistido tanto para estar ali, estava extremamente impaciente e entediado naquele lugar. Não é o tipo de passeio que ele curte, sabe? Mesmo ele estando longe, me incomodava o fato de ter alguém andando atrás de mim. Pra mim, tudo aquilo era completamente desnecessário. Eu realmente não estava levando aquelas ameaças a sério, então não me sentia tão intimidada. Eu subestimei o perigo que nem eu mesma sabia que eu corria. Para era o contrário. Ele sentia medo e temia o perigo por nós dois. Mesmo odiando estar ali, ele não tirava os seus olhos de mim. Se distraiu algumas vezes, como quando passamos em frente a uma loja de esportes ou quando passamos em frente a loja oficial do Yankees. Cheguei a pensar que ele entraria na loja e eu acabaria ficando livre dele, mas nem o Yankees conseguiu me ajudar. Quando eu entrava em uma loja, ficava lá fora rondando a loja. Algumas vendedoras olhavam pra ele com uma cara de desconfiança, certamente achando que ele era algum tipo de ladrão que está observando e planejando a sua próxima ação. Cheguei a dizer para algumas delas que ele era o meu guarda-costas e elas achavam graça. Um cara daqueles... o meu guarda-costas? Elas me olhavam com aquela cara de 'está pegando, né?' e eu ignorava para não me irritar.

- Porque aquelas vendedoras estavam me olhando daquele jeito? - me alcançou assim que eu saí da loja.
- Eu falei pra elas que você é o meu guarda-costas e acho que elas ficaram interessadas nos seus serviços. - Eu segurei o riso, sem olhá-lo.
- Sério? - gostou de me ouvir dizer aquilo.
- Não. Elas acharam que você era um psicopata que estava me seguindo pelo shopping, mas fica tranquilo. Eu disse pra elas que você é totalmente inofensivo. - Eu olhei pra ele e o vi rolar os olhos.
- Você é um amor, né? - fez careta ao ironizar.
- Eu sei! Dá pra acreditar? - Eu também ironizei só para sacaneá-lo ainda mais.
- Inacreditável. - suspirou, sem dar tanta atenção.
- Obrigada. - Eu agradeci o falso elogio.
- Já demos quantas voltas no shopping? 3? Já podemos ir embora? - disse, enquanto andávamos lado a lado por um dos corredores do shopping.
- Não, espera! - Eu disse, enquanto passávamos em frente de uma vitrine.
- O que foi? - se assustou com o meu quase grito repentino.
- É esse vestido que eu estava procurando! - Eu apontei pra vitrine, quando paramos em frente a loja.
- Não me diga. - respirou fundo e rolou os olhos.
- Vem comigo. - Eu agarrei o braço dele e o puxei pra dentro da loja. Era melhor arrastar ele pra loja do que vê-lo rondando a loja igual um maluco.
- Não, espera... - tentou argumentar, mas quando viu já estava dentro da loja e em frente a uma vendedora. - Olá... - Ele forçou um sorriso ao olhar pra vendedora.
- Oi. Eu... queria ver aquele vestido ali. - Eu apontei com a cabeça em direção a vitrine.
- Só um minuto. Vou pegá-lo. - A vendedora afastou-se e foi até uma das prateleiras.
- Porque você quer tanto um vestido? Você já tem tantos. - me olhou com impaciência.
- Eu deixei muitos deles em Atlantic City e trouxe só alguns pra cá. Além disso, eu preciso de um novo. Nunca se sabe quando eu vou precisar pra uma ocasião especial. - Eu expliquei, observando a vendedora se aproximar.
- Aqui está. Eu trouxe de vários tamanhos pra você escolher qual o melhor pra você. - A vendedora colocou os vestidos sobre o balcão.
- Eu vou... provar esse aqui. - Eu disse, depois de dar uma olhada nos vestidos.
- Claro! Pode provar. - A vendedora sorrir e deu um sonoro suspiro. - Você pode aguardar ela em uma das poltronas que tem ali perto do vestiário. - Ela notou a impaciência do .
- Muito obrigado. - gostou da sugestão e não hesitou em ir até a tal poltrona.

Fui para o provador levando o vestido nas mãos. Enquanto eu me trocava, mexia em seu celular. Vesti o vestido e sem nem sequer pensar eu abri o provador e parei em frente ao . A atenção dele continuava no celular, então eu tive que chamar a sua atenção.

- E então? Ficou bom? – Eu perguntei e ele levantou o seu rosto pra me olhar. Os olhos dele deslizaram pelo meu corpo, enquanto eu mantinha uma das minhas mãos na cintura.
- Uau.. – disse sem pensar. – Quer dizer.. – Ele ficou sem jeito e levou uma das mãos até a cabeça e bagunçou ainda mais o seu cabelo. – Eu não entendo nada disso. Eu não sei opinar. – completou.
- Ficou maravilhoso. – A vendedora intrometeu-se. – Parece até que foi feito pra você. – Ela completou.
- Ficou mesmo? – Eu fiquei um pouco sem jeito. ainda me analisava, sem conseguir tirar os seus olhos de mim.
- Ela não ficou linda? – A vendedora sorriu pro , sem perceber o gafe.
- Ficou. – disse, enquanto o seu sorriso demonstrava o quão sem graça ele estava. – Ficou bom. – Ele completou, tentando ficar um pouco mais sério.
- Viu? Se o namorado aprovou, você pode levar. – A vendedora brincou, fazendo com que eu e o nos olhássemos.
- Oh, não. Ele não é... meu namorado. – Eu a corrigi rapidament.
- Não somos namorados. – sorriu para a vendedora, que ficou ainda mais constrangida que nós dois.
- Me desculpem. – A vendedora fez careta.
- Tudo bem. Não tem problema. – Eu neguei com a cabeça. – Eu... vou levar o vestido. – Eu mudei o assunto, voltando pra dentro do provador. pegou-se rindo sozinho do que havia acabado de acontecer. Essas coisas só acontecem com nós dois.

O equívoco da vendedora me deixou totalmente desconfortável. Era muito estranho ver as pessoas me relacionando ao ou sugerindo qualquer coisa entre nós. Não sei se é porque nós já namoramos ou porque eu ainda achava que existia algo entre nós. Tirei o vestido e voltei a colocar a minha roupa. Só consegui voltar a olhar na cara do , depois que saímos da loja. Com a sacola em mãos, nós andamos algum tempo em silêncio. percebeu que eu estava sem graça com a situação e não sabia como se comportar.

- Podemos ir embora agora? – virou o seu rosto para me olhar.
- Acho que podemos. Eu já comprei o que eu queria. – Eu afirmei com a cabeça.
- Então, vamos. – ficou feliz com a notícia que íamos embora.



TROQUE A MÚSICA:



Seguimos em direção a saída do shopping e paramos para pagar o estacionamento. fez questão de pagar e não teve nem discussão. Saímos e seguimos lado a lado até o estacionamento, que estava extremamente lotado. havia estacionado um pouco longe, então tínhamos uma boa caminhada até o carro. Depois que passamos da metade do caminho, ouvi o meu celular tocar dentro da minha bolsa. Continuei andando, enquanto abri a bolsa e peguei o meu celular. No visor do celular, indicava ‘número restrito’. Eu até achei estranho, mas não a ponto de não atender a ligação.

- Alô? – Eu atendi e continuei andando ao lado do em direção ao carro.
- Como você está, ? – Uma voz estranha disse do outro lado da minha.
- Quem está falando? – Eu quis saber, já que não consegui reconhecer a voz.
- Estive na sua casa há pouco tempo. – A pessoa não respondeu a minha pergunta.
- Me desculpe, mas eu não estou lembrando. – Eu me esforcei para tentar reconhecer a voz, mas eu não conseguia. A voz não parecia natural. Parecia aquelas vozes que são alteradas com programas ou qualquer coisa assim.
- Eu deixei uma mensagem pra você. Na verdade, foi um aviso. – A voz disse e quando eu me dei conta do que se tratava eu senti o meu corpo gelar quase que instantaneamente.
- Quem está falando!? – Eu perguntei com um pouco mais de ênfase, o que fez me olhar.
- Eu não tenho o costume de dar o segundo aviso, mas abri uma exceção pra você. – A voz disse com uma certa simpatia.
- O que você quer de mim? – Eu parei de andar, pois já estava sentindo as minhas pernas trêmulas. Ao me ouvir falar daquele jeito, deduziu quem estava do outro lado da linha.
- Eu já disse o que quero, garota. Você não entendeu? – A voz parecia irritada agora.
- Eu entendi. – Eu olhei pro e ele conseguiu ver medo e desespero nos meus olhos. – Eu fiz o que você mandou. – Eu menti, achando que poderia enganar a pessoa do outro lado da linha. – Eu me afastei dele. – Eu completei. saiu do meu lado e parou em minha frente. Ele notou que as minhas mãos tremiam.
- Mentindo pra mim? – A pessoa do outro lado questionou.
- Não, eu não estou mentindo. – Eu neguei com a cabeça, enquanto me olhava com atenção. Ele queria saber o que a pessoa do outro lado da linha estava me falando.
- Como foram as compras? – A pessoa perguntou, pois queria demonstrar que eu não podia enganá-la.
- O que? – Eu senti o meu coração disparar.
- Lindo vestido. – A voz disse, querendo demonstrar que estava no shopping me observando todo daquele tempo.
- Você está me seguindo. – Eu engoli seco e olhei novamente pro , que me olhava com extrema preocupação. Ele via a minha apreensão aumentar a cada segundo.
- Aliás, mande um olá pro . – Ao ouvir isso, a minha primeira reação foi olhar em volta. Seja quem for, estava me observando nesse exato momento. entendeu o que a minha procura queria dizer. Ele entendeu que a pessoa que estava me ameaçando estava naquele estacionamento. – Diz pra ele não cair nesse seu teatro. Isso com certeza deve ser herança de família, certo? – A voz completou.
- Deixa a minha família fora disso! – Eu me exaltei quando a pessoa colocou a minha família na história.
- Eu te pediria a mesma coisa, mas acho que é tarde demais, não é mesmo? – A voz indagou e eu não entendi o que ele ou ela queria dizer.
- Porque você está fazendo isso!? – Eu estava prestes a ter um colapso. estendia a mão insistentemente, pedindo para que eu lhe passasse o telefone, mas eu não conseguia. Eu queria resolver aquilo. – Olha, vamos resolver isso numa boa. Eu não quero problemas e você também não. Vamos acabar com isso. – Eu sugeri.
- Eu já disse o que eu quero e é melhor você atender a minha ordem, porque eu não falar de novo. – A voz foi objetiva e grosseira.
- E se eu não fizer? O que você vai fazer? – Eu tentei enfrentar a pessoa do outro lado da linha, mesmo com a minha voz embargada.
- Eu mato você. – Ao ouvir isso, as minhas mãos já trêmulas soltaram o celular que caiu no chão. Com os olhos cheios de lágrimas, levei minhas mãos a cabeça e entrelacei os meus dedos em meu cabelo. imediatamente se agachou e agarrou o celular, levando-o até a sua orelha.
- ALÔ? – gritou, eufórico. – ALÔ? – Ele insistiu, depois de não ter resposta. – DROGA! – esbravejou, quando percebeu que a ligação havia caído. Com o meu celular ainda em suas mãos, ele voltou a colocar-se de pé. – O que foi que disseram? – Ele perguntou, vendo os meus olhos cheios de lágrimas.
- Ele ou.. ela, não sei... Está aqui! Seja quem for, está nos seguindo. – Eu voltei a olhar em volta, temendo a próxima ação da pessoa com quem eu falei no telefone. – Estão nos seguindo, . – Eu repeti com a voz embargada ao voltar a olhar pro .



- Ei! – olhou em meus olhos. Uma das mãos dele foi até o meu rosto, fazendo com que eu continuasse olhando pra ele. – Fica calma. – Ele pediu e eu engoli o choro de vez. – Nós vamos sair daqui e vai ficar tudo bem. – tentou me acalmar, mas não estava funcionando. A vontade dele era rodar aquele estacionamento atrás daquela maldita pessoa, mas ele sabia que isso só me deixaria mais assustada. – Vamos. – Ele pediu e eu afirmei com a cabeça, tentando controlar o meu medo e desespero.

Agora sim a minha ficha caiu. Só agora eu tive noção do perigo que me ronda por um motivo que eu nem mesmo sei. Um perigo que eu não sei o nome. Minhas mãos ainda tremiam e as lágrimas não saiam dos meus olhos de jeito algum. A minha mente ficava repetindo a última frase que aquela voz me disse e eu não conseguia aceitar que isso estava acontecendo comigo. Eu fui andando na frente e veio logo atrás. Ele olhava para todos os lados, mas nem sabia exatamente o que estava procurando. não conseguia entender o que estava sentindo. Achou que era medo, mas ao mesmo tempo era coragem. Havia raiva, mas ao mesmo tempo havia um aperto no peito.

Chegamos no carro e eu entrei apressadamente nele. fez o mesmo e ligou rapidamente o carro. Eu já deveria estar mais calma, mas aquela sensação não passava. Eu queria chorar, mas ao mesmo tempo eu queria pedir ajuda. Com os meus braços cruzados eu tentava me segurar para não surtar. me conhecia tão bem que sabia até reconhecer o meu silêncio, que parecia lhe dizer tantas coisas.

- Você está bem? – perguntou, deixando de olhar o trânsito por poucos segundos para me olhar.
- Eu... não sei. – Eu respirei fundo ao negar com a cabeça.
- Você não conseguiu reconhecer a voz? Era homem ou era mulher? – quis saber. Ele precisava descobrir quem era.
- Era voz de homem, mas... eu não sei. Parecia aquelas vozes editadas. Talvez estivessem usando um programa ou um telefone que altera a voz. Eu não sei. – Eu expliquei com uma certa confusão.
- O que mais essa pessoa falou? – queria os detalhes, pois qualquer coisa poderia ser uma dica.
- Falou que esse é o último aviso. Falou que eu tenho que me afastar de você ou... – Eu preferi não terminar a frase.
- Ou o que? – temia ouvir o pior.
- Ou vão me matar. – Eu completei, sem olhá-lo.
- Merda... – negou com a cabeça, furioso com o que estava ouvindo. Ele achava que tinha a obrigação de impedir aquilo.

Mesmo sabendo que eu estava um pouco mais segura no carro, eu ainda olhava para trás de tempos em tempos para ver se não estávamos sendo seguidos. Minhas mãos aos poucos paravam de tremer, mas o meu coração não se acalmava. A cada novo passo que essa pessoa que está me ameaçando dá, sentia que está fracassando cada vez mais. Na cabeça dele, ele estava ali para me proteger e o fato de as ameaças estarem se tornando cada vez mais reais e intensas só o deixava mais irritado por não estar conseguindo fazer nada a respeito.

Nós chegamos na minha casa e eu já não tinha certeza se aquele lugar era o mais seguro para se ficar, considerando que alguém entrou nela há poucos dias atrás. Desci do carro e bati a porta. No caminho até a porta, avistei Mark na porta de sua casa. Ele também me viu, mas ainda não sabia como reagir. Principalmente porque estava logo atrás de mim. Eu acenei para ele com uma das minhas mãos e me esforcei para sorrir. Mark acenou de volta, mas o seu sorriso conseguiu ser pior que o meu. A fato de estar ali certamente influenciou. Deixou de me olhar e encarou , que de longe distribuiu olhares nada amigáveis. Quando entramos na casa, Mark negou com a cabeça ao sentar-se em um dos degraus que havia na varanda da sua casa. Ele não conseguia entender aquele ódio que tinha dele.

- Nós temos que descobrir agora mesmo quem é essa pessoa. - parecia determinado e extremamente irritado. Ele não permitira que aquelas ameaças continuassem.
- Eu não faço ideia de quem seja. - Eu me sentei no sofá, tentando pensar em alguém, mas o meu nervosismo nem me permitia isso. Mesmo percebendo que eu não estava com cabeça para aquilo, não desistiria tão cedo.
- Vamos nos ajudar, ok? Essa pessoa tinha acesso a casa da sua tia, porque ela conseguiu pegar as nossas filmagens. Essa pessoa sabia sobre eu e a Amber e depois também sabia sobre nós dois. - andava de um lado pro outro, procurando uma resposta. – Não é possível nos não conseguirmos pensar em ninguém! – Ele tinha a impressão de estar deixando algo passar.
- Eu não sei! Tem muita gente! E... eu não consigo pensar em ninguém que possa querer o meu mal. - Eu encarei o chão ao negar com a cabeça, me recusando a desconfiar de qualquer pessoa próxima a mim.
- Espera um pouco. - parou de andar e me olhou fixamente. - Alguém que conhece bem essa casa e que tem acesso a ela. Alguém que acompanha quem entra e quem sai dessa casa. Alguém que me quer ver longe de você. - começou a insinuar que sabia de quem se tratava.
- Eu não entendi o que você... - Eu me levantei do sofá, interessada na possibilidade de ter descoberto quem estava me ameaçando.
- Não acredito que eu demorei tanto tempo pra perceber! - rolou os olhos, negou com a cabeça e chegou a dar um rápido sorriso.
- De quem você está falando? – Eu dei alguns passos em sua direção, tentando obter a resposta através de seu olhar.
- Pensa, ! – disse como se fosse algo óbvio. – Quem conhece tão bem essa casa a ponto de ter controle sobre os alarmes e sobre as câmeras? Quem foi que desde aquela primeira viagem pra cá que fizemos se interessou por você e me odiou? Quem tinha o controle daquelas minhas fotos com a Amber pra poder usá-las contra mim e a favor dele no momento certo? Quem mais saberia que estamos juntos ou quando saímos de casa se não alguém que mora ao lado da sua casa? – As perguntas de me deixavam cada vez mais aflita e me levavam a um nome que eu me recusava a aceitar.
- , você não... – Eu não queria que ele se precipitasse, mas ele parecia nem estar me ouvindo.
- Desgraçado. – estava cego de ira e não pensou duas vezes para tirar tudo aquilo a limpo. Me deixou falando sozinha e deu as costas pra mim.
- ! – Eu achei que um simples grito o faria desistir, mas é claro que não funcionou. Quando eu vi ele abrir a porta com tanta agressividade, eu me dei conta do que estava prestes a acontecer. Receosa, fui atrás dele na tentativa de evitar uma tragédia.

Mark continuava sentado no degrau da escada da varanda de sua casa e viu quando parecia dirigir-se em direção a sua casa. Ao avistar Mark, a fúria de aumentou ainda mais. Ele passou pelo jardim que separava as duas casas e antes mesmo que Mark percebesse, já estava no gramado de sua casa. Mark não sabia do que se tratava, mas notou a fúria de de longe. Levantou-se do degrau, pronto para enfrentá-lo de frente. Mark esperou qualquer diálogo que explicasse o motivo que trazia até ali, mas ao invés de qualquer diálogo veio o soco certeiro que deu em seu rosto.

- ! – Eu passei correndo pela porta a tempo de ver o soco de em Mark.
- PORQUE NÃO MEXE COM ALGUÉM DO SEU TAMANHO? – gritou, enquanto Mark ainda se recuperava do soco. – ACHA QUE EU VOU DEIXAR VOCÊ ENCOSTAR UM SÓ DEDO NELA? – Ele puxou a camiseta de Mark para fazer com que ele o olhasse.
- ME SOLTA! – Mark o empurrou, tirando as mãos dele de sua camiseta. – DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO? – Ele passou a mão perto de seu nariz, que começava a sangrar.
- VAI BANCAR O SANTO AGORA? ASSUMA! SEJA HOMEM E ASSUMA! – parecia estar possuído de tanto ódio. – VOCÊ NUNCA ME ENGANOU! EU SEMPRE SOUBE O MERDA QUE VOCÊ SEMPRE FOI! – Ele apontou o dedo indicador em direção ao Mark.
- NÃO APONTA O DEDO PRA MIM! – Mark deu um tapa na mão de , o que fez com que ele fosse novamente em direção ao Mark. Com muito esforço, eu consegui chegar a tempo e me coloquei entre eles. Olhei pro e levei as minhas mãos até o seu corpo.
- PARA COM ISSO! – Eu gritei, furiosa. Algumas vizinhas já acompanhavam a briga pela janela de suas casas.
- DA PRÓXIMA VEZ QUE VOCÊ PENSAR EM ENCOSTAR EM UM FIO DE CABELO DELA, EU MATO VOCÊ! – me ignorou completamente e gritou furiosamente em direção ao Mark.
- PARA! – Eu empurrei para trás e consegui fazer com que ele notasse a minha presença.
- É ELE, ! – tentou me convencer a não me intrometer na briga.
- O QUE? O QUE FOI QUE EU FIZ? – Mark abriu os braços, sem saber do que estava sendo acusado.
- ASSUMA DE UMA VEZ! ASSUMA QUE É VOCÊ QUE ESTÁ AMEAÇANDO ELA! – voltou a esbravejar em direção ao Mark e eu lhe dei outro empurrão.
- NÃO É ELE! – Eu gritei em direção ao .
- Tem alguém te ameaçando? – Mark esqueceu a dor que sentia em um dos lados do rosto e me olhou com preocupação. A preocupação de Mark também foi notada pelo , que ficou indignado.
- EU VOU ACABAR COM VOCÊ! – ficou maluco ao notar que Mark também estava preocupado comigo. Mesmo sendo egoísmo de sua parte, achava que mais ninguém poderia se preocupar comigo e ter o cuidado que ele tem comigo.
- VOCÊ ESTÁ FORA DE SI! – Eu voltei a empurrar , mas dessa vez eu usei mais força. – Vamos sair daqui. Anda! – Eu agarrei o seu moletom e comecei a arrastá-lo de volta para a minha casa. Com muito esforço, consegui levá-lo para dentro da casa. – O que você está pensando!? – Eu disse, depois de fechar a porta da casa.
- Vai mesmo ficar do lado dele? – me encarou, apontando um dos dedos em direção a casa do Mark.
- Não tem um lado! Você não vê? – Eu argumentei ao meu favor.
- Como pode ter tanta certeza que não é ele? – não conseguia acreditar na fé cega que eu sempre tinha no Mark.
- Eu não tenho! Eu não tenho certeza sobre ninguém agora. Ok? A única coisa da qual eu tenho certeza é que tem alguém tentando me matar! – Eu tentei fazê-lo ver o lado racional da história.
- E se for ele? – insistiu no assunto.
- E se não for ele? – Eu mostrei o outro lado da moeda. – Nós não podemos sair acusando ninguém desse jeito. Além do mais, não acha que se fosse o Mark ele estaria ameaçando você e não a mim? – Eu questionei.
- Talvez ele esteja fazendo isso pra despistar. – continuava defendendo a sua teoria.
- Ou talvez você o odeie tanto que só está conseguindo enxergar o que você quer. – Eu acabei falando o que eu realmente eu achava daquilo tudo.
- Você deve estar de brincadeira. – negou com a cabeça e sorriu para demonstrar o nível de sua indignação.
- Pense a respeito, ! Ele pode sim querer nos separar, mas você seria sem dúvida o alvo dele e não eu. – Eu repeti a minha teoria mais sensata. – Além disso, eu o conheço bem e sei que ele jamais faria isso. Até mesmo com você. – Eu completei.
- Ah, é claro! Eu sabia que você acabaria dizendo isso em algum momento! – A última coisa que queria ouvir era que eu confiava tanto em Mark a ponto de não desconfiar dele.
- Eu sei que está irritado, esta bem? Mas você tem que se manter racional. Não pode ficar deixando os seus sentimentos interferirem nisso. – Eu tentei orientá-lo, mas ele pareceu não ter gostado.
- Sentimentos? Dá um tempo, ! – me olhou com desprezo. – Não precisa ficar perdendo o seu tempo defendendo ele pra mim. Se gosta dele, vá até lá e fique logo com ele! Faça o que você quiser, mas depois não vem dizer que eu não te avisei! – Ele parecia estar mesmo decepcionado com aquilo, mas o seu ódio falava mais alto. – Obrigado por isso! Uma coisa a menos para eu me sentir culpado! – Ele disse, antes de virar-se de costas pra mim e subir as escadas sem nem sequer olhar para trás.
- , espera! – Eu observei ele subir as escadas e tentei reverter a situação. – ! – Eu insisti, mas ele me ignorou completamente. – Que droga... – Eu suspirei, levando uma das mãos até a minha cabeça e entrelaçando os meus dedos em meu cabelo.

Eu sei que eu e não estamos em uma boa fase, mas deixá-lo chateado quando essa não é a minha intenção faz com que eu me sentisse desconfortável. Eu até pensei em ir atrás dele, mas certamente ele não me receberia e se recebesse, seria com 60 pedras nas mãos. Então, eu pensei em ir falar com o Mark. Ele precisava de uma explicação sobre o que havia acabado de acontecer. Ele levou o soco por causa de mim e eu me sentia na obrigação de resolver isso. Me dirigi até a porta e depois para a casa do Mark.

Depois de bater a porta do seu quarto com força, sentiu vontade de quebrar o quarto. Para ele, não tinha coisa pior do que me ver defender o Mark com unhas e dentes. tinha certeza de que eu ia atrás do Mark depois da briga e ficou próximo a janela. Quando me viu indo até a casa dele, quis morrer. Nem mesmo as nossas brigas nos últimos dias tinham feito ele sentir vontade de ir embora de uma vez daquela casa, mas o meu comportamento diante do envolvimento do Mark naquela história fez ele pensar nessa possibilidade.

Mesmo sabendo que estava decepcionado, eu não achei que era pra tanto. Por isso, não me importei tanto. Não notei que me observava ir em direção a casa do Mark. Bati na porta da casa dele e a demora dele para abrir a porta quase me fez desistir. A porta se abriu e eu pude vê-lo. Ele estava com uma bolsa de gelo em um dos lados do rosto. Mark não parecia muito feliz em me ver.

- Você está bem? – Eu fiz careta ao vê-lo daquele jeito.
- Está se referindo ao soco que eu acabei de levar sem motivo algum? Estou ótimo. – Mark forçou um sorriso.
- Me desculpe por isso. Foi culpa minha. – Eu demonstrei que estava me sentindo mal com aquilo.
- Entra. – Mark deu passagem para que eu entrasse na casa e eu entrei. Ele fechou a porta.
- Tudo aconteceu tão rápido que eu nem tive tempo de... – Eu me expliquei, mas terminei a frase negando com a cabeça.
- Tudo bem. Acho que nem o Hulk ia conseguir segurá-lo. – Mark fez cara feia. – O que aconteceu com ele? O que foi tudo isso? – Ele abriu os braços.
- Não tem nada a ver com você. Ele achou que você estivesse fazendo algumas coisas, mas eu já disse pra ele que não é você. Eu acho que ele entendeu. – Eu coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
- Algumas coisas? – Mark achou a explicação muito vaga. – Ele disse que tem alguém te ameaçando. – Ele fez questão de dizer para que eu não tentasse desconversar sobre o assunto.
- Olha, não precisa se preocupar com isso. Está tudo bem e tudo sob controle. – Eu realmente não queria incomodá-lo com aquilo. Quanto menos pessoas souberem sobre isso, melhor.
- Tudo menos o seu namorado, né? – Mark ironizou.
- Não estamos namorando. – Eu não demorei para responder. Eu sei que esse não é o foco da conversa, mas eu queria que ele soubesse.



- Isso... não tem importância agora. – Mark abaixou a cabeça, deixando de me olhar. – O que importa é o que está acontecendo com você. Eu quero saber que está acontecendo. – Ele foi direto ao assunto.
- Eu ando recebendo algumas ameaças, mas não é nada demais. Não é importante. Eu to bem. – Eu reafirmei. Eu sabia que eu não tinha o direito de envolvê-lo nesse assunto.
- Que tipo de ameaças? – Mark continuou demonstrando interesse no assunto. Eu o olhei e demonstrei que não queria falar no assunto. – Por favor, me conta. – Ele insistiu, quando percebeu que eu não queria falar.
- Se lembra daquelas fotos do com a Amber? – Eu queria que ele recordasse para que eu pudesse explicar a partir dali. – Alguém tirou aquelas fotos com a intenção de me afastar do . Teve uma época também que eu recebi algumas filmagens das câmeras de segurança da casa da tia Janice. As filmagens só tinham imagens editadas minhas e do . – Eu continuei contando.
- Mas as imagens não foram roubadas? – Mark me interrompeu.
- Exatamente. – Eu afirmei, demonstrando qual era a gravidade da situação.
- É só isso? – Mark aproximou-se ainda mais de mim, demonstrando muito interesse no assunto.
- Não. – Eu suspirei ao pensar que a pior parte viria a seguir. – Há alguns dias atrás me mandaram uma mensagem, uma ameaça... não sei. – Eu nem sabia como explicar.
- Que tipo de mensagem? – Mark me olhava com atenção.
- Uma mensagem na parede da cozinha da minha casa. – Eu cruzei os braços e cheguei a dar um fraco sorriso, quando vi a sua expressão de surpresa.
- Invadiram a sua casa? – Mark pareceu mais preocupado.
- Eu não chamaria nem de invadir. Não tocou o alarme, não chamou a atenção do Big Rob... nada! A pessoa entrou e saiu como se tivesse as chaves. – Eu expliquei e a reação de Mark era de perplexidade.
- Isso é loucura! Você avisou a polícia? – Mark estava extremamente preocupado.
- Não. Eu... não quero. – Eu não dei mais explicações.
- Como não, ? – Mark achou um absurdo.
- Eu.. – Eu não queria dizer, porque eu sabia que ia soar como besteira. Ele não entenderia. – Eu não quero que os mais pais saibam. Eu não quero preocupar ninguém. Além disso, eu não quero ter que abandonar a faculdade que é o que eu vou ter que fazer se eles souberem. – Eu completei.
- , isso é muito perigoso. Isso é muito sério. – Mark aproximou-se um pouco mais.
- Eu sei disso, mas eu estou disposta a correr o risco. Pelo menos por enquanto. – Eu tentei demonstrar coragem mesmo depois do que havia acontecido naquele dia.
- A mensagem... foi o último contato dessa pessoa que está te fazendo ameaças? – Mark questionou.
- Na verdade, não. – Eu suspirei longamente. – Hoje essa pessoa me ligou. – Eu rolei os olhos para tentar demonstrar indiferença com o ocorrido.
- Te ligou? O que disseram? – Mark ficou ainda mais surpreso.
- Só reafirmou a mensagem que deixaram na cozinha da minha casa. – Eu não me aprofundei no assunto.
- Qual foi a mensagem? O que eles estão querendo? – Mark perguntou, sabendo que a minha resposta ajudaria a justificar um pouco os fatos.
- Eles querem que eu me afaste do . – Eu disse, sem saber a reação que ele teria.
- O que? Só isso? – Mark não acreditou. – Eles geralmente querem dinheiro, mas... essa é nova. – Ele negou com a cabeça.
- Eu não sei por que o fato de eu estar com o ou não é importante pra alguém. – Eu abri os braços.
- E o achou que essa pessoa fosse eu. – Mark sorriu, rolando com os olhos. Agora, tudo fazia sentido.
- Exatamente. – Eu ergui os ombros.
- Isso é ridículo. – Mark suspirou longamente, deixando de me olhar.
- Eu sei que é. Eu sei que não é você. – Eu disse, demonstrando certeza.
- Que bom. Isso faz com que eu me sinta melhor. – Mark deu um fraco sorriso, que eu acabei descobrindo que eu sentia falta.
- Eu sei que você jamais faria isso. Eu sei que você só quer o meu bem. – Eu devolvi o sorriso pra ele. Naquele momento, eu até consegui me esquecer de tudo de ruim que havia acontecido naquele dia.
- Eu agradeço por confiar em mim, mas... – Mark percebeu que a conversa estava indo para caminhos errados e também sabia que isso faria mal a ele mais tarde, por isso, resolveu mudar o rumo da conversa. – Ainda tem alguém lá fora que quer te fazer mal. Eu não quero e ... – Ele hesitou em completar a frase. – Não posso deixar nada acontecer com você. – Ele completou, sem jeito.
- Não vai acontecer nada. Eu sei me cuidar. Além disso, tenho um cara em casa que adora sair distribuindo socos por ai. – Eu sorri ao me referir ao .
- É, eu percebi. – Mark também sorriu. Ele queria saber se estava morando na minha casa, já que ele tem visto com frequência, mas preferiu não perguntar. Ele não achava que tinha o direito de se intrometer na minha vida. – Bem, mas se você precisar de alguma coisa... Você sabe que eu estou aqui. – Ele colocou-se a minha disposição.
- Eu sei! Você já me salvou uma vez, lembra? – Eu ri ao me lembrar do dia que me perdi no bairro mais barra pesada da cidade. – Qualquer coisa, eu te ligo. – Eu pisquei um dos olhos pra ele.
- É pra ligar mesmo. – Mark também riu da situação. Os nossos risos fez com que eu me lembrasse do quão bom e tranquilizante era conversar com ele e do quanto nós nos divertíamos juntos. Enquanto ele ria pra mim, eu filme passava pela minha cabeça.
- Agora que eu já me desculpei, eu vou voltar pra casa. – Eu sorri, sem jeito.
- Está bem. Eu vou ficar bem. – Mark também ficou sem jeito.
- Se você quiser, eu posso fazer um curativo pra você. – Eu não sei porque demorei para sugerir aquilo.
- Não, não precisa. Só o gelo eu acho que funciona. – Mark sabia que seria perturbador me ter tão perto e que seria mais um momento constrangedor entre nós.
- Tudo bem. Então, desculpe de novo. – Eu mordi o meu lábio inferior, enquanto fazia careta.
- Esquece isso. – Mark negou com a cabeça.
- Ok. – Eu dei alguns passos para trás em direção a prova.
- Eu te levo até.. – Mark apontou em direção a prova.
- Não, não precisa. Eu já te dei muito trabalho hoje. – Eu me apressei para ir até a porta para que ele não se incomodasse. Virei de costas pra ele e toquei a maçaneta da porta.
- Ei! – Mark chamou a minha atenção. Eu me virei para olhá-lo. – Se cuida, por favor. – Ele pediu com uma expressão de preocupação.
- Eu vou. – Eu sorri, agradecida. Deixei de olhá-lo e abri a porta. Saí da casa dele com o coração um pouco apertado. Era incrível o jeito que ele se preocupava comigo mesmo depois de tudo. Atravessei o jardim e entrei na minha casa.

Mark era importante pra mim. Ele sempre vai ser importante pra mim. O jeito que eu me comporto toda vez que ele me olha ou sorri pra mim deixa isso mais do que claro. Eu não me culpo por isso. Mark é a pessoa mais incrível e gentil que eu já conheci. Ele estava comigo quando eu não tinha mais ninguém. Ele me ajudou na fase mais difícil da minha vida e eu jamais vou esquecer isso. O meu coração jamais vai esquecer isso. Hoje foi só mais uma prova disso. Mark é bom demais para ser machucado e é por isso que eu tenho que ficar longe dele.

Cheguei na minha casa e voltei para a realidade. A realidade de trancar portas e janelas. Mesmo com todas essas medidas de segurança, eu ainda não me sentia totalmente segura. Era quase 8 horas da noite e eu aproveitei para fazer alguma coisa para comer. não tinha dado mais sinal de vida. Eu podia comer qualquer porcaria, mas eu preferi fazer o meu famoso macarrão. Mentira, não era famoso, mas era uma das únicas coisas que eu sabia fazer bem. Fiz o macarrão e acabei distribuindo ele em dois pratos. Pensei em levar um prato para o , mas não sei como ele me receberia. Resolvi deixar o macarrão sobre o fogão para o caso de ele sentir fome mais tarde. Me sentei sozinha na mesa de jantar para comer o macarrão, que por sinal havia ficado ótimo! Acabei de jantar e subi para o meu quarto. Cheguei a parar em frente do quarto e até pensei em bater na porta, mas eu achei melhor não. Segui para o meu quarto e fiquei lá até o final da noite.

- Finalmente consegui falar com você! – Eu disse, depois de ligar pela décima vez para a naquela noite.
- Oi, ! – sorriu ao ouvir a minha voz.
- Onde você estava, menina? – Eu perguntei, preocupada.
- Eu estava tentando falar com o . Acredita que ele sumiu a tarde toda? – disse, demonstrando irritação.
- Sumiu? Como assim? – Eu estranhei e fiquei preocupada na hora.
- Ele já apareceu. Disse que dormiu a tarde toda e não me ouviu ligar. – esbravejou.
- Fica tranquila. Você sabe que o é assim mesmo. Quando ele dorme... – Eu sorri, me lembrando com saudade do meu melhor amigo.
- Sei! Você puxa o saco dele. – vivia me dizendo isso.
- É claro que não! – Eu me defendi aos risos.
- E então, tudo bem? – , como sempre, perguntou.
- Está.. tudo bem. Eu só queria ouvir a sua voz. – Era uma pena que eu não podia contar pra ela o quão horrível foi o meu dia.
- Quando você vai vir nos visitar? – perguntou em tom de bronca.
- Eu não sei. As coisas estão complicadas por aqui. – Eu não dei muitos detalhes. – E vocês? Quando vão vir pra cá? – Eu mudei rapidamente de assunto.
- Eu estava falando hoje com o pessoal. Vai ter um feriado no mês que vem e vamos tentar dar um jeito de irmos te visitar. – deu a melhor notícia da semana.
- NÃO ACREDITO! – Eu fiquei completamente empolgada.
- Calma! Ainda vamos ver se todos nós vamos estar disponíveis, mas eu acho que vai dar certo sim. – não quis que eu comemorasse com tanta antecedência.
- Estou torcendo pra dar tudo certo. – Eu precisava tanto ver os meus amigos e o meu irmão. – E o ? Você tem visto ele? Acredita que faz dias que não falo com ele? Eu ligo para os meus pais todos os dias, mas eu nunca consigo falar com ele. – Eu fiquei com medo de que algo estivesse acontecendo com ele e tivessem escondendo de mim.
- Ele está praticamente morando na casa da agora. Nunca vi esses dois tão grudados. A avó da está doente e os pais dela vivem viajando pra cuidar da avó e deixam a sozinha. Você já sabe, né? – gargalhou.
- Conheço bem o canalha do meu irmão. – Eu também ri. – Babaca! Esqueceu de mim. – Eu xinguei.
- Está com ciúmes agora? – me provocou.
- Estou nada! – Eu segurei o riso.
- Sei! – disse com voz de desconfiança.
- Agora que já falei com você, vou dormir. Eu estou exausta! O meu dia foi muito... exaustivo hoje. – Eu disse, enquanto vestia o meu pijama.
- Você trabalhou hoje? – estranhou o meu extremo cansaço em pleno domingo.
- Não.. – Eu pensei por um segundo antes de responder. – Eu fiz alguns trabalhos da faculdade hoje. – Eu menti, já que não podia revelar o real motivo.
- Esses trabalhos são uma droga, né? – fez careta. – Enfim, não vou ficar atrasando o seu sono. – Ela não queria atrapalhar.
- Ok. Boa noite! Estou morrendo de saudades! – Eu disse, antes de desligar.
- Eu também estou! Beijos e boa noite. – fez bico.
- Beijo. – Eu desliguei o telefonema, sofrendo com a saudade gigante que eu estava dela e de todos que eu deixei lá. Me deitei em minha cama e fiquei pensando em todos eles. Eu não via a hora de abraçá-los de novo.

havia dormido por um tempo depois da nossa briga. Acordou assustado, sem saber que horas eram e sem saber se eu já havia voltado pra casa. Olhou no relógio e viu que era um pouco mais de meia-noite. Saiu preocupado de seu quarto, querendo saber se eu estava em casa. Desceu as escadas e chegou na sala de estar. Não tinha nada meu ali, mas notou que a porta estava trancada. Isso não significava grande coisa. Olhou em direção a cozinha e resolveu ir até lá. Acendeu as luzes e a primeira coisa que lhe chamou atenção foi o prato em cima do fogão. aproximou-se do fogão e viu do que se tratava. O macarrão comprovava que eu já havia voltado pra casa. O sorriso fraco e espontâneo que surgiu em seu rosto tinha motivo desconhecido. Não se sabe se era a tranquilidade de saber que eu já estava em casa ou se ele apenas estava feliz com o meu simples gesto de carinho e cuidado (ter feito e deixado macarrão pra ele).

A minha simples atitude fez com que ele se esquecesse da nossa briga e até mesmo da sua decepção. não conseguia conter os seus sentimentos quando uma coisa tão simples como essa acontecia. Levou o prato ao micro-ondas e depois sentou-se na mesa de jantar para comer o macarrão. Enquanto comia, voltou a se lembrar da briga que havíamos tido. Talvez ele tivesse exagerado um pouco. Mesmo não querendo reconhecer, sabia que a sua rivalidade com o Mark tinha sido um dos motivos que o fez acusar Mark precipitadamente. Na verdade, não duvidava que fosse o Mark. Ele não o conhecia e muitas pistas apontavam pra ele, mas ainda não era o momento certo para acusar alguém. Talvez não seja o Mark. chegou a essa conclusão não porque confiava no Mark, mas porque confiava em mim. Se eu havia dito com tanta certeza que não era ele, então ele poderia deixar o seu ciúmes de lado e me ouvir pelo menos uma vez.

acabou de comer o macarrão e levou o prato até a pia da cozinha. não sabia o que fazer. Sair de casa não era uma opção. Ele não queria me deixar sozinha. Já que era tarde, resolveu voltar a dormir. Certificou-se de que a casa estava bem trancada e que os alarmes estavam ligados e voltou para o andar de cima da casa. Chegou na porta do seu quarto e olhou em direção ao meu quarto. Estava tudo tão silencioso, que ele imaginou que eu já estivesse dormindo. Aproximou-se com cuidado da porta do meu quarto e a encarou por um bom tempo antes de decidir abri-la. Girou a maçaneta da porta silenciosamente e de lá conseguiu me ver na cama. Não conseguiu se conter e adentrou o quarto. Aproximou-se silenciosamente da cama e parou em frente dela. Me viu dormir calmamente e sorriu espontaneamente. Perguntou-se como poderia ficar com ódio de alguém que mais parece um anjo dormindo. Perguntou-se também como alguém poderia querer o meu mal. De uma coisa ele sabia: não deixaria ninguém fazer algum mal a mim. abandonou o quarto mais tranquilo. Nada lhe dava mais tranquilidade do que saber que eu estava bem. passou pelo banheiro antes de voltar para o seu quarto. Demorou algum tempo para pegar novamente no sono.

Depois de me virar para um dos lados da cama, meus olhos acabaram se abrindo sem qualquer motivo. A escuridão me fez perceber que ainda não havia amanhecido. Porque eu havia acordado mesmo? Ah, é mesmo! Alguém adivinha? Depois de me espreguiçar, estiquei o meu corpo e acendi o abajur que ficava ao lado da minha cama. Avistei o celular sobre o criado- mudo e o peguei. O relógio marcava exatamente 03:30 da madrugada. Que surpresa! Eu sempre acabo acordando naquele maldito horário (ou um pouco antes) e sempre me lembrava do responsável por essa minha obsessão. Era um pouco mais estranho agora, porque nós não estamos em um bom momento. É tão fácil me lembrar e sentir a falta dele naquele horário especifico, mas agora? Agora que nós estamos em pé de guerra? Porque eu continuava acordando naquele horário? Porque eu sentia um vazio dentro de mim a cada vez que eu via o relógio marcar 3:35? Eu não consigo entender.

Mesmo com todas aquelas perguntas, eu voltei a me aconchegar em minha cama. Meus olhos percorreram o quarto procurando o meu sono, que acabaria tornando tudo aquilo mais fácil. Até mesmo os nossos momentos de ódio colaboravam para aquela ‘ressaca emocional’. O que eu não sabia é que ainda compartilhava daquela estupidez sem sentido também. Em seu quarto, ele também havia voltado a acordar. O teto que ele insistia em olhar continuava sem lhe dizer absolutamente nada. Os pensamentos não abandonavam a sua mente um só segundo. Até mesmo as nossas brigas se tornavam momentos que faziam a rotina da sua madrugada. estava mais do que acostumado a acordar naquele horário e ele sabia exatamente a rotina de todas as noites. Ele sabia que ficaria algum tempo acordado, então decidiu fazer diferente naquela noite. Já que ele demoraria algum tempo para voltar a pegar no sono, porque perder o seu tempo olhando incansavelmente para o teto? se levantou lentamente da cama, foi até a porta e a abriu. Os passos silenciosos não queriam me acordar. Ele desceu as escadas e foi diretamente até a cozinha. Ao acender a luz, seus olhos arderam com tanta claridade, mas aos poucos eles foram se adaptando.

O meu sono estava custando a voltar e isso me deixava irritada. Meus olhos já olhavam com impaciência para qualquer coisa que encontrasse pela frente, mas eles mudaram repentinamente quando eu ouvi um barulho. Eu parei até mesmo de respirar. Levantei a minha cabeça rapidamente e encarei a porta, esperando que alguém a escancarasse a qualquer momento. As ameaças constantes que eu venho recebendo me deixaram ainda mais assustada. Eu me sentei na cama e me mantive em silêncio, esperando ouvir qualquer outro barulho para ter certeza de que eu não estava louca. O barulho veio e o meu coração quis sair pela boca. Eu tentei pensar no que fazer, mas eu estava nervosa demais para isso. Eu tirei o lençol de cima do meu corpo e me levantei lentamente da cama. Olhei em volta e procurei qualquer coisa com a qual eu pudesse me defender. Não havia nada. A melhor coisa que eu encontrei foi um sapato de salto. Me desculpe se eu não tenho uma faca escondida na minha gaveta de calcinhas, ok? Peguei o sapato com uma das mãos e encarei a porta. Toquei a maçaneta e a girei com todo o cuidado. Olhei para o corredor e vi que não havia ninguém ali. Eu estava de pijama e descalça quando eu comecei a caminhar silenciosamente por aquele corredor enorme. A cada quarto que eu passava, eu temia que alguém saísse de lá de dentro. Quando eu estava no meio do corredor, eu voltei a ouvir um barulho. Ele vinha do andar debaixo da casa. Andei mais rapidamente até a escada e comecei a descê-la com cuidado. O sapato ainda estava em minha mão. Eu estava suando frio e quando eu vi a luz da cozinha acesa eu senti vontade de sair gritando. A cozinha! O mesmo lugar em que haviam me deixado aquela ameaça. Será uma nova ameaça? Terminei de descer as escadas e encarei a entrada da cozinha. Com certeza havia alguém ali! Eu respirei fundo e fechei os olhos por poucos segundos. Segurei firme o sapato e adentrei a cozinha repentinamente.

O susto que levou foi inacreditável. Os olhos dele se esbugalharam, quando ele virou o seu rosto em minha direção. Quando ele viu que era eu, tentou disfarçar o susto. Olhou pra mim e me viu com aquele sapato na mão e aquela expressão ameaçadora. A expressão de susto se transformou em julgamento. arqueou uma das sobrancelhas.

- Mas o que você está fazendo!? – fez careta. Ao vê-lo, eu senti um enorme alivio.
- Você me assustou! – Eu suspirei, abaixando a minha mão que segurava o sapato.
- O que você está fazendo com esse sapato? – Ele apontou e olhou para o sapato em minhas mãos.
- Eu não sei se você lembra, mas tem alguém querendo me matar. – Eu me defendi, pois percebi que eu seria zoada.
- E o que você ia fazer? Atacar o seu sapato nele? – não conseguiu evitar o som e o sorriso de deboche.
- Olha... – Eu me irritei com o seu comentário. – O que você está fazendo aqui? São... – Eu olhei no relógio com a intenção de dizer o horário, mas quando o vi eu desisti de dizer.
- 3:35? – completou a minha frase, me olhando um pouco mais sério. É impossível ficar com raiva desse jeito, sabia? Eu olhei pra ele e tentei disfarçar, mas eu tenho certeza que eu não consegui. A troca intensa de olhares foi inevitável.
- É... – Eu concordei, desviando o olhar. – Tanto faz. – Eu saí da frente dele e fui até a geladeira para pegar um pouco de água. Na verdade, eu só queria um motivo para deixar de olhá-lo.

Cada momento daquele e cada olhar trocado nos deixava daquele jeito. É como se voltássemos aos velhos tempos e no segundo seguinte voltássemos a realidade. A realidade em que fingíamos que a única coisa que existia entre nós era uma simples atração física. Os olhos dele me acompanharam. A minha reação só deixou as coisas mais óbvias para ele. Peguei a garrafa de água e um copo e os coloquei sobre a bancada. Me sentei em um dos bancos altos que ficavam em torno da bancada da cozinha. estava do outro lado da bancada.

- Você ainda não disse o que veio fazer aqui. – Eu achei que já havia me recomposto o suficiente. Coloquei um pouco de água no copo.
- Eu perdi o sono. – respondeu sem qualquer problema, já que aquilo não deixava de ser verdade, não é? Depois de beber o copo de água, eu o olhei. Atrás dele, vi que algo estava no fogo.
- O que você está fazendo? – Eu apontei a cabeça em direção ao fogão.
- A única coisa que eu sei fazer bem. – afirmou, virando-se na direção do fogão e tirando uma caneca do fogo.
- Chocolate quente. – Eu não tive duvidas ao sentir o cheiro maravilhoso de chocolate. Ele colocou a caneca ainda quente sobre a bancada e foi até o armário pegar uma caneca menor. Ao voltar para a bancada, ele colocou duas canecas sobre ela.
- Você quer? – me olhou prestes a me servir. Ele achou que não seria nada demais, já que eu também havia deixado macarrão pra ele. Eu demorei alguns segundos para responder. Havia uma enorme história por detrás daquele simples chocolate quente e eu não tenho certeza se eu quero recordá-la.
- Eu acho que vai me ajudar a dormir. – Eu usei a primeira desculpa que me veio na mente. Ele sorriu discretamente, enquanto colocava o chocolate quente na caneca em minha frente.
- E então? – sentou-se em um dos bancos do outro lado da bancada, ficando de frente pra mim. – Qual era o plano? Vir aqui e atacar a pessoa com o seu sapato? – Ele me olhou entre risos.
- Eu não tinha tantas opções. – Eu me defendi, aproximando a caneca da minha boca.
- Que tal se você me chamasse? – disse, ficando um pouco mais sério. – Qual o problema em pedir a minha ajuda? – Ele indagou.
- Eu não tinha certeza se tinha mesmo alguém na casa. – Eu disse, depois de beber um gole do chocolate quente.
- E se tivesse? – arqueou uma das sobrancelhas.
- Não tinha, ok? Relaxa. – Eu quis evitar o drama.
- Você não poderia facilitar as coisas pra mim uma só vez, não é? – não tirava os olhos de mim.
- Esse é o meu trabalho. – Eu afirmei e o vi sorrir, abaixando os seus olhos e olhando para a caneca em suas mãos. O riso dele me fez sorrir também e me fez perceber que ele não estava tão bravo comigo quanto eu achava. Permanecemos em silêncio por alguns segundos. – Sabe que existe um jeito de facilitar as coisas pra você, não sabe? – Eu perguntei, voltando a chamar a atenção dele.
- Contar para os seus pais? – deduziu, me olhando intensamente. A intensidade era tanta, que eu conseguia sentir que ele olhava pra mim sem nem mesmo estar olhando pra ele.
- É... – Eu afirmei, levando a caneca até a minha boca novamente e tomando mais um gole do chocolate quente. Os olhos dele se perderam em qualquer lugar da cozinha.
- Você está certa. Seria muito mais fácil, mas... – hesitou em continuar a frase. A pausa me fez olhar pra ele, que também voltou a me olhar para terminar a sua frase. – Você sabe que eu sempre prefiro as coisas mais difíceis. – Ele completou e eu senti o meu corpo todo estremecer. Eu não sabia o que fazer. Sorrir me faria parecer oferecida demais. Ignorar me faria parecer arrogante demais. deixou de me olhar e eu consegui voltar a respirar normalmente. Era uma droga ver que pra ele era apenas uma frase, mas pra mim era mais um motivo para me manter acordada todas as noites. Mesmo entendendo a sua indireta, a resposta não foi muito clara pra mim. Não respondeu o que eu queria saber.
- Sério, ... – Eu o olhei com mais atenção. – Porque você está fazendo isso? Você poderia... ligar para os meus pais. Você teria um problema a menos se fizesse isso, mas... você está aqui perdendo o seu tempo comigo e com as nossas brigas. Por quê? – Minhas mãos brincavam com a caneca de chocolate quente, mas os meus olhos seguiam fixos nele.
- Não estar aqui significa que você vai ter que voltar pra Atlantic City. – afirmou e quando percebeu que poderia não ter sido tão claro, ele resolveu explicar de forma mais explicita. – Eu estou aqui por você. Se é isso o que eu preciso fazer pra você não abandonar a sua faculdade e o seu sonho, eu faço! – Ele não teve receio algum em dizer aquilo, mas eu senti receio ao ouvir. Eu não senti só receio. Eu senti um turbilhão de coisas de uma só vez.
- Você fala como se você se importasse. – Eu disse e imediatamente tomei outro gole do chocolate quente, porque eu não queria demonstrar qualquer instabilidade.
- Já parou pra pensar que eu posso me importar? – perguntou sem qualquer hesitação. A pergunta dele gerou uma troca de olhares constrangedora. – Você é a irmã do meu melhor amigo. – Ele completou para tentar melhorar o clima que havia se estabelecido ali. A frase dele me fez sorrir involuntariamente.
- E sua ex-namorada. – Eu adicionei entre risos.
- E isso é uma coisa ruim? – também sorriu. – Eu sei que acha que eu deveria te odiar por isso, mas eu não odeio. – Ele completou.
- Você já me odiou por muito menos. – Eu disse, erguendo os ombros.
- Tipo o que? Você torcer pro Peter na escolha pelo capitão do time de futebol da escola? Isso é muito pior! Qual é! – riu sem emitir som ao se lembrar do acontecido.
- Ele era o meu namorado. – Eu me defendi em meio a risos.
- Viu? Outro motivo enorme pra te odiar! – continuou a brincadeira.
- O Peter não pode ser um motivo maior pra você me odiar do que o fato de eu ser a sua ex-namorada. Qual é! Isso é quase como uma regra. Nada é pior do que uma ex-namorada. Todo mundo sabe disso. – Eu continuava argumentando a meu favor, mas não deixava a brincadeira de lado.
- Sabe o que é pior? Cantar uma música cheia de insultos pra mim. Isso sim é um ótimo motivo pra te odiar. – ficou empolgado ao se lembrar daquele fato.
- Sabe o que realmente é pior? Fazer uma lista das garotas com quem você já saiu. – Eu cerrei os olhos em meio a um sorriso.
- Você não sabe brincar, sabia? – também cerrou os olhos.
- Eu só disse verdades. – Eu ergui os ombros, enquanto ria.
- Sabe o que é mais engraçado? Naquela época, nós vivíamos dizendo que um dia lembraríamos de tudo aquilo e iriamos rir. Aqui estamos nós! – abriu os braços.
- E será que um dia vamos rir disso também? Eu quero dizer... de toda essa história de ameaças. – O meu sorriso diminuiu um pouco ao voltar a tocar naquele assunto.
- É claro que vamos. – afirmou com tanta segurança, que chegou a me impressionar.
- Como pode ter tanta certeza? – Olhei pra ele com um fraco sorriso.
- E porque eu não teria? – percebeu que havia algo de errado na minha pergunta.
- Como tem tanta certeza de que algo não vai acontecer comigo? Como tem tanta certeza de que eu vou estar lá pra rir disso com você? – Apesar de o assunto ser complicado, eu não queria demonstrar tanto drama, portanto, sempre tentava dar um sorriso parra disfarçar.
- Porque tem alguém cuidando de você. Alguém, que por acaso é a única pessoa em quem eu confio para fazer esse trabalho. – afirmou com um discreto sorriso.
- Você? – Eu deduzi, enquanto tentava esconder um simples sorriso.
- Quem mais faria isso, quando tudo o que você faz parece uma missão suicida? – não disse por mal, mas eu entendi o que ele queria dizer.
- Eu realmente não facilito as coisas pra você, não é? – Eu até me senti mal por parecer uma idiota mal agradecida. Não parecia justo com ele. Pelo menos, não agora em que não há provocações entre nós.
- Não se preocupa. Isso nunca foi um problema pra mim e não é agora que vai ser. – negou com a cabeça, pois não queria que eu me sentisse culpada por aquilo. Deixei de olhar pra ele e abaixei a minha cabeça, olhando para a caneca em minhas mãos.
- Não, eu sei que tenho sido bem difícil nos últimos dias. Eu sei que tenho sido uma insuportável mal agradecida e... – Eu neguei com a cabeça e levantei o meu rosto para voltar a olhá-lo. – Eu quero que me desculpe por isso. – Eu completei. A primeira reação dele diante do meu pedido de desculpas foi de surpresa.
- Não, ! Não precisa. – fez careta, achando o pedido de desculpas desnecessário.
- Dá pra calar a boca por um minuto? – Eu disse com um riso no canto do rosto. – Eu quero fazer isso, está bem? – Eu tentei voltar a ficar séria e riu, sem emitir som. – Eu sinto muito pelo modo como eu venho agindo e o jeito que eu tenho te tratado. Eu sei, quer dizer, agora eu sei que você só está fazendo isso pensando no meu bem. – Eu terminei de dizer e só então percebi o quão sem jeito estava.
- Eu fico feliz que tenha reconhecido as minhas intenções, mas você não precisa se desculpar. Ao invés de se desculpar, você pode apenas prometer que vai me deixar cuidar de você. – propôs, vendo uma vantagem enorme naquela proposta. Eu ainda ficava boba toda vez que ele falava que queria cuidar de mim.
- Está bem, então eu prometo. – Eu prometi sem qualquer hesitação.
- Sério mesmo? – me olhou com desconfiança.
- Sério! – Eu disse, achando graça da sua desconfiança. – É só me dizer como eu posso te ajudar nisso. – Eu estava disposta a facilitar as coisas pra ele.
- Seria bom se você me avisasse todas as vezes que for pra algum lugar. – não perdeu tempo. Era tudo o que ele queria.
- Está bem! Eu vou avisar! – Eu achei o pedido justo.
- E vai ter que me deixar te levar e te buscar todos os dias na faculdade. – me olhou, esperando a minha reação.
- Justo! – Eu ergui os ombros.
- E se escutar algum barulho no meio da noite, você vai ter que me acordar. Sem mais sapatos de saltos! – segurou o sorriso ao dizer aquilo.
- Combinado! – Eu sorri pra ele e estendi uma das minhas mãos para selarmos aquele acordo de forma convencional.
- Combinado! – apertou a minha mão, satisfeito com o nosso novo acordo.
- Já que resolvemos os nossos problemas, eu acho que vou dormir. Eu acordo cedo amanhã. – Eu fiz careta, enquanto tomava o último gole do meu chocolate quente.
- Eu preciso dormir também ou não vou conseguir acordar cedo para te levar pra faculdade e eu não vou te dar esse prazer. – brincou, levantando-se do banco.
- Foi o que eu pensei. – Eu ri sem emitir qualquer som e me levantei do banco também. Nós dois fomos até a pia e colocamos as canecas dentro dela. – Você sabe que ainda não me ensinou a fazer esse chocolate quente, não é? Você ainda está me devendo. – Eu disse, enquanto andávamos em direção a saída da cozinha.
- Não vai adiantar eu te ensinar, porque o seu jamais vai ficar tão bom quanto o meu. – me provocou e eu o olhei com indignação.
- Sabe que isso está soando como um desafio pra mim, não sabe? – Eu entrei na brincadeira, enquanto subíamos as escadas.
- Eu jamais te desafiaria porque não teria graça alguma e você sabe disso. – continuou me provocando e eu continuava achando graça de tudo aquilo.
- Eu ainda vou fazer um chocolate quente melhor que o seu. Agora é questão de honra! – Eu disse em um tom de ameaça. Nós já estávamos no corredor em que os quartos ficavam. – Me aguarde, Jonas! – Eu disse, quando começávamos a nos aproximar da porta do meu quarto.
- Jonas? Agora eu fiquei com medo. – virou o seu rosto pra me olhar.
- Para de me sacanear. – Eu também me virei para olhá-lo, cerrei os olhos em sua direção e dei um fraco empurrão em um de seus ombros. – Quer saber? O seu chocolate quente nem é tão bom assim. – Eu menti só para que ele parasse de se gabar.
- Mentirosa! – me olhou com indignação, quando paramos em frente a porta do meu quarto.
- Agora você vai ter que dormir pensando na difícil realidade em que o seu chocolate quente é uma droga. – Eu ergui os ombros.
- Qual é! Pode dizer que você adora o meu chocolate quente. – continuou cerrando os olhos em minha direção.
- Me desculpe, mas eu não vou te dar esse prazer. – Eu disse, tentando imitar a forma com que ele havia dito essa mesma frase há minutos atrás. – Sabe como é, não é? – Eu sorri, malandra.
- Ok, eu entendi. – negou com a cabeça, mostrando-se indignado.
- Não, sério... – Eu tentei ficar um pouco mais séria. – Obrigada pelo chocolate quente e pela conversa. Isso me ajudou a não pensar em... tudo isso. – Eu coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e percebi os olhos dele acompanharem o meu movimento.
- Que bom que eu ajudei de alguma forma. – sorriu fraco, voltando a olhar atenciosamente para o meu rosto. Apesar do sorriso no canto do meu rosto, notou uma certa preocupação. A sua percepção fez com que ele analisasse mais minunciosamente o meu rosto. A sua atitude fez com que ficássemos em um longo e constrangedor silêncio.
- O que foi? – Eu perguntei, depois de esperar que ele explicasse o porquê dele estar me olhando daquele jeito.
- Eu não vou perguntar se você está com medo, porque eu sei que você vai mentir e dizer que não. – disse, fazendo com que a expressão em meu rosto mudasse. Estava tão na cara assim? – Mas... – Ele hesitou continuar a frase.
- Mas... – Eu o encorajei a dizer, enquanto meus olhos cheios de medo e fragilidade estavam fixos nele.



- Eu quero que saiba que eu estou aqui com você e que eu não vou deixar nada acontecer com você. – afirmou todo sério, mas também havia uma doçura fora do comum que eu tenho certeza que ele não queria que eu notasse. – Eu prometo que não vou deixar nada acontecer com você. – Ele reafirmou, mas dessa vez em forma de promessa.
- Diante do seu péssimo histórico com promessas, eu não deveria acreditar nisso, mas de alguma forma... eu acredito. – Eu sorri sem mostrar os dentes e tentei não me deixar levar por aquelas palavras. Me deixar levar é perigoso demais.
- Eu te protegeria mesmo se eu prometesse o contrário. Não é sobre a promessa. É sobre quem eu sou. – Mesmo sendo difícil pra ele se expor daquela forma, eu percebi que tudo o que ele queria era me tranquilizar e bem... ele conseguiu.
- Mesmo depois de tanto tempo, essa é a única parte sua que não muda: o seu instinto de me proteger. – Eu sorri, demonstrando constrangimento.
- Acredite ou não. Eu posso mudar de país, posso mudar o meu nome, as minhas roupas e até o meu cabelo, mas você vai continuar sendo a única parte de mim que não muda nunca. – A frase foi muito mais intensa do que ele desejava que fosse. Ele terminou a frase com um sorriso descontraído, mas ao ver a minha reação ele se deu conta do que havia dito.
- Isso não é verdade. O seu chocolate quente... – Eu percebi que ele ficou tenso pelo que havia dito e quis descontrair um pouco o clima, mas eu também estava nervosa. – Ele ainda é o mesmo de sempre. – Eu completei com um tímido sorriso.
- O chocolate quente... – riu sem emitir qualquer som e abaixou a sua cabeça, encarando o chão por poucos segundos. – Certo. – Ele voltou a me olhar com um belo sorriso. Um daqueles sorrisos que eu não o via dar há muito tempo.
- Boa noite, . – O sorriso dele me deixava um pouco mais desestabilizada do que eu queria, então era melhor que eu me afastasse de uma vez.
- Boa noite. – respondeu, sabendo que eu estava tentando evitar qualquer problema que pudesse vir a ocorrer se caso continuássemos aquela conversa.

Empurrei a porta atrás de mim e depois de entrar no quarto, fui fechando ela de forma lenta. Meus olhos seguiam fixos em , que continuava parado em frente a minha porta. Ele certamente estava me esperando fechar a porta para ter certeza de que eu estava em um lugar seguro. Os olhos dele encararam a porta assim que ela se fechou por completo. Apesar de estar feliz com a honesta conversa que havíamos tido depois de tanto tempo, ele também estava chateado. Chateado por ver a porta daquele quarto fechada e mais uma vez estar do lado de fora dele.

Imagina a minha surpresa quando me peguei sorrindo igual uma boba, enquanto olhava pro teto do meu quarto e me mantinha deitada em minha cama. Isso nunca era um bom sinal. Pelo contrário! As palavras ditas por me fizeram ter a leve impressão de que a atração física não é a única coisa que sentimos um pelo outro e isso era um pouco assustador. Não só pelo fato de eu conhecê-lo tão bem, mas sim por me conhecer ainda mais. Eu sei até onde essas sensações, esses sorrisos e esses sentimentos vão me levar. Saber disso me dava a impressão de estar vivendo novamente a mesma história proibida. Uma história que eu sabia onde terminaria.

A situação de também não é tão diferente da minha. Sua forma de expor os seus sentimentos é bem mais explicita que a minha, mas isso não quer dizer que o seu medo de que tudo isso termine mal seja maior que o meu. é mais intenso e não consegue esconder toda essa intensidade dentro de si. Ele tinha que expor de algum jeito. Ele tem que dizer pra mim como ele se sente. Talvez isso seja um reflexo de um amor que ele reprimiu por tanto tempo. Ele sabia que não estava fazendo nada de errado, mas quando ele se dava conta de que em algumas semanas ele voltaria pra Atlantic City tudo parecia um enorme erro. É uma péssima ideia investir nessa relação, tendo certeza de que ela não vai durar.

Eu acordei naquela manhã, sabendo que teria mais um dia cansativo pela frente. Eu tinha que ir pra faculdade e depois ir pro hospital. Essa era a minha cansativa rotina. Eu mal me levantei e já queria voltar para a cama, mas eu não podia. Tentei conseguir um pouco de coragem para viver aquele dia, que eu tinha certeza que seria idêntico aos outros. Eu sai do banho e voltei para o meu quarto para me trocar. Enquanto eu penteava o meu cabelo ainda úmido, me lembrei que eu não estava sozinha naquela casa. Tem dias que eu até me esqueço que está no quarto ao lado. Ao contrário dos outros dias, eu ainda não tinha escutado nenhum barulho na casa. Onde é que ele estava?

Eu ainda tinha que terminar de me arrumar, mas eu quis ir atrás dele. Caminhei pelo corredor e parei lentamente em frente a porta do quarto em que ele estava dormindo, que estava encostada. Eu empurrei a porta bem devagar e aos poucos consegui vê-lo deitado na cama. Estranhei o seu comportamento. Nos outros dias ele acordou antes de mim. Me aproximei silenciosamente da cama e o encontrei dormindo calmamente. Quando eu me dei conta, eu já estava sorrindo sem motivo algum. Havia um lençol cobrindo parte de seu corpo e seus braços estavam aleatoriamente sobre o colchão. O rosto estava virado em minha direção e a sua respiração calma me acalmava também. Eu me agachei em frente a cama só para poder ter uma visão melhor de seu rosto. Foi como voltar na minha última noite em Atlantic City. Eu o observei dormindo durante um bom tempo. ainda não tinha aquela barba rala, que hoje está sempre em seu rosto. Me lembro de acordar, olhar pra ele e saber que ele estava ali por mim. Ele só estava ali para cuidar de mim. Meses depois, ainda está ali por mim. Ele ainda está cuidando de mim. Isso desencadeia sentimentos assustadores dentro de mim.

- . – Eu o chamei calmamente. Ele apenas se moveu na cama. – Ei, . – Eu toquei um de seus braços e foi a mesma coisa de ter dado um soco em seu estômago. Ele abriu os olhos repentinamente e sentou-se na cama em segundos.
- O que foi? – me olhou, assustado. Me ver ali ao seu lado só o deixou mais apreensivo. – O que foi que aconteceu? – Ele achou que eu estivesse acordando ele para pedir algum tipo de ajuda.
- Não aconteceu nada. – Eu não consegui evitar o sorriso. O meu sorriso valeu mais do que a frase. Ainda sentado na cama, ele deixou de me olhar para olhar o teto do quarto. – Você me assustou. – Ele respirou fundo.
- Desculpa. – Eu observei toda a sua tensão desaparecer aos poucos. – Eu acordei e você ainda não tinha acordado. – Eu comecei a explicar. – E como nós combinamos que você é quem vai me levar pra faculdade de hoje em diante... – Eu fiquei muito sem graça, porque parecia que eu estava cobrando ele. Parecia estar soando algo do tipo ‘Ei, acorde! Você tem que me levar pra faculdade agora.’.
- Sim, é claro. Eu vou levar. – não teve dúvidas sobre o nosso trato na noite passada. – Eu só preciso me trocar. – Ele passou as mãos pelo cabelo. – Estou atrasado? – Nem sequer o horário ele sabia.
- Não. Nós temos algum tempo ainda. – Eu o tranquilizei.
- Que bom. – sorriu com mais tranquilidade.
- Eu vou acabar de me arrumar ainda. Dá tempo de você se arrumar numa boa também. – Eu não queria apressá-lo.
- Está bem. – afirmou com a cabeça, observando eu me aproximar da porta.

Depois que eu sai do quarto, viu que realmente tinha algum tempo para se arrumar e não precisou ter pressa. Deu tempo de ele tomar um banho e se dar conta de que aquele dia estava bem mais frio que os outros. Isso fez com que ele tivesse que tirar as suas roupas de inverno da mala. Vestiu uma calça jeans e um moletom por cima de uma camiseta qualquer. Optou por um tênis de cano um pouco mais longo, mas bem pouco mesmo. Enquanto terminava de se arrumar, pegou-se sorrindo em frente ao espelho. Ele sorria pelo simples de fato de eu tê-lo acordado. Isso prova que o acordo feito na noite anterior foi mesmo pra valer. Isso prova que eu realmente queria que ele me levasse até a faculdade, porque eu me sentia segura com ele e porque eu o respeitava. Isso significou mais do que deveria pra ele.

Eu não demorei para terminar de me arrumar. O dia havia amanhecido nublado e a temperatura estava bem mais baixa que nos dias anteriores. Vesti um casaco que vinha até o meio das coxas por cima das roupas que eu já havia colocado. Coloquei um uma bota de cano baixo e uma touca na cabeça (VEJA AQUI). Coloquei o resto das minhas coisas dentro da minha bolsa e abandonei o quarto com a intenção de esperar terminar de se arrumar no andar debaixo da casa, mas acabamos nos encontrando no corredor.

- Já? – se surpreendeu com a minha rapidez ao me trocar.
- Já. – Eu sorri pra ele, analisando discretamente o moletom que ele tantas vezes usou na escola.
- Você já pegou tudo? – olhou para a minha bolsa.
- Peguei. Podemos ir se você quiser. – Eu disse, dando alguns passos em direção a escada.
- Vamos. – concordou, vindo atrás de mim. Descemos as escadas e eu fui direto para a porta. parou na mesinha para pegar a carteira e a chave do carro.

Saímos da casa e certificou-se de trancar muito bem a porta. Passamos pelo Big Rob, que nos cumprimentou como sempre. Ele esteve mais atento nos últimos dias, depois que inventou que estavam acontecendo dezenas de roubos no bairro. Eu e entramos no carro e depois de colocarmos o cinto de segurança, nós partimos. ligou o som, que tocava um CD dos Beatles. Não era a minha banda favorita, mas eu também não odiava aquele som. Eu até gostava um pouco. Permanecemos um bom tempo em silêncio e eu não deixei de observar que já havia aprendido o caminho até a minha faculdade. Eu não precisei dar qualquer orientação. Quando estávamos prestes a chegar na faculdade, estacionou repentinamente o carro. Eu o olhei, achando que ele pudesse ter errado o caminho até a faculdade.

- O que foi? – Eu perguntei e continuei olhando pra ele ao esperar a sua resposta.
- Eu estou a fim de tomar café da manhã. Você não? – sorriu pra mim e logo em seguida saiu do carro. Olhei rapidamente no meu relógio para saber se ainda tínhamos tempo para isso. – Nós temos tempo. – Ele disse do lado de fora da janela do carro ao bater no vidro. Eu esperei que ele se afastasse para que eu pudesse abrir a porta.
- Se tivesse me dito eu teria feito alguma coisa pra comermos em casa. – Eu brinquei ao bater a porta do carro.
- Alguma coisa tipo o que? Sucrilhos? – entrou na brincadeira, esperando que eu o alcançasse.
- Eu adoro sucrilhos, ok? Não fala assim. – Eu apressei o passo e consegui chegar ao lado dele.
- Mais do que Starbucks? – já sabia a resposta de sua pergunta.
- Não vamos exagerar. – Eu disse e ouvi ele rir. Entramos no estabelecimento e nos aproximamos do balcão.
- O que você vai querer? – virou o seu rosto para me olhar.
- Eu quero... um pedaço desse bolo. – Eu apontei e olhei para a atendente. – Também quero um cookie e... um cappuccino. – Eu finalizei o pedido. – E você? – Olhei pro .
- Quero um salgado desses e um cappuccino pra mim também. – sorriu para a atendente, que em poucos segundos nos entregou o pedido. levou a bandeja até uma mesa de dois lugares e nós nos sentamos frente a frente.
- Eu adoro esse bolo. – Eu comentei depois de colocar um pedaço na boca.
- Eu juro que não sei como você pode ter esse corpo comendo desse jeito. – provocou, enquanto mordia um pedaço do seu salgado.
- Não exagera. – Eu cerrei os olhos em sua direção.
- Sabe de quem eu me lembro toda vez que vejo cookies? – olhou para o cookie que eu havia comprado.
- De quem? – Eu perguntei, curiosa.
- Da sua avó. Eu me lembro que ela fazia os melhores cookies do mundo. – sorriu fraco ao se recordar das tardes que passou na minha casa com o .
- Você se lembra dela? – Eu fiquei um pouco em choque com o seu comentário repentino.
- É claro que eu me lembro. – afirmou com convicção. – Me lembro que eu fazia questão de ir na sua casa todos os dias só pra comer os cookies dela. – Ele sorriu.
- Mentiroso! Eu sei que você ia lá só pra me ver. – Eu fiz careta em meio a um sorriso.
- Desculpe, mas não você não pode concorrer com os cookies da sua avó. – ergueu os ombros.
- Eu só vou aceitar, porque eu sei que os cookies da minha avó eram mesmo incríveis. – Eu gostei de ouvi-lo falar da minha avó. – Já faz muito tempo, mas tem dias que eu fico o dia todo pensando nela. – Eu sorri fraco, bebendo um gole do meu cappuccino.
- Eu entendo bem como é isso. É... uma dor que não passa, né? – compreendia exatamente o que eu sentia. Eu percebi que ele estava falando de seu pai.
- Quando não é nela, é na tia Janice que eu penso. É bem mais fácil me lembrar da minha tia, porque eu moro na casa dela agora. Tudo naquela casa me lembra ela. – Eu disse, sem fazer tanto drama.
- Eu não a conhecia tão bem. Eu só a vi algumas vezes, mas eu me lembro de sempre notar o quão parecida ela era com o seu pai. Não fisicamente, mas... o jeito dela. O jeito sério, que de uma hora pra outra desaparecia quando ele fala alguma coisa engraçada ou até mesmo quando é irônico com o seu irmão. – riu ao se lembrar das diversas tiradas que o meu pai vivia dando no .
- Eles eram mesmo muito parecidos. Até a personalidade deles pareciam ser idênticas. Não só para os negócios, mas também para a família. Minha avó contava que era muito difícil eles brigarem. – Eu disse com um sorriso no canto do rosto. – As pessoas nunca acreditavam quando descobriam que a tia Janice era adotada. Ela parecia ser filha legítima dos meus avós e irmã de sangue do meu pai. – Eu disse, sem achar que aquilo fosse algo importante.
- Espera um pouco. Como é que é? – franziu as sobrancelhas.
- O que? Você não sabia? – Eu achei graça da sua perplexidade.
- A sua tia era adotada? – não conseguia acreditar. – Você está brincando comigo! – Ele negou com a cabeça.
- Viu? Ninguém nunca acredita. – Eu continuei achando graça. – Ela foi adotada quando ainda era um bebe. Nem chegou a conhecer os pais biológicos dela. – Eu expliquei.
- E ela sempre soube? – ficou curioso com a história. – Ela sempre soube, mas os meus avós davam tanto amor e carinho a ela... que isso nunca chegou a ser um problema pra ela. A tia Janice nunca foi tratada como alguém que não fazia parte da família. Ela, na verdade, era quem dava sentido as nossas reuniões de família. – Eu morria de saudades ao me lembrar de tudo aquilo.
- Ela se parece muito com o seu pai. – reafirmou, perplexo.
- Minha avó contava que quando o meu pai serviu ao exército na primeira vez, a minha tia passava o dia todo sentada na varanda da casa, esperando ele voltar. – Eu disse, enquanto comia o meu cookie.
- Seu pai serviu o exército? – descobriu outro fato desconhecido.
- Serviu, mas eu não sei bem quando foi ou quantas vezes foram. – Eu fiz careta, pois não tinha muito conhecimento sobre o assunto.
- O meu pai também serviu ao exército. Ele serviu durante um bom tempo, mas depois que conheceu a minha mãe ele abandonou a farda. – explicou, lembrando-se das histórias que sua mãe lhe contou há anos atrás.
- O queria seguir os mesmos passos do meu pai uma época, mas minha mãe fez com que desistisse. – Eu sorri, negando com a cabeça. – Eu tomaria esse cappuccino pra sempre se eu pudesse. – Eu comentei, após beber o último gole do meu cappuccino.
- Sabe que isso é um insulto ao meu chocolate quente, né? – fez cara feia.
- Ficou com ciúmes? – Eu ri, enquanto o olhava.
- Não seja tão convencida. – também riu pra mim. Ele aproveitou para me analisar discretamente, enquanto eu continuava rindo. Aquela cena fazia com que ele se lembrasse da época em que nós namorávamos. Lembrou-se de tantas vezes que dizia pra si mesmo o quanto eu ficava ainda mais bonita quando usava aquela touca. ainda não conseguia segurar as suas recaídas. – Você já comeu, né? Vamos, se não você vai se atrasar só pra variar um pouco. – Ele disse qualquer coisa que desfaçasse o modo com o qual ele havia olhado pra mim durante algum tempo.
- Vamos. – Eu afirmei com a cabeça, me levantando da cadeira. É claro que não me deixou ajudar a pagar a conta.

Saímos do local e fomos rapidamente para o carro. me deixou na faculdade alguns poucos minutos antes de tocar o sinal do início das aulas. Eu observei que ele me esperou entrar na universidade para dar partida em seu carro. Cheguei na sala e Meg ainda não havia chegado. Acho que acabei chegando um pouco cedo demais. Depois de alguns minutos, a aula começou. Meg me enviou uma mensagem de texto avisando que não iria para a aula naquela manhã. Nós só nos veríamos no hospital. Com isso, a aula acabou sendo um pouco mais entediante do que geralmente é. Eu não era a pessoa mais popular da sala e o fato de Meg não estar ali me deixava ainda mais isolada. Aproveitei o intervalo das aulas para adiantar um trabalho de bioquímica. A segunda aula acabou sendo um pouco mais longa do que deveria e eu já deduzi que teria que almoçar correndo na lanchonete do hospital. já havia me mandado mensagem, avisando que estava lá fora me esperando.

Quando a segunda aula acabou, eu tive que sair quase correndo da sala de aula ou acabaria chegando atrasada no hospital. Ao chegar no portão da faculdade, procurei e vi que ele não estava no mesmo lugar que costumava estacionar o carro. Parei atrás de 3 garotas, que comentavam empolgadamente sobre um garoto. Não demorei para notar que eram as mesmas garotas que tinham ficado cheias de graça pra cima do das outras vezes que ele foi me buscar. A notícia boa é que foi elas que me ajudaram a localizar ele. Foi só prestar atenção para onde elas estavam olhando. Quando eu olhei pro , ele imediatamente acenou para mim para o caso de eu não tê-lo visto. As garotas quase morreram, achando que o aceno foi pra elas. Trouxas! Passei por elas e fui em direção dele.

- Quando eu cheguei já tinham estacionado na vaga onde eu geralmente estaciono. – justificou assim que eu cheguei até ele.
- Elas te acharam rapidinho. – Eu apontei sutilmente a cabeça em direção às garotas, que ainda falavam sobre ele. – Se da próxima vez eu não te achar, eu vou perguntar pra elas. – Eu disse numa boa e ele sorriu, negando com a cabeça.
- Elas são até bonitinhas, mas não fazem o meu tipo. – fez careta, depois de olhar rapidamente para as tais garotas.
- Sei... – Eu encarei tudo numa boa, pois não queria que ele pensasse que pudesse estar com ciúmes.

Mesmo depois de eu ter entrado no carro com o , as garotas não sossegaram. Faz tempo que eu não via garotas tão folgadas (saudades Amber – sqn). Eu não fiquei com ódio ou ciúmes delas. Só que pode acontecer de eu SEM QUERER esbarrar com elas na escadaria da faculdade e elas acabarem rolando até o pátio. O fato é que eu não tinha direito nem a uma cena de ciúmes. Nada! Essa é a minha grande preocupação com esse inicio de reaproximação minha e do . Eu não posso começar a confundir as coisas.

Fui obrigada a rejeitar o convite do para almoçar. Eu tinha meia hora para chegar no hospital, comer alguma coisa e começar a trabalhar. Não daria tempo. Ele me deixou no hospital, dizendo que pararia para almoçar em qualquer lugar ali perto e depois iria para casa trabalhar, pois terá uma reunião importante com os gerentes do Yankees. Avisei ele que não era preciso que ele fosse me buscar, pois Meg tinha ido de carro e certamente me daria uma carona. Ele aceitou numa boa. Antes de descer do carro, quase me atrevi a beijar o seu rosto, mas a minha despedida acabou sendo um simples ‘Até mais tarde’.

Como eu já havia avisado a Meg que eu almoçaria na lanchonete do hospital, ela resolveu me esperar lá. Ela estava mais do que ansiosa para saber o que havia acontecido na noite de sábado entre eu e o . Eu entrei no hospital e desci apressadamente até a lanchonete. Ao chegar lá, avistei Meg sentada em uma das mesas. Antes de parar para falar com ela, pedi e paguei um lanche.

- Droga, estou atrasada. – Eu cheguei toda eufórica na mesa. Me sentei e coloquei o meu lanche e o refrigerante sobre a mesa.
- Dá tempo de você comer. – Meg tentou me tranquilizar.
- Nossa! Hoje a última aula acabou muito tarde. – Eu reclamei.
- Perdi muita coisa? – Meg fez careta.
- Perdeu, mas depois te empresto o meu caderno. – Eu também a tranquilizei.
- Legal. – Meg sorriu, aliviada. – E então? – Ela me olhou, demonstrando curiosidade.
- O que? – Eu segurei o riso e fingi que não sabia do que se tratava.
- Como foi? Conseguiu? – Meg disse em um tom mais baixo para que as outras pessoas que estavam ali não ouvissem.
- Consegui! – Eu sorri, sem jeito. – Foi... insano. – Eu não sabia muito bem como descrever.
- Ele desconfiou de alguma coisa? – Meg perguntou, me olhando com atenção.
- Ele desconfiou que tinha alguma coisa errada, mas não se deu conta do que era. Ontem pela manhã eu acabei contando pra ele que só aconteceu porque eu precisava que ele quebrasse a regra. – Eu resumi a história toda.
- E ele? – Meg questionou.
- Ele não ficou tão bravo e reconheceu que foi um bom plano. – Eu nem me lembrava muito bem.
- Quais as outras regras mesmo? Eu não lembro. – Meg já estava pensando no próximo plano.
- Ele não pode levar uma garota lá pra casa e não pode se apaixonar por mim. – Eu repeti as regras, enquanto tomava um gole do meu refrigerante.
- Agora, você tem que arrumar uma garota pra ele e depois vamos dar um jeito dele levá-la pra sua casa. – Meg aconselhou, focada no meu objetivo.
- Quer saber? Acho que isso nem vai dar certo. – Eu não demonstrei mais tanta vontade em fazer aquilo. – Ele sabe que eu estou tentando fazer ele quebrar as regras, então vai ficar muito mais difícil agora. Além disso, pra ele ir embora ele vai teria que se apaixonar por mim para quebrar a última regra. Ele nunca vai se apaixonar por mim. Não de novo. – Eu descartei qualquer possibilidade.
- Eu não acho que é tão difícil assim. Na verdade, eu ainda desconfio que ele sente alguma coisa muito forte por você. – Meg disse, sem pensar no quanto aquilo significaria pra mim.
- Você acha mesmo? – Eu tentei não sorrir para que ela não notasse a minha felicidade ao ouvi-la dizer aquilo.
- Eu acho. – Meg confirmou, estranhando o meu comportamento.
- Mas eu ainda acho difícil. Eu acho que é melhor eu desistir disso tudo e tentar melhorar o meu relacionamento com ele, já que vamos ter que viver juntos por um tempo. – Eu disse, sem me dar conta do que aquilo realmente significava.
- Ah.. não, . – Meg fez cara de sofrimento.
- O que? – Eu não entendi a reclamação.
- Você ainda gosta dele. – Meg afirmou, fazendo com que eu quase me engasgasse com o refrigerante.
- O que? Não! É claro que não. – Eu neguei com a cabeça.
- É claro que gosta! Você não quer que ele vá embora da sua casa. – Meg compreendeu tudo.
- Não é nada disso. – Eu fiz careta como se aquilo fosse um absurdo.
- Aposto que foi o sexo! Mexeu com você, não foi? – Meg arqueou uma das sobrancelhas.
- Fala baixo! – Eu dei uma bronca nela.
- Assume, . – Meg disse em um tom mais baixo.
- Está bem, ok? Acho que foi isso. – Eu menti porque sabia que não podia esconder pra sempre dela que eu e o estamos em uma fase boa agora e eu também não podia contar sobre o telefonema do dia anterior, que foi o que acabou nos unindo. – Mas eu não gosto dele. Nós só estamos nos dando bem agora. Acho que somos... amigos. – Eu não queria que ela achasse que aquilo tinha a ver com amor. Eu não conseguia nem assumir isso pra mim mesma, quem dirá pra Meg?
- Amigos? Qual é, ! – Meg revirou os olhos.
- Estou falando sério. Quando nós paramos de tentar irritar um ao outro... nós acabamos nos dando bem. Nós resolvemos que se vamos conviver juntos, que seja da melhor forma possível. – Eu tentei novamente explicar mesmo sabendo que ela não entenderia.

Meg e eu ficamos mais algum tempo debatendo aquele assunto. Ela insistia que eu ainda sentia alguma coisa pelo e eu negava de todas as formas. Isso, na verdade, me deixava um pouco aflita. Se a Meg está dizendo, será que estou deixando transparecer? Será que está tão na cara assim? Agora eu te pergunto: o que é que está tão na cara? Eu não consigo nem assumir pra mim mesma. Eu não consigo aceitar que possa estar sentindo algo por ele de novo.

Trabalhamos do começo da tarde até o início da noite. Eu pedi para que a Meg me levasse até em casa e ela prontificou-se a me levar na hora. também havia trabalhado durante a tarde toda. A reunião que ele teria na manhã seguinte seria de extrema importância e contaria com a presença dos gerentes que não moram em Nova York. Eles viriam exclusivamente para conhecer o e conhecer quais as suas estratégias e planos. Quando o relógio marcou um pouco mais de 7:30 da noite, começou a ficar preocupado com a minha demora. Pensou em me ligar, mas resolveu esperar mais um pouco.

- Eu adoro essa música! – Eu aumentei o volume do rádio do carro de Meg, quando a música nova do Nickelback começou a tocar.
- É a sua banda favorita, né? – Meg se lembrou daquele detalhe.
- É! – Eu afirmei, sem hesitar. Meg não fazia ideia do quanto o Nickelback foi importante no meu namoro.
- Ouvi dizer que eles vão vir tocar aqui na cidade no final da semana. – Meg disse, tentando se lembrar de detalhes do anúncio que ouviu no rádio.
- Nickelback aqui em Nova York? – Eu olhei pra ela, chocada. Como eu não sabia?
- Eu ouvi no rádio essa semana. – Meg explicou.
- Será que ainda tem ingressos? – Eu perguntei, esperançosa.
- Deve ter. Dá uma pesquisada na internet depois. – Meg aconselhou. Eu PRECISO ir a esse show.

estava sentado na mesa de jantar, quando ouviu um barulho. Levantou-se da cadeira e aproximou-se da janela. Ao ver o carro de Meg, ele ficou mais tranquilo. voltou a se sentar na mesa, aguardando a minha chegada. Ele não queria parecer ansioso demais.

- Você não quer descer? Nós podemos comer alguma coisa e conversar. – Eu sugeri, quando Meg parou o carro em frente a minha casa.
- Não, tudo bem. Minha mãe está me esperando em casa com a janta pronta. – Meg agradeceu, olhando para a casa que tinha a maioria de suas luzes acesas. – Mas... eu posso entrar um pouco. Eu quero muito ver essa coisa entre você e o . – Ela riu.
- Então, vamos! Entra comigo. Eu aproveito e separo os cadernos das matérias de hoje pra você levar e copiar. – Eu disse e em seguida desci do carro. Meg fez o mesmo e depois travou o carro.
- Ele está ai? – Meg perguntou, enquanto nos aproximávamos da porta.
- Oi Big big. – Eu acenei para o Big Rob, que vigiava a casa com toda a atenção.
- Oi. – Meg também o cumprimentou.
- Boa noite, garotas. – Big Rob acenou com a cabeça.
- Então, ele está ai sim. – Eu finalmente respondi a pergunta da Meg.
- Prevejo ele me recebendo com 70 pedras nas mãos. – Meg brincou quando já estávamos há alguns passos da porta.
- Veja bem o que você vai falar. – Eu disse, tocando na maçaneta da porta e a girando. – Entra. – Eu de passagem para que Meg entrasse na casa. Da mesa de jantar, olhou para a porta e nos viu entrando.
- Está tão frio lá fora. – Meg cruzou os braços, adentrando na casa.
- Eu estou congelando. – Eu concordei com ela, enquanto ia em direção ao . Meg vinha logo atrás de mim.
- Hey. – sorriu, quando eu parei perto da mesa e olhei pra ele.
- Hey. – Eu devolvi um sorriso mais tímido.
- Há quanto tempo, Meg. – deixou de me olhar para olhá-la.
- Pois é! Já estava morrendo de saudades. – Meg ironizou, me fazendo rir silenciosamente.
- Né? Tirou as palavras da minha boca. – também ironizou.
- Você está trabalhando? – Eu interrompi toda aquela ironia desnecessária.
- Não. Eu já acabei. – fechou as pastas que estavam sobre a mesa.
- A estava me contando que você é o responsável pela conta milionária do Yankees. – Meg entrou no assunto.
- Na verdade, eu ainda não sou. – corrigiu a Meg. – Eu quase sou, mas ainda não sou. – Ele completou.
- Nossa, mas que garoto prodígio, não é? Tão novo e tão requisitado no mercado de trabalho. O que será que você tem de tão importante? – Meg arqueou uma das sobrancelhas.
- Deve ser o meu charme. – ergueu os ombros, fingindo estar se gabando.
- É, aparentemente o seu charme tem muita influência sobre muitas pessoas. – Meg disse e quando eu percebi que ela se referia a mim, eu a olhei com um olhar ameaçador.
- Então, eu vou pegar as matérias pra você poder levar e copiar. – Eu fiz questão de mudar de assunto. Fui até a minha bolsa tirei o meu caderno de lá.
- Copiar a matéria? Então, você também é cdf? Finalmente encontrei alguma semelhança entre você o . – comentou apenas para sacanear a Meg.
- Mas eu ainda não consigo encontrar o que é que vocês têm em comum. Ainda não consigo aceitar que vocês possam ser melhores amigos. – Meg sorriu para o para demonstrar que não havia se intimidado com as suas palavras.
- Aceita que dói menos. – foi curto e grosso. – Eu sou um dos melhores amigos do e você vai ter que me engolir de um jeito ou de outro. – Ele piscou um dos olhos pra ela ao se levantar da mesa.

Meg e não tinham mais jeito mesmo. Acho que eles nunca vão se aturar. Para a Meg, odiar o significava estar do lado do Mark. também a detestava pelo mesmo motivo. Ele sabia que ela era ‘Team Mark’ e isso o deixava furioso. Talvez algum dia eles descubram um no outro as qualidades que todos a nossa volta veem, mas só eles não conseguem enxergar.

Entreguei de uma vez o caderno para a Meg, antes que ela saísse no tapa com o . Ela foi embora depois de se despedir friamente do . Eu a acompanhei até o carro e notei as diversas vezes que ela olhou para a casa de Mark. Com certeza ela iria vê-lo se ele estivesse em casa, o que não parecia ser o caso já que casa dele estava toda escura e o carro não estava na garagem. Acabei nem contando pra ela sobre a briga entre o Mark e o , já que de qualquer forma eu não iria poder contar o motivo dela ter acontecido. Espero que o Mark também não conte a ela. É melhor que não envolvê-la nessa história também.

- Ela me odeia mesmo, não é? – disse, quando me viu entrar na casa novamente.
- Acho que é recíproco. – Eu sorri sem mostrar os dentes e o pareceu ter concordado.
- Ela sabe sobre... – não precisou nem terminar a frase, pois eu já sabia o que ele queria saber.
- Não, não sabe. Já tem pessoas demais envolvidas nessa história. – Eu disse, me sentando ao lado dele no sofá.
- E então? Foi tudo bem hoje? – virou o seu rosto pra me olhar.
- Está me perguntando se eu recebi mais alguma ameaça? Não, eu não recebi. – Eu disse o que ele queria saber.
- Que bom. – sorriu pra mim e eu imediatamente lhe devolvi o sorriso. – Você está com fome? – Ele perguntou.
- Na verdade, estou. – Eu fiz careta.
- O que você nós vamos comer? – ficou com medo da minha resposta.

Demoramos algum tempo para decidirmos o que nós íamos comer. Cogitamos pizza algumas vezes, mas ambos concordamos que enjoamos um pouco de pizza, já que foi o que nós mais comemos na última semana. Concordamos que hot-dog era a nossa melhor opção. Enquanto o foi ao mercado comprar algumas coisas que faltavam para fazermos o nosso hot-dog, eu fui tomar um banho.

Nós fizemos os hot-dogs juntos. Foi muito divertido e engraçado. Nós nunca sabíamos qual era a ordem dos ingredientes e cada hora fazíamos de um jeito diferente. A situação fez com que nos lembrássemos daquela vez que fizemos arroz juntos. Ficou horrível! insistiu que a culpa era minha, mas eu dizia que era toda dele. Nós passamos o resto da noite brincando e rindo um com o outro.

- Que horas é a sua reunião amanhã? – Eu perguntei, depois de sentarmos no sofá. Nós já havíamos arrumado toda a bagunça que havíamos feito na cozinha.
- Está marcada pra 9:30. – afirmou. – Vai ser no Gramercy Hotel. – Ele citou o conhecido hotel da cidade.
- Você está nervoso? – Eu virei o meu rosto pra olhá-lo.
- Só um pouco. Eu não faço ideia do que esses gerentes vão achar de mim ou do meu trabalho. Se eles não gostarem, vai tudo por água abaixo. – Depois de muito tempo, voltou a falar e a demonstrar as suas fragilidades pra mim.
- É claro que eles vão gostar. Você é o melhor no que você faz, não é? Duvido que eles não vão gostar! – Eu tentei tranquilizá-lo e ele sorriu de forma doce, surpreso com o meu apoio.
- Eu espero. – ficou até meio sem jeito diante daquela situação, que não acontecia a tempos. Aquele momento que tivemos fez com que ele lembrasse novamente da época em que nós namorávamos. Nós estávamos sempre nos apoiando e encorajando um ao outro. Durante o nosso tempo separados, ele não tinha tanta noção da falta que certas coisas faziam, mas agora, vivendo tudo isso outra vez ele percebeu o quanto isso fez falta.

Acabei indo dormir, pois estava cansada. ficou acordado até um pouco mais tarde, porque quis ensaiar um pouco mais a apresentação que ele faria na manhã seguinte diante de todos os gerentes e representantes do Yankees. Quando decidiu ir dormir, demorou um pouco mais do que o normal. Ele estava tenso sim com a reunião, mas não era só isso que o preocupava. A nossa reaproximação também o deixava muito preocupado. Isso nunca fez parte dos seus planos e agora que isso está acontecendo de forma totalmente involuntária, ele não sabe como evitar.

Mesmo tendo dormido pouco e saber que precisava estar descansado para amanhã, se levantou aproximadamente ás 3:30. Ele não sabia se era besteira da sua parte ou se era o tipo de situação que só ele imaginou, mas ele queria testar. Ele desceu para o segundo o andar e foi para a cozinha. Quando ele começou a preparar o chocolate quente, eu consegui ouvir da minha cama. Eu já estava acordada, mas ao ouvir o barulho eu fui obrigada a me levantar e ir até lá. O frio me dizia para voltar para a cama, mas eu preferi ignorá-lo. Arrumei rapidamente o meu cabelo, enquanto descia as escadas. Cheguei na cozinha e o encontrei sentado em um dos bancos altos. As mãos estavam apoiadas na bancada, onde também havia duas canecas. Uma caneca estava próxima dele e a outra estava do outro lado da bancada, onde eu havia sentado na noite anterior.

- Sabia que era você. – Eu disse e ele me olhou, encontrando um enorme sorriso no meu rosto, que o fez até perder o rumo.
- E eu sabia que você viria. – devolveu o sorriso, me deixando meio sem graça. Ele ainda estava com cara de sono, que o fazia parecer ainda mais adorável.
- Não achei que você fosse acordar já que amanhã é um dia importante pra você. – Eu disse, me aproximando da bancada. Eu me sentei de frente pra ele e dei uma rápida olhada na caneca que me esperava.
- Eu sei o quanto você gosta do chocolate quente, por isso, eu não me importo em fazê-lo. – disse, me vendo tomar um gole do chocolate. – Além disso, eu gosto de... conversar com você. – Ele pareceu sem jeito. – A nossas conversas costumam fluir melhor nesse horário. – completou, tentando tirar o foco da sua frase anterior.
- Porque será? – Eu disse, antes de tomar mais um gole do chocolate quente. O sorriso sem jeito que ele deu respondeu a minha pergunta.
- E então, foi tão ruim? – perguntou e eu não sabia do que ele estava falando.
- O que? – Eu o olhei um pouco mais séria.
- Hoje. Você e eu colaborando um com o outro. – complementou a sua pergunta.
- Não, não foi. Na verdade, nós nos saímos melhor do que eu imaginava. – Eu dei o braço a torcer.
- Eu também achei. – concordou comigo. – Eu acho que vamos conseguir manter as coisas desse jeito até eu precisar ir embora. – Ele sorriu fraco. Só em ouvi-lo falar em ir embora, eu já estremeci. A minha reação também foi uma surpresa pra mim.
- Você... já sabe quando você vai embora? – Eu perguntei como quem não queria nada.
- Depende. Você pretende continuar com esse seu plano de me fazer quebrar todas as regras? – disse de forma descontraída.
- Eu vou pensar no seu caso. – Eu fiz cara de pensativa.
- Isso já me deixa com um pouco de esperanças de ficar um pouco mais. – riu, negando com a cabeça.

Terminamos de tomar o chocolate quente e subimos juntos para o andar de cima. novamente me acompanhou até a porta do meu quarto. O clima entre nós foi o mesmo da noite anterior. Estávamos agindo como dois adolescentes que acabaram de se conhecer. Ficávamos tímidos o tempo todo e agíamos como se não soubéssemos o que todo esse nervosismo que sentíamos quando estávamos juntos queria dizer.

Não estava sendo fácil para nenhum de nós dois. Ambos sabíamos o que acontecia todas as vezes que acabávamos ficando juntos. Nós sempre acabamos magoados e decepcionados. Se qualquer outra amiga minha estivesse nessa mesma situação, eu a aconselharia a ir devagar e não tirar conclusões precipitadas. Acontece que comigo e com o é impossível fazer isso. Não dá pra ir devagar! No primeiro sorriso que trocamos, já era! Todo o trajeto que tínhamos que fazer devagar, foi feito instantaneamente no momento em que nos reencontramos naquele bar.

Acordei na manhã seguinte um pouco mais atrasada que no dia anterior. Quando fui ao banheiro para tomar banho, notei que já estava acordado, pois ouvi alguns barulhos que vinham do seu quarto. Deduzi que ele estivesse se arrumando, então não quis incomodá-lo. Tomei um rápido banho e voltei para o quarto para me arrumar. Tive que vestir novamente uma roupa bem quente, já que o dia havia amanhecido tão frio quanto o anterior. Vesti uma calça jeans branca, uma camiseta preta de mangas longas com estampas e uma bota de cano longo. Como achei que passaria frio, vesti uma jaqueta clara de couro por cima da camiseta. Arrumei o meu cabelo, coloquei alguns acessórios e passei uma maquiagem bem clara e simples. Resolvi colocar um cachecol em volta do pescoço antes de sair do quarto com a minha bolsa nas mãos.

- Posso entrar? – Eu bati na porta do quarto dele. Ao invés de responder, preferiu abrir a porta.
- Hey. – sorriu ao me ver. Uma das mãos dele estava na gravata que ele vestia. Provavelmente ele estava terminando de arrumá-la. – Eu estou quase pronto. – Ele disse, afastando-se da porta e indo até o espelho. Ainda parada na porta, eu o observei. Ele vestia um terno elegante e sapatos. Caramba! Eu até havia me esquecido o quão incrível ele ficava quando vestia-se socialmente.
- Sem pressa. – Eu neguei com a cabeça, sem tirar os olhos dele. Notei que o cabelo estava arrumado, devido a importância da reunião. – Eu posso ir pra faculdade sozinha hoje. Eu não quero que você se atrase. – Eu disse, vendo ele terminar de se arrumar com pressa.
- Não. É claro que não. – negou com a cabeça, virando-se pra me olhar. – Eu já acabei. – Ele abandonou o espelho, pegou alguns papeis que estavam sobre a cama e veio em minha direção.
- Tem certeza? – Eu estremeci ao olhá-lo de mais perto. Ele estava parado na minha frente.
- Tenho. – afirmou com um sorriso. – Como eu estou? Está bom assim? – Ele abaixou o seu rosto para olhar para a sua roupa. Foi a pergunta mais idiota que eu já ouvi.
- Está! – Eu afirmei, olhando ele dos pés a cabeça. Levei as minhas mãos até a gravata em volta de seu pescoço com a intenção de ajeitá-la, já que ela estava torta. – Agora sim. Está perfeito. – Eu sorri, fechando os botões do seu paletó.
- Valeu. – ficou visivelmente sem graça, mas ainda havia um sorriso no canto do seu rosto, enquanto ele me olhava com carinho. Eu me afastei, quando percebi que poderia estar sendo atirada demais.

Deixamos aquele clima extremamente estranho de lado e tratamos de nos apressar ou ambos chegaríamos atrasados. Descemos as escadas e eu corri para pegar uma fruta para comer no intervalo entre as aulas, já que não daria tempo de tomarmos café. Trancamos a casa e fomos para o carro. dirigiu o mais rápido que ele conseguiu, mas ainda pegamos alguns semáforos fechados. Foi muita correria.

- Está entregue. – disse, estacionando o carro em frente da faculdade.
- Obrigada. – Eu virei o meu rosto para olhá-lo e notei que ele também me olhava. – Não fica nervoso. Eu tenho certeza que você vai se sair muito bem. – Eu disse, porque percebi que ele continuava nervoso.
- Obrigado. – sorriu, sem mostrar os dentes. Ficou tão agradecido com o meu apoio, que um simples obrigado não pareceu suficiente. Aproximou repentinamente o seu rosto do meu e beijou carinhosamente uma das minhas bochechas. No mesmo instante, eu senti o meu corpo inteiro se arrepiar. – Obrigada mesmo. – Ele completou, olhando o meu rosto de bem perto. Os olhos dele fizeram um rápido tour pelo meu rosto e eu decidi me afastar antes que o meu coração parasse.

- Tudo bem. – Eu neguei com a cabeça, enquanto abria a porta do carro.
- Boa aula. – ficou sem graça, quando viu eu me afastar tão repentinamente. Ele achou que eu não tivesse gostado da sua atitude.
- Obrigada. – Eu disse, saindo de vez do carro e batendo a porta.

Eu não queria aceitar o quanto aquela proximidade mexia comigo. Eu queria que aquela aproximação acontecesse e ao mesmo tempo eu não queria. O jeito que tudo aquilo me afetava me deixava preocupada. Eu me perguntava a todo o momento o que tudo aquilo queria dizer. Será que eu voltei a sentir algo maior pelo ? Será que algum dia eu deixei de amá-lo? Será que ele vale a pena o risco? Talvez algum dia eu saiba.

Eu fui para a aula, mas a minha cabeça estava longe. Estava naquela reunião, onde o estava. Eu nem mesmo sabia quais assuntos seriam discutidos naquela reunião ou para que ela servia, mas o nervosismo do me fez ter uma pequena noção do quão importante ela era. Eu estava mesmo torcendo para que desse tudo certo pra ele, porque eu sei o quão importante isso é pra carreira profissional dele. Obviamente a Meg notou o meu estranho comportamento. Ela me perguntou várias vezes o que é que eu tinha e eu sempre desconversava.

- E você e o ? Já voltaram a brigar? – Meg perguntou, quando o professor terminou a última aula.
- Ainda não e nem sei se vamos. – Eu disse, enquanto guardava o meu caderno dentro da bolsa.
- E mesmo vocês sendo melhores amigos agora, ele não se tocou e quis ir embora da sua casa? – Meg disse, enquanto me esperava para sairmos da sala.
- Ele não vai embora. Só se ele quebrar as outras duas regras, mas eu duvido. – Eu pendurei a minha bolsa em um dos meus ombros.
- É só nós arrumarmos uma garota pra ele! Ele vai acabar quebrando mais uma regra. – Meg deu a ideia, como se eu já não tivesse pensado nisso.
- Não é tão fácil assim. – Eu neguei com a cabeça, enquanto nos dirigíamos em direção a saída da faculdade.
- Arrumar uma garota é fácil. O que não deve ser fácil é ver ele com outra, né? – Meg disse, sabendo o que estava acontecendo ali.
- Não é nada disso, Meg. – Eu rolei os olhos. Ela cismou com isso! – Nós estamos nos dando bem agora. Eu não quero ter que trapaceá-lo e expulsá-lo da minha casa. – Eu expliquei os meus motivos, quer dizer, uma parte deles. Nós passamos pelo portão da faculdade e como sempre, havia muitas pessoas lá na frente. – Ele está ali. – Eu consegui achar o no meio de toda aquela gente. Ele estava encostado em seu carro e olhava distraidamente para os alunos que passavam por ele. – Vai dizer que ele não está maravilhoso com aquela roupa? – Eu voltei a olhar pra Meg.

- Quem vê ele assim acha até que ele é um cara decente. – Meg disse, implicando com ele como sempre. Eu rolei os olhos e neguei com a cabeça, desaprovando o seu comportamento. Olhei pra trás novamente para vê-lo e notei que ele ainda não tinha me visto. Logo atrás de mim também estavam as 3 garotas, que todo dia ficavam secando ele na saída da universidade.
- Nossa! De novo. – Eu respirei fundo, voltando a olhar pra Meg.
- O que foi? – Meg não entendeu a minha repentina mudança de humor.
- Todos os dias essas garotas ficam aqui na frente se exibindo pro . – Eu revirei os olhos.
- Só porque são veteranas, se acham as fodas da faculdade. – Meg fez careta ao falar delas.
- Desnecessárias... – Eu neguei com a cabeça. – Então, eu vou indo. Eu te vejo daqui a pouco no hospital. – Eu me aproximei e beijei o rosto de Meg.
- Até depois. – Meg despediu-se também.

Ao me afastar da Meg, comecei a ir em direção ao . Ele estava do outro lado da rua e havia muitas pessoas na minha frente. Eu esbarrava em alguém a cada 5 segundos. Parei atrás das 3 garotas, que ao invés de darem passagem, ficavam lá igual 3 otárias secando o . Eu estava esperando todo aquele tumulto diminuir um pouco. Elas nem disfarçavam!

- Ele é maravilhoso. Olha aquele corpo. – Uma delas disse para as outras duas.
- Imagina a pegada! – A outra oferecida idealizou. Tive vontade de parar e responder: ‘A pegada é incrível mesmo. Obrigada.’.
- De amanhã não passa! Se ele vier aqui, eu vou falar com ele. – A mais nojenta afirmou.

Eu já não aguentava ouvir mais um segundo daquela palhaçada e fiz um esforço para sair dali. Fiz questão de esbarrar nelas e ouvi elas me xingando de longe. Enquanto eu caminhava em direção ao , eu comecei a rir. Adorei ter quase derrubado elas no chão, mas ainda acho que deveria ter puxado acidentalmente o cabelo de cada uma delas. Eu ainda ria sozinha, quando consegui me livrar de todas aquelas pessoas na minha frente e consegui ver o novamente. Quando o conseguiu me encontrar no meio de toda aquela gente, ele me flagrou sorrindo sozinha (ainda por causa do meu empurrão nas garotas). Mesmo sem saber o motivo do meu sorriso, o fato de eu sorrir pra ele fez com que ele sorrisse de volta pra mim. O me destruía cada vez que ele fazia isso.

Aquele sorriso incrível, aquela roupa e a mania que as suas mãos tinham de ficarem nos bolsos de sua calça fizeram eu me perguntar como é que ele podia ser tão bonito? De repente, consegui me lembrar das diversas idealizações que eu costuma ter com ele me esperando sair da faculdade. Durante o nosso tempo afastados, eu sempre achava que a qualquer dia eu o encontraria do lado de fora da faculdade, me esperando para conversarmos e resolvermos tudo. Na época ele não veio, mas ele estava lá agora.

Eu continuava me aproximando dele e acabei me lembrado do que eu havia acabado de escutar aquelas garotas dizendo. Olhei pra trás e vi que elas ainda estavam lá paradas olhando e falando sobre ele. Voltei a olhar pro , que também não conseguia tirar os seus olhos de mim. Ele estava louco pra me contar as novidades sobre a reunião. Comecei a imaginar como seria vê-lo conversando com uma daquelas garotas no dia seguinte. Comecei a imaginar como seria se ele acabasse caindo no papo dessas garotas, que são famosas por darem pra pelo menos 50% dos homens da faculdade. Isso acabaria fazendo ele quebrar, involuntariamente, a segunda regra que eu havia imposto. Isso quer dizer que ele estava um pouco mais perto de ir embora da minha casa. Eu estava há poucos passos dele, quando me dei conta de que não queria que ele fosse embora. Eu queria que ele ficasse. Chegar a essa conclusão me fez tomar uma atitude, que talvez fosse precipitada, mas era o que eu queria fazer naquele momento.



Nem cheguei a parar em sua frente e já levei o meu rosto ao encontro do seu. Uma das minhas mãos foi até a sua nuca e a outra tocou o outro lado do seu rosto. Os meus lábios tocaram os dele de forma mais tímida, pois a principio o beijo não foi correspondido. nem sequer se moveu. Suas mãos continuaram nos bolsos de sua calça e os lábios dele pareciam estar congelados. Frustrada com o beijo não correspondido, eu estava prestes a terminar o beijo, quando os lábios dele puxaram o meu lábio inferior, impedindo que eu me afastasse e me chamando para voltar a beijá-lo. Eu não hesitei um só segundo.

Apesar de surpreso e não saber como lidar bem com aquela situação, não pensou duas vezes antes de impedir que eu terminasse o beijo. O beijo não permitiu que ele pensasse em nada. Se era certo, se era errado ou o porquê daquele beijo. só queria sentir o meu beijo de novo, que parecia diferente de qualquer outro que demos nos últimos dias. Não tinha malícias ou incertezas. Era um beijo puro e verdadeiro, que fez com que lembrasse dos beijos que costumávamos trocar na época do nosso namoro. Sim, ele sabia identificar cada um dos nossos beijos.

Mesmo correspondendo ao beijo, manteve as suas mãos nos bolsos de sua calça, pois não queria influenciar em nada. Ele queria que eu guiasse e fizesse o que eu bem entendesse. gostava da sensação de me ter beijando-o sem qualquer iniciativa dele. Ele gostava de saber que estávamos nos beijando porque essa era uma vontade e iniciativa minha. O coração dele estava acelerado como não ficava há muito tempo.

O beijo não foi longo e nem poderia ser. Foi um beijo inesperado e eu nem sequer sabia o que ele pensava a respeito. Tirei as minhas mãos de sua nuca e de seu rosto, enquanto puxava o seu lábio inferior, demonstrando que eu finalizaria o beijo. Descolei nossos lábios e abri os meus olhos com um certo receio do julgamento que eu poderia receber. Os olhos de demoraram um pouco mais pra abrir, pois ele ainda estava se recuperando e tentando assimilar tudo. Ao abrir os olhos, nem um sorriso sequer ele deu, mas os olhos dele demonstravam uma doçura sem limites. olhou rapidamente para os meus lábios, sem acreditar no que havia acabado de acontecer. Eu aproveitei para encará-lo de bem perto como eu não fazia há algum tempo.

- O que... – mal conseguiu terminar a frase. Ele riu de si mesmo, enquanto negava com a cabeça. – O que foi isso? – Ele perguntou, olhando nos meus olhos.
- Estou te ajudando a não quebrar mais uma das minhas regras. – Eu sorri, enquanto mordia o meu lábio inferior. Olhei para trás e vi que as garotas estavam de costas e pareciam discutir alguma coisa. Objetivo cumprido! olhou para onde eu havia olhado e entendeu o que quis dizer. Eu me afastei dele e dei a volta no carro, entrando e sentando no banco do passageiro. Na verdade, eu estava fugindo de uma possível conversa. permaneceu algum tempo ali, sem se mover. Ele não sabia como lidar com aquilo.
A reação do me deixou com mais medo ainda. Eu não sabia o que ele estava pensando ou o que havia achado da minha atitude. Eu não sabia se o meu beijo havia significado tanto pra ele, na verdade, eu nem sei se queria que o beijo significasse tanto assim, já que isso tornaria as coisas mil vezes mais difíceis. Quando ele entrou no carro, eu esperei que ele fosse dizer alguma coisa, mas ele não disse nada.

- E como foi a reunião? – Eu puxei o assunto depois de um longo silêncio.
- Foi... boa. – afirmou, sem me olhar. – Eu acho que eles gostaram de mim. – Ele completou, pois não queria parecer tão seco.
- Que bom. – Eu disse, percebendo o seu estranho comportamento.
- É... – disse apenas para não me deixar no vácuo.

estava tentando assimilar tudo. Apesar do meu beijo tê-lo levado as alturas, ele ainda não sabia se aquela havia sido uma boa ideia. As coisas pareciam estar erradas pra ele, pois elas seguiram um caminho que ele jamais desejou. As coisas saíram do controle no pior momento possível e ele não conseguiu evitar. não conseguiu evitar, porque ele também queria aquilo. Mesmo sabendo que era errado, ele queria! Era como lutar consigo mesmo.

No caminho para casa, eu o avisei que era melhor eu ir direto para o hospital, porque eu tinha que pagar algumas horas que eu estava devendo. não fez perguntas. Ele apenas fez o que eu havia pedido. Nós dois estávamos escondendo alguma coisa. Eu não tinha que pagar horas no trabalho, eu só precisava ficar um pouco longe dele para tentar entender o porquê de ele estar agindo de forma tão diferente comigo. De uma hora pra outra estávamos agindo friamente e eu tinha medo que ele não tivesse gostado da minha atitude de beijá-lo. Talvez ele não se sentisse mais como antes.

Eu estava visivelmente chateada. Fazia tempo que eu não me sentia tão frustrada com alguma coisa. Tinha que ser logo com isso? Apesar de ele ter correspondido ao beijo, a atitude dele depois que nos beijamos foi decepcionante. Eu não esperava aquele comportamento estranho e eu não conseguia entender. Se o não queria aquele beijo, porque não disse de uma vez? Porque ele não falou pra mim? Eu me sentia péssima por tê-lo beijado agora. Eu sou uma idiota!

só conseguia pensar nas consequências que aquele beijo já estava nos trazendo. Se o beijo tivesse acontecido um dia antes, talvez as coisas fossem diferentes, mas agora... não poderia ter acontecido. sabia que não devia ter deixado acontecer e ele não conseguia parar de se torturar e de se culpar por aquilo. Ele não estava bravo comigo ou com os meus motivos que me levaram a beijá-lo. Não tinha a ver comigo.

A minha sorte foi que eu e Meg não nos vimos muito no trabalho naquele dia. Tinha muito trabalho para ser feito e nem tivemos tempo para conversar. Ela certamente notaria o meu estranho comportamento. Quando ela foi me levar para casa, eu consegui disfarçar um pouco mais aquele sentimento ruim que eu sentia dentro de mim. Meg me deixou em casa e eu só conseguia pensar que teria que encará-lo novamente. Eu estava muito sem graça com aquela situação. Foi uma idiotice beijá-lo. Entrei na casa e o encontrei sentado no sofá.

- Oi. – Eu disse, fechando e trancando a porta.
- Oi. Tudo certo? – deixou de olhar a TV para me olhar.
- Tudo. – Eu afirmei, tentando ser convincente. – Você... – Eu andei em direção a ele. – Você está com fome? Eu posso fazer... – Eu parei próxima a ele.
- Não. Eu to bem. – negou com a cabeça e continuou sem me olhar.
- Certo. – Eu afirmei com a cabeça, deixando de olhá-lo. Porque ele está me tratando assim? Eu continuava me sentindo péssima. Cheguei a virar de costas e dar alguns poucos passos, mas eu não aguentei. Eu tinha que perguntar. – Porque você está agindo assim? – Eu perguntei, voltando a me aproximar dele e o olhando seriamente.
- Assim como? – sabia que não conseguiria esconder isso, mas tentou arriscar ao se fazer de desentendido.
- Me tratando desse jeito! – Eu continuei séria, achando que estávamos prestes a começar uma discussão. – É por causa do beijo, não é? – Eu perguntei um pouco mais irritada, pois não gostei do fato de ele não ter sido honesto comigo. – Você não queria que eu te beijasse. – Eu afirmei com certeza.
- ... – negou com a cabeça, querendo demonstrar que não tinha nada a ver com aquilo. Ele abaixou a cabeça, sem saber como dizer aquilo. – Eu vou voltar pra Atlantic City no domingo. – Ele finalmente disse. O problema era esse! Nós não deveríamos ter nos beijado, pois vai embora em alguns dias. Nós não deveríamos ter dado aquele passo, que agora parecia mais um pulo em direção ao fundo do poço. Nós não deveríamos ter começado algo que não vamos poder terminar.










CONTINUA...









Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


4 comentários:

  1. CONTINUAAAAA *---* AMO ESSA FIC

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  2. MDS!!!!! Q final foi esse? �� Eles tem q ficar juntos

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  3. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  4. Você não vai continuar não? Pq serio, vocês reclamam de falta de comentário, mas também demoram um ano pra postar. Poxa eu amo essa fic, termina por favor.

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