Capítulo 56 - PARTE 2



NA PRIMEIRA PARTE...




- Eu não tive a chance de salvar a minha mãe, mas eu tenho a chance de salvar ele, a única família que me restou. - Uma lágrima solitária escorreu pelo canto de seus olhos, enquanto ele me olhava com tristeza.
- Nós vamos encontrar uma outra maneira de salvá-lo. - Eu sequei a sua lágrima e aproveitei para acariciar o seu rosto.
- Não há outra maneira. - Mark negou com a cabeça.
- Talvez, tenha... - Eu disse e o olhar dele mudou repentinamente. Ele passou a me olhar de outra maneira.
- Você tem alguma coisa em mente? - Mark me olhava com desconfiança.
- Na verdade, eu tenho. - Eu sabia que poderia me arrepender daquilo mais tarde, mas se fosse para salvar o , tudo bem.
- O que? O que é que pode salvar o ? - Mark estava muito curioso. Qualquer ideia seria boa o bastante.
- Não é o que e sim… quem. - Eu não sabia qual seria a reação dele.
- De quem você está falando? - Mark mal piscava.
- Mark… - Eu neguei com a cabeça. Poderia ser a pior ideia de todas, mas ela também poderia salvar a vida do . - Você e o são O negativo. - Eu achei que ele entenderia.
- E o que isso quer dizer? - Mark não tinha entendido.
- Isso quer dizer que, cientificamente falando, existe uma possibilidade do Steven também ser O negativo. - Eu disse e ele ficou completamente sem reação. Me olhou, sem conseguir dizer nada. - Talvez, ele seja o doador que pode salvar a vida do . - Eu completei. Seria essa a chance de Steven se recompor diante dos filhos? Pra mim, ele não tinha salvação.





Capítulo 56 – Linha de Chegada - PARTE 2



OUÇA A MÚSICA ABAIXO,ENQUANTO LÊ:



- O Steven? - Mark repetiu em voz alta. Se repetisse, talvez acreditasse dessa vez. - Não. - O desespero no rosto dele desapareceu. Não era por que ele tinha encontrado uma solução para o seu problema, mas sim porque agora ele tinha um outro problema. - Não pode ser. - Ele chegou a sorrir, achando que tratava-se de brincadeira.
- Não é certeza, mas existe uma chance. - Eu ergui os ombros. - De repente, ele pode ajudar o . - Eu disse com esperança. Ele deixou de me olhar e encarou o chão. - Mark, talvez ele possa salvar o . - Eu disse mais uma vez. Ele parecia não ter escutado da primeira vez.
- Não. - Mark afirmou assim que eu terminei a frase.
- O que? - Eu indaguei e ele levantou o rosto pra me olhar.
- Eu disse não. - Mark foi frio e calmo em sua resposta.
- Mas se não tivermos outra saída… - Eu ia dizendo e ele me interrompeu.
- Eu prefiro doar todo o meu sangue pro do que pedir a ajuda desse cara. - Mark demonstrou muita irritação ao falar do pai.
- Não fala isso nem brincando. - Eu o julguei com o olhar.
- Então, precisamos encontrar outra solução. - Mark estava mais do que decidido. Não havia qualquer margem de dúvida ou hesitação.
- Está bem. Nós vamos encontrar outra solução. - Mesmo não concordando, eu jamais discutiria aquele assunto com ele. - Ok? - Eu percebi que ele ainda estava incomodado com o assunto de seu pai. Me aproximei e toquei o seu ombro. Ele me olhou. - Vamos dar um jeito nisso. - Eu me aproximei ainda mais e coloquei meus braços em volta de seu pescoço e o abracei. Ele correspondeu ao abraço, mas ainda teve um pouco de dificuldade de deixar a inquietação de lado.
- Ok. - Mark afirmou, me abraçando mais forte e reconhecendo que eu estava apenas tentando ajudar.

Ficamos algum tempo abraçados. O abraço fez com que Mark voltasse ao seu estado normal. Ele conseguiu se acalmar. O abraço também me fez bem, mas não foi o bastante para me dar a tranquilidade que eu precisava. A ideia absurda que o Mark tinha cogitado há alguns minutos tinha me assustado muito e, para ser bem honesta, eu não duvidava que ele realmente fizesse aquilo pelo . O jeito que ele falou e o tom desesperador fez tudo parecer mil vezes mais real. Fiquei feliz por ter conseguido acalmá-lo, mas aquilo ainda me preocupava.

Passamos o resto do dia naquele hospital. Algumas pessoas tentaram me convencer a ir pra casa para descansar um pouco, mas não conseguiram. Eu precisava sim de um cochilo de 10 horas, mas como eu já disse: nada e nem ninguém me faria sair daquele hospital sem antes ter certeza de que o estava bem.

Ficamos o dia todo sem qualquer novidade. Isso quer dizer que também não tínhamos notícias boas. Meg até tentou saber de alguma coisa e também tentou liberar a entrada de alguém para visitar o , mas não conseguiu nada. Com o início da noite, as esperanças de ter notícias diminuíram ainda mais, já que o turno da Meg tinha acabado e, com isso, não tínhamos mais ninguém que pudesse nos ajudar lá dentro do hospital.

Mais uma noite no hospital. Conseguimos convencer a família de a ir para a minha casa para descansar. Meus pais os acompanharam para garantir de que teriam total conforto. Eles prometeram voltar para o hospital logo pela manhã. Os amigos estavam cansados, mas resolveram ficar no hospital para fazer companhia para mim e para o Mark. Meg chegou a ir para casa por uma ou duas horas, mas voltou logo depois.

Eu estava esgotada e acabada. Eu precisava de um banho demorado e de uma longa noite de sono. Eu também precisava comer alguma coisa, mas quem disse que eu conseguia sequer pensar em comida? Obviamente, haviam consequências, certo? Algumas tonturas e a fraqueza fez meus amigos e o meu irmão me forçarem a comer alguma coisa. nos trouxe algumas coisas da lanchonete e eu e o Mark acabamos comendo.

- Agora que você já comeu, por que não vamos pra sua casa e você toma um banho e… - tentou novamente me convencer.
- Eu não vou sair daqui. - Eu continuei firme e forte.
- , é só por algumas horas. Olha pra você. - disse em tom de bronca.
- Eu estou bem assim. - Eu não cederia tão facilmente.
- Deixa de ser mentirosa. Eu te conheço, garota! - me olhou feio.
- Vamos, ! Vai ser melhor. - foi mais gentil que os outros.
- Eu não quero. - Olhei para ele e neguei com a cabeça.
- , pode ir. - Mark resolveu intervir. - Eu fico aqui. Se eu souber de qualquer novidade, eu te ligo. - Ele disse com um fraco sorriso.
- Eu não vou deixar você aqui sozinho. - Eu afirmei.
- Ele não vai ficar sozinho. Eu fico com ele. - Meg prontificou-se. Aproximou-se do amigo e sentou-se ao seu lado. - Eu não vou sair do lado dele. Juro. - Ela completou.
- Vai. Tudo bem. - Mark afirmou com a cabeça.
- Ok. - Eu cedi depois de muita hesitação. - Eu vou, ok? - Eu disse, contrariada. - Mas é só o tempo de eu tomar um banho rápido e tirar um cochilo de uma hora. - Eu impus a condição.
- Ótimo. - concordou, aliviada.
- Então, vamos. - queria me tirar logo dali antes que eu desistisse.
- Eu vou ficar com a Meg e o Mark, ok? - disse, sentando-se ao lado da namorada. É claro que ele ficaria com ela.
- Até daqui a pouco. - disse, quando começamos a nos afastar.
- Mark… - Eu o chamei e ele me olhou.
- Eu ligo. Eu prometo. - Mark afirmou antes de eu dizer qualquer coisa. Eu concordei com a cabeça.

Durante todo o caminho até a minha casa, fiquei pensando na hora em que eu voltaria para o hospital. Parecia muito egoísta da minha parte me dar ao luxo de descansar, enquanto o estava naquela cama de hospital e o Mark virava a noite em claro naquela sala de espera. Os dois estavam naquela situação por causa de mim. O que é que eu tinha na cabeça? Mesmo contra a minha vontade, me fizeram tomar um banho e até me colocaram na cama para ter certeza de que eu dormiria. Coloquei o meu celular para despertar dali uma hora. Os meus amigos e o meu irmão aproveitaram o tempo para descansar também. Todos estavam acabados.

Uma hora depois e nem um minuto a mais, eu já estava de pé. Vesti uma calça jeans, all star, uma blusinha simples e uma jaqueta por cima. Sai do quarto e já fui acordando todos os meus amigos, avisando que eu estava voltando do hospital. Eu até falei que eles podiam ficar dormindo se quisessem, mas quem disse que eles aceitaram? Todos se levantaram rapidamente e se arrumaram para voltarmos para o hospital. Quando saímos de casa, meus pais e a família de ainda estavam dormindo. Tomamos cuidado para não acordá-los.

O banho e o breve descanso até que tinham me feito muito bem. Eu estava bem melhor do que antes, mas a minha cabeça continuava a mil. E o medo de chegar no hospital e ter a pior notícia de todas? E o medo de chegar lá e descobrir que o Mark tinha feito uma besteira? E o medo de chegar no hospital e descobrir que o ainda não tinha um segundo doador?

estacionou o carro e fomos todos direto para a sala de espera. Eu estava muto receosa. Quando chegamos na sala de espera, encontramos e Meg cochilando nas cadeiras. A primeira coisa que me veio a mente foi: Mark não estava ali! Meu coração veio parar na boca. Na minha cabeça, eu já estava imaginando as piores tragédias.

- Onde está ele? - Eu perguntei aos dois, que acordaram assustados.
- O que? - me olhou, sem entender.
- O Mark! Onde está o Mark? - Eu já estava surtando.
- Eu estou aqui. - Ouvi a voz do Mark bem atrás de mim e, de repente, eu conseguia respirar de novo. Fechei os olhos por poucos segundos, sentindo um enorme alívio. Eu me virei para olhá-lo e vi que ele segurava um copo de café nas mãos. - Alguma notícia? - Ele estranhou o meu desespero ao procurá-lo.
- Deus… - Eu neguei com a cabeça e fui até ele. - Você me assustou pra caramba. - Eu o abracei e ele correspondeu, sem entender muita coisa.
- Desculpa. - Mark levou algum tempo, mas entendeu qual era o meu medo. - Você está melhor? - Ele referia-se ao meu descanso.
- Muito melhor. - Eu afirmei, terminando o abraço.
- E então, nada ainda? - perguntou ao Mark.
- Nenhuma notícia. - Mark negou com a cabeça.
- Droga. - resmungou.

Ficamos o resto da madrugada esperando por notícias e logo pela manhã a família de chegou. A mãe de mal tinha chegado e já quis saber notícias. Eu tive que dizer a ela que não tinha nenhuma novidade e fui obrigada a vê-la chorar mais uma vez. Aquilo me destruía por dentro. Cada vez que ela tinha suas crises de choro (que eram totalmente compreensíveis, diga-se de passagem), era um enorme tumulto. Alguém tinha que tirar a de perto, outra pessoa tinha que consolá-la, enquanto todos os outros choravam em ver o seu desespero da mãe. Era a pior parte.

Passou a manhã e o início da tarde e ainda não tínhamos sequer visto a cara do médico naquele dia. A desesperadora falta de notícias me fez apelar para o supervisor do hospital. Ele era o meu chefe e eu poderia perder o meu emprego por isso, mas eu tentaria pedir a ajuda dele de qualquer forma. Eu fui atrás dele, enquanto todos os outros ficaram esperando na sala de espera. também se ausentou. Ele foi até o carro para dormir um pouco ou não conseguiria voltar para casa dirigindo naquele dia.

Falei com alguns enfermeiros e médicos até conseguir chegar até o supervisor. Não era tão fácil falar com ele. Ele era um homem muito ocupado, mas era uma boa pessoa. Ele não pode fazer tanta coisa por mim, aliás, ninguém poderia fazer. precisava das doações de sangue e ponto. Não dependia de mais ninguém. Mas a conversa com o supervisor não foi em vão. Eu consegui ao menos uma coisa com aquela conversa.

- E então? - Mark foi o primeiro a me abordar.
- Alguma coisa? - A mãe do Jonas também se aproximou.
- Nada. - Eu neguei com a cabeça, demonstrando lamentar muito. - Mas… - Eu olhei pra mãe do e fiz uma pequena pausa. - A senhora vai poder vê-lo. - Eu dei a notícia e a vi se emocionar, enquanto continuava me olhando.
- Eu vou poder ver o meu filho? - A mãe conseguiu sorrir em meio as lágrimas. Ela queria muito isso desde que havia chegado em Nova York.
- Vai. - Eu segurei a mão dela e devolvi o sorriso. Ela me surpreendeu com um abraço, que de tão forte chegou a me emocionar também.
- Obrigada por tudo o que está fazendo por nós. - Ela me agradeceu aos prantos.
- Não precisa me agradecer. - Eu terminei o abraço antes que eu começasse a chorar. - Vamos? Eu levo a senhora até a UTI. - Eu ainda segurava a sua mão, quando ela afirmou com a cabeça.
- Eu posso ir também? - nos interceptou. Eu e a mãe dela trocamos olhares.
- Não pode, querida. - A mãe acariciou o rosto da garota. - Mas eu falo pra ele que você mandou um beijo enorme. Pode ser? - Ela perguntou e a garota concordou mesmo parecendo decepcionada. - Eu volto já. - Ela afastou-se da filha e voltou a se aproximar de mim. - Podemos ir. - Ela disse.

Levei ela até a UTI e cheguei a ser abordada por um dos enfermeiros que costumava puxar o saco do chefe. Eu disse a ele que o supervisor tinha autorizado a mãe do paciente a fazer a visita e que, se por acaso ele tivesse dúvidas, ele poderia perguntar ao supervisor. Chegamos na porta da UTI e eu encontrei um outro enfermeiro, mas esse era meu amigo.

- Hey. - Eu chamei a atenção dele. - Você pode acompanhá-la até o quarto do Jonas? Ela é a mãe e está autorizada. - Eu disse e ele me atendeu prontamente.
- Você não vai entrar? - A mãe do me olhou, sem entender.
- Não. Eu… - Eu não sabia o que dizer, mas a verdade é que eu não tinha coragem para isso. Eu não tinha coragem de vê-lo. - Eu não posso entrar. - Eu dei a desculpa e ela parecia ter entendido. - Aproveite o seu tempo com ele. - Segurei a mão dela mais uma vez antes de vê-la entrar na UTI acompanhada do enfermeiro. Encarei a porta da UTI como se fosse o meu pior pesadelo. Me afastei de lá e voltei para a sala de espera.
- , vamos ter que ir embora. - se aproximou com uma expressão de lamentação. e os meus outros amigos estavam logo atrás dele.
- Já? Por quê? - Eu questionei.
- Nós temos que trabalhar amanhã bem cedo. - respondeu.
- Se pudéssemos faltar, nós faltaríamos, mas… - ergueu os ombros. Eles não podiam fazer nada a respeito.
- Eu queria muito ficar aqui. Não só por causa do , mas por causa de você… e do Mark também. - , como sempre, sendo um amor.
- Eu sei. - Eu afirmei com a cabeça. - Eu entendo. - Eu completei.
- Você vai ficar bem? - perguntou, preocupado.
- Eu vou… e o também. - Eu sorri, tentando ser otimista.
- Você vai nos ligar, certo? Se você precisar ou... pra dar qualquer notícia. - perguntou.
- Eu ligo. - Eu afirmei.

Todos começaram a me abraçar e a se despedirem de mim. Ouvi muitas palavras de apoio, de consolo e de carinho. Todos eles eram incríveis. Dava pra ver que todos estavam lamentando muito o fato de terem que ir embora, afinal, também é muito próximo de todos eles. Eles estão tão preocupados e angustiados como todos nós. Eles já iam saindo, mas ainda deu tempo de presenciarmos uma cena que nós fez esquecer tudo o que estava acontecendo por alguns segundos. Aconteceu assim que a se afastou um pouco dos meus pais, que cuidavam da garotinha, enquanto o pai dela tinha ido ao banheiro. Ela parou bem ao meu lado e encarou o sem que ele nem percebesse. Na primeira oportunidade, ela se manifestou.

- Ei, garoto. Lembra de mim? - gritou na direção do , que a olhou. Ela olhava feio pra ele. - Eu ainda continuo muito virgem, ok? - Ela disse em tom de irritação. Quem não se lembra do gafe do , que se enrolou todo para explicar para a irmã o que significava a palavra ‘virgem’ e acabou dando a ela um significado novo: linda? lembrava de tudo!
- O que? - ficou assustado. No primeiro momento, ele não se lembrou do ocorrido.
- É isso mesmo! Eu continuo virgem! - reafirmou com raiva. Todos nos entreolhamos e tentamos segurar o riso. ficou desnorteado. Meus pais, que estavam próximos, acabaram escutando e encararam o filho com olhos de julgamento.
- Eu não sei de nada! - afirmou, olhando para os pais. - Essa garota é maluca. - Ele saiu da sala para escapar dos sermões dos nossos pais.
- O que foi que ela disse? - Mark não tinha entendido nada e estava abismado.
- Depois eu explico. - Eu desconversei, negando com a cabeça.
- Garota, você salvou o nosso final de semana. - ainda estava achando graça.
- E você continua não sendo virgem. - também olhou feio para o meu melhor amigo.
- Querida, dessa vez você acertou. - disse um pouco mais baixo, recebendo um empurrão da namorada.
- Vamos logo, vai! - começou a puxar o em direção a saída.
- Me liga! - falou um pouco mais alto antes de sair pela porta. e foram logo atrás.

O momento de descontração foi muito bom pra todos ali. era mesmo uma figura! Quando o pai dela voltou do banheiro e ela ficou algum tempo ao lado dele, meus pais, a Meg e o Mark queriam saber o que tinha acontecido e porque a tinha dito aquilo. Expliquei resumidamente o que tinha acontecido e todos acharam graça, mas foram bem discretos. Mark chegou a dizer que o que a história tinha mesmo a cara do e ele tinha toda a razão.

Voltando a falar sobre o que realmente importava, ficamos algum tempo esperando que a mãe do voltasse da UTI. Ela ficou lá um pouco mais de 20 minutos e quando voltou ela estava extremamente abalada. O que mais a angustiou foi ter que deixar o filho sozinho naquela UTI. Ela queria ficar ao lado dele, mas ela infelizmente não podia. Foi muito difícil consolá-la. Nada do que dissemos a ela parecia suficiente. A única solução que encontramos foi tirá-la novamente do hospital. Estar ali naquele lugar tão pesado e a espera angustiante por notícia estava fazendo extremamente mal a ela. Conseguiram convencê-la a ir para a minha casa para descansar, comer e tomar um banho. Meus pais acompanharam ela e o resto de sua família.

- É muito difícil vê-la desse jeito. - Eu comentei com o Mark com lágrimas nos olhos, ao vê-la sair aos prantos do hospital.
- Eu sei. - Mark, que estava sentado ao meu lado, passou seu braço pelos meus ombros, me trazendo pra mais perto. Com o coração partido, eu apoiei a minha cabeça em um de seus ombros e ele me acolheu. Sua mão acariciava o meu braço, enquanto ele mantinha o total silêncio. Completou o consolo, depositando um beijo em minha cabeça.

Passamos mais uma noite no hospital. Meg nos fez companhia até determinada hora, já que ela tinha faculdade e trabalharia no dia seguinte. Aliás, eu também tinha uma rotina a seguir naquela segunda-feira, mas seria impossível. Eu já tinha decidido que não iria para a faculdade, enquanto tudo aquilo não se resolvesse, mas eu não conseguiria fugir do trabalho, o que não seria tão ruim. Trabalhar significava ficar no hospital, ficar perto do , ter acesso aos médicos, enfermeiros e também às notícias. Era o único lugar em que eu queria estar.

Quando amanheceu, eu saí do hospital e fui até a minha casa para tomar um banho e me arrumar para o trabalho. Demorei quase 1 hora e meia para voltar ao hospital. O meu turno geralmente era durante a tarde, mas o supervisor já tinha me autorizado a entrar logo de manhã. Cheguei no hospital e fui ver o Mark antes de começar a trabalhar. Eu o encontrei dormindo em uma das cadeiras da sala de espera. Me deu uma tristeza enorme vê-lo ali. Eu não queria que ele estivesse passando por isso. De todas as pessoas que passaram pelo hospital, ele foi a única pessoa que não tirou os pés daquele lugar. Eu queria poder poupá-lo de tudo isso.

Comecei a trabalhar eram 8 horas e a primeira coisa que eu fiz foi ir até a sala do médico que estava cuidando do caso do . Ele me atendeu super bem, mas não foi capaz de me dar qualquer notícia boa. Segundo ele, continuava em estado grave, mas estava estável. O quadro de saúde dele não tinha piorado, mas também não tinha melhorado. O médico me alertou que a estabilidade não significava tanta coisa. Nós já sabíamos o que aconteceria ao fim das 48 horas, que ele já havia mencionado. As máquinas que mantinham o vivo não poderiam fazer milagres. O corpo do não aguentaria muito mais tempo sem a quantidade certa de sangue. Era inevitável.

As notícias dadas pelo médico era antigas, mas ainda eram muito dolorosas. Foi impossível não ficar emocionalmente abalada, mas eu consegui me controlar na frente do médico. De qualquer forma, ele percebeu que eu não estava bem com tudo o que estava acontecendo. Ele lamentou não poder fazer tanta coisa por mim.

- Você por ir vê-lo, se quiser. - O médico tentou ajudar de alguma forma.
- Obrigada. - Eu agradeci em meio a um fraco sorriso, mas a verdade é que eu estava visivelmente abalada.
- Desculpe não poder te ajudar. Eu queria muito fazer algo por você. - O médico lamentou.
- Eu agradeço muito por tudo o que o senhor está fazendo. Eu... - Eu hesitei antes de perguntar. - Eu… fico até sem jeito de pedir e incomodar o senhor com isso, mas é algo muito importante e eu acho que o senhor pode me ajudar. - Eu não sabia se conseguiria o que eu queria, mas não custava tentar.
- Claro. Pode falar. Se estiver ao meu alcance... - O médico quis me ouvir.

O médico me ouviu, me entendeu e atendeu o meu pedido sem qualquer hesitação. Ele não era só um bom médico, mas também era uma ótima pessoa. O respeito que ele tinha de todo o hospital era extremo e, por isso, ele tinha algumas regalias. Ele tinha algumas autoridades dentro do hospital que outros médicos não tinham. Eu sabia muito bem de tudo isso e sabia que ele seria capaz de atender o meu simples pedido. Saí da sala dele com o coração extremamente apertado, mas estava feliz com a autorização que eu tinha acabado de receber dele. Fui direto contar para a pessoa mais interessada.

- Mark.- Eu o chamei assim que entrei na sala. Havia outras pessoas na sala, por isso, chamei ele no canto para podermos conversar.
- O que foi? - Mark chegou um pouco agitado. - Aconteceu alguma coisa? - Ele perguntou, me olhando.
- Calma. - Eu pedi a ele. - Ainda não tenho nenhuma novidade sobre o . Eu até falei com o médico, mas não tem nada de novo. - Eu disse e ele suspirou com desanimo. Levou uma das mãos até a cabeça e bagunçou o seu cabelo.
- Quantas horas nós ainda temos? - Mark perguntou, angustiado.
- Algumas. Não dá pra falar com certeza. O médico disse 48 horas, mas pode ser um pouco mais… - Eu ergui os ombros.
- Quantas horas você acha que ainda temos? - Mark reformulou a pergunta. Eu o olhei e neguei com a cabeça. Eu não queria dizer. - Quantas? - Ele insistiu.
- Eu diria que… até o fim do dia... no máximo. - Eu quase não consegui dizer com o nó que se formou em minha garganta.
- Deus… - Mark suspirou, negando com a cabeça. - O que nós vamos fazer? - Ele abriu os braços, demonstrando estar totalmente perdido. Afastou-se, enquanto mantinha o olhar fixo em qualquer lugar da sala. Fiquei observando ele de costas por algum tempo, sem saber o que fazer para ajudá-lo.
- Você quer vê-lo? - Eu perguntei ao me aproximar um pouco mais dele. Ele ainda estava de costas pra mim.
- O que? - Mark virou-se repentinamente na minha direção.
- Você quer ver o seu irmão? - Eu perguntei, olhando em seus olhos vermelhos. Não sei se era por causa do sono ou por causa das poucas lágrimas que estiveram acumuladas em seus olhos nas últimas horas.
- Eu… - Mark ficou surpreso. - Eu posso? - Ele aproximou-se de mim com uma outra expressão.
- Pode. - Eu afirmei e consegui ver um fraco sorriso em seu rosto.
- Eu achei que ninguém pudesse entrar. - Mark disse, enquanto tentava não se emocionar.
- Eu conversei com o médico e ele deixou que você entrasse. - Eu expliquei.
- Você… não deveria ter feito isso. - Mark negou com a cabeça e depois a abaixou para encarar o chão por alguns segundos. - Você pode perder o seu estágio por causa disso. - Ele completou. Ele estava visivelmente se segurando para não chorar. Ele ficou comovido com o meu ato, mas tentou disfarçar.
- Hey. - Eu me aproximei dele, parei em sua frente, levei uma das mãos até o seu rosto e o levantei. - Eu não me importo. - Eu neguei com a cabeça, enquanto olhava em seus rostos. - Eu faria qualquer coisa para que você tivesse a chance de vê-lo. - Eu não quis dizer, mas eu tinha consciência de que aquela poderia ser a última vez que ele poderia fazer isso. Ele sorriu com os olhos, que continuavam cheios de lágrimas.
- Ainda bem que eu tenho você. - Mark levou uma das mãos até o meu rosto e o acariciou com um dos dedos.
- Eu queria fazer mais… pra te ajudar. - Eu ergui os ombros.
- Você está ajudando muito mais do que você imagina. - Mark afirmou. - Obrigado por tudo. - Ele agradeceu.
- Não precisa me agradecer. - Eu rolei os olhos, enquanto me recuperava. - Agora, vamos parar com isso. Eu vou te levar até a UTI. - Eu sorri, passando as mãos pelos meus olhos. Ele fez o mesmo. Levei ele até a porta da UTI. Só ao chegar perto daquele lugar, minhas pernas já estremeciam. - É aqui. - Eu disse. - É só entrar. Alguns dos enfermeiros vão te orientar. - Eu disse e ele afirmou com a cabeça. - Fala que… eu mandei um oi. - Eu sorri com tristeza e o Mark me devolveu o sorriso.
- Eu falo. - Mark disse antes de se aproximar e depositar um beijo carinhoso em minha testa. - Eu nunca vou esquecer o que você está fazendo. - Ele disse, me fazendo ficar emocionada de novo. Eu nem consegui agradecê-lo. Ele entrou na UTI antes que eu tivesse forças para isso.

Mark entrou na enorme sala, que deveria ter umas 10 ou 15 camas (ou leitos, como costumam ser chamados). Cada leito era cercado por uma cortina. Algumas estavam fechadas, outras não. Mark não sabia por onde começar a procurar o seu irmão. No momento, não tinha um enfermeiro por perto para ajudá-lo. Os olhos receosos procuraram primeiro nos leitos que estavam com as cortinas abertas. Ele olhou em volta e não encontrou o irmão. Com isso, soube que o estaria em um dos leitos fechados. Mark se aproximou de alguns leitos, que podiam ser identificados através de fichas que continham os dados do paciente. Depois de procurar por alguns segundos, leu o nome do irmão na quinta ou sexta ficha. Devolveu a ficha no lugar e encarou a cortina azul-claro que, no momento, era o que separava ele de seu irmão. Tocou a cortina com receio e a abriu devagar. A expressão em seu rosto mudou quando ele viu o irmão completamente intubado. Havia aparelhos por todos os lados. As mãos dele começaram a tremer e ele deu alguns passos para se aproximar da cama. Dali, ele yinha uma visão melhor do que seria a pior cena que já tinha visto em toda a sua vida.

- Hey, cara. - Mark conseguiu dizer. Sua voz quase não saiu. Ele deixou de olhar no rosto de para olhar o resto de seu corpo. - É estranho te ver assim. - Ele disse. - Há menos de um mês, eu nem me importava se você estava vivo ou morto. Agora, ver você assim é provavelmente a cena mais assustadora da minha vida. - Ele falava como se o irmão estivesse escutando. - Tão pouco tempo e eu já fiz besteira. - Mark negou com a cabeça. - Eu deveria estar lá com você. Eu disse que nós faríamos isso juntos, não disse? - Os olhos já estavam marejados. - Eu nem deveria ter te envolvido nisso. Esse era o meu trabalho! Protegê-la era o meu trabalho, não o seu. - Algumas lágrimas finalmente escorreram de seus olhos. - Eu é quem deveria estar deitado nessa cama. Isso… não é justo. - Mark não percebeu, mas ele também estava desabafando. - Tantas pessoas estão sofrendo por causa da sua situação. Se o pior te acontecer, tantas pessoas vão ser afetadas. - Ele lamentava. - Seria tão mais fácil se fosse comigo. Eu não tenho tantas pessoas quanto você. Poucas pessoas sofreriam, porque… essas poucas pessoas são... tudo o que eu tenho. Como… você. - Mark passou uma das mãos em seu rosto para secar as lágrimas que haviam escorrido.



- Eu sinto muito, . Eu sinto muito se eu não fui o irmão que você esperava que eu fosse. Eu acho que não sou muito bom nisso. - O choro se intensificou, quando ele se desculpou. - Isso é novo pra mim, mas… eu gosto do que nós estávamos construindo. Eu gosto do fato de… não estar mais sozinho. Eu já estava até pensando no que eu deveria te dar no seu aniversário. - Ele sorriu em meio as lágrimas e fez uma pausa mais longa. Foi difícil continuar. - Eu não quero que isso acabe, . Você é o meu irmão mais novo e eu ainda nem tive a chance de te ensinar algumas coisas. Nós ainda nem passamos um feriado de ação de graças juntos. - Novamente um fraco sorriso surgiu em seu rosto. Mark realmente nunca tinha tido um feriado de ação de graças decente, por isso era tão importante pra ele. - Me desculpa, mas… isso, tudo isso… é uma coisa que eu não consigo aceitar. - Ele voltou a ficar mais sério. - Eu não consigo aceitar que eu vou perder outra pessoa sem conseguir fazer nada a respeito. Eu sei que já passei por isso algumas vezes e que eu já deveria estar acostumado, mas… cada vez que acontece parece que é pior. - O choro silencioso e sorrateiro voltou. As lágrimas escorriam dos olhos do Mark, enquanto ele encarava o irmão. - Eu quero muito te ajudar, mas… eu não sei o que fazer. Eu não sei mesmo o que fazer, cara. - Mark apoiou as mãos na beirada da cama, abaixou a cabeça e encarou o chão.

Os segundos em que o Mark ficou ali de cabeça baixa, chorando silenciosamente foram longos. Ele estava tentando se acalmar. Ele estava tentando não ceder àquele sentimento ruim e desesperador de perda que ele já tinha sentido outras vezes. Se lembrou das pessoas que ele perdeu e da chance que nunca teve de fazer alguma coisa por elas. Ele sabia bem que o tempo de estava acabando e que a chance de fazer alguma coisa sobre aquilo também estava. Mark tinha duas claras opções para tentar resolver o problema: pedir a ajuda de Steven ou doar para o todo o sangue que ele precisava. Nenhuma das opções pareciam boas. Uma delas envolvia o seu orgulho e a outra envolvia a sua vida.

- O que eu faço? - Mark perguntou em voz alta, mas a cabeça continuou baixa. - Me diz o que eu faço, cara? - Ele fechou os olhos, pois já não aguentava chorar. Voltou a ficar em silêncio e manteve os olhos fechados, enquanto algumas memórias passavam por sua cabeça. Os momentos que ele tinha passado com o nas últimas semanas surgiram em sua mente. Essas memórias pareciam que tinham surgido com o propósito de encorajá-lo a tomar uma atitude. Mark levantou o seu rosto e olhou novamente para o irmão. - Você… provavelmente vai me odiar por isso. Eu sei que vai, mas… eu preciso te tirar dessa. - Ele disse com a voz mais decidida. - Eu vou te tirar dessa. - Mark afirmou com a cabeça. - Aguenta só mais um pouco. Seja forte, irmão. Eu vou resolver isso. - Ele colocou uma das mãos sobre o peito do irmão e deu dois leves tapinhas. - Eu vou dar um jeito nisso. Eu prometo. - Mark sorriu com tristeza ao olhar para o irmão pela última vez.

Mark saiu do leito com os olhos marejados, mas com uma determinação que nunca tinha tido antes. Enquanto caminhava em direção a porta da UTI, passou um dos braços pelos olhos e secou as lágrimas que insistiam em permanecer em seu rosto. Sabendo que não tinha tanto tempo, Mark passou a andar mais depressa pelos corredores do hospital. Por sorte, acabei cruzando com ele em um desses corredores. Eu parei pra falar com ele e saber como tinha sido com o , mas ele passou direto por mim. Olhei pra trás e o vi passando pela saída do hospital. O fato me alertou na mesma hora e me fez ir atrás dele. Andei rapidamente em direção a saída do hospital e olhei para os lados para procurá-lo.

- Mark! - Eu o vi entrando em seu carro. Ele nem sequer me olhou. - Mark!! - Eu gritei mais alto, quando o vi saindo com o carro. Aonde ele estava indo daquele jeito? Mark tinha me escutado chamá-lo, mas sabia que se eu soubesse o que ele estava prestes a fazer, eu tentaria impedi-lo.

O jeito, a pressa e a determinação de Mark me fizeram ficar apavorada. Eu tinha toda a certeza do mundo que ele faria besteira. Esse era o único motivo para ele ter me ignorado daquele jeito. Independente do que fosse, eu sabia que algo muito ruim aconteceria. Uma sensação estranha invadiu o meu corpo. O meu coração ficou apertado e as minhas mãos começaram a suar frio de uma hora pra outra. Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa, mas eu não sabia nem por onde começar. Pra onde ele tinha ido? Como eu vou achá-lo, agora?

Mark sabia exatamente o que fazer e para onde ir. O tempo limitado fez com que ele dirigisse feito um maluco pelas ruas de Nova York. Passou sinais vermelhos e andou a velocidades jamais permitidas dentro de uma cidade movimentada como Nova York. Ele praticamente teve que atravessar a cidade para chegar ao seu destino e quando chegou, não hesitou um só momento. Estacionou o seu carro em frente da casa do Steven e andou rapidamente até a porta da casa, onde bateu 3 vezes seguidas. Um rosto desconhecido atendeu a porta, mas isso não intimidou nem um pouco Mark.

- Pois não? - Um rapaz, que deveria ter a mesma idade ou talvez fosse um pouco mais velho que o Mark.
- Onde ele está? - Mark passou pela porta, empurrando o rapaz que havia aberto a porta. Adentrou a casa e não demorou para encontrar o pai, que mostrou-se surpreso ao vê-lo.
- Mark? - Steven não achava que voltaria a receber a visita do filho.

Eu ainda estava no hospital e a angustia já tinha tomado conta de mim. Uma parte de mim achava que o Mark tinha ido arriscar a sua própria vida para salvar o irmão e a outra parte, a parte esperançosa, achava que ele tinha ido atrás do Steven. De qualquer maneira, as duas opções me assustavam muito, porém, elas não me desencorajavam a tomar uma atitude. Eu tinha que fazer alguma coisa.

- ? - Meg estranhou ao me ver parada na porta do hospital. Minha mente estava distante e os olhos perdidos.
- Meg! - Eu fiquei extremamente feliz e aliviada em vê-la.
- O que foi? - Meg me olhou, sem entender. - O que aconteceu? - Ela perguntou.
- Eu preciso que você fique no meu lugar aqui no hospital por um tempo. É muito importante! - Eu olhei pra ela praticamente implorando.
- Eu fico, mas… o que… - Meg ainda estava confusa.
- Obrigada, Meg. Muito obrigada. - Eu tirei o meu jaleco na mesma hora e entreguei nas mãos dela. Eu me afastei rapidamente, sem que ela tivesse chance de me fazer novas perguntas.

Eu não pensei. Eu não pensei em nada. Eu não pensei no que eu estava fazendo. Eu não pensei no que realmente estava em jogo. Eu não pensei nos riscos. Eu não pensei que eu estava indo por livre espontânea vontade até a casa do homem que tinha me sequestrado e que tinha tentado matar o meu pai há poucas horas. Eu só sabia que eu tinha que agir rápido. Eu sabia que a única pessoa que poderia intervir em qualquer besteira que o Mark tentasse fazer era eu, simplesmente porque eu era a única pessoa que sabia o que estava passando pela cabeça do Mark. Eu era a única pessoa que sabia o que ele realmente estava sentindo. Eu era a única pessoa que poderia salvá-lo.

- Esses caras… - Mark olhou friamente pro pai e depois para os dois caras que estavam na sala com eles, um deles era o rapaz que tinha aberto a porta. - Não me diga que também são os seus filhos. - Ele ironizou. Sua vontade era lhe dar uns bons socos. Steven manteve-se sério. Estava bem claro que os dois homens tratavam-se de capangas. Eles provavelmente faziam todo o trabalho sujo pro Steven.
- O que… - Steven tinha medo de concluir a pergunta. - O que aconteceu pra você ter vindo até aqui? - Ele achou que algo pudesse ter acontecido ao .
- Você está perguntando sobre o tiro que você deu no seu próprio filho? Essa é a sua maneira torta e nojenta de perguntar sobre ele? - Mark não ficou tão surpreso com a atitude do pai.
- Ele está bem? - Steven ignorou os insultos e finalmente perguntou. A simples pergunta foi suficiente para acabar com a pouca paciência que o Mark ainda tinha. Os dois rapazes olhavam a conversa entre pai e filho sem dizer nada.
- Eu deveria te matar aqui e agora. - Mark disse. Existia mais ódio em seus olhos do que em suas palavras. Os dois capangas reagiram imediatamente e Mark estava pronto para enfrentá-los, mas Steven os impediu de se aproximarem do filho.
- Não. Eu resolvo. - Steven pediu que se afastassem. - Podem sair. - Ele deu a ordem antes dos dois caras saíssem da sala.
- Me fala. Como ele está? - Steven insistiu.
- Você está preocupado? É um pouco tarde pra bancar o pai preocupado, não acha? - Mark arqueou uma das sobrancelhas ao encará-lo.
- Eu não queria acertá-lo, ok? O tiro não era pra ele! Foi um acidente! - Steven reagiu na mesma hora.
- ACIDENTE? - Mark gritou, furioso. - Foi acidente você estar no mesmo lugar em que a e o pai dela estavam? Foi acidente você estar segurando a porcaria de uma arma? Foi acidente você apertar o gatilho? - Ele esbravejou.
- Pare de me acusar, garoto! Eu não sou esse monstro que você acha que eu sou! Eu jamais teria coragem de machucar o meu próprio filho! - Steven continuou se defendendo.
- E você acha que matar o pai da garota que ele ama ia deixar o seu filho orgulhoso? Como acha que ele se sentiria sabendo que todo o sofrimento da garota que ele ama foi causado pelo pai dele? Hein? - Mark cuspiu as palavras na cara do pai. - Me fala, Steven! Me fala como você evitaria o sofrimento do seu filho fazendo alguém que ele ama sofrer! - Ele pressionou o pai.
- Você não entende! Isso começou muito antes de todos vocês. - Steven desconversou, fingindo que as palavras ditas por Mark não tinham desmoralizado ele.
- Ah, você está falando sobre a sua vingança idiota e patética? Você está falando sobre o que te manteve vivo todos esses anos? Sobre… se vingar e machucar a família da ? - Mark perguntou retoricamente. - Meus parabéns. Você conseguiu. Eles estão todos sofrendo! Eles estão sofrendo porque o seu filho está em uma cama de hospital entre a vida e a morte. - Ele fez uma breve pausa. - Você queria destruir a vida da ? Você também conseguiu. Foram incontáveis as vezes que eu a vi chorar nas últimas horas por causa do que você fez com o e se o pior vier a acontecer com ele, eu não sei quanto tempo ela vai conseguir viver com a culpa que ela sente que, na verdade, é toda sua. - Mark fez questão de apontar o dedo pro pai. - Você também queria que a deixasse de ficar entre mim e o , não queria? Bem, ela não vai poder ficar entre nós dois se o morrer. - Ele sabia que estava pegando pesado e estava fazendo de propósito.
- PARE! - Steven já não aguentava ser torturado.
- Não é incrível como você sempre consegue o que quer, Steven? - Mark ignorou o pedido do pai.
- Foi por isso que você veio até aqui? Foi pra me acusar? Foi pra jogar em cima de mim toda a culpa que eu já carrego? - Steven perguntou, abalado.
- Não. - Mark engoliu seco. - Eu vim aqui pra te dar a chance, a última chance de agir como o pai que você nunca foi. - Ele ainda estava lutando contra o próprio orgulho.
- Do que você está falando? - Steven demonstrou curiosidade.
- O está em coma. Ele perdeu muito sangue. - Mark estava falando aquilo com muito sacrifício. Ele não queria estar fazendo aquilo. - Ele precisa de sangue. - Ele continuou explicando.
- O próprio hospital pode ajudá-lo com isso. A doação de sangue é algo muito comum nos dias de hoje. - Steven achou que estava dando uma solução ao problema.
- Acontece que ele tem um dos tipos sanguíneos mais raros. O negativo. - Mark respondeu. É claro que ele percebeu o estranho comportamento do pai quando ele ouviu o tipo sanguíneo do . - Eu descobri que eu também sou O negativo e eu estava disposto a doar o meu sangue pra ele, mas a quantidade de sangue que ele precisa é maior do que a quantidade que eu posso doar. - Mark estava mantendo-se forte.
- Ele precisa de mais um doador. - Steven concluiu visivelmente transtornado.
- É, ele precisa. - Mark afirmou, tentando traduzir a expressão em seu rosto. - Nós procuramos em todos os lugares e em todos os hospitais. Não encontramos ninguém compatível. Foi então que eu recebi uma informação importante. Adivinha? - Ele encarou o pai. - O fato de eu e o sermos irmãos por parte de pai e termos o mesmo tipo sanguíneo significa que existe uma chance, uma grande chance do nosso pai também ser O Negativo. - Mark disse vendo o pai soar frio. - Com isso, teríamos o segundo doador e conseguiríamos salvar o meu irmão. - Ele concluiu. - A única coisa que nos resta saber agora é: o seu tipo sanguíneo também é O Negativo? - Mark cerrou um pouco os olhos ao encarar o pai.
- Eu não… - Steven estava muito estranho. - Eu não sei. - Ele demonstrava muito nervosismo. A resposta do pai foi suficiente para fazer Mark odiá-lo mais do que nunca. Só pela reação e atitude do pai, ele sabia que Steven estava mentindo. Mark sentiu vontade de acabar com ele ali mesmo.

O táxi finalmente chegou até a casa do Steven. Eu senti meu corpo estremecer só ao olhar para aquela casa, que me trazia tantos traumas que eu levaria para o resto da minha vida. Eu prometi para mim mesma que nunca mais passaria perto daquele lugar e... ali estava eu. Hesitei algum tempo antes de sair do carro e só sai porque vi o carro do Mark estacionado logo ali na frente. Paguei o motorista e ele partiu, me deixando sozinha naquele lugar. Eu estava muito assustada por estar ali. Eu estava assustada por saber que eu estava perto do Steven novamente.

Levou algum tempo até que eu tivesse a coragem de me aproximar da porta. Minhas mãos tremiam tanto que eu não conseguia controlar. Steven era definitivamente o maior trauma da minha vida. Meu corpo reagia de um jeito estranho e anormal só ao ouvir falar o nome dele. Minhas pernas estavam bambas. Eu mal sabia como eu tinha conseguido chegar até a porta. Eu estava muito nervosa. Meu coração parecia que ia sair pela boca. Eu não acredito que eu realmente estava fazendo aquilo. Eu não acredito que eu estava prestes a encarar o Steven novamente.

- É mesmo, Steven? Bem, eu sempre soube que o tipo sanguíneo é algo muito importante para os soldados que vão lutar pelo nosso país na guerra. Ouvi dizer, inclusive, que cada soldado tinha o seu o tipo sanguíneo escrito em sua própria farda. - Mark estava sendo irônico e frio. Era a maneira que ele encontrou para não explodir. - Você já esteve lá, não é, Steven? - Ele estava referindo-se a época em que o Steven serviu ao exército.
- Eu já disse que não sei. - Steven foi mais rígido. - Eu nunca fui muito atento a esse tipo de detalhe. Eu não… lembro. Eu não lembro de nada. - Ele tentou melhorar a desculpa.
- Eu vou perguntar mais uma vez. - Mark estava muito indignado com a reação de seu pai diante de toda a situação, mas ele continuava mantendo-se calmo. - Você é O Negativo? - O seu tom de voz já demonstrava que ele estava perdendo a paciência.
- Eu já disse. - Steven também tevtava manter a calma.
- Steven, você é O Negativo? - Mark perguntou com um tom mais alto e mais ameaçador. Eu ainda estava parada na porta da casa e ainda estava juntando coragem para batê-la quando eu ouvi a voz de Mark.
- Não! - Steven também aumentou o tom de voz.
- RESPOSTA ERRADA! - Mark gritou, partindo pra cima do pai. Segurou a sua camisa e o olhou furiosamente em seus olhos. Ele tinha certeza que o pai estava mentindo. Ele não aceitava o fato de o pai não queria ajudar o próprio filho. Era inadmissível. Era revoltante. - VOCÊ É O NEGATIVO? - Mark estava disposto a fazê-lo dizer a verdade. Era questão de honra fazê-lo assumir que tinha o mesmo tipo sanguíneo dos filhos e que não queria ajudar o .

Ouvir os gritos de Mark me fez esquecer todo o medo e toda a fraqueza que eu tinha sentido nos últimos segundos. Sabe quando você age por impulso? Sabe quando alguém muito importante precisa de você e você larga tudo pra ir ajudá-lo? Foi o que eu fiz. Em um momento de loucura, eu abri às pressas a porta e adentrei na casa de Steven. A primeira coisa que eu vi foi o Mark segurando o pai pelo colarinho. Steven já demonstrava estar sem ar.

- Mark! - Eu corri imediatamente até eles e toquei o braço do Mark, tentando fazê-lo soltar o pai. - Mark, deixa isso pra lá. - Eu pedi e ele mal me olhou. O ódio com que ele olhava para o pai era assustador.
- Você é a pior pessoa que eu já conheci. - Mark disse com o mesmo ódio. Havia poucas lágrimas em seus olhos. Lágrimas de ódio. - Eu tenho vergonha de ser o seu filho. Eu tenho vergonha de ter o mesmo sangue que você. - Ele continuou disparando contra o pai.
- Mark, por favor. - Eu pedi mais uma vez e ele continuou me ignorando. - MARK! OLHA PRA MIM. - Eu gritei, olhando pra ele. Ele hesitou um pouco antes de me olhar com os olhos marejados. - Deixa isso pra lá. - Eu falei de forma mais calma. - Nós vamos dar um jeito nisso. Só nós dois. - Eu estava olhando em seus olhos. - Nós vamos dar um jeito nisso. - Eu reafirmei com um fraco sorriso. Mark ainda ficou algum tempo me olhando antes de resolver soltar o pai. - Vamos embora. - Eu disse, tocando o seu peito com as minhas duas mãos.
- Seja grato a ela pelo resto da sua vida. Se ela não tivesse aparecido aqui, eu mataria você. - Mark voltou a se dirigir ao pai.
- Matar o seu próprio pai? Logo você que gosta tanto de julgar as minhas atitudes de pai. Me diz: qual é a diferença entre você e eu, garoto? - Steven disse, tentando recuperar o ar.
- Você não é o meu pai. Você não significa nada. - Mark afirmou com serenidade. - Você é só mais um desses lixos humanos com os quais eu tenho que lidar no meu dia normal de trabalho. - Ele se referia aos ladrões, assassinos, traficantes e afins com os quais ele lidava com frequência devido ao seu trabalho no FBI. - A diferença entre você e eles é que você teve uma segunda chance e não soube aproveitá-la. - Apesar da raiva, foi impossível esconder a enorme decepção.
- Eu não posso ajudar. - Steven negou com a cabeça, tentando não demonstrar a tristeza que sentia naquele momento.
- Vamos, Mark. - Eu tentei empurrá-lo e até consegui, mas não por muito tempo.
- Reza, Steven. - Mark gritou em direção ao pai. - Reza pra não acontecer nada com o porque se acontecer, eu juro que volto pra acertar as minhas contas com você. - Ele ameaçou antes de abandonar a casa ao meu lado.

- Vem. Vamos pro carro. - Eu segurei a mão dele e comecei a puxá-lo em direção ao carro dele. Ele entrou e sentou no banco do motorista e eu sentei no banco do passageiro. Eu já ia colocar o cinto de segurança, quando notei que ele encarava o volante do carro em silêncio. Ele estava arrasado.
- Hey… - Eu toquei a mão dele. Eu queria ajudá-lo.
- Eu não acredito que esse cara é o meu pai. - Mark me olhou com tristeza. Os olhos estavam cheios de lágrimas.
- Nós não precisamos dele. - Eu me movi no banco do passageiro, deixando o meu corpo de frente pra ele. Segurei a mão dele e passei a acariciá-la.
- É claro que precisamos. O que nós vamos fazer agora? - Mark perguntou. - Como vamos ajudar o agora? - Ele perguntou com a voz embargada.
- Vai aparecer um doador. Eu sei que vai. - Vê-lo daquele jeito fez as lágrimas voltarem aos meus olhos. Era muito angustiante.
- O próprio filho, . - O choro de Mark aumentou. - Ele não quis ajudar o próprio filho. - Ele completou. Aquilo cortou o meu coração de maneiras incontáveis. A única reação que eu consegui ter foi abraçá-lo com toda a força. Pela primeira vez, ele realmente estava chorando no meu ombro. - Que tipo de pessoa faz uma coisa dessa? - Ele disse durante o nosso abraço.
- Esquece ele. Não vale a pena. - Eu queria muito consolá-lo, mas nada do que eu dissesse seria o bastante. - Olha pra mim. - Eu terminei o abraço e olhei em seu rosto. - Você nunca precisou dele pra nada. Você é a melhor pessoa que eu já conheci. Você não precisou dele pra isso. Você não precisou dele pra ser essa pessoa. - Meus dedos secavam as lágrimas em seu rosto. - Você não precisa dele agora. - Eu completei. - Você sempre resolveu os seus problemas sozinho. Você sempre passou por todas as barreiras que a vida colocou no seu caminho sem ele. Você também vai conseguir passar por isso sem ele. Nós vamos passar por isso sem ele. - Eu corrigi. - Você não está sozinho dessa vez. Eu estou aqui. - Eu disse, enquanto acariciava o rosto dele. Minhas palavras foram acalmando ele aos poucos.
- Obrigado. Muito obrigado por estar aqui. - Mark se aproximou e beijou o meu rosto antes de me dar mais um abraço.
- Eu disse que não ia sair do seu lado, não disse? - Eu disse, enquanto ele ainda me abraçava.
- Você disse sim. - Mark sorriu fraco ao me olhar, depois de terminar o abraço. - Aliás, você se arriscou muito vindo até aqui. Você não deveria chegar perto desse cara. - Mark me deu uma bronca.
- Eu sei disso, mas é que… - Eu hesitei antes de continuar. - É você, sabe? Eu… não podia deixar você sozinho. Eu não podia que você fizesse algo que pudesse se arrepender depois. - Eu ergui os ombros. - Quando eu ouvi os seus gritos da porta, eu não pensei duas vezes antes de entrar e te tirar de lá. - Eu completei.
- Se você não tivesse chegado, eu ia… - Mark negou com a cabeça. Não era necessário continuar.
- Eu sei. - Eu deixei de olhá-lo por alguns segundos. - Mas… vamos deixar isso pra lá, ok? Vamos pensar no que realmente importa agora. - Eu tentei fazê-lo esquecer o que tinha acabado de acontecer.
- Vamos para o hospital. - Mark concordou comigo.
- Não, espera. - Eu evitei que ele ligasse o carro. - Eu vou pro hospital. Você vai pra sua casa e vai tomar um banho. Acredite, isso vai fazer você se sentir muito melhor. - Eu sabia que teria trabalho para convencê-lo.
- Não, não precisa. Eu to bem. - Mark negou, como o previsto.
- Olha, eu sei que você quer ficar perto do . Eu sei que você quer ser o primeiro a saber das notícias, mas você também precisa se cuidar. Só um pouco. - Eu tentei argumentar. - Eu vou chegar no hospital e vou ligar para todos os hospitais da cidade para saber se tem alguma novidade sobre as doações. Eu prometo que te ligo pra dar notícias. - Eu completei.
- Eu não sei se… - Mark ia negar novamente, mas eu o interrompi.
- Por favor. Faça isso por mim. - Eu já estava implorando. - É muito difícil te ver assim. Eu sei que um tempo longe do hospital vai te ajudar muito. - Eu usei o meu último argumento. Ele me olhou, enquanto tentava negar o meu pedido novamente.
- Está bem. - Mark cedeu, contrariado. - Mas por pouco tempo. - Ele ressaltou.
- É o bastante. - Eu sorri fraco.

Mark tinha passado por muita coisa nas últimas horas. Ele estava devastado fisicamente e mentalmente. Ele precisava se afastar um pouco de tudo aquilo, pensar e se acalmar. O que ele quase fez com o Steven demonstrava que o emocional dele estava no limite. Por isso, eu insisti tanto para que ele tirasse algum tempo só pra ele. Nem que esse tempo fosse, apenas, poucos minutos. Ele pode achar que é besteira, mas eu tenho certeza que vai ajudá-lo e que vai dar a ele mais força do que ele já tem.

Fiz questão de acompanhá-lo até a casa dele. Ele insistiu em me deixar no hospital, mas fui mais rápida ao ligar para a companhia de táxi e pedir para que um taxista fosse me buscar na casa do Mark e me levasse até o hospital. Mark me deu mais um beijo e mais um abraço antes de me deixar entrar no táxi. Ele prometeu que voltaria o mais rápido possível para o hospital e me pediu mais uma vez para ligar para ele se eu tivesse qualquer notícia. O jeito que ele me olhou pela última vez deixava claro a angústia que ele sentia por não estar indo ao hospital comigo.

O caminho até o hospital foi o momento que eu tive para respirar e administrar o turbilhão de sentimentos que eu estava sentindo. Além de ter o em uma cama de hospital, eu também tive que lidar com o choro do Mark. Foi muito difícil ver a decepção e tristeza nos olhos dele por causa da atitude fria do Steven. Foi muito difícil ver o desespero do Mark quando chegou a conclusão de que a sua última esperança de salvar o seu irmão tinha sido destruída pelo próprio pai. Foi extremamente difícil me manter forte durante todo o momento. Era muito triste saber que o Steven não sabia reconhecer os filhos incríveis que ele tinha. Era devastador ver o pai virando as costas para os próprios filhos. Eu sinceramente não conseguia pensar em nada mais triste.

Cheguei no hospital totalmente abalada emocionalmente. O que o Steven fez foi assustadoramente frio e traiçoeiro. Eu me sentia suja por ter presenciado a atitude desumana e grotesca que ele teve. Eu não podia imaginar como estava a cabeça do Mark naquele momento. Só em pensar nele e no que ele estava sentindo, eu sentia uma vontade enorme de chorar. Eu precisava MUITO receber uma boa notícia da Meg ou de um dos médicos.

- Oi. - Meg me olhou assim que eu entrei na sala em que costumávamos a trabalhar.
- Oi, Meg. - Eu tentei sorrir, mas foi uma tentativa mal sucedida.
- E então? Resolveu o que você tinha de tão importante pra resolver? - Meg me perguntou ao perceber que eu estava péssima.
- Resolvi. - Eu afirmei com a cabeça sem dar qualquer detalhe. - Obrigada por ter assumido tudo aqui sozinha. - Eu agradeci.
- Tudo bem. - Meg sorriu ao negar com a cabeça. - Eu não sei o que aconteceu, mas o hospital está meio vazio hoje. Eu consegui dar conta de tudo sozinha. Acho que nem perceberam que você saiu. - Ela comentou.
- Eu deveria estar super preocupada com a faculdade e… com o que o supervisor está achando de todas as minhas atitudes e pedidos de favores, mas… eu nem estou conseguindo pensar nisso. Eu estou… - Eu ergui os ombros. Nem foi preciso eu terminar a frase.
- Eu sei. - Meg entendeu o que eu quis dizer. - O que está acontecendo com o está mexendo muito com você. Ele é importante pra você. Eu entendo. - Ela estava tentando me ajudar a desabafar.
- Nós estávamos brigados. - Eu disse em tom de lamentação. Deixei de olhá-la para encarar as minhas mãos. Lá estava eu, segurando o choro mais uma vez. - Eu disse coisas horríveis pra ele. - Eu ainda estava com a cabeça baixa.
- Por que você não vai vê-lo? - Meg perguntou, me fazendo olhá-la.
- Eu não sei se consigo olhar pra ele… daquele jeito. - Eu neguei com a cabeça.
- Você pode ao menos dizer pra ele o que você está sentindo. - Meg continuou me incentivando.
- Ele não pode me ouvir. - Eu ergui os ombros.
- Ele não vai ouvir, mas você vai poder falar. Você vai poder colocar tudo pra fora. Isso vai te ajudar. - Ela aconselhou.
- Talvez me ajude, mas… - Eu hesitei.
- Mas o que? Me dê um bom motivo para você não ir vê-lo. - Meg cruzou os braços e continuou me olhando.
- E se… essa for a minha chance de me despedir? E se for a última vez que eu vou vê-lo? - Só ao cogitar aquela possibilidade, meus olhos já se encheram voluntariamente de lágrimas. - Eu não quero ir vê-lo sabendo que pode ser a última vez. Eu não quero vê-lo por que eu sei que vou ter que me despedir dele, por que eu simplesmente não sei o que vai acontecer. - Eu tentei engolir o choro.
- Se você sente que deve se despedir, se despeça. Se você tem a última chance de vê-lo, então vai vê-lo. Não significa que será uma despedida e nem que essa realmente será a última vez que você vai vê-lo. Significa você fazer algo que vai acalmar o seu coração. Significa você fazer algo que você quer muito fazer, mas não tem coragem e força pra isso. - Meg continuava tentando me incentivar.
- Eu não sei se… - Eu neguei com a cabeça.
- Vai. Eu seguro as pontas por aqui. - Meg me deu todo o apoio e toda a força que eu precisava.
- Eu tenho que… ligar para os hospitais pra saber se tem alguma novidade. Eu disse pro Mark que eu ligaria. - Eu achei que tinha encontrado uma boa desculpa para adiar a minha ida até a UTI.
- Certo, então eu ligo. - Meg resolveu o problema. - Você vai até a UTI e quando você voltar eu já vou ter ligado pra todos os hospitais e vou ter uma resposta. - Ela realmente pensou em tudo. Fiquei algum tempo olhando pra ela, como se dissesse: ‘Sério? Você vai mesmo me fazer ir até lá?’.
- Está bem… eu vou. - Eu disse depois de respirar fundo e engolir o choro. - Eu vou fazer isso de uma vez. - Eu afirmei mesmo sem coragem alguma de sair daquela sala.
- É assim que se fala. - Meg comemorou a minha decisão.
- Espero que quando eu voltar, você tenha uma boa notícia pra me dar. - Eu disse, enquanto eu fui me dirigindo em direção a porta.
- Eu também espero. - Meg sorriu fraco e nos trocamos olhares esperançosos antes de eu abandonar a sala.

Eu caminhei lentamente pelos corredores do hospital, inclusive, peguei o caminho mais longo até a UTI. Eu sabia que seria um choque muito grande e que vê-lo acabaria com o resto do emocional que ainda me restava. A dor, a tristeza, o trauma, o choro e medo de perdê-lo fizeram parte da minha rotina nos últimos dois dias e esses sentimentos pareciam já fazer parte de mim, pois eles já não me incomodavam mais. Eu já tinha me acostumado com eles, mas ver o colocaria tudo em um novo patamar. Eu não sabia se conseguiria ser tão forte.

Encarei a porta da UTI como se ela fosse o meu pior pesadelo e só consegui tomar qualquer atitude quando um enfermeiro a abriu pelo lado de dentro. Ele estava de saída, mas foi gentil em segurar a porta aberta para que eu entrasse. Então, eu tive que entrar.

- Oi, . Veio visitar o seu amigo? - O médico me abordou repentinamente. Eu estava tão avoada, que nem o vi se aproximar. v - Sim, eu… - Eu tentei agir naturalmente.
- Ele está no terceiro leito. - O médico apontou com a cabeça. - Eu preciso resolver alguns problemas. Pode ficar à vontade. - Ele disse e já foi se afastando. Eu nem tive tempo de respondê-lo. Ele saiu, me deixando ali sozinha. Olhei em volta e todos os pacientes pareciam desacordados. Talvez, aquele fosse o momento ideal para sair correndo daquela sala e fingir que nada aconteceu. Eu juro que cogitei essa possibilidade duas ou três vezes, mas desisti depois de ficar algum tempo olhando para o leito em que ele estava, que estava cercado por uma cortina.

Estar na presença dele já foi suficiente para acalmar o meu coração. Era como se o estivesse ali ao meu lado, me acalmando para o que eu estava prestes a fazer. Foi com essa estranha calma, que eu consegui andar até o leito em que o estava. Abri a cortina com receio e antes que eu pudesse ver qualquer coisa, passei por ela e a fechei logo em seguida. Fechei os olhos por poucos segundos e respirei fundo antes de me virar de frente para a cama em que ele estava deitado. Toda a calma que eu sentia deu lugar a uma tristeza imensurável, que tomou conta de todo o meu corpo. Dei alguns passos para me aproximar um pouco mais da cama e poder vê-lo melhor. Os olhos se encheram de lágrimas na mesma hora, mas eu tentei me segurar. Eu não conseguiria ficar muito tempo ali se eu chorasse tudo o que eu precisava chorar.

- Oi, . - Eu disse com um sorriso fraco que surgiu espontaneamente em meu rosto quando eu usei o nosso antigo apelido bobo. - Você me pediu pra não chorar, então eu não vou chorar. - Eu me lembrei da nossa dolorosa conversa a caminho para o hospital. - Eu sei que você não pode me ouvir, mas eu preciso dizer. Eu preciso muito te dizer algumas coisas. - Eu tentei me acalmar ou eu não conseguiria falar. - Eu sei que nós estávamos brigados. Eu sei que eu te disse coisas horríveis que acabaram te estimulando a tomar a decisão de entrar na frente daquela bala. - Eu levei uma das minhas mãos até a dele e a segurei com cuidado. - Eu quero que você saiba que sou muito grata pelo que você fez. Você não sabe, mas quando você entrou na frente daquela bala, você não salvou só o meu pai. Você, de certa forma, também me salvou. - Eu ainda segurava a mão dele, mas meus olhos estavam fixos em seu rosto. - Mas isso não é novidade, não é? Você já me salvou tantas vezes e de tantas maneiras. Eu queria tanto poder retribuir. Eu queria tanto fazer alguma coisa pra te tirar dessa cama. Eu queria tanto sentir de novo a sensação surreal que eu sinto toda vez que você me olha. Eu queria tanto ver mais uma vez aquele sorriso ridiculamente lindo que você dava quando você se declarava pra mim. Eu queria tanto te ouvir cantar a música que você escreveu pra mim. - Os olhos voltaram a ficar marejados.



- Eu queria tanto que você estivesse aqui me dizendo que tudo vai ficar tudo bem. - Uma lágrima solitária escorreu do canto de um dos meus olhos. - Vai ficar tudo bem, não vai? - Eu perguntei retoricamente. O nó em minha garganta estava prestes a me matar. Me aproximei mais de seu rosto, levando uma das minhas mãos até a sua testa, onde eu passei a acariciar. - Quando estávamos juntos, ver os seus olhos fechados assim costumava trazer um sorriso enorme pro meu rosto. Sempre que eu tinha a oportunidade, eu acordava e ficava quietinha, enquanto te olhava dormir. Hoje, olhando os seus olhos fechados, eu só consigo sentir um peso enorme no peito e uma vontade absurda de chorar. - Algumas outras lágrimas escorreram pelo meu rosto, enquanto eu acariciava o seu cabelo. - Você precisa ser forte. Eu preciso que você seja forte porque eu não aceito perder você desse jeito. - Eu neguei sutilmente com a cabeça. - Você pode até sair daqui e optar por ficar com outra garota. Alguém que realmente te mereça. Por mim, tudo bem. Eu vou te entender, mas…te perder assim... Eu não aceito. - Mesmo sabendo que ele não estava me ouvindo, eu estava implorando por algo que ele não tinha controle. Ninguém tinha.

Foi muito, muito difícil vê-lo naquela cama com todos aqueles aparelhos em volta dele. Alguém com quem eu convivi tanto nos últimos anos. Alguém que aos poucos foi se tornando especial e essencial na minha vida. Alguém que eu cogitei tirar da minha vida tantas vezes e que, agora, eu não fazia ideia de como eu viveria sem. Era um sentimento muito intenso e inexplicável. Depois do que o tinha (quase) feito com o meu pai e com toda a história relacionada ao Steven, eu nunca imaginei que me doeria TANTO vê-lo daquele jeito e que eu teria TANTO medo que o pior acontecesse com ele. Incrível como todas as vezes que eu estou prestes a superá-lo e seguir em frente, acontece alguma coisa para me mostrar que eu ainda o amava demais.

- Independentemente do que aconteça, eu quero que você saiba que eu amo você. - Voltei a acariciar o rosto dele, enquanto o olhava com carinho. - Ser amada, não por qualquer um, mas por você, o garoto mais popular da escola, o capitão do time de futebol, o cara que eu mais odiava no mundo, o cara mais ridiculamente charmoso e bonito que eu já conheci foi ,de longe, a coisa mais insana e incrível que já me aconteceu. - As lágrimas escorriam pelo meu rosto sem que eu tivesse qualquer controle. Era um choro tímido, mas muito sofrido. - De todas as coisas que você fez por mim, a melhor delas foi, sem sombra de dúvidas, me amar da maneira que nenhuma outra pessoa será capaz de amar. Obrigada por me amar, . - Eu agradeci com um fraco e triste sorriso. - Eu achei que tivesse vindo aqui para me despedir, mas eu não vou. Eu não vou porque eu sei que você vai conseguir superar tudo isso e se, por acaso, você não superar, eu sei que você vai continuar cuidando de mim de onde você estiver e que você vai estar sempre vivo dentro de mim porque o seu coração vai continuar sempre comigo. Eu prometo. - Eu me aproximei e beijei carinhosamente a sua testa. Fiquei mais algum tempo olhando cuidadosamente cada detalhe no rosto dele. Eu sabia que aquela poderia ser a minha última chance. - Lembra que você me fez prometer que eu não te deixaria sozinho? Ao contrário de você, eu cumpro as minhas promessas. - Eu deixei um sorriso escapar, enquanto eu passava os dedos pelo meu rosto para secar as lágrimas. - Eu não posso ficar muito tempo aqui. Ninguém pode, mas… - Eu coloquei uma das mãos no bolso e tirei de lá a caneta que eu havia guardado. - Eu vou dar um jeito nisso. - Com a caneta em mãos, eu me aproximei de uma das mãos dele e fiz um pequeno coração na parte de cima dela. - Lembra disso? - Eu perguntei retoricamente. - Você não está sozinho. Eu posso não estar aqui, mas o meu coração está. - Eu afirmei antes de depositar um beijo em cima do coração que eu havia desenhado. - Eu vou te esperar na linha de chegada, . - Eu fiz menção a um trecho da música que ele tinha escrito pra mim. - Não me faça esperar, ok? - Olhei pra ele pela última vez antes de abrir a cortina e depois fechá-la. Sai imediatamente da sala ou eu não conseguiria mais sair.

Um estranho alívio. Era isso o que eu sentia. O não havia melhorado e eu não tinha nenhuma garantia de que ele melhoraria, mas falar com ele e poder dizer o que estava entalado na minha garganta foi libertador. Não que eu me sentisse menos culpada pelo que tinha acontecido com ele, mas, pelo menos, eu fiz o que eu sentia que precisava fazer. Eu o vi e eu toquei nele outra vez. O coração que eu tinha desenhado em sua mão me deixou mais calma porque, agora, eu sabia que independentemente do que acontecesse, ele jamais estaria sozinho. Isso foi reconfortante, mas não acabava com a minha angústia e preocupação.

- ! - Meg me encontrou no corredor. Eu estava tão distraída e pensativa, que mal percebi que estava parada no meio de um dos corredores do hospital.
- Oi. - Eu a olhei como se tivesse acordado de um transe.
- Tudo ok? - Meg referia-se a minha ida à UTI.
- Sim, eu estou bem. - Eu afirmei na mesma hora, tentando parecer convincente.
- Que bom. - Meg sorriu fraco. Ela percebeu que eu tinha chorado. - Eu… eu liguei para os hospitais. - Ela disse de maneira receosa.
- Nada? - Eu deduzi só pela cara dela.
- Nada ainda. - Meg afirmou com tristeza.
- Quantas horas já se passaram? - Eu não fazia ideia.
- Um pouco mais que 55 horas. - Meg disse, depois de olhar no relógio.
- Meu Deus. - Fechei os olhos, levando uma das minhas mãos até a minha testa. As 48 horas já tinham passado há algum tempo e o pior poderia vir a acontecer a qualquer momento.
- Vamos esperar. Quem sabe… - Meg ia começar a me consolar, quando o toque do meu celular a interrompeu. Deixei de olhá-la para olhar para a tela do meu celular, que eu tinha acabado de tirar do bolso.
- É o Mark. - Eu avisei antes de atender. - Oi, Mark. - Eu atendi, enquanto olhava pra Meg.
- Você conseguiu alguma coisa? - A voz dele estava péssima.
-Não, eu… - Eu fechei os olhos e respirei fundo antes de continuar. - Eu ainda não consegui nada. - Voltei a encarar Meg, que continuava me olhando com tristeza.
- Ok, então… eu… - Mark parecia um pouco transtornado. - Eu preciso que você venha até a minha casa agora.. Você pode fazer isso? - Ele perguntou. O pedido dele me causou estranheza. Não era ele que viria para o hospital?
- Claro que posso, eu… - A minha preocupação me fez querer atender o pedido dele. Olhei para o meu relógio e vi que ainda faltava um pouco mais de 1 hora para que o meu expediente no hospital acabasse. Olhei pra Meg e na mesma hora ela fez um sinal positivo com as mãos, querendo me dizer que eu poderia ir. Ela cobriria o resto do meu expediente sem problemas. - Eu estou indo. - Eu afirmei, enquanto sorria para a Meg de forma agradecida.
- Estou te esperando. - Foi a única coisa que o Mark disse antes de desligar o telefonema.
- Ele está bem? - Meg perguntou, preocupada com o melhor amigo.
- Eu não sei. Ele… estava estranho. - Eu ergui os ombros, sem saber explicar. - Combinamos de nos encontrar aqui no hospital e agora ele quer que eu vá encontrá-lo na casa dele. - Eu completei.
- Então, vá! Eu dou conta de tudo aqui. - Meg não queria que seu amigo ficasse esperando.
- Obrigada mesmo, Meg. - Eu me aproximei e beijei rapidamente o seu rosto. - Qualquer coisa… - Eu comecei a dizer.
- Eu ligo! - Eu concluiu por mim.
- Obrigada. - Eu agradeci mais uma vez.

Eu sei. É o meu trabalho. É o que eu amo fazer, mas essa parte do meu sonho parece tão insignificante diante das circunstâncias. Não seria diferente se fosse com alguém da minha família ou com algum dos meus amigos. Eu poderia até vir a perder esse estágio no futuro, mas eu não me importava. A única coisa que me importava era estar presente para todas as pessoas que eu amava e que estavam precisando de mim. Mark estava precisando de mim e eu não pensei duas vezes antes de ir até a casa dele para ajudá-lo. Se ele precisa de mim, eu estarei lá por ele. Sempre.

Evitei passar pela sala de espera, onde a família do estava. Eu não tinha boas notícias para dar, por isso, eu preferia não dar notícia alguma. Chamei um táxi, o quarto do meu dia, e fui me encontrar com o Mark em sua casa. Eu não sabia o que esperar. Para ser bem sincera, eu não achei que fosse alguma coisa grave. Quando o táxi parou em frente a casa do meu vizinho, eu paguei o taxista e sai do carro. Andei até a porta e bati na porta algumas vezes.

- Mark? - Eu chamei por ele e a porta foi repentinamente aberta. - Oi. - Eu disse ao olhá-lo. O cabelo ainda estava um pouco molhado por causa do banho e ele vestia outra roupa.
- Oi. - Mark tentou sorrir. Eu me aproximei e o abracei por poucos segundos. - Obrigado por vir. - Ele agradeceu um pouco antes de eu terminar o abraço.
- Tudo bem. - Eu olhei em seu rosto e sorri, negando com a cabeça. Deixei de olhá-lo ao adentrar na casa. Ele fechou a porta logo atrás de mim. Os poucos passos que eu dei me aproximou da sala de jantar que, diferente de outras vezes, não passou despercebida. Os objetos que estavam em cima da mesa me fizeram paralisar. Uma seringa, alguns tubos e bolsas de sangue vazias. Meu corpo estremeceu. - O que são essas coisas? - Eu perguntei, me virando para olhar pro Mark. Ele não me respondeu, mas o jeito que ele me olhou foi mais esclarecedor do que qualquer outra coisa. Eu sabia exatamente o que ele estava planejando fazer. - Não. - Eu afirmei, séria. Ele sabia que eu não o deixaria fazer aquilo. - Você só pode estar maluco. - Eu fiquei muito indignada.
- Escuta. - Mark pediu se aproximando.
- Eu não vou deixar você fazer isso. - Eu o encarei de mais de perto.
- Ele é o meu irmão. - Mark argumentou.
- Isso pode te matar. - Eu não acreditava no que eu estava ouvindo. Aos poucos, o desespero foi tomando conta do meu corpo.
- Isso vai salvá-lo! - Mark alterou o tom da voz, tentando fazer com que eu me acalmasse. Ele percebeu que eu estava surtando. - Eu posso salvá-lo. - Ele reafirmou, me olhando nos olhos. - Eu não pude salvar a minha mãe, . Eu não pude fazer nada por ela e isso dói muito. - Mark disse com muita tristeza, mas conseguiu manter as lágrimas em seus olhos. Já eu, não consegui me segurar ao ouvi-lo falar da tia Janice com tanta tristeza. - O entrou há pouco tempo na minha vida, mas… ele é a única família que me restou. - Os olhos cheios de lágrimas deixaram de me encarar por poucos segundos para encarar o chão. - Me diz: como eu vou viver sabendo que poderia ter salvado ele? - Ele voltou a me olhar.
- Talvez, isso não seja necessário. Talvez, apareça um doador. - Eu tentei um último argumento.
- Qual é! Nós dois sabemos que não vai aparecer um doador. - Ele negou com a cabeça. - Você sabe. - Mark se aproximou e segurou uma das minhas mãos. Com os meus olhos cheios de lágrimas, olhei pra ele e neguei com a cabeça como se dissesse: ‘Eu não quero que você faça isso.’. - Eu já decidi. - Ele afirmou, me fazendo chorar de vez. Ao ver o meu sofrimento, Mark me acolheu em seus braços. Eu o abracei forte e encaixei o meu rosto entre o seu pescoço e o seu ombro.

Nas últimas horas, eu estava tentando me preparar para perder o . Mesmo com muitas esperanças, eu tentava me manter ciente da situação e tentava colocar na minha cabeça e no meu coração que existia a chance de eu perder o cara que eu mais amei até hoje. Eu nunca achei que teria que me preparar para perder o Mark. Eu não estava pronta para perdê-lo. Eu sabia que existia a pequena chance de ele ficar bem, mas era um risco enorme. Ele teria que doar o dobro de sangue que uma pessoa normal e saudável pode doar. Era muita coisa e era muito perigoso. Eu estava aterrorizada.

- Eu estou bem com tudo isso. Eu juro. - Mark tentou me acalmar. - Olha pra mim. - Ele pediu, interrompendo o nosso abraço. - Está tudo bem. - Ele reafirmou e até se esforçou para dar um sorriso, mas os olhos marejados entregavam ele.



- Você é uma pessoa maravilhosa. - Eu disse pra ele em meio as lágrimas. Levei minhas mãos até o seu rosto. - Eu admiro muito, muito mesmo o que você está querendo fazer pelo seu irmão, mas é que… - Eu ia dizer, quando o choro me interrompeu. Minhas mãos desceram até a sua nuca. - Eu não quero te perder. - Eu disse com a voz embargada, enquanto negava sutilmente com a cabeça.
- Eu sinto tanto por ter te colocado nisso, mas… eu não queria ter que fazer isso sozinho. - Mark sentiu poucas lágrimas escorrerem dos seus olhos.
- Por favor, não me peça isso. - Eu pedi em meio às lágrimas.
- Você disse que eu não estava mais sozinho. Então, não me deixe sozinho. Eu preciso de você. - Mark refez o pedido de forma emocionada. Fiquei olhando pra ele por algum tempo tentando administrar o que ele estava me pedindo. Ele queria que eu ajudasse ele com a coleta de sangue. Ele não poderia coletar de si mesmo aquela quantidade alta de sangue. Ele ficaria desacordado antes de terminar.
- Não. - Eu engoli o choro na mesma hora e retirei as minhas mãos de sua nuca. - Eu não posso. - Eu recusei o pedido dele, que era demais pra mim.
- Eu sei que isso pode dar problema pra você no hospital, por isso, ninguém precisa saber. É só você dizer que me encontrou aqui e que chamou a ambulância. - Mark usou novos argumentos para me convencer.
- Não tem nada a ver com isso. Tem a ver com a loucura que você quer cometer. Eu não vou colaborar com isso. - Eu achei que esse meu discurso faria ele mudar de ideia. Eu achei que se eu não o ajudasse, ele desistiria de fazer aquilo.
- Ok, então eu faço tudo isso sozinho. - Mark estava mais do que decidido. Ele doaria o sangue para o irmão de qualquer jeito.
- Você não pode fazer isso sozinho. - Eu sabia que se ele fizesse isso sozinho, ele não sobreviveria.
- E o que eu tenho a perder? - Mark abriu os braços. - Eu te chamei aqui porque eu precisava de alguém que me ajudasse. Eu sei que não vou conseguir me manter acordado até coletar a quantidade de sangue que eu tenho que coletar e, por isso, eu precisava de alguém que impedisse que o resto de sangue que vai me restar seja coletado. Eu precisava de alguém que chamasse uma ambulância. - Ele começou a me explicar. - Mas se você não quer fazer isso, eu entendo. Eu vou fazer do meu jeito. - Mark se afastou de mim, enquanto secava as lágrimas em seu rosto com suas mãos. Eu fiquei parada vendo ele ir até a mesa de jantar e começar a tirar a seringa da embalagem.

Cada hora parecia que eu tinha um ‘novo pior momento da minha vida’. Impressionante. Todas as vezes que eu achava que não podia ficar pior, alguma coisa muito pior vinha à tona. Primeiro o quase atirando no meu pai, depois o tiro que o levou pelo meu pai e, agora, o Mark pedindo a minha ajuda para fazer algo que pode tirar a sua própria vida. Eu, sinceramente, não tinha emocional para mais nada. Eu estava devastada de diversas maneiras ou de todas as maneiras possíveis. Eu não aguentava mais chorar. Eu não aguentava mais sentir aquele medo e aquela angustia que me corroíam por dentro. O que eu realmente queria era entrar em um buraco e ficar lá o resto da minha vida para não precisar sentir mais nada, mas eu não podia. O Mark precisava de mim. Em consideração a tudo o que nós já vivemos e a pessoa incrível que ele é e sempre foi, eu não podia deixá-lo na mão. Mesmo que isso custe a tristeza que eu jamais conseguiria superar. Eu não podia deixá-lo sozinho em um momento como aquele. Além disso, eu jamais o deixaria sozinho para morrer.

- Espera. - Eu disse depois de dar alguns passos e parar ao lado dele. Peguei a mão dele que estava mexendo com os objetos que estavam sobre a mesa e fiz com que ele virasse de frente pra mim. - Você tem certeza? - Eu perguntei, olhando em seus olhos.
- Eu tenho certeza. - Mark afirmou com a cabeça. Eu via medo nos olhos dele, mas eu também via coragem. Quando ele confirmou a certeza, eu respirei fundo e tentei engolir o choro.
- Então, eu te ajudo. - Eu afirmei com tristeza. Mark sorriu com os olhos e aproximou uma de suas mãos de meu rosto, onde ele começou a acariciar.
- Desculpa por ter te colocado nisso. - Ele disse, pois percebeu o quanto eu estava emocionalmente abalada com aquilo. Ele sabia que era pedir demais, mas eu era a sua única alternativa.
- Eu não vou te deixar sozinho. - Eu toquei a mão dele que acariciava o meu rosto e o olhei com carinho. Me aproximei, beijei o seu rosto e o abracei forte. O meu receio era que aquele fosse o nosso último abraço, o que tornou tudo mil vezes mais doloroso. Enquanto eu o abraçava, uma de minhas mãos acariciava os fios de cabelo que estavam próximos a sua nuca. Com os olhos fechados, tentei mentalizar aquele momento para poder guardá-lo para sempre em minha memória.
- Obrigado. - Mark agradeceu, beijando carinhosamente a minha cabeça.

Mesmo sem estar emocionalmente pronta para ajudar o Mark com a coleta de sangue, ele estava com pressa. Ele sabia que o não aguentaria tanto tempo, por isso, quanto mais rápido coletássemos o sangue, melhor. Ainda com lágrimas em meu rosto, eu comecei a preparar a seringa e o tubo que levaria o sangue até a bolsa de sangue, que já continha uma porcentagem de PFC (líquido que evita que o sangue coagule). Com certeza, o Mark tinha conseguido tudo aquilo em um hospital. Por ser do FBI, é bem fácil conseguir determinadas coisas sem qualquer questionamento.

- Onde eu fico? - Mark me perguntou, quando percebeu que já estava tudo pronto.
- Pode deitar no sofá. É melhor. - Eu o orientei e ele foi até o sofá na mesma hora. Me sentei ao lado dele no sofá e comecei a procedimento.

Nada daquilo era surpresa pra mim, pois coletar sangue costumava ser uma das minhas rotinas no hospital, mas daquela vez, em especial, foi extremamente difícil. No começo, Mark ficou tentando me distrair a todo custo. Eu entendi exatamente o que ele estava tentando fazer e, por isso, dei a ele toda a minha atenção. Nós conversamos e trocamos sorrisos e olhares. Estava tudo bem até um pouco depois de eu começar a coletar a segunda bolsa de sangue. A segunda bolsa de sangue já extrapolava o limite de doações, que era de uma bolsa de sangue de 450ml. Portanto, a segunda bolsa de sangue já colocava o Mark na zona de risco e isso ficou mais do que claro para mim. Aos poucos, ele foi ficando cada vez mais quieto e pálido. Os primeiros sinais começavam a aparecer. Acariciei o seu rosto, fazendo com que ele me olhasse.

- Eu estou bem. - Mark tentou me tranquilizar. Tirou a minha mão de seu rosto e a levou até a sua boca para que ele pudesse beijá-la.
- Eu sei que você não está. - Eu afirmei, olhando em seus olhos. - Tudo bem. Você pode parar de se preocupar comigo agora. - Eu sabia que ele estava preocupado comigo e com o meu papel em meio a tudo aquilo.
- Eu não sei fazer isso. - Mark disse e até chegou a sorrir fraco.
- Vai ficar tudo bem, ok? - Eu quis tranquilizá-lo. - Guarde suas energias. - Eu pedi, pois sabia que se ele não se poupasse, perderia a consciência mais rapidamente.
- Eu só… preciso que você me prometa uma coisa. - Mark pediu com um pouco de dificuldade.
- Prometer o que? - Eu dei a ele minha total atenção.
- Você não vai parar. - Mark me olhou, sério. - Independentemente do que aconteça, você não vai parar. Você vai coletar todo o sangue que ele precisa. - Ele completou e logo notou a minha hesitação. - Me prometa. - Mark insistiu.
- Eu não vou parar. Eu prometo. - Eu disse o que ele queria tanto ouvir. O olhar, que antes estava apreensivo, agora, estava calmo. Ele parecia me agradecer.

Eu fiquei o tempo todo ao lado dele. Eu o vi ficar cada vez mais pálido. Eu o chacoalhei a cada piscada de olhos mais longa que ele dava. Eu segurei o choro quando vi a respiração dele ficar gradativamente mais fraca. Eu senti meu coração apertar a cada gota de sangue que enchia aquela segunda bolsa de sangue. Eu quis desistir de tudo quando apertei uma das mãos dele e não senti ele apertá-la de volta. Eu não tinha coragem de chamá-lo, pois tinha medo que ele não me respondesse. Eu estava com tanto medo de perdê-lo. Era horrível a sensação de querer gritar por ajuda, de querer fazer alguma coisa para evitar que o pior viesse a acontecer e não poder. A única coisa que eu tinha que fazer era ficar ali, vendo ele sacrificando a sua própria vida pela vida do irmão.

Os olhos já estavam há algum tempo fechados, mas ele ainda respirava. Ainda havia esperança. Em um ato involuntário, juntei minha mão esquerda com a minha mão direita, que segurava uma das mãos dele. Minhas duas mãos agora seguravam a mão dele e meus joelhos estavam dobrados ao lado do sofá. O leve movimento que eu fiz com as mãos fez com que os olhos dele despertassem repentinamente. Ele estava sendo MUITO forte. Mark virou a cabeça lentamente em minha direção para que ele pudesse me olhar. Mesmo estando aliviada por ele ainda estar consciente, meus olhos ainda insistiam em ficar cheios de lágrimas. Era muito difícil vê-lo daquele jeito.

- Você… - Mark começou a tentar me dizer alguma coisa.
- O que? - Eu demonstrei interesse em suas palavras. Me aproximei um pouco mais dele para poder entender.
- Você não é… só a única que… - Ele respirou fundo antes de continuar. - Poderia me ajudar nisso. - Mark fez uma nova pausa. Ele estava tendo muita dificuldade em terminar a frase. - Você também é… a única pessoa que… - Outra pausa. - Que eu queria… que estivesse do… meu… lado… se… - Os olhos dele foram se enchendo voluntariamente de lágrimas, enquanto ele se esforçava muito para finalizar a frase que ele precisava tanto dizer. - Se hoje… for o meu… último dia. - Uma lágrima solitária escorreu de um de seus olhos quando ele terminou a frase. Eu também voltei a chorar involuntariamente. Soltei a mão dele para acariciar o seu rosto, enquanto eu o olhava de bem perto.
- Eu amo tanto você. - Eu disse aos prantos. Meu coração parecia me dizer que era uma despedida. - Obrigada por me escolher. - Eu agradeci, enquanto enxugava a lágrima dele com um dos meus dedos. - Obrigada por sempre me fazer sentir tão amada. - Eu terminei a frase com a voz embargada.

Os olhos dele se fecharam assim que eu acabei a minha frase. Olhei para a bolsa de sangue, vi que faltava pouco para que ela enchesse. Voltei a olhá-lo. Minhas mãos tremiam por puro nervosismo e medo. Em um gesto involuntário e totalmente afetivo, aproximei o meu rosto do dele e colei meus lábios salgados e molhados nos lábios frios e pálidos dele. Mark não se moveu. Ele mal tinha sentido o beijo e essa também não era a minha intenção. Minha intenção era extravasar, de alguma forma, o carinho, amor e a gratidão que eu sentia por ele. Olhei pra ele pela última vez antes de me afastar dele para poder me sentar no chão, ao lado do sofá. Meus braços seguravam as minhas pernas encolhidas e meu queixo apoiou-se em um dos meus joelhos, enquanto eu chorava silenciosamente. Eu estava tão machucada, tão devastada de tristeza e dor e não importava o quanto eu chorasse, esse sentimento nunca me abandonava.

Fiquei ali sentada, inconsolável e sem ter coragem de voltar a olhar para o Mark e checar se ele ainda respirava. Eu olhava para a bolsa de sangue e começava a contar as gotas de sangue, enquanto me perguntava quantas gotas daquelas seriam necessárias para que aquela tortura acabasse. Foram os minutos mais longos da minha vida. Quando a segunda bolsa de sangue estava finalmente completa, eu me levantei do chão com o rosto coberto de lágrimas e me aproximei da minha bolsa, onde estava o meu celular. Aquela era, finalmente, a minha hora de entrar em ação. Minhas mãos tremiam e eu mal consegui digitar o número do hospital direito.

- Alô? Eu preciso de uma ambulância agora! - Eu afirmei em tom de desespero. Enquanto passava o endereço da casa do Mark, eu o olhava de longe. Ele continuava desacordado. Olhá-lo só me deixou mais tensa e mais nervosa. - É URGENTE! - Eu disse antes de desligar o celular.

Eu estava tão mal. O nó em minha garganta era tão grande, que eu não conseguia respirar direito. Guardei o meu celular de volta na bolsa e voltei a encarar o Mark de longe. Fui me aproximando lentamente e quanto mais perto eu chegava, mais lágrimas se acumulavam em meus olhos. Meu medo era constatar que ele já estava sem vida. Eu não conseguiria superar.

Continuei me aproximando e quando cheguei até ele, eu me ajoelhei para poder me aproximar ainda mais. Com o coração extremamente acelerado, chequei os batimentos em um de seus pulsos. Quando eu percebi que ainda haviam batimentos, um sorriso espontâneo surgiu em meu rosto, enquanto eu chorava por puro alívio. Ele era mesmo muito forte! Levei uma das minhas mãos até uma das mãos dele, enquanto eu deitava a minha cabeça sobre o peito dele. Fiquei um bom tempo chorando, enquanto tentava me acalmar.

- Nós conseguimos. - Eu levantei a minha cabeça e a aproximei do rosto dele. - Você conseguiu, Mark. - Eu disse em tom de alívio.- Vai dar tudo certo. - Eu me aproximei e beijei uma de suas frias bochechas.

A ambulância não demorou mais que 5 minutos para chegar. Ao chegar na casa e se depararem com aquela situação, começaram a me perguntar o que é que tinha acontecido, enquanto o colocavam na maca. Eu só conseguia repetir que eu tinha chegado há pouco tempo e que tinha encontrado ele daquele jeito.

Colocaram o Mark na ambulância e eu fiz questão de ir junto. Fiquei ao lado dele, enquanto os enfermeiros seguiam o procedimento padrão como: checar os batimentos, medir a pressão, entre outras coisas. No caminho do hospital, chegaram a me perguntar se eu sabia o porquê do Mark ter feito aquilo. Eu fui sincera e fiz um breve resumo sobre a situação do . Todos os profissionais que estavam na ambulância ficaram surpresos, mas também ficaram comovidos. Não é algo que se vê todo dia.

Quando chegamos no hospital, Mark foi levado imediatamente para a UTI para ser avaliado por um dos médicos. Fiz questão de levar as bolsas de sangue até banco de sangue do hospital para que fosse dado baixa no sistema do próprio hospital. Meu medo era que o sangue acabasse se perdendo de alguma maneira ou que fosse doado para outra pessoa. Mark fez a parte dele e a minha única obrigação era garantir que o recebesse o sangue doado ainda naquela noite. Eu não podia falhar.

Depois de deixar as bolsas de sangue no banco de sangue do hospital, fui direto falar com o médico que era responsável pelo . Eu precisava agilizar a transfusão de sangue. Eu precisava avisá-lo que poderíamos salvar o . Andei por todo o hospital atrás daquele médico e tive até que usar os meus contatos dentro do hospital para conseguir chegar até ele.

- Doutor! - Eu o abordei no meio do corredor. Ele tinha uma prancheta nas mãos.
- Pois não? - O médico me achou meio alterada, mas mesmo assim me deu atenção.
- Nós conseguimos a doação. Nós vamos poder salvar o . - Eu falei, eufórica.
- Ok, ok. Se acalma! - O médico não tinha entendido nada. - Fala. - Ele pediu para que eu repetisse.
- A doação que o precisava? Nós conseguimos, doutor. - Eu disse em meio a um sorriso emocionado.
- Conseguiram? Mas que ótima notícia! - O médico ficou surpreso. Nem mesmo ele tinha esperanças. - Vou providenciar a transfusão de sangue agora mesmo! - Ele afirmou, animado. - Já foi dada a entrada no banco de sangue do hospital? - O médico questionou, enquanto andava rapidamente pelo corredor. Acompanhei ele.
- Sim! Já deve, inclusive, estar no sistema. - Eu informei.
- Ótimo! Eu vou providenciar tudo! - O médico parou de andar e me olhou com um fraco sorriso. - Alguém lá em cima gosta muito do seu amigo. - Ele disse antes de sair apressadamente. A frase dele me arrancou um sorriso emocionado.
- Alguém aqui embaixo também. - Eu disse em meio a um sussurro. Eu estava me referindo ao Mark.

Um fardo enorme tinha saído das minhas costas. Parecia até que eu estava conseguindo respirar normalmente. O nó na minha garganta já não era tão grande, mas ele ainda estava lá. As coisas estavam começando a dar certo pro , mas ainda tinha o Mark. Enquanto eu não tivesse uma boa notícia dele, eu não conseguiria comemorar a provável melhora do . Por isso, fui atrás de alguns enfermeiros conhecidos para tentar conseguir alguma informação sobre o Mark. Nenhum deles foi capaz de me dar uma notícia. Mesmo estando aflita e preocupada, eu precisava fazer uma coisa importante. Eu precisava dar a boa notícia para a família do e para todos os interessados. Para isso, fui até a sala de espera. Eu sabia que eles ainda estavam lá.

- ! - Minha mãe foi a primeira a me abordar quando eu entrei na sala que, por sinal, estava bem lotada. - Onde você esteve durante todo o dia? - Ela me perguntou, depois de me dar um abraço preocupado.
- Muita coisa aconteceu, mãe. - Eu a olhei com um olhar triste e cheio de esperança. A mãe de estava perto e me olhou. - Foi por isso que eu vim aqui falar com vocês. - Eu olhei para a mãe do e consegui perceber o quão esgotada e devastada ela estava. Olhei rapidamente para a minha mãe, como se estivesse dizendo: ‘Me deixe fazer isso.’. Me afastei um pouco da minha mãe e fui até a família de , que estava sentada nas cadeiras. estava sentada entra a mãe e o pai.
- Oi, querida. - A mãe de tentou sorrir pra mim. Parei na frente dela e estendi minhas mãos para que ela as segurasse. Ela levou suas mãos até as minhas e se levantou, colocando-se em minha frente.
- Eu vim até aqui te dar uma notícia. - Eu disse, olhando em seus olhos. A expressão de cansaço desapareceu de seu rosto na mesma hora. Os olhos dela se esbugalharam, enquanto os meus foram se enchendo de lágrimas aos poucos.
- O meu filho... - Ela mal conseguia respirar direito. - Não me diga que… - Ela não conseguiu continuar e começou a negar com a cabeça, sem querer acreditar que o pior tinha acontecido. Eu simplesmente balancei a cabeça negativamente em meio a um sorriso fraco e emocionado.
- Conseguimos a doação. - Eu segurei mais forte em suas mãos e ela desabou. O choro de alívio foi inevitável. Eu a abracei carinhosamente. - Ele vai ficar bem. - Eu disse a ela, enquanto ela me abraçava muito forte. Mesmo sem entender tudo o que estava acontecendo, comemorou com o seu pai. Ela sabia que o irmão dela ficaria bem. Meus pais também comemoraram.
- Meu Deus, eu nem acredito. Eu orei tanto. - A mãe do e da não conseguia parar de chorar, mas já era possível ver um sorriso em seu rosto.
- Eu sei. - Eu estava totalmente comovida com ela. - Seu filho tem um anjo da guarda dos bons. - Eu me referi ao Mark, mas é claro que ela não sabia.
- É, ele tem. - Ela concordou em meio a um sorriso. - E, quando eu vou poder vê-lo? - A mãe dele me perguntou.
- Bem, a transfusão de sangue deve estar acontecendo nesse momento. Eu não sei dizer com certeza, mas… ele deve estar consciente até amanhã a tarde. - Apesar de já ter lido várias coisas a respeito, eu não tinha certeza.

O clima naquela sala de espera era outro. A mãe do começou a ligar para a família para dar a boa notícia e eu aproveitei a oportunidade para avisar os meus amigos. Achei mais fácil mandar uma mensagem para todos e esperar que eles me ligassem. Bem, eles ligaram! Todos estavam muito felizes e empolgados e, por isso, resolvi não contar quem tinha sido o doador e a situação em que o Mark se encontrava. Era melhor contar quando tudo já estivesse resolvido. Eu tinha esperança que tudo se resolveria. Era melhor evitar mais sofrimento. Eu podia lidar com ele sozinha, certo?

Foi bem difícil esconder a verdade da mãe do , já que ela insistiu muito para que eu dissesse quem tinha sido o doador. Também foi bem difícil ouvir ela me pedir para dar a boa notícia para ‘aquele amigo do que ficou o tempo todo no hospital e que parecia muito preocupado com o filho dela’. Sim, ela estava se referindo ao Mark. Se ela soubesse…

Diante da boa notícia, conseguiram convencer a família de a abandonar o hospital por algumas horas. Já que eles só poderiam ver o no dia seguinte, não fazia sentido que eles continuassem no hospital. Meus pais levaram eles para a minha casa. Eles até chegaram a insistir para que eu fosse para casa para descansar também, mas eu neguei sem dar muitas explicações. Eu ainda precisava de notícias do Mark. Eu só ficaria tranquila quando tivesse certeza de que ele também ficaria bem. Além disso, eu tinha que ficar e conversar com a Meg sobre o que tinha acontecido. Não daria para esconder dela a situação do Mark nem se eu quisesse, já que ela trabalhava no hospital. Ela chegou logo depois que os meus pais e a família do foram embora.

- O que foi que aconteceu? Vi os seus pais e os pais do indo embora. Eles estavam tão empolgados… - Meg me perguntou assim que chegou. Ela tinha cruzado com eles no estacionamento do hospital.
- A transfusão de sangue está sendo feita nesse momento. - Eu contei para ela com um fraco sorriso.
- Jura!? - Meg abriu um enorme sorriso. - Então, o conseguiu a doação? - Ela comemorou.
- Ele conseguiu. - Eu afirmei com a cabeça.
- Que ótima notícia! - Meg me abraçou, pois imaginava o quanto eu estava feliz. Ela não era tão próxima ao , mas nunca desejou o seu mal. É claro que ela também ficou muito feliz.
- Eu nem acredito. - Eu disse em meio a um suspiro de alívio.
- Espera. Por que você não parece tão feliz? - Meg perguntou assim que terminou o abraço.
- Eu estou feliz. - Eu tentei disfarçar.
- Mas… - Meg sabia que havia um porém.
- Ok. Você vai ficar sabendo de qualquer jeito. - Eu ergui os ombros, sem ter muito o que fazer.
- O que foi? - Meg ficou mais séria.
- Não teve um segundo doador. - Eu não dei mais detalhes, pois achei que ela entenderia o que eu quis dizer.
- Como não teve um segundo doador? Como ele está recebendo a transfusão, então? - Ela perguntou, sem entender.
- O teve apenas um doador, Meg. - Eu disse com tristeza. Demorou poucos segundos para que ela concluísse o envolvimento de Mark em tudo aquilo.
- Não… - Meg negou com a cabeça com os olhos esbugalhados. - O Mark não… - Ela não queria acreditar.
- Ele doou todo o sangue que o precisava. Ele salvou a vida do irmão. - Eu afirmei, emocionada. Falar da atitude de Mark sempre me deixaria emotiva.
- Meu Deus. - Meg começou a chorar na mesma hora, afinal, tratava-se de seu melhor amigo. - Tadinho. Ele não merecia passar por tudo isso. - Ela disse aos prantos.
- Eu tentei falar com ele, mas ele já havia decidido. Ele precisava fazer isso. Se algo acontecesse com o , eu nem sei o que ele faria. - Eu segurei as mãos dela, tentando acalmá-la, mas a verdade é que eu também estava muito desestabilizada.
- E onde ele está, agora? Você ainda não soube nada sobre a situação dele? - Mais do que nunca, a Meg queria notícias.
- Não. Ele foi trazido para o hospital há algumas horas e eu não consegui notícias. - Eu neguei.
- Não acredito. - Meg continuava negando incessantemente com a cabeça. - E se alguma coisa acontecer com ele? Como ele acha que o vai ficar? Isso foi loucura! - Ela comentou.
- Eu sei! Eu tentei fazê-lo desistir dessa ideia de todas as maneiras. Você conhece ele! Você sabe o quanto ele é teimoso. - Eu queria que ela soubesse que eu tinha feito o possível para evitar tudo aquilo.
- Eu sei, eu sei. - Meg levou uma das mãos a cabeça, reconhecendo que eu estava certa.
- O que você acha? - Eu quis saber a opinião dela. - Quais as chances dele? - Eu completei a pergunta. Ela também tinha bons conhecimentos no assunto.
- As chances dele são maiores do que as que o tinha, mas… - Meg ergueu os ombros.
- Continua sendo arriscado. Cada pessoa reage de uma maneira. - Eu completei a frase por ela.
- Eu espero que ele seja forte. - Meg juntou as mãos.
- Ele é forte. Ele vai superar tudo isso. - Eu disse antes de abraçá-la. - Ele vai voltar pra nós. - Eu acariciei as costas dela, tentando acalmá-la. Eu também estava arrasada, mas eu estava me esforçando muito para ser forte por ela. Ela precisava de mim.
- Deus te ouça. - Meg se agarrou em minhas palavras e em minhas esperanças.

Fiquei ao lado dela o resto da noite. Foram horas e horas engolindo o choro, disfarçando o desespero e ignorando o meu próprio nervosismo. Eu tinha essa mania de roubar a dor de todos a minha volta só pra mim. Eu era ótima em me fazer de forte pra todos e em consolar todo mundo, enquanto eu também precisava de consolo. Era o meu instinto de proteção falando mais alto. Era a minha dificuldade em ver as pessoas que eu amo sofrer falando mais alto. Eu não conseguia evitar.

As notícias não vinham. Nós não sabíamos o que estava acontecendo. Meg conseguiu se acalmar, mas eu estava uma pilha de nervos. Minhas mãos suavam frio e meu coração estava apertado. No final da noite, o chegou a ligar para a namorada, mas antes que ela atendesse o telefonema, eu implorei para que ela ainda não contasse para ele sobre o Mark. Tudo o que nós não precisávamos naquele momento era responder milhões de perguntas. Além disso, era impossível explicar a atitude do Mark sem contar sobre o vínculo familiar entre ele e o . Aquele não era o momento certo para contar a eles. E assim fizemos!

Amanhecemos no hospital. Mais uma noite naquela sala de espera! Eu já nem sabia há quanto tempo eu estava sem dormir. Eu não sabia como eu ainda estava aguentando. O café provavelmente ajudou. Meg e eu deixamos o hospital para irmos para casa para tomar um banho e trocar de roupa para irmos trabalhar. Nós duas trabalharíamos no turno da manhã naquele dia. Já tínhamos pedido autorização ao nosso supervisor. Mas e a faculdade? Bem, fazia dias que eu não me lembrava que ela existia.

Meg e eu começamos o nosso turno às 8 horas. A primeira coisa que fizemos foi tentar conseguir notícias do Mark. Não sabiam se ele estava na UTI ou em um dos quartos. Ninguém falava nada, o que me deixou ainda mais preocupada e receosa. Com o , nós ainda recebíamos notícias. Poucas notícias, mas ao menos sabíamos o que estava acontecendo. E com o Mark? O que será que estava acontecendo? Por que não estavam querendo nos dar notícias? Essas perguntas ficaram na minha cabeça durante toda a manhã. Mesmo trabalhando, eu não conseguia esquecer o Mark. A falta de notícias estava me matando. Foi ai que uma notícia chegou. Uma notícia trazida por um dos médicos, mas que não era sobre a pessoa que eu esperava.

- Desculpe atrapalhar o seu trabalho, mas é que você estava tão aflita que eu me vi na obrigação de vir até aqui te avisar. - O médico parecia trazer uma boa notícia.
- O que aconteceu? - Eu fiquei extremamente curiosa.
- O seu amigo… , certo? Ele acabou de acordar. - A notícia trouxe um sorriso involuntário para o meu rosto. Eu esperei tanto para ouvir aquela frase.
- Jura? - Eu não consegui esconder a minha felicidade.
- Juro. - O médico riu da minha reação. - Procurei pela família dele na sala de espera, mas não encontrei ninguém. - Ele disse.
- Eu vou ligar para eles. - Eu me responsabilizei.
- Eu vou liberar as visitas, está bem? Depois de tudo o que aquele garoto passou, ele merece receber todas as visitar que puder. - O médico só confirmou o que eu já sabia sobre ele: ele era uma ótima pessoa.
- Muito obrigada, doutor. - Eu demonstrei muita gratidão.
- Tudo bem. - O médico negou com a cabeça antes de dar alguns passos em direção a saída da sala.
- Só mais uma pergunta. - Eu tinha que perguntar. Ele parou em frente a porta e eu fui até ele. - Alguma notícia sobre o irmão do ? - Eu quis saber.
- Me desculpe. Eu não tenho notícias, pois não estou cuidando do caso. - O médico lamentou.
- Tudo bem. Eu agradeço da mesma forma. - Eu sabia que se ele soubesse qualquer coisa, ele me diria.
- Até mais. Estou torcendo para o seu outro amigo. - O médico foi gentil antes de sair de vez da sala. Meg encontrou com ele na porta e veio desesperadamente atrás de mim, achando que eu tivesse recebido notícias do Mark.
- Ele veio falar do Mark? - Meg me perguntou, aflita.
- Não. Ele veio falar do . Ele acabou de acordar. - Eu disse e Meg ficou um pouco decepcionada. A decepção não estava relacionada ao e sim relacionada a falta de notícia do melhor amigo dela.
- Finalmente uma boa notícia, não é? - Meg tentou compartilhar um pouco da minha felicidade. - Agora, você pode ir vê-lo. - Ela disse.
- Eu não sei se… tenho coragem pra isso. - Eu não demonstrei muita empolgação.
- De novo essa história? - Meg cruzou os braços.
- É difícil pra mim, Meg. Eu me sinto culpada por tudo o que está acontecendo. Como eu vou contar pra ele sobre o Mark? Como você acha que ele vai reagir? - Eu me justifiquei. - Eu causei tudo isso e agora o irmão dele está entre a vida e a morte. Como você acha que ele vai lidar com tudo isso? Como você acha que eu estou lidando com tudo isso? - Eu apontei para mim mesma.
- Ok, mas… o que você vai fazer então? - Meg questionou.
- Eu vou avisar a família dele. Eles merecem ver o antes de mim. - Eu disse antes de ir até a minha bolsa e pegar o meu celular. - Depois, eu vejo o que eu faço. - Eu comecei a digitar o número do celular do meu pai. Ele daria o recado para a família do .

Depois de avisada, a família de não demorou mais do que uma hora para aparecerem no hospital. Todos estavam muito eufóricos e ansiosos, mas só foi permitido entrar uma pessoa por vez, com exceção de , que pode entrar no quarto com a sua mãe. Ela chorou muito assim que viu o seu filho. Aparentemente, ele até que estava bem, mas ainda havia um pequeno tubo próximo ao seu nariz que ajudava a sua respiração que ainda não estava 100% normalizada.

- Mãe, pare de chorar. Eu estou aqui. - sorriu para a mãe, quando a viu chorar novamente. Ela não tinha parado de chorar desde que tinha entrado na sala.
- Você está aqui, querido. - A mãe sorriu em meio as lágrimas, aproximando-se da cama.
- Vem aqui. - segurou sua mão e a puxou para perto para abraçá-la carinhosamente. - Eu estou bem. - Ele sussurrou.
- Graças a Deus. - A mãe disse em meio a um suspiro. - Você está tão bonito. - Ela elogiou ao terminar o abraço e olhar em seu rosto.
- Você é um pouco suspeita pra falar. - a olhou com desconfiança, arrancando um novo sorriso da mãe. - E você, garota? Não vai falar nada? - Ele olhou para a , que estava muda até agora.
- Oi. - estava um pouco assustada com a situação. Nunca tinha visto o irmão em uma cama de hospital. - O que são essas coisas? - Ela referia-se ao tubo de respiração.
- Essas coisas estão me ajudando a respirar. É só por enquanto. - explicou pacientemente.
- Você está mesmo bem? - perguntou, olhando atenciosamente para o irmão.
- Eu estou ótimo. - disse com veemência.
- Se você está bem, por que a mamãe chorou tanto nos últimos dias? - finalmente perguntou. e a mãe trocaram olhares.
- Ela… estava preocupada comigo. Eu estava um pouco doente, mas agora eu já estou me recuperando. - tentou explicar de uma maneira menos complicada.
- Algumas das minhas amigas da escola não tem irmãos, sabia? Eu fiquei muito triste porque eu achei que pudesse ser como elas. Eu não queria ser filha única e se você não voltasse, eu teria que ser. - desabafou em meio a um bico. - Eu gosto de ter um irmão. - Ela completou.
- Você sempre vai ter um irmão. - estava até um pouco comovido. - Eu não vou a lugar algum, ok? Vamos ser sempre eu e você. - Ele acariciou o rosto da irmã. - Combinado? - Ele piscou um dos olhos pra ela, que segurou um sorriso. Ele estendeu uma das mãos.
- Combinado. - deixou um sorriso escapar, enquanto apertou a mão do irmão.
- Legal, então… vem aqui me dar um abraço. - a puxou para mais perto e ela curvou-se para lhe dar um abraço apertado. - Hey! É impressão minha ou você está ficando cada vez mais baixinha? - Ele a provocou.
- O que!? - terminou o abraço na hora. - Eu estou maior. Você já viu o meu salto? - A garota invocada se exibiu ao mostrar o sapatos que tinham pequenos saltos.
- Isso ai nem é salto, garota. - continuou a provocá-la.
- É claro que é! - esbravejou. - Mãe, fala pra ele! - Ela pediu, olhando para a mãe.
- Vejo que você está mais do que curado, não é, Jonas? - A mãe o olhou com desaprovação. Sabia que ele estava irritando a irmã de propósito.
- Eu não resisto. - gargalhou ao erguer os ombros.
- Você não toma jeito, não é? - A mãe negou com a cabeça. - Eu nem acredito que você está bem. - Ela acariciou o seu rosto e depois o cabelo do filho.
- Agora que o pior já passou, eu queria… - hesitou um pouco antes de continuar. - Eu queria pedir desculpas por todo o sofrimento que eu causei, mãe. - Ele segurou a mão dela.
- Não precisa se desculpar. O que você fez foi uma loucura sem tamanho, mas não foi em vão. Você salvou a vida de uma pessoa, filho, e, por isso, eu me orgulho muito de você. Eu me orgulho muito do homem que você se tornou. - A mãe disse enquanto continuava acariciando a cabeça do filho.
- Na hora em que tudo aconteceu, eu não pensei nas consequências. Eu pensei em mim e no que eu queria fazer, mas eu não pensei no sofrimento que eu causaria a todos vocês e, por isso, eu sinto muito. Você não merecia, mãe. - disse com tristeza.
- O que está feito, está feito! Está tudo bem. Esqueça tudo isso. - A mãe dele pediu.
- Aposto que eu dei um trabalhão pra todos vocês. Vocês tiveram que ficar aqui em Nova York nesse hospital. - continuou lamentando.
- Não foi trabalho algum. - A mãe negou. - A e a família dela foram maravilhosos conosco. Ela fez questão que nos hospedássemos na casa dela durante todos esses dias que estivemos aqui. - Ela contou. A expressão no rosto de mudou ao ouvir o meu nome.
- Ela fez isso? - A pergunta não veio acompanhada de um sorriso como sua mãe esperava.
- Eu dormi no quarto dela e brinquei com o cachorrinho dela. - contou.
- O Buddy! - complementou.
- Ele é muito fofinho. - estava morrendo de amores.
- Ela foi incrível. - A mãe de voltou a dizer. - Por mim, eu teria ficado aqui no hospital mesmo, mas por causa da , eu não podia. Eu nem sei o que teria feito sem ela. - Ela completou.
- Eu não esperava nada diferente vindo dela. - finalmente sorriu, mas de uma maneira não muito empolgante. Na realidade, eu diria que foi de uma maneira um pouco triste. Discretamente, ele olhou para a sua mão e viu o coração que estava ali desenhado. Ele tinha toda a certeza do mundo de que era eu que tinha desenhado. Aliás, o coração foi a primeira coisa que ele viu, quando acordou do coma.
- Ela não saiu desse hospital nos últimos dias. Aliás, ela e mais um rapaz. Um moço alto e bonito. - A mãe tentou descrever o Mark.
- O Mark. - finalmente deu um sorriso sincero.
- É esse mesmo o nome dele. - A mãe se recordou. - Ele foi um amor e uma pessoa incrível nesses últimos dias. - Ela elogiou.
- Ele é mesmo uma boa pessoa. - concordou com um certo orgulho do irmão.

Mesmo eles terem falado do Mark por um bom tempo, achou melhor não revelar ainda o grau de parentesco recentemente descoberto entre eles. O ideal era esperar que as coisas se acalmassem para que ele desse a notícia de maneira tranquila.

A visita de sua mãe e foi longa. Elas ficaram o máximo que conseguiram no quarto. Não foi surpresa para o que sua mãe fosse a primeira pessoa a entrar por aquela porta, mas a segunda pessoa foi sim uma surpresa. Acredite ou não, a Meg foi a segunda pessoa. Daquele jeito descolado e implicante dela, ela cedeu o seu celular para que e seus amigos falassem com o através de uma chamada de vídeo. Ele ficou muito feliz e empolgado ao ver todos. Era um pouco tedioso para ele ficar sozinho naquele quarto de hospital, então foi muito bom ter alguém para conversar e rir durante alguns minutos. Seus amigos avisaram que iriam visitá-lo pessoalmente assim que possível antes de desligarem a chamada de vídeo. Com o fim da chamada, foi obrigado a devolver o celular para Meg e a agradecer, com o seu jeito torto e orgulhoso de ser, a atitude dela. Ele não disse nada, mas achou bem legal da parte dela ter ido até lá para levar um pouco de alegria para ele.

Depois que a Meg saiu, a porta daquele quarto ficou o resto do dia fechada. Mais ninguém tinha ido visitá-lo, isso incluía: eu e o Mark. Seria mentira dizer que ele não ficou chateado com essa situação. O coração em sua mão mostrava que eu tinha ido visitá-lo anteriormente, mas porque que agora que ele estava acordado e consciente, eu não tinha aparecido? Por que mesmo tendo passado os últimos dias no hospital, segundo sua mãe, o seu próprio irmão não apareceu para vê-lo e para comemorar a sua melhora? ficou remoendo isso durante o dia todo.

Trabalhei o resto do dia e no final da tarde, fui requisitada por um dos médicos que, aliás, tinha me mantido ocupada durante o dia todo. Ele me pediu alguns favores, mas o único que vale a pena ressaltar foi o pedido dele para que eu fosse medir a pressão do paciente do quarto 33. Sim, esse era justamente o quarto do . Que ótimo, né? Se fosse qualquer outro médico do hospital, eu tentaria evitar aquela situação de alguma maneira, mas não com ele, o médico que tinha a fama de mais chato de todo o hospital. Com isso, eu tive que ir até lá. É claro que eu estava uma pilha de nervos e que meu coração passou a bater mais forte quando eu me dei conta de que eu iria vê-lo. Eu não sabia se estava pronta.

Antes de entrar no quarto, eu decidi que ainda não contaria para ele sobre o Mark. Era melhor ter notícias antes do que contar pra ele e deixá-lo preocupado e angustiado. Me dirigi até o quarto e fiquei um bom tempo encarando aquele número ‘33’ antes de arrumar coragem para prosseguir. Meu medo era ser julgada por ele por tudo o que tinha acontecido. Ao bater na porta do quarto, ouvi ele dizer que eu poderia entrar. Eu respirei fundo e entrei.

- Hey. - Eu disse com um sorriso nervoso. demorou alguns segundos para me responder, pois ficou me observando. Talvez, ele estivesse ficado surpreso ao me ver.
- Oi. - chegou a esboçar um fraco sorriso, que eu quase não consegui identificar.
- Você parece bem. - Eu tentei acabar com o estranho silêncio que havia se estabelecido.
- É, eu estou mesmo bem… considerando as circunstâncias. - Mais um sorriso dele e eu já estava um pouco menos nervosa, mas o meu receio da conversa que estava por vir ainda estava presente. Mais um silêncio constrangedor. Ele deixou de me olhar para olhar o que eu segurava em minhas mãos: o medidor de pressão. O olhar dele me fez lembrar o que eu realmente tinha ido fazer ali.
- Eu vim… medir a sua pressão. É parte do meu trabalho. - Eu avisei antes de me aproximar dele. Levantei o aparelho de medir a pressão e ele afastou o braço de seu corpo, deixando-o a minha disposição. Tentei agir friamente ao segurar o braço dele e colocar o aparelho. Enquanto eu colocava o aparelho para funcionar e fingia dar toda a minha atenção a ele, notei que o me olhava. O minuto mais longo de toda a minha vida. Depois de medir a pressão, tirei o aparelho do braço dele e peguei a caneta que estava dentro do bolso do meu jaleco para anotar a informação na ficha do . Os olhos dele continuavam sobre mim. Ele nem disfarçava.
- Está boa? - perguntou repentinamente. Eu estava me esforçando tanto para focar no que eu estava fazendo e para ignorar os olhares dele, que eu fui pega de surpresa com a pergunta.
- O que? - Eu deixei de olhar para a prancheta para olhá-lo.
- A pressão. Está boa? - disse com seu jeito meio debochado.
- Está. Está ótima. - Eu engoli seco e respondi na maior naturalidade. Voltei a encarar a prancheta em minhas mãos e descobri que eu não tinha cabeça ou calma para ler qualquer coisa que estivesse escrito ali. Eu já tinha anotado a informação e só continuava olhando para aquela ficha para disfarçar o quão sem jeito e nervosa eu estava com o jeito que ele me olhava.
- É só isso? - fez uma nova pergunta e, mais uma vez, eu não entendi sobre o que se tratava. Voltei a olhar pra ele e balancei a cabeça, enquanto mantinha uma expressão de dúvida em meu rosto. - Você ter vindo até aqui. Foi só pra fazer o seu trabalho? - Ele refez a pergunta, enquanto eu devolvia a sua ficha no lugar. A pergunta me deixou sem palavras por alguns segundos. Ele estava me perguntando se eu também tinha ido até lá para vê-lo.
- Não, eu… - Eu hesitei por um momento. Eu estava procurando coragem para continuar. - Eu também queria.. te ver. Eu queria… - Eu pausei novamente e abaixei a cabeça, deixando de olhá-lo por poucos segundos. Por que eu estava tão nervosa? Eu mal estava conseguindo falar direito! - Eu tenho tanta coisa pra te dizer, que eu… eu nem sei como começar. - Eu terminei a frase negando com a cabeça.
- Se você queria mesmo me ver, por que você não veio antes? - questionou. É claro que ele tinha reparado no fato de eu não ter ido vê-lo durante o dia todo. Ele sabia que eu poderia ter feito isso, já que eu trabalhava naquele hospital. - Todo mundo veio me visitar e quem não veio… me ligou. Você… não veio. O Mark não veio. - Ele pausou. - E eu tenho a impressão de que, se não tivessem te mandado vir aqui para medir a minha pressão, você nem viria. - estava pedindo explicações, mas ele não iria gostar de ouvi-las.
- É difícil… - Eu neguei com a cabeça, sem saber como me justificar. Eu não esperava que ele me questionasse dessa maneira.
- O que é difícil, ? - Os olhos dele me cobravam. - O que é difícil? - Ele repetiu, me olhando. Hesitei algum tempo até perceber que ele não cederia.
- É difícil olhar pra você e pensar que você poderia não estar mais aqui. É difícil pra mim pensar que tudo quase acabou por causa de… - Eu nem sabia como nomear. - Uma besteira; por causa de uma atitude infantil da minha parte. - Eu não abriria mão da minha responsabilidade por tudo o que tinha acontecido e eu queria que ele soubesse.
- Do que você está falando? - não estava entendendo o que eu estava querendo dizer.
- Depois do dia em que eu fui sequestrada pelo Steven e depois que tudo aquilo aconteceu entre nós e… o meu pai. Eu te julguei, eu te cobrei, eu te pressionei de todas as formas possíveis e desconfiei do amor que você dizia sentir por mim. - O assunto ia mexendo com o meu estado emocional e ia formando um nó em minha garganta, que parecia me sufocar. - Eu te induzi, mesmo que involuntariamente, a me provar que eu estava errada. - Eu estava me esforçando muito para me manter forte.
- Não. - reagiu na mesma hora, quando percebeu que eu estava me culpando por tudo. - Não. Não, . - Ele achou tão absurdo, que deixou em evidência a sua indignação com a minha insinuação. - Não pense que é culpa sua. - Ele negou com a cabeça.
- Eu sei que é, . Está tudo bem. - Eu deixei de olhá-lo para encarar as minhas mãos. Ele me olhou, cabisbaixa.
- . - Ele chamou, me fazendo voltar a olhá-lo. - Foi minha decisão. Só minha! Na hora em que tudo aconteceu, eu não pensei em nada do que você havia me dito. Na hora, eu agi por… impulso. - tentou me explicar. - Eu só pensei em… ajudar o seu pai que… estava prestes a ser punido por uma história que já nem existia mais e por uma vingança sem sentido. Eu só pensei… em poupar duas pessoas que eram importantes pra mim e que não mereciam perder outra pessoa. - Ele referia-se ao e a mim. A frase dele tirou alguns quilos das minhas costas. Não que eu não me sentisse mais culpada, porque eu me sentia, mas só em saber que ele não me culpava por nada, eu já não me sentia tão mal e sufocada.
- Eu sei que não vai fazer a menor diferença agora e que também não vai mostrar o quanto eu sou grata pelo que você fez pelo meu pai, mas… - Eu hesitei um bom tempo antes de conseguir terminar a frase. - Nós também não estávamos prontos pra perder você. Eu não estava pronta pra perder você. Não sem saber que, em algum momento, eu teria você de volta. - Eu disse exatamente o que eu estava sentindo e o que realmente aconteceu. Das outras vezes que eu achava que tinha perdido ele, eu sabia que, em algum momento, nós acabaríamos voltando, mas dessa vez foi diferente. Eu sabia que se eu o perdesse dessa vez, seria para sempre.

- Com licença. - A voz seguida de poucas batidas na porta nos interrompeu. Eu tentei me recompor quando vi que tratava-se de uma das enfermeiras do hospital. - Me desculpe, mas insistiram para que eu lhe desse notícias sobre o seu amigo. - Ela disse alto e eu não soube o que fazer na hora. mostrou-se curioso.
- Eu já volto. - Eu fui até a enfermeira, afastando-a da cama e tirando ela da sala. Aquela não era a melhor maneira do descobrir tudo. - O que aconteceu? - Eu sussurrei. Meu coração estava quase saindo pela boca. Aquela seria a primeira notícia que eu receberia do Mark desde que ele tinha dado entrada no hospital.
- Seu amigo foi muito forte, . - A frase dela não serviu para me acalmar, mas também não me deixou mais nervosa. Até então, nenhuma surpresa. Que ele era muito forte, eu já sabia!
- Como ele está? - Minhas mãos suavam frio. Eu me tremia inteira.
- Ele teve duas paradas cardíacas durante a noite. - A enfermeira deu a notícia e a minha reação foi a pior possível. Os olhos estavam esbugalhados e as mãos estavam tampando a boca e parte do nariz. Eu neguei com a cabeça, sem conseguir acreditar. - Nós conseguimos trazê-lo de volta. - Meus olhos foram se enchendo de lágrimas. Eu não conseguia me conformar. Ele não merecia passar por aquilo. - Agora, ele está medicado. Temos que aguardar algumas horas para ver como ele reagirá aos medicamentos. - Ela completou a informação. Ela terminou de dar a notícia e eu não conseguia falar. Os olhos continuavam cheios de lágrimas e eu travei completamente. - Não fique assim. - A enfermeira percebeu o quanto eu fiquei em choque com a notícia. - O pior já passou. Vamos torcer para que dê tudo certo a partir de agora. - Ela tocou o meu ombro, fazendo com que eu voltasse para a realidade. - Ele vai ficar bem. - Um último consolo por parte dela. Eu afirmei com a cabeça como se concordasse com o que ela tinha dito.
- Obrigada. - Eu consegui agradecer mesmo estando em choque.

A enfermeira se afastou, me deixando sozinha naquele corredor. Eu não sabia o que fazer. Era como se eu tivesse perdido o rumo de toda a minha vida. Pela primeira vez, eu realmente me dei conta de que eu quase havia perdido o Mark. Eu tive receio a respeito disso antes, mas não achei que pudesse ser real. Eu nunca achei que realmente aconteceria com ele. Logo com ele! A pessoa mais forte que eu já conheci. Mark já tinha passado por tanta coisa que, em algum momento da nossa história, eu passei a vê-lo como uma fortaleza na qual eu me espelhava. Eu sempre quis ser tão forte como ele. Eu sempre quis conseguir superar tudo do jeito que ele superava. De repente, alguém vem me dizer que aquela fortaleza não era tão forte quanto eu pensava e que existiu até mesmo a possibilidade de ela deixar de existir. Isso foi um baque imensurável pra mim; foi assustador.

Havia milhões de coisas em minha cabeça e em meu coração naquele momento, mas o mais importante estava bem atrás daquela porta. estava me esperando voltar para que eu respondesse todas as perguntas que eu não queria responder. Pelo menos, não naquele momento. Ele passou por tanta coisa nesses últimos dias e eu queria poupá-lo só mais um pouco. Agora, já era tarde. Eu teria que contar pra ele o que o Mark tinha feito para salvá-lo, mas como? Como eu vou fazer isso? Adentrei novamente o quarto sem saber a resposta para essa pergunta. Assim que me viu entrar, os olhos dele ficaram fixos em mim. Ele estava tentando me decifrar.

- Desculpa, eu… - Eu fiz uma breve pausa devido ao jeito que ele me olhava. - Era importante. - Eu achei que era o bastante.
- De quem a enfermeira estava falando? - A minha atitude diante da situação foi o que deixou ele com o pé atrás e é claro que ele conseguia ver vestígios de lágrimas em meus olhos. Eu sou mesmo péssima nisso.
- Nós podemos falar disso depois? Você acabou de acordar e eu não quero… - Eu neguei com a cabeça, achando que poderia convencê-lo.
- O que? Não quer o que? - me conhecia MUITO BEM. Ele sabia que havia algo errado.
- Amanhã! Eu prometo que amanhã eu… - Eu já ia adiando a situação, mas ele me interrompeu.
- Por que você não está querendo me contar? O que está acontecendo, ? - ficou ainda mais sério e preocupado. Ele sabia que a coisa era séria.
- Por favor, . - Eu pedi encarecidamente. - A única coisa que eu te peço é que você confie em mim. Agora, não é o melhor momento. - Eu queria tentar convencê-lo a deixar isso para uma outra hora.
- Eu vi o jeito que você ficou quando a enfermeira começou a falar. Eu te conheço. - ignorou o meu pedido. Ele era teimoso e não deixaria o assunto para outro dia. - Eu sei que tem alguma coisa acontecendo e se você não me contar, que Deus me ajude, mas eu vou dar um jeito de sair dessa cama e descobrir o que é. - Ele ameaçou.
- Ok. Ok. - Foi o suficiente para que eu cedesse. Não tinha mais jeito. Era tarde demais. - Mas antes, eu quero que você me prometa que vai manter a calma. Você ainda não está 100% recuperado. - Eu fiz um último pedido.
- Sério? - estava impaciente e nervoso. Ele nem sabia o que pensar.
- Me prometa. - Eu pedi mais uma vez.
- Eu prometo. - Ele prometeu, tentando demonstrar calma.
- Ok. - Respirei fundo uma última vez e pensei rapidamente por onde começar. - Quando… você chegou no hospital, você estava muito mal. Nós estávamos desesperados. - Eu fiz uma breve pausa. Eu estava tentando escolher as palavras certas. - Você estava em coma e o médico nos avisou que você precisava fazer uma transfusão de sangue. Você precisava de sangue. Você precisava de muito sangue. - Deixei de olhá-lo e encarei minhas mãos, que estavam extremamente inquietas. - Todos nós achamos que você ficaria bem, afinal, doação de sangue é algo tão comum nos dias de hoje, certo? - Ao fazer a pergunta retórica, voltei a olhá-lo. - Bem, essa foi primeira rasteira que nos foi dada. O médico nos informou que você tem um dos tipos sanguíneos mais raros e que só poderia receber a doação de sangue com o mesmo tipo que o seu: O Negativo. - A cada palavra dita, eu ficava mais nervosa. Eu comecei a suar frio e minhas mãos tremiam.
- Eu não sabia disso. - me interrompeu. Ele parecia um pouco surpreso.
- Nós procuramos doações no banco de sangue do hospital e no de todos os outros hospitais da cidade. Não tinha uma doação sequer e você precisava de no mínimo dois doadores porque a quantidade de sangue que você precisava era bem maior do que uma pessoa saudável poderia doar. Foi aí que nós finalmente encontramos um doador. - Mais uma hesitação minha. Eu não queria continuar.
- Quem? - ainda não conseguia entender a extensão do problema.
- O Mark. - Eu disse e o vi deixar um fraco sorriso escapar. Pensar que o Mark tinha ajudado a salvar a sua vida fazia com que ele se sentisse importante. Ele gostou de concluir que o seu irmão realmente se importava com ele. - O fato de vocês serem irmãos provavelmente está relacionado com a compatibilidade sanguínea. - Eu disse e o concordou com a cabeça.
- E o que aconteceu depois? - Ele queria que eu continuasse.
- Bem, nós… continuamos procurando um segundo doador. Nós procuramos muito e esperamos o máximo que podíamos. - Eu pausei. Chegou a hora. Eu mal conseguia respirar corretamente. Minhas mãos estavam geladas e um nó se formava aos poucos em minha garganta. A sensação era a pior possível.
- E vocês encontraram, não é? Se eu estou aqui. - deduziu. A ficha dele realmente não tinha caído ainda.
- Esse é o problema, . Nós não encontramos. - Abaixei os olhos, deixando de olhá-lo por poucos segundos. - Mas… como? Se eu precisava de todo o sangue, como eu… - Ele ergueu os ombros, sem entender. Ele se perguntava o que eu estava tentando dizer a ele. Eu respirei fundo e engoli seco.
- Você recebeu a quantidade de sangue que você precisava, mas… você não recebeu de dois doadores diferentes. - Meus olhos tristes encaravam ele, enquanto eu esperava ele chegar a triste conclusão do que o irmão mais velho tinha feito. Ele ficou me olhando insistentemente e parecia me indagar com o olhar: ‘O que isso quer dizer? O que você está querendo me dizer?’. Quando ele finalmente concluiu, seu olhar forte e indagador tornou-se triste e assustado.
- Não… - Foi a única coisa que ele conseguiu dizer em meio a um suspiro. deixou de me olhar e eu notei seus olhos percorrerem as paredes do quarto. A ficha estava caindo. O mundo dele estava desabando. - Não. Não pode ser… - Ele não conseguia acreditar. Ele não queria acreditar. - Ele não pode ter feito isso! Ele não.. - começou a negar incessantemente com a cabeça e eu notei seus olhos se encheram instantaneamente de lágrimas.
- Calma. - Eu toquei uma de suas mãos e a segurei. A coisa que eu mais queria agora era acalmá-lo.
- Você não podia ter deixado ele fazer isso. !- puxou a mão que eu segurava, me fazendo olhar em seu rosto. - Me diz que você não deixou ele fazer isso. - Ele estava transtornado. Eu não tinha o que responder. A tristeza em meus olhos e o gesto com a cabeça soou pra ele como o ‘sinto muito’ que eu não conseguia pronunciar.
- Meu Deus. - suspirou, enquanto negava novamente com a cabeça. Saber que o Mark arriscou a sua vida para salvá-lo era de longe a maior e a pior coisa que já tinham feito por ele. Ele sabia que a intenção do irmão mais velho foi a melhor de todas, mas a intenção não mudava a forma como o estava se sentindo naquele momento.

O silêncio dele só serviu para me deixar mais angustiada. Eu queria abraçá-lo e queria consolá-lo, dizendo que tudo ia ficar bem, mas o simples gesto dele de soltar a minha mão me fez perceber que alguma coisa havia mudado. Eu fiquei alguns longos minutos ao lado dele e ele não conseguiu me olhar uma só vez. Eu não sabia o que ele estava sentindo, mas eu sabia que o sentimento que estava relacionado a mim não era bom. Eu estava muda ao lado dele, mas ainda tinha coragem para olhá-lo. Foi com essa coragem que eu vi uma lágrima solitária escorrer de um dos olhos dele. Além de ser uma lágrima solitária, era também a lágrima mais dolorosa e triste que eu já havia visto percorrer naquele rosto que eu conhecia tão bem.



O que o sentia era uma mistura maluca de decepção, tristeza, dor, amor e preocupação. Ele não sabia e nem poderia administrar tudo aquilo sem deixar que ao menos uma lágrima escorresse de seus olhos. Apesar de ele e o Mark terem se aproximado muito nos últimos dias, jamais esperaria uma atitude tão extravagante da parte dele. Não que ele não achasse que o Mark fosse uma boa pessoa. Pelo contrário! confiava no irmão e sabia muito bem a pessoa incrível que ele era. Ele só ficou extremamente surpreso com a atitude nobre, bonita e ao mesmo tempo tão triste do irmão mais velho. Tudo o que aconteceu dizia muito sobre o tipo de pessoa que o Mark era e, principalmente, sobre o tipo de relação que os irmãos Jonas teriam dali pra frente.

Eu não sabia se eu ia embora ou se eu fazia companhia pra ele. Eu não sei se ele queria a minha companhia. Eu não sabia se ele queria ouvir a minha voz ou me ver. Honestamente, eu não sabia o que fazer. Olhando pra ele, eu não conseguia ver nada além de tristeza. Os olhos estavam baixos e estavam fixos nas mãos dele. A lágrima que tinha escorrido pelo seu rosto já havia secado, mas nos olhos dele havia mais um bocado delas. Eu pude vê-las quando ele finalmente voltou a me olhar. O olhar que me desarmou completamente e basicamente me fez sentir vontade de implorar por desculpas.

- Eu tentei. - Eu afirmei, engolindo o choro que quase havia me impedido de falar.
- Você me conhece muito bem. Você sabia que eu jamais concordaria com essa besteira que ele fez. - também estava engolindo o choro, mas ele conseguia falar com mais frieza do que eu.
- Eu sei. - Eu concordei com ele.
- Você era a única pessoa que sabia sobre tudo. Você era a única pessoa que sabia sobre eu e o Mark. Você era a única pessoa que poderia ter evitado que ele arriscasse a vida dele por mim. - me falou o que eu já sabia, mas não tinha coragem de assumir. Não tinha coragem porque eu sinceramente não sabia se conseguiria carregar mais esse fardo.
- Eu sei! Eu sei que eu poderia ter evitado tudo isso, mas… ele estava tão certo sobre tudo. Ele estava tão feliz por poder te ajudar. - Eu tentei justificar algo que não tinha justificativa.
- E em mim? Alguém pensou sobre como eu ficaria se o meu irmão morresse pra me salvar? Alguém pensou como eu conseguiria viver com essa culpa? - Naquele momento, ele parecia mais irritado. Mesmo com lágrimas nos olhos, ele estava muito irritado.
- Eu falei com ele. Eu tentei fazer ele mudar de ideia, mas… eu… - Eu ergui os ombros, sem saber como continuar. Naquele momento, eu me perguntei: ‘será mesmo que eu tinha feito tudo o que eu podia para evitar que o Mark colocasse sua vida em risco pelo irmão?’.
- Eu nunca pedi que você fizesse nada por mim e tudo o que eu fiz por você, eu fiz por vontade própria. Ninguém precisou me dizer. Ninguém precisou me pedir. - olhou em meus olhos. - É uma pena que, mesmo depois de tanto tempo e depois de tanta coisa que nós passamos, você não seja capaz de fazer algo por mim. - As palavras dele me acertaram em cheio. As palavras dele couberam tanto ao que eu sentia em relação a mim mesma e faziam tanto sentido, levando em consideração a culpa que eu sentia, que eu resolvi abraçá-la de vez. Uma coisa tão ruim foi crescendo dentro de mim que a minha vontade era sentar e chorar tudo o que eu precisava chorar, porém, o pouco de dignidade que ainda existia em mim me manteve de pé ao menos para olhar pra ele e concordar com as palavras que ele tinha me dito.
- Eu te entendo completamente. - Deixei de olhá-lo para esconder as lágrimas em meus olhos.
- Não, você não entende. - respondeu na mesma hora.
- Eu entendo. - Eu insisti, voltando a olhá-lo. - O que o Mark fez por você foi o mesmo que você fez pelo meu pai. - Eu fiz a comparação. - Sobre o meu pai, eu só posso te agradecer com todo o meu coração. Sobre o Mark, não há nada que eu possa dizer além de… sinto muito. Eu sinto muito se te decepcionei. - Continuei engolindo o choro. Deixei de olhá-lo, pois já pretendia sair do quarto. - Eu… vou te deixar sozinho. - Não voltei a olhá-lo e também não olhei pra trás. Só encarei a porta e fui saindo com a culpa nas costas, o nó na garganta e as lágrimas nos olhos.

Quando saí para o lado de fora do quarto e fechei a porta atrás de mim, o choro foi espontâneo. Eu me sentia uma inútil. Apesar de ter doído muito ouvi-lo falar aquelas coisas, o estava certíssimo. Quem mais poderia evitar que o Mark se arriscasse pelo irmão se não eu? Eu era a única pessoa que sabia sobre a relação de irmão entre eles. Eu era a única pessoa que soube o que o Mark queria fazer a tempo de impedi-lo. esperava essa atitude de mim. Ele esperava que eu o impedisse e que pensasse nele e em como ele se sentiria. Ele esperava que eu salvasse o irmão dele da mesma maneira que ele havia salvado o meu pai. Eu sei que eu tentei fazer o Mark mudar de ideia, mas essa sensação de que eu poderia ter feito mais é que me matava. As palavras do não doeria tanto se a carapuça não tivesse me servido tão bem.

Aquela seria a última conversa que eu teria com o em dias. Eu sempre dava algum jeito para que as notícias do Mark chegassem até ele. Eu sabia o quanto ele deveria estar preocupado e aflito e sempre acabava pedindo para um enfermeiro ir até lá e informá-lo sobre o irmão. A primeira boa notícia veio naquele mesmo dia, durante a noite: Mark estava fora de perigo. Finalmente um bom motivo para chorar. Um choro de alívio e de felicidade. e Mark estavam fora de perigo. Eu nem sabia o quanto eu havia desejado e pedido por isso. Mesmo com a culpa em meus ombros, eu estava muito mais aliviada. Aos poucos, o mundo a minha volta ganhava cores e sentido novamente.

Mark voltou a ficar consciente no final da tarde de quarta-feira. Eu fui avisada logo que ele acordou, pois eu ainda estava trabalhando no hospital naquele horário. Quando eu soube, fui imediatamente conversar com o médico responsável por ele. Eu precisava muito vê-lo. Só assim eu teria certeza de que ele estava bem e que todo aquele pesadelo havia acabado. Mark ainda estava na UTI, mas eu consegui convencer o médico a me deixar vê-lo por alguns minutos. Eu estava muito ansiosa para vê-lo e para contar a ele que o plano dele de salvar o havia dado certo.

Entrar na UTI foi uma sensação totalmente diferente da que eu sentia da última vez que eu estive lá. Assim que eu abri a porta, Mark foi a primeira pessoa que eu vi. O leito dele ficava bem ao lado da porta. Quando ele me viu, os olhos dele sorriram. Ele estava feliz por estar me vendo novamente. Ele achou que não teria mais essa oportunidade. Eu me aproximei com um discreto sorriso no rosto, enquanto ele me acompanhava com os olhos. Parei ao lado dele e fiquei olhando pra ele feito boba. Ele realmente estava bem! Ele estava bem ali!

- Por que você está me olhando assim? - Mark perguntou em meio a um sorriso.
- Assim como? - Eu me fiz de boba.
- Como se eu fosse um fantasma. - Ele fez careta.
- Você é um fantasma? - Eu arqueei uma das sobrancelhas e ele segurou o riso. Mark levou a sua mão até a minha e a segurou.
- Me diz você. - Ele referia-se ao fato de ele estar tocando em minha mão. A frase dele me arrancou um sorriso fraco. Eu não conseguia acreditar que ele estava bem ali!
- Espera. Eu preciso ter certeza. - Eu soltei a mão dele, me aproximei e o abracei. Só eu sabia o quanto eu precisava daquele abraço. Ele me acolheu com o mesmo carinho de sempre. Apesar de estar muito feliz em me ver, Mark ainda precisava saber de uma coisa. A coisa mais importante.
- Me diz que deu certo. - Mark pediu, enquanto ainda nos abraçávamos. - Me diz que ele está bem. - Com os olhos fechados e o coração na mão, ele esperava pela minha resposta. Terminei o abraço, pois fazia questão de dar a notícia olhando em seus olhos.
- Ele está bem. - Eu disse, tentando conter a minha empolgação. A expressão no rosto dele foi impagável!
- Você está falando sério? - Mark estava prestes a explodir de alegria.
- Estou! - Eu confirmei.
- , olha pra mim. Você não está mentindo, está? - Mark achou que eu pudesse estar mentindo para preservá-lo.
- Olha pra mim! Olha nos meus olhos. Você vai saber que eu não estou mentindo. - Eu disse, olhando pra ele. Mark me encarou e não demorou absolutamente nada para que ele confirmasse que eu realmente estava falando a verdade.
- Eu não consigo acreditar. - Mark estava feliz, mas ele também estava em choque e um pouco emocionado.
- Você conseguiu! - Eu toquei o ombro dele.
- Nós conseguimos! - Mark me corrigiu na mesma hora. - Eu não teria conseguido sem você. - Ele completou.
- Agora, sabendo que tudo deu certo, eu fico muito feliz por ter ajudado, mas… - Eu hesitei continuar.
- Mas… - Mark me incentivou a continuar.
- E se não tivesse dado certo, sabe? E se tivesse dado tudo errado? - Eu olhei pra ele, demonstrando estar confusa sobre o assunto. - As vezes, eu acho que não fiz o que eu podia para te convencer a desistir dessa loucura. Eu não consegui evitar. - Eu ergui os ombros. A verdade, é que eu precisava desabafar sobre as verdades que o tinha jogado na minha cara.
- Por que você está falando isso? - Mark estranhou. Apesar de tudo ter acabado bem, eu ainda parecia um pouco triste. Eu não queria falar mas, ao mesmo tempo, eu precisava falar! Enrolei algum tempo para decidir se eu contaria a ele ou não. - Fala comigo. - Ele mostrou-se preocupado.
- Eu… falei com o . - Eu deixei de olhá-lo por alguns momentos.
- Ele já acordou? - Mark ficou surpreso.
- Ele acordou ontem. - Eu informei a ele.
- Sério mesmo!? Eu achei que demoraria um pouco mais. - Mark ficou muito feliz em saber que seu irmão já estava consciente.
- A transfusão de sangue foi imediata. Imagino que isso tenha ajudado. - Eu comentei.
- Como ele está? - Mark quis saber.
- Ele está ótimo. Ele só um está um pouco abatido, mas fora isso, parece que nada aconteceu com ele. - Eu contei a ele.
- E… ele… já sabe? - Mark referia-se ao seu ato heroico.
- Sim, ele já sabe. Ele perguntou por você e eu tive que contar. - Eu ergui os ombros.
- Como ele reagiu? - Ele perguntou com um certo receio.
- Da pior maneira possível. Você conhece o seu irmão, né? - Eu rolei os olhos ao negar com a cabeça.
- Agora eu entendi o porquê de você estar assim. - Mark já havia deduzido tudo.
- Não é nada disso. Eu não estou de jeito nenhum. - Eu neguei na mesma hora. - Vocês dois estão bem e estão a salvo. Isso é tudo o que importa pra mim agora. - Eu desconversei. O cara acabou de acorda de um coma. Por que eu estou compartilhando os meus dramas com ele?
- O que foi que ele te falou? -Mark quis saber.
- Não foi nada. - Eu continuei desconversando.
- O sendo idiota, pra variar. - Mark resmungou.
- Não, ele não foi um idiota. - Eu neguei. - Talvez, ele até estivesse com a razão dessa vez. - Eu disse como se estivesse em dúvida, mas aquilo era mais do que fato pra mim.
- Olha, eu não sei o que ele te disse, mas… eu posso te afirmar com toda a certeza do mundo que você foi perfeita nesses últimos dias. Em todos os aspectos! Eu não sei o que eu teria feito ou o que teria acontecido se você não estivesse do meu lado todos esses dias. - Sabendo que eu estava mal, Mark achou que eu precisava ouvir aquilo. A frase dele me arrancou um sorriso emotivo.
- Obrigada por essas palavras. Elas vieram no momento certo. - Eu me aproximei, beijei carinhosamente o rosto dele e voltei a abraçá-lo. As palavras dele fizeram com que a culpa pesasse um pouco menos e fizeram com que eu me sentisse melhor. Esse era o poder que o Mark tinha sobre mim.

Com o Mark e o bem, eu pude voltar a minha vida real; ao mundo real. Eu pude voltar pra casa, pra minha cama e pro meu travesseiro. Eu pude dormir sem medo de ouvir o meu telefone tocar durante a noite com a pior notícia que eu poderia receber. Eu pude tomar banho sem a pressa em ter que voltar para o hospital. Eu pude comer uma comida descente pela primeira vez naquela semana. Eu estava cansada e esgotada mental e fisicamente. Eu já nem lembrava como era a minha vida antes de tudo aquilo acontecer. Eu teria que me readaptar.

Apesar de estarem no mesmo hospital, Mark e demoraram quase 2 dias para terem a oportunidade de se reencontrarem, já que o permaneceu no quarto, enquanto o Mark precisou ficar mais algum tempo em observação. Durante esses dois dias, eu passava na UTI para ver e conversar com o Mark sempre que podia. O mesmo não aconteceu com o . Eu não me sentia mais tão próxima a ele. Eu não sentia que tinha clima para um reencontro e eu também não tinha a mínima vocação para ser cara de pau.

Sempre que aparecia algum trabalho na área dos quartos, eu delegava para a Meg. Eu estava mesmo evitando, de todas as formas, encontrá-lo. Mesmo estando afastada dele, eu sempre dava um jeito de saber notícias sobre ele e também de passar a ele todas as notícias sobre o Mark. Foi dessa maneira que o descobriu que o irmão sairia da UTI naquele dia e iria para o quarto. Foi dessa maneira que o reencontro dos irmãos aconteceu.

Quando o Mark entrou em seu quarto, estava lá esperando por ele. A reação, a troca de olhares, tudo! Tudo aconteceu de maneira mais impactante pro , enquanto pro Mark foi tudo mais descontraído. Mesmo existindo a vontade, o abraço entre irmãos não aconteceu. Eles nunca realmente souberam como lidar um com o outro e com essa coisa de irmãos. Eles achavam um pouco constrangedor essa demonstração gratuita de sentimentos.

- Como você está? - foi o primeiro a se manifestar. Eles estavam frente a frente.
- Olha, eu já estive pior. - Mark afirmou com um sorriso descontraído.
- Eu soube. - manteve-se sério.
- E você? Achei que demoraria mais alguns dias para eles deixarem você levantar da cama. - Mark disse, enquanto o analisava.
- Bem, eles não deixaram. - deixou um fraco sorriso escapar e imediatamente sentiu o olhar de julgamento do irmão.
- Como é que é? - Mark o olhou feio.
- Se alguém entrar aqui, eu vou ser obrigado a me esconder embaixo da sua cama. - comentou, demonstrando estar mais descontraído.
- Você é mesmo muito irresponsável, não é? - Mark negou com a cabeça ao dar a bronca.
- Você é o irmão mais velho. Você precisa ser responsável, eu não. - ergueu os ombros.
- Eu não sei se você lembra, gênio, mas você também é irmão mais velho. - Mark referia-se a .
- O que? A ? - fez careta.
- Eu conheci ela. - Mark contou.
- Adorável, né? Aposto que ela te odiou. - riu.
- É claro que não! Ela me adorou! - Mark afirmou com um sorriso maldoso.
- Até parece! Ela odeia todos os meus amigos e, as vezes, eu acho que ela me odeia também. - desacreditou.
- Bom, nós não podemos culpá-la por isso. - Mark ergueu os ombros e fingiu lamentar.
- Muito engraçado. - sorriu ironicamente.
- Agora, falando sério. - Mark ficou mais sério e hesitou poucos segundos para perguntar. - Você... está mesmo bem? - Os olhares que eles trocavam mudou. afirmou com a cabeça antes de responder qualquer coisa.
- Eu estou bem. - disse. - Graças a você. - Ele completou.
- Isso… é ótimo, cara. - Mark sorriu, demonstrando tranquilidade diante da resposta dada pelo irmão mais novo.
- É… isso é ótimo… agora, mas… - não tinha certeza se devia tocar no assunto.
- Mas o que? - Mark questionou. Parecia que ele sabia o que estava por vir.
- Mas poderia ter sido tudo diferente. - resolveu falar.
- Como assim? - Mark não entendeu.
- As coisas poderiam ter terminado de uma maneira bem diferente, Mark. E você sabe disso. - foi mais enfático. Ele sabia bem que o irmão sabia do que se tratava. - No que você estava pensando? - Ele questionou. Mark deixou de olhá-lo e sorriu sarcasticamente.
- Eu não sei porque eu não estava esperando por isso. - Mark rolou os olhos. - Isso é bem a sua cara mesmo. - Ele voltou a olhá-lo.
- Como você esperava que eu reagisse? Você poderia ter morrido, aliás, você quase morreu. - argumentou a seu favor.
- Bem, eu estou bem aqui, não estou? - Mark respondeu na mesma hora.
- Qual é! Você sabe do que eu estou falando. - o pressionou.
- , olhe pra nós! Nós estamos bem. Está tudo bem! Por que voltar nesse assunto? Nós não podemos simplesmente aproveitar essa oportunidade de estarmos juntos de novo? Nós não podemos comemorar por um segundo? - Mark não queria discutir. Ele só queria ficar bem com o irmão de uma vez por todas. Ele queria trégua.
- Cara, isso não sai da minha cabeça desde o momento em que eu soube o que você tinha feito. - falou com mais jeito para não parecer grosseiro. Essa não era a sua intenção.
- Esqueça isso! - Mark pediu e o negou com a cabeça como se dissesse ‘Eu não consigo!’.
- Você quer saber o que eu pensei no momento em que eu soube de tudo? - ignorou o pedido de Mark e continuou tentando expor os seus argumentos. - Eu pensei: ‘O que eu vou fazer se esse cara morrer? Como eu vou viver sabendo que ele morreu pra me salvar e eu não pude fazer nada por ele?’. - Discretas lágrimas surgiram nos olhos de . Ele disfarçou.
- E como você acha que eu viveria sabendo que tive a chance de te salvar e não salvei? - Mark debateu na mesma hora. Ele estava um pouco mais irritado que o .
- Me salvar? - Ele indagou. - Esse não é o seu trabalho. - negou com a cabeça.
- Sério? E quem foi que disse que não é o meu trabalho? - Mark arqueou uma das sobrancelhas. - Não me diga que é mais uma dessas suas regras de irmãos? - Ele sorriu com ironia.
- Sério? Acha mesmo isso engraçado? - perguntou, incrédulo.
- Sabe o que eu realmente acho engraçado? Você estar aqui me julgando por salvar o seu traseiro e limpar a sua bagunça, só pra variar. - Mark perdeu um pouco a paciência.
- Minha bagunça! Você não tinha nada que se intrometer. - devolveu a grosseria.
- Você está se escutando? Você fala e eu só consigo ouvir ‘eu, eu, eu, eu’. - Mark rolou os olhos. - Eu não sei se você percebeu, mas você não está sozinho no mundo. Existem pessoas ao seu redor. Pessoas que se importam com você. Pessoas que se importam com o fato de você estar vivo ou morto. Pessoas que jamais superariam se o pior acontecesse com você. - Mark estava se referindo, principalmente, a família do , que entendeu exatamente o que ele quis dizer. O argumento de Mark o fez pensar por algum tempo. Mark chegou a pensar que tivesse ganhado aquela discussão.
- Agora, eu entendi. - afirmou com a cabeça. Ele ainda parecia um pouco pensativo.
- Entendeu o que? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Entendi o porquê de você ter feito o que fez. - não foi muito claro. - Eu tenho uma família. Eu tenho amigos. Eu tenho pessoas a minha volta que sofreriam se algo pior acontecesse comigo, mas… você não tem. Não é isso? - Ele tentou explicar o ponto de vista do irmão e demonstrou não concordar com ele. Mark ficou um pouco cabisbaixo com o assunto.
- Não foi só por isso. - Mark tentou se justificar, mas sua frase não o convenceu e deu ao a certeza de que a sua teoria estava certa.
- Que droga, Mark. - resmungou, irritado.
- Não fica bravo comigo, cara. - Mark negou com a cabeça e deixou de olhá-lo. - Eu sei que você não concorda com o que eu fiz, mas... - Ele voltou a olhar para o irmão mais novo. - Você não entende. Eu precisava fazer isso. - Mark completou ao erguer os ombros.
- Como pôde passar pela sua cabeça que o que você fez por mim evitaria dor e tristeza? Como você pôde pensar que não haveria ninguém aqui pra sofrer a sua perda? - questionou, sem conseguir acreditar. - Você tem uma família! Você tem a mim. - Ele queria que o Mark soubesse. - Não ouse cogitar, nem por um segundo, que você está sozinho. Você não está!- As palavras do o surpreenderam. - Se o seu trabalho é cuidar de mim, saiba que o meu trabalho também é cuidar de você. - Saber que o irmão mais novo se importava daquela maneira deixou o Mark extremamente comovido. Ele nunca teve isso antes.
- Eu… agradeço por você estar me dizendo isso. - Mark ficou até sem jeito.
- Me agradece? - o olhou com reprovação. - Eu não estou falando isso pra te agradar, não. Eu estou falando sério! - Ele reafirmou. - Se algum dia eu ver você falando de novo sobre estar sozinho ou qualquer coisa nesse sentido, eu quebro a sua cara. Entendeu? - ameaçou e logo viu o irmão deixar um sorriso escapar.
- Quebra a minha cara? Você e mais quantos? - Mark provocou, fazendo com que risse com deboche.
- Cala a boca. - rolou os olhos e estendeu uma das mãos na direção de Mark. Ele encarou sua mão antes de levá-la até a de . Um aperto de mão que parecia ser a primeira demonstração de afeto entre os irmãos. Apesar de ser um pouco orgulhoso e odiar demonstrar qualquer tipo de sentimentalismo perto do irmão mais velho, decidiu que aquele simples aperto de mão parecia pouco diante de tudo o que eles passaram. - Qual é!Vem aqui. - puxou a mão de Mark e o acolheu com um abraço. Um abraço que o Mark não esperava receber tão cedo. A princípio, ele ficou sem saber como reagir. Não demorou muito para que o abraço fosse correspondido. Mark tocou as costas do irmão. A atitude do irmão mais velho arrancou um fraco sorriso de .



- Me desculpa por tudo o que eu te fiz passar e… - começou a dizer, enquanto eles continuavam abraçados. - Obrigado pelo que você fez. - Ele completou.
- Tudo bem, irmão. - Mark sorriu totalmente emocionado, enquanto dava um ou dois tapas leves nas costas do irmão. O abraço foi terminado.
- Você chora como um bebê. - sacaneou o irmão assim que viu os seus olhos cheios de lágrimas.
- Vai se ferrar. - Mark esbravejou, mas deixou um engraçado sorriso escapar.
- Idiota. - fez careta.
- Babaca. - Mark devolveu na mesma moeda.
- Licença. - Uma voz os interrompeu repentinamente, enquanto alguém abriu a porta do quarto. achou que estava ferrado. - Como você… - Meg ia dizendo e parou ao ver que o melhor amigo estava companhado. - Mas… o que você está fazendo aqui? - Ela disse em tom de bronca.
- Eu estou fazendo compras. Não deu pra notar? - ironizou.
- Você não pode ficar aqui, engraçadinho! Aliás, você não pode ir a lugar algum. - Meg respondeu, irritada.
- Para com o drama. Eu já estava saindo. - a olhou com indiferença.
- Estava não. Você está saindo! Agora. - Meg apontou em direção a porta.
- Espera. Eu só… - voltou a olhar pro Mark, mas foi novamente interrompido.
- Você me ouviu ou vai me obrigar a chamar os enfermeiros pra te levar de volta pro seu quarto? - Meg ameaçou.
- Isso é mesmo necessário? - achou que ela estivesse exagerando.
- Você pode não acreditar, mas estou prezando pela sua saúde. O médico recomendou repouso absoluto. Então, seja responsável e faça o repouso necessário. - Meg afirmou. - Se você não quiser fazer isso por você, faça pelas pessoas que você ama e que sofreram horrores por sua causa nos últimos dias. - Ela completou com uma lição de moral que o já tinha escutado naquele dia.
- Ok! Eu entendi. - Apesar de as palavras ditas por ela terem causado um certo incomodo nele, foi obrigado a concordar com ela. - Eu te vejo depois. - Ele se despediu rapidamente do irmão.
- Se cuida. - Mark disse ao vê-lo sair pela porta.
- Juro que ainda não consigo aceitar essa história de que esse idiota é o seu irmão. - Meg disse em um tom de voz mais baixo.
- Ele não é tão ruim quanto parece. - Mark fez careta.
- Eu assumo que ele já foi bem pior, mas eu continuo não suportando ele. - Meg rolou os olhos.
- Eu entendo essa sua repulsa por ele. Eu entendo mesmo. Você sabe! Mas… dá uma chance pra ele. - Mark pediu com jeitinho.
- Ah não… não me peça isso. - Meg negou com a cabeça.
- Por favor! Por mim! - Mark insistiu com um sorriso encantador no rosto.
- Ta… eu… posso tentar. - Meg acabou cedendo mesmo estando contrariada.
- Yay! - Mark comemorou aos risos.
- O que eu não faço por você, né? - Meg desaprovou a sua comemoração com o olhar.

Para o Mark, a conversa com o tinha sido libertadora. Foi a confirmação de que eles realmente estavam mais unidos do que nunca e que, apesar das brigas bobas, eles eram irmãos e se viam como irmãos de uma maneira que nunca tinha acontecido antes. Pela primeira vez, Mark tinha alguém do seu lado, alguém da família, alguém do seu sangue dizendo a ele ‘Hey, eu estou aqui! Você não está sozinho.’. Essa sensação era indescritível para ele. Ele nunca achou que se sentiria tão familiarmente ligado a alguém de novo. Ele nunca imaginou que teria alguém que chamaria de irmão.

Já para o , a conversa com o Mark tinha sido um pouco mais intensa e profunda. Não que ele não tenha ficado feliz com o fato de eles terem finalmente se acertado. Ele estava muito feliz e empolgado por ter, pela primeira vez, um irmão mais velho. Porém, a conversa tinha ido um pouco mais além para ele. Mark foi capaz de arriscar a sua vida por ele. Alguém tem noção da proporção disso? já era irmão de há tempos e sempre disse que faria tudo por ela, mas nunca imaginou que os sentimentos envolvidos em uma afirmação como essa eram muito maiores do que as palavras demonstravam ser. Você só entende esse conceito de ‘fazer tudo por uma pessoa’ quando esse tudo é realmente tudo. Bem, o Mark tinha feito tudo pelo . Ele tinha certeza que se sua mãe pudesse, ela também teria feito tudo por ele. Esse é o verdadeiro significado de família. Você ama tanto essas pessoas que você chama de família, que faria qualquer coisa no mundo para ajudá-los, salvá-los e vê-los felizes. Chegar a essa conclusão fez com que o pensasse: ‘o que eu estou fazendo pela minha família?’.

Os dias tediosos que ele passou repousando naquela cama de hospital serviram para que ele entendesse que as suas atitudes, apesar de dizer respeito a sua vida, também dizia respeito a todos que, consequentemente, sofriam com elas. A atitude de ter entrado na frente daquela bala era um bom exemplo disso. estava ciente de que fez aquilo porque quis. Ninguém mandou ou pediu que ele fizesse aquilo. Seu coração mandou que ele tomasse aquela atitude tão repentina, que ele jamais se arrependeria de ter tomado. Mas era inevitável não pensar nas consequências que a sua atitude gerou em sua família. Mark quase perdeu a sua própria vida para salvá-lo. Pelo que soube, sua mãe tinha emagrecido vários kg e sofreu mais do que qualquer pessoa; e tinha até ficado um pouco mais carinhosa com ele, pois a possibilidade de perder o seu irmão realmente a traumatizou. Tanto sofrimento e tristeza por uma simples atitude. Atitude tomada com o coração sim, mas que ia além do amor que ele sentia por qualquer garota no mundo, nesse caso, eu.

Mark recebeu alta 3 dias depois de ir para o quarto e ia visitar o irmão todos os dias durante 1 semana. Em uma dessas visitas, pode reunir toda a família: Mark, sua mãe, o padrasto e a . Foi nesse encontro que ele contou sobre o filho que o Steven Jonas tinha tido antes de conhecer sua mãe. Não houve qualquer tipo de ressentimento por parte da mãe do que, na verdade, ficou bastante emocionada com a notícia. não entendeu muito bem e certamente levaria alguns dias para entender, mas de uma coisa ela sabia: aquele garoto tinha salvado o seu irmão.

- , você já conhece o Mark, não é? - queria ter certeza que a irmã se lembraria do Mark.
- Aham. - afirmou com a cabeça, indo até ele. - Você lembra de mim? Sou amiga da . - Ela perguntou, olhando para o Mark, que tinha agachado em sua frente para poder vê-la de mais perto.
- É claro que eu me lembro. Como eu esqueceria uma garota tão linda como você? - Mark foi gentil e na mesma hora viu um sorriso surgir no rosto da garota.
- Agora eu entendi porque ela gosta de você. - comentou, fazendo careta. Mark segurou o riso e pediu que ele ficasse quieto.
- Obrigada. - agradeceu, sem jeito. Ela ficou algum tempo em silêncio, pensando se aquele era o momento certo para dizer o que estava em seu coração. Ela decidiu que sim. - Eu… não te conheço muito bem e não estou entendendo nada dessa conversa de adulto de vocês… - Ela olhou rapidamente para os pais e logo voltou a olhá-lo. - Mas eu queria te falar uma coisa. - estava séria. Ninguém que estava no quarto fazia ideia do que ela estava prestes a dizer.
- Eu estou te ouvindo. - Mark também ficou sério, dando a ela toda a atenção que ela merecia.
- Minha mãe me contou sobre o que você fez. Ela me contou que você salvou a vida do meu irmão. - Os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela parecia nervosa, pois não queria chorar. A frase fez com que e Mark trocassem olhares. sorriu para ele como se dissesse ‘Você merece esse reconhecimento.’. Mark não soube como agir, mas voltou a olhá-la. - Eu queria te agradecer muito. - Ela agradeceu visivelmente emocionada.
- Não precisa. - Mark negou com a cabeça, achando a atitude dela a coisa mais doce e fofa de todas.
- Eu sei que eu brigo muito com ele e que ele adora ficar me irritando, mas ele é o meu irmão e eu ficaria… muito triste se eu não pudesse ver… ele mais. - quase não conseguiu terminar a frase por causa do choro. Mark estava quase morrendo com aquela atitude e com aquelas palavras ditas pela garotinha.
- Se depender de mim, você vai poder brigar com ele pra sempre. - Mark disse em meio a um sorriso e com poucas lágrimas em seus olhos. deixou um fraco sorriso escapar antes de se aproximar e abraçá-lo com força.



A cena foi tão inocente, mas também foi muito forte. Todos no quarto ficaram emocionados. Ninguém esperava uma atitude assim de uma criança. pegou todos de surpresa, mas foi da melhor maneira possível. Ao ver aquela cena e ver toda a sua família unida e feliz, chegou a conclusão do que teria que fazer. Ele não faria por ele, ele faria por sua família. Ele faria isso, principalmente, para preservar sua família. Ele faria isso para ter mais momentos como aquele que tinha acabado de presenciar.

Durante toda a semana que o permaneceu no hospital, eu consegui evitá-lo. Eu não voltei a vê-lo desde a conversa que tivemos em que eu contei pra ele sobre a atitude de Mark para salvá-lo. A família de ficou mais alguns dias hospedados na minha casa e foi por eles que eu soube que a saúde dele nunca esteve melhor e que ele só continuava no hospital para cumprir os 7 dias de repouso que o médico havia recomendado. Com o estado de saúde do , a família dele optou por voltar para Atlantic City para resolver assuntos financeiros e até mesmo resolver a situação de na escola e dos pais em seus respectivos trabalhos. também já tinha insistido bastante para que eles voltassem para casa para resolverem suas coisas e para que eles não se preocupassem com ele, pois já estava tudo mais do que bem.

Quando a família de foi embora, Mark passou a ser o meu único informante. Na verdade, ele fazia isso sem qualquer intenção e sem nem perceber. Eu nunca perguntava sobre o diretamente, mas ele sempre acaba comentando alguma coisa. E foi dessa maneira que eu soube que ele receberia alta naquela sexta-feira. A notícia era duplamente boa. Primeiro porque o voltaria a viver sua vida normalmente e segundo porque eu voltaria a viver normalmente a minha rotina dentro daquele hospital.

As altas dos pacientes costumavam a acontecer no período da manhã, portanto, eu já estava bem mais tranquila no final da tarde daquela sexta-feira, pois deduzi que ele já tinha deixado o hospital. Atendi o meu último paciente era um pouco mais de 7 horas da noite. Meg já tinha ido para casa, mas acabei fiquei um pouco enrolada com uma garotinha, que não queria me deixar colher o seu sangue. Demorou algum tempo, mas eu consegui acalmá-la e terminar o meu trabalho. Deixei a sala junto com a mãe e a garotinha e acabamos conversando por alguns minutos. Me despedi delas e a mãe me agradeceu mais uma vez por toda a minha atenção e delicadeza com sua filha.

Eu estava exausta. O dia tinha sido longo. A notícia boa é que era sexta-feira, portanto, eu teria o final de semana todo para descansar e colocar os meus estudos em dia, mas, naquele momento, eu só queria pegar as minhas coisas e ir para casa. Bati o meu ponto de saída do hospital e fui em direção a sala que era usada por mim e pela Meg. Eu tinha que deixar o meu jaleco lá e pegar a minha bolsa. Abri a porta da sala com a mesma naturalidade de sempre e assim que adentrei na sala me deparei com ele, a pessoa que eu havia evitado naquela última semana. Os olhos dele ficaram imediatamente fixos em mim. Ele queria saber qual seria a minha reação, que internamente tinha sido muito pior do que fisicamente.

- Desculpa invadir a sua sala assim. - Ele estava com o quadril apoiado em uma das mesas da sala e assim que terminou a frase, se afastou dela e começou a vir na minha direção. - Mas… eu precisava muito falar com você. - Ele completou ao parar em minha frente. Eu demorei alguns segundos para cair na real.
- Claro. Nós podemos conversar. - Eu afirmei com a cabeça, sem saber o que esperar daquela conversa. Estar perto dele me fez ficar um pouco chateada por causa da última conversa que tivemos. Não, eu não estava chateada com ele porque, pra mim, ele estava com toda a razão. Eu estava chateada com toda a situação em si. Eu não esperava encontrá-lo tão cedo.
- Eu não sei se estou atrapalhando o seu trabalho. Talvez, eu… - estava tentando adiar aquela conversa mais uma vez. Era o que ele tinha feito durante toda a semana.
- Não, não está atrapalhando. Na verdade, eu já estava indo embora. - Eu o interrompi.
- Ok, então. - esboçou um discreto e nervoso sorriso. - Bem… - Ele deixou de me olhar e passou a olhar para qualquer outro lugar da sala. Ele estava procurando as palavras certas. - Eu não sei por onde começar. Eu… tenho pensado nisso nos últimos dias e tenho tentado adiar essa conversa ao máximo, mas… - hesitou mais uma vez. - Eu recebi alta hoje. Não sei se você ficou sabendo. - Ele me comunicou.
- É, eu soube. - Eu afirmei com a cabeça. - Estou feliz por você. - Eu sorri fraco.
- É, eu achei que esse dia não chegaria nunca e que, portanto, eu conseguiria ficar adiando esse momento, mas… como hoje é o meu último dia aqui, eu sinto que preciso fazer isso hoje. - O mistério que ele estava fazendo e o nervosismo mais do que evidente dele estavam me deixando um pouco receosa.
- Certo. - Eu estava esperando que ele finalmente dissesse o que tanto queria.
- Primeiro, eu queria me desculpar pela forma que falei com você da última vez que estivemos juntos. - O nervosismo continuava com ele, mas agora ele conseguia olhar nos meus olhos. - Você não merecia ouvir nada daquilo. Eu fui pego de surpresa com tudo o que tinha acontecido, mas nada justifica. - Os olhos dele me passavam sinceridade.
- Não, você não precisa se desculpar. Você tinha toda a razão. Eu não podia… - Eu estava prestes a confirmar que eu realmente era culpada por tudo, pois era exatamente assim que eu me sentia, mas ele me interrompeu.
- Não. - disse negando a cabeça. - Não faça isso. - Ele pediu. - Não ache que você tem qualquer culpa em tudo isso, porque você não tem. - Ele reafirmou.
- Ok. - Eu afirmei da boca pra fora, pois sabia que era isso o que ele queria ouvir.
- Eu estou falando sério. - Ele percebeu que eu não afirmei com sinceridade. - Não faça isso. Eu estou te pedindo. - ficou ainda mais sério.
- Não é tão fácil quanto parece. - Eu disse antes de abaixar a cabeça e deixar de olhá-lo por um momento. - Só eu sei o que eu passei nesses últimos dias, o que eu senti e as coisas que eu vi. Eu vi você em uma cama de hospital. Eu vi o Mark em uma cama de hospital. Eu vi a sua mãe sofrer mais do que qualquer outra pessoa no mundo e eu sabia que você tinha sacrificado tudo por mim e que o Mark, consequentemente, tinha sacrificado tudo por você. - Meus olhos foram se enchendo de lágrimas, enquanto eu falava.
- Você não pode se culpar por uma decisão que foi minha. Você não pode se culpar pelo Mark ter feito de tudo pra limpar a bagunça que eu fiz. - A maneira como aquilo parecia me machucar doía mil vezes mais nele. - Eu realmente entrei na frente daquela bala por você. Eu não vou negar isso, mas… continua sendo uma decisão minha. Minha decisão. Era o meu coração me dizendo pra fazer aquilo. Era o amor que eu sentia… - Ele fez uma pausa antes de corrigir o tempo verbal. - Que eu sinto por você me mandando fazer aquilo. - Eu escutava com atenção, mas ele dizendo que ainda me amava fez tudo ganhar uma proporção muito maior dentro de mim. Os olhos já estavam cheios de lágrimas, então não foi nada difícil para que algumas delas escorressem pelo meu rosto. Foram essas lágrimas que fizeram ele se aproximar ainda mais e segurar o meu rosto com suas mãos, enquanto seus dedos secavam as lágrimas e o caminho por elas percorrido. - Eu quero que você saiba que eu não te culpo por absolutamente nada. Eu sei que você deu o seu melhor todos esses dias. Eu sei que você não saiu desse hospital enquanto não soube que eu estava fora de perigo. - Também haviam poucas lágrimas nos olhos dele, que não deixavam de olhar nos meus um só segundo. - Eu também sei que você hospedou a minha família na sua casa durante todos esses dias. - Eu neguei sutilmente com a cabeça como se dissesse ‘Isso não foi nada demais.’. - Minha mãe me contou tudo isso. - contou com um fraco sorriso no rosto, afastando a sua mão do meu rosto, mas mantendo a proximidade. - Ela também me disse que eu deveria te agradecer por tudo isso. E… eu disse pra ela que não daria pra fazer isso porque nós tínhamos brigado. - Ele fez uma breve pausa. - E então, ela resolveu me dar um conselho. Ela me disse que eu deveria deixar de ser tão orgulhoso… - Ele falou, me fazendo sorrir involuntariamente. O meu sorriso fez com que ele olhasse por poucos segundos para os meus lábios. - E que eu deveria vir te procurar porque você era uma garota maravilhosa e era a garota perfeita pra mim. - Novamente uma pausa. Ele gostava de me ver sem jeito.
- E o que você disse pra ela? - Eu quis saber.
- Eu não disse nada, pois não queria decepcioná-la. - A resposta dele não era a que eu esperava ouvir.
- Decepcioná-la? - Eu arqueei uma das sobrancelhas, tentando entender.
- Decepcioná-la sim, porque se eu fosse dizer o que eu realmente queria, eu diria que o conselho dela tinha sido totalmente desnecessário porque, na verdade, tudo o que ela tinha me dito, eu já sabia desde… - ergueu os ombros. - Desde sempre. - Ele completou. Ele estava mesmo se declarando? Meu coração já estava quase saindo pela boca, mas alguma coisa me dizia que não era exatamente isso o que ele queria dizer.
- Mas… - Eu sabia que teria um ‘mas’. Ele não poderia estar tão nervoso só porque estava se declarando, certo? Quando me ouviu dizer a palavra que ele estava prestes a pronunciar, o olhar dele parecia lamentar.
- Mas… - Respirou fundo antes de continuar. - Mesmo sabendo de tudo isso, eu… eu não posso. Eu não posso ficar com você. - Os olhos tristes continuavam me encarando, esperando uma reação. Eu não estava tão surpresa. Para ser honesta, eu sabia que a nossa conversa ou a nossa história acabaria daquela maneira, mas eu não sabia que doeria tanto. Eu achei que estivesse mais preparada para lidar com aquilo.
- Eu entendo. - Mesmo com os olhos marejados, eu sorri pra ele. Independente de qualquer coisa, eu continuava sendo grata a ele por tudo o que ele tinha feito por mim e por tudo o que ele tinha me feito sentir.
- Eu não quero que você pense que… - começou a dizer, mas eu o interrompi.
- Você não precisa se justificar. - Eu sabia que ele não me devia qualquer tipo de satisfação, afinal, nós não estávamos em um relacionamento. Quando terminei a frase, fiz um favor para nós dois e me afastei, indo para o fundo da sala. Encarei uma das mesas. Eu estava de costas pra ele agora.
- Mas eu quero. - insistiu, me olhando ainda de costas. - Eu não quero que você pense que eu estou fazendo isso porque eu não amo você. - Fechei os olhos, tentando controlar o choro, a tristeza e qualquer outra dor que eu sentia dentro do meu peito. - Eu estou fazendo isso porque eu amo você. Eu amo tanto, que esse amor não me deixa enxergar nada e nem ninguém ao meu redor. Esse amor tem me consumido durante toda a minha vida e, de repente, eu deixei de dividi-lo com outras pessoas. Pessoas que me amam. Pessoas que se importam comigo. Minha família – As explicações dele começavam a fazer sentido pra mim. A justificativa dele foi o que mais me pegou desprevenida. Demonstrou um lado maduro e genuíno dele que, no fundo, eu sabia que existia. Apesar de genuíno, não tornava aquilo menos doloroso, mas, de qualquer forma, me fez ter vontade de olhá-lo. Me virei pra ele e mantive a distância. - O nosso amor foi tão intenso que eu seria capaz de fazer qualquer coisa por ele. Eu fiz tudo por ele. Sem pensar em qualquer consequência. E esse foi o meu erro. - Eu não fiz nada além de concordar com a cabeça com o que ele dizia. - Não me entenda errado. - Ele achou que, talvez, eu tivesse entendido erroneamente.
- Não. Eu entendi perfeitamente. - Eu tentei tranquilizá-lo deixando um fraco sorriso em evidência.
- Eu não me arrependo de nada que eu fiz. - deu poucos passos em minha direção. - Esteja certa de que se acontecesse tudo de novo, se eu tivesse outra oportunidade, eu entraria na frente daquela bala mais uma vez… mais cem vezes. - Ele queria que eu soubesse.
- Eu sei que sim. - Eu afirmei novamente com a cabeça, mas dessa vez com um sorriso mais emocionado.
- E é exatamente por isso que isso… nós… tem que acabar. - Era visível a batalha interna que estava acontecendo dentro dele, enquanto ele dizia aquelas palavras, que ele não queria dizer. - Eu não me importo de entrar em algumas brigas ou correr alguns riscos por você, mas… eu não posso continuar fazendo isso, quando isso interfere na vida ou nos sentimentos da minha família. - ergueu os ombros. Os olhos estavam cheios de lágrimas. - Eu soube o quanto a minha mãe sofreu nos dias em que eu fiquei entre a vida e a morte. A ficou traumatizada por quase perder o irmão mais velho e o Mark… Ele praticamente sacrificou a vida dele por mim. Tudo isso só por causa de uma atitude inconsequente minha. - ergueu os ombros como se estivesse lamentando. Nada mais precisava ser explicado. - Eu não sei se você é capaz de entender isso agora, mas… eu realmente preciso fazer isso. Eu preciso fazer isso por eles. - Ele deu mais alguns passos e parou na minha frente. Os olhos dele percorreram rapidamente o meu rosto.
- Eu queria que você pudesse se ver através dos meus olhos agora. Só assim você entenderia o quanto eu estou orgulhosa por te ouvir falar com tanto coração e ao mesmo tempo com tanta maturidade. - Minha frase fez com que uma lágrima solitária escorresse por todo o seu rosto em meio a um sorriso triste. A lágrima foi resultado do alívio que ele sentiu ao me ver ser tão compreensiva com tudo o que ele tinha dito.

Pra quem conhece o há tanto tempo e sabe de todas as brigas, todos os atos de egoísmo cometidos por ele por causa desse amor que ele sentia por mim, mas que, na verdade, fazia parte de quem ele era, jamais imaginou que ele tomaria uma atitude como essa. Mesmo sendo diretamente afetada pela decisão dele, vê-lo abrir mão de algo tão precioso pra ele por causa de sua família era a maior prova do homem que ele havia se tornado. Ele já não era mais aquele garoto que costumava roubar as minhas batatas no intervalo da escola. Isso me deixava imensuravelmente orgulhosa.

- Eu estou ciente do que está em jogo e do que eu, inevitavelmente, vou acabar abrindo mão com essa decisão. E mesmo sem saber se ainda existe alguma coisa dentro de você, que você costumava sentir por mim, essa decisão acaba te afetando também e, por isso, eu… - Ele continuaria falando se eu não o tivesse interrompido.
- Não se preocupe comigo. Eu vou sobreviver. - Eu tentei tornar tudo menos doloroso. - E você também vai. - Levei uma das mãos até o rosto dele e sequei a lágrima que havia escorrido pelo seu rosto há poucos segundos.



- Você é forte e tem muita gente que te ama do seu lado. - Mantive minha mão em seu rosto e passei a acariciá-lo. Eu estava me segurando muito naquele momento para não chorar.
- Só Deus sabe o quanto eu queria que você também estivesse do meu lado. - levou uma de suas mãos até a minha mão, que continuava tocando o seu rosto.
- Vai ser melhor assim. - Eu também tentei me convencer. Desvincilhei minha mão da dele. Era o momento de me despedir. - Saiba que eu te desejo o melhor do mundo. Você vai ser feliz. - Eu afirmei com um sorriso, mas as lágrimas começassem a escorrer dos meus olhos. Foi inevitável.
- … - Ele tentou se aproximar, quando viu que eu estava chorando, mas eu me afastei.
- Eu estou bem. - Eu comecei a secar as lágrimas em meu rosto, enquanto me dirigia em direção a porta. - Eu vou ficar bem. - Eu sorri pra ele mais uma vez antes de abrir a porta da sala e sair.

O jeito que eu sai daquela sala fez tudo ficar mil vezes mais doloroso para o . Ele sentiu sim uma vontade enorme de ir atrás de mim e fazer qualquer coisa para colocar um sorriso de volta em meu rosto, mas ele não podia. Já que ele tinha tomado a decisão de seguir em frente, ele tinha que começar naquele momento. ficou algum tempo na sala, esperando que eu saísse de vez do hospital e, também, tentando se acalmar. O que estava feito, estava feito! Não dava pra voltar atrás.

Não é preciso nem dizer o estado em que eu me encontrava ao sair do hospital. Não que isso já não tivesse acontecido outras vezes comigo e com o . Aconteceu muitas vezes, mas nunca dessa maneira. Pela primeira vez, terminamos sem ao menos ter qualquer relacionamento. Nós nunca precisamos estar em um relacionamento para saber o que um sentia pelo outro. Era mais do óbvio. Todo mundo sabia! Mas o que realmente tornava essa vez diferente de todas as outras era o motivo. Não foi por ciúmes. Não foi por egoísmo ou orgulho. Não foi por causa do ex ou da ex ou por falta de confiança. O amor não tinha acabado, então também não era por falta de amor. Não foi pela distância ou pra preservar um ao outro. Dessa vez, foi por algo infinitamente maior: a família. Ele terminou a nossa história, enquanto se declarava pra mim. Ele terminou, quando queria continuar. Acredite: foi muito mais doloroso do que as outras vezes.

Eu fui pra casa e chorei. Chorei quando cheguei na minha casa. Chorei enquanto fazia os meus trabalhos atrasados da faculdade. Chorei enquanto esperava a pizza que eu havia pedido chegar. Chorei quando coloquei a cabeça no meu travesseiro e faria isso nas noites seguintes também. O relacionamento que eu e o tivemos não era do que tipo que se supera. Era do tipo em que você segue em frente da melhor maneira que consegue. Era isso o que eu faria.

demorou um pouco mais de 10 minutos para sair da minha sala. Ele já não chorava mais, mas continuava bastante abalado. Ele nunca imaginou que sairia pela porta daquele hospital sem um enorme sorriso no rosto. Mesmo estando chateado, o sorriso finalmente apareceu quando ele viu o irmão esperando por ele do lado de fora. Mark estava apoiado em um carro que, por acaso, era o carro do . Os irmãos trocaram sorrisos de longe. Apesar de tudo, estava feliz por ter recebido alta, por ver o seu irmão bem e por reencontrar o seu precioso carro.

- Você trouxe o meu carro. - afirmou todo sorridente, enquanto aproximava-se do irmão. Os olhos estavam fixos no carro.
- Ele é todo seu. - Mark tirou a chave do bolso e a jogou em direção ao , que a pegou no ar.
- Eu estou de volta, amigo. - admirou o carro e tocou levemente a lataria. - Foi você que o lavou? - Ele perguntou, olhando para o irmão, que estava ao seu lado.
- Foi. E deu bastante trabalho, viu? - Mark respondeu.
- Não exagera! Ele não está tão limpo assim. - fez careta e rapidamente recebeu olhares impacientes do irmão.
- Você está me zoando, né? - Mark perguntou, irritado.
- É claro que eu estou. - se entregou. - Não precisa ficar nervoso, Markey. - Ele voltou a debochar. Ouviu o irmão chamá-lo por aquele apelido bobo e acabou deixando um sorriso escapar.
- É bom ter você de volta, cara. - Mark estava feliz por ter o irmão por perto.
- É bom estar de volta. - respondeu com o mesmo sorriso. Mark achou que era o momento certo para um abraço entre irmãos. Dessa vez, a atitude foi de sua parte e foi imediatamente correspondida pelo . Depois do abraço, os irmão se olharam.
- Entra ai. Eu preciso que você vá em um lugar comigo. - apontou a cabeça em direção ao carro.
- Que lugar? - Mark perguntou, vendo o irmão entrando no carro.
- Entra logo! - não deu qualquer justificativa. Mark atendeu o seu pedido, sem entender nada.

se recusou a dizer o lugar para onde estavam indo, pois sabia que o irmão se recusaria a ir até lá. Manteve o segredo durante grande parte do caminho. Mark só não percebeu antes o lugar para onde o irmão estava levando-o, pois distraiu-se por alguns minutos com o celular. Deixou de olhar para o celular, quando percebeu que o carro parou. O assunto que ele tratava no celular era importante, mas ele também estava curioso para saber onde eles estavam. A surpresa não foi nada boa.

- Mas o que nós estamos fazendo aqui? - Mark perguntou ao olhar para a casa de Steven através do vidro do carro. Ambos continuavam no carro.
- Eu preciso conversar com o Steven e você vai comigo. - respondeu antes de descer do carro.
- Eu vou? Você está maluco! - Mark recusou-se imediatamente.
- Ok, se você não sair desse carro, eu vou trancar o carro e você vai morrer ai dentro. - forjou uma ameaça ao abaixar-se e olhar para o irmão através da janela do carro.
- Eu quebro os vidros. - Mark falou com indiferença.
- E eu quebro os seus braços. - esbravejou assim que ouviu ele ameaçar o seu carro.
- Eu não vou entrar lá. - Mark voltou a recusar. - Por que você quer que eu vá com você? - Ele questionou.
- Alguém precisa me segurar se, por um acaso, eu ficar com vontade de matar o Steven. - explicou, recebendo olhares tediosos do irmão.
- E o que te faz pensar que eu vou te segurar e não, te ajudar a matar ele? - Mark arqueou uma das sobrancelhas.
- Ok, James Bond. - fez careta ao olhá-lo. - Você não vai precisar falar nada. Não precisa nem olhar pra ele. - Ele sugeriu.
- O que você tem de tão importante pra falar com esse cara? - Mark perguntou, irritado.
- Desce logo do carro. - desconversou.
- Eu tinha me esquecido do quanto você gosta de encher o meu saco. - Mark saiu do carro contrariado.
- Você não faz nada sem reclamar? - perguntou ao ver a sua irritação.
- Presta a atenção! Eu não vou falar nada. Eu não vou fazer nada! E você, vai ficar me devendo uma. Aliás, mais uma! - Ele esbravejou.
- Eu entendi! - afirmou, impaciente. - Vamos logo, rainha do drama. - Ele deixou de olhar para o irmão mais velho e dirigiu-se em direção a porta. Mesmo contrariado, Mark o acompanhou. Achou melhor não falar nada, mas tinha certeza que se o soubesse que o pai se recusou a salvar sua vida, eles não estariam ali naquele momento. bateu na porta duas ou três vezes e ela foi imediatamente aberta por um homem que, apesar de ser desconhecido, eles já sabiam que trabalhavam para o Steven.
- O que vocês querem? - O homem conhecia bem os dois filhos de Steven, mas não gostava de tê-los por perto. Sempre acabava em confusão.
- Bom, eu não queria ser tão objetivo, mas já que você perguntou: doces ou travessuras? - debochou do homem e conseguiu até colocar um sorriso discreto no rosto de Mark.
- Você acha que eu tenho cara de idiota? - O homem desconhecido não gostou nada da brincadeira.
- E, ai? - olhou para o Mark. - O que você acha, Markey? - Ele perguntou, analisando o rosto do homem.
- Eu não sei se idiota é a palavra certa, mas… eu acho que pra um pau mandado tá bom, né? - Mark percebeu que o desconhecido estava irritado e resolveu ajudar o irmão.
- Eu também acho. - concordou aos risos.
- Escuta aqui, seus… - O cara estava prestes a ficar mais violento, quando alguém tocou o seu ombro por trás.
- Esqueça isso. Deixa que eu resolvo. - Steven apartou a briga que estava prestes a começar. O desconhecido saiu com cara feia, deixando apenas o pai dos garotos na porta. estava mais a frente e o Mark bem mais atrás. Ele não fazia questão alguma de estar ali. Só estava por causa do .
- Não acredito… - Steven ficou visivelmente comovido ao ver o filho. Ele não teve muitas notícias sobre o estado de saúde dele durante o tempo em que ele esteve no hospital. Mark rolou os olhos. - É tão bom te ver, garoto. - Ele ia se aproximando para abraçar o filho, mas se esquivou.
- Hey, hey! - afastou-se. - Corta essa, ok? Eu não vim aqui pra isso. - Ele disse, friamente. Adentrou na casa, passando pelo pai sem nem olhá-lo. Steven olhou para o Mark, que o olhava com total desprezo.
- Oi, Mark. - Steven tentou cumprimentar o filho.
- Não dirija a palavra a mim, Steven. É melhor e mais seguro pra você. - Mark também foi frio ao passar pelo pai e adentrar na casa.
- Então, eu não quero ocupar muito o seu tempo, por isso, vou logo ao ponto. - queria falar logo e ir embora. Steven deu a ele sua atenção. - Eu não quero nem saber os seus motivos insanos para ter puxado o gatilho daquela maldita arma. Eu não quero saber do seu passado e nem da sua vingança idiota. - Ele foi direto ao ponto. - Acabou… entre eu e a . - finalmente disse.
- Acabou? - Steven demonstrou surpresa e Mark também, mas esse último ao menos disfarçou.
- Não fica empolgadinho, não. Você não teve qualquer influência sobre a minha decisão. Eu não fiz por você. Meus motivos foram muito melhores e muito mais dignos. - referia-se a família, mas o pai não sabia. - De qualquer forma, eu não vim aqui só pra te contar isso. Eu vim aqui pra te dizer que você já pode parar com esse teatro de pai protetor ou seja lá como você gosta de chamar. - Ele demonstrou indiferença. - Eu e ela não estamos mais juntos, por isso, eu vim aqui pedir, aliás, eu vim exigir que você a deixe em paz. - foi bem claro. - Independentemente de quais fossem os seus motivos, eles não existem mais. Deixe ela em paz. Deixe a família dela em paz. Deu pra entender? - Ele nem ao menos tentou ser educado. - Se eu souber que você chegou perto dela, eu juro que vou vim bater na sua porta e não vai ser pra termos um programa pai e filho. Fui claro, Steven? - Mark ficou impressionado com o tom do irmão. Foi bastante intimidador.
- Isso é mesmo necessário? É necessário ameaçar o seu pai por causa dessa garota? - Steven irritou-se com o tom do filho.
- Pra quem quase matou o próprio filho, você está pedindo muito, não acha? - ironizou.
- Você sabe que aquela bala não era pra você. - Steven debateu.
- Até poderia não ser direcionada a mim, mas se acertasse em quem você queria acertar, me machucaria da mesma forma, mas… eu não espero que você entenda ou se importe com isso. - rolou os olhos, achando que estivesse perdendo tempo ali.
- Mas é claro que me importa. Que tipo de pai você acha que eu sou? - Steven perguntou, sentindo-se insultado. Mark se segurou muito naquele momento para manter-se fora da conversa. As últimas atitudes de Steven demonstravam exatamente o contrário e ele sabia disso, mas o não.
- O pai que você tem mostrado ser desde que voltou dos mortos. - rebateu imediatamente.
- Você pode até não acreditar, aliás, você pode acreditar no que quiser, mas saiba que eu me lembrei de você em todos esses dias e torci mais do que você imagina pela sua saúde. - Steven tentou sensibilizar o filho. A frase foi a gota d’água para o Mark.
- Chega dessa palhaçada! - Mark passou pelo e colocou-se em sua frente, ficando cara a cara com o Steven. - Chega de tentar parecer exatamente o oposto da pessoa que você realmente é! Quem você pensa que é pra manipular todos a sua volta desse jeito? - Mark esbravejou contra o pai. sabia o que o irmão tinha ressentimentos do Steven, mas o seu comportamento e explosão repentina o surpreendeu.
- Eu… - Steven até tentou falar, mas o filho mais velho não deixou.
- Cala a sua boca que agora eu vou falar! - Mark gritou em sua direção. - Eu estou pouco me fodendo para a pessoa que você era antes ou o tipo de relacionamento que vocês dois tinham. - Ele referia-se ao Steven e ao . - Eu, ao contrário do , nunca criei qualquer expectativa em relação a você e é só por isso que eu quis poupá-lo de saber o bosta que você é. - Mark estava fora de si. - Honestamente, eu não queria nem vir aqui, pois não queria ter que olhar pra sua cara de novo. Eu não queria vir para evitar passar raiva e para não ter que ver cenas patéticas desse seu teatro de quinta categoria! - Ele apontava o dedo na cara do pai. não estava entendendo bem o que estava acontecendo. - Eu prometi pra mim mesmo que eu não falaria nada e que eu não perderia o meu tempo dirigindo a palavra para uma pessoa tão repugnante, mas não deu pra ficar calado. - Mark olhou rapidamente pro . - Você pode fazer o que quiser comigo. Eu não me importo e não faço a mínima questão de ser o seu favorito. Você pode mexer comigo, se você quiser, mas você não vai mexer com o . - Ele disse.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? - intrometeu-se, pois começou a ficar preocupado. Do que eles estavam falando?
- Acontece que o pai do ano ai… - Mark olhou para o irmão e depois apontou a cabeça em direção ao Steven. - Era compatível com o seu sangue, . Ele poderia ter sido o seu segundo doador. Ele poderia ter salvado a sua vida. Eu mesmo vim até aqui e implorei para que ele fizesse a doação. Expliquei pra ele toda a situação e o estado crítico em você se encontrava e ele… simplesmente… recusou. - Mark explicou, olhando pro Steven com desprezo. ficou em choque com a notícia e demorou algum tempo para assimilar o que tudo aquilo realmente queria dizer.
- Isso… é verdade? - olhou para o pai. Apesar das desavenças, nunca esperou algo tão cruel de seu pai. Steven parecia envergonhado com o seu comportamento. Os olhos estavam um pouco marejados e ele não conseguia falar. - Me diz, Steven: isso é verdade? - Ele perguntou outra vez. sabia que o Mark não mentiria sobre isso, mas ele queria ouvir o pai assumir a covardia. O silêncio e a expressão facial de Steven foi o bastante para responder a pergunta. demorou poucos segundos para reagir da maneira que qualquer outra pessoa no mundo reagiria. Ele foi pra cima de Steven, agarrou a sua camisa e o pressionou contra a parede. - Seu desgraçado! Você tem noção do que poderia ter acontecido por causa desse seu egoísmo de merda? Você tem noção!? - esbravejou. Ele referia-se ao que poderia ter acontecido ao Mark.
- Eu… não doei porque eu não quis. Eu não doei porque eu não podia doar. - Steven disse de maneira fragilizada.
- Não podia? - ironizou.
- Eu não podia doar porque… - Steven hesitou antes de continuar a frase. Não tinha mais como e porque esconder. - Eu estou doente. Eu tenho uma doença grave e terminal nos pulmões e, por isso, não posso fazer doações de sangue. - Ele finalmente fez a grande revelação, que tirou imediatamente o ódio dos olhos de seus filhos. Sem dizer absolutamente nada, soltou o pai e então, olhou para o irmão mais velho. Eles perguntavam um ao outro ‘E agora?’.









CONTINUA...







Nota da Autora: 


Hey! Então, eu espero que estejam gostando da fanfic. Está dando muito trabalho, mas eu estou AMANDO escrevê-la. Eu me inspirei em uma outra fanfic que eu li e fiz as minhas MUITAS alterações (com a autorização da autora da mesma). Como vocês já perceberam, ela está em andamento. Eu vou postar de acordo com o que eu for escrevendo. 

Vocês devem ter percebido que nessa fanfic, os Jonas não são tão 'politicamente corretos' e nem tem uma banda. Eu achei legal fazer uma coisa diferente.

Enfim, deixe o seu comentário aqui embaixo. A sua opinião é importante, pois me incentiva a escrever ainda mais e mais.

Beijos e qualquer coisa e erro, mandem reply pra mim lá no @jonasnobrasil . 


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